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Apostila - Comunicação e Homilética

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Setembro / 2020
Professor/autor: Dr. Rubens Muzio
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de Marketing e Comunicação
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3| Comunicação e Homilética | FTSA | 
SUMÁRIO
Comuniucação e Homilética
Unidade I - A comunicação e a mensagem teológica
1.1. Introdução às teorias da comunicação......................................................................04
1.2. Conceituando a comunicação efi caz...........................................................................12
1.3. A comunicação teológica...............................................................................................19
Unidade II - O comunicador efi caz
2.1. Por que as pessoas não se comunicam bem?.............................................................36
2.2. Obstáculos à comunicação efi caz................................................................................39
2.3. Como podemos nos comunicar melhor?......................................................................59
2.4. Qualidades de um comunicador efi caz.........................................................................65
Unidade III - O contexto e o público
4.1. A ideia central...............................................................................................................108
3.2. Realidade sociocultural brasileira..................................................................................78
3.3. Comunicação na era da mídia, informação e entretenimento.....................................89
3.4. Comunicação contextualizada.....................................................................................102
Unidade IV - As técnicas e avaliações
Introdução....................................................................................................................105
4.1. Perspectivas da missiologia.......................................................................................105
4.2. A estrutura básica de uma mensagem........................................................................120
4.3. Avaliação de uma mensagem......................................................................................138
Resultado dos exercícios .........................................................................................143
| Comunicação e Homilética | FTSA4
Unidade I – A comunicação e a mensagem teológica
1.1. Introdução às teorias da comunicação
Quando criança, era comum repetir 
as palavras do famoso apresentador 
de televisão Chacrinha: “quem não 
se comunica, se trumbica”. Essa 
frase, sem dúvida, é verdadeira 
e exemplifi ca a importância da 
comunicação para a sociedade 
brasileira. A comunicação não é 
um assunto meramente teórico, 
mas extremamente prático e deve 
ser aplicado à vida, de inúmeras 
maneiras. Não queremos formar 
especialistas em comunicação pura e simplesmente, mas especialistas 
na arte de comunicar bem e efi cazmente.
Entretanto, quais são os critérios que explicam o que é comunicar bem 
e efi cazmente? Basicamente, esta é a função do estudo de teorias, ou 
seja, a construção de critérios de avaliação das práticas que realizamos. 
Existem diversos tipos de teoria de comunicação. Há aquelas teorias 
que tratam do fenômeno da comunicação enquanto tal e, comumente, 
o descrevem a partir de categorias como “emissor, receptor, mensagem, 
código, meio”. Há teorias que tratam da dimensão específi ca da 
informação na atualidade, e são comumente conhecidas como “teorias 
de informação”. Há teorias que tratam dos processos de signifi cação 
na comunicação, e costumam ser chamadas de teorias semióticas 
ou hermenêuticas da informação. Há teorias que tratam da dimensão 
tecnológica dos processos de comunicação, normalmente conhecidas 
como ‘estudos da mídia’ ou ‘estudos midiáticos’. Uma descrição do 
campo se encontra em SANTAELLA & NÖTH, 
5| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Tanto quanto podemos ver, não obstante a 
multiplicidade aparente de pontos de vista, são três 
as visões dominantes sobre o campo de estudos da 
comunicação, todas elas devidamente constituídas 
com conceitos próprios e literatura correspondente: 
(2.1.) a visão de que a investigação deve abranger 
todos os processos de comunicação, estejam eles onde 
estiverem; (2.2.) a visão que identifi ca comunicação 
com as teorias dos meios de comunicação e, mais 
recentemente, das mídias em geral; (2.3) a visão que 
considera a comunicação como parte da realidade 
sociohistórica humana, localizando seus estudos sob o 
guarda-chuva da sociologia da cultura, da sócio-política 
ou da teoria geral da sociedade (2004, p. 35-36).
Nosso curso levará em consideração conceitos e categorias provindas 
de diversos tipos de teoria, na medida em que esses elementos 
sejam necessários para a compreensão do que estamos estudando. 
Trataremos, também, dos aspectos básicos de uma teoria teológica da 
comunicação, tendo em vista os objetivos e propósitos da FTSA e seu 
projeto pedagógico. Afi nal de contas, queremos treinar comunicadores 
cristãos na arte da comunicação cristã. O comunicador cristão não 
apenas deve se comunicar efi cazmente, mas também eticamente.
Desejamos que, ao fi nal desse curso, você possa responder o que signifi ca 
se comunicar ética e efi cazmente. Além disso os objetivos específi cos 
são que você possa:
1. Compreender os principais aspectos de uma comunicação efi caz;
2. Refl etir sobre os aspectos teóricos e práticos da ciência da 
comunicação e da homilética; 
3. Desenvolver a consciência critica quanto aos modelos de prédicas 
apresentados na igreja evangélica de hoje.
| Comunicação e Homilética | FTSA6
EXERCÍCIO DE REFLEXÃO - 01
Defi na a comunicação a partir de sua própria experiência de vida.
Inicialmente, é fundamental 
saber que a teoria básica da 
comunicação é descrita a partir 
dos elementos emissor, receptor, 
mensagem e canal. Observe 
logo abaixo o esquema clássico 
do processo de comunicação.
Você pode perceber que defi nir 
comunicação não é uma 
tarefa fácil. Afi nal de contas, 
de que comunicação estamos 
falando? De qual mensagem e 
de qual meio de comunicação estamos falando? As novas tecnologias 
afi rmam que as oportunidades de interação e compartilhamento de 
ideias e emoções nunca estiveram melhores. Entretanto, será que as 
formas digitais de troca de informação e diálogos comprovam que a 
comunicação contemporânea é mais humana e eticamente efi caz do 
que no passado? Será que o processo de comunicação serve para fi ns de 
justiça social, redenção e libertação ou a fi ns de dominação, controle e 
poder? Em linguagem teológica: o processo de comunicação serve a fi ns 
éticos e edifi cantes ou aos fi ns pecaminosos? 
Inicialmente, é fundamental saber que a teoria básica da comunicação 
é descrita a partir dos elementos emissor, receptor, mensagem e canal. 
Observe logo abaixo o esquema clássico do processo de comunicação.
7| Comunicação e Homilética | FTSA | 
1. Emissor é a pessoa ou um grupo que tem uma ideia. Esse estímulo 
provoca uma reação: compartilhar, transmitir ou enviar para outros. 
A comunicação exige a participação de duas pessoas, no mínimo 
(ninguém se comunica sozinho). A mensagem precisa ser signifi cativa 
tanto para o emissor quanto para o receptor. Ou seja, ela precisa ter a 
capacidade de estabelecer a comunhão entre pessoas ou grupos quo 
trocam signifi cados e compartilham coisas em comum.
2. Receptor é uma pessoa ou um grupo (conhecida ou não, identifi cada ou 
não) que recebe a mensagem, a interpreta interiormente e manifesta 
a sua interpretação exteriormente. Ao decifrar seus símbolos, sua 
reação é retornar ao emissor ou encaminhar a ideia para outros. 
3. Mensagem é a ideia ou pensamento transmitido pelo emissor 
(com o uso de códigos, símbolos, sinais, signos orais ou escritos) e 
recebido pelo receptor. Há muitos tipos de ruídos ou interferências 
que impedema compreensão da mensagem—a cultura, o grau 
de escolaridade, a maturidade, o barulho, etc. A efetividade da 
comunicação acontece quando a mensagem é interpretada com 
igual signifi cado pelo emissor e pelo receptor. Se a interpretação não 
for a mesma na emissão e recepção, o signifi cado se perderá e não 
haverá comunicação efi caz. A comunicação depende do emissor e 
do receptor conseguirem compartilhar experiências e signifi cados.
4. Canal é o meio utilizado para transmitir a mensagem, como 
por exemplo, voz, gestos, livro, jornal, rádio, televisão, panfl eto, 
Instagram, WhatsApp, e assim por diante. O conteúdo da mensagem 
geralmente indicará o melhor canal. Se o canal selecionado para o 
compartilhamento da mensagem for equivocado, a comunicação 
será prejudicada e a mensagem poderá ser mal interpretada. 
| Comunicação e Homilética | FTSA8
SAIBA MAIS
José R. Whitaker Penteado tenta reconstituir o processo da seguinte 
forma: 
1. Um estímulo interno ou externo provoca uma reação: a de 
comunicar-me.
2. Traduzo em palavras a ideia e por associação a interpreto, 
organizando as palavras em uma frase-mensagem.
3. Seleciono o meio mais adequado a movimentação da minha 
mensagem rumo ao receptor.
4. Emito a mensagem através do meio selecionado.
5. A mensagem caminha e chega ao receptor.
6. O receptor recebe a mensagem, procurando interpretar lhe o 
signifi cado.
7. O receptor compreende a mensagem, decifrando os símbolos, 
em termos de sua própria interpretação.
8. A reação do receptor, após a sua interpretação, é transportada 
como nova mensagem, de volta a minha pessoa.
9. Interpreto a reação do receptor, e avalio se o signifi cado que 
recebi é o mesmo signifi cado que lhe enviei.
10. Coincidindo os dois signifi cados—o meu e o do receptor—
completa-se através da compreensão mútua o circuito da 
Comunicação. 
Enquanto escrevo estes parágrafos, naturalmente refl ito sobre as ideais 
que quero transmitir online a você, através desse canal da FTSA. Penteado 
verbaliza esse processo como se fosse uma obra de literatura brasileira:
9| Comunicação e Homilética | FTSA | 
1. Acabo de ser apresentado a este cavalheiro. 
Parece-me simpático. Afi nal, devia dizer-lhe qualquer 
coisa. Ocorre-me a ideia de que o clima se presta a 
comentários triviais que, de alguma forma, podem 
ajudar-me a “quebrar o gelo”. Creio que devo referir-me 
ao calor embora não esteja tão quente; é um pretexto.
2. Vou exclamar: “Que calor!” Com uma expressão de 
simpatia procurando transmitir-lhe a minha intenção de 
“quebrar o gelo”. 
3. O melhor meio seria falar: “Que calor! Talvez 
pudesse apenas sorri e tirar um lenço do bolso, 
abanando-o sobre o rosto. Mas, não! O melhor mesmo 
é falar de maneira simpática para que ele me ouça.
