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Libras - Língua Brasileira de Sinais 6º Aula Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, vocês serão capazes de: • entender as concepções sobre o Intérprete de LIBRAS; • conhecer o contexto histórico onde se constituiu a profissão; • identificar os marcos legais para adoção do interprete educacional; • saber o processo de formação deste profissional no Brasil. A formação do intérprete no Brasil: perfi l e desafi os Através do conteúdo exposto nesta sexta aula, refletiremos sobre a atuação do profissional intérprete de LIBRAS e as implicações no processo de formação destes agentes de intermediação entre comunidade surda e ouvintes. Para além dos espaços escolares, o intérprete de língua de sinais pode atuar em diversas áreas, mas, para isso, necessita de capacitação, o que torna a disponibilidade deste profissional cada vez mais escassa. No contexto escolar, o intérprete de LIBRAS tem definido seu papel junto aos demais educadores/ professores de alunos surdos. Sua presença em sala de aula ainda provoca estranhamentos aos profissionais da educação. Sua formação em nível superior é um desafio; porém estamos no caminho pelo verdadeiro reconhecimento desta categoria. Boa aula! 41 1 – O que e quem é o Intérprete de LIBRAS? 2 – Intérprete Educacional: breve histórico 3 – Formação do Intérprete de LIBRAS e áreas de atuação 4 – História dos Movimentos surdos 5 – Movimentos surdos no Brasil 6 – Mercado de trabalho como alvo dos movimentos surdos Vamos iniciar nossos estudos? Boa leitura! 1 – O que e quem é o intérprete de LIBRAS? Seções de estudo Conceito Intérprete - Pessoa que interpreta de uma língua, língua fonte, para outra, língua alvo, o que foi dito (QUADROS, 2001, p. 7). Intérprete de língua de sinais - Pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais (QUADROS, 2001, p. 7). Disponível em: <http://www.google.com.br/ imgres?q=FORMA%C3%87%C3%83O+E+TRABALHO+DO+ INT%C3%89RPRETE+DE+LIBRAS> Na década de 1980, o intérprete de LIBRAS era aquela pessoa que, por ter familiar surdo ou trabalhar com surdos nas igrejas, tinha conhecimento da língua de sinais e, principalmente, contato com as pessoas surdas. A presença da comunidade surda, cada vez mais evidente nos espaços sociais, demandou uma necessidade por pessoas que pudessem “traduzir a fala” dos surdos em serviços da saúde, instituições públicas, bancos, INSS (nesta época, aposentava-se surdos por invalidez) e nas questões judiciárias. Então, quem era esta pessoa contratada para prestar este tipo de serviço? O “intérprete para surdos”, como ficaram conhecidos primariamente. Estas pessoas eram, geralmente, família, vizinho ou amigo da pessoa surda; muitas vezes, missionário da igreja. Bastava ter o mínimo conhecimento da LIBRAS e disponibilidade para o trabalho. A posição de intérprete passou a ter mais destaque após os eventos realizados pela FENEIS – Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – relacionados às lutas por direitos da comunidade surda no Brasil. A instituição se preocupou em desenvolver programas e cursos para capacitação destes intérpretes que, até então, não possuíam formação específica. Nesta época, ficaram conhecidos como Intérpretes de LIBRAS ou ILS – Intérprete de Língua de Sinais. Como coloca Quadros (2001, p. 13), após a divulgação da língua de sinais e crescimento da comunidade surda brasileira, aumentaram a procura por estes profissionais intérpretes para que o surdo fosse atendido, nos eventos, em sua língua natural, a LIBRAS. Todos os estudos apresentados, juntamente com a luta dos surdos por reconhecimento social, culminaram no reconhecimento da língua de sinais no país, através da Lei 10.436 de 22 de abril de 2002, demandando necessidade de capacitação e profissionalização do intérprete de LIBRAS. Quadros (2001, p. 13-15) traça uma linha do tempo do início do trabalho de interpretação até o reconhecimento da LIBRAS: a) Presença de intérpretes de língua de sinais em trabalhos religiosos iniciados por volta dos anos 80. b) Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profi ssional intérprete. c) Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, também organizado pela FENEIS que promoveu o intercâmbio entre as diferentes experiências dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento interno do Departamento Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação do mesmo. d) De 1993 a 1994, realizaram-se alguns encontros estaduais. e) A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos escritórios regionais da FENEIS. Em 2002, a FENEIS sedia escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófi lo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz no Rio de Janeiro. f) Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br .Também foi aberto um espaço para participação dos intérpretes através de uma lista de discussão via e-mail. Esta lista é aberta para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada através da página dos intérpretes. g) No dia 24 de abril de 2002, foi homologada a lei federal que reconhece a língua brasileira de sinais como língua ofi cial das comunidades surdas brasileiras. Tal lei representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do profi ssional intérprete da língua de sinais no Brasil, bem como, a abertura de várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. A seguir consta a transcrição desta lei: LEI N° 10A36, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1° É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais -Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical 42Libras - Língua Brasileira de Sinais própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3° As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181° da