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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Professores: Dr. Luís Miguel Luzio dos Santos Dr. Ludovico Omar Bernardi DIREÇÃO NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SANTOS, Luís Miguel Luzio dos; BERNARDI, Ludovico Omar. Planejamento Estratégico e Participação. Luís Miguel Luzio dos Santos; Ludovico Omar Bernardi. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 43 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Estratégico 2. Participação 3. EaD. I. Título. ISBN: 978-85-459-1900-1 CDD - 22 ed. 650 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Rossana Costa Giani Editoração Flávia Thaís Pedroso Ilustração Rodrigo Barbosa Qualidade Textual Monique Coloni Boer Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi 01 02 03 04 sumário 06| PENSAMENTO ESTRATÉGICO 19| A PERSPECTIVA SISTÊMICA E O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 26| PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E PARTICIPAÇÃO 12| O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a racionalidade que envolve o pensamento estratégico. • Apresentar a origem e as diferentes escolas da estratégia. • Definir o conceito de planejamento, de estratégia e de planejamento estratégico. • Discutir a importância da participação para um planejamento estratégico potencializado. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Pensamento estratégico • Planejamento estratégico • A perspectiva sistêmica e o planejamento estratégico • Planejamento estratégico e participação PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO INTRODUÇÃO introdução Iniciaremos esta trajetória pela estratégia por meio do planejamento. Do mesmo modo que em nossas vidas nossas ações precisam ser pensadas, em uma empresa não é diferente. Você entraria em um avião se soubesse que o piloto não preparou o plano de voo ou não calculou o combustível a ser gasto? Uma empresa se assemelha muito a uma aeronave, pois, antes do voo, ela precisa saber onde deseja chegar, quais os passos ou por quais trajetos optará ao longo da viagem, afinal, não basta decolar bem, é necessário aterrissar em segurança e repetir o sucesso a cada novo voo. Cremos que já quebramos aqui o primeiro mito: a inexistência da sorte. Como dizia, certa vez, um professor de planejamento estratégico: quem planeja, tem futuro, quem não planeja, tem destino e estará fadado a cantarolar “deixe a vida me levar, vida leva eu...” Pois bem, nesta primeira unidade lhe apresentaremos o pensamento estratégico, a forma específica que envolve o raciocínio estratégico e os potenciais de ação. Em seguida, as diferentes correntes da estratégia, com ênfase no planejamento. Nessa empreitada, você terá contato com os principais conceitos inerentes à temática – planejamento e estratégia (origem e evolução, ligada, a priori, ao universo militar). Nesse sentido, nosso objetivo é trazer-lhe o paradigma que dá sustentação ao planejamento estratégico, o qual não é responsabilidade de um único ator, mas da construção de muitas mãos, tal qual o plano de voo de nossa aeronave. Não é apenas o trabalho do piloto em terra que garantirá o sucesso, mas da equipe da mecânica, dos comissários, do staff de todos do check-in, do time do embarque, da turma da limpeza etc. Por conseguinte, a abordagem aqui exposta aproxima o planejamento estratégico da gestão participativa, o que lhe concede caráter sinérgico, que tende a potencializar as ações empreendidas pela organização, além de criar um ambiente interno coeso, integrado e particularmente motivador, como sugere a administração contemporânea. Pós-Universo 6 Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado. Provérbio Chinês reflita Caro (a) aluno (a), quando falamos de estratégia, preferimos reforçar que não se trata de apenas mais uma ferramenta administrativa, mas, antes de tudo, de outra forma de pensar as organizações e o seu entorno. Assim, um dos conceitos mais difundidos dentro da moderna administração é seu entendimento do principal plano de desenvolvimento de uma empresa. Inicia-se por um conhecimento minucioso sobre os diferentes ambientes que circundam a organização e que estão em contínuo processo de transformação, além do diagnóstico das condições internas, com suas potencialidades e debilidades. Após essa primeira etapa, são definidos os objetivos gerais da organização e se desenham as ações mais apropriadas para alcançá-los, considerando-se sempre a contingência imposta pelos ambientes. Pensamento Estratégico Pós-Universo 7 Assim como tudo, a estratégia organizacional evolui continuamente. De início, era definida exclusivamente pela diretoria ou mesmo pela presidência da empresa de forma autocrática, imposta de cima para baixo, porém, hoje em dia, em virtude da complexidade do mundo e dos avanços na compreensão das organizações, substituindo-se a visão mecanicista pela organicista, a definição da estratégia se torna uma atividade cada vez mais coletiva e participativa, em que representantes de todos os departamentos e níveis hierárquicos são convidados a dar a sua contribuição para ampliar e enriquecer a compreensão da realidade, além do que esse envolvimento contribui para níveis superiores de motivação e comprometimento mútuo (GANDIN, 2001). Costumamos fazer uma analogia entre a estratégia e a posição assumida por cada um em relação à própria vida. Temos, basicamente, dois comportamentos possíveis diante da existência: a primeira é deixarmos os acontecimentos serem processados e, simplesmente, reagirmos diante do que é possível no momento, vivendo o dia a dia. A segunda, que se encaixa na perspectiva estratégica, procura monitorar os possíveis acontecimentos e a criação de mecanismos de defesa, de ataque e de estabelecimento de prioridades, de forma a antecipar-se aos problemas. Nessa segunda linha, trata-se, pois, do fim do destino, da sorte, do empírico e do mitológico, frente à análise das possibilidades e variantes com as quais podemos contar e sobre elas decidir. É sabido que as contingências que interferem no nosso cotidiano são infinitas e que muitas delas são impossíveis de serem monitoradas com a precisão desejada, pertencendo ao que chamamos de acaso. Porém, quanto mais ampla e profunda for a análise e mais consistente o levantamento e a sistematização de informações, maior será a confiabilidade e a assertividade na tomada de decisão. Mesmo diante do imprevisível, pode-se reduzir consideravelmente o acaso e, até para este, existem mecanismos de adequação aptos a trabalhar em ambientes turbulentos e especialmente instáveis. A perspectiva estratégica se empenha em definir os rumos em direção ao futuro e garantir blindagem contra o imprevisível. Em relação à instabilidade que povoa o mundo contemporâneo, as empresas passam por profundas transformações para atingirem o desenvolvimento em meio ao contexto dominado pela inconstância e pela turbulência. Boa parte da história corporativa foi construídaem torno de modelos maquinais, ou seja, organizações que, diante de ambientes estáveis e previsíveis, concebiam suas estruturas como se fossem máquinas, nos quais a previsibilidade, a precisão e o determinismo garantiam o seu desenvolvimento. Pós-Universo 8 Hoje, tudo mudou. As transformações ocorrem em um ritmo cada vez mais acelerado e de forma imprevisível. O mundo alargou suas fronteiras e ampliou sua conectividade, o que contribuiu para revoluções tecnológicas sem igual, impulsionando a força dos mercados. Nesse novo cenário, os modelos estáticos do passado não conseguem mais atender às contingências, obrigando a adoção de paradigmas mais complexos e orgânicos, em que a chave está centrada na capacidade de adaptação e na rapidez de resposta diante de ambientes turbulentos e imprevisíveis. É preciso, pois, considerar que o universo da comunicação do “um para todos” ruiu, e que vivemos no século 21, no qual o modelo do “todos para todos” vigora. Logo, a informação e o protagonismo estão a apenas um click de nossas mãos. Como você já deve ter percebido, para ser um estrategista é preciso entender os sinais apresentados pelos ambientes e decodificá-los para a realidade da empresa, o que lhe permitirá desenvolver um plano de ação mais adequado às circunstâncias vivenciadas e, simultaneamente, ser ousado para projetar e impulsionar a organização rumo ao futuro, sem afastar-se do factível e do contingente. O plano estratégico deve sintonizar com a realidade presente, considerando recursos disponíveis, forças e fraquezas internas, e, ao mesmo tempo, compreendendo as tendências que se desenham para o futuro, com vistas a preparar-se consistentemente, a fim de aproveitá-las. É importante termos clareza de que estratégia não deve ser confundida com planejamento estratégico. A grosso modo, podemos dizer que estratégia consiste na preocupação de como atingiremos