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Manuelli Antunes da Silva TUTORIA 3-INTERMEDIÁRIA-MÓDULO 1 DIABETES MELLITUS TIPO 2 Objetivo 01: Definir Diabetes Mellitus e seus tipos. (Diretriz/ Vilar/ Up to date) É um distúrbio metabólico crônico e heterogêneo caracterizado por hiperglicemia persistente, resultante da deficiência na produção e/ou ação de insulina, podendo ocasionar complicações em longo prazo. A classificação do DM baseia-se em sua etiologia. DIABETES MELLITUS TIPO 1: -O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. -Embora a prevalência de DM1 esteja aumentando, corresponde a apenas 5 a 10% de todos os casos de DM. É mais frequentemente diagnosticado em crianças, adolescentes e, em alguns casos, em adultos jovens, afetando igualmente homens e mulheres. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. -DM 1-A: Positividade de um ou mais anticorpos. Forte associação com antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen, HLA) DR3 e DR4 e fatores ambientais (Infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal). Os marcadores conhecidos de autoimunidade são: anticorpo anti-ilhota (islet cell antibody, ICA), autoanticorpo anti-insulina (insulin autoantibody, IAA), anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65), anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B e anticorpo antitransportador de zinco (Znt8). *O DM1 é bem mais frequente na infância e na adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos, que podem desenvolver uma forma lentamente progressiva da doença, denominada latent autoimmune diabetes in adults (LADA). Comparados aos casos de DM2, pacientes com LADA tendem a ser mais jovens, têm IMC mais baixo, menor prevalência de componentes da síndrome metabólica e necessidade mais precoce de insulinoterapia. Pacientes com LADA apresentam maior prevalência de outros autoanticorpos: antiTPO, anti-21-hidroxilase e anticorpos associados à doença celíaca. *O aumento da prevalência da obesidade na infância e na adolescência e o diagnóstico mais precoce do DM1A têm levado ao aparecimento de jovens com características de DM2 com autoimunidade antipancreática. Esses pacientes têm sido denominados por alguns autores como tendo “diabetes duplo”, “diabetes híbrido”, “diabetes tipo 1,5” ou “diabetes autoimune latente do jovem (LADY)”. Recentemente, foi descrita uma outra forma de DM autoimune, na qual os pacientes não têm anticorpos contra antígenos da célula beta, mas apresentam resposta positiva às células T. -DM 1-B: A denominação 1B, ou idiopático, é atribuída aos casos de DM1 nos quais os autoanticorpos não são detectáveis na circulação. DIABETES MELLITUS TIPO 2: Manuelli Antunes da Silva -O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental. -O desenvolvimento e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, aumento da produção hepática de glicose, disfunção incretínica, aumento de lipólise e consequente aumento de ácidos graxos livres circulantes, aumento da reabsorção renal de glicose e graus variados de deficiência na síntese e na secreção de insulina pela célula β pancreática. -Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, sendo o diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. -Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2. -Os consagrados fatores de risco para DM2 são: história familiar da doença, avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. -DM2 com tendência a cetose. Não tem autoanticorpos mas HLA frequentemente positivo e função nas células beta. DIABETES MELLITUS GESTACIONAL: -Trata-se de uma intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual, sem ter previamente preenchido os critérios diagnósticos de DM. -Pode ser transitório ou persistir após o parto, caracterizando-se como importante fator de risco independente para desenvolvimento futuro de DM2. A prevalência varia de 1 a 14% a depender da população estudada e do critério diagnóstico adotado. Manuelli Antunes