Independência e 114o’da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza Esta lei representou uma conquista inigualável em todo o processo dos movimentos sociais surdos e teve consequências extremamente favoráveis para o reconhecimento do profissional intérprete de língua de sinais no Brasil.Além desta lei, vale destacar as seguintes leis que respaldam a atuação do intérprete de língua de sinais direta ou indiretamente: • Lei 10.098/00 (Lei da acessibilidade) • Lei 10.172/01 (Lei do Plano Nacional de Educação) • Resolução MEC/CNE: 02/2001 (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica) • Portaria 3284/2003 que substituiu a Portaria 1679/99 (acessibilidade à Educação Superior) Como já foi dito no início, a atuação do intérprete nos espaços sociais, neste contexto, era limitado e, somente após o advento da inclusão escolar, a procura por intérpretes de LIBRAS tornou-se destaque no mercado de trabalho. A área educacional é a que mais empregou e, atualmente, é a maior área de atuação dos intérpretes brasileiros. São os Intérpretes Educacionais. 2 – Intérprete educacional: breve histórico e papel profi ssional Conceito O intérprete educacional é aquele que atua como profi ssional intérprete de língua de sinais na educação. É a área de interpretação mais requisitada atualmente (QUADROS, 2001, p. 55). Disponível em: <http://www.google.com.br/ imgres?q=FORMA%C3%87%C3%83O+E+TRABALHO+DO+ INT%C3%89RPRETE+DE+LIBRAS+NA+EDUCA%C3%87%C3%83O>. No Brasil, os alunos surdos têm sido inseridos em classes de ouvintes desde o Ensino Fundamental, em virtude da política de Inclusão. Essa prática permitiu perceber a dificuldade de acesso à Língua Portuguesa enfrentada pelos alunos surdos, bem como as dificuldades dos professores em relação á comunicação com estas crianças (LACERDA, 2009, p. 120). As primeiras experiências de interpretação de LIBRAS para surdos, nos espaços escolares, suscitavam dúvidas em relação à resolutividade deste profissional em sala de aula. Isto porque os primeiros atendimentos ao aluno surdo não era realizado em tempo integral e não acontecia em todas as escolas. O intérprete permanecia, em sala de aula, somente nas aulas mais “difíceis” como Matemática, Português e História (LACERDA, 2009, p. 98). Porém, com a implementação da política educacional inclusiva e as resoluções do Conselho Nacional de Educação – CNE – a presença do intérprete em sala de aula tornou-se necessária para atender o direito linguístico dos alunos surdos, incluídos no ensino regular. A resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2000, aponta para a necessidade de atenção às questões linguísticas dos sujeitos surdos e deixa sugerida a possibilidade de participação de intérpretes educacionais de maneira mais frequente: Art 12. § 2º Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam difi culdades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando- lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profi ssionais especializados em cada caso (CNE/CEB-DOU, 2001, p. 3-4). Neste contexto, a sala de aula passou a ser constituída pelos alunos surdos, alunos ouvintes, o professor regente e o intérprete de LIBRAS ou intérprete educacional. Contudo, as contratações feitas a “toque de caixa” não permitiram a 43 capacitação ideal dos ILS. No decorrer dos trabalhos, alguns problemas e estranhamentos foram identificados no processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos: 1- A falta de comunicação efetiva entre professor – aluno. 2- O não domínio, por parte do ILS, de todos os sinais pertinentes no contexto escolar. 3- Dificuldades do surdo com a língua portuguesa. 4- Dificuldades dos alunos ouvintes e professores em relação à LIBRAS e à diferença. 5- Falta de formação específica, tanto do professor, quanto do ILS. Qual seria o real motivo do possível fracasso do modelo educacional estabelecido para o atendimento ao aluno surdo? Qual o papel do ILS atuante no espaço escolar? Várias reflexões foram feitas sobre a presença do ILS em sala de aula e algumas conclusões foram prontamente aceitas e unânimes: a presença do intérprete educacional, com o uso da LIBRAS, não seria suficiente para atender todas as especificidades do processo de ensino aprendizagem em torno da surdez: [a] presença do intérprete em sala de aula e o uso da língua de sinais não garantem que as condições específicas de surdez sejam contempladas e respeitadas nas atividades pedagógicas (LACERDA, 2009, p. 128). Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, tornou-se impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a permanência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a presença de intérpretes de língua de sinais. Assim, fez-se necessário investir na especialização do intérprete de língua de sinais da área da educação. O intérprete especialista para atuar na área da educação deve ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. Então o intérprete educacional é responsável pela intermediação destes relacionamentos e, também, da informação de conteúdos. No entanto, segundo Quadros (2001, p. 25) as competências e responsabilidades destes profissionais não são tão fáceis de serem determinadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. Com o objetivo de otimizar a atuação do ILS nos espaços escolares, Quadros (2001, p. 57) divulgou, em sua obra, alguns elementos sobre o intérprete educacional que devem ser considerados: • Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta. • Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais. • Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão e preparação das aulas que garantem a qualidade da sua atuação durante as aulas. • As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete. • Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro, olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las. Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvolvimento da aula atravésde perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sempre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor podem ser recursos utilizados em sala de aula. O intérprete educacional tem uma tarefa importante no espaço escolar e seu papel merece ser melhor compreendido e refletidos. Todavia, a responsabilidade do educador não pode recair sobre o intérprete, já que seu papel principal é interpretar. O ILS não pode ser responsabilizado pela aquisição de conhecimentos do aluno. É preciso que a atuação do intérprete se constitua em parceria com o professor, propiciando que cada um cumpra seu papel, com atitudes colaborativas, promovendo melhor condição de aprendizagem para o aluno surdo (LACERDA, 2009, p. 127). Atualmente, cada vez mais, discute-se a necessidade de capacitação de intérpretes para atuar em sala de aula, pois este ambiente se constitui num espaço diferenciado que requer formação e técnica, nem sempre adquiridos somente com a prática. Portanto, a formação detalhada e específica do profissional intérprete para atuar nos espaços escolares, seja do Ensino Fundamental, do Médio ou do Superior, tornou-se urgente e extremamente necessária para otimizar o processo de inclusão de alunos surdos. 44Libras - Língua Brasileira de Sinais A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. No momento em que a língua de sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim, consequentemente, as instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade através do profissional intérprete de língua de sinais. Quando falamos das instituições nos referimos aos Órgãos Públicos, às Escolas Regulares do Ensino Infantil ao Médio e às Universidades. Talvez muitas pessoas se perguntem: Por quê formação específica? O que está realmente embasando estas decisões? Qual a dificuldade em interpretar conteúdos? O fato é que, o ato de interpretar: Envolve um ato COGNITIVO- LINGUÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específi cas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para infl uenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos (QUADROS, 2001, p. 24) Uma das justificativas para a formação do ILS está relacionada à carência de profissionais intérpretes devidamente qualificados. Este problema faz com que os surdos não participem de vários tipos de atividades, não consigam avançar em termos educacionais, fiquem desmotivados a participarem de encontros, reuniões, etc. Outra justificativa é a inexistência de qualificação dos profissionais que atuam como intérpretes de língua de sinais (LACERDA, 2009, p. 127) Considerando a demanda existente pela própria universidade, as pessoas que dominam a língua de sinais acabam assumindo a função de intérprete sem a devida qualificação comprometendo a qualidade da interpretação. Os surdos agradecem o fato de terem intérpretes, mas sofrem com a qualidade da interpretação tendo, muitas vezes, o seu processo de aprendizagem prejudicado. O primeiro dispositivo legal que reconhece o profissional intérprete e sua formação é o Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Em relação à formação do intérprete de LIBRAS, encontramos as seguintes disposições: CAPÍTULO III DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO INSTRUTOR DE LIBRAS Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Letras ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue. § 1º Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngue, referida no caput. § 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 6º A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. § 1º A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. § 2º As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós- graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. § 1º Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. § 2º A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério. 3 – Formação do intérprete de LIBRAS e áreas de atuação 45 Art. 8º O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7o, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1º O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. § 2º A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3º O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de instituições de educação superior. Art. 9º A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério namodalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação: I - para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngue: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua; II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; III - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. Como vimos, o Decreto 5.626/2005 propõe o oferecimento, de cursos superiores para formação de tradutores e intérpretes de Libras e língua portuguesa propondo um prazo para que, as instituições de ensino superior se organizem com vistas à viabilização dessa proposta. Diante da ausência de cursos superiores que proporcionassem a formação desses profissionais, nos deparamos com intérpretes que viveram trajetórias de formação distantes dessas realidades. Para suprir esta necessidade de formação, que não seja em nível superior, há vários órgãos, no Brasil, que viabilizam cursos de LIBRAS e capacitação específica para ILS em todas as áreas de atuação: órgãos públicos, área educacional, área jurídica, serviços de saúde e sociais entre outros. O Ministério da Educação – MEC – em parceria com a FENEIS e a UFSC, implantou, em 2006, o Exame de Certificação Nacional em Língua Brasileira de Sinais, o PROLIBRAS. O exame é dividido nas categorias seguintes: 1 – Proficiência para Uso e Ensino da LIBRAS – Nível Superior. 