determinado objetivo, ao passo que o planejamento nos responderá quando o atingiremos. Por conseguinte, a estratégia é mais abrangente e pode ser entendida de diferentes formas, conforme apresentado no quadro abaixo, com o título “As escolas da estratégia”, sendo que, entre as distintas possibilidades, a mais tradicional é a escola do Planejamento Estratégico, foco deste livro. Outras perspectivas estratégicas que devem ser consideradas e merecem ser exploradas com a devida atenção podem ser compreendidas de forma didática, por meio da sistematização elaborada por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, no livro Safári da Estratégia (2005), as quais serão resumidas a seguir: Pós-Universo 9 Quadro 1 – As escolas da estratégia Escolas Prescritivas – “como deve ser” A Escola do Design A estratégia é vista como um processo de concepção, em que se procura alinhar as forças e as fraquezas internas com as ameaças e as oportunidades externas de seu ambiente (matriz SWOT). A Escola de Planejamento A estratégia é definida como um processo formal, um plano es- truturado, sistematizado em etapas, usa a matriz SWOT e define objetivos e ações apropriadas para atingi-los. Leva em conta as características internas e a necessidade de adaptação ao am- biente externo (Ansoff ). A Escola de Posicionamento Essa escola adota a perspectiva do posicionamento, ou seja, a ne- cessidade de definir uma vantagem competitiva que a justifique e se sustente no mercado, considerando os ambientes externo e interno da empresa (Michael Porter). Escolas Descritivas – “como é” A Escola Empreendedora Trata-se de um processo visionário – estratégia como perspecti- va –, em que se busca entender a estratégia dentro de uma busca contínua por inovação e perceber as necessidades do mercado, procurando ocupar espaços não atendidos ou subentendidos. Centra-se no líder empreendedor (Schumpeter). A Escola Cognitiva Essa escola estuda a construção mental que dá origem às es- tratégias. Procura entender como os indivíduos processam as informações para tomar decisões, os processos mentais e suas estruturas. A Escola do Aprendizado A estratégia é vista como um processo de aprendizado, em que se agrega valor por meio do conhecimento acumulado e refleti- do; natureza incremental em vez de grandes estratégias genéricas (Quinn, Senge, Hamel e Prahalad). A Escola do Poder Entende a estratégia como um processo permanente de nego- ciação e jogos de poder, em que envolve barganha, persuasão e confrontação entre os atores internos e externos. A Escola Cultural Compreende a estratégia como um processo de construção co- letiva, que se constrói por meio das relações, buscando encontrar interesses comuns e integração dentro da organização. Parte das crenças internas da organização. A Escola Ambiental A estratégia é vista como processo reativo; provém da teoria da contingência; quanto mais estável o ambiente externo, mais for- malizada a estrutura interna. Prefere a resposta ao meio, em vez de planos prévios. Pós-Universo 10 Integração das diferentes Escolas em diferentes momentos A Escola da Configuração Integração das várias escolas, iniciando-se pela Escola Empreendedora, para, numa segunda fase, adotar a escola do planejamento. Uma configuração diferente para cada período, realidade ou situação. Fonte: adaptado de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2005). Nenhuma estratégia deve ser totalmente deliberada, ou seja, arquitetada e programada por meio de um plano estático, mas também não se pode limitar sua organização a um mero processo de adaptação contingencial. A estratégia deliberada, quando muito rígida, tende a obstaculizar o aprendizado e a adaptação ao ambiente, ao passo que a estratégia emergente tende a gerar perda de controle. Dependendo do segmento de atividade, são necessárias respostas mais rápidas e planos mais flexíveis, como é comum em setores de elevada turbulência, como o de telefonia celular, de educação, de saúde e de alta tecnologia em geral, em que as inovações são quase diárias e, a concorrência, difícil de monitorar. Em outra perspectiva, em setores mais estáveis, como o de cimentos, o planejamento continua a ser projetado considerando-se períodos mais longos. Todavia, uma coisa parece certa: o longo prazo dos planos estratégicos é encurtado paulatinamente, e as análises e as projeções passam a ter que incorporar a imprevisibilidade e as incertezas de um mundo cada vez mais instável e em reconstrução. Alguns exemplos que ocorreram nos últimos anos e que refletem a profunda mudança dos mercados, colocando em xeque a capacidade de resposta das organizações, são: 1. O mercado de locadoras de vídeo: há mais ou menos 20 anos, era um dos mais pujantes ramos de atividade na área de entretenimento. Encontrava-se uma locadora em cada esquina. Entretanto, mudanças profundas ocorreram nos anos seguintes e, hoje, tornou-se um setor extinto. Primeiramente, sofreram com a invasão da pirataria, que reduziu drasticamente a força do mercado formal, depois, houve a troca da mídia, e o velho videocassete deu espaço ao DVD. E, mais recentemente, houve a entrada da tecnologia streaming (Netflix, Youtube, entre outras plataformas), que ameaça não só as locadoras, mas também as mídias tradicionais. fatos e dados Pós-Universo 11 2. O mercado de venda de discos e seus derivados: há, também, mais ou menos 20 anos, não só se tratava de uma atividade altamente lucrativa, como também proporcionava verdadeiras fortunas na mídia tradicional. Hoje, no entanto, a alguns touchs em nossos smartphones está o Spotify, que nos permite buscar por faixas, artistas, álbuns, criar playlists e, depois, compartilhá-las com nossos amigos. Fonte: Bernardi (2015). Não é fácil percebermos que a turbulência e a instabilidade são marcas do nosso tempo e obrigam a um aperfeiçoamento das ferramentas estratégicas, que precisam de mais informações e análises aprimoradas. O planejamento estratégico não se limita, portanto, ao desenho do plano formal, mas setrata de outra forma de pensar que incorpora uma racionalidade sistêmica, em que a realidade é entendida a partir das conexões e das relações que se estabelecem com os elementos componentes do ambiente. Para ser, de fato, eficiente e agir por meio da perspectiva estratégica, é necessário deixar de lado o que for irrelevante e colocar-se totalmente à deriva das contingências. Ainda que os imprevistos sejam inevitáveis, a resposta a eles depende da qualidade do monitoramento e da decodificação apropriada dos seus sinais (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2005). Retomando nossa metáfora do comandante e o decolar de nossa aeronave, em uma organização tudo é passível de previsão, logo, de coordenação e de execução de ações planejadas, sempre tendo em vista onde queremos chegar. Afinal, o comando estará em nossas mãos, bem como a responsabilidade de integração das equipes, já que, sozinhos, não iremos a lugar algum. Pós-Universo 12 Boa sorte é o que acontece quando a oportunidade encontra o planejamento. Thomas Edison reflita Caro (a) aluno (a), você pôde perceber que tratamos, até aqui, do pensar estratégico, uma visão ampliada da realidade e que se propõe a projetar apropriadamente a organização rumo ao futuro. Passaremos agora a abordar o planejamento estratégico no que tange ao contexto organizacional. Explicaremos o que é planejar, o que é estratégia e, por último, a inter-relação dos conceitos que dão origem ao planejamento estratégico. O Planejamento Estratégico Pós-Universo 13 O que é Planejar? Planejar significa escolher uma direção e alocar os recursos apropriados para alcançar os objetivos desejados. Numa outra dimensão, pode significar manter-se em prontidão, ou seja, assegurar pleno conhecimento do ambiente que circunda a empresa e possuir mecanismos de adaptação apropriados às contingências do mercado. Podemos dizer que planejamento é o processo formalizado para gerar resultados a partir de um sistema integrado de decisões, amparadas em informações que ajudam a antever o cenário que se projeta para o amanhã. Assim, planejar consiste no oposto de improvisar. Enquanto o primeiro consiste em elaborar um plano para elaborar algo ou mesmo criar um esquema para agir preventivamente em relação ao ambiente, o segundo improvisa diante das contingências, o que dificilmente consegue garantir-lhe vida longa. Essa é a grande questão do planejamento formal: evitar surpresas desagradáveis, já que, ao cercar-se de informações e desenhar potenciais cenários de futuro, reduz as fragilidades diante das mudanças e das intempéries dos mercados (OLIVEIRA, 2007). O planejamento, de forma geral, pode ser dividido em três níveis: • Planejamento estratégico – define objetivos para toda a organização, baseia-se numa análise do ambiente geral e é estabelecido ou coordenado pela alta administração. • Planejamento