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Microeconomia Teoria do Consumidor Pedro Sabino pedro.sabino@cefetmg.br ERE - 1º semestre de 2020 Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 1 / 22 1 Introdução 2 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade 3 Restrição Orçamentária - conjunto factível de compras 4 Problema de Escolha do Consumidor Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 2 / 22 Introdução Demanda e Teoria do Consumidor Demanda é a quantidade de um determinado bem ou serviço que um consumidor (ou o conjunto deles) deseja adquirir em determinado período de tempo, dado sua renda, sua preferência (gosto) e os preços do bem e produtos relacionados. Teoria do Consumidor é o campo que estuda como o consumidor aloca sua renda dentre as possíveis opções de bens ou de serviços a serem comprados. Em particular, a Teoria do Consumidor o processo de escolha entre os tradeoffs. Uma vez que a renda é limitada, o consumidor precisa definir as quantidades de cada item que ele consome. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 3 / 22 Introdução Teoria do Valor do Trabalho × Teoria do Valor Utilitarista A Teoria do Valor do Trabalho antecedeu a Utilitarista, sendo desenvolvida pelos economis- tas clássicos (Malthus, Smith, Ricardo, Marx). Ela considera que o valor de um bem se dá pelo lado da Oferta, mediante o custo do trabalho incorporado ao bem durante a sua produção. Nesse sentido, é uma teoria objetiva, focada no "custo" da produção como determinante do valor "natural" do bem, em torno do qual o preço de troca desse bem irá oscilar conforme as dinâmicas do mercado. A Teoria do Utilitarista veio complementar a Teoria do Valor do Trabalho ao considerar o lado da Demanda. Ela distinguiu claramente a diferença entre: Valor de Uso - É a utilidade ou satisfação que o bem representa para o consumidor. Valor de Troca - Formada pelo encontro entre Oferta e Demanda do bem ou serviço. Na visão utilitarista, prepondera a visão do consumidor, o qual irá definir subjetivamente o valor do bem ou serviço conforme sua Utilidade (i.e., grau de satisfação ou bem-estar conce- dido ao consumir esse bem ou serviço). Pressuposto básico da Teoria do Consumidor: O consumidor busca maximizar a sua Utilidade (conforme a Teoria Utilitarista) ao decidir sobre a quantidade consumida de um bem em detrimento aos demais, sujeito à sua restrição orçamentária e aos preços de mercado. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 4 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Preferências e Função de Utilidade As preferências de um consumidor pode ser descritas formalmente (matematicamente) através das seguintes notações: Seja X = {Laranja, Banana, Maçã, ... } o conjunto de bens que ele pode consumir, a preferência de um indivíduo será representada pela relação algébrica % sobre o conjunto X , i.e., Banana % Maçã - se ele prefere uma banana a uma maçã; Banana ∼ Maçã - se ele é indiferente entre uma banana ou uma maçã; e Banana � Maçã - se ele é prefere estritamente uma banana a uma maçã. Uma hipótese usualmente assumida é que essas relações são completas (para qualquer par de bens (x , y) tem-se x % y ou y % x) e transitivas (se x % y ou y % z então x % z). Isso permite que as relações de preferência sejam representadas por Funções de Utilidade, i.e., funções reais u : X → R onde: x % y ⇔ u(x) ≥ u(y). (1) Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 5 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Função Utilidade Univariada Considere que um indivíduo consome x unidades de um único bem. Geralmente, o consumidor fica mais feliz ao aumentar o seu consumo, mas quanto maior for este consumo x , menor será o ganho adicional de mais uma unidade de consumo. Formalmente, u(x) < u(x + 1) mas [u(x)− u(x − 1)] > [u(x + 1) − u(x)] ou, pas- sando o limite, u ′ (qi ) = UMg(qi ) > 0 e u ′′ (qi ) = UMg ′ (qi ) < 0 onde UMg é a chamada Utilidade Marginal. Por exemplo, considere a função de utilidade u(x) = 2x1/2 = 2 √ x exposta ao lado. Quanto maior for x , maior será u(x). Todavia, o crescimento em u(x) é cada vez menor. Fazendo uma analogia, por mais que um consumidor queira beber aguá, a cada gole que ele consome, ele fica mais saciado/saturado. Assim, a cada gole seu bem-estar/satisfação aumenta mas esse ganho é cada vez menor. Pergunta: por que a água, tão necessária à vida humana, é muito mais barata que o diamante? Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 6 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Função Utilidade Multivariada Considere que o consumidor possa consumir dois itens, x e y . Assim como no caso univariado, seu bem- estar irá crescer se ele aumentar o con- sumo em qualquer um dos itens, mas esse crescimento será gradativamente menor. Portanto, a função de utilidade multivariada terá a forma ao lado. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 7 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Função Utilidade Multivariada Por sua vez, a avaliação do crescimento do consumo em uma única variável é feita através da análise parcial. Por exemplo, considere que o consumo de x seja fixado em 4. A variação da utilidade devido à variação no consumo de y será dado por v(y) = u(4, y) = 41/2 · y1/2 = 2y1/2. Pergunta: A função v(y) será diferente se x tiver outro valor diferente de 4? Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 8 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Curva de Indiferença A função de utilidade multivariada permite avaliar as variações no bem estar do consumidor ao alterar a quantidade consumida com cada item. Um problema recorrente é avaliar subistituições de um item por outro nesse consumo. Nesse caso, a análise pode ser simplificada através da adoção de Curvas de Indiferença (semelhante às curvas de nível) entre as diferentes cestas de consumo (x , y) disponíveis. Por exemplo, Temos A = (2; 6), B = (3; 4) e assim sucessivamente. Todas as cestas na curva U1 possuem a mesma utilidade, i.e., U(A) = U(B) = U(C) = U(D). Nesse caso, o consumidor é indiferente quanto à adquirir a cesta A, a B, a C ou a D. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 9 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Curva de Indiferença Geralmente, a Utilidade cresce a medida que aumentamos a quantidade consumida de ambos os itens na cesta (pois UMgi (qi , qj ) > 0). Por exemplo, Neste caso, temos U1 < U2 < U3. Ou seja, o consumidor prefere a cesta H em relação à cesta G que é preferida às cestas A, B, C e D. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 10 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Função de Utilidade e Curvas de Indiferença Ilustrativamente, considere a função de utilidade U(x1, x2) = x 1/2 1 x 1/2 2 . A representação dessa função de utilidade como curva de indiferença se dá à direita, na figura abaixo: Pergunta: Em qual direção se dá o aumento da utilidade (satisfação) do consumidor? Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 11 / 22 Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Alguns Tipos de Curvas de Indiferença As curvas de indiferenças apresentadas anteriormente são "bem comportadas" (estritamente con- vexas e diferenciáveis em todos os pontos). Abaixo, apresentamos alguns casos especiais: Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 12 / 22 Restrição Orçamentária - conjunto factível de compras Restrição Orçamentária Restrição Orçamentária é o montante R de renda que um consumidor tem a sua disposição gastar com um conjunto de bens, delimitando suas possibilidades de consumo. Isto é, dados os valore da renda R e dos preços px e py ,a linha de preços ou reta orçamentária R = y · py + x · px , é a fronteira das combinações (x , y ) de quantidades dos respectivos bens, que o consumidor consegue comprar. Ainda, observem que: ymax é o máximo do produto y que este con- sumidor pode comprar, abrindo mão do con- sumo de x (i.e., x = 0) tem-se ymax = R−xpx py = Rpy . Da mesma forma, tem-se xmax = Rpx . Os pontos na linha orçamentária são as combinações de (x , y ) que exaurem a renda R. A inclinação da curva é dada por − pxpy (ob- servem que podemos reescrever a equação da renda como y = Rpy − px py · x). Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 13 / 22 Restrição Orçamentária - alterações na renda ou nos preços Exemplo: Considere que um consumidor tenha um orçamento de R$ 200,00 para gastar com y unidades de camisas ou x de calças. Ainda, considere que cada camisa custa R$ 10,00 e cada calça custa R$ 20,00. Portanto, a restrição orçamentária é de 200 = 10 · y + 20 · x ou y = 20− 2 · x Como será o impacto de um aumento de R$ 200,00 no orçamento? E de uma redução no preço das calças para R$ 10,00? Alteração na renda: teremos a nova re- strição orçamentária de 400 = 10 · y + 20 · x Alteração no preço: teremos a nova re- strição orçamentária de 200 = 10 · y + 10 · x Problema de Escolha do Consumidor Introdução Seja (x∗, y∗) a cesta que combina as quantidades consumidas/compradas pelo consumidor que maximiza sua satisfação (medida em Utilidade). Intuitivamente, a cesta ótima será aquela que alcança a curva de indiferença de maior nível (mais a direita) sujeito à restrição orçamentária que delimita suas possibilidades de consumo. Algumas perguntas imediatas são: É possível que este (x∗, y∗) se encontre fora da linha da re- strição orçamentária? Quais condições matemáticas permitem identificar o ponto ótimo? Qual é a interpretação dessas condições? Qual a interpretação da incli- nação em B? Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 15 / 22 Taxa Marginal de Substituição A Taxa Marginal de Substituição (TMS) entre dois bens é a taxa de intercâmbio entre um bem por outro que mantém o mesmo nível de satisfação (Utilidade) do consumidor. Ela mede o quanto um indivíduo atribui a uma unidade extra de um bem em termos de outro bem. Formalmente, considere dois pontos (cestas de consumo) Z e W quaisquer dentro da mesma curva de indiferença, teremos: TMS(Z ,W ) = ∆y ∆x ou, TMS(Z ) = d yd x = UMgx (Z ) UMgy (Z ) se u(·) for diferenciável. Características da curva de indiferença padrão (convexa e diferenciável): Inclinação negativa; e Convexidade em relação à origem. Nesse caso, a TMS diminui gradativamente ao longo da curva (convexa). Pergunta: O que isso reflete? Problema de Escolha do Consumidor Equilíbrio do Consumidor - Formulação algébrica Problema de Otimização do Consumidor Maximizar sua Função de Utilidade observando o conjunto de cestas de bens que ele pode com- prar, dada a sua restrição orçamentária. Formalmente, o problema de otimização é dado por: Max u(x , y) (2) s.a. px x + py y ≤ R. A função Lagrangiana desse problema é L = u(x , y)− λ(px x + py y − R). Logo, as condições de primeira ordem são: ∂L ∂x = 0 ⇒ ∂u(x,y) ∂x = 0⇒ UMgx − λpx = 0⇒ λ = UMgx px ∂L ∂y = 0 ⇒ ∂u(x,y) ∂y = 0⇒ UMgy − λpy = 0⇒ λ = UMgy py (3) ∂L ∂λ = 0 ⇒ px x + py x − R = 0⇒ px x + py y = R Ainda, podemos sintetizar a primeira com a segunda, através de TMS = UMgxUMgy = px py . Por fim, a solução desse problema de otimização consiste no par (x∗, y∗), tal que:{ UMgx UMgy = pxpy R = px x + py y (4) Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 17 / 22 Problema de Escolha do Consumidor Exemplo Um consumidor tem uma renda mensal de R$ 1.000,00 destinada ao consumo de dois bens, cujos respectivos preços são px = R$ 100,00 e py = R$ 200,00. Se as preferências do consumidor podem ser expressas pela função de utilidade u(x , y) = xy , onde x e y são as quantidade consumidas dos respectivos bens, calcule a escolha ótima (x∗; y∗) desse consumidor. Resposta: Temos: UMgx = ∂u(x , y) ∂x = ∂xy ∂x = y , e UMgy = ∂u(x , y) ∂y = ∂xy ∂y = x . Portanto, { TMS = UMgxUMgy = px py R = px x + py y ⇒ { y x = 100 200 1.000 = 100x + 200y Resolvendo o sistema de equações acima, temos y = 100 200 x ⇒ 1.000 = 100x + 200( 100 200 x)⇔ x = 5 Logo, y = 100200 · 5 = 2, 5 e, portanto, (x ∗; y∗) = (5; 2, 5) . Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 18 / 22 Problema de Escolha do Consumidor Equilíbrio do Consumidor - Funções de Utilidade Especiais Para funções ditas “bem comportadas” (convexas), a formulação anterior é suficiente para encon- trarmos a escolha ótima do consumidor Adiante, veremos classes de funções de utilidade relativamente comuns que demandam cuidados especiais na definição da escolha ótima do consumidor. São elas: Substitutos Perfeitos - u(x ; y) = x + y ; Preferências Quase Lineares - u(x ; y) = x + v(y) (nesse caso, a TMS dependerá apenas do bem 2); Complementos Perfeitos - u(x ; y) = min{x ; y}. Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 19 / 22 Problema de Escolha do Consumidor Substitutos Perfeitos Substitutos Perfeitos são representados por funções de utilidade similares a u(x ; y) = x + y . Nesses casos, o problema será representado por: A solução será dada por: x = { R px se px < py 0 se px > py y = { 0 se px < py R py se px > py Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 20 / 22 Problema de Escolha do Consumidor Preferências Quase Lineares Complementos Perfeitos são representados por funções de utilidade similares a u(x ; y) = x+v(y). Nesses casos, o problema será representado por: A solução será dada por: { TMS(x∗, y∗) = UMgxUMg2 = 1 v′(y) = px py px x∗ + py y∗ = R Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 21 / 22 Problema de Escolha do Consumidor Complementos Perfeitos Complementos Perfeitos são representados por funções de utilidade similares a u(x ; y) = min{x ; y}. Nesses casos, o problema será representado por: A solução será dada por: { x = y px x + py y = R Portanto, x∗ = y∗ = R p1 + p2 . Pedro Sabino (pedro.sabino@cefetmg.br) Microeconomia ERE - 1º semestre de 2020 22 / 22 Introdução Teoria Utilitarista - Preferências e Função Utilidade Restrição Orçamentária - conjunto factível de compras Problema de Escolha do Consumidor
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