2 – Proficiência para Uso e Ensino da LIBRAS – Nível Médio. 3 – Proficiência na Interpretação e Tradução da LIBRAS/ Língua Portuguesa/LIBRAS – Nível Superior. 4 - Proficiência na Interpretação e Tradução da LIBRAS/ Língua Portuguesa/LIBRAS – Nível Médio. Porém, através de Portaria Normativa do MEC 20/2010, passa a ser competência do INES, a realização do Exame de Certificação Nacional em Língua Brasileira de Sinais - PROLIBRAS. Os intérpretes fazem as provas de interpretação, tradução e aulas. Tudo é registrado em vídeo na língua portuguesa e em LIBRAS. Após um mês, o resultado é divulgado em edital oficial. O profissional que atingir nota igual a 7.0 será aprovado e receberá seu certificado após os devidos trâmites legais. A FENEIS se manterá como o órgão que avalisará a certificação destes profissionais e fiscalizará a sua atuação. Assim, ter-se-ão profissionais capacitados e certificados para atuar em todas as áreas requisitadas em território nacional. Em 2010, a regulamentação do exercício da profissão de Tradutor e Intérprete de LIBRAS foi uma conquista extremamente importante para a otimização da atuação desses profissionais. Garantia de estabilidade e condições de trabalho, bem como formação específica para cada área de atuação. Conforme a Lei nº 12.139 de 1º de setembro de 2010, publicada no Diário Oficial da União – DOU – de 2 de setembro de 2010, temos a regulamentação da profissão bem como a definição de sua área de atuação relativa á formação. LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da 46Libras - Língua Brasileira de Sinais Língua Portuguesa. Art. 3º (VETADO) Art. 4º A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 5º Até o dia 22 de dezembro de 2015, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;IV - pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. Art. 8º (VETADO) Art. 9º (VETADO) Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. O intérprete de língua de sinais no Brasil é um profissional com uma carreira promissora. Considerando as conquistas em nível legal, o contexto sócio-histórico e o momento político atual, torna-se possível projetar um futuro brilhante para os futuros profissionais desta área. Há vários cursos de capacitação sendo ministrados em diferentes pontos do Brasil. Tais cursos funcionam como cursos de validação, pois são voltados para àqueles profissionais intérpretes empíricos, ou seja, os intérpretes de língua de sinais que atuam sistematicamente sem nenhum tipo de formação formal. Atualmente, o trabalho do intérprete de língua brasileira de sinais (Libras) e língua portuguesa no campo educacional se apresenta como um desafio diante do cumprimento de propostas educacionais inclusivas. Porém, além dos cursos de validação, estão sendo propostos cursos sequenciais, ou seja, cursos de formação em nível superior com duração de dois a quatro anos. Esses cursos prevêem a formação de intérpretes oferecendo disciplinas que contemplam as competências e habilidades em relação às línguas envolvidas, as competências e habilidades técnicas e o domínio de conhecimentos específicos em relação à tradução e interpretação. (QUADROS, 2001, p. 81) Acreditamos que, futuramente, poderemos observar profissionais intérpretes competentes, comprometidos com o serviço, atuando juntamente às comunidades surdas em todos os níveis de exigências e em diferentes áreas de atuação. Brasília, 1º de setembro de 2010; 189o da Independência e 122o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto Fernando Haddad Carlos Lupi Paulo de Tarso Vanucchi 4 – História dos movimentos surdos Um dos principais fatores de encontros entre pessoas surdas sempre foi a Língua de Sinais, através da qual eles encontram oportunidades de compartilhar suas experiências e seus sonhos, e também um espaço de reafirmação da luta pelo direito ao uso dessa língua. Mas as questões discutidas pelos movimentos surdos se ampliaram e são diferentes, conforme suas realidades locais e nacionais e até mesmo mundiais. A primeira coordenação oficial dos movimentos surdos no mundo foi criada em 1951, denominada Federação Mundial de Surdos (Word Federation of the Deaf—WFD), sediada na Finlândia (SOUZA, 1998, p. 41). Entre a maioria das comunidades surdas européias e norte-americanas, principalmente, há uma tradição de festejar o surgimento da comunidade surda a partir do encontro do Abade L’Epèe com duas jovens surdas nas ruas de Paris, em 1760. Na França, os festejos do aniversário de L’Epèe foram, por muito tempo, uma oportunidade de surdos de diferentes regiões compartilharem momentos de reunião, onde realizavam 47 grandes banquetes e festas. Quero convidá-lo a registrar o ano de 1834 como uma das grandes datas da história dos surdos. Com o primeiro banquete comemorando seu nascimento (1834) começa o culto ao Abade L’Epée. Para mim é a data de nascimento da nação surda. É o ano em que pela primeira vez os surdos- mudos se outorgam uma espécie de governo. Isto nunca havia acontecido (MOTTEZ, 1992, p.7). Mas não foram apenas os banquetes os motivadores do surgimento do movimento surdo, principalmente por refletirem a reunião de um pequeno segmento dessa comunidade que eram surdos de famílias ricas e que tiveram oportunidade de escolarização. Ou seja, participavam dessas reuniões apenas uma minoria de surdo pertencentes de uma elite. Widell (1992, p. 21) escreve sobre as fases históricas da cultura surda, mais especificamente, o surgimento de associações de surdos na Dinamarca, no período entre 1866- 1893. No texto desta autora, encontramos várias referências aos objetivos e realizações dessas associações, sendo que, entre ações de