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RELAÇÕES OBRIGACIONAIS CONTRATUAIS E EXTRACONTRATUAIS

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RELAÇÕES OBRIGACIONAIS 
CONTRATUAIS E 
EXTRACONTRATUAIS
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Amanda Muniz Oliveira
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
 Cristiane Lisandra Danna
 Norberto Siegel
 Camila Roczanski
 Julia dos Santos
 Ariana Monique Dalri
 Bárbara Pricila Franz
 Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Priscilla Camargo
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
OL48r
 Oliveira, Amanda Muniz
 Relações obrigacionais contratuais e extracontratuais. / Amanda 
Muniz Oliveira – Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 146 p.; il.
 ISBN 978-85-53158-20-1
1.Obrigações – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 342.81085 
Amanda Muniz Oliveira
Doutoranda em Direito pela Universidade 
Federal de Santa Catarina - UFSC e Mestra em 
Direito pela mesma Universidade. Natural de Montes 
Claros – MG, obteve o bacharelado em Direito no ano 
de 2013, pelas Faculdades Santo Agostinho (FADISA) 
- MG. É pesquisadora do “Núcleo de Estudos Conhecer 
Direito – NECODI” (UFSC) e do Grupo de Pesquisa 
“Modelagem e Compreensão de Sistemas Sociais: Direito, 
Estado, Sociedade e Política” (UFSC), no qual participa do 
Projeto de Pesquisa “Lilith: Direito das Mulheres”. Dedica-
se a pesquisas interdisciplinares na área de Direito e Arte, 
com ênfase em Rock, Literatura e Cultura Pop. Também 
se dedica aos estudos de epistemologia jurídica, 
sociologia do conhecimento, métodos e teorias das 
ciências humanas, direitos das mulheres e direito 
e gênero. Possui experiência nas áreas de Direito 
Civil, Hermenêutica Jurídica, Ética Profi ssional e 
Metodologia da Pesquisa.
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................07
CAPÍTULO 1
Teoria das Obrigações Contratuais ..................................09
CAPÍTULO 2
Modalidades Contratuais ....................................................43
CAPÍTULO 3
Teoria das Obrigações Extracontratuais:
Obrigações por Declaração
Unilateral de Vontade ........................................................115
APRESENTAÇÃO
A presente obra dedica-se a um dos mais importantes temas do direito civil: 
as relações obrigacionais contratuais e extracontratuais no mundo contemporâneo. 
Tradicionalmente concebidas em contextos individualistas, nos quais o sujeito 
de direito é um indivíduo metafísico e a igualdade meramente formal impera, tais 
relações adquiriram novas nuances e, portanto, precisam ser analisadas a partir de 
um outro viés. 
Neste sentido, o civilista em geral e o contratualista, em especial, se veem diante 
de um desafio integrador e interdisciplinar: perceber as normas deste ramo do direito 
como parte de um ordenamento constitucional, sem dúvidas, mas mais que isso, 
como importante componente das próprias relações sociais hoje existentes. 
Diariamente celebramos contratos, ainda que de forma inconsciente. Os pães 
comprados na padaria para o café da manhã são objetos de contrato compra e 
venda, o combo de internet, celular e TV à cabo são fornecidos mediante contrato 
de prestação de serviços e mesmo a carona a algum amigo ou colega de trabalho 
pode configurar contrato de transporte. Neste sentido, é crucial tomar ciência das 
implicações jurídicas destes atos cotidianos, seja para exigir direitos, seja para 
cumprir corretamente as obrigações. 
Iniciamos o tema a partir da teoria geral das obrigações contratuais, adotando 
como objetos de estudo o conceito e finalidade do direito contratual, identificando suas 
funções e características. Neste primeiro capítulo, estudamos ainda os requisitos de 
validade do contrato, os princípios específicos do direito contratual, a formação de 
contratos e seus efeitos e formas de extinção.