tático – parte dos objetivos estratégicos e desmembra- os em objetivos específicos para cada uma das áreas da empresa, sendo, geralmente, de responsabilidade dos gerentes. • Planejamento operacional – definição das atividades rotineiras, busca eficiência operacional e está mais ligado aos níveis operacionais da organização. Pós-Universo 14 O que é Estratégia? A palavra estratégia vem do grego stratègós, onde stratos significa “exército” e ago, “liderança”, aproximando-se do termo “a arte de governar ou liderar o exército”. Nesse sentido, a estratégia está ligada ao universo militar, em que a preocupação central tem como alvo a melhor forma de enfrentamento do inimigo ou o alcance de metas previamente definidas. Você já deve ter percebido que o conceito original de estratégia avançou ao longo da história e é cada vez mais sinônimo de ações dentro do universo empresarial. O foco é direcionado agora ao atendimento eficiente do consumidor, porém, considerando que os concorrentes têm objetivos semelhantes, obriga que sejam definidas vantagens sustentáveis, capazes de justificar e assegurar a permanência e a expansão da organização no mercado. Existem vários conceitos para estratégia, aqui, no entanto, optamos por lhe apresentar um deles, referenciado por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2005), para os quais: estratégia trata-se da forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados. Conforme já abordado, a estratégia tem sua origem no universo militar, e isso pode ser evidenciado em alguns princípios definidos pelo general prussiano Karl Von Clausewitz, considerado um dos maiores estrategistas militares de toda a história da humanidade, e que formalizou o seu pensamento no livro On War, de 1832. O militar, por sua vez, descreve as estratégias fundamentais que dão suporte aos principais confrontos da história e, com as devidas adaptações, podem ser aplicadas também no universo empresarial. Algumas das teses defendidas por Clausewitz (1996): I - Princípios Defensivos de Guerra a. Somente o líder pode atuar na defesa. b. A melhor estratégia defensiva é a sua coragem para atacar. c. Os fortes movimentos competitivos devem ser sempre bloqueados logo no início. Pós-Universo 15 II - Princípios Ofensivos a. A principal referência é a força da posição do líder. b. Encontre um ponto fraco no líder e ataque esse ponto (foco). c. Lance o ataque sobre a frente mais estreita possível (potencializando as energias). O maior número de soldados deve ser posto em ação no ponto decisivo. III - Princípios do Flanqueamento a. Um bom movimento de flanquear deve ser feito sempre em uma área em competição. b. A surpresa tática deve ser um elemento importante no plano. c. O acompanhamento é tão crítico quanto o próprio ataque. IV - Princípios de Guerrilha a. Encontre um segmento suficientemente pequeno para ser defendido. b. Independente do seu sucesso na guerrilha, nunca atue como o líder. c. Esteja preparado para recuar no momento certo. Como você deve ter percebido, as estratégias descritas por Clausewitz são focadas no oponente e o universo empresarial tem na estratégia não só uma forma de lidar com a concorrência, mas com o mercado como um todo, o que inclui, além dos concorrentes, os consumidores, os influenciadores econômicos, sociais, culturais, demográficos, políticos, entre muitos outros. Para ilustrar os conteúdos discutidos acima, o filme Tróia, apresentado adiante como Material Complementar, trabalha de forma interessante e atrativa a importância da estratégia enquanto mecanismo para driblar adversidades e alcançar objetivos, sejam eles na guerra, na empresa, ou até mesmo na vida pessoal de cada um. Pós-Universo 16 O que é Planejamento Estratégico? Já vimos o que é planejar e o que é estratégia. Ao unirmos os conceitos, temos o planejamento estratégico (PE), que pode ser entendido como uma técnica administrativa, que procura ordenar ideias com a finalidade de definir uma referência a ser perseguida, considerando o monitoramento e a análise dos ambientes que cerceiam a organização e que a influenciam direta ou indiretamente. Com essas informações, e levando em conta os recursos disponíveis pela empresa, garante-se condições para definir as ações que melhor podem alcançar os objetivos propostos. O planejamento estratégico compreende um processo que consiste na análise sistemática das ameaças e oportunidades apresentadas pelo ambiente externo à organização, e os pontos fortes (competências da organização) e fracos (debilidades da organização), o que possibilitará a definição de objetivos que projetam a empresa para o futuro e o desenvolvimento das estratégias mais apropriadas com essa realidade. No que se refere à visão, ao foco e à realização, vamos à metáfora mais óbvia: a fotografia. Quando decidimos retratar uma imagem, é porque aquela visão tem sentido especial para a nós. Diante do quadro que vemos, buscamos deixar a visão mais clara,bem ajustada, para que, quando clicarmos, a realização reflita com fidelidade a visão que tivemos. Perceba que aí temos vários desafios: 1. Ter a sensibilidade de ver a imagem a ser retratada. 2. Ter a habilidade de ajustar o foco. 3. Realizar de acordo com o que visualizamos. No mundo dos negócios funciona da mesma forma. Dizemos que um executivo ou um empreendedor tem visão quando enxerga antes de seus concorrentes as oportunidades do mercado. O segredo para desenvolver essa habilidade é trabalho, pois para adquirir percepção de algo que está por vir é preciso estar muito envolvido, informado e motivado para perceber o que as pessoas desejam e o que pode ou não funcionar para o seu projeto. Fonte: adaptado de Construindo uma vida: trajetória profissional, negócios e O Aprendiz, com Roberto Justus e Sérgio Augusto de Andrade (2006). saiba mais Pós-Universo 17 De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2005), uma estratégia bem formulada permite ordenar e alocar recursos organizacionais, com vistas a garantir uma posição superior no mercado, considerando suas competências e vantagens competitivas e, ao mesmo tempo, tendo consciência de suas debilidades diante de um ambiente em mutação, tanto antecipando ações de proteção quanto aproveitando os sinais rumo ao futuro. Toda a empresa deve direcionar os seus esforços para os seus consumidores, sejam atuais ou potenciais, e não ter como foco principal o lucro, o qual deve ser consequência de um trabalho bem executado junto a seu público. Além da atenção em relação aos consumidores, não se pode negligenciar as ações dos concorrentes, monitorando-os continuamente e centrando forças nos espaços inexplorados ou subexplorados por eles. Em casos extremos, como de mercados saturados (telefonia, internet, companhias aéreas, indústria automobilística etc.), pode-se optar por confrontos diretos, mas isso só deverá ser levado adiante caso haja recursos disponíveis, vultosos, e se possuam vigorosas vantagens competitivas. Importante, porém, nesses segmentos, levar-se em consideração que certamente o contra-ataque ocorrerá (GAJ, L. 1990). Você já deve ter ouvido falar ou até mesmo presenciado, na prática, que o planejamento estratégico é, geralmente, atribuído ao nível de decisão mais elevado da organização, o que engloba a presidência e/ou a diretoria. Todavia, é cada vez mais frequente e recomendável que esse plano seja participativo, envolvendo diferentes níveis e funções dentro da empresa. Deve-se considerar que todos os membros da organização têm informações e pontos de vista privilegiados, os quais devem ser incluídos no planejamento de forma abrangente, capaz de integrar todos em um projeto comum. Desdobramentos dessa integração: maior comprometimento das equipes, motivação, além de conseguir potencializar o alcance dos objetivos organizacionais, já que passarão, naturalmente, a ser de domínio de todos os colaboradores. Como forma de ilustrar os conteúdos discutidos, sugiro que você assista ao filme Onze Homens e um Segredo, que se encontra na seção Material Complementar e que evidencia, em seu enredo, a importância de uma equipe multidisciplinar integrada e comprometida com os objetivos pré-estabelecidos. Pós-Universo 18 Trabalho em equipe é fundamental para o funcionamento e desenvolvimento de qualquer organização. Mas qual é a receita de times bem-sucedidos? Uma boa maneira de aumentar a longevidade dos colaboradores é trocar os papéis dos membros de um grupo, proporcionando a descoberta de outras facetas de cada um. O Google, por exemplo, para auxiliar os funcionários a desenvolver novas habilidades, encoraja-os a mudar de posição por três meses a um ano. Mesmo quando eles preferem voltar para os cargos anteriores, regressam com mais conhecimento sobre a empresa e experiências para compartilhar com os colegas da antiga equipe. Em síntese, para as empresas que querem construir equipes