lazer, recreação e assistência, também existia a preocupação com o trabalho. A primeira associação de seu país foi formada a partir do encontro de artesãos, motivados por iniciativas que vinham, de igual modo, ocorrendo em outros países. A maioria da comunidade surda consistia de trabalhadores especializados, e era característico do período que o objetivo da associação surda fosse semelhante ao objetivo das associações de trabalhadores. (...) Além disso, pretendiam encontrar emprego para trabalhadores especializados que estivessem desempregados (WIDELL, 1992, p. 21). Apesar da referência aos trabalhadores especializados, os escritos de Widell demonstram, também denunciam, a verdadeira situação dos surdos da época: grande parte desses constituíam-se de mão-de-obra mal escolarizada, facilitando a exploração por parte dos donos das indústrias. Assim, as associações tinham um papel fundamental no treinamento desses surdos e nas negociações para conquistas legais de garantia de educação e trabalho. [...] graças à socialização terciária na associação dos surdos-mudos que a comunidade surda aprendeu a ascender socialmente no emprego. Era na associação que as soluções para problemas como afrontas, sindicatos, operários, etc. eram discutidos (WIDELL, 1992, p. 36). Nesse caminho de garantia dos direitos dos surdos, tanto de acesso à sua língua, à educação, à saúde, ao lazer, como também ao trabalho, as associações de surdos dos diferentes continentes congregam-se na sua Federação Mundial de Surdos (WFD), a qual teve influência decisiva nas recomendações da UNESCO, em 1984, no reconhecimento formal da Língua de Sinais como língua natural das pessoas surdas, garantindo o acesso de crianças surdas a ela o mais precocemente possível. Antes mesmo dessa resolução, a ONU promoveu, em 1981, o Ano Internacional dos Deficientes, no qual discursos sobre a conquista da cidadania por parte desse segmento da população deveriam motivar procedimentos concretos dos governos. A preocupação com o trabalho, tendo uma relação direta com a possibilidade de independência e de autonomia das pessoas com deficiência, ganhou espaço significativo nas ações resultantes desse ano (Klein, 2002, p. 4). As associações de surdos iniciaram campanhas intensas no sentido de propagar os direitos dos cidadãos com deficiência: direitos a atendimentos qualificados, à educação, ao lazer, à profissionalização, ao emprego. As ações reivindicatórias por leis que garantam o acesso ao trabalho são prioridades dessas associações, e isso ocorre de forma intensiva em diferentes países. No Brasil são conquistas desses movimentos a lei de reserva de mercado (Constituição Federal, art. 37º, inciso VIII) e a Instrução Normativa N.º 5 de 30/08/91 do Ministério do Trabalho e da Previdência, que institui o programa de treinamento profissional junto às empresas. Essa Instrução Normativa refere-se ao trabalho para pessoas com deficiência dentro de uma perspectiva de atividades com fins terapêuticos, de reabilitação, que ocorre sob a tutela de entidades que tenham o objetivo de assistir ao deficiente (KLEIN, 2002, p. 4). 5 – Movimentos surdos no Brasil A história dos movimentos surdos começa a ser contada, pela própria comunidade surda, a partir da chegada ao Brasil do professor francês Hernest Huet, surdo e ex-diretor do Instituto de Surdos de Paris. As ações de Huet, segundo os registros encontrados, observamos que a importância da Língua de Sinais, sendo que ela foi sendo divulgada entre a comunidade surda. Entre as décadas de 1920 e 1930, um grupo de surdos do Rio de Janeiro funda a Associação Brasileira de Surdos— Mudos, a fim de lutar pelo direito de serem educados em sua língua natural e também para venceras dificuldades de integração. Essa primeira associação foi desativada devido a várias dificuldades logísticas e orçamentárias. Décadas mais tarde, em 1971, um grupo de surdos de São Paulo retoma a Associação Brasileira, porém, sem êxito novamente. Na década de 1970, profissionais ouvintes ligados ao trabalhos com pessoas surdas, fundam a Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo - FENEIDA. Segundo os relatórios pesquisados, os surdos não sabiam da existência dessa organização, o que ocorreu apenas anos mais tarde. Em 1983, um grupo de surdos organiza uma Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, desenvolvendo um trabalho importante nessa área. O grupo ganha força e legitimidade ao reivindicar, junto à FENEIDA, espaço para seu trabalho, o que foi negado naquele momento. Ao formar uma chapa, o grupo de surdos é vencedor nas eleições para diretoria da entidade, sendo que o primeiro passo foi a reestruturação do Estatuto da entidade, que passou a ser denominada Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Essa mudança foi muito significativa, pois não se referiu apenas a uma troca de nomes, mas a busca de uma nova perspectiva de trabalho e de olhar sobre os surdos (Klein, 2002, p. 5). Para Souza (1998, p. 91): 48Libras - Língua Brasileira de Sinais A apropriação dessa Federação pelos surdos é repleta de signifi cados. Simboliza uma vitória contra os ouvintes que consideravam a eles, surdos, incapazes de opinar e decidir sobre seus próprios assuntos e entre eles, sublinha o papel da linguagem de sinais na educação regular. Desnuda, ainda, uma mudança de perspectiva, ou de representação discursiva, a respeito de si próprios: ao alterarem a denominação “defi cientes auditivos”, impressa na sigla FENEIDA, para “Surdos”, em FENEIS, deixam claro que recusavam o atributo estereotipado que normalmente os ouvintes ainda lhes conferem, isto é, o de serem “defi cientes” Na Assembléia Geral, de 16 de maio de 1987, foi fundada a FENEIS, uma organização nacional, estando presentes representantes de associações de surdos de vários estados brasileiros, legitimando o grupo que assumia a entidade. Os relatos sobre os anos posteriores são marcados por entusiasmo e determinação no sentido de lutar pelo reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais, pelos direitos das crianças, adolescentes e adultos surdos à educação, ao lazer, à cultura, ao trabalho, entre outros (KLEIN, 2002, p. 6). Em suas cidades, as comunidades surdas possuem formas localizadas de organização como as associações e os clubes. Desta maneira, eles procuram se encontrar para compartilhar da língua e de experiências variadas. Observa-se que, suas atividades, na grande maioria, voltam-se ao lazer e ao esporte, havendo em pouquíssimas associações, mobilizações mais políticas, como a oficialização da Língua de Sinais e a garantia da presença de Intérpretes em situações diversas. 