O segundo capítulo tem como tema central as diversas espécies de contrato 
elencadas no Código Civil e em outras legislações esparsas. Aqui, estudamos as 
características e particularidades concernentes a cada tipo contratual, a aplicação da 
lei e dos princípios contratuais às espécies de pacto, e procuramos, ainda, fornecer 
subsídios para que o leitor possa, por si só, analisar os ônus e bônus de cada contrato, 
visando o melhor interesse das partes. 
O terceiro e último capítulo aborda outros tipos de obrigação, originadas não pela 
vontade individual (como no caso dos contratos), mas por força de dispositivos legais. 
São as declarações unilaterais de vontade, taxativamente expressas em lei, gerando 
consequências jurídicas que escapam ao poder decisório do sujeito. Apresentamos, 
neste capítulo, as principais espécies de obrigações extracontratuais unilaterais, 
procurando evidenciar suas diferenças e particularidades em relação aos contratos 
já estudados. 
Esta obra pretende, assim, facilitar o estudo das obrigações contratuais 
e extracontratuais, temas de grande relevância no direito civil e no mundo 
contemporâneo, a partir de um viés simples, objetivo e direto. O leitor encontrará 
atividades de estudo, dicas de leituras complementares e algumas notícias atuais 
relacionadas aos assuntos estudados, tudo isso visando uma interação didática e 
acessível. 
Amanda Muniz Oliveira.
CAPÍTULO 1
Teoria das Obrigações 
Contratuais
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender a concepção do direito contratual e sua fi nalidade, identifi cando 
suas funções e características.
 Os requisitos de validade do contrato, seus princípios fundamentais e sua 
formação. 
 Os efeitos oriundos da relação contratual e as formas de extinção de um 
contrato.
 Contratos válidos e seguros às partes interessadas.
10
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
11
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
ContextualiZação
Neste capítulo, passaremos ao estudo de um elemento central do Direito 
Civil: o contrato. Compreendido como um acordo de vontades que irá criar 
normas vinculantes entre seus celebrantes, a fi gura do contrato é tão antiga que 
suas origens históricas são imprecisas. É possível encontrar sua presença em 
textos cuneiformes mesopotâmicos e em documentos históricos do Egito antigo; 
no medievo (século XV) circulou-se a lenda do Dr. Johann Georg Faust, que teria 
celebrado um contrato com o próprio diabo, incutindo no imaginário social a ideia 
de que os contratos são armadilhas sem escapatória. 
No mundo contemporâneo, grande parte das relações jurídicas é estabelecida 
por meio de contratos. Da simples compra para o café da tarde na padaria mais 
próxima, à venda de um imóvel registrada em cartório, estamos em constante 
interação com essa fi gura jurídica, ainda que não nos demos conta disso. 
Desta forma, é de suma importância que o jurista compreenda a fundo a 
teoria das obrigações contratuais, no intuito de aprimorar sua prática jurídica e 
de prestar um melhor auxílio a seus eventuais clientes contratantes. Ter ciência 
de seus requisitos de validade, seus princípios norteadores, suas hipóteses de 
celebração e extinção, bem como seus efeitos, pode ser a diferença entre a 
fi rmação de um negócio lucrativo e um que nada ofereça além de desastrosos 
prejuízos. Este, portanto, será nosso foco de estudo no presente capítulo. 
 
Conceitos e ReQuisitos de
Validade do Contrato
Juristas de diversas épocas têm se dedicado a conceituar o termo contrato. 
Conforme Farias e Rosenvald (2012), é possível encontrar múltiplos signifi cados 
do vocábulo nahistória de Roma; o que mais se aproxima da ideia moderna de 
contrato refere-se a um acordo de vontades a respeito de um assunto. Todavia, 
para gerar obrigações, esse contrato deveria possuir existência física, material, ou 
seja, um mero acordo verbal mostrava-se insufi ciente. Talvez por isso ainda hoje 
diversas pessoas ignorem a existência do contrato verbal, não se dando conta 
de que a simples compra de uma fruta na quitanda mais próxima constitui um 
contrato de compra e venda.