4. Exclamo: “Que calor!”
5. Os sons atravessam o espaço que medeia entre 
nós, e atingem o seu pavilhão auditivo.
6. O receptor interpreta as palavras de que me 
utilizei: Ele está se referindo ao ·calor, através de uma 
exclamação extemporânea...
7. E agora interpreta a seu modo, o signifi cado: 
ele quer “puxar conversa” comigo. Ora, já que vamos 
esperar, vou sorrir para ele, e murmurar qualquer coisa...
8. Meus olhos percebem o sorriso e chegam aos 
meus ouvidos os sons que emitiu: “É, está quente!”
9. Ora, graças! Vamos conversar! (1964, p. 9-10)
| Comunicação e Homilética | FTSA10
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 02
Nessa teoria básica da comunicação, há 5 questões cruciais para uma 
comunicação efi caz: 1) quem, 2) diz o que, 3) a quem, 4) através de 
que meio, 5) com que fi nalidade? Correlacione as afi rmações abaixo 
com cada uma das cinco questões cruciais indicadas e assinale a 
opção que indique a ordem de correlação correta:
1. É fundamental que encontremos um propósito para a mensagem e 
comuniquemos claramente os objetivos e razões que nos levaram a transmiti-
la.
2. Qual é o nosso papel e com que função nos comunicamos? Na 
comunicação, devemos defi nir primeiramente aquele que faz a comunicação. 
A resposta parece óbvia (você ou eu) mas não é tão simples assim. O ser 
humano tem vários papeis sociais: pai ou mãe, chefe ou funcionário, vizinho 
ou amigo, professor ou aluno, etc.
3. A escolha do canal adequado poderá trazer um resultado muito melhor. A 
comunicação está cada vez mais segmentada, dirigida a um público (tribo) 
específi co. Para alguns, jornais, televisão e rádios são os melhores canais. 
Para outros, as redes sociais serão mais efi cazes. O que mais importa é a 
comunhão de ideias, histórias e emoções.
4. Se soubermos exatamente o que estamos pensando, iremos nos 
comunicar com mais rapidez e efi cácia. Isso quer dizer organizar melhor 
as ideias e escolher bem as palavras, ou seja, se comunicar com clareza e 
qualidade.
5. A forma da comunicação depende mais do receptor do que do emissor. 
Emissor e receptor precisam falar a mesma linguagem, se colocar no 
mesmo plano de intepretação. Se o emissor não se adaptar ao receptor, a 
comunicação se perderá. Para ser melhor compreendido, o emissor deve 
usar o mesmo vocabulário e preferir as expressões que são mais familiares 
ao receptor.
a) I-1, II-5, III-4, IV-2, V-3 b) I-4, II-5, III-3, IV-2, V-1 c) I-5, II-1, III-4, IV-2, V-3
d) I-1, II-5, III-2, IV-4, V-3 e) I-5, II-1, III-3, IV-4, V-2
11| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Entretanto, teorias deste tipo, apesar de serem úteis, não chegam a 
problematizar criticamente a comunicação. Elas apenas indicam os 
elementos componentes do processo. Fala-se muito em comunicação, 
mas quero destacar abaixo duas citações que alertam para a difi culdade 
para defi ni-la:
Comunicação virou termo da moda, clichê cultural que 
se aplica a todas as circunstâncias. E, por isso mesmo, 
um termo que já não diz quase nada. Palavra oca, 
esvaziada pelo excesso de uso, ninguém mais sabe 
muito bem o que é comunicar. O enigma da comunicação 
e a tentativa de recuperar a ideia que se associa de 
forma plena ao ato comunicador, desdobrando-o para 
além das dimensões conhecidas e viciadas, buscando 
as pistas de um objeto perdido ((MARCONDES FILHO, 
2002, p. 13)
Comunicar é um problema prático antes de ser objeto 
de uma interrogação fi losófi ca ou de uma elaboração 
científi ca. Eu sofro e eu vivo sob o olhar do outro, 
como o outro vive e sofre sob meu olhar; fechado na 
interioridade absoluta de minha consciência, como 
posso fazer sentir minha dor? Um olhar, um gesto 
podem mentir. E há mais, o outro e um homem, mas, 
no caso do mundo que nos rodeia, os animais, posso 
me comunicar com eles? Na Metamorfose, de Kafka, 
Gregório morre não porque ele é uma barata ferida, 
mas porque, metamorfoseado em barata, já não 
há comunicação possível entre sua família e ele. A 
comunicação, de início, compreendida como relação 
privilegiada de consciências humanas (AUROUX & 
WEIL, 1991, p.61-2).
| Comunicação e Homilética | FTSA12
1.2. Conceituando a comunicação efi caz
O que quer dizer se comunicar bem e efi cazmente? O que quer dizer 
se comunicar eticamente? Em nossa essência humana, somos seres 
comunicadores. Vivemos em relacionamentos e comunidades e nos 
relacionamos com palavras, ideias e emoções. No entanto, os desafi os 
contemporâneos para uma comunicação efi caz são cada vez maiores e 
precisamos compreender o que realmente está em jogo na comunicação.
Tratemos do signifi cado etimológico da palavra comunicação. 
Comunicação se relaciona diretamente com comum e comunhão, ou seja, 
o que conta não é o controle, a quantidade, ou a qualidade da informação, 
mas sim o “tornar comum”, ou seja, o compartilhar de ideias, emoções, 
histórias, experiências e sonhos em comum com pessoas e grupos, por 
meio de gestos, atos, palavras, símbolos, e assim por diante. Este tipo 
de defi nição mais humano da comunicação demonstra que tão somente 
mandar uma mensagem para alguém por meio de um determinado canal 
tecnológico demonstra um sentido limitado, além de ser potencialmente 
frio e superfi cial. Além disso, o compartilhamento da vida na sociedadenão pode ser visto apenas como comunhão, mas também como 
discórdia e confronto. De fato, inúmeras lutas sociais pelo domínio dos 
bens simbólicos e materiais circulam no viver em comunidade bem como 
lutas sociais pela partilha desses mesmos bens de uma forma mais justa 
e equitativa.
Neste curso, utilizaremos exemplos da organização TED.COM. Até 2005, 
o TED (sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design) era apenas um 
evento anual que acontecia na California, originado no Vale do Silício. 
Atualmente, entretanto, diversas conferências internacionais e eventos 
licenciados TED acontecem em mais de 130 países, inclusive São Paulo e 
Rio de Janeiro. Em 2012, o site já passava de um bilhão de visualizações, 
em média vistas 1.5 milhões de vezes por dia, e 17 apresentações por 
segundo. Os vídeos são traduzidos para mais de 100 idiomas.
Raramente as palestras TED passam de 18-20 minutos. Estudos apontam 
13| Comunicação e Homilética | FTSA | 
que, em média, a atenção de um público é cativada por aproximadamente 
quinze minutos, depois dos quais muitas pessoas começam a divagar 
sobre sua vida, contas pra pagar, problemas a resolver, comida a fazer, 
viagem a planejar, e assim por diante.
SAIBA MAIS
TED (Conference) https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=TED_
(conference)&oldid=949404400.)
Observe o que Chris Anderson, coordenador do TED, fala sobre a 
linguagem:
... a linguagem só produz sua magia quando partilhada 
entre falante e ouvinte. E essa é a chave para que se 
realize o milagre de recriar sua ideia no cérebro de 
outras pessoas. Você pode usar as ferramentas a que 
sua plateia tem acesso. Se usar sua linguagem, seus 
conceitos, seus pressupostos e seus valores, não terá 
sucesso. Então, em vez disso, utilize os deles. Só a 
partir dessa base comum aos ouvintes podem começar 
a construir a sua ideia na mente deles (2016, p. 29-30)
| Comunicação e Homilética | FTSA14
Anderson acrescenta, uma palestra de alto nível é como uma viagem que 
palestrante e plateia realizam juntos. Ele cita as palavras de Tierney Thys:
Como todos os bons fi lmes e livros, uma palestra de 
alto nível é capaz de nos transportar. Todos adoramos 
participar de aventuras, viajar para algum lugar novo 
na companhia de um guia bem informado—se não 
imaginativo—e capaz de nos apresentar coisas que 
nem sabíamos existir, de nos induzir a abrir janelas para 
lugares desconhecidos, de nos munir de novas lentes 
para ver o ordinário de maneira extraordinária... de ao 
mesmo tempo nos extasiar e acionar diversas áreas 
do nosso cérebro. É por isso que muitas vezes tento 
moldar minha fala em torno do embarque para uma 
viagem (2016, p. 31-32).
Você pode perceber a autenticidade de Simon Sinek e a simplicidade 
do auditório. Como vários de nós, ele experimenta problemas com o 
microfone e distrações visuais. Simon não utiliza powerpoints, apenas 
apresentando pequenos círculos num fl ipchart. Na verdade, algumas das 
palestras TED mais populares não tem visual (Anderson, 2016, p.111). 
Acima de tudo, Simon tem um conceito criativo, que inspira cooperação, 
confi ança e promove mudanças. Ideias, quando transmitidas com 
efi cácia, tem o poder de transformar o mundo. 
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 03
Conforme o texto acima nos mostra, uma boa palestra é aquela que 
tem o poder de nos transportar, palestrante e ouvinte, pelo tema 
que está sendo trabalhado. Todavia, em muitas de nossas igrejas, 
a palavra é fria, de difícil compreensão e extremamente longa. 
Aplicando os conceitos das palestras TED, assinale a alternativa 
que expressa uma comunicação efi caz em uma palestra:
15| Comunicação e Homilética | FTSA | 
a) Uma palestra de alto nível, efi caz para a igreja, é aquela que 
leva as pessoas junto com o pregador. Isso, hoje, invariavelmente, 
isso exige o uso de imagens (slides com fotos, vídeos, gráfi cos 
etc.).
b) Uma palestra de alto nível, efi caz para a igreja, é aquele 
somente guiada pelo Espírito Santo, sem qualquer esforço 
humano.
c) Uma palestra de alto nível, efi caz para a igreja, é aquela que 
leva as pessoas junto com o pregador. Uma viagem por seu 
raciocínio e conceitos.
d) Uma palestra de alto nível, efi caz para a igreja, é aquela 
que exige do público algo raciocínio e conhecimento para 
compreender as palavras do pregador (palestrante), afi nal, 
verdades profundas exigem palavras difíceis.
e) Uma palestra de alto nível, efi caz para a igreja, é aquela 
que prega a palavra, mesmo que as palavras do pregador não 
prendam a atenção do público.