6 – Mercado de trabalho como alvo dos movimentos A relação entre trabalho e os movimentos surdos se dá de diferentes formas e em diferentes níveis. Vimos, anteriormente, com Widell (1992), que, na Dinamarca, o início da associação de surdos ocorreu a partir da motivação de surdos trabalhadores que se reuniam em função de seus interesses laborais. Exemplos semelhantes encontramos na Tailândia, onde, em 1982, um Seminário de Treinamento para Surdos artesãos evolui, formando mais tarde, a Associação Nacional dos Surdos na Tailândia - ANST (Wrigley, 1996). Outras associações, mesmo não tendo a motivação inicial ligada às questões do trabalho, no decorrer de sua história vão somando esforços nesse sentido. Encontramos essa preocupação explicitada nos objetivos de entidades representativas dos surdos do Brasil e também de outros países, como exemplifi cados a seguir: (...) Para terminar, escolheu-se três importantes conclusões que passam a ser os objetivos principais da FECOSA (Federação de Surdos da Cataluña/Espanha). 1. Melhorar a situação laboral das pessoas surdas. (grifo meu) 2. Melhorar a situação e qualidade no campo da educação das pessoas surdas. 3. Seguir com o desenvolvimento do ensino e investigação da Língua de Sinais Catalana (INFOSORD, abr. 1995: .3). A mesma atitude é adotada no Brasil: Fundada em 16 de maio de 1987 com sede no Rio de Janeiro, a FENEIS tem como fi nalidade: - Promover e assessorar a educação e a cultura dos indivíduos surdos; - Incentivar o uso dos meios de comunicação social apropriados à pessoa surda, especialmente em LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais; - Incentivar a criação e o desenvolvimento de novas instituições, nos moldes das modernas técnicas de atendimento, visando o diagnóstico, a prevenção. A estimulação precoce, a educação, a profi ssionalização (grifo meu) e a integração da pessoa portadora de surdez; Realizar convênios com entidades públicas e/ou privadas, escolas técnicas, artísticas e artesanais e outras instituições no sentido de promover a profi ssionalização da pessoa surda dentro dos padrões (modernos e atuantes) de efi ciência (grifo meu); (FENEIS, Relatório anual, 1997: 7-8). O Relatório Anual de 1993 na FENEIS explicita, também, que é objetivo da entidade divulgar e informar pais, educadores, autoridades e o público em geral, sobre, entre outras coisas, “a capacidade profissional da pessoa surda e sua completa integração na sociedade como membro participante ativo, com seus direitos e deveres” (FENEIS, 1993: 7). Eventos como seminários, simpósios, encontros já foram organizados pelas federações e associações de surdos com o objetivo de discutir a problemática da profissionalização, ingresso e permanência no mercado de trabalho. Departamentos dentro das entidades são estruturados com o objetivo de coordenar as ações na área do trabalho. Como exemplo podemos citar a FENEIS, em que um setor determinado é responsável pela efetivação de convênios que possibilitam às pessoas surdas ingresso em diferentes postos de trabalho. A FENEIS, através de seu escritório regional do Rio Grande do Sul, promoveu nos anos de 1998 e 2000 as I e II Conferências Estaduais dos Direitos Humanos dos Surdos. Nesses eventos, várias temáticas foram discutidas, sendo que uma delas foi o Trabalho. Interessante registrar as propostas resultantes de uma tarde de discussão entre os participantes do grupo na I Conferência: Propostas do GT: Trabalho: FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL: 1. Assegurar às crianças, adolescentes e adultos surdos educação em todos os níveis, como pressuposto a uma capacitação profi ssional. Possibilitar o ensino noturno para que os surdos possam ingressar no mercado de trabalho. 2. Garantir a participação das entidades representativas e organizadas dos surdos na utilização dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. Tanto na organização quanto na realização de cursos de capacitação profi ssional. Que tais cursos respeitem as capacidades das pessoas surdas e que sejam de qualidade e real qualifi cação. OPORTUNIDADES DE TRABALHO 1. Lutar pela extinção das listas de profi ssão para surdos que acabam atribuindo-lhes incapacidade para certos cargos e limitando-lhes 49 oportunidades de emprego. 2. Promover junto à sociedade em geral e aos empresários em particular, campanhas de esclarecimento sobre a situação dos surdos trabalhadores, no sentido de expandir suas oportunidades de emprego. CONCURSOS PÚBLICOS 1. Garantir o cumprimento da Lei de Reserva de Mercado (10%) em todas as instâncias, procurando respeitar proporcionalidade entre as deficiências. Que os Editais dos Concursos Públicos sejam claros na especificação e comprovação por parte do candidato surdo. 2. Assegurar o direito da presença do Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no decorrer dos Concursos Públicos. NO LOCAL DE TRABALHO 1. Incentivar, nos locais de trabalho, a organização de Cursos de Sinais, com regularidade. 2. Que seja respeitada a qualificação do surdo trabalhador nas funçõesa ele designada (p. ex.: surdo contratado como Programador, que realmente exerça essa função, e não que seja desviado para a função de digitador, e ali permaneça indefinidamente. 3. Que aos surdos trabalhadores seja garantida a ascensão funcional e o acesso aos cursos internos de qualificação e requalificação profissional com a presença de Intérprete da LIBRAS. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 1. Estimular e apoiar diferentes formas de organização de grupos de surdos trabalhadores, por exemplo, a formação de cooperativas, micro- empresas e associações de artesãos (FENEIS, 1998). Neste documento, como em tantas outras produções escritas ou filmadas, podemos encontrar discursos sobre a educação, o trabalho e a surdez dentro dos movimentos surdos. Os campos discursivos Pretendo apresentar, de forma breve, alguns dos discursos presentes nos materiais produzidos e veiculados pela comunidade surda e que vem constituindo sujeitos que tem vivenciam experiências com surdos trabalhadores. A aproximação desses materiais se deu procurando evidenciar como que vão se produzindo efeitos de verdade sobre um sujeito surdo trabalhador, no interior de discursos sobre a surdez, a educação e o trabalho. Ao se analisar as enunciações presentes nestes documentos, é importante permanecermos no plano das coisas ditas, sem entrar numa questão de procurar a verdade ou o erro dos enunciados. Os discursos sobre a surdez se produzem num campo de lutas entre diferentes saberes que procuram se legitimar nas diferentes práticas institucionais. Os sujeitos desses discursos vão se constituindo aí, sem haver a possibilidade de enquadrá-los como sendo realmente de um jeito, e não de outro. Os surdos, quando falam de si, estão dizendo de dentro de campos discursivos onde diferentes saberes então em jogo: não há como procurar aí uma coerência, uma verdade. Entendo que os discursos sobre a surdez e os surdos não se apresentam se forma homogênea. Eles estão inscritos entre diversas formações discursivas, constituídas a partir de diferentes práticas ligadas aos campos da medicina, da pedagogia, da linguística, entre outros. Esses saberes articulam- se através de jogos de poder que devem ser entendidos em sua historicidade. Encontramos diferentes enunciações nos documentos analisados, onde em alguns momentos elas se repetem, algumas se excluem, dentro de um jogo discursivo que não está solto: está ligado a um momento histórico onde diferentes formações discursivas estavam em jogo. O tema comunicação, por exemplo, aparece frequentemente, conjugando-se com outros temas, entre os quais a educação e o trabalho. Repetidamente encontramos enunciações que dizem que o importante é comunicar, não importa como, ou ainda que a chave da educação está na comunicação; surdo sem comunicação, portanto, não teria condições de educação. A necessidade da comunicação perpassa os espaços familiares, da escola e chega também ao local de trabalho, onde ela é apresentada como o principal problema na vida das pessoas surdas. Mas mesmo com dificuldades, diferentes momentos dos vídeos e de alguns panfletos analisados mostram um empenho para que os surdos superem essa situação. A comunicação, em muitos dos materiais pesquisados, é apresentada como estando articulada ao silêncio. O silêncio interfere ou até mesmo impede a comunicação, sendo considerado um problema para as pessoas surdas em seu convívio social. Mas esse problema, segundo alguns dos vídeos e panfletos, pode ser superado, usando-se de qualquer meio. A relação entre surdez e silêncio foi constante durante a realização da pesquisa. Esse é um tema que vem chamando a atenção da comunidade surda. Padden e Humphries (1988) dedicaram um capítulo de seu livro Deaf in America: Voices from a Culture para discutirem a metáfora do silêncio ligada à surdez. Segundo eles, o entendimento de que as pessoas surdas vivem em um mundo sem som, frequente entre as pessoas que ouvem, traz um conhecimento errado em relação às pessoas surdas e sua cultura, uma vez que ligam o silêncio a uma incapacidade de comunicação humana, e até mesmo a uma falha para conhecer o mundo. O silêncio é considerado uma condição da pessoa surda a partir da experiência acústica dos ouvintes. Essas enunciações estão presentes nos movimentos surdos, onde o silêncio é comparado a uma barreira que leva à discriminação e à impossibilidade de comunicação. O silêncio é utilizado com frequência como uma marca da comunidade surda. Padden e Humphries (1988) seguem sua análise sobre essa metáfora trazendo exemplos de vários títulos de livros sobre a vida de pessoas surdas, como também nomes de periódicos e de organizações de surdos nos quais o silêncio é usado como referência. Essa relação entre surdez e silêncio foi encontrada nos materiais pesquisados, sendo uma constante, principalmente nos vídeos. Interessante assinalar que esse termo se apresenta enquanto positividade, apesar de estar relacionado, na maioria das enunciações, a uma falta: a falta do som. Ao se referir ao silêncio, as enunciações feitas pelos movimentos surdos parecem, por vezes, contraditórias: a falta/deficiência que querem superar ou até mesmo negar, é reafirmada como algo bom e que deve ser aproveitado. O silêncio, quando relacionado ao mercado de 50Libras - Língua Brasileira de Sinais trabalho, é associado com eficiência e competência - silêncio correspondendo ao não falar e à possibilidade de uma maior concentração e produtividade. O próprio título de um dos vídeos, O silêncio que comunica e produz, faz essa relação, trazendo o silêncio como uma marca das pessoas surdas. Encontramos também a predominância de discursos ligados ao campo da medicina, sendo que eles têm influenciado significativamente a vida dos surdos, que passaram a se narrar dentro desses discursos. Padden (1993) critica a predominância de materiais descritivos sobre as pessoas surdas centrados em torno da condição de não ouvir ou ouvir parcialmente. Essas descrições levam a uma interpretação das pessoas surdas como fundamentalmente deficientes e patológicas. Segundo a autora, isso tem influenciado estudantes da comunidade surda, por exemplo, a descreverem-se a partir do enfraquecimento auditivo e a classificar as demais pessoas surdas em função dos graus de enfraquecimento. A autora ainda argumenta que, os outros fatos de suas vidas social e cultural são entendidos como consequências dessas classificações. A hegemonia de discursos ligando a surdez à questão médica pode ser registrada desde a segunda metade do século passado e persiste até os dias atuais, fazendo predominar uma abordagem clínico—terapêutica. A escola, por exemplo, atravessada por essa perspectiva, para além do espaço pedagógico, ao longo de sua história foi consolidando uma proposta clínica de atendimento aos alunos surdos. O modelo clínico/médico da surdez, segundo Wrigley (1996), legitima práticas que vêm, ao longo da história reforçando, como também criando uma realidade para as pessoas surdas dentro de uma concepção de patologia: elas são pessoas defeituosas, e necessitam de ações normalizadoras e reabilitadoras. Assim, segundo esse autor, a surdez diz respeito a um corpo vigiado, onde alteridade e diferença são negados, dentro de um projeto de superação da mesma. Souza (1998, p. 163) também contribui com essa discussão afirmando que “Todos esses procedimentos corretivos acabam por reduzir o sujeito a corpo biológico, o corpo a uma máquina deficiente e, num último ato, o sujeito a deficiente”. Nos materiais pesquisados encontramos referência a uma possibilidade de superação desse corpo deficiente através da prática profissional: a superação da deficiência e de atitudes a ela vinculadas é apontada como possível e desejável através do desenvolvimento de programas de Informação e Orientação Profissional. A força dos discursos médicos muitas vezes é reafirmada através da divulgação de dados estatísticos ligandoa surdez a uma questão de saúde pública. A citação de dados de pesquisa científica e de pareceres de órgãos internacionais dá legitimidade ao que está sendo dito. Quem é convidado a apresentar os dados das pesquisas científicas, na maioria das vezes, é o profissional da área da saúde. A palavra do especialista passa a ser usada pelo próprio sujeito para se designar. Ao produzir material de divulgação, ao elaborar um artigo, ao participar de uma reportagem em que são descritos quem e como são os surdos, os movimentos surdos estão narrando a si mesmos. E, como podemos ver através do material pesquisado, em muitos destes materiais, o discurso médico da deficiência apresenta-se de forma significativa no movimento surdo. Além das enunciações ligando a surdez às questões de saúde/reabilitação, aos problemas de comunicação e ao silêncio, encontramos outras regularidades discursivas nos materiais pesquisados. Nos vídeos analisados, por exemplo, são apresentadas várias cenas de surdos em situação de trabalho. São imagens que evidenciam um certo tipo de trabalhador. Essas cenas, inseridas num campo discursivo onde frequentemente aparecem listas de “funções que os surdos podem desempenhar” (FGTAS/SINE, 1995/1996) acabam por naturalizar determinadas atividades profissionais aos surdos. Resultado disso são os constantes projetos de formação profissional de escolas e associações nas áreas de marcenaria, serigrafia e informática, alegando que os surdos são por natureza atenciosos, pois não se distraem com o barulho e a conversa. Ao tratar da questão do relacionamento do surdo na sociedade, há uma tentativa de superar uma visão de benevolência em relação aos surdos, procurando trazer a questão do respeito as diferenças. Mas encontramos, também, referência ao espírito de benevolência e idealismo, discursos que por muito tempo atravessaram os projetos de educação de surdos e que ainda hoje encontram seu espaço entre muitos segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo, há enunciações que remetem a uma relação onde qualquer coisa vale desde que haja boa vontade e criatividade. Em todos os vídeos analisados há, ao final, uma mensagem de positividade, de possibilidade de atingir objetivos de entendimento, de direitos conquistados. São chamadas que evocam o respeito às diferenças, convidam todos ao trabalho, não havendo dúvidas do êxito nos resultados. Há paz, harmonia, entendimento Encontramos ainda muito de acomodação e dependência às narrativas ligadas a uma história tradicional dos surdos que vem legitimar uma concepção que se queria negar. Os discursos sobre a surdez e o trabalho vêm atravessando os vários espaços da vida das pessoas surdas, colocando determinadas características e atributos como sendo próprios da surdez. Wrigley (1996) nos ajuda a desestabilizar essa identidade surda essencial quando argumenta que a identidade é uma conquista numa troca de economias discursivas, porém onde vamos reconhecendo nossas diferenças como sendo naturais. As diferenças, todavia, são construídas socialmente através de táticas que nos levam a reconhecer as identidades disponíveis e aceitáveis. Vale a pena QUADROS, Ronice Müller de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília : MEC/SEESP, 2004. 94 p. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf Letramento e Minorias/ Organizadores: Ana Cláudia B. Lodi, Vale a pena ler
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