duradouras, vale a implantação de atividades que incentivem a confiança, a comunicação e a interdependência entre os membros do grupo. Fonte: adaptado de Messina e Baer (2016). fatos e dados Pós-Universo 19 Ficou claro até aqui, que o planejamento estratégico deve ser pensado dentro de uma racionalidade sistêmica, holística e integrativa, definindo por sistema o conjunto de elementos interdependentes, que interagem com objetivos comuns formando um todo, em que cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema, cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente. Para facilitar sua compreensão, imagine o funcionamento de um relógio de pulso. O primeiro ponto: muito embora você tenha a visão plena dos ponteiros (minutos e segundos), em sua bela tela, não há como negar que, por trás dela, há a engrenagem, que lhes dá sustentação e funcionamento. Ademais, essa engrenagem precisa, com todos os seus componentes, estar regulada e preparada para seguir em apenas uma direção. Já pensou como seria se os ponteiros dos segundos ou mesmo das horas se movimentassem em sentido anti-horário? Pois bem, também há a pulseira, o fecho, todo o acabamento, o cristal etc. Todos se revelam, na verdade, componentes de um sistema que foi arquitetado e preparado para não funcionar de maneira independente, mas uníssonos, para que consigamos ver as horas precisamente. Afinal, “relógio que atrasa não adianta”, literalmente! A Perspectiva Sistêmica e o Planejamento Estratégico Pós-Universo 20 Ainda conforme a teoria dos sistemas, a realidade não pode ser depreendida por meio de uma simples compreensão das partes isoladas, mas entendendo que as conexões são estabelecidas por meio de uma rede complexa, em que os elementos interagem continuamente num processo orgânico que se auto-organiza. O automóvel pode ser um exemplo, pois não pode ser reduzido à mera soma de quatro rodas, um chassi, um motor e mais um grupo de equipamentos complementares. Na realidade, o que o faz ser o que é e lhe dá propósito e identidade é a forma como os diferentes elementos são agrupados, como são estabelecidas as conexões num todo funcional. A Teoria dos Sistemas foi inicialmente desenvolvida pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy nos anos de 1950, que apresentou uma visão oposta à perspectiva dominante, fundamentada em Descartes e em Newton, que buscavam encontrar regularidades em todos os fenômenos, pela visão mecanicista, com segmentação das partes na menor unidade possível, capaz de assegurar a especialização necessária à sua compreensão minuciosa. A perspectiva cartesiana-newtoniana apoiava-se na separação das partes para entender o todo, o que conduziu à simplificação da realidade pela lógica linear, do tipo causa e efeito. A Teoria Mecânica Clássica, por sua vez, quase absoluta no pensamento científico até boa parte do século XX, buscava compreender a realidade enquanto sistema fechado, estável, previsível e controlável, desprezando a influência do meio para o comportamento dos fenômenos, fossem eles naturais ou sociais (CAPRA, 2002). Como resposta à fragmentação do conhecimento, às hiperespecialidades e à suposta precisão e controle, surgiu o pensamento dos sistemas complexos, que acolheu a imprevisibilidade, as relações caóticas e a não linearidade, além de incorporar a subjetividade e a dimensão qualitativa, desprezadas até então. A visão complexa se diferencia também pelo seu empenho em incorporar e em integrar saberes diferentes num processo interdisciplinar, multidisciplinar e até transdisciplinar, que abarca o senso comum, as artes, os valores e as tradições espirituais. Pós-Universo 21 A Teoria dos Sistemas, ainda que tenha tido sua origem ligada à biologia e às ciências da vida, ultrapassou esses domínios e passou para o campo das ciências sociais e humanas com expressivo impacto. Entende-se, hoje, que a realidade socialsó consegue ser compreendida de fato entendendo a trajetória histórica de um determinado fenômeno e as inter-relações que se estabelecem entre seus elementos (CAPRA, 2002). Diferentemente da Ciência Clássica, que tinha a máquina como metáfora de funcionamento, o pensamento sistêmico se apoia no organismo vivo, ou seja, estruturas complexas conectadas com o ambiente em que estão inseridas, influenciando-o e por ele sendo influenciadas num processo de retroalimentação contínuo. Por conseguinte, sempre que um sistema consegue funcionar de forma eficiente, em que suas partes em interação produzem resultado final melhor do que se trabalhassem individualmente ou descoordenadas, chama-se a isso sinergia – o todo é maior do que a soma das partes – este, aliás, um dos principais conceitos dentro da Teoria dos Sistemas e largamente utilizado na Teoria Organizacional. Um exemplo que ilustra bem esse princípio é uma equipe esportiva, que pode ter os melhores jogadores e não conseguir formar o melhor time, enquanto outra, com jogadores individualmente inferiores, consegue formar uma equipe vitoriosa. Inversamente, tem-se na Teoria Sistêmica o conceito de Entropia, que se dá quando há predominância de desordem ou de desgaste. De acordo esse princípio, todo o sistema tende naturalmente ao desgaste, deteriorando-se ao longo do tempo, o que obrigará a importação de elementos externos, com vistas a assegurar a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento ao longo do tempo. Outro princípio inerente à Teoria dos Sistemas é a Homeostase – capacidade do sistema de manter o equilíbrio por meio de ação que garanta o reequilíbrio da sua estrutura básica. O sistema apresenta ainda a capacidade de funcionar independentemente da alteração ou da substituição de alguns dos seus elementos, por meio da autorregulação, em que o todo assume as tarefas da parte comprometida. Pós-Universo 22 Edgar Morin (2007), um dos principais teóricos da Teoria da Complexidade, alerta que a debilitação da percepção global conduz à debilidade da responsabilidade (cada um só se responsabiliza pela sua tarefa específica), e isso leva, inevitavelmente, ao enfraquecimento da solidariedade e da preocupação com o bem comum (enfraquecimento dos vínculos entre concidadãos). Existe distanciamento em relação ao desdobramento de cada ação, suas consequências e suas interferências no todo e a longo prazo. Esse descompromisso explica o agravamento dos problemas sociais e ambientais em todo o mundo. A Teoria dos Sistemas apresenta uma nova visão de mundo e um novo modo de pensar, em que as relações, as conexões, as religações e o contexto tornam-se os princípios de base desse novo paradigma. Exemplos característicos da lógica de sistemas se encontram na natureza em abundância e, por isso, é também conhecido por pensamento ecológico. Cada organismo – seja animal ou planta, microrganismo ou ser humano – é um todo integrado, um sistema vivo conectado a outros sistemas de forma interdependente numa teia de relações sem fim. Quando observamos um ecossistema, primeiramente, chama-nos a atenção que não se trate apenas de um conjunto de espécies, mas de uma comunidade, ou seja, todos os integrantes são interdependentes e formam a teia de vida. Como descreve Capra (2002), a vida não deve ser entendida como o conjunto de indivíduos, mas antes, o conjunto de relações. No pensamento sistêmico ou ecológico, a atenção é deslocada dos objetos para as relações. Uma comunidade viva tem consciência das relações estratificadas entre seus integrantes. Estimular e desenvolver essa comunidade significa estimular as suas relações. Dentro de uma visão complexa, um sistema pode ser visto como sendo, ao mesmo tempo, tanto mais como menos que a soma de suas partes. Conforme destacam Bauer e Gaskell (2008), o homem, quando associado a outros, passa a integrar uma sociedade produtora de cultura, que tanto estimula como constrange. Trata-se, pois, de uma via de mão dupla. Pós-Universo 23 Diferentemente da visão holística, ligada às primeiras teorias sistêmicas, a perspectiva dos sistemas complexos avança ao desenvolver o princípio hologramático defendido por Edgar Morin (2007), que amplia a visão sistêmica tradicional afirmando que a parte está no todo, como também o todo está em cada parte, o que pode ser exemplificado por meio do conjunto de células que compõem o tecido humano, em que cada uma delas, isoladamente, contém o DNA completo do indivíduo. Nesse sentido, as principais contribuições da complexidade para as ciências sociais podem ser resumidas na superação de alguns conceitos clássicos: a. Superação do reducionismo, que busca compreender o todo com base nas descrições das partes. b. Superação do holismo, que, em sua vertente totalizante, é também simplificador, já que reduz o que é, por natureza, complexo a apenas uma instância-chave (o todo), terminando por negligenciar as partes. c. Superação do hierarquismo, que impõe precedência unilateral do todo