SAIBA MAIS
A Teoria da Ação Comunicativa, de Jürgen Habermas (2002) se 
ocupa da comunicação social, ou seja, ela trata dos processos 
comunicativos que nos ajudam a melhorar a vida em sociedade. 
Comunicar, para Habermas, é relacionar, estabelecer algo em 
comum e gerar societas em latim (de que deriva em português as 
palavras sócio e sociedade).
Nós não vivemos sozinhos, relembra Habermas. Vivemos em 
grupos, começando com nossa família, se estendendo pelo nosso 
bairro, cidades, estado, país, continente e o mundo inteiro. 
| Comunicação e Homilética | FTSA16
Como expressão concreta desse viver em comum, as pessoas se 
agrupam e se constituem como sociedades, povos, culturas. As 
sociedades humanas são fruto da ação conjunta das pessoas e, ao 
mesmo tempo, funcionam como estruturadoras da ação humana. 
Através da ação, o ser humano produz simultaneamente objetos 
concretos e objetos simbólicos. Não só produzimos “coisas”, como 
também as explicamos e lhes damos sentido. Mediante o trabalho 
e a interação cotidianos, os grupos sociais vão produzindo ideias, 
valores, bens, instituições, etc. 
Em que condições a comunicação bem-sucedida se torna 
impossível? De acordo com Habermas, podemos explicar esse tipo 
de situação de duas maneiras:
(1) A comunicação se torna inviável quando a tensão entre 
facticidade e validade é plenamente desconsiderada, ou seja, 
quando uma pessoa ou um grupo social (ou instituição) não 
consegue perceber que a sua própria defi nição da situação não 
é a única defi nição possível e, assim, tenta impor a sua visão 
aos demais participantes da comunicação. Ora, a partir do fato 
de que vivemos em sociedades plurais – em que coexistem 
diferentes explicações da vida humana, tanto éticas, como morais, 
econômicas, políticas, etc. – todos nós precisamos reconhecer a 
tensão entre facticidade e validade em nossos próprios discursos, 
em nossa própria maneira de entender, diagnosticar e defi nir uma 
situação qualquer. Em outras palavras, a comunicação se torna 
inviável quando os participantes de um diálogo atuam de modo 
fundamentalista. Assim, ao invés de construir consensos para 
coordenar as ações em comum na sociedade, cada parte defende 
seus próprios interesses e perspectivas.
(2) A comunicação se torna inviável quando os meios de interação 
sistêmica passam a reger os processos comunicativos. 
17| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Quando isto acontece, ocorre o que Habermas chama de ação 
estratégica—o oposto da ação comunicativa—a ação voltada para 
o sucesso de si mesmo, independentemente do sucesso ou das 
necessidades do outro. No caso da economia, o meio principal de 
interação é a competição visando o lucro – a comunicação se torna 
inviável quando o diálogo é praticado com a fi nalidade de ganhar
a discussão. No caso da política, o meio principal de interação 
sistêmica é a imposição (dominação), assim, o diálogo se torna 
inviável na medida em que não há disposição para ouvir e aprender 
com o outro, mas apenas em derrotar o outro. No caso da mídia, 
o meio principal de interação sistêmica é a doutrinação que visa 
convencer o outro da verdade da ‘minha’ doutrina, assim, o diálogo se 
torna impossível na medida em que a comunicação se dá apenas em 
uma direção, visando apenas vender ao outro um produto concreto 
ou simbólico. No caso da ciência, o principal meio de interação 
sistêmica é a objetivação que reduz as interações pessoais a objetos 
empiricamente observáveis, assim, o diálogose torna impossível na 
medida em que a explicação naturalista ou objetivista da situação 
impede a construção de consensos valorativos.
a) Como podemos viabilizar a comunicação bem-sucedida? 
Segundo Habermas, devemos recusar os grandes obstáculos 
da comunicação: 
b) reconhecer a tensão facticidade-validade;
c) não estabelecer a vitória como o alvo da comunicação; 
d) não tentar impor aos que pensam diferente a nossa própria 
visão de mundo; 
e) evitar a doutrinação, estando disposto a aprender com as 
crenças e valores dos outros; e 
f) não tratar outras pessoas como objetos ou meros ‘animais’, 
e sim, tratando-as como pessoas com a mesma dignidade e 
autonomia que creditamos a nós mesmos.
| Comunicação e Homilética | FTSA18
Quero incentivar você a ler o texto do sociólogo francês Michel Maffesoli, 
“A comunicação sem fi m (teoria pós-moderna da comunicação)” como 
leitura complementar. Ele trata dos elementos essenciais da natureza da 
comunicação. Um dos pensamentos centrais de Maffesoli é o seguinte:
Comunicação é um termo que raro emprego, embora 
reconheça cada vez mais a sua pertinência. Trata-se 
da maneira contemporânea, pós-moderna, de fazer 
referência ao simbolismo (não no sentido simples do 
termo, simbólico, mas na acepção freudiana e lacaniana 
de simbolismo). Não seria errado também falar em 
comunicação por referência aos novos pensamentos 
místicos, caso se tome por essencial a ideia de 
conjunção: a comunicação é que nos liga ao outro. Para 
usar o meu vocabulário habitual, a comunicação é o 
que faz reliance (religação). A comunicação é cimento 
social. Talvez eu fale tão pouco de comunicação porque 
para mim essa noção está implícita na socialidade. 
A comunicação é a cola do mundo pós-moderno. 
Dito de outra forma, a comunicação é uma forma de 
reencarnação desse velho simbolismo, simbolismo 
arcaico, pelo qual percebemos que não podemos nos 
compreender individualmente, mas que só podemos 
existir e compreendermo-nos na relação com o outro. 
Nesse sentido, a ideia de individualismo não faz 
muito sentido, pois cada um está ligado a outro pela 
mediação da comunicação. O importante é o primum 
relationis, ou seja, o princípio de relação que me une ao 
outro (2003, p.13).
A comunicação (ou a informação), para Maffesoli, remete ao estar-junto, ao 
ligar, ao unir e ao estabelecer comunhão entre indivíduos e grupos. Como 
escreve Maffesoli, comunicação é o cimento social; é a cola que liga a 
sociedade. Por isso, as pessoas não querem apenas receber informações, 
19| Comunicação e Homilética | FTSA | 
mas participar, fazer parte da história e partilhar suas emoções. Por essa 
razão, a interação predomina na internet. O autor também está preocupado 
com a segmentação da informação para um público-alvo. A informação 
está cada vez mais voltada à uma tribo específi ca.
Concluindo, comunicação consiste em comunhão ou viver em comum. 
Não se trata, portanto, apenas de discutir apenas técnicas de “como 
fazer”, modos e canais de falar, transmitir, difundir ou propagar conteúdo. 
Trata-se, por outro lado, de refl etir sobre as melhores formas de viver 
em comunidade, construindo consenso na diversidade, construindo 
identidade na pluralidade e trazendo justiça social a um mundo injusto.
1.3. A comunicação teológica 
Vídeo sobre homilética e pregação (10-15 min)
No Novo Testamento o termo grego que mais se aproxima do signifi cado 
da comunicação como está sendo apresentado nesta unidade é koinonia, 
que traduzimos por viver em comunhão ou viver em comum. A koinonia
é a qualidade daquilo que é comum a pessoas diferentes, é aquilo que é 
partilhado por pessoas, aquilo de que todos participam. Assim, o sucesso 
da comunicação na comunidade cristã é determinado pelos alvos ou 
metas da vida em comum, bem como pelos princípios de convivência 
comunitária. 
| Comunicação e Homilética | FTSA20
O fracasso na comunicação na igreja local ocorre quando ela não constrói 
consenso e harmonia, mas provoca divisões e dissensões. Aproveitando 
a análise do mundo atual de Ricardo Barbosa:
O individualismo, associado com os outros fenômenos 
do mundo moderno, traz um dos maiores desafi os 
à espiritualidade cristã que jamais temos visto. É o 
desafi o do encontro, da relação, da descoberta do 
outro não pelo que tem ou representa, mas por quem 
é. Penetrar neste mistério que envolve nossas relações 
pessoais irá exigir de nós uma postura crítica em 
relação ao que acontece ao nosso redor e em buscar os 
caminhos que nos integrem novamente numa relação 
que seja afetiva, íntima, pessoal (2002, p. 18).
Os confl itos e desacordos numa igreja vão desde a cor azul ou verde 
das paredes da sala de aula das crianças até colossais confrontos 
entre os líderes evangélicos na mídia nacional. As épocas em que os 
confl itos acontecem na igreja loca são bem previsíveis: nas festividades 
de Páscoa, e Natal, durante as campanhas de ofertas, na ausência ou 
acréscimo de novos pastores, na mudança do estilo de liderança, com a 
entrada de muitos casais jovens, na construção de um novo prédio, em 
mudanças na família pastoral, quando acontece a perda signifi cativa de 
membros ou aumento signifi cativo de membros.
Igrejas são capazes de se tornarem instituições opressoras e uma boa 
parte do seu tempo como líder será gasto na resolução de problemas 
internos e aconselhamento de pessoas. Espalhamos nossa fé em meio 
a divisões. Igrejas problemáticas tendem a fazer o pastor o foco de 
descontentamento, com ou sem causa provável.
Por outro lado, os seus líderes podem também se tornarem manipulativos 
e mestres da conversação. Líderes poderosos se tornam uma potência 
para o bem e para o mal. Você se lembra da história de Jim Jones? 