12
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
No século XIX, Farias e Rosenvald (2012) apontam os paradigmas do 
liberalismo e individualismo como as bases das relações contratuais, o que na 
prática signifi cava uma liberdade absoluta de contratar. Na segunda metade do 
século XIX e início do século XX, os abusos oriundos deste tipo de concepção 
serão denunciados e, portando, uma nova forma de se conceber 
os contratos irá emergir. Limites legais serão impostos, visando 
resguardar uma certa igualdade entre as partes, protegendo o indivíduo 
hipossufi ciente. 
Neste sentido, atualmente podemos adotar o conceito cunhado 
por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2014, s.p.): “o 
contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, 
limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva, 
autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo 
a autonomia das suas próprias vontades”. 
Compreendido o conceito jurídico de contrato, vejamos agora seus requisitos 
de validade. 
A natureza jurídica do contrato é de negócio jurídico, ou seja, um negócio 
constituído a partir da manifestação da vontade das partes visando alcançar 
efeitos específi cos. Por essa razão, os contratos devem obedecer aos requisitos 
gerais de validade do negócio jurídico. 
Apesar de ser um tema exaustivamente trabalhado na Parte Geral do 
Direito Civil, entendemos que é preciso relembrar, ainda que de forma genérica e 
abrangente, os requisitos de validade do gênero negócios jurídicos, cujo contrato 
é espécie. 
Para ser válido e, portanto, gerar os efeitos pretendidos, o negócio jurídico 
precisa ser analisado a partir de três planos principais:
O contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes 
declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-
fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem 
atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades.
O contrato é um 
negócio jurídico por 
meio do qual as 
partes declarantes, 
limitadas pelos 
princípios da 
função social e da 
boa-fé objetiva, 
autodisciplinam os 
efeitos patrimoniais 
que pretendem 
atingir, segundo a 
autonomia das suas 
próprias vontades
13
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
• Plano da Existência.
• Plano da Validade.
• Plano da Efi cácia. 
Vejamos cada um deles.
a) O plano da existência
O plano da existência refere-se aos elementos imprescindíveis para 
a própria existência do contrato; ausente qualquer um deles, o contrato 
sequer existe juridicamente. Tais elementos são: sujeitos, as partes 
que celebrarão o contrato; vontade, ou seja, o desejo destes sujeitos 
contratantes; forma, o meio pelo qual o contrato será materializado (de 
forma verbal, escrita, eletrônica, etc.); e objeto, o bem ou a obrigação 
abordada no contrato.
b) O plano da validade
O plano da validade irá impor alguns limites ao plano da existência: 
não é qualquer sujeito que pode contratar, assim como não é qualquer 
vontade manifesta que dará validade ao contrato. Veja: caso algum 
dos elementos do plano da validade esteja ausente, o contrato até 
poderá existir juridicamente, mas não produzirá efeitos, porque possui 
algum tipo de invalidade. Os elementos de validade são: sujeito 
dotado de capacidade jurídica; vontade livre e sem qualquer vício de 
consentimento; forma livre ou não proibida por lei; objeto lícito, possível, 
determinado ou ao menos determinável. 
Em outras palavras, segundo os requisitos do plano da validade, o indivíduo 
deve ser capaz (ver artigos 3º, 4º e 5º do Código Civil) e sua vontade não pode, 
de forma alguma, ser dissimulada (ver artigos 138 ao 165 do Código Civil). A 
exteriorização do contrato deve obedecer aos limites legais. Em regra, nosso 
ordenamento adota a forma livre, permitindo que os indivíduos adotem as formas 
que melhor lhe convirem (ver artigo 107 do Código Civil); em algumas situações, 
entretanto, a lei estabelece a forma obrigatória a ser seguida, de maneira que se 
um contrato for celebrado de forma diferente da estipulada, será inválido. 