sobre as partes, por meio de sistemas, que englobem sistemas, que englobem sistemas etc. O sistemismo pode ser considerado uma evolução no pensamento cartesiano de separação, de segmentação e de redução da realidade às suas partes, mas a teoria dos sistemas complexos avança em relação ao ainda limitado e fechado sistemismo. De acordo com a complexidade, o indivíduo não é apenas condicionado ao ambiente, ele é sujeito e tem seu grau de autonomia, que pode interferir no meio. Para a Teoria Organizacional, a abordagem complexa traz a possibilidade de tratar melhor os aspectos da mudança organizacional, da complexidade e dos paradoxos existentes entre as organizações e destas com o seu meio, a possibilidade de considerar aquelas organizações marginalizadas pelas análises organizacionais (organizações alternativas, beneficentes, não governamentais etc.) pautadas em uma lógica não econômica e não linear, permitindo, assim, resgatar as partes em relação ao todo e opor-se à ideia de modelo perfeito, da busca pela única resposta, mas a convivência com a pluralidade, sem certezas, absolutismos, sempre com a possibilidade de alternativas, no plural. Pós-Universo 24 As organizações também ficam condicionadas aos diferentes ambientes que as compõem e as rodeiam. No plano interno, há inter-relação entre os departamentos, com fronteiras cada vez mais tênues e fluxos de informação que devem ser facilitados e agilizados. O fortalecimento da articulação interna e das suas conexões implica em maior integração, espírito coletivo e comprometimento com a organização e, desta, com os seus participantes. Porém, tal convergência de interesses só é alcançada e potencializada caso haja transparência e cooperação na definição do plano estratégico, e que os benefícios auferidos possam ser compartilhados entre seus diversos participantes. Entre a organização e o ambiente externo, as conexões não são menos intensas e podem ser divididas em duas esferas complementares. A primeira, que orbita em torno da organização e dos seus mercados, é chamada de macroambiente externo e é composta por influenciadores, como economia, sociedade, cultura, política, demografia, clima, entre outros. Uma segunda esfera, chamada de microambiente externo, é composta pelos demais influenciadores da organização que se relacionam diretamente ao seu mercado específico, sendo eles: consumidores, concorrentes, fornecedores e mão-de-obra. A visão a partir das relações No mundo contemporâneo, a noção de comunidade é constantemente ressignificada, ainda que, classicamente, todas as suas concepções destaquem as relações de proximidade de território, de vizinhança e o sentimento de pertencimento a um determinado grupo. Evoluímos do tempo “penso, logo existo”, para “me associo, logo existo”. A associação se tornou a raiz da sociedade. Esse cenário fica claro, aliás, quando regressamos às manifestaçõesocorridas no Brasil em julho de 2013, durante a Copa das Confederações. Nos noticiários, a categorização do perfil dos manifestantes: segundo o Datafolha (2013), 85% não tinham partido político de preferência, 77% possuíam curso superior, 22% eram estudantes, 53% tinham menos de 25 anos e 71% participavam pela primeira vez de protestos. Sobre o combustível do movimento no país? fatos e dados Pós-Universo 25 As redes sociais. Formaram-se comunidades virtuais das quais resultou a classificada pelos veículos de comunicação de massa: “maior onda de protestos que se alastrou pelo país”. Com hashtags #acordabrasil, #ogigantefoiprarua, #brasilacordou, #changebrasil, #vemprarua, em uma única fanpage, em poucos minutos, 14.155 pessoas curtiram e 18.795 pessoas falavam a respeito. No total, segundo a Folha de S. Paulo, 12 capitais reuniram mais de 215 mil pessoas. Inegável, portanto, que o desenvolvimento das comunidades virtuais pressupõe o estabelecimento de interconexões, sendo as redes colaborativas fenômenos dinâmicos de uma sociedade em busca de novas formas de expressão e de organização. Fonte: adaptado de Bernardi (2015). É nessa complexa teia de relações que se estabelece o planejamento estratégico de qualquer organização e que definirá a sua atuação no mercado e sua projeção para o futuro. Boa parte do desempenho da organização depende do tipo e da qualidade de conexões que esta estabelece com o meio, tanto interno quanto externo, e de como consegue decodificar os sinais apresentados pelo mercado. O monitoramento permanente do ambiente que rodeia a empresa é a única forma de assegurar condições privilegiadas para que esta se desenvolva. Em caso positivo, poderá aproveitar as oportunidades que o ambiente apresenta. Em caso negativo, poderá defender-se de possíveis ameaças impostas pelo ambiente externo, considerando o movimento dos concorrentes, de fornecedores, de consumidores, da tecnologia, do governo, da economia e da cultura. A visão sistêmica, que dá suporte à perspectiva em que se baseia o planejamento estratégico, pode ser ilustrada pela metáfora “os cegos e o elefante”, que se encontra como recomendação de vídeo na seção Material Complementar, no final desta unidade. Pós-Universo 26 “Não há vento favorável para quem não sabe onde quer chegar.” Sêneca – filósofo reflita Provavelmente você já estudou como a cultura brasileira sempre foi dominada pelo autoritarismo, o paternalismo e o nepotismo. Isso pode ser constatado nas relações sociais, nas estruturas políticas e no universo empresarial, principalmente nos modelos de gestão dominantes. Os colaboradores, na maioria dos casos, ainda são vistos como meras ferramentas contratadas para executar tarefas específicas, grande parte das vezes rotineiras, de baixo valor agregado, predominando a desconfiança em relação ao seu potencial e capacidade em assumir maiores responsabilidades. Planejamento Estratégico e Participação Pós-Universo 27 Predomina a relação dominador-dominado, com rígidas hierarquias, poder concentrado, apelo ao medo e à alienação como mecanismos de controle, reduzindo a capacidade e o potencial humano. Desperdiçam-se, assim, as principais competências que fazem de nós uma espécie única, capaz de reinventar-se e transcender continuamente suas limitações, com incalculável potencial criativo, de inovação e de superação de desafios, podendo enriquecer sobremaneira a tomada de decisão e os resultados da organização. Ao reduzir o ser humano a atividades aquém das suas verdadeiras potencialidades, desperdiça-se potencial e se reduz a motivação. É como usar apenas o editor de texto num computador de última geração. A evidência empírica da superioridade dos modelos participativos, em termos de eficiência econômica e social, foi apresentada inicialmente pelas empresas japonesas, especificamente a Toyota, ainda nos anos 50, que conseguiu melhorar os padrões de qualidade e obter ganhos contínuos de eficiência, fazendo com que os seus automóveis ganhassem o mundo. O comprometimento dos trabalhadores foi imprescindível para o alcance desse objetivo, contribuindo particularmente com sugestões para melhorar a qualidade dos produtos e dinamizar os processos, obedecendo a lógica de que várias cabeças pensam melhor do que uma. A metodologia participativa utilizada pela Toyota partiu de ações simples, como estimular os trabalhadores a darem sugestões de melhoria para a empresa, independentemente da sua posição na hierarquia, que eram analisadas cuidadosa e potencialmente utilizadas. Uma questão fundamental sempre foi a abertura à participação e à liberdade para experimentar, o que deu origem a verdadeiras revoluções nos métodos de gestão e produção, como a filosofia Kaizen, de melhoria contínua, o just-in-time, que reduzia a necessidade de estoque por meio da integração da cadeia produtiva, de programas de qualidade total e reduziu drasticamente o desperdício, resultando em automóveis de melhor qualidade e preços mais competitivos. Em números, os colaboradores da Toyota dão, aproximadamente, dois milhões de sugestões por ano, sendo que cerca de 95% delas são aproveitadas pela empresa e todo esse empenho se traduz em recompensas e benefícios para os trabalhadores, o que faz com que o Japão tenha uma das menores diferenças de rendimentos entre o topo e a base da pirâmide hierárquica de todo o mundo. Pós-Universo 28 De acordo com Gandin (2000), a Administração Participativa é uma filosofia ou doutrina que valoriza a participação das pessoas no processo de tomada de decisões sobre diversos aspectos da administração das organizações. Esse modelo se propõe a substituir os estilos tradicionais de gestão de pessoas, que se caracterizam pela rigidez hierárquica, pelo autoritarismo e pela indiferença em relação aos trabalhadores, incorporando em seu lugar a participação, a cooperação mútua, a liderança dialógica, a autonomia e a responsabilidade. Nesse sentido, os três principais pré-requisitos que definem a gestão participativa