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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Tireoidopatias .............................................................. 3 3. Doenças Reumatológicas na gestação ...........11 4. Doenças Hepáticas .................................................18 5. Doenças das vias biliares .....................................21 6. Cardiopatias ...............................................................22 7. Anemia .........................................................................28 8. Infecções do Trato Urinário ..................................31 Referências Bibliográficas ........................................35 3DOENÇAS NA GESTAÇÃO 1. INTRODUÇÃO A gestação é um período marcado por várias alterações anatômicas e fisio- lógicas no corpo feminino. Entre elas observam-se alterações na postura e marcha, mastalgia, aumento do volu- me mamário e uterino, alcalose respi- ratória compensada, arritmias, sopros fisiológicos, anemia dilucional, reten- ção de água e glicosúria fisiológica. Todas essas alterações propiciam o desenvolvimento de certas doenças clínicas e é importante conhecer as condições mais prevalentes já que muitas vezes o tratamento delas é di- ferente na gestação. 2. TIREOIDOPATIAS Durante a gestação a tireoide apre- senta adaptações fisiológicas que raramente causam sinais ou sinto- mas, mas frequentemente provo- cam alterações laboratoriais. Sem- pre que possível o atendimento da gestante com disfunção tireoidiana deve ser realizado em parceria com o endocrinologista. A função tireoidiana é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireoide por meio de um mecanismo de fee- dback negativo. Os hormônios tireoi- dianos agem inibindo o hormônio hi- potalâmico estimulador da tireotrofina (TRH) e o TSH produzido na hipófise anterior. A tireoide produz T3 e T4 (triiodotironina e tetraiodotironina) a partir da iodação de resíduos de tiro- sina, de uma glicoproteína chamada tireoglobulina, produzida na própria tireoide. A iodação da tirosina forma o MIT (monoiodotirosina) e o DIT (dii- odotirosina), que acoplados formam o T3 (MIT +DIT) e o T4 (DIT+DIT). A tireoide produz e libera muito mais T4 que T3, no entanto, o T3 é o maior responsável pela atividade fisiológica periférica. O T4 produzido é converti- do na circulação periférica em T3 pela enzima desiodase tipo 1 ou 2. 4DOENÇAS NA GESTAÇÃO A partir da 7ª semana de gestação o T4 total e T3 total elevam-se por conta da elevação da proteína transportadora dos hor- mônios tireoidianos, a glo- bulina ligadora de tiroxina (TBG) e também da própria produção hormonal pela ti- reoide, atingindo o pico na 16ª semana e mantendo- -se elevados durante toda a gravidez. O valor-limite do T4 total pode ser estimado pela adição de 50% ao limi- te superior de referência fora da gestação. Figura 1. Mecanismo de produção de T3 e T4 pela tireoide. Fonte: Guyton & Hall, Tratado de fisiologia médica, 2011 Figura 2. Comportamento dos hormônios tireoidianos maternos e fetais durante a gestação . Fonte: Zugaib Obstetrícia, 2016 5DOENÇAS NA GESTAÇÃO HORMÔNIOS TIREOIDIANOS NA GRAVIDEZ E NO PUERPÉRIO 1º TRIMESTRE 2º TRIMESTRE 3º TRIMESTRE PUERPÉRIO TSH Normal ou Normal Normal Normal T3 e T4 totais Normal Normal ou T3 e T4 livres Normal ou Normal Normal ou Normal Tabela 1. Fonte: Zugaib Obstetrícia, 2016 Rastreamento: O rastreamento universal das tireoidi- patias não está recomendado de ro- tina, no entanto, quando existem fa- tores de risco o rastreamento sempre deve ser feito. Os principais fatores de risco são: Idade superior a 30 anos; • História familiar de doença autoimu- ne da tireoide ou hipotireoidismo; • Bócio; • Presença de autoanticorpos (parti- cularmente o anti-TPO); • Sintomas de hipotireoidismo; • Diagnóstico de DM1 ou outra autoimunidade; • Infertilidade ou >2 gestações; • Antecedentes de abortamento ou trabalho de parto prematuro, ante- cedentes de irradiação de cabeça ou pescoço ou de cirurgia prévia de tireoide; • Área com deficiência de iodo; • Obesidade grau 3 (IMC≥ 40kg/ m2). Hipertireoidismo O hipertireoidismo primário ocorre pelo excesso de produção dos hor- mônios tireoidianos, com consequen- te feedback negativo sobre a hipófise, levando à supressão do TSH. Ocorre em cerca de 0,5 a 1% das gestações. O quadro clínico na gestação é seme- lhante ao quadro fora da gestação: sudorese, ansiedade, sono altera- do, diarreia, emagrecimento, ta- quicardia, bócio, tremor de mãos e pele quente. A causa mais comum é a Doença de Graves (85 a 95% dos casos), sendo outras causas possí- veis o adenoma tóxico, tireoidite su- baguda, bócio multinodular e iatro- genia. Os exames para o diagnóstico incluem TSH suprimido, T4 total elevado ou T4 livre elevado e o an- ticorpo antirreceptor de TSH (TRAb) que pode ser positivo em até 95% dos casos. O principal diagnóstico diferencial da Doença de Graves é o hipertireoidis- mo transitório gestacional, que está relacionado a altos níveis de hCG, capaz de estimular os receptores de TSH (cujas cadeias alfa e beta são 6DOENÇAS NA GESTAÇÃO homólogas), elevando os níveis de T4 livre e total e consequentemente reduzindo os níveis de TSH (pelo fe- edback negativo). A ausência de anti- corpos antitireoidianos e a tendência à normalização dos níveis de TSH concomitante à queda fisiológica do hCG sugerem o diagnóstico de hiper- tireoidismo transitório gestacional. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE A DOENÇA DE GRAVES E A TGT Condição Período Bócio Anti-TPO TRAb ou TSAb hCG D. De Graves Toda a gestação Sim Sim Sim + TGT < 20 semanas Não Não Não +++ Tabela 2. Fonte: Sanarflix As principais complicações mater- nas por conta do hipertireoidismo são: pré-eclâmpsia, insuficiência cardí- aca congestiva, descolamento pre- maturo de placenta, fibrilação atrial e crise tireotóxica. As complicações fetais mais comuns são: abortamen- to espontâneo, parto pré-termo, restrição de crescimento fetal, bai- xo peso ao nascer, morte intraute- rina, anomalias congênitas e hiper- tireoidismo neonatal. O manejo do hipertireoidismo ocor- re com o uso do propiltiouracil no primeiro trimestre e metimazol no segundo e terceiro. O metimazol não é indicado no primeiro trimestre da gestação pela maior passagem placentária e consequentemente maior risco de malformações fetais. O tratamento com iodo radioati- vo é contraindicado na gravidez. O tratamento cirúrgico pode ser indi- cado em casos de refratariedade ao tratamento medicamentoso, neces- sidade de altas doses dos fármacos, bócios gigantes ou câncer de tireoide. Se indicado deve ser realizado prefe- rencialmente entre 14 e 33 semanas de gravidez, devendo ser realizada prevenção de crise tireotóxica com uso de betabloqueador e lugol antes do procedimento. As drogas usadas no tratamento do hipertireoidismo são excretadas no leite materno e podem inibir a pro- dução de hormônios tireoidianos do recém nascido, comprometendo seu desenvolvimento neurológico. Duran- te o período lactacional recomenda-se a manutenção da amamentação e o uso da droga antotireoidiana em dose segura. Considera-se segura a dose de até 450mg/dia de propil- tiouracil e 30mg/dia de metimazol. A gestante deve tomar o comprimido após o término das mamadas a fim 7DOENÇAS NA GESTAÇÃO de evitar a concomitância com o pico sérico da droga. SE LIGA! O hipertireoidismo neonatal ocorre em até 5% dos recém-nascidos, sendo o risco proporcional aos níveis maternos de TRAb durante a gestação, que atravessam a placenta. O quadro clínico inclui taquicardia (>160bpm), bó- cio, craniossinostose, aceleração da ma- turação óssea e falha de crescimento, insuficiência e hidrópsia. Em casos sele- cionados a USG pode sugerir a presença de bócio e a medida de hormônios tireoi- dianos por cordocentese pode confirmar o diagnóstico. Figura 3. Imagem de Ressonância magnética de bócio fetal (setas). Fonte: Zugaib Obstetrícia, 2016 Ohipertireoidismo subclínico (TSH baixo e T4 livre normal) não está as- sociado a desfechos negativos e não necessita de tratamento. Hipotireoidismo O hipotireoidismo é a deficiência na produção de hormônios tireoidia- nos, sendo as causas mais frequen- tes a doença autoimune (tireoidite de Hashimoto), a cirurgia prévia ou uso de iodo radioativo para tratamento da Doença de Graves. Ocorre em 0,2 a 1% das gestações. O quadro clí- nico é insidioso e pode incluir queixa de cansaço e sonolência, aumento de peso, pele seca, intolerância ao frio, queda de cabelo e lentificação de movimentos e raciocínio. O TSH está acima do limite superior para o trimestre e o T4 total ou livre abai- xo. A presença de anti-TPO se rela- ciona com a doença de Hashimoto. As complicações maternas em de- corrência do hipotireoidismo são: hi- pertensão e pré-eclâmpsia, des- colamento prematuro de placenta, abortamento espontâneo e hemor- ragia puerperal. Já as complicações que envolvem o feto são: prematu- ridade, baixo peso ao nascer, mor- bidade perinatal, mortalidade fe- tal e perinatal e comprometimento neuropsicológico e cognitivo. O hipotireoidismo subclínico ocorre em 2 a 5% das gestações e é definido como aumento isolado do TSH com valores de hormônios tireoidianos normais, em pacientes assinto- máticas. Alguns estudos associam o hipotireoidismo subclínico a um risco aumentado de abortamento, 8DOENÇAS NA GESTAÇÃO hipertensão, diabetes gestacional e de parto pré-termo. Embora não haja comprovação do benefício do trata- mento do hipotireoidismo subclínico durante a gestação, o potencial be- nefício supera os riscos do uso da levotiroxina. O tratamento do hipotireoidismo, tan- to clínico quanto subclínico é realiza- do por meio da reposição hormonal com levotiroxina administrada uma vez ao dia, preferencialmente em jejum. Para o hipotireoidismo clíni- co recomenda-se iniciar o tratamen- to com 2mcg/kg/dia em dose única diária e aumentar a dose de acor- do com a medida do TSH dosado a cada 4 semanas. Para mulheres que já usavam levotiroxina antes da gestação, recomenda-se que a dose seja aumentada em 30% quando for diagnosticada a gravidez. Para o hipotireoidismo subclínico a dose recomendada é de 1,2mcg/kg/dia em dose única diária. Após o parto recomenda-se retornar às doses de levotiroxina usadas previamente à gestação nas mulheres que já faziam o uso. Nas que tiveram o diagnóstico na gestação é indicado reduzir a dos em 50%. Início da gestação (10 – 20 semanas) Ac-/TPO + T4 livre + TSH Ac-/TSH + T4 livre normal Ac+/TSH < 2 Ac+ / TSH 2-4 TSH > 4 Não acompanhar T4 livre e TSH em 6 meses e acompanhar no pós parto T4 livre normal – baixo para IG Tratamento com L-T4 e acompanhar no pós parto FLUXOGRAMA DE RASTREAMENTO PARA DISFUNÇÃO NA GESTAÇÃO E PÓS-PARTO: Fonte: Sanarflix 9DOENÇAS NA GESTAÇÃO RESUMO DAS DISFUNÇÕES TIREOIDIANAS NA GESTAÇÃO Disfunção TSH sérico T4 total sérico T4 livre sérico Tratamento Hipotireoidismo subclínico 1º trimestre:>2,5mUI/L 2º trimestre: >3,0mUI/L 3º trimestre: > 3,5mUI/L Normal Normal Levotiroxina Hipotireoidismo clínico 1º trimestre:>2,5mUI/L 2º trimestre: >3,0mUI/L 3º trimestre: > 3,5mUI/L <7,5mcg/dL Baixo Levotiroxina Hipertireoidismo gestacional 1º trimestre: <0,1mUI/L 2º trimestre: <0,2mUI/L >20 semanas: normal Normal ou pou- co aumentado Normal ou pouco aumentado Sintomáticos Hipertireoidismo subclínico 1º trimestre: <0,1mUI/L 2º trimestre: <0,2mUI/L 3º trimestre: < 0,3mUI/L Normal Normal Não recomendado Hipertireoidismo clínico 1º trimestre: <0,1mUI/L 2º trimestre: <0,2mUI/L 3º trimestre: <0,3mUI/L >18mcg/dL Elevado Drogas antitireoidianas Tabela 3. Fonte: Zugaib Obstetrícia, 2016 Tireoidite Pós-parto A tireoidite pós-parto é uma síndro- me que ocorre no primeiro ano após o parto em mulheres sem doença tireoidiana prévia. É uma doença au- toimune caracterizada por infiltração inflamatória linfocítica, destrutiva e indolor da tireoide. Acontece em 33 a 50% das mulheres que apresentam anti-TPO e anti-tireoglobulina. Cursa com 3 fases: a tireotóxica, a hipotireoidiana e a de recuperação. O tratamento é distinto para cada fase. Na fase tireotóxica o tratamen- to é com sintomáticos (betabloquea- dores), já na fase de hipotireoidismo o tratamento é com levotiroxina nas mulheres sintomáticas ou com TSH acima de 10mUI/L. A principal complicação da tireoidite pós-parto é o desenvolvimento de hi- potireoidismo permanente, que se faz presente em até um terço das mulhe- res acometidas. 10DOENÇAS NA GESTAÇÃO MAPA MENTAL: TIREOIDIPATIAS • >30 anos; • História familiar de hipotireoidismo; • Bócio; • Presença de anti-TPO; • Sintomas de hipotireoidismo; • Dx de DM1 ou outra autoimunidade; • Infertilidade; • Obesidade grau 3 Tireoidopatias na gestação RASTREAMENTO TTO: Levotiroxina 2mcg/kg/dia. TTO: Propiltiouracil no 1º trimestre e Metimazol nos outros. • ↑T3 e T4 • Clínica: Sudorese, ansiedade, alteração do sono, diarreia, emagrecimento, taquicardia, bócio, tremor; • Doença de Graves; • Complicações: pré- eclâmpsia, ICC, DPP, fibrilação atrial, abortamento, CIUR, baixo peso ao nascer, hipertireoidismo neonatal; Hipotireoidismo Tireoidite Pós-partoHipertireoidismo • ↓T3 e T4 • Clínica: Cansaço, sonolência, ganho ponderal, pele seca, intolerância ao frio, queda de cabelo; • Tireoidite de Hashimoto; • Complicações: hipertensão, pré- eclâmpsia, DPP, abortamento, hemorragia puerperal, prematuridade, baixo peso ao nascer; • 1º ao pós parto, pacientes sem tireoidopatias prévias; • Fases tireotóxica, hipotireoidea e recuperação; • Risco de hipotireoidismo permanente. 11DOENÇAS NA GESTAÇÃO 3. DOENÇAS REUMATOLÓGICAS NA GESTAÇÃO Lúpus Eritematoso Sistêmico O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica autoimune caracterizada pelo envol- vimento de múltiplos órgãos e siste- mas. É mais prevalente em mulheres, com proporção aproximada de 9:1, ocorrendo principalmente na idade fértil. HORA DA REVISÃO! Os critérios diagnósticos mais atuais do Lúpus são de 2019 (ACR/EULAR) que exigem o FAN como critério de entrada. Os mais usados na prática clínica atual- mente, no entanto, ainda são os de 2012 do SLICC (Systemic Lupus International Collaborating Clinics): São necessários 4 dos 17 critérios, in- cluindo pelo menos um critério clínico e um critério imunológico ou nefrite lúpi- ca comprovada por biópsia e positivida- de para FAN e/ou anti-DNAds. CRITÉRIOS LÚPUS SLICC, 2012 Critérios clínicos Critérios Imunológicos Lúpus cutâneo agudo FAN Lúpus cutâneo crônico Anti-DNAds Alopecia (não fibrótica) Anti-Sm Úlceras orais ou nasais Anticorpo Antifosfolipídios Doença Articular Hipocomplementemia Serosite Coombs Direto Positivo Nefrite Manifestações neurológicas Anemia hemolítica Leucopenia ou Linfopenia Plaquetopenia Figura 4. Rash malar no lúpus. Fonte: https:// www.mayoclinic.org/diseases-conditions/lupus/ symptoms-causes/syc-20365789 12DOENÇAS NA GESTAÇÃO A gravidez em uma mulher com lúpus acarreta um maior risco materno e fetal em comparação com a gravidez em mulheres sem a doença, incluindo maior taxa de nascimento pré-ter- mo, cesariana não planejada, res- trição de crescimento fetal, pré-e- clâmpsia, eclâmpsia e abortamento. O prognóstico é melhor quando o LES está inativo por pelo menos seis me- ses antes da gravidez. Pacientes com doença ativa, especialmente nefrite ou doença neuropsiquiátrica devem ser aconselhadas a postergar a ges- tação. Os medicamentos em uso de- vem ser revisados e ajustados antes da concepção. Além dos exames do pré-natal de ro- tina devem ser feitos: Ultrassonogra- fia para avaliar crescimento fetal e insuficiência placentária no tercei- ro trimestre, Perfil Biofísico Fetal nas 4 a 6 semanas finais de gesta- ção e ECO fetal a partir de 16 se- manas nas pacientes com anti-Ro/ SSA e/ou anti-La/SSB para identifi- cação precocede bloqueio cardíaco congênito. O uso de AAS é recomendado por reduzir o risco de pré-eclâmpsia em 25% e o risco de perda gestacional em 31%. SE LIGA! O diagnóstico diferencial en- tre nefrite lúpica e pré-eclâmpsia pode ser difícil nas pacientes com proteinúria e hipertensão. O aparecimento de sinto- mas antes da 20ª semana é mais con- sistente com nefrite lúpica, assim como sinais e sintomas da atividade da doen- ça. Além disso a dosagem do anticor- po anti-DNAds e complemento podem auxiliar no diagnóstico. O complemento geralmente é normal em pacientes com pré-eclâmpsia enquanto na nefrite lúpi- ca está reduzido. O Lúpus neonatal é decorrente da passagem de autoanticorpos ma- ternos (anti-Ro/SSA, anti-La/SSB e anti-RNP) através da placenta para o feto. É caracterizado por manifes- tações clínicas transitórias, como al- terações cutâneas, hematológicas e hepatobiliares, ou permanentes, como o bloqueio cardíaco congêni- to. As lesões cutâneas se apresentam como máculas eritematosas, desca- mativas e anulares na região perior- bitária e no escalpo, que geralmente aparecem após a exposição solar. SE LIGA! O anticorpo anti-Ro/SSA, em- bora mais comumente relacionado à sín- drome de Sjögren, está presente em tor- no de 40% no LES. O anticorpo antiLa/ SSB está presente no LES em percentu- ais que variam de 10 a 15%. Também se expressa no LE neonatal, porém é menos freqüente do que o anti-Ro/SSA. Ambos os auto-anticorpos já foram des- critos em artrite reumatóide, cirrose bi- liar primária, mieloma múltiplo, esclero- dermia e dermatopoliomiosite. 13DOENÇAS NA GESTAÇÃO Figura 5. Bebê com Lúpus neonatal. Fonte: http:// residenciapediatrica.com.br/detalhes/355/lupus%20 neonatal-%20relato%20de%20caso%20com%20 achados%20exuberantes As manifestações hepáticas do Lúpus neonatal incluem elevação das tran- saminases, hepatoesplenomegalia leve e colestase e as hematológicas incluem anemia, leucopenia e trom- bocitopenia. Essas anormalidades se resolvem espontaneamente, em 6 a 8 meses, com a redução dos anticorpos maternos na circulação da criança. A complicação mais grave é o bloqueio cardíaco congênito, por ser poten- cialmente irreversível e por apresen- tar alta morbimortalidade. O bloqueio ocorre mais frequentemente entre a 16ª e a 24ª semanas de gestação, sendo recomendada a realização do Ecocardiograma fetal semanalmente durante esse período e quinzenal- mente da 26ª à 32ª semana. Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo A Síndrome do Anticorpo Antifosfo- lipídeo (SAAF) é caracterizada por fenômenos tromboembólicos de repetição, perdas fetais recorren- tes e/ou trombocitopenia com pre- sença de anticorpos antifosfolipí- deos. A síndrome pode ser primária ou associada ao LES ou outra doença autoimune. O diagnóstico de SAAF requer a presença de pelo menos 2 critérios clínicos e um dos critérios laboratoriais. Critérios clínicos: • Trombose vascular arterial ou venosa confirmada por exame de imagem, US Doppler ou estudo histopatológico; • Morbidade obstétrica com uma ou mais mortes inexplicáveis de fetos morfologicamente normais na 10ª semana ou além dela com morfologia fetal normal OU um ou mais nascimentos prematu- ros de neonatos morfologicamen- te normais antes da 34ª semana ocasionados por pré-eclâmpsia, eclampsia ou insuficiência placen- tária grave OU 3 ou mais abortos espontâneos inexplicáveis conse- cutivos antes da 10ª semana, com causas cromossômicas excluídas. 14DOENÇAS NA GESTAÇÃO Critérios Laboratoriais • Presença de anticorpo anticar- diolipina IgG ou IgM em títulos moderados (20-80 unidades) ou altos (>80 unidades) em duas ou mais ocasiões, com intervalo de 12 semanas; • Presença de anticorpo anti-β 2-glicoproteína-1 IgG ou IgM em duas ocasiões, com intervalo de 12 semanas; • Presença do anticoagulante lú- pico em duas ou mais ocasiões, com intervalo de no mínimo 12 se- manas entre as medidas. Pacientes com SAAF apresentam maior risco de morte fetal de causa inexplicada, de alterações associa- das à insuficiência uteroplacentária, como pré-eclâmpsia e restrição e crescimento fetal, e de abortamen- tos de repetição. Além disso, o ris- co de eventos tromboembólicos, que está elevado durante a gesta- ção e o puerpério na população geral, encontra-se ainda mais alto nas ges- tantes com SAAF. Durante a gestação na SAAF está in- dicado o uso de heparina de baixo peso molecular em doses terapêu- ticas, com uso de anticoagulante oral após o parto. Se a paciente apresen- tar história de morbidade obstétrica associada à SAAF, AAS em baixas doses (50-100mg/dia) deve ser usa- do. A heparina deve ser suspensa cerca de 24 horas antes da paciente entrar em trabalho de parto para mi- nimizar sangramentos. O AAS deve ser suspenso após a 36ª semana. Artrite Reumatoide A Artrite Reumatoide (AR) é uma do- ença autoimune, inflamatória e sis- têmica, caracterizada por proliferação sinovial. A clínica é de uma poliartrite de grandes e pequenas articulações, principalmente das mãos, punhos e dos pés, podendo apresentar ma- nifestações sistêmicas como lesões oculares, pericardite e acometimento pulmonar. A prevalência é maior em mulheres na idade reprodutiva. 15DOENÇAS NA GESTAÇÃO As pacientes com AR apresentam, na maioria das vezes, melhora clínica du- rante a gestação; 70% das gestan- tes relatam alívio dos sintomas. No entanto, cerca de 90% apresentam piora dos sintomas nos 3 primeiros meses após o parto. Os AINEs usados no tratamento da Artrite devem ser suspensos no perí- odo da concepção. Se possível as mu- lheres devem esperar para engravidar após o controle da atividade da doen- ça com medicações compatíveis com a gestação. O metotrexate deve ser suspenso pelo menos 3 meses an- tes da concepção e a Leflunomida também não deve ser usada. A hi- droxicloroquina e a sulfassalazina são opções de drogas que podem ser usadas durante a gestação. As pacientes com Artrite Reumatoi- de apresentam aumento do risco de parto pré-termo e baixo peso para idade gestacional. Em mulheres com controle da atividade inflamatória da doença, os desfechos gestacionais são semelhantes aos da população geral. Figura 6. Figura 6: Deformidades articulares na Artrite Reumatoide. Fonte: https://semiologiamedica.blogspot. com/2012/11/a-mao-na-artrite-reumatoide.html 16DOENÇAS NA GESTAÇÃO Esclerose sistêmica A Esclerose Sistêmica é uma doença do tecido conjuntivo, caracterizada por inflamação crônica, presença de autoanticorpos, alterações funcio- nais e estruturais de pequenos va- sos e acúmulo de colágeno na pele e em alguns órgãos. É mais frequen- te em mulheres entre 30 e 50 anos. Pode ser classificada em dois subti- pos principais: forma difusa, carac- terizada pelo acometimento cutâneo, associação com crise renal esclero- dérmica e fibrose pulmonar; e forma limitada, caracterizada pelo acometi- mento cutâneo distal, com úlceras di- gitais e hipertensão arterial pulmonar. HORA DA REVISÃO! A Esclerose Sistêmica Cutânea Limi- tada cursa muitas vezes com um con- junto de sinais e sintomas que definem a síndrome CREST: C: Calcinosis cutis R: Raynaud E: Esofagopatia S: Sclerodactyly (esclerodactlia) T: Teleangiectasia Figura 7. Calcinosis cutis. Fonte: https://www. healthline.com/health/calcinosis-cutis Figura 8. Fenômeno de Raynaud. Fonte: ht- tps://en.wikipedia.org/wiki/Raynaud_syndrome Pacientes com a forma difusa ou acometimento de órgãos têm maior risco de abortamento. Além disso gestantes com Esclerose Sis- têmica apresentam maior risco de baixo peso para idade gestacional e prematuridade. Durante a gesta- ção 60% permanecem com doença estável, 20% apresentam melho- ra, principalmente do fenômeno de Raynaud, e outras 20% apresen- tam piora. A inelasticidade da pele e do tecido celular subcutâneo podem limitar a mobilidade da gestante, in- terferindo no trabalho de parto. A le- são renal na esclerodermia é a princi- pal causa de morte materna. 17DOENÇAS NA GESTAÇÃOMAPA MENTAL: DOENÇAS REUMATOLÓGICAS • Mulheres em idade fértil; • Complicações: prematuridade, CIUR, pré-eclâmpsia, eclâmpsia e abortamento; • Acompanhamento: USG com PBF no final do 3º trimestre, ECO fetal a partir de 16 semanas; • LES neonatal: passagem de Ac para o feto. Risco de bloqueio cardíaco congênito. Doenças Reumatológicas na gestação Lúpus • Fenômenos tromboembólicos de repetição, perdas fetais recorrentes e/ou trombocitopenia com Ac antifosfolipídeos. • Dx: 2 critérios clínicos e 1 laboratorial; • Complicações: morte fetal, pré- eclâmpsia, CIUR , abortamento e eventos tromboembólicos; • TTO: Heparina de baixo peso molecular e AAS Artrite Reumatoide Esclerose SistêmicaSAAF • Poliartrite de mãos, punhos e pés • Clínica: 70% apresentam melhora clínica na gestação e 90% pioram no pós- parto; • Complicações: prematuridade e baixo peso ao nascer; • Suspender MTX e Leflunomida • Forma difusa e forma limitada (síndrome CREST); • Clínica: 60% permanecem com a doença estável, 20% apresentam melhora e 20% apresentam piora na gestação; • Complicações: abortamento, baixo peso ao nascer, prematuridade; 18DOENÇAS NA GESTAÇÃO 4. DOENÇAS HEPÁTICAS Pode-se dividir as doenças hepáti- cas na gravidez em crônicas (prévias à gestação), específicas da gestação ou coincidentes com ela. Hepatites Virais As Hepatites virais são a principal causa de icterícia na gestação. A gestante pode apresentar sintomas como náuseas, vômitos, cefaleia e mal-estar antes do surgimento da icterícia. Os níveis séricos das amino- transferases variam. A Hepatite A apresenta transmissão fecal-oral, com período de incuba- ção de 4 semanas. Os sintomas são inespecíficos e na maioria das vezes não cursa com icterícia. O diagnós- tico é confirmado pela presença do anti-HAV IgM. A IgG surge depois, promovendo imunidade. Não existe Hepatite A crônica. Nos países em desenvolvimento está associada a um aumento no número de mortes, tanto maternas quanto perinatais. O risco de transmissão para o feto é praticamente nulo. A Hepatite B é a única causada por um vírus DNA. Pode resultar em he- patite crônica, cirrose e carcino- ma hepatocelular. A transmissão do vírus ocorre por via parenteral, contaminação sanguínea ou rela- ção sexual. Após a contaminação o marcador sérico é o antígeno de superfície (AgHBs). O AgHBe indi- ca replicação viral. Após a infecção, 90% dos indivíduos evoluem para a cura, apresentando anti-HBs e anti- -HBc (anticorpos contra antígenos da superfície e do núcleo do vírus, res- pectivamente) e ausência do AgHBs. O curso da hepatite B não parece ser alterado pela gestação, sendo o tra- tamento de suporte. A transmissão placentária é rara. A infecção geral- mente ocorre por contato do feto com material infectado durante o parto ou exposição do recém nascido durante a amamentação. Os recém nascidos infectados podem ser assintomáti- cos, porém alguns tornam-se doen- tes crônicos ou desenvolvem hepa- tite fulminante. A prevenção é feita com a administração de imunoglo- bulina e vacina contra hepatite B logo após o nascimento. HORA DA REVISÃO! Para o diagnóstico da fase da Hepatite B é importante relembrar dos antígenos e anticorpos presentes na infecção e os seus significados. AgHBs AgHBE Anti- -HBc IgM Anti- -HBc Total Anti- -HBs Anti- -HBe Interpreta- ção + +/- + - - - Infecção aguda recente + +/- - + - - Infecção aguda tardia ou crônica - - - + + + Imunidade infecção passada - - - - + - Imunidade resposta vacinal 19DOENÇAS NA GESTAÇÃO A Hepatite C é transmitida principal- mente por via parenteral e a maio- ria das pessoas persiste com viremia crônica. Não há indícios de que exis- tam diferenças na evolução da doen- ça entre gestantes e não gestantes. A Hepatite D ocorre apenas quando associada à infecção pelo vírus da Hepatite B. A prevenção da Hepatite B com a vacinação da gestante, con- tribui consequentemente para a pre- venção da Hepatite D. A Hepatite E é a única que tem seu curso alterado na gestação, ocorrendo insuficiência hepática aguda com mais frequência nessa população. A sua transmissão é via fecal-oral e ela é rara no Brasil, sendo mais comum na Ásia e África. Esteatose hepática aguda da gestação A Esteatose hepática aguda da ges- tação é uma complicação rara com incidência de cerca de 1 caso para 10.000 gestações, relacionada à de- ficiência da enzima 3-hidroxiacil CoA desidrogenase. Geralmente ocorre no final do terceiro trimestre, sendo mais comum em nulíparas, gestações múltiplas e fetos do sexo masculino. Apresenta altas taxas de mortalidade fetal (20 a 50%) e ma- terna (20 a 30%). Os sintomas são anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal intensa e cefaleia. A paciente desenvolve icte- rícia e apresenta sonolência. Podem ocorrer distúrbios da coagulação pela redução na produção de fatores de coagulação pelo fígado. Aproximada- mente metade das gestantes apre- senta acidose metabólica e oligúria. O diagnóstico é feito através dos critérios de Swansea, que incluem sintomas, achados laboratoriais e de imagem. São necessários 6 ou mais achados para o diagnóstico: CRITÉRIOS DE SWANSEA PARA O DIAGNÓSTICO DE ESTEATOSE HEPÁTICA AGUDA DA GRAVIDEZ Náuseas/Vômitos Dor abdominal severa Polidipsia/Poliúria Encefalopatia Bilirrubina elevada (>0,8mg/dl) Hipoglicemia (<72mg/dl) Ác úrico elevado (>5,7mg/dl) Leucocitose (>11.000 células/microL) AST, ALT elevadas (>42 UI/L) Amônia elevada (>47 micromol/L) Lesão renal aguda Coagulopatia Ascite na USG Esteatose microvesicular (biópsia) Tabela 4. 20DOENÇAS NA GESTAÇÃO O parto deve ser realizado o mais precocemente possível. As pacien- tes com coagulopatias devem rece- ber plasma fresco congelado e em caso de hipofibrinogenemia o crio- precipitado pode ser necessário. Além disso é oferecido volume com aporte glicêmico para correção de hi- poglicemia. O parto vaginal é prefe- rível, mas deve haver uma vigilância da vitalidade fetal. Em caso de piora clínica, pode ser realizada a cesárea. Geralmente a melhora clínica ocorre 1 semana após o parto. MAPA MENTAL: DOENÇAS HEPÁTICAS Transmissão fecal-oral; Clínica: náuseas, vômitos, cefaleia, mal-estar; Dx: anti-HAV IgM; Não cronifica! Doenças Hepáticas na gestação Hepatites virais Transmissão parenteral; Grande risco de cronificação; A evolução não altera na gestação Esteatose hepática aguda da gestação A Vírus DNA; Transmissão parenteral ou sexual; Clínica: pode cronificar e evoluir para cirrose e CHC; Dx: AgHBs +, AgHBe (replicação); RN pode ser contaminado - maior risco de cronificação; Prevenção: vacina e Ig após o nascimento B C Depende da infecção pelo vírus da hepatite B; D Transmissão fecal-oral; Insuficiência hepática aguda na gestação E Deficiência da enzima 3-hidroxiacil CoA desidrogenase; Fatores de risco: nulíparas, gestações múltiplas, fetos do sexo masculino; Clínica: anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal, cefaleia, icterícia, oligúria, acidose metabólica; Dx: Critérios de Swansea Realizar parto o mais precocemente possível! 21DOENÇAS NA GESTAÇÃO 5. DOENÇAS DAS VIAS BILIARES A litíase biliar é mais comum no sexo feminino, sobretudo na gestação pois as alterações hormonais alteram a fisiologia hepatobiliar e favorecem a formação de cálculos. O estrogê- nio aumenta a secreção biliar de colesterol e a progesterona reduz a secreção de sais biliares, forman- do bile supersaturada em colesterol, e diminui a motilidade da vesícula biliar, causando estase que aumenta a chance de ocorrer litíase biliar. Fatores de risco associados à litíase biliar são obesidade, história prévia de litíase biliar e gestações prévias. A colelitíse corresponde à presença de cálculos na vesícula biliar, en- quanto a colecistite é a inflamação da vesícula biliar causada por um cálculo impactado no ducto cístico. Quando o cálculo migra do ducto cís- tico para o colédoco causa coledo-colitíase, caracterizada por uma sín- drome colestática. Figura 9. Representação colelitíase e coledocolitíase. Fonte: http://www.gastrocentrocarioca.com.br/clinica/ colelitiase.php A colecistectomia está indicada nos casos de colelitíase sintomática e a via de escolha e a videolaparoscó- pica. Caso seja possível a realização eletiva do procedimento nas pacien- tes com sintomas recorrentes, o se- gundo trimestre é o período ideal para a intervenção pelo menor risco de abortamento e menor taxa de par- to pré-termo. No caso de coledoco- litíase é indicado o tratamento com colangiopancreatografia endoscópica (CPRE) com esfincterotomia e sub- sequente colecistectomia laparos- cópica. Em pacientes com colecistite 22DOENÇAS NA GESTAÇÃO aguda é realizada sondagem naso- gástrica, uso de anti-inflamatórios, hidratação, antibióticos e colecis- tectomia. MAPA MENTAL: DOENÇAS VIAS BILIARES Sonda nasogástrica; Anti-inflamatorios; Hidratação; Antibióticos; Colecistectomia Doenças das Vias Biliares na gestação Colelitíase Cálculo na vesícula biliar • Estrogênio: ↑ secreção biliar de colesterol • Progesterona: ↓ secreção de sais biliares e diminui motilidade da vesícula biliar Se sintomática: Colecistectomia laparoscópica no 2º trimestre Colecistite Inflamação da vesícula biliar Coledocolitíase Cálculo impactado no colédoco Colangiopancreatografia endoscópica (CPRE) com esfincterotomia; Colecistectomia 6. CARDIOPATIAS Em países em desenvolvimento a cardiopatia reumática com esteno- se mitral é a forma mais frequente de lesão cardíaca associada à gestação, enquanto nos países desenvolvidos as cardiopatias congênitas repre- sentam a maioria das cardiopatias na gestação. 23DOENÇAS NA GESTAÇÃO O diagnóstico de cardiopatias na ges- tação é dificultado pela semelhança com os sintomas da gravidez normal: dispneia, taquicardia, palpitação, sopro sistólico e edema de mem- bros inferiores. O Ecocardiograma é fundamental nesses casos para avaliar a anatomia e fisiologia do co- ração e determinar o diagnóstico de cardiopatia. É importante realizar a classificação funcional da cardiopatia de acordo com a New York Heart Association (NYHA): CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DA CARDIOPA- TIA (NYHA) Classe funcional Características clínicas Classe I Sintomas ausentes Classe II Sintomas presentes aos médios esforços Classe III Sintomas presentes aos mínimos esforços Classe IV Sintomas em repouso Doença Cardíaca Reumática A estenose mitral é a cardiopatia reu- mática mais importante na gravidez, podendo determinar morte materna em 5% das pacientes. A taquicardia, aumento do volume sanguíneo e do débito cardíaco fisiológicos na gravi- dez podem predispor à descompen- sação cardíaca nesse período. As complicações mais comuns da estenose mitral são o edema agu- do de pulmão e a fibrilação atrial, ocorrendo principalmente no final do 2º e 3º trimestres e período peripar- to. A fibrilação atrial deve ser tratada com antiarrítmicos e anticoagulantes para evitar complicações tromboem- bólicas. Na estenose mitral importan- te com gestante sintomática pode ser indicada valvoplastia com balão, de- vendo ser realizada de preferência no 2º trimestre. Cardiopatia congênita Atualmente o risco de gravidez em mulheres com doença cardíaca é ava- liado de acordo com a classificação modificada da OMS. 24DOENÇAS NA GESTAÇÃO CLASSIFICAÇÃO MODIFICADA DA OMS PARA RISCO CARDIOVASCULAR MATERNO Classe I Sem aumento na mortalidade materna e leve aumento na morbidade. Inclui pequeno canal arterial patente, estenose pulmonar leve, prolapso da valva mitral, lesões simples reparadas com sucesso e batimentos ectópicos atriais ou ventriculares isolados. Classe II Pequeno aumento na mortalidade materna ou aumento moderado na morbidade. Inclui de- feito no septo atrial ou ventricular não reparado, tetralogia reparada de Fallot e a maioria das arritmias. Classe III Aumento significativo na mortalidade materna ou morbidade grave. Inclui valva mecânica, ven- trículo direito sistêmico, circulação de Fontan, cardiopatia cianótica, outras cardiopatias con- gênitas complexas, valva aórtica bicúspide com diâmetro aórtico ascendente de 45 a 50mm e síndrome de Marfan com aorta com diâmetro de 40 a 45mm. Classe IV Mortalidade materna extremamente alta ou morbidade grave. A gravidez é contraindicada. Inclui estenose mitral grave, estenose aórtica grave sintomática, valva aórtica bicúspide com di- âmetro de aorta ascendente >50mm, síndrome de Marfan com aorta dilatada >45mm, disfunção sistólica ventricular sistêmica grave (FE<30%, NYHA III ou IV), coarctação grave nativa, circula- ção de Fontan com complicações e hipertensão arterial pulmonar significativa. Tabela 5. * Condições nas classes de risco II a III que dependem do indivíduo incluem comprometimento ventricular esquerdo leve, cardiomiopatia hipertrófica, algumas cardiopatias valvares nativas ou bioprotéticas, coarctação repara- da, síndrome de Marfan com dimensão aórtica <40mm sem dissecção aórtica e valva aórtica bicúspide com diâmetro de aorta ascendente <45mm. Quando possível as mulheres devem receber avaliação e aconselhamento pré-concepcional para que possam tomar decisões informadas sobre a gravidez. Para as mulheres que não tiveram esse aconselhamento, deve ocorrer uma avaliação completa dos riscos na primeira consulta pré-natal com história detalhada, investigação dos sintomas, exame físico completo, eletrocardiograma de 12 derivações e ecocardiograma. Segundo a classifi- cação modificada da OMS as gestan- tes da classe I devem ser avaliadas em 1 a 2 consultas cardiológicas durante a gestação, as da classe II devem comparecer a uma consul- ta cardiológica por trimestre, as da classe III devem ter consultas car- diológicas mensais ou bimestrais, e as da classe IV devem ser acon- selhadas a não engravidar, se en- gravidarem deve ser discutida a in- terrupção e se esta não for realizada, é necessária avaliação cardiológica mensal ou bimestral. Sobre o parto, a via vaginal é a me- lhor escolha para a maioria das pa- cientes, enquanto a cesárea é indi- cada somente por razões obstétricas em pacientes estáveis. Em pacientes de alto risco o trabalho de parto deve ser induzido eletivamente, assim que confirmada a maturidade fetal. Não há contraindicação formal ao miso- prostol, mas há um risco teórico de vasoespasmo coronariano e baixo risco de arritmias, sendo o método mecânico (sonda de Foley) a escolha na paciente com cianose. 25DOENÇAS NA GESTAÇÃO Tetralogia de Fallot A Tetralogia de Fallot se caracteri- za por estenose pulmonar, defeito do septo interventricular, cavalga- mento da aorta sobre o septo e hi- pertrofia ventricular direita. Sinais de pior prognóstico são a redução da saturação arterial de oxigênio (<80%), hematócrito elevado (>60%), hiper- tensão ventricular direita e episódios de síncope. Pacientes com a Tetralo- gia de Fallot previamente submetidas à correção cirúrgica geralmente su- portam bem a gravidez, com índice de complicações ao redor de 12%. A gestação em mulheres com cianose está associada a alta taxa de aborto espontâneo, nascimento pré-termo e restrição de crescimento fetal. Figura 10. Representação da Tetralogia de Fallot. Fon- te: SANARFLIX & Medicina Resumida Valvopatias As doenças valvares podem ser con- gênitas ou adquiridas, secundárias a doença reumática, outras doenças reumatológicas, infecção pelo HIV ou endocardite. A valvopatia reumática é a doença cardíaca mais prevalen- te durante a gestação no Brasil. A sobrecarga hemodinâmica da ges- tação implica em um risco de insufici- ência cardíaca nas pacientes com val- vopatias, principalmente na estenose mitral e aórtica. Na estenose aórtica as complicações estão relacionadas à estenose moderada ou grave (área valvar <1cm2 ou gradiente transval- var >64mmHg). As complicações da estenose mitral na gravidez estão relacionadas ao aumento da frequ- ência cardíacae do débito cardíaco causados pela gestação e ao estrei- tamento da valva mitral. A paciente começa a desenvolver dispneia, or- topneia e dispneia paroxística no- turna, podendo apresentar edema pulmonar. Na estenose mitral grave é recomendada a correção antes da gestação. A estenose pulmonar (qua- se sempre congênita) leve tolera bem a sobrecarga da gravidez enquanto as graves podem evoluir com falência cardíaca direita ou arritmias. As lesões valvares com regurgita- ção (insuficiência mitral e aórtica) não combinadas a lesões estenóti- cas habitualmente apresentam evo- lução mais favorável na gravidez. 26DOENÇAS NA GESTAÇÃO Nas mulheres com próteses valva- res mecânicas há uma dificuldade na anticoagulação, pois na gravidez existe hipercoagulabilidade, por isso há um risco aumentado de fenôme- nos tromboembólicos. Por sua vez, os anticoagulantes orais estão rela- cionados a um aumento no núme- ro de abortamentos espontâneos, embriopatia warfarínica, sangra- mentos cerebrais maternos e fenô- menos hemorrágicos. Síndrome de Eisenmenger A Síndrome de Eisenmenger é uma hipertensão pulmonar associada a defeito do septo interventricular ou canal arterial pérvio. A gravidez é contraindicada no caso dessa sín- drome e caso ocorra recomenda-se a interrupção, preferencialmente no primeiro trimestre, já que a mortali- dade materna costuma ser alta (em tono de 40%). A maioria das mortes maternas ocorre devido ao trombo- embolismo e à depleção de volume, que podem aumentar o shunt direita- -esquerda e precipitar uma cianose intensa e pré-eclâmpsia. O resulta- do fetal também é ruim, com alta in- cidência de perda fetal (20 a 40% de abortamento espontâneo), pre- maturidade, restrição do crescimento fetal e morte perinatal. Devido à alta incidência de tromboembolismo peri- parto, a terapia anticoagulante é indi- cada no terceiro trimestre e por quatro semanas pós-parto. A cesariana se associa a maior risco de mortalidade materna, porém o parto vaginal tem um risco mais alto de sofrimento fetal. Figura 11. Representação Síndrome de Eisenmenger. Adaptado de: https://medlineplus.gov/ency/article/007317.htm 27DOENÇAS NA GESTAÇÃO Síndrome de Marfan A Síndrome de Marfan é uma con- dição autossômica dominante que afeta o tecido conjuntivo. Entre as ma- nifestações clínicas estão: doença da raiz da aorta com dilatação aneu- rismática, regurgitação aórtica e dissecção; prolapso mitral; cresci- mento excessivo dos ossos longos; aracnodactilia; hipermobilidade articular; deformidade do pectus; escoliose e cifose; anormalidades oculares e doenças pulmonares. As gestantes podem ter complica- ções cardiovasculares, além de alto risco de fetos com a Síndrome (50% de chance). As complicações cardio- vasculares são mais comuns no 2º e 3º trimestres e incluem a dilatação da aorta ascendente que pode levar à insuficiência aórtica e à insuficiên- cia cardíaca e dissecções de aorta. Os riscos aumentam de acordo com o diâmetro da raiz aórtica, sendo di- âmetro ≥45mm indicação de reparo prévio à concepção. No caso de ges- tantes com a Síndrome de Marfan é recomendada a realização de Eco- cardiograma a cada 4 a 8 semanas, realizar uso de betabloqueadores para redução da taxa de dilatação aórtica e evitar atividades físicas. A intervenção cirúrgica deve ser considerada se o diâmetro da aor- ta for maior que 50mm ou se hou- ver dilatação progressiva durante a gestação. Nos casos de dilatação ou dissecção aórticas ou outras compli- cações da Síndrome de Marfan, a via cesárea deve ser preferida. CONCEITO! A Aracnodactilia é uma condição em que os dedos são anormal- mente longos e finos, sendo uma carac- terística comum da Síndrome de Marfan. Figura 12. Aracnodactilia. Fonte: http://gestao- delogisticahospitalar.blogspot.com/2014/03/o- -que-e-aracnodactilia.html 28DOENÇAS NA GESTAÇÃO 7. ANEMIA A gravidez normal envolve diversas modificações fisiológicas no sistema circulatório materno, incluindo mo- dificações nos parâmetros hema- tológicos. Essas mudanças incluem expansão significativa do volume sanguíneo e do plasma materno, re- sultando em uma anemia dilucional, com redução dos valores normais de hemoglobina e hematócrito. A anemia na gestação e puerpério passa a ser MAPA MENTAL: CARDIOPATIAS • Países em desenvolvimento: Cardiopatia reumática • Países desenvolvidos: Cardiopatias congênitas Cardiopatias na gestação Cardiopatia Reumática Dispneia, taquicardia, palpitação, sopro sistólico e edema de membros inferiores Estenose mitral é a mais importante na gestação - morte materna em 5% dos casos; Complicações: Edema agudo de pulmão e Fibrilação atrial Síndrome de Marfan Doença na raiz da aorta, prolapso mitral, crescimento excessivo dos ossos longos; Risco do feto com a síndrome; Cirurgia se aorta ≥50mm ou dilatação progressiva Tetralogia de Fallot Estenose pulmonar, defeito do septo interventricular, cavalgamento da aorta e hipertrofia de VD; Complicações: abortamento, prematuridade e restrição de crescimento fetal Valvopatias Valvopatia reumática é a mais comum; As lesões com regurgitação valvar têm evolução mais favorável; Próteses valvares: maior risco de fenômenos tromboembólicos Síndrome de Eisenmenger Hipertensão pulmonar com defeito do septo interventricular; Gravidez é contraindicada- recomenda-se interrupção; Complicações: Tromboembolismo, cianose, pré-eclâmpsia, perda fetal 29DOENÇAS NA GESTAÇÃO definida por uma hemoglobina me- nor que 11g/dl. Estima-se que a pre- valência de anemia entre as mulhe- res grávidas seja de cerca de 38,2%, sendo a principal causa a deficiência de ferro. Anemia ferropriva A anemia ferropriva ocorre pela de- ficiência de ferro e é a causa mais comum de anemia na gestação. As principais causas são o baixo con- sumo de ferro e as perdas sanguí- neas agudas. Os fatores de risco que predispõem à anemia ferropriva são: múltiplas gestações com intervalo menor que 2 anos, perdas crônicas antes da gestação, baixa absorção de ferro e deficiência nutricional. Os sintomas costumam ser inespecíficos e incluem cansaço, adinamia, fra- queza, sonolência, cefaleia, tontura e dispneia. São comuns perversões do apetite (pica), palidez e cabelos quebradiços. A hipocromia e microcitose típica das anemias ferroprivas são menos proe- minentes nas gestantes. A avaliação inicial deve incluir um hemograma completo, eletroforese de hemo- globinas para pesquisa de anemia falciforme e dosagem de ferro sé- rico e ferritina. O valor de ferritina indicativo de anemia na gestação é abaixo de 15mcg/L. A prevenção da anemia é feita com a reposição de 30 a 60mg de ferro elementar (150 a 300mg de sulfato ferroso) por dia, de 20 semanas de gestação até o término da lactação. O tratamento da anemia se baseia no nível de hemoglobina da gestan- te. Se estiver entre 8 e 11g/dl é con- siderada anemia leve a moderada, devendo ser solicitado parasitológico de fezes para investigação de parasi- tose e fornecido sulfato ferroso em dose de tratamento (5 drágeas de 200mg/dia- 2 pela manhã, 2 à tar- de e 1 à noite). Uma nova dosagem de hemoglobina deve ser feita entre 30 e 60 dias, devendo manter o trata- mento até a hemoglobina atingir 11g/ dl. Se no acompanhamento os níveis estiverem em queda a gestante deve ser encaminhada para o pré-natal de alto risco. Se a hemoglobina no diag- nóstico da anemia for menor que 8g/ dl, é considerada anemia grave e a gestante também deve ser encami- nhada para o pré-natal de alto risco. SE LIGA! Hb > 11 g/dl 40 mg ferro elementar Hb entre 11 e 8 g/dl 120 a 200 mg ferro elementar Hb < 8 g/dl pré-natal de alto risco Tabela 6. Fonte: Sanarflix Doença Falciforme A Doença Falciforme é uma das do- enças genéticas hereditárias mais frequentes do mundo. Ocorre devido a uma mutação no gene da cadeia 30DOENÇAS NA GESTAÇÃO beta da hemoglobina A (HbA), com a substituição de ácido glutâmico por valina na posição6, originando a hemoglobina S (HbS). A presença de um gene para HbS e outro para HbA não produz manifestações de doença falciforme, sendo o indivíduo identifi- cado como portador de traço falci- forme. Já os indivíduos homozigotos (HbSS) apresentarão a Doença Fal- ciforme. As hemácias que contém a hemoglobina S sofrem falcização nas situações de baixa oxigenação, po- dendo levar a isquemia e infarto em diversos órgãos. Figura 13. Falcização de hemácias maternas na placenta, causada por circulação sanguínea lenta nos espaços intervilosos. As hemácias fetais apresentam morfologia normal. Fonte: http://anatpat.unicamp.br/ textoanemiafalciforme.html O diagnóstico da Doença Falciforme é feito com a eletroforese de hemo- globina que deve ser solicitada no pré-natal. A maioria das gestantes, no entanto, já têm o diagnóstico pré- vio devido à pesquisa na triagem neo- natal (teste do pezinho). As gestantes são mais suscetíveis às crises de fal- cização após às 20 semanas de ges- tação por conta do incremento meta- bólico, hipercoagulabilidade e estase vascular. As principais complicações relacionadas são infecções decor- rentes da perda de função esplêni- ca, litíase biliar, retinopatia, úlceras nas pernas, osteonecrose assépti- ca, crises álgicas, necrose de pa- pilas renais, acidente vascular ce- rebral e hipertensão pulmonar. A mortalidade perinatal aumenta, com o aumento do abortamento, restri- ção do crescimento fetal, trabalho de parto pré-termo, pré-eclâmpsia, descolamento prematuro de pla- centa e sofrimento fetal. As gestantes com Doença Falciforme devem ser consideradas de alto ris- co e devem ser assistidas por hema- tologistas e obstetras. A reposição e ácido fólico deve ser feita durante a gestação e puerpério e uso da hidro- xiureia deve ser suspenso devido ao risco de teratogenicidade. Durante as crises de falcização deve-se for- necer adequada hidratação e anal- gésicos opioides, além de oxigênio se houver hipoxemia, antibióticos se houver infecção e hemoderivados se necessário. É importante realizar a vigilância do bem-estar fetal nes- ses casos pelo risco de sofrimento fetal agudo durante as crises. É re- comendada a realização e ultras- sonografia obstétrica seriada para seguimento do crescimento fetal e do 31DOENÇAS NA GESTAÇÃO volume de líquido amniótico após 24 semanas, cardiotocografia a partir de 32 semanas e Dopplervelocime- tria a partir de 20 semanas de ges- tação. As consultas devem ocorrer quinzenalmente até 28 semanas e semanalmente até o parto. A via de parto é de indicação obstétrica, não havendo contraindicação para o par- to normal. MAPA MENTAL: ANEMIAS Deficiência de ferro; Fatores de risco: gestações com intervalo menor que 2 anos, baixa absorção de ferro, deficiência nutricional, sangramentos; Clínica: fraqueza, adinamia, dispneia, perversão do apetite, palidez; Prevenção: Suplementação com sulfato ferroso de 20 semanas até o término da lactação; Tratamento: Sulfato ferroso 200mg, via oral, 5 drágeas/dia. • Redução de Hemoglobina e Hematócrito fisiológicos; • Anemia: Hb<11mg/dl ANEMIAS NA GESTAÇÃO Anemia ferropriva Doença Falciforme Doença falciforme= Homozigoto HbSS; Hemoglobina S sofre falcização em baixa saturação de O2. Complicações: infecções, osteonecrose asséptica, crises álgicas, necrose de papila renal, abortamento, restrição de crescimento fetal, pré-eclâmpsia, DPP; Conduta: reposição de ácido fólico, suspensão de hidroxiureia, tratamento das crises de falcização, vigilância do bem-estar fetal 8. INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO A estase urinária e o refluxo vesi- coureteral, favorecidos pela ação miorrelaxante da progesterona e pela compressão mecânica do úte- ro sobre os ureteres; as alterações físico-químicas da urina, com o aumento da glicosúria, favorecen- do um meio propício ao crescimento bacteriano; e a imunidade celular reduzida na gravidez são fatores que em conjunto tornam a gestante mais suscetível às infecções urinárias. 32DOENÇAS NA GESTAÇÃO Estima-se que até 10% das gestantes são acometidas por algum episódio de infecção urinária ou bacteriúria assin- tomática. A infecção do trato urinário (ITU) pode ser classificada em baixa (cistite e bacteriúria assintomáti- ca) ou alta (pielonefrite). O principal agente envolvido é a Escherichia coli. Bacteriúria assintomática É definida pela presença de ≥ 100.000 colônias/ml de um único agente patogênico, em duas amos- tras coletadas adequadamente em paciente sem sintomas urinários. A prevalência em gestantes é de 2 a 10%, justificando o seu rastreamento no pré-natal. O tratamento da bacte- riúria diminui em até 80% a incidên- cia de pielonefrite, por isso é indicado em todos os casos em gestantes. Os antibióticos usados são os mesmos do tratamento da cistite: nitrofurantoína, ampicilina, amoxicilina, cefalexina ou fosfomicina. No seguimento deve ser realizada urocultura de contro- le uma semana após o término do tratamento. Se negativa deve ser re- petida mensalmente até o término da gestação. Na ocorrência de dois ou mais episódios de ITU na gestação, deve-se prescrever profilaxia antimi- crobiana, independente da presen- ça ou não de fatores predisponentes. Nesse caso podem ser usados a nitro- furantoína 100mg, via oral, uma vez ao dia; fosfomicina 3g, via oral, a cada 10 dias; ou cefalexina 250mg, via oral, uma vez ao dia, mantidos até 2 sema- nas pós-parto. Cistite A cistite é definida como a presença de bactérias associadas a sintomas uri- nários baixos e está presente em 1 a 2% das gestantes. Os sintomas mais comuns são disúria, urgência miccio- nal, polaciúria, dor suprapúbica, he- matúria e urina fétida. O tratamento é feito Nitrofurantoína 100mg, via oral de 6/6 horas por 3 a 7 dias; ou ampi- cilina 500mg, via oral, de 6/6 horas por 3 a 7 dias; ou cefalexina 500mg, via oral, de 6/6 horas, por 3 a 7 dias; ou fosfomicina 3g, via oral, dose úni- ca. É realizada urocultura de controle uma semana após o tratamento. SE LIGA! Curta duração: 3 a 5 dias Longa duração: 7 a 10 dias Nitrofurantoína 100mg VO de 6/6 horas. Nitrofurantoína 100mg VO de 6/6 horas Ampiciclina 500mg VO de 6/6 horas Ampiciclina 500 mg VO de 6/6 horas Amoxcilina 500mg VO de 8/8 horas. Amoxacilina 500mg VO de 8/8 horas Cefalexina 500mg VO de 6/6 horas Cefalexina 500mg VO de 6/6 horas Fosfamicina 3G VO dose única Tabela 7. Fonte: Sanarflix 33DOENÇAS NA GESTAÇÃO Pielonefrite aguda A pielonefrite aguda é a infecção uri- nária que compromete o sistema co- letor e medula renal. Ocorre em 1 a 2% das gestantes, sendo uma das principais causas de hospitalização durante a gravidez. Os sintomas mais comuns são hipertermia, calafrios, náuseas, vômitos, dor lombar, disú- ria, polaciúria, urgência miccional e urina turva e fétida. O diagnóstico é feito pela suspeita clínica e urocultu- ra. O tratamento deve ser feito com antibiótico venoso em regime de internação hospitalar. As principais opções são ceftriaxona 1 a 2g, in- travenoso, a cada 24 horas; cefazo- lina 1g, intravenoso, de 6/6 horas ou gentamicina 5 a 7mg/kg/dia as- sociada a ampicilina 1 a 2g de 6/6 horas. Na ausência de resposta de- ve-se investigar outros fatores, como cálculos renais ou abscessos. A alta hospitalar só deve ocorrer após 48h afebril e com término do antibiótico em casa por 10-14 dia. MAPA MENTAL: INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO ITU NA GESTAÇÃO Tratamento: 3 a 7 dias com Nitrofurantoína 100mg, VO, 6/6h ou ampicilina 500mg, VO, 6/6h, ou cefalexina 500mg, VO, 6/6h ou dose única de fosfomicina 3g, VO. Seguimento: Urocultura de controle 1 semana após o tratamento Baixa Alta Bacteriúria assintomática Cistite Pielonefrite ≥ 100.000 UFC/ml em pacientes assintomáticas; Bacteriúria + sintomas urinários baixos (disúria, urgência miccional, polaciúria, dor suprapúbica, hematúria) Compromete o sistema coletor e medula renal; Clínica: hipertermia, calafrios, náuseas, vômitos,dor lombar, disúria, polaciúria, urgência miccional; Tratamento: Antibiótico venoso em regime hospitalar. Ceftriaxona 1-2g/dia, IV; cefazolina 1g, IV, 6/6h; Gentamicina 5-7mg/kg/dia + Ampicilina 1-2g, 6/6h. 34DOENÇAS NA GESTAÇÃO MAPA MENTAL: GERAL Hipertireoidismo Hipotireoidismo Tireoidite pós-parto TIREOIDOPATIAS CARDIOPATIAS DOENÇAS DAS VIAS BILIARES DOENÇAS REUMATOLÓGICAS DOENÇAS HEPÁTICAS INFECÇÃO TRATO URINÁRIO ANEMIAS Lúpus Sd Anticorpo Antifosfolipídeo Artrite Reumatoide Esclerose sistêmica Hepatites virais Esteatose hepática aguda da gestação Colelitíase Colecistite Coledocolitíase Reumática Tetralogia de Fallot Valvopatias Sd de Eisenmenger Sd de Marfan Anemia ferropriva Doença falciforme Bacteriúria assintomática Pielonefrite Cistite 35DOENÇAS NA GESTAÇÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS WAKSMONSKI, CA; FOLEY, MR. Pregnancy in women with congenital heart disease: General principles. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 07 de maio de 2020). LEE, RH; REAU, N. Acute fatty liver of pregnancy. UpToDate Inc. http://www.uptodate. com (Acesso em 07 de maio de 2020). ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. 3ª ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2016. REZENDE,J. Obstetrícia. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MARTINS-COSTA, SH et al. Rotinas em Obstetrícia. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. DUARTE, Artur Antônio. Fator antinúcleo na dermatologia. A. Bras. Dermatol. Rio de Ja- neiro, v. 80, n. 4, p. 387-394, agosto de 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962005000400010&lng=en&nrm=iso>. acesso em 11 de maio de 2020. 36DOENÇAS NA GESTAÇÃO
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