Por fi m, o objeto deve ser lícito e possível e, se não determinado ao tempo 
do contrato, deve ser determinável, pelo menos, até a data escolhida para o 
cumprimento do acordo. É o caso de contratos de colheita; pode-se acordar que 
no mês de julho serão vendidas 15 sacas de café, mas a espécie de café só será 
determinada nesse mês, pois depende da safra. 
O plano da 
existência refere-
se aos elementos 
imprescindíveis para 
a própria existência 
do contrato; ausente 
qualquer um deles, 
o contrato sequer 
existe juridicamente.
Caso algum dos 
elementos do plano 
da validade esteja 
ausente, o contrato 
até poderá existir 
juridicamente, 
mas não produzirá 
efeitos, porque 
possui algum tipo de 
invalidade.
14
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
c) O plano da efi cácia
O último plano refere-se à efi cácia, ou seja, ao momento a partir 
do qual o contrato estipulado produzirá seus efeitos. Em geral, os 
contratos produzem efeitos imediatos, podendo as partes, entretanto, 
optarem pela produção de efeitos futuros a partir do termo, condição 
ou encargo. O termo é um evento futuro e certo, por exemplo, uma 
data do ano; a condição é um evento futuro e incerto, como um 
casamento; o encargo é um ônus a ser cumprido para que os efeitos 
sejam produzidos; como exemplo, doarei uma casa à minha irmã se 
ela se comprometer a cuidar dos gatos que nela habitam. 
Tendo em vista os planos abordados, podemos construir o seguinte quadro 
geral:
Em geral, os 
contratos produzem 
efeitos imediatos, 
podendo as partes, 
entretanto, optarem 
pela produção de 
efeitos futuros a 
partir do termo, 
condição ou 
encargo.
Elementos de 
existência do 
negócio jurídico: 
um sujeito, que 
manifesta vontade, 
de alguma forma, 
sobre um objeto. 
Este sujeito deve ser 
capaz; a vontade 
deve ser livre e 
sem defeitos, a 
forma livre ou não 
proibida por lei e 
o objeto precisa 
ser lícito, possível, 
determinado ou 
determinável.
OBS: O plano da validade depende do plano da existência; se um 
dos elementos de existência não está presente no contrato, ele não 
existe juridicamente, motivo pelo qual não há que se falar em invalidade, 
mas em inexistência. Pontes de Miranda (1900) coloca os três planos 
distintos numa escada, como se fossem três degraus, quando se 
sobe um deles, signifi ca que o degrau debaixo foi cumprido, ou seja, 
as regras foram cumpridas. Assim, quando os elementos do plano de 
existência não são observados, o contrato será inexistente; quando os 
pressupostos do plano de validade não forem observados, o contrato 
será inválido; e, fi nalmente, quando os fatores de efi cácia não forem 
observados, o contrato será inefi caz.
Para facilitar o estudo dos requisitos gerais de validade, sugerimos 
ao aluno lembrar-se dos elementos de existência do negócio jurídico: 
um sujeito, que manifesta vontade, de alguma forma, sobre um objeto. 
Quadro 1 - Planos do Negócio Jurídico
Plano de Existência Plano de Validade Plano da Efi cácia
Sujeito Capaz Efi cácia imediata
Vontade Livre, sem vícios de consentimento Termo
Forma Livre, não proibida por lei Condição
Objeto
Lícito, possível, determinável ou determi-
nado
Encargo
Fonte: A autora.
15
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Este sujeito deve ser capaz; a vontade deve ser livre e sem defeitos, a formalivre ou não proibida por lei e o objeto precisa ser lícito, possível, determinado ou 
determinável. 
Atividades de Estudos:
 1) Levando em consideração que os contratos estão diretamente 
relacionados à autonomia da vontade, como podemos conceituá-los? 