da Silva OUTROS TIPOS: -As formas de DM associadas a defeitos genéticos na função das células β incluem maturity-onset diabetes of the young (MODY), diabetes neonatal, diabetes mitocondrial e outras. MODY é uma forma monogênica de DM e caracteriza-se por herança autossômica dominante, idade precoce de aparecimento (em geral, antes dos 25 anos) e graus variáveis de disfunção da célula β. DIAGNÓSTICO: Objetivo 02: Compreender epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, comorbidades e opções terapêuticas da DM2. (Diretriz/ Vilar/ Up to date) Prevalência estimada de 8,8% da população mundial com 20 a 79 anos de idade (415 milhões de indivíduos), sendo 14 milhões apenas no Brasil. Hiperglicemia persistente: Aumento da incidência de doenças ateroscleróticas cardiovasculares, cegueira, insuficiência renal e amputações não traumáticas de membros inferiores Maiores taxas de hospitalizações, aumento dos gastos com saúde pública, redução da qualidade de vida e elevação da taxa de mortalidade. O aumento da prevalência do diabetes está associado a diversos fatores, como rápida urbanização, transição epidemiológica, transição nutricional, maior frequência de estilo de vida sedentário, maior frequência de excesso de peso, crescimento e envelhecimento populacional e, também, à maior sobrevida dos indivíduos com diabetes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que glicemia elevada é o terceiro fator, em importância, da causa de mortalidade prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco. Manuelli Antunes da Silva Estima-se que cerca de 50% dos casos de diabetes em adultos não sejam diagnosticados e que 84,3% de todos os casos de diabetes não diagnosticados estejam em países em desenvolvimento. Existem evidências de que indivíduos com diabetes mal controlado ou não tratado desenvolvem mais complicações do que aqueles com o diabetes bem controlado. A incidência traduz o risco médio da população em adquirir a doença, além de servir de parâmetro para a avaliação do impacto produzido por medidas de prevenção. A prevalência é um indicador da magnitude da carga atual que a doença representa para os serviços de saúde e para a sociedade, bem como um preditor da futura carga que as complicações crônicas do diabetes representarão. Em 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde, estimou que 6,2% da população brasileira com 18 anos de idade ou mais referiu diagnóstico médico de diabetes, sendo de 7,0% nas mulheres e de 5,4% nos homens, com maior taxa de diabetes (9,6%) nos indivíduos sem instrução ou com ensino fundamental incompleto. Não foram observadas diferenças com significância estatística na prevalência do diabetes quanto à cor da pele. Na região das Américas, as taxas mais elevadas encontram-se no México (11,8%), nos Estados Unidos da América (10,9%), no Chile (10,4%), no Canadá (10,2%), em Cuba (9,7%) e no Brasil (9,0%). Diabetese suas complicações constituem as principais causas de mortalidade precoce na maioria dos países; aproximadamente 4 milhões de pessoas com idade entre 20 e 79 anos morreram por diabetes em 2015, o equivalente a um óbito a cada 8 segundos. Doença cardiovascular é a principal causa de óbito entre as pessoas com diabetes, sendo responsável por aproximadamente metade dos óbitos por diabetes na maioria dos países. O diabetes é responsável por 10,7% da mortalidade mundial por todas as causas, e isso é maior do que a soma dos óbitos causados por doenças infecciosas. Na maioria dos países desenvolvidos, quando se analisa apenas a causa básica do óbito, verifica-se que o diabetes está entre a quarta e oitava principais causas. A análise da causa de óbito, por tempo de início e duração do diabetes, mostra que o coma cetoacidótico é uma importante causa de óbito para os indivíduos com diagnóstico recente de diabetes tipo 1, assim como a nefropatia diabética, para os indivíduos com longa duração da doença. Nos indivíduos com diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito. As