Construiu uma igreja animada em São Francisco, repleta de gente bem 
21| Comunicação e Homilética | FTSA | 
intencionada. Jones os levou para uma viagem missionária à Guiana, 
convencendo 900 deles a se suicidarem. Veja algumas características de 
igrejas abusivas:
• Estilo de liderança orientada para o controle [poder, modelo 
monárquico]
• Elitismo espiritual [senso superioridade]
• Manipulação de membros [culpa, pressões ministérios]
• Perceptíveis níveis de perseguição [psicológica]
• Rigidez no estilo de vida [moralismos, legalismos]
• Ênfase na experiência [forte emocionalismo, sensações e 
visões]
• Oposição é rechaçada, suprimida [visto como inimigo, como 
coisa do inferno]
• Disciplina rígida [rigorosos membros]
• Denuncia outras igrejas [apologéticos, criticam online, bate-
papo com amigos, convidam membros de outras igrejas]
• Processo de saída doloroso [famílias que saem podem 
reclamar com razão]
(ENROTH, 1992)
Voltemos nossa atenção a um dos trechos fi nais da carta aos Colossenses 
(3:5-4:6), em que Paulo exorta as comunidades de Colossos a praticar 
uma vida comunitária cristã, ou seja, fi el ao estilo de vida e propósitos 
de Jesus Cristo. Você notará que em a partir de 3.18, Paulo dirige sua 
atenção à vida cotidiana dos membros das comunidades cristãs, o que 
nos mostra que o projeto comunicativo para a igreja não pode se restringir 
aos momentos propriamente eclesiais, mas se estende a todos os tipos 
de relacionamento que praticamos na sociedade em geral. 
Como nos tempos paulinos, em nosso próprio tempo essa proposta é 
| Comunicação e Homilética | FTSA22
absolutamente radical. Não só ela vai contra as desigualdades político-
econômicas e sociais criadas pela civilização moderna, como ela 
também vai contra aos modos cada vez mais individualistas de valorizar 
a vida e os relacionamentos. Em suma: uma comunidade cristã é madura 
se nela as pessoas puderem enxergar a igualdade radical da vida em 
Jesus Cristo. 
Os versos 12-13 parecem apontar para outra direção: após afi rmar a 
sublimidade da nova humanidade no Messias, Paulo usa a linguagem do 
suportar e perdoar uns aos outros. Por quê? Porque mudar de forma de 
vida é um processo lento e deve ser constante. Até a comunidade chegar 
à maturidade ainda enfrentará inúmerassituações nas quais os padrões 
estratégicos de comunicação estarão ainda em vigor. Por isso, é preciso 
suportar, apoiar e perdoar irmãs e irmãos em seus erros. O senhor de 
escravos, na comunidade eclesial, terá de aprender a tratar seus escravos 
e escravas como irmãs e irmãos. Na visão de William Guthrie, 
A autêntica renovação espiritual tem início somente na 
luta constante da igreja para tornar-se uma comunidade 
de homens e mulheres liberais, conservadores e 
evangelicais, com diferentes identidades de raça, 
de classe e de cultura, os quais são libertados, 
reconciliados e transformados para estabelecerem 
uma verdadeira ‘comunhão do Espírito Santo’ – aquele 
que existe não somente em seu próprio benefício, 
mas também com a fi nalidade de participar na obra 
libertadora, reconciliadora e transformadora do Deus 
triúno, que eles confessam no mundo e para o mundo 
(2000, p. 174).
Portanto, o critério para os relacionamentos em comunidade cristã é 
tríplice: amor, paz e gratidão: “acima de tudo isto, porém, esteja o amor, 
que é o vínculo da completude. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso 
coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede 
agradecidos” (versos 14-15). O amor é o caminho e o propósito da vida 
23| Comunicação e Homilética | FTSA | 
no Reino. Quando o amor falta, qual é o critério para sua retomada? A paz 
(a pax Christi e não a pax romana). Fomos vocacionados para praticar a 
paz, não dominar, subjugar e conquistar. Somos um só corpo, não mais 
um império! Finalmente, podemos viver em amor e paz quando somos 
agradecidos – ou seja, quando abandonamos a lógica do dever, que 
classifi ca legalmente as pessoas, e nos entregamos à lógica da dádiva, 
que classifi ca fraternalmente todas as pessoas.
Resumindo, uma teoria teológica da comunicação consiste na refl exão 
sobre se comunicar de maneira justa, equitativa e libertadora. Além disso, 
ela deve refl etir como viver ética e cristocentricamente em um mundo 
iníquo e infi el ao seu Criador.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 04
Conforme se viu acima, uma teoria teológica da comunicação 
consiste na refl exão sobre se comunicar de maneira justa, equitativa 
e libertadora. Isso está diretamente relacionado ao conceito bíblico 
de koinonia, que signifi ca viver em comunhão. Seu sentido, então, é:
a) A koinonia tem a ver com viver em comunhão, mas comunhão 
só é possível entre iguais.
b) A koinonia é a qualidade daquilo que é comum a pessoas 
diferentes, ou seja, mesmo diferentes, as pessoas partilham algo 
comum a todos, no caso, o evangelho.
c) A koinonia com o diferente é tolerância, não vida em comum. 
Portanto, a igreja é o lugar de iguais.
d) A koinonia é o viver comunitariamente na igreja. No que tange 
a comunicação, estar em koinonia não infl uencia em nada.
e) A koinonia na igreja é uma utopia que deveria ser superada, 
principalmente no que tange a pregação da palavra, pois são 
coisas não relacionáveis.
| Comunicação e Homilética | FTSA24
Os desafi os atuais para uma comunicação teológica bem-sucedida são 
inúmeros. Vou apenas destacar alguns:
1. Declínio da racionalidade. Todo ser humano tem uma cosmovisão 
ou um conjunto de valores acerca do mundo, da sociedade, da religião 
e de si mesmo. Essas ideais foram estruturadas na era da razão, com 
um foco meramente cognitivo e coerente. Na pós-modernidade, com 
frequência nos utilizamos de conceitos que são contrários à lógica 
e à racionalidade. Isso é perceptível na dialética da espiritualidade, 
na psicologia popular, na gestão e administração de organizações, 
bem como na forma com que as ciências sociais articulam os reality 
shows e propaganda nas redes sociais.
2. Relativização da verdade. A verdade foi desprezada. Terraplanismo 
e grupos anti-vacina são apenas dois exemplos da subjetividade do 
pensamento e da pressão do achismo (e com frequência, triunfo) 
sobre os dados científicos. 
3. Erosão da autoridade. Nenhuma virtude é respeitada simplesmente 
por ser virtude. Ninguém merece respeito simplesmente pelo cargo 
que ocupa. A autoridade é dinâmica, meritocrática e trabalhada a 
partir dos temas do cotidiano.
4. Seletividade intelectual. Walter Lippman escreveu o seguinte: “Sob 
25| Comunicação e Homilética | FTSA | 
certas condições, os homens reagem tão poderosamente a fi cções, 
quanto o fazem a realidades, e em muitos casos, eles mesmo ajudam 
a criar as próprias fi cções às quais reagem.” A recente politização da 
pandemia de Covid-19 comprova que é comum escolher e comprar 
os conceitos e valores de maneira subjetiva, interesseira, hedonista e 
individualista.
5. Aprendizado visual. As pessoas não estão mais atraídas pelas 
letras pequenas das Bíblias impressas, ou de outro meio. É mais fácil 
aprender da cultura e da mídia do que das Escrituras.
Como a comunicação cristã (e especifi camente a pregação), pode 
ser relevante e signifi cativa, nesse contexto que desvaloriza verdade, 
autoridade, racionalidade e eloquência em detrimento de símbolos, 
sentimentos e experiências?
Na sua exposição do Evangelho de Marcos, capítulo 9, o famoso 
pregador inglês Martin Lloyd-Jones descreve Jesus descendo o Monte da 
transfi guração, encontrando seus discípulos rodeados por uma multidão, 
discutindo e argumentando acerca do apuro dos discípulos para tentar 
libertar um menino endemoninhado. A maioria de nós conhece esse texto. 
A criança possuída por um espírito imundo desde a infância era jogada 
no fogo e na água para sofrer. Diante de Jesus, o espírito se manifesta no 
menino com convulsões, caindo por terra e espumando. Jesus expulsa o 
demônio, além de curar e restaurar a saúde do garoto. Mas o que acontece 
logo depois é importantíssimo: os discípulos perguntam em particular 
para Jesus por que não conseguiram expulsar tal demônio. Jesus lhes 
responde: “este tipo de casta somente sai com jejum e oração”.
O “doutor” (como era conhecido Lloyd-Jones) um dos expositores bíblicos 
mais argutos de todos os tempos, ao aplicar esse texto para a igreja 
Inglesa utiliza uma fi gura de linguagem que nós não gostamos: alegoria
(neste caso, parece que ele estava correto). Os discípulos simbolizam a 
| Comunicação e Homilética | FTSA26
igreja e o menino representa o mundo moderno. Para o pregador inglês, 
Jesus dava uma perfeita representação de nossa condição atual: a Igreja 
está falhando porque a “casta” demoníaca é mais complexa.
Para Jones, a igreja cristã precisava aprender a expulsar esse tipo de 
casta do mundo contemporâneo. Sua descrição do mundo 50 anos atrás 
parece ser ainda muito atual:
Nós não somos somente confrontados pelo materialismo, mundanismo, 
indiferença, endurecimento e frieza – mas estamos ouvindo mais e mais 
[...] sobre certas manifestações dos poderes do mal e da realidade dos 
espíritos malignos. Não é meramente pecado que constitui o problema de 
nosso país hoje. Existe um recrudescimento da magia negra e da adoração 
demoníaca e os poderes das trevas [...] e das muitas coisas que isso 
infl uencia. É por isso que eu creio que estamos numa urgente necessidade 
da manifestação da demonstração do poder do Espírito Santo”.1
Lloyd-Jones não achava que os cristãos estavam conscientes da 
profundidade do problema espiritual enfrentado. Ele estava realmente 
preocupado com a igreja! A não ser que, individualmente tenhamos uma 
séria preocupação com a igreja, seremos cristãos muito medíocres, dizia 
ele. Ele via uma grande diferença entre a igreja no século 20 e a igreja que 
precedeu os períodos de avivamento, de 200-300 anos antes. 
SAIBA MAIS
Martin Lloyd-Jones, Revival, Crossway Books, 1987, 1o. 
capítulo. Ele foi chamado do último pregador Calvinista 
Metodista, pois combinava o amor de Calvino pela verdade 
e doutrina reformada ao fogo e paixão do avivamento 
metodista do século 18. Lloyd-Jones ocupou o púlpito da 
Westminster Chapel em Londres por 30 anos.
1 The Sovereign Spirit  containing twenty-four sermons preached between 
November 15, 1964 and June 6, 1965, page 25 ).
27| Comunicação e Homilética| FTSA | 
Naquele tempo, apesar da igreja se encontrar num estado de 
apatia, a civilização ocidental aceitava Deus como realidade 
absoluta e a Bíblia com o livro sagrado. A igreja precisava apenas 
colocar fogo neles com o entusiasmo da pregação e da intensa 
oração. Campanhas evangelísticas e programas especiais eram 
sufi cientes para despertar a Igreja. Mas a casta de demônios de 
300 anos atrás deles não seria diferente do espírito nos tempos 
presentes? Certamente que sim.
Lloyd-Jones era alguém à frente de seu tempo, na vanguarda 
teológica. Ele já estava percebendo mudanças drásticas na 
Europa pós-guerra e fez análises preliminares e aprofundadas 
daquilo que iríamos presenciar nas últimas décadas: a noção de 
Deus se diluindo, se esvaindo, o certo e errado desaparecendo, a 
verdade se fl exibilizando, a Bíblia não sendo mais vista plenamente 
como Palavra de Deus, a justifi cação pela morte de Cristo sendo 
negligenciada, sua deidade negada e assim por diante. 
Seu desapontamento com a qualidade e capacidade da igreja ser 
relevante cresceu mais e mais. Sua ênfase na necessidade de um 
avivamento bíblico e vigoroso era grande. Para ele, avivamento
era um milagre, algo que somente pode ser explicado como 
uma intervenção de Deus. Homens podem produzir campanhas 
evangelísticas, mas nunca produzirão avivamentos. Avivamento, 
para Lloyd-Jones, era um tipo de demonstração de poder que 
autenticaria a verdade do evangelho num mundo desesperadamente 
endurecido.
| Comunicação e Homilética | FTSA28
SAIBA MAIS
No seu livro Pregação e Pregadores de Martin Lloyd-Jones 
(2012), Lloyd-Jones questiona como a pregação da Palavra pode 
ser signifi cativa para o mundo moderno que tanto desconfi a 
da comunicação e dos comunicadores. Ela é importante 
porque apresenta os melhores temas para a 
humanidade e traz respostas aos problemas 
e necessidades de todas as pessoas. Além 
disso, a pregação é prioridade na Bíblia. Há 
muitas receitas, estratégias e conferências, 
mas somente a Palavra pode avivar e revitalizar 
a igreja. As reformas e os avivamentos estão 
fundamentados na excelência da pregação. 
Grandes homens pregaram grandes sermões. 
O primeiro alvo da igreja cristã é pregar 
a Palavra de Deus e todo sermão deveria estar baseado nas 
Escrituras. Pregar, conclui Lloyd-Jones é excitante, maravilhoso, o 
maior e o melhor chamado. 
Na visão de Lloyd-Jones a pregação no século 20 estava defeituosa. 
Ele criticava o excesso de preocupação com o preparo e a estruturação 
profi ssional do sermão e menor dedicação ao conteúdo. Ele usa a palavra 
“prostituição” para descrever isso. Ele criticou a psicologia popular 
utilizada na época. Para ele, também, pregação não é entretenimento. 
Nós devemos priorizar as condições visíveis resultantes da queda e do 
pecado, que são as mesmas em todas as nações, através dos séculos. 
Há temor e tremor na pregação, de acordo com Lloyd-Jones. Os 
pregadores estão lidando com as questões mais importantes da vida e 
morte, eternidade e salvação. Estão ajudando e lidando com pessoas, 
visando a transformação do ser humano integral: mente, emoções e 
29| Comunicação e Homilética | FTSA | 
atitudes. Por isso, os pregadores devem estar integralmente engajados: 
corpo e alma. 
Para Lloyd-Jones, o pregador comunica através daquilo que é como 
pessoa. Por isso ele precisa conhecer muito bem suas fraquezas, reações 
emocionais e limites, fazendo uma boa gestão da sua disciplina pessoal, 
agenda e compromissos semanais. No seu caso, ele separava todas as 
manhãs para estudo (mesmo negociando isso com a família, durante 
suas férias em troca do resto do dia para fazer o que quisessem). Três 
sugestões fi nais do doutor: tome cuidado com o orgulho, esqueça de si 
mesmo e focalize a glória de Deus.
Toda mensagem cristã está endereçada a duas audiências diferentes. 
John Stott, no seu livro Between two Worlds (Entre dois mundos), 
descreve como Deus continua falando através daquilo que falou. A 
Bíblia é a palavra viva a um povo vivo e a pregação é a uma mensagem 
contemporânea a um mundo contemporâneo. 
A mensagem não é meramente uma exposição histórica, contextual e 
exegética. Na visão de Stott, Deus está falando ao mesmo tempo com 
duas audiências, duas culturas e com dois ouvintes. A Bíblia utiliza a 
linguagem dos ouvintes originais que viveram a milhares de anos. Agora, 
entretanto, ela fala para a plateia com palavras e expressões que estão 
sendo empregadas nos dias de hoje. 
Precisamos de modelos relevantes que usem a Palavra fazendo uma 
hermenêutica cuidadosa do texto. A palavra de Deus não pode ser usada 
fora de contexto, como uma desculpa para outros temas que deveriam 
ser analisados psicologicamente, nem para moralismos, nem para provar 
com apologias determinada doutrina, nem pode ser usada abusivamente 
para ganhos pessoais. Ao comunicar a Palavra quer por meios orais ou 
escritos, lembre-se que Deus enviou você para ser o seu mensageiro e 
anunciar a sua vontade. Ele lhe dará poder e efi cácia na comunicação. 
Acima de tudo, estejamos comprometidos com a Palavra de Deus. 
| Comunicação e Homilética | FTSA30
Uma grande causa para o desprezo desdenhoso de muitas mensagens 
bíblicas é sua falta de conexão com a vida real das pessoas. Por isso, 
muitas vozes se levantaram dizendo que a Bíblia é irrelevante e obsoleta. 
Isso não nos surpreende, pois a Bíblia representa tanto autoridade objetiva 
e externa quanto uma voz do passado que devemos ouvir e obedecer. 
Todos os grandes movimentos fi losófi cos e culturais dos últimos trezentos 
anos se opuseram à autoridade objetiva e externa da Bíblia.
No século 20, a espiritualidade visivelmente separou a teoria da devoção 
e da prática; o Deus que fala do Deus que age. Além disso, a modernidade, 
ao separar a fala da revelação divina, atenuou também a importância 
da pregação do púlpito. As palavras se tornaram fracas demais para 
comunicar efi cazmente a mensagem divina. 
Entretanto, esse é um grave risco para a comunicação teológica, pois 
não há como separar a palavra de Deus da autorrevelação da própria 
pessoa de Deus! O mesmo Deus que se comunicou verbalmente em sua 
transcendência, fala poderosamente à situação humana como um Deus 
presente que ouve, cura e intervém. Para compreender a revelação divina, 
portanto, é crucial que você compreenda que Deus não está distante das 
suas palavras, mas presente nelas e encarnado nos textos sagrados. Ele 
é a própria encarnação do Deus vivo entre nós. Por isso, Jesus Cristo é 
defi nido como o logos, o verbo de Deus. 
Aceitar o evangelho não é aceitar uma ideologia ou meras ideias, mas 
aceitar a própria pessoa de Cristo. Quando pensamos em comunicação 
cristã, seu processo comunicacional deve se pautar na encarnação do 
Filho de Deus, na missão do Reino e salvação do outro, na edifi cação do 
corpo e na criação de espaços e ministérios de ação em que possam ser 
reconhecidos como semelhantes a Jesus Cristo.
Para Peter Adam, em seu livro Speaking God’s Words, o método de Deus 
sempre foi centrado na pregação.
31| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Um diferencial no livro de Adam, bispo 
anglicano na Austrália, é sua análise 
teológica da homilética. A maioria dos 
livros na área avaliam a pregação a partir 
das estratégias da comunicação, como 
fazer e técnicas da oratória. 
Tecnicamente falando, não há nada 
muito diferente no preparo e confecção 
de uma palestra ou um sermão. Ambos 
precisam de relevância, objetividade 
e praticidade. Entretanto, a pregação 
inclui a revelação histórica e teológica (o 
que signifi cou?) bem como a aplicação 
contemporânea (o que signifi ca agora?). 
Pregação é a explanação e aplicação 
da Palavra de Deus para uma audiência congregada em Cristo. Ou seja, 
a pregação sempre foca numa mensagem que fará diferença na vida 
das pessoas. Ao mesmo tempo, ela questiona à tendência humanista 
e existencialista de apenas refl etir questões individualistas voltadas ao 
crescimento pessoal e à autoajuda.
Para Adam ostrês grandes fundamentos teológicos da pregação são os 
seguintes: Deus Fala, Está Escrito e Pregue a Palavra. 
1) Deus fala. Ele revelou seus pensamentos historicamente através de 
expressões e palavras poderosas, por meio de vários gêneros literários 
(histórias, símbolos, poesias, leis, alianças, parábolas, profecias, etc) que 
continuam comunicáveis e signifi cativos para os dias atuais. Em toda 
a história, da criação ao Sinai, dos profetas do AT a Jesus Cristo, Deus 
falou da sua presença através de sinais e se revelou por meio de visões. 
Por outro lado, o mundo pós moderno afastou o sentido ou signifi cado 
das palavras das palavras em si mesmas. Com isso não apenas cria um 
mundo sem Deus, mas um mundo sem signifi cado. 
| Comunicação e Homilética | FTSA32
2) Está Escrito. Isso signifi ca que tudo o que Deus falou vale também para 
a geração atual (2 Tim 3.15-16). Deus mesmo preserva as palavras para 
as futuras gerações. Isso é evidente, por exemplo, ao ler os livros proféticos. 
Os profetas pregaram para as pessoas e depois escreveram manuscritos 
para serem divulgados, preservados e aplicados nas futuras gerações. Isso, 
por exemplo, confi rma o que J. I. Packer chama de “revelação acumulada”. 
Com o passar das gerações, a revelação original passa a ter um signifi cado 
mais amplo ainda. Deus não apenas comunica e preserva sua Palavra, mas 
também acrescenta novos signifi cados a ela, Um exemplo disso é visto em 
como Jesus e os apóstolos não apenas preservaram os acrescentaram 
novas camadas de signifi cados para as palavras do Velho Testamento. A 
palavra escrita é Deus falando, como J.I. Packer dizia. 