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
 2) Quais são os requisitos de validade do contrato?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
PrincÍpios Fundamentais
do Direito Contratual
Conforme o jusfi lósofo Guerra Filho (2002, p. 92), os princípios
[...] encontram-se em um nível superior de abstração, sendo 
igual e hierarquicamente superiores, dentro da compreensão 
do ordenamento jurídico como uma ‘pirâmide normativa’ 
(Stufenbau), e se eles não permitem uma subsunção direta de 
fatos, isso se dá indiretamente, colocando regras sob o seu 
‘raio de abrangência’.
Desta forma, é correto afi rmar que cada ramo do direito deve ser aplicado e 
interpretado de acordo com parâmetros basilares, os princípios, que lhes darão 
certo direcionamento para a prática jurídica. 
16
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O direito contratual também possui seus princípios específi cos, 
que deverão reger todo o negócio, de sua celebração (e até antes dela) 
à sua extinção. São eles: 1) Autonomia da vontade; 2) Supremacia 
da ordem pública; 3) Consensualismo; 4) Relatividade dos efeitos; 5) 
Obrigatoriedade; 6) Revisão ou onerosidade excessiva; 7) Boa-fé; 8) 
Função social dos contratos. 
Como bem destacam Gagliano e Pamplona Filho (2014), não se 
pode esquecer, porém, que o direito dos contratos deve sempre ser 
observado sob a luz do princípio basilar de nosso atual paradigma 
constitucional, ou seja, o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Desta forma, caso o contrato não seja cumprido, “o credor não pode 
pretender lançar mão de mecanismos atentatórios à dignidade da 
pessoa humana, senão quando a própria Constituição expressamente 
admitir o sacrifício de um valor individual tendo em vista fi ns superiores” 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014, s.p.). 
Feita essa ressalva, passemos ao estudo dos princípios do direito 
contratual. 
a) Princípio da autonomia da vontade
De acordo com este princípio, os indivíduos são livres para 
contratarem se quiserem, com quem quiserem e sobre o que quiserem. 
Assim, o princípio da autonomia da vontade é o poder dos indivíduos 
constituírem regras próprias, válidas entre si, em observância aos 
limites estabelecidos pelo ordenamento jurídico. A liberdade contratual 
encontra amparo nos artigos 421 e 425 do Código Civil, que concedem 
essa prerrogativa máxima aos particulares. 
Entretanto, como é de se supor, a liberdade contratual não é ilimitada; ela 
deverá ser exercida dentro dos parâmetros legais e de forma a não ofender os 
demais princípios elencados. 
Além disso, em nossa sociedade atual, a autonomia da vontade encontra, cada 
vez mais, limitações, como bem recorda Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 34):
[...] a faculdade de contratar e de não contratar (de contratar se 
quiser) mostra-se, atualmente, relativa, pois a vida em sociedade 
obriga as pessoas a realizar, frequentemente, contratos de 
toda espécie, como o de transporte, de compra de alimentos, 
de aquisição de jornais, de fornecimento de bens e serviços 
públicos (energia elétrica, água, telefone etc.). [...] Também 
a liberdade de escolha do outro contraente (de contratar 
com quem quiser) sofre, hoje, restrições, como nos casos de 
O direito contratual 
também possui 
seus princípios 
específi cos, que 
deverão reger 
todo o negócio, de 
sua celebração (e 
até antes dela) à 
sua extinção. São 
eles: 1) Autonomia 
da vontade; 2) 
Supremacia da 
ordem pública; 3) 
Consensualismo; 
4) Relatividade 
dos efeitos; 5) 
Obrigatoriedade; 
6) Revisão ou 
onerosidade 
excessiva; 7) Boa-
fé; 8) Função social 
dos contratos.
O princípio da 
autonomia da 
vontade é o poder 
dos indivíduos 
constituírem 
regras próprias, 
válidas entre si, em 
observância aos 
limites estabelecidos 
pelo ordenamento 
jurídico.