complicações do diabetes são categorizadas como distúrbios microvasculares e macrovasculares, que resultam em retinopatia, nefropatia, neuropatia, doença coronariana, doença cerebrovascular e doença arterial periférica Contribui para agravos, direta ou indiretamente, no sistema musculoesquelético, no sistema digestório, na função cognitiva e na saúde mental, além de ser associado a diversos tipos de câncer. EPIDEMIOLOGIA Manuelli Antunes da Silva Responsável por 90 a 95% de todos os casos de diabetes, o diabetes tipo 2 (DM2) surge habitualmente após os 40 anos de idade, e a maioria dos pacientes (cerca de 80%) é obesa. Contudo, pode acometer adultos mais jovens, até mesmo crianças e adolescentes. Na Europa e no Brasil, o DM continua sendo raro em crianças e adolescentes. Aproximadamente 70 a 90% dos pacientes com DM2 têm também a síndrome metabólica, caracterizada por um aglomerado de fatores que implicam risco cardiovascular elevado (dislipidemia, obesidade abdominal, resistência insulínica, tolerância alterada à glicose ou diabetes e hipertensão). A síndrome hiperosmolar hiperglicêmica é a complicação aguda clássica do DM2 e implica elevada mortalidade. Nos últimos anos, ela também tem sido descrita em crianças com DM2. Tipicamente, a cetoacidose diabética (CAD) raramente ocorre espontaneamente no DM2; quando surge, geralmente o faz em associação com o estresse de alguma doença associada, como uma infecção grave. No entanto, nos últimos anos tem se relatado um exponencial aumento de CAD em pacientes com DM2. FISIOPATOLOGIA Os principais mecanismos fisiopatológicos que levam à hiperglicemia no DM2 são: -Resistência periférica à ação insulínica nos adipócitos e, principalmente, no músculo esquelético. -Secreção deficiente de insulina pelo pâncreas. -Aumento da produção hepática de glicose, resultante da resistência insulínica no fígado. Outros componentes desempenham importante papel na patogênese do DM2: o adipócito (lipólise acelerada), o trato gastrintestinal (deficiência/resistência incretínica), as células alfa pancreáticas (hiperglucagonemia), o rim (reabsorção aumentada de glicose pelos túbulos renais) e o cérebro (resistência à insulina). Coletivamente, esses componentes compreendem o que foi recentemente chamado por DeFronzo de “octeto ominoso ou nefasto”. Há evidências de uma exagerada insensibilidade à insulina e de uma rápida deterioração da função das células β em adolescentes com DM2. FATORES DE RISCO Obesidade é o mais importante (sobretudo aquela com distribuição predominantemente abdominal da gordura). A incidência de DM2 é 5 vezes maior em pacientes com síndrome metabólica (SM) em comparação a um grupo de pacientes sem a síndrome. Manuelli Antunes da Silva Sedentarismo, história familiar de DM2, idade > 40 anos, síndrome dos ovários policísticos e prévio diabetes gestacional. -O antecedente familiar também tem papel fundamental na ocorrência do DM2 nessa faixa etária. Indivíduos com DM2 têm pelo menos um dos parentes de primeiro ou de segundo grau afetados, e 65% apresentam ao menos um familiar de primeiro grau com DM2. -Ademais, indivíduos com sobrepeso que tenham irmãos jovens com DM2 têm risco quatro vezes maior de intolerância à glicose que outras crianças com sobrepeso. Consumo crônico de café diminua o risco para o DM2, tal como mudança no estilo de vida, como dieta e atividade física. Crianças que nascem pequenas para a idade gestacional têm risco aumentado de desenvolver, na vida adulta, síndrome metabólica e DM2 [Adaptações metabólicas poupadoras de glicose]. QUADRO CLÍNICO No DM2, cerca de 50% dos pacientes desconhecem ter a doença por serem assintomáticos ou oligossintomáticos, apresentando mais comumente sintomas inespecíficos, como tonturas, dificuldade visual, astenia e/ou cãibras. Vulvovaginite de repetição e disfunção erétil podem ser, também, os sintomas iniciais. Cerca de 80% dos pacientes têm excesso de peso e 38% dos jovens apresentam obesidade mórbida. 