são: a. Transparência: acesso facilitado e decodificado às informações e aos resultados da empresa. b. Participação nas decisões: ocorre por meio de colegiados, de votações diretas ou de mecanismos de consulta aos trabalhadores, nas suas distintas posições e sobre diferentes aspectos da vida organizacional. c. Participação nos resultados: efetivado por meio de distribuição de lucros ou de participação acionária. A participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa está regulamentada pela Lei 10.101/00, de 19/12/00. A Administração Participativa, além de promover o colaborador à condição de sujeito criador, abandonando a habitual posição de mero instrumento da engrenagem que lhe é alheia, reflete-se diretamente em níveis superiores de motivação e de envolvimento com a empresa. É inegável o compromisso e responsabilidade dos trabalhadores em suas atividades quando se sentem parte do todo organizacional. Ganha-se em iniciativa, criatividade e desempenho nas atividades empreendidas, vendo potencializadas as suas habilidades e as suas competências. Outra questão importante da participação é a retenção de talentos, já que não se limitam mais à condição de simples funcionários, mas se veem como parte ativa da organização, sintonizados com seus destinos, compartilhando sucessos e solidarizando-se em momentos de crise. Tudo isso se reflete na melhora do clima organizacional e na incorporação à cultura da empresa, impulsionando-a para níveis superiores de desenvolvimentos econômico, social e humano (GODIN, 2000). Pós-Universo 29 Após a crise de 2008-2009 nos EUA, que impactou o mundo inteiro, muito do que havia sido pensado em termos de Teoria Administrativa ainda passa por revisões e reinterpretações. Um dos principais pesquisadores na área da administração contemporânea e professor de Administração na McGill University,do Canadá, Henry Mintzberg, apresentou em sua palestra na ExpoManagement 2008, a importância das organizações se tornarem mais humanizadas e participativas. O professor defende que as organizações funcionam melhor quando reconhecem e valorizam as pessoas que as envolvem (colaboradores, clientes e fornecedores), tese que se contrapõe à tradicional centralidade em maximizar lucros para os acionistas, o que parecia ótimo – a curto prazo – mas se revelou desastroso a longo prazo. Quando uma empresa começa a dispensar pessoas só porque não atingiu as cotas, destrói a comunidade e enfraquece todo o sistema à sua volta, da qual é dependente, algo comparado a um tiro no próprio pé ou cortar o galho da árvore sentado em sua ponta. Para Mintzberg, o modelo de administração que predomina nos Estados Unidos e é exportado para o mundo inteiro se baseia na obsessão quantitativa, na qual os números ditam todas as ações e estratégias da empresa, porém, ao desprezar a análise de questões qualitativas, própria da subjetividade humana, cria-se uma realidade insustentável sistemicamente. A própria classificação das pessoas que compõem a organização como recursos humanos reduz a sua importância e desvaloriza o status que devem ter. O que pode parecer um simples jogo de palavras, na realidade, alimenta a cultura organizacional, que, no momento em que não consegue mais atingir os lucros previstos, tem por solução imediata e mais simples enxugar os recursos humanos, banalizando esse fator. Pós-Universo 30 O autor critica a própria formação dos administradores, que é cada vez mais focada em análises e ferramentas que se opta por ver como neutras e imparciais, mas que, grande parte das vezes, servem para alimentar a arrogância dos líderes e justificar atitudes desumanas, descomprometidas com a visão de conjunto e a busca do bem comum, num processo ganha-ganha. Para Mintzberg, administrar deve incorporar três dimensões distintas, mas integradas e complementares: a arte, a ciência e a construção. Dentro desse tripé, a arte é a responsável pelos insights, pela imaginação e pela intuição; a ciência assume as análises, a sistematização da realidade da empresa e dos ambientes que a rodeiam e, por fim, a construção diz respeito à experiência e ao aprendizado prático, que não pode ser compreendido por meio das demais dimensões, mas pela realidade apresentada no campo de ação, com suas particularidades, incoerências e imprevistos. É nela, aliás, que o fator humano é evidenciado como em nenhuma outra dimensão. A visão de que o melhor lugar para se administrar uma empresa é o topo da pirâmide, de acordo com o pesquisador, está ultrapassada, já que o cume tende a se afastar da realidade, na qual tudo, de fato, acontece. Ainda que muito se fale em visão sistêmica, as empresas continuam a adotar modelos gerenciais departamentalizados, nos quais as áreas se isolam, reduzem a partilha de informações e têm dificuldade ou mesmo se negam a trabalhar juntas, seja por medo de concorrência ou por disputas de poder. As organizações devem funcionar como um todo orgânico e não como partes independentes. Mintzberg defende que o lugar mais adequado para se gerenciar uma organização é o centro, no qual o gestor estabelece comunicação com todas as áreas e entre elas, tornando-se referência e elo entre as partes. Assim, poderá catalisar mudanças importantes, de modo que pequenas decisões podem se tornar grandes estratégias. Retomando o educador Rubem Alves, cujo pensamento pode muito significar para qualquer gestor, é preciso que se faça um curso de “escutatória”, ou seja, manter o olhar atento ao que está ocorrendo à nossa volta. Por conseguinte, é evidente que não podemos falar em planejamento estratégico sem reforçarmos a importância do trabalho em equipe, da participação e do comprometimento de todos em relação aos objetivos comuns. O vídeo Tróia, recomendado no Material Complementar, bem como a leitura de Onze Anéis, de Phil Jackson, transmitem de forma contundente a força do engajamento em torno de uma causa, potencializando as forças individuais em prol de um projeto maior, que dá significado à luta e ao próprio sofrimento. Pós-Universo 31 Considerando a complexidade cada vez maior no universo organizacional e a necessidade de ver a realidade sob diferentes perspectivas numa visão holística, começam a surgir algumas empresas no Brasil que se notabilizam pelo pioneirismo em adotar práticas participativas de gestão, nomeadamente desenvolvendo Planejamentos Estratégicos Participativos, com ótimos resultados, tanto financeiros quanto de comprometimento e motivação, além de conseguirem reter os melhores talentos. O grupo Semco destacou- se ao aderir ao modelo participativo na década de 1980, estimulando o engajamento e autonomia de todos os membros da empresa, sendo uma das primeiras a adotar a política de participação nos lucros. A empresa Método Engenharia tem uma tradição anterior, iniciando o seu modelo participativo nos anos de 1970 e é hoje considerada uma referência nacional em qualidade de vida no trabalho e comprometimento de equipe. Hoje em dia, a Promon orgulha-se de ter cerca de 80% dos seus trabalhadores como acionistas da empresa, numa relação fortemente apoiada no princípio ganha-ganha. Fonte: Bernardi (2015). saiba mais É notório que em mercados muito competitivos, o planejamento estratégico se revela como ferramenta fundamental para o crescimento da companhia. Peguemos um exemplo clássico brasileiro para comprovar essa tese: em menos de dez anos a camisaria Dudalina conseguiu extrapolar todas as fronteiras e se tornou, atualmente, a maior camisaria da América Latina. Seu planejamento contemplava metas de altos investimentos, aliados ao crescimento agressivo no número de lojas – pelo menos 20% ao ano. Para tanto, a marca trabalhou a consolidação de sua imagem, valendo-se de diversas mídias, bem como aperfeiçoando a exposição de seus produtos e de suas embalagens. Hoje, por exemplo, é comum nos depararmos com a marca Dudalina em qualquer aeroporto da América Latina ou ainda a reconhecermos em personagens e beldades da televisão. Em síntese, isso prova que o planejamento deve ser elaborado pensando-se a longo prazo, sendo necessário, também, ter disciplina para a execução das ações e trabalho árduo para envolvimento das equipes. Fonte: adaptado de Neotriad (2017, on-line)¹. fatos e dados atividades de estudo 1. São habilidades inerentes ao estrategista: a) Capacidade de leitura e entendimento dos sinais apresentados pelo ambiente; destemor; perfil empreendedor. b) Capacidade de observação do seu entorno, de modo a entender o mercado em que está inserido; perfil moderado e circunspecto. c) Capacidade de não prender-se ao que está acontecendo no mercado, afinal, oportunidades podem ser perdidas; ousadia; perfil prudente. d) Capacidade de desconsiderar por completo os sinais que o mercado lhe dá; coragem e valentia; perfil criterioso. e) Todas as alternativas anteriores. 