17
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
serviços públicos concedidos sob regime de monopólio e nos 
contratos submetidos ao Código do Consumidor. E, em terceiro 
lugar, o poder de estabelecer o conteúdo do contrato (de 
contratar sobre o que quiser) sofre também, hodiernamente, 
limitações determinadas pelas cláusulas gerais, especialmente 
as que tratam da função social do contrato e da boa-fé objetiva, 
do Código de Defesa do Consumidor e, principalmente, pelas 
exigências e supremacia da ordem pública.
Esta última limitação mencionada pelo autor, a supremacia da ordem pública, 
é justamente o segundo princípio a ser analisado. 
b) Princípio da supremacia da ordem pública
O conceito de ordem pública é abstrato e difícil de ser delineado. Levando 
em consideração que uma ampla e irrestrita liberdade de contratar poderia gerar 
cenários injustos e esdrúxulos, tal princípio assegura a não exploração de uma 
das partes contratantes.
Para Gagliano e Pamplona Filho (2014), a ordem pública nada mais é que 
um conjunto de princípios jurídicos, políticos e econômicos a serem observados 
pelo direito contratual. Neste sentido, segundo Sílvio Rodrigues (2002, p. 16), a 
“ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesses 
jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, 
os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção 
entre os particulares”.
Em síntese, a ordem pública constitui um limite principiológico aos 
possíveis abusos que possam ser originados a partir da constituição de 
um contrato.
c) Princípio do Consensualismo
O consensualismo refere-se ao necessário acordo de vontades 
para efetuação de um contrato. Neste sentido, pode-se entender que o 
negócio se efetua a partir do consenso entre os contratantes e não da 
entrega do bem em si. 
Imagine, por exemplo, que você se dirige a uma banca de jornal 
em busca de uma revista. Desde que você esteja de acordo com o 
preço ofertado pelo jornaleiro e este esteja de acordo em lhe vender a 
revista escolhida, o contrato de compra e venda já se estabeleceu, em 
observância ao princípio do consensualismo, pois existe um acordo de 
vontades.
A ordem pública 
constitui um limite 
principiológico aos 
possíveis abusos 
que possam ser 
originados a partir 
da constituição de 
um contrato.
O consensualismo 
refere-se ao 
necessário acordo 
de vontades para 
efetuação de um 
contrato. Neste 
sentido, pode-
se entender que 
o negócio se 
efetua a partir do 
consenso entre os 
contratantes e não 
da entrega do bem 
em si.
18
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Caso você saia da banca com a revista sem efetuar o pagamento, ou caso 
o jornaleiro se recuse a entregar o objeto comprado, estaremos diante da fase de 
execução contratual, uma vez que o negócio já foi fechado, mas não devidamente 
cumprido. 
d) Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
Suponha que você realize uma compra grandiosa na Polishop mais próxima, 
mas se torne inadimplente. A loja, cansada de lhe procurar para cobrar o que 
é devido, decide procurar o seu melhor amigo para que ele pague todos os 
cinco conjuntos de panelas antiaderentes que você adquiriu. Essa situação é 
juridicamente possível?
Por certo que não. E a resposta negativa decorre, especialmente, 
do princípio da relatividade dos efeitosdo contrato, segundo o qual os 
negócios fi rmados só terão validade entre as partes contratantes. Não 
é possível que a relação alcance terceiro e seu patrimônio, que nada 
tem a ver com o convencionado. 
Certamente, este princípio possui algumas exceções, como o da 
estipulação em favor de terceiro e o contrato com pessoa a declarar, 
brevemente explanados por Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.):
Por meio da primeira previsão, [estipulação em favor de 
terceiro] uma parte convenciona com o devedor que este 
deverá realizar determinada prestação em benefício de 
outrem, alheio à relação jurídica obrigacional original. Na 
mesma linha, o contrato com pessoa a declarar é uma fi gura 
contratual consagrada expressamente pelo novo Código Civil, 
consistindo, em verdade, em uma promessa de prestação de 
fato de terceiro, que também titularizará os direitos e obrigações 
decorrentes do negócio, caso aceite a indicação realizada.