3) Pregue a Palavra. A efi cácia da comunicação da palavra não apenas 
depende da fonte bíblica, mas também do comissionamento para pregar, 
ensinar e explicar bem como encorajá-los e desafi á-los a respostas. 
Moisés é um grande exemplo (Ex 4:10-16). Ele transmite a mensagem 
como um intermediário entre Deus e o povo. Ele escreve as palavras 
de Deus (Ex 24:4) depositando uma cópia dos dez mandamentos e das 
palavras da aliança na arca. Moisés também lê as palavras de Deus (Ex 
24:7 e Dt 31:30, 32:34) e se torna um pregador. Temos três sermões 
de Moisés no livro de Deuteronômio (1-4, 5-28 e 29 em diante) com 
exposição, aplicação e exortação. Certos elementos são comuns em 
toda a Escritura: aceitação da palavra — falada e escrita — como vinda 
de Deus, a leitura pública e explanação, a motivação para uma resposta 
correta e o efeito dela no ministério das pessoas. 
Para Adam (2004, p. 55-56) as implicações desses 3 pontos são 
imensas: 1) a palavra de Deus é efi caz, pois tem o poder de Deus sobre 
as palavras do transmissor. Nosso objetivo não é tornar as palavras de 
Deus poderosas através da nossa comunicação, mas ajudar as pessoas 
a reconhecer o poder e signifi cado dessas palavras. 2) As palavras fazem 
parte da autorrevelação de Deus. Ele está presente nas suas palavras. 
Não estamos convidando as pessoas a refl etirem sobre signifi cados 
33| Comunicação e Homilética | FTSA | 
distantes de Deus, mas convidando-as a se encontrarem nas palavras 
com o próprio Deus. 3) Deus designou o ministério da Palavra (falada e 
escrita). Pregadores não são intrusos. Eles são o método de Deus para 
levar suas palavras aos cristãos e não cristãos. 4) Deus preservou suas 
palavras para nós. Ele escreveu a Bíblia pensando em nós. É um livro 
antigo? Sim, mas relevante. Ele contém a mensagem de Deus para hoje. 
5) A revelação de Deus é ambas: histórica e contemporânea. Por isso, 
nossa pregação não pode ser meramente histórica (sem aplicações), 
nem meramente contemporânea (sem o respeito pelo signifi cado e 
contexto histórico). Ela deve refl etir ambas as audiências.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO - 05
Identifi que se as afi rmações abaixo são verdadeiras ou falsas 
considerando aquilo que estudamos no sentido de como a 
mensagem bíblica pode ser fi el ao texto histórico antigo e, ao 
mesmo tempo, efi caz e relevante para o mundo contemporâneo.
A Palavra de Deus foi endereçada exclusivamente para aqueles que 
viveram dois a três mil anos atrás
A Palavra de Deus foi comunicada na própria linguagem das 
pessoas, nas formas de pensamento que eles poderiam entender 
com mais facilidade
Os livros canônicos foram somente a revelação das palavras de 
Deus em tempos antigos 
Para que as pessoas compreendessem os textos como se Deus 
estivesse falando com elas, todos os escritores da Bíblia utilizaram 
do mesmo gênero literário em Deuteronômio, Êxodo, Provérbios, 
Jeremias, Marcos, Efésios e Apocalipse
A Palavra objetiva falar com leitores de todas as épocas, inclusive 
no século 21
| Comunicação e Homilética | FTSA34
Qual das opções abaixo está correta?
I-falso, II-verdadeiro, III-verdadeiro, IV-falso, V-verdadeiro;
I-falso, II-verdadeiro, III-falso, IV-falso, V-verdadeiro;
I-falso, II-verdadeiro, III-falso, IV-verdadeiro, V-verdadeiro
Todas são verdadeiras;
Todas são falsas.
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STOTT, John. Between Two Worlds: The Art of Preaching in the Twentieth 
Century. Eerdmans, 1988.
| Comunicação e Homilética | FTSA36
Unidade II – O comunicador efi caz
2.1. Por que as pessoas não se comunicam bem?
A maior difi culdade que temos para o estabelecimento de princípios 
gerais para o comunicador é que a comunicação é evidentemente humana
e, portanto, falível e repleta de ruídos. Todas as pessoas apresentam 
personalidades e temperamentos diferentes; motivações e necessidades 
variadas. Algumas são mais relacionais, emocionais e extrovertidas. 
Outras são mais introvertidas, racionais e focadas em tarefas e projetos. 
Como aceitar e conviver com a diversidade? Como respeitar as diferentes 
esperanças, medos e sentimentos que as pessoas expressam, bem como 
seus vários valores, opiniões políticas, perspectivas fi losófi cas e opiniões 
teológicas? Além disso, todos os seres humanos são pecaminosos e 
iníquos em sua essência. Inevitavelmente, toda teoria da comunicação 
teológica deve aprofundar a compreensão da natureza humana, bem 
como dos comportamentos e expectativas naturais das pessoas. 
O livro “A Cultura Do Ouvir” de Norval Baitello Jr. trata das difi culdades 
para uma boa comunicação. Segundo o autor, o mundo contemporâneo é 
o mundo da visibilidade, do predomínio do visual sobre o auditivo. Para o 
autor, a civilização da visualidade não quer dizer somente “ver imagens” 
opticamente, mas também ver imagens onde elas não estão, projetar 
imagens onde elas não estão visualmente presentes, atribuir valores 
imagéticos e sobretudo conferir ao imaginário o status de realidade 
primordial e preponderante (1997, p. 7). Na sociedade visual, infelizmente, 
as outras formas de comunicação podem se tornar dispensáveis e 
desprezáveis. Baitello pergunta: Não estamos nos tornando surdosnesta 
civilização da visualidade? Em suas palavras: 
A cultura e a sociedade contemporâneas tratam o som 
como forma menos nobre, um tipo de primo pobre, no 
espectro dos códigos da comunicação humana. Por 
isso a minha pergunta se não estamos nos tornando 
surdos por desvalorização de um de nossos sentidos. 
37| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Não estaríamos nos tornando surdos intencionais? 
Surdos que ouvem. Surdos que têm a capacidade de 
ouvir mas que não querem ouvir, não têm tempo ou 
então não dão atenção ao que ouvem? Literalmente 
não dão ouvidos ao que de fato ouvem? .... se nós não 
estamos nos coagindo ou se estamos sendo coagidos 
a esquecer que ouvimos em função de que somos 
obrigados a ver, a enxergar o tempo todo (1997, p. 5-6).
Um dos resultados da visibilidade do excesso da imagem, na visão de 
Baitello, é a perecibilidade:
a onipresença e a onipotência da imagem nos compelem 
a um universo descartável. Daqui a um ano, ninguém mais 
vai se lembrar do cartaz deste evento, de sua visibilidade. 
Mas seguramente, todos nós vamos nos lembrar do que 
conversamos, do que falamos, do que experimentarmos 
durante o evento.” (p. 8). ... quanto mais nos tornarmos 
visíveis, mais invisíveis estaremos nos tornando. Quanto 
mais infl armos a imagem, mais estaremos contribuindo 
para que o outro não nos veja mais, para que ele se torne 
cego ou insensível (1997, p. 19).
Baitello está preocupado com o crescimento do analfabetismo nos 
países desenvolvidos. Ele chama essa tendência de neoanalfabetismo
ou “padecimento dos olhos”. Um exemplo disso são os jornais e revistas 
sensacionalistas, cujos textos raramente ultrapassam 10 linhas ligados a 
imagens fotográfi cas de escândalos, catástrofes, mortes e celebridades 
do esporte, cinema e televisão. Isso é visível no uso descartável das 
imagens que substituíram o tempo dedicado à escrita e à leitura. Em 
suas palavras,
Será que, neste mundo de infl ação da visualidade, nós 
ainda estamos vendo ou apenas imaginamos estar 
vendo? Tendo a considerar, de maneira pessimista que 
| Comunicação e Homilética | FTSA38
já não estamos enxergando nada. Somente vemos 
ícones, no sentido mais tradicional da palavra, de 
imagens sacras, somente vemos logotipos e marcas, 
imagens desconectadas do seu sistema e do seu 
entorno. Já não vemos mais nexos, relações, sentidos 
(1997, p. 20).
Baitello não está aqui fazendo uma crítica à tecnologia por si mesma. 
Com ela, podemos atingir novos graus de conservação e alcance da 
informação. Mas a tecnologia, sem o desenvolvimento da capacidade 
de ouvir e ler, irá nos levar à cegueira. Para Baitello, há necessidade de 
uma nova “cultura do ouvir”, de um “novo desenvolvimento da percepção 
humana para as relações profundas ...para os sentidos e para o sentir” 
(1997, p. 22). Em suma, precisamos reaprender a arte de ler e ouvir.
Vídeo: O poder dos introvertidos
https://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts
Lembre-se, mesmo que você se sinta limitado, vulnerável ou até 
amedrontado diante das suas habilidades como comunicador, todas as 
pessoas vieram ao mundo com talentos dados por Deus e tem muito a 
aprender e a ensinar.
Numa cultura onde a sociabilidade é premiada acima de tudo, é difícil 
ser tímido e introvertido. Cain deixa claro que a correlação entre ser o 
melhor orador e ter as melhores ideias é nula. Com isso, ela questiona a 
percepção de que as pessoas extrovertidas e sociáveis tenham realmente 
o monopólio das ideias. Alguns dos líderes mais revolucionários da 
história foram introvertidos.
39| Comunicação e Homilética | FTSA | 
2.2. Obstáculos à comunicação efi caz
Uma palestra ou pregação depende fundamentalmente das palavras 
empregadas. Palavras narram histórias, organizam ideias, constroem 
argumentos e fazem apelos. Por isso é importante compreender quais 
são os principais bloqueios para uma comunicação bem-sucedida. Há 
vários obstáculos que nos impedem de comunicar com mais efi cácia. 
Esses estão geralmente ligados a dois elementos: sua personalidade e a 
sua linguagem.
Os principais obstáculos ligados à personalidade nascem dos 
preconceitos, educação, hereditariedade, meio, experiências individuais, 
estado emocional, etc. José Roberto Whitaker Penteado trabalha mais a 
fundo este tema (1964, p. 67-154), mas destacaremos aqui os seguintes 
obstáculos:
a) A autossufi ciência 
b) As avaliações congeladas
c) A cultura do hiperconsumo
d) Os fatos e boatos
e) As tendências à complicação. 
Além da personalidade, a linguagem antepõe inúmeras difi culdades à 
efetividade da comunicação. As principais são:
a) A confusão entre fatos, opiniões, inferências e observações
b) O descuido com as palavras abstratas
c) Os desencontros
d) A discriminação
e) A polarização
f) A polissemia
g) As barreiras verbais
| Comunicação e Homilética | FTSA40
2.2.1. Obstáculos ligados à personalidade
a) Ensimesmamento
As pessoas acham que são 
autossufi cientes e sabem o bastante 
sobre vários assuntos. Pelo menos 
pensam que sabem o sufi ciente para 
criar fórmulas perfeitas para resolver 
grandes problemas sociais, expor 
opiniões sobre a crise econômica, atacar tal partido político e governo, 
opinar fortemente sobre as celebridades da TV e curtir nas redes sociais, 
com comentários íntimos. Satisfeitas com a própria sabedoria, elas fi cam 
desejosas para expor um certo conhecimento que, no fi nal do dia, demonstra 
ser extremamente superfi cial, errôneo e, até mesmo, inapropriado.
A psicologia demonstrou que o ensimesmamento — e seus fi lhotes 
autossufi ciência, autopromoção, exibicionismo e assim por diante — se 
associam diretamente ao conceito Freudiano do narcisismo. A palavra foi 
primeiramente cunhada por Sigmund Freud no artigo “Sobre a Introdução 
do Conceito de Narcisismo”, publicado em 1914. Na mitologia grega, 
Narciso era um belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente 
o desejava. Como punição, foi amaldiçoado pela ninfa e apaixonou-se 
incontrolavelmente por sua própria imagem refl etida na água. Incapaz de 
levar a termo sua paixão por si mesmo, Narciso suicidou-se por afogamento.
O narcisista vive um tipo de ensimesmamento que distorce a realidade, 
altera as evidências e modifi ca os fatos, em prol dos seus próprios 
interesses. Ele curte nas redes sociais aquelas posições que refl etem os 
seus próprios pensamentos e lê apenas os jornais que concordem com 
ele. Ele prefere os programas que reforcem suas ideias e frequentará 
somente os grupos de afi nidade onde se encontrem pessoas iguais. Os 
preconceitos do narcisista dirigem os fatos e as pessoas com as quais 
se comunica. Pessoas iguais, contudo, acham que sempre tem razão. 
Resultado: discriminação e intolerância distorcem suas opiniões e hábitos.
41| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Por isso, pessoas discriminatórias mostram uma precária capacidade 
para perceber intimamente o mundo dos outros seres humanos. Falta-lhes 
empatia. Muitas vezes, elas agem de forma exploradora, à custa dos outros. 
Em contraste com o uso do poder socializado e participativo para promover 
o bem-estar social, os narcisistas tentam manipular e dominar outros seres 
humanos, usando o poder e a força para controlar sua agenda pessoal. 
Raramente compreendem que a única maneira de preservar a integridade da 
personalidade é relacionar-se com outros homens e mulheres, com genuíno 
amor, compaixão, maturidade, solidariedade e humildade. 
Na verdade, o melhor remédio para vencer o narcisismo e, consequentemente 
superar a discriminação na comunicação é a humildade. C. S Lewis 
descreve a humildade como um “abençoado autoesquecimento”: não é 
pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo. O foco da 
pessoa humilde não está em si mesma — seu desenvolvimento, condição 
e progresso — mas em outros lugares, em outras pessoas. Acima de 
tudo, a comunicação efi caz parte do reconhecimento das limitações e 
defi ciências de cada um de nós. Aprendamos a sublinhar a diversidade 
e celebrar as diferençascom a pessoa mais inteligente que já existiu, 
Jesus Cristo, que era “manso e humilde de coração, e vocês encontrarão 
descanso para as suas almas” (Mt 11:29).
b) Avaliações congeladas
Considerando a velocidade das transformações tecnológicas e 
socioculturais, o problema das avaliações congeladas é um dos mais 
graves na comunicação. As pessoas, coisas e acontecimentos mudam 
rapidamente. Por outro lado, a busca de algo permanente tem sido um 
dos instintos mais profundos do ser humano, tanto na teologia, quanto 
na fi losofi a. Buscamos refúgio em coisas permanentes, nos agarramos 
às tradições, nossas reações refl etem a eternidade e a imortalidade que 
está na alma. Nossos preconceitos refl etem a difi culdade que temos 
para mudar, inovar e reinventar. Portanto, as expressões de linguagem 
precisam ser atualizadas frequentemente. A linguagem está em 
permanente transformação. Estejamos abertos a novas ideias, novos 
conceitos, a constante atualização.
| Comunicação e Homilética | FTSA42
c) A cultura do hiperconsumo
A assimilação das leis do mercado e a mentalidade 
hiperconsumista impactou profundamente a 
sociedade moderna. Semelhantemente, as igrejas e 
ONG religiosas tornaram-se economias, verdadeiros 
mercados, repletos de “crentes clientes”, produtoras 
dos bens religiosos que competem entre si para 
atrair consumidores em potencial. Muitas delas 
passaram a disputar a fi delidade de seus membros, 
desenvolvendo estratégias de propaganda e marketing para garantir 
sua permanência. Sua propaganda foi direcionada ao consumidor 
religioso insatisfeito (e “desigrejado”): ouvintes e telespectadores 
católicos e evangélicos, kardecistas e umbandistas, sem-religião e 
sem-confi ssão. Muitos desses religiosos pertencem àquela população 
fl utuante que transita entre as várias expressões da espiritualidade 
moderna; consumidores que estão à procura de resultados imediatos. A 
adesão deles às suas respectivas religiões é repetidamente nominalista, 
imediatista e consumista. Eles se encontram institucionalmente 
desligados e emocionalmente frustrados com a falta de resultados 
práticos de sua religião de origem. (amanhã ou depois eles poderão não 
estar mais satisfeitos com você também). Na visão de Eugene Peterson:
Os pastores da América se transformaram em um grupo 
de lojistas e as lojas de comércio que possuem são suas 
igrejas. Eles estão preocupados com as preocupações 
dos lojistas: como manter seus clientes felizes, como 
atrair mais clientes para longe dos competidores do 
outro lado da rua e como empacotar seus produtos de 
forma que os consumidores paguem mais dinheiro. 
Alguns deles são muito bons lojistas. Eles atraem uma 
multidão de consumidores, angariam grandes somas 
de dinheiro, adquirem esplendida reputação. Mesmo 
assim isso é apenas comércio. É verdade que sejam 
bons donos de lojas, mas não deixam de ser apenas 
43| Comunicação e Homilética | FTSA | 
lojistas. As estratégias do marketing, do “franchising”, 
do “fast-food” ocupam as mentes despertas destes 
empreendedores. Sonham acordados com aquele tipo de 
sucesso que atrairá a atenção dos jornalistas (1989, p. 2).
Muitas comunidades se tornaram fi rmas, meras lojas que fabricam e 
vendem produtos religiosos, em busca de clientes e aumento de sua fatia 
no competitivo mercado. Mesmo sem toda a sofi sticação das grandes 
empresas, elas têm aprendido a utilizar as estratégias de marketing 
de maneira efi caz, procurando conhecer as demandas do público, 
oferecendo-lhe produtos diferenciados das outras igrejas e específi cos 
às necessidades físicas, emocionais, profi ssionais e espirituais dos 
membros, para que possam satisfazer os seus desejos. 
Diante de tantos produtos religiosos e opções eclesiásticas, 
lamentavelmente as pessoas se veem com total liberdade para utilizar 
critérios consumistas na escolha da melhor igreja. Os critérios são 
semelhantes àqueles utilizados na escolha de um restaurante ou pizzaria: 
prazer, sabor, gosto, qualidade do produto e atendimento, promoções, boa 
propaganda, etc. O engajamento em geral se torna opcional e exercitado 
pelo indivíduo, com sua própria decisão pessoal. 
Essas igrejas tendem a ser dominadas por uma prática de vida 
autocentrada e egoísta; mais preocupadas com a edifi cação de 
seus impérios pessoais do que com a expansão do Reino de Deus. A 
comunidade cristã, neste contexto, deixa de ser o povo escolhido de 
Deus e sua comunicação assume dimensões marketeiras, materialistas 
e consumistas.
d) Os fatos e fakes
A abrangência das fake-news na comunicação 
demonstra a difi culdade com que os indivíduos 
têm para separar e julgar boatos, sentimentos, 
imaginações, pressentimentos e hipóteses dos 
| Comunicação e Homilética | FTSA44
fatos reais, acontecimentos concretos, dados estatísticos e teorias da 
conspiração. O que é real? O que é imaginário?
As pessoas precisam ter condições de avaliar se uma informação está 
correta e contextualizada com a realidade dos fatos. O site cristão 
https://coletivobereia.com.br/, é um bom exemplo de checagem dos 
fatos publicados em mídias religiosas e em mídias sociais brasileiras, 
que abordem conteúdos sobre religiões e suas lideranças no Brasil e 
no exterior. Para isso, o site adotou um protocolo com cinco passos de 
checagem:
a) Identifi cação de matérias e pronunciamentos ou declarações 
veiculados em mídias e expostos no Parlamento que, pelas 
características do título e da chamada, demandam verifi cação 
(afi rmações absolutas, ufanismo, casos inusitados) por representarem 
relevância (interesse público, ou que afetem o maior número de 
pessoas possível) relacionada à presença de grupos religiosos no 
espaço público e/ou tenham tido destaque nas mídias noticiosas.
b) Pesquisa sobre a fonte original (quando existir).
c) Pesquisa sobre o que foi publicado sobre o assunto/tema.
d) Pesquisa em fontes ofi ciais e alternativas (incluindo pessoas, 
grupos, instituições/organizações/associações/movimentos sociais 
citados) para confi rmação, identifi cação de lacunas e de distorções 
ou para refutação do conteúdo. Tudo será relatado no texto a ser 
produzido pela equipe do Bereia com a devida indicação do acesso 
dos leitores/as a estas fontes.
e) Contextualização do conteúdo checado, com busca de referencial 
bibliográfi co e contato com especialistas, quando for o caso.
f) Classifi cação do conteúdo como verdadeiro (correto e coerente 
com os fatos apurados), imprecisos dados verdadeiros, mas não 
substanciais ou comprováveis), enganoso (desenvolvido para 
confundir), inconclusivo (não apresenta dados sufi cientes) ou falso 
(incorreta ou não tem substância factual).
45| Comunicação e Homilética | FTSA | 
A comunicação efi caz precisa ter uma atitude equilibrada diante das 
coisas, acontecimentos e pessoas. Ela deve verifi car com a mais exatidão 
possível a autenticidade e honestidade dos fatos relatados.
e) As tendências à complicação
A incapacidade para simplifi car consiste num dos principais obstáculos 
à comunicação. Vivemos num mundo cada vez mais complexo e 
invariavelmente a tendência será a de procurar respostas complexas. 
Os textos técnicos e acadêmicos dos pensadores, pesquisadores, 
mestrandos e doutorandos facilmente comprovam a tese: complicamos 
tudo, da religião aos relacionamentos, da política ao futebol.
Consequentemente, a linguagem teológica deve ser também reavaliada. 
Utilizamos terminologias antigas nos púlpitos e ensinamos conceitos 
teológicos por vezes alheios à cultura e linguagem das pessoas. 
Devemos evitar complicar o simples e obscurecer o claro (parafraseando 
Montaigne, nos seus Ensaios). Devemos refl etir sobre o signifi cado das 
palavras. Em parte, a tendência à complicação pode ser uma forma de 
ignorância: não entendemos plenamente, por isso temos difi culdade 
para explicar melhor. O que signifi ca o evangelho? Será que as pessoas 
compreendem o sentido da fé, da mensagem da cruz, justifi cação e 
propiciação, predestinação? Um dos maiores desafi os da comunicaçãoteológica é da ressignifi cação das palavras. Busque ser compreendido. 
Seja simples!
Acesse o AVA para ouvir!
| Comunicação e Homilética | FTSA46
EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO - 06
Pensando nos obstáculos à comunicação ligados à personalidade, 
em quais deles você encaixaria, respectivamente, as situações de 
comunicadores que (1) afi rmam que o uso de bíblias nos celulares 
provoca desapego à Palavra de Deus e (2) exemplifi ca o conteúdo 
da mensagem utilizando suas histórias e sucessos pessoais?
a) (1) Fake-news e (2) tendências à complicação
b) (1) Fake-news e (2) ensimesmamento
c) (1) Avaliações congeladas e (2) Fake-news
d) (1) Avaliações congeladas e (2) ensimesmamento
e) (1) Tendências à complicação e (2) avaliações congeladas.
2.2.2. Obstáculos ligados à linguagem
a) A confusão entre fatos e opiniões
Um fato consiste num acontecimento ou numa ação realizada. Opinião 
é conjetura ou suposição. Por exemplo: “O carro bateu no poste.” Isso 
é um fato. As opiniões poderão ser as mais variadas: “bateu porque o 
motorista estava usando o celular,” “bateu pois olhava distraidamente para 
um outdoor”, “bateu porque sofreu um ataque de coração”, “bateu, pois 
estava discutindo com os fi lhos do banco de trás”. Podemos ter várias 
interpretações, mas o fato permanece o mesmo: o carro bateu no poste.
Diante da complexidade do mundo moderno, é necessário sabedoria 
e cautela. Existe algo de muito arriscado e perigoso na comunicação: 
podemos nos convencer que nossas opiniões aconteceram na realidade 
e que acontecimentos reais não passam de suposições, frutos da 
nossa imaginação. Segundo Penteado, “[u]m fato pode ser considerado 
uma opinião. Uma opinião pode se transformar num fato ... Fatos não 
se discutem. Opiniões são tópicos de controvérsia” (1964, p. 94-97). 
47| Comunicação e Homilética | FTSA | 
Devemos ser sábios, procurando analisar todos os dados, por todos os 
ângulos, observar atentamente as evidências e perceber as possíveis 
falhas nas nossas deduções e julgamentos.
b) Confusão entre deduções e observações
Se por um lado, a dedução é a inferência lógica feita com o raciocínio, 
por outro lado a observação é o olhar atento ao objeto estudado. A 
confusão entre deduções e observações é um dos obstáculos mais 
comuns da comunicação e difíceis de serem distinguidas, pois a 
estrutura da linguagem não oferece indicações de diferenças. Os meios 
de comunicação estão repletos de deduções e não necessariamente 
tratam de fatos e dados. Por exemplo: antes de atravessar a rua, olhamos 
para a esquerda e para a direita pra saber se podemos ou não atravessar 
a rua. Se não estiver vindo um carro, inferimos então que podemos fazer 
o cruzamento. Doutra forma, inferimos que é melhor esperar. É fácil fazer 
uma dedução errônea:
• se há um carro parado em frente da casa, achamos que alguém 
está nos visitando
• se um casal de meia idade está de mãos dadas, inferimos que 
sejam marido e mulher
• se o indivíduo entrar num supermercado, achamos que está 
fazendo compras
• se um carro está parado num beco, no escuro, pensamos logo 
num mal elemento
• se alguém tossir ao meu lado, pensamos numa doença contagiosa 
e até mesmo mudamos a forma de respirar. 
Uma vasta quantidade de comunicação inadequada nas redes sociais 
começa quando inferências incertas são tratadas como se fossem 
observações verdadeiras. Obviamente, devemos fazer observações 
somente depois de observadas, dentro dos limites do “objeto” observado. 
As inferências, contudo, podem ser feitas a qualquer momento desde que 
| Comunicação e Homilética | FTSA48
feitas em afi rmações de probabilidade e reconhecidas as incertezas. Não 
confundamos umas com as outras. Algumas perguntas podem ajudar a 
distinguir observações das inferências: 
• Eu mesmo observei o que estou falando? 
• Minhas observações não estão indo além do que eu mesmo pude 
observar?
• Quando uso inferências, faço uma escala de probabilidades? 
• Quando me comunico com as pessoas, aviso as inferências como 
tais e peço para que me comuniquem o mesmo?
c) Descuido com as palavras abstratas
Outro erro muito comum é o emprego das palavras abstratas. A maioria 
dos confl itos humanos é resultado da imperfeição da linguagem que 
impede as pessoas de se entenderem. Eu pessoalmente reconheço que 
a maioria dos meus problemas familiares foi causado pela difi culdade na 
comunicação clara dos meus pensamentos e sentimentos. Por trás de 
uma palavra, nem sempre está um sentido claro.
É crucial que a relação entre a palavra e a coisa a que se refere seja 
clara e evidente. As palavras não são meros rótulos nem meros sons 
mecânicos. Palavras não são as coisas, mas sim representações de 
coisas quase sempre específicas, e que precisam ser comunicadas com 
fidelidade e clareza. No caso específico da comunicação religiosa, as 
palavras expressam conceitos espirituais complexos e pensamentos 
históricos e teológicos. Palavras como missão, evangelismo, avivamento, 
salvação, fé, vida eterna, e assim por diante, estão carregadas de 
símbolos e precisam ser compartilhadas, compreendidas e interpretadas 
corretamente. Metade da palavra está com o transmissor e a outra 
metade, com o receptor. Portanto, precisamos investir tempo definindo 
as palavras sempre que estivermos usando-as, para facilitar uma 
comunicação mais eficaz.
49| Comunicação e Homilética | FTSA | 
d) Desencontros
Desencontros acontecem quando as mesmas palavras signifi cam coisas 
diferentes para pessoas diferentes (por exemplo: “futebol” no Brasil e 
“football” nos EUA) ou palavras diferentes querem dizer a mesma coisa 
(por exemplo: “democracia” para um capitalista e um comunista). Em 
ambos os casos, o signifi cado das palavras não é compartilhado e a 
comunicação não será efi caz. 
Nada chegará ao intelecto, sem primeiro passar pelos sentidos. As 
palavras que usamos estão repletas de subjetividade e na raiz do 
desentendimento está frequentemente uma emoção, uma atitude ou 
um desejo—consciente ou inconsciente—que causa desconforto para o 
transmissor ou para o receptor. Há sempre algo pessoal e psicológico na 
mais racional das ideias (Penteado, 1964, p. 107) que facilita ou bloqueia 
a informação. Isso é óbvio ao ler um artigo no jornal ou um livro. Quanto 
mais sentimos as palavras tocarem nossas emoções, mais estamos 
interessados pelo assunto.
A comunicação não transmite fatos imparciais, pois são percebidas 
e transmitidas pelo emissor em termos de necessidades, emoções, 
personalidade e padrões de cognição. Da mesma forma, o receptor interpreta 
a mensagem em termos de sua experiência e convicções pessoais, 
agrupando as ideias na sua mente para que façam sentido para si mesmo.
e) Discriminação
A discriminação é o abuso dos 
pré-conceitos. Ela acontece 
quando falhamos em reconhecer 
as variações, nuanças e 
diferenças entre pessoas, 
grupos étnicos e símbolos. De 
fato, a discriminação pode se manifestar instantaneamente numa mera 
reação mental ou emocional, quando pensamos em: homem feio, mulher 
loira, travesti, político, corintiano, carioca, motoqueiro, milionário, pastor, 
| Comunicação e Homilética | FTSA50
coronel, católico, evangélico, e assim por diante. Simples palavras podem 
despertar retratos gravados na memória e causar reações diversas, 
dependendo da experiência e de acordo com os pré-conceitos.
Mais do que isso, discriminação acontece quando desvalorizamos as 
diferenças e supervalorizamos as semelhanças. Morei alguns anos 
no Canadá e fi cou muito claro para mim as difi culdades para eu me 
comunicar numa segunda língua com imigrantes de vários países, que 
falavam outras línguas. Da mesma forma, numa sociedade multicultural, 
intergeracional e globalizada como a nossa, precisamos reconhecer 
claramente as diferenças para evitar a discriminação. Quando 
exageramos as semelhanças, sem considerar as diferenças, criamos 
vários obstáculos à comunicação ética da verdade.
Há vários remédios para ajudar a corrigir e superar a discriminação na 
comunicação da mensagem.

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