2. Observe as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta: I) O planejamento estratégico parte dos objetivos estratégicos, desmembrando-os em objetivos específicos, com vistas a definir as atividades rotineiras da organização. II) O planejamento estratégico define objetivos para toda a organização, baseando-se, para tanto, em uma análise do ambiente geral, sendo, frequentemente, estabelecido ou coordenado pela diretoria ou presidência. III) O planejamento tático parte dos objetivos estratégicos para, depois, desmembrá- los em objetivos específicos para cada uma das áreas da companhia. Geralmente, sua elaboração se dá no âmbito gerencial. IV) As atividades rotineiras de uma empresa, com vistas a ser garantida a eficiência operacional da organização é de responsabilidade dos gerentes, integrando o planejamento tático. V) O planejamento operacional de uma empresaé de responsabilidade do “chão de fábrica”, já que é o time da operação quem vive o dia a dia da companhia. a) Apenas I, III e IV estão corretas. b) Apenas I, II e V estão corretas. c) Apenas II, III e V estão corretas d) Apenas III, IV e V estão corretas. e) Todas as alternativas estão corretas. atividades de estudo 3. A transparência e a cooperação na definição do plano estratégico em uma organização desencadeará, necessariamente: a) Acirramento das fronteiras entre os departamentos, já que cada um tem seu papel bem definido no plano estratégico; maior competitividade e produtividade, haja vista as metas estarem bem definidas para cada setor. b) Maior inter-relação entre os departamentos, com fronteiras cada vez mais tênues; maior integração, espírito coletivo e comprometimento com a organização e também dela para com os seus colaboradores. c) Menor inter-relação entre os departamentos, com fronteiras cada vez mais bem definidas; maior integração em cenários micros, espírito coletivo dentro do departamento e comprometimento deste com a organização. d) Maior inter-relação entre os departamentos, com fronteiras mais brandas; menor integração e espírito coletivo, já que a competitividade entre os colaboradores tende a aumentar, haja vista a comunicação organizacional. e) Nenhuma das alternativas anteriores responde à questão. 4. A Administração participativa valoriza a participação das pessoas no processo de tomada de decisões, vindo a substituir os estilos tradicionais de gestão de pessoas, que se caracterizam pela rigidez hierárquica, autoritarismo e indiferença em relação aos colaboradores. Nesse sentido, podemos dizer que representam a efetivação de pré-requisitos da gestão participativa as situações assinaladas em: I) A empresa Y e Almeida Ltda. fará na próxima terça-feira, dia 30 de novembro, além do pagamento integral do décimo terceiro de seus colaboradores, a quitação da primeira parcela de participação em seus resultados, pelo cumprimento das metas estipuladas para as equipes. II) Motivação é a palavra-chave para a equipe de vendas gerenciada pelo Daniel, na Marte e Vênus Comércio de Veículos. Isso porque todos estão certos de que a meta de crescimento de 20% para o próximo ano será alcançada, já que todos construíram, em conjunto, o indicador, a partir da percepção do mercado. atividades de estudo III) Carlos Augusto teve um dia difícil, mas foi muito proveitosa a leitura que apresentou à diretoria acerca do não atingimento das metas que foram determinadas pelos executivos da Cervantes & Cia. Ainda bem que a companhia apresenta, de forma transparente, todos os seus resultados, não só aos acionistas, mas também aos seus líderes. IV) Os mecânicos da Casmurro Car Center acharam inusitadas as urnas colocadas dentro da oficina. É a primeira vez que darão sugestões e ideias em mais de 20 anos de existência da empresa. De fato, conforme disse Seu Honório, as coisas parecem mudar por aqui. a) Apenas I, II e III estão corretas. b) Apenas II, III e IV estão corretas. c) Apenas I, III e V estão corretas. d) Todas estão incorretas. e) Todas estão corretas. resumo Planejar estrategicamente é, antes de tudo, um novo olhar sobre a realidade que nos cerca. É abandonar o imediatismo e a improvisação, e passar a monitorar os ambientes de forma detalhada e consistente. A perspectiva deixa de estar focada nas partes e passa para o todo, a partir de uma visão de conjunto, integrada em múltiplas relações de interdependência e complementaridade. Nessa empreitada, é preciso considerar que elementos interdependentes dentro de um sistema precisarão compartilhar entre si percepções, opiniões e, até mesmo, dar conhecimento aos demais da parte do processo a que lhe cabe a responsabilidade. A exemplo de um relógio, cujas engrenagens precisam estar em consonância, o planejamento também deve ser construído. Isso porque o planejamento estratégico se propõe a antever o futuro da organização, por mais difícil que essa atividade seja, buscando sinais, indicadores e projeções que ajudem a desenhar mapas, que indiquem o melhor caminho a ser trilhado. Considerando a complexidade do desafio, sua elaboração não pode ficar limitada ao pequeno grupo, que sempre terá olhar parcial, mas deverá ser empreendido de forma participativa, incorporando diferentes pontos de vista, de modo a serem reduzidas as lacunas e as possíveis distorções perceptivas, além de possibilitar a movimentação da mais poderosa força disponível na organização: as pessoas que a integram. Por conseguinte, fica claro que precisam ser incorporadas à gestão três dimensões distintas, mas integradas e complementares: a arte, cuja responsabilidade reside nos insights e na criatividade; a ciência, cuja obrigação está na sistematização do cenário no qual a corporação se encontra; e, por fim, e não menos importante, a construção, cujo objetivo é tratar do aprendizado prático a partir da vivência e da experiência da organização. material complementar A Arte da Guerra Autor: Sun Tzu Editora: Editora Jardim dos Livros Sinopse: o livro A Arte da Guerra foi publicado no Brasil pela Editora Jardim dos Livros em 2009. Trata-se de um dos mais influentes tratados de estratégia militar, datado do século IV a.C. e se divide em treze lições de estratégia de guerra, de forma a mapear as diferentes possibilidades e necessidades estratégicas impostas por determinado panorama de conflito. São apontadas três qualidades básicas para um general: o segredo, a surpresa e a dissimulação. O livro se tornou um clássico na área de estratégia, ultrapassando o universo militar, sendo usado por inúmeras organizações em todo o mundo. Comentário: trata-se de uma obra clássica que apresenta didática e diretamente algumas das principais estratégias para alcançar objetivos e superar adversidades impostas pelo ambiente. É um livro de estratégia militar, mas que reserva importantes lições para o universo corporativo, que se defronta continuamente com um sem número de adversidades e, ao mesmo tempo, tem que potencializar os recursos disponíveis, que nem sempre são os mais apropriados para enfrentar as vicissitudes do mercado. Onze Anéis – A Alma do Sucesso Autor: Phil Jackson e Hugh Delehanty Editora: Rocco Sinopse: Onze Anéis traz o relato corajoso e verdadeiro da vida e da obra do lendário técnico e detentor de onze anéis da National Basketball Association (NBA), com visões geniais sobre a alquimia da liderança. Dentre seus feitos está o revelar de como ele mesmo, Phil, aprendeu os segredos da meditação e da química de equipe enquanto jogava pelo New York Knicks, na década de 70, como treinou Michael Jordan (o maior jogador de basquete do mundo) e o fez aceitar um estilo de jogo menos egoísta e mais solidário, mesmo que isso significasse a perda do título de cestinha do campeonato, como montou times vencedores com jogadores de habilidades bem diferentes, estabelecendo a confiança e levando-os a jogar em sintonia. Comentário: Phil Jackson é o maior treinador na história da NBA, com reputação estabelecida na sua gestão como treinador do Chicago Bulls, de 1989 até 1998, quando conquistou seis títulos. Com o seu time, o Los Angeles Lakers, conquistou mais três campeonatos da NBA, entre 2000 e 2004, e mais dois títulos, entre 2006 e 2010. Jackson é recordista de conquistas de campeonatos como jogador e técnico. Também detém o recorde do maior percentual de vitórias (70.4) sobre qualquer outro técnico da NBA. Como jogador, tornou-se campeão da NBA pelo New York Knicks, em 1970 e 1973. Em 2007, teve seu nome incluído no Hall da Fama do Basquete. material complementar Tróia Autor: Wolfgang Petersen Editora: 2004 Sinopse: assista ao filme Tróia, do diretor Wolfgang Petersen, que conta a história da guerra ocorrida em 1193 a.C. O filme se destaca pela famosa história do Cavalo de Troia, usado pelos gregos para invadira cidade de Troia, considerada uma das grandes estratégias militares da história e que foi descrita pelo poeta grego Homero, em sua epopeia Ilíada. Comentário: é um filme interessante para reforçar a importância da estratégia no alcance dos objetivos. Evidencia-se a capacidade de superação de obstáculos e adversidades, por meio de um planejamento cuidadoso e do uso de estratégias inovadoras, como ocorreu com o famoso Cavalo de Troia, que ainda hoje é lembrado como sinônimo de ataque inesperado e surpreendente. Onze Homens e um Segredo Diretor: Steven Soderbergh Ano: 2001 Sinopse: o filme Onze Homens e um Segredo é uma produção norte- americana de 2001, do gênero ação, dirigido por Steven Soderbergh. Danny Ocean cria um plano para assaltar três cassinos de Las Vegas em apenas uma noite, para tanto, reúne uma equipe de 11 especialistas para realizar seu plano, seguindo três regras básicas: não ferir ninguém, não roubar alguém que realmente não mereça e seguir o plano como se não tivesse nada a perder. Comentário: esse filme trabalha vários conceitos de estratégia, como a definição clara dos objetivos, o planejamento minucioso das ações estratégicas para atingi-los e a importância de uma equipe multidisciplinar, em que diferentes expertises se complementam e convergem no objetivo comum. material complementar Na Web Vídeo: “O que é um projeto?” Sinopse: esse vídeo apresenta a importância do trabalho em equipe e sua capacidade extraordinária de realização. Todavia, um planejamento adequado impõe um estudo minucioso do ambiente e dos recursos disponíveis, divisão apropriada das tarefas e competência na sua execução. A motivação de todos depende do significado atribuído à tarefa e das recompensas daí advindas. Comentário: o planejamento estratégico é uma atividade de importância singular para ficar limitada a um grupo reduzido de indivíduos. O conhecimento acumulado por qualquer empresa é decorrente da sua equipe de trabalho e da multiplicidade de perspectivas integradas pelo grupo. O vídeo evidencia o potencial de realização de uma equipe comprometida e envolvida com os objetivos da organização, demonstra a importância do engajamento em torno de um propósito compartilhado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Hfd8ui-kLFA&hd=1>. Acesso em: 27 fev. 2019. Vídeo: “Os Cegos e o Elefante” Sinopse: esse vídeo aborda, de forma lúdica, os erros decorrentes de uma perspectiva segmentada da realidade, o que induz ao erro e impede a compreensão real dos fatos. Sugere, em seu lugar, uma abordagem sistêmica e holística capaz de ver o conjunto das relações e o fenômeno por inteiro. Comentário: apresenta crítica ao paradigma tradicional, o qual privilegia o isolamento das partes em detrimento do todo. As organizações não são fenômenos separados do seu entorno, influenciam e são influenciadas continuamente por uma enormidade de elementos, e obriga a diagnósticos mais amplos e capazes de captar as relações que se estabelecem, numa percepção integrada da realidade, o que permitirá a realização do planejamento estratégico de forma adequada. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=PTa_weeOPP4>. Acesso em: 27 fev. 2019. Texto: “O Exemplo dos Gansos” Sinopse: esse caso ilustrativo apresenta, metaforicamente, a importância do trabalho em equipe, com o qual é possível potencializar os esforços individuais por meio do processo sinérgico em que a participação de todos se torna o principal fator para o alcance dos objetivos propostos. Pode-se perceber que cada um ocupa papel imprescindível no grupo e que há preocupação com a rotatividade de funções, para que não se sobrecarregue desproporcionalmente nenhum dos membros. Disponível em: <https://metaforas.com.br/2013-07-27/licao-dos-gansos.htm>. Acesso em: 27 fev. 2019. material complementar Na Web Vídeo: “A União Faz a Força” Sinopse: esse vídeo reforça o potencial de superar obstáculos por meio do trabalho em equipe, o que poderá potencializar os talentos de cada um, além de proporcionar engajamento e motivação em prol de razão maior. A inspiração e o envolvimento dos líderes são fatores fundamentais para sensibilizar e mobilizar o grupo a dar o seu melhor em favor de uma mesma causa, por mais difícil que possa parecer a princípio. Comentário: expõe o extraordinário potencial do trabalho em equipe quando é direcionado para um objetivo claro e bem definido. Pode-se perceber a importância da liderança inspiradora e catalizadora de esforços, que consegue imprimir potência ao dar significado às ações empreendidas pelo grupo, o que acaba por conduzir a resultados impensáveis individualmente. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=GPeeZ6viNgY>. Acesso em 27 fev. 2019. referências BAUER, M. W. & GASKELL, G. (org.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som – um manual prático. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. BERNARDI, L. O. Mídias sociais e marketing viral. 1. ed. Maringá: Cesumar, 2015. BRASIL. LEI No 10.101, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/LEIS/L10101.htm>. Acesso em 28 dez. 2018. CAPRA, F. Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002. CLAUSEWITZ, C. V. Da Guerra. São Paulo: WMF Martins Fontes, 1996. GAJ, L. Tornando a Administração Estratégica Possível. São Paulo: Mc-Graw Hill,1990. GANDIN, D. A Posição do Planejamento Participativo entre as Ferramentas de Intervenção na Realidade. Currículo sem Fronteiras, Porto Alegre, Brasil. v. 1, n. 1, p. 81-95, jan./jun. 2001. GANDIN, D. A Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis: Vozes, 2000. JUSTUS, R.; ANDRADE, S. A. Construindo uma vida: trajetória profissional e O Aprendiz. São Paulo: Larousse Brasil, 2006. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/44341607/ ebook-robertojustus-executivo-de-sucesso>. Acesso em 26 fev. 2019. MESSINA, M. E.; BAER, J. C. Decoding Silicon Valley. The Insider’s Guide. Decode Publishers, LLC: California, 2016. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári da Estratégia – um roteiro pela selva do planejamento estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologias e práticas. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. REFERÊNCIAS ONLINE ¹ Disponível em: <http://gestaodeequipes.com.br/planejamentos-de-sucesso-conheca-4-casos- inspiradores/>. Acesso em: 26 fev. 2019. resolução de exercícios 1. a) Capacidade de leitura e entendimento dos sinais apresentados pelo ambiente; destemor; perfil empreendedor. A alternativa B está incorreta, haja vista o perfil de um estrategista exigir ousadia para projetar e impulsionar a organização rumo ao futuro sem, no entanto, afastar-se do factível e do contingente, daí, aliás, a capacidade de leitura e entendimento dos sinais apresentados pelo ambiente. A alternativa C está incorreta, haja vista a capacidade de leitura e entendimento dos sinais apresentados pelo ambiente serem uma das habilidades mais significativas para um estrategista. Ademais, perfil prudente se contrapõe, no contexto, à ousadia. A alternativa D está incorreta, haja vista a capacidade de leitura e entendimento dos sinais apresentados pelo ambiente serem uma das habilidades mais significativas para um estrategista. Ademais, perfil criterioso se contrapõe, no contexto, à coragem e à valentia. A alternativa E está incorreta, haja vista as letras B, C, D estarem incorretas. 2. c) Apenas II, III e V estão corretas. A assertiva I está incorreta, em função de não ser papel do planejamento estratégico desmembrar os objetivos estratégicos em específicos (esse papel é do planejamento tático), muito menos definir as atividades rotineiras da organização (esse papel é do planejamento operacional). A assertiva IV está incorreta, em função de atividades rotineiras serem de responsabilidadeda equipe da operação, integrando, também, o planejamento operacional e não o planejamento tático. 3. b) Maior inter-relação entre os departamentos, com fronteiras cada vez mais tênues; maior integração, espírito coletivo e comprometimento com a organização e também dela para com os seus colaboradores. A alternativa A, C e D estão incorretas, haja vista serem desdobramentos naturais de um plano estratégico transparente e cooperado a maior inter-relação entre os departamentos, uma maior integração das equipes, o espírito coletivo, o resolução de exercícios comprometimento destes para com a organização e mesmo dela para com os funcionários. Naturalmente, acirramento das fronteiras, maior competitividade (alternativa A), menor inter-relação entre os departamentos, maior integração em cenários micros (alternativa C), menor integração e espírito coletivo (alternativa D) ferem essa lógica. A alternativa E está incorreta, haja vista a letra B responder à questão. 4. e) Todas estão corretas. Todas as alternativas estão corretas, pois as situações descrevem os três principais pré-requisitos que definem a gestão participativa: I) Transparência; Participação nas Decisões; III) Participação nos resultados.
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