Este princípio também é limitado nos casos em que há violação da ordem 
pública; caso uma empresa ofereça contrato com cláusula abusiva ao consumidor, 
a cláusula será considerada nula para toda a coletividade e não apenas 
para o consumidor efetivo de determinado produto. 
e) Princípio da obrigatoriedade dos contratos
Pode parecer simplista à primeira leitura, mas, segundo tal 
princípio, os contratos existem para serem cumpridos. Em outras 
palavras, caso não haja nenhum tipo de invalidade, nenhuma afronta 
a algum dos princípios gerais do direito ou aos princípios próprios do 
direito contratual, o pacto deverá ser cumprido exatamente nos termos 
em que foi convencionado. 
Princípio da 
relatividade dos 
efeitos do contrato, 
segundo o qual os 
negócios fi rmados 
só terão validade 
entre as partes 
contratantes. Não 
é possível que a 
relação alcance 
terceiro e seu 
patrimônio, que 
nada tem a ver com 
o convencionado.
Caso não haja 
nenhum tipo de 
invalidade, nenhuma 
afronta a algum 
dos princípios 
gerais do direito 
ou aos princípios 
próprios do direito 
contratual, o pacto 
deverá ser cumprido 
exatamente nos 
termos em que foi 
convencionado.
19
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Este princípio origina-se da necessidade de segurança jurídica nas relações 
contratuais e da ideia de que o contrato faz lei entre as partes (que irá originar o 
brocado pacta sunt servanda), não podendo ser alterado nem mesmo pelo poder 
público, caso válido e não abusivo. 
Algumas exceções a este princípio são: um novo acordo entre as partes, no 
qual todos decidem alterar ou mesmo abolir contrato já pactuado, caso fortuito ou 
força maior. 
f) Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva
Ancorado na teoria da imprevisão, também conhecida como rebus 
sic stantibus, este princípio visa a proteger as partes caso ocorra alguma 
situação inusitada, imprevisível, que torne o contrato demasiadamente 
oneroso. Conforme Gonçalves (2014, p. 98): “É por essa razão que 
os tribunais não aceitam a infl ação e alterações na economia como 
causa para a revisão dos contratos. Tais fenômenos são considerados 
previsíveis entre nós”.
Os artigos 478, 479 e 480 do Código Civil positivaram o referido princípio, 
estabelecendo que, caso um acontecimento extraordinário e imprevisível torne 
as prestações onerosas, as partes podem recorrer ao Judiciário ou para fi ndar o 
contrato ou para modifi cá-lo, afastando o excesso da forma que for possível.
g) Princípio da boa-fé
O artigo 422 do Código Civil assim preceitua: “Os contratantes 
são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em 
sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Neste sentido, 
compreende-se como princípio da boa-fé a norma segundo a qual 
as partes devem se comportar de maneira ética e leal durante todo o 
processo de formação do contrato. Pode ser dividida em duas espécies:
• Boa-fé subjetiva: referente às regras de comportamento e eticidade nas 
relações sociais, abrange das negociações iniciais ao fi m do contrato. 
• Boa-fé objetiva: desempenha uma função interpretativa, criadora de deveres 
jurídicos anexos ou de proteção que irão limitar, por exemplo, a existência 
de cláusulas abusivas. Uma colocação exemplar diz respeito a uma cláusula 
contratual cujo conteúdo impedisse a aplicação da teoria da imprevisão, tem-
se, neste sentido, um dispositivo contratual que atenta contra a boa-fé objetiva, 
já que viola princípio juridicamente positivado.
Este princípio visa a 
proteger as partes 
caso ocorra alguma 
situação inusitada, 
imprevisível, que 
torne o contrato 
demasiadamente 
oneroso.
Compreende-se 
como princípio da 
boa-fé a norma 
segundo a qual 
as partes devem 
se comportar de 
maneira ética 
e leal durante 
todo o processo 
de formação do 
contrato.