30% dos pacientes apresentam poliúria, polidipsia leve e emagrecimento discreto. Algumas pacientes podem ter história de monilíase vaginal. A acantose nigricans (AN), presente em quase 90% dessas crianças, é uma manifestação cutânea indicadora de RI que consiste em hiperpigmentação de aspecto aveludado, com espessamento das regiões flexurais do pescoço, das axilas e da região inguinal. Sinais da síndrome dos ovários policísticos (SOP), com hirsutismo e distúrbios menstruais associados a baixos níveis plasmáticos de globulina ligadora dos hormônios sexuais (sex hormone binding globulin – SHBG) e predominância do hormônio luteinizante ou alteração ultrassonográfica, estão presentes em 26% das meninas. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de DM2 deve ser suspeito sobretudo em pacientes adolescentes, negros, obesos, muitas vezes sem queixas clínicas, com história familiar positiva para a doença e apresentando hiperglicemia e/ou glicosúria em exame de rotina. Quando da presença de obesidade, outros testes podem ser necessários, como determinação do peptídeo C de jejum e dosagem de autoanticorpos contra células β. Em jovens com DM geralmente os autoanticorpos não estão presentes e, também, os níveis de peptídeo C são normais ou elevados, embora não tão elevados como se espera para o grau de hiperglicemia. A dosagem do peptídeo C deve ser efetuada após a compensação clínica, com glicemia de jejum próxima de 120 mg/dL, para afastar um possível efeito glicotóxico sobre a célula β. Após criteriosa associação de dados clínicos e laboratoriais, os casos duvidosos, sobretudo aqueles com cetoacidose inicial, devem ser submetidos a uma pesquisa para avaliação da função da célula β, pela dosagem do peptídeo C, e para detecção de marcadores do processo autoimune, pela pesquisa de autoanticorpos, anti-ilhota, anti-GAD, anti-IA2, anti-insulina e anti-ZTN8. Manuelli Antunes da Silva A implantação de exames de rotina para diagnóstico de DM2 em jovens não é recomendada, exceto na presença de obesidade (índice de massa corporal [IMC] > percentil 85 para idade e sexo ou peso > 120% do ideal para estatura) associada a dois ou mais dos fatores de risco a seguir: história familiar positiva para DM2 em parentes de primeiro ou de segundo grau; grupo étnico de risco (índios americanos, afro-americanos, hispânicos, asiáticos/habitantes de ilhas do Pacífico); sinais de RI ou condições relacionadas com RI (AN, hipertensão arterial, dislipidemia e SOP). A triagem deve ser realizada, preferencialmente, com a glicemia de jejum, a cada 2 anos, com início após os 10 anos de idade. LABORATORIAL: -Glicemia em jejum -TOTG -Hemoglobina glicada -Frutosamina: A frutosamina é uma proteína glicada,constituída principalmente de albumina, que reflete o controle glicêmico nos últimos 7 a 14 dias, já que a meia-vida da albumina é de 14 a 20 dias. A medida da frutosamina pode ser um método alternativo para avaliar o controle glicêmico dos pacientes que tenham condições que alterem os valores da HbA1c (p. ex., hemoglobinopatias) ou quando se queira avaliar mudanças a curto prazo no controle glicêmico (p. ex., durante a gravidez). -Glicosúria: A pesquisa de glicose na urina tem baixa sensibilidade diagnóstica, uma vez que glicosúria costuma surgir apenas com glicemias > 180 mg/dℓ. Além disso, pode-se ter glicosúria na ausência de DM: gravidez (em até 50% das gestantes), tubulopatias renais, insuficiência renal crônica e glicosúria renal familiar. -Corpos cetônicos: A cetonúria, verificada por meio de fitas reagentes, associada à hiperglicemia, é característica da cetoacidose diabética (CAD), uma situação potencialmente grave que requer intervenção imediata. -Peptídeo C: A capacidade secretória do pâncreas pode ser analisada por meio da dosagem no plasma do peptídeo C (PC), que é secretado na circulação porta em concentrações equimolares com a insulina, sendo ambos originados da clivagem da proinsulina. O método mais utilizado é a determinação do PC basal e 6 minutos após a injeção intravenosa de 1 mg de glucagon. Como ponto de corte para classificar os pacientes, deve ser considerado que níveis do PC > 0,9 ng/mℓ no basal e > 1,8 ng/mℓ após glucagon indicam uma reserva de insulina compatível com DM2. Valores inferiores confirmam o diagnóstico de DM1. Manuelli Antunes da Silva -Dosagem de autoanticorpos: Autoanticorpos contra a célula beta são encontrados no DM1A e no LADA. Sua dosagem permite a distinção dessas condições com o DM2. O autoanticorpo de maior utilidade é o anti-GAD65. COMORBIDADES Doença renal é a mais comum e precoce complicação encontrada em jovens com DM2. Hipertensão foi descrita em 10 a 12% dos adolescentes ao diagnóstico, aumentando para 34% ou ficando entre 36 e 45,8% após 4 a 5 anos, sendo o risco maior em pacientes com pior IMC. Dislipidemia é a comorbidade não responsiva a tratamento mais prevalente em jovens com DM2. Com relação à retinopatia, o estudo TODAY41 encontrou prevalência de 13,7% da doença após 5 anos de DM2, já o estudo SEARCH, de 42% após cerca de 7 anos de DM2. Dados sobre neuropatia, por sua vez, são extremamente raros em casos de DM2 em adolescentes, mas estudo canadense reportou prevalência da doença de 7,6% após 6 a 7 anos de DM2. Finalmente, também se relatou maior prevalência de depressão em jovens com DM2, de 15 a 22%, chegando a ser duas vezes mais frequente em comparação a relatos sobre pacientes com DM1. TRIAGEM E ACOMPANHAMENTO: -Relação albumina-creatinina (RAC) deve ser obtida ao diagnóstico e anualmente: • RAC > 30 mg/g de creatinina deve ser confirmada em mais 2 ou 3 coletas • Confirmada RAC > 30 mg/g de creatinina e pressão arterial elevada, ou RAC > 300 mg/g independente da pressão arterial, indicar inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA) ou bloqueador do receptor de angiotensina e titular até normalização da pressão arterial (A) • Considerar causas não relacionadas ao diabetes se RAC > 300 mg/g (encaminhar ao especialista) -Monitorização da pressão arterial a cada visita de acordo com as recomendações específicas para crianças (A) • Pressão elevada deve ser confirmada em medida de dois dias diferentes a) Pressão elevada: média sistólica ou diastólica acima do 95 percentil para idade, sexo, estatura. b) Pressão normal se entre 90o e < 95o percentis c) Tratamento: perda de peso, diminuir sal da dieta e aumentar atividade física (E) d) Pressão alterada após 6 meses de tratamento conservador: iniciar inibidor da ECA para tentar manter pressão abaixo do percentil 90 (A) e) Intolerância ao inibidor da ECA tentar bloqueador de canal de cálcio, ou diurético (E) f) Pode ser necessário combinação de terapia caso a pressão arterial não normalize com monoterapia (E) -Monitorização de lípides: imediatamente após controle glicêmico ou após 3 meses do início do tratamento medicamentoso, repetindo anualmente. Screening inicial não necessita de jejum (B). a) Colesterol: • LDL colesterol < 100 mg/dL • HDC colesterol > 35 mg/dL • Triglicérides < 150 mg/dL b) LDL elevado: melhorar controle glicêmico e recomendações de dieta mais rígida. • Repetir perfil lipídico em jejum após 6 meses; • LDL mantido acima de 130 mg/dL: iniciar medicação (estatina) com meta inicial de manter abaixo de 130, idealmente abaixo de 100 mg/dL. Sempre afastar risco de gravidez antes de iniciar estatina. c) Triglicérides: • Triglicérides > 400 mg/dL (jejum) ou > 1.000 mg/dL sem jejum iniciar fibrato, para manter meta abaixo de 400 mg/dL em jejum, diminuindo risco de pancreatite (C). -Retina: realizar avaliação ao diagnóstico e anualmente. -Avaliação de hepatite não alcoólica: dosar enzimas hepáticas ao diagnóstico e anualmente (A). Encaminhar ao hepatologista caso enzimas permaneçam alteradas por mais de três meses apesar de perda de peso (E). Manuelli Antunes da Silva -Questionar e acompanhar: irregularidade menstrual, sintomas de hiperandrogenismo, depressão, ansiedade, transtornos alimentares ao diagnóstico e regularmente (E). -Questionar ao diagnóstico e regularmente sobre hábitos de tabagismo e uso de álcool, para tentar desestimular tais hábitos (A). TRATAMENTO O tratamento atual do DM2 no jovem preconiza a entrada de farmacoterapia (metformina) desde o início, juntamente com modificações no estilo de vida. Em pacientes com DM2, contudo, o tratamento deve priorizar a mudança do estilo de vida, com o objetivo de promover redução e controle de peso, através da instituição de atividade física [60 minutos de atividade física moderada diariamente] e diminuição de hábitos sedentários, associados a uma dieta mais saudável e equilibrada, evitando, se possível, açúcares simples e reduzindo a ingesta de carboidratos e de gorduras totais e saturadas, com aumento da quantidade de fibras. Já na infância, o envolvimento familiar no manejo do DM2 é essencial, com efeito positivo no controle glicêmico (B) e redução significativa do IMC. Atualmente, a terapia farmacológica está indicada em combinação com a mudança do estilo de vida. Como adolescentes com DM2 apresentam forte RI, a primeira escolha medicamentosa recai sobre a metformina (A). A metformina ajuda a reduzir igualmente a HbA1c, sem os riscos de hipoglicemia, e de contribuir para a diminuição do peso ou, pelo menos, para a sua manutenção. Além disso, favorece a redução dos níveis de LDL-c e de triglicérides e contribui para a normalização das alterações ovulatórias em meninas com SOP. A metformina também apresenta efeitos favoráveis modestos no peso, na composição corporal e na homeostase glicêmica. A acidose láctica é uma complicação rara, porém grave, por isso a metformina é contraindicada a pacientes com função renal ou hepática diminuída e quando da presença de hipóxia ou infecção intensa. Atualmente, a cirurgia metabólica é considerada para adolescentes com DM2 e IMC > 35 kg/m2 que apresentam glicemia e/ou comorbidades não controladas, apesar do estilo de vida e tratamento farmacológico. Manuelli Antunes da Silva Manuelli Antunes da Silva Objetivo 03: Estudar o rastreio do paciente assintomático. (Diretriz/ Vilar) Entre os indivíduos assintomáticos, o diabetes deve ser pesquisado naqueles com idade acima de 45 anos ou nos mais jovens, caso haja fatores que os tornem mais suscetíveis à doença (obesidade, hipertensão, história familiar de diabetes, dislipidemia, diagnóstico prévio de diabetes gestacional etc.). Embora um índice de massa corporal (IMC) > 25 kg/m2 esteja associado a risco aumentado de DM2, indivíduos de etnia asiática têmesse risco aumentado já em IMC > 23 kg/m2. - Outros fatores de risco para o desenvolvimento de DM2 que devem ser levados em consideração são: história prévia de diabetes gestacional e uso de medicações como corticoides, diuréticos tiazídicos e antipsicóticos. Além disso, é preciso atentar para a presença de comorbidades frequentemente associadas ao DM2, como periodontite, infecções micóticas, hepatite C e outras infecções virais crônicas. Além disso, dados recentes mostram que DM2 tem se destacado como uma das principais etiologias da doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose ou esteato-hepatite), a qual é encontrada em até 60% ou mais dos diabéticos tipo 2. Assim, na presença de sinais ultrassonográficos sugestivos de esteatose hepática, parece prudente a pesquisa do DM2. Manuelli Antunes da Silva A ADA também recomenda que, em crianças, o DM2 seja pesquisado bianualmente, a partir dos 10 anos de idade ou no início da puberdade, quando houver sobrepeso (IMC > 85o percentil para idade e sexo ou peso, 120% do ideal para a altura) e dois ou mais dos seguintes fatores de risco: História familiar de DM2 em parentes em primeiro e segundo graus. Determinadas raças ou etnias (p. ex., índios norte-americanos, negros, latino-americanos etc.). Sinais de resistência insulínica (RI) ou condições associadas a RI (p. ex., acantose nigricans, hipertensão, dislipidemia ou SOP). História materna de DM ou diabetes gestacional. A glicemia de 2 horas pós-sobrecarga diagnostica mais casos que o restante, mas é o teste menos utilizado. Quando mais de um teste é feito, com resultados discrepantes confirmados, considera-se aquele que diagnostica o DM2 ou o pré-diabetes. Intervalo de tempo: Parece razoável recomendar um intervalo de 3 a 4 anos para o reteste daqueles pacientes com baixo risco de desenvolver diabetes e que tiveram resultado prévio indubitavelmente normal, assim como recomendar o reteste anual para os pacientes com pré-diabetes ou com fatores de risco para desenvolvimento de DM2. Pacientes que tiverem resultados no limite superior do normal devem ser reavaliados em 3 a 6 meses. Prevenção: -Medidas não-farmacológicas: MEV [Dieta e atividade física]. -Dieta prescrita: dieta alimentar para perda de, em média, 7% do peso inicial ao longo de 6 meses, ao ritmo de 0,5 a 1,0 kg/mês. -Atividade física prescrita: atividade física aeróbica moderada (tipicamente, caminhar rápido) por 150 minutos/semana, distribuída em pelo menos três sessões. Cada sessão de exercício deve durar mais que 10 minutos e não passar de 75 minutos. -Intervenções farmacológicas: A maior redução foi obtida com as glitazonas. Outros agentes, como acarbose, orlistate e agonistas dos receptores do peptídio semelhante a glucagon 1 (glucagon-like peptide-1, GLP-1), retardam/previnem a evolução de pré- diabetes para diabetes, mas seu uso não é recomendado para essa finalidade por falta de dados sobre duração do efeito, segurança ou relação custo-efetividade. -Metformina: Ela é recomendada para pacientes muito obesos (IMC > 35 kg/m²), com passado de diabetes gestacional, com mais hiperglicemia (HbA1c > 6%) ou para aqueles nos quais a HbA1c aumenta mesmo com as mudanças do estilo de vida. Nesses pacientes, deve-se considerar o monitoramento periódico dos níveis séricos de vitamina B12, especialmente se eles apresentarem anemia ou neuropatia periférica. Objetivo 04: Entender as metas terapêuticas da SBD (perfil glicêmico e lipídico). (Diretriz) METAS GLICÊMICAS: -A determinação da HbA1c possibilita estimar quão elevadas as glicemias estiveram nos últimos 3 a 4 meses. Tal estimativa torna- se possível pelo fato de a glicose sanguínea ligar-se de maneira irreversível à hemoglobina durante o período de vida da hemácia, que tem essa duração. A porcentagem da hemoglobina que sofreu glicação será tanto maior quanto maior a concentração de glicose sanguínea. Esse resultado expresso em porcentagem refere-se à média das glicemias diárias, sendo 50% correspondente ao mês que precedeu o exame, 25% ao mês anterior à coleta e 25% ao terceiro e quarto meses anteriores. -Recomenda-se que o alvo de HbA1c para qualquer criança ou adolescente com idade inferior a 18 anos seja menor (7,5%). Para adultos, as recomendações de HbA1c variam de 6,5 a 7,0%, dependendo da sociedade científica, mas sempre é importante individualizar o tratamento. -Em outras situações clínicas, como insuficiência renal ou hepática, que predispõem ao aparecimento de hipoglicemia, o alvo glicêmico pode ser um pouco mais elevado do que o habitual. -O valor de HbA1c igual a 7% interpreta-se como correspondente a uma glicemia média estimada de 154 mg/dL. Manuelli Antunes da Silva -Recomenda-se que a HbA1c seja realizada a cada 3 a 4 meses em crianças e adolescentes, com no mínimo duas medidas anuais (D). Para adultos, com controles estáveis, sugerem-se duas medidas de HbA1c ao ano. -Quanto ao número de glicemias capilares necessárias para um bom controle metabólico, demonstra-se que a frequência da monitorização está associada a melhora da HbA1c. Estudos demonstram que o mínimo seriam quatro medidas ao dia, sempre antes das refeições principais, ao deitar e, idealmente, antes e 2 horas depois das refeições para ajuste da insulina bolus (portanto, um total de seis vezes ao dia), havendo pelo menos uma vez por mês uma medida de madrugada (entre 3 e 4 horas).
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