20
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
h) Princípio da função social dos contratos
O artigo 421 do Código Civil assim dispõe: “A liberdade de contratar será 
exercida em razão e nos limites da função social do contrato.”. 
Porém, conforme Gagliano e Pamplona Filho (2014), o princípio da função 
social dos contratos abrange um conceito aberto e indeterminado, de forma que é 
preciso explorar suas nuances para então compreendê-lo.
Conforme Paulo Nalin (2002), o aludido princípio precisa ser analisado a 
partir de duas perspectivas:
• Intrínseca: ou seja, entre as partes contratantes. Nesta perspectiva, os 
indivíduos devem atuar conforme o princípio da boa-fé, respeitando os limites 
éticos e a lealdade negocial.
• Extrínseca: ou seja, entre a relação contratual fi rmada e a coletividade. O 
contrato deve ser observado também a partir do impacto que causará na 
sociedade onde for fi rmado.
 
Desta forma, depreende-se que a função social do contrato diz respeito à 
relação existente entre o contrato e a coletividade, como um todo, apesar de 
gerar efeitos diretos apenas para as partes contratantes, em algumas situações 
o contrato poderá causar impactos no social, positivos ou negativos. Conforme 
Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.): 
[...] o contrato é considerado não só como um instrumento de 
circulação de riquezas, mas, também, de desenvolvimento social. 
Isso mesmo: desenvolvimento social. Sem o contrato, a economia 
e a sociedade se estagnariam por completo, fazendo com que 
retornássemos a estágios menos evoluídos da civilização 
humana. Ocorre que todo desenvolvimento deve ser sustentado, 
racionalizado e equilibrado. Por isso, ao concebermos a fi gura 
do contrato – quer seja o fi rmado entre particulares, quer seja o 
pactuado com a própria Administração Pública – não poderíamos 
deslocá-lo da conjuntura social que lhe dá ambiência. Consoante 
inferimos linhas acima, como chancelar como válido, por exemplo, 
um negócio que, posto atenda aos seus pressupostos formais 
de validade, desrespeite leis ambientais ou pretenda fraudar leis 
trabalhistas? Na mesma linha, não se pode admitir contratos que 
violem a livre concorrência, as leis de mercado ou os postulados 
de defesa do consumidor, sob o pretexto de se estar incentivando 
a livre-iniciativa.
Desta forma, segundo o princípio da função social dos contratos, 
os negócios fi rmados entre as partes não podem ser celebrados no 
intuito de gerar impactos socialmente negativos, como o desrespeito às 
leis ambientais e/ou trabalhistas.
Segundo o princípio 
da função social 
dos contratos, os 
negócios fi rmados 
entre as partes 
não podem ser 
celebrados no intuito 
de gerar impactos 
socialmente 
negativos, como o 
desrespeito às leis 
ambientais e/ou 
trabalhistas.
21
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Passamos, agora, ao estudo da formação dos contratos. 
Formação dos Contratos
 
Visto que a autonomia da vontade é um elemento crucial para 
celebração de contratos, passaremos agora ao estudo da formação 
dos contratos. Isto porque não basta que um indivíduo exteriorize sua 
vontade de contratar, é necessário que a outra parteesteja de acordo 
com a proposta oferecida. Neste sentido, é possível falar em três 
etapas gerais para formação contratual: 1) Negociações preliminares; 
2) Proposta; e 3) Aceitação. Vejamos cada uma delas. 
a) Negociações preliminares
Também conhecida como fase de puntuação, esta refere-se ao período inicial 
de acordo, discussões e minutas a respeito do contrato. É neste momento que 
refl exões, pesquisas de preço, cálculos e exposição de interesses antagônicos 
devem ser realizados, pois ainda estamos falando de um contrato a ser efetuado 
futuramente. É exatamente por isso que não há que se falar em obrigações 
fi rmadas nesta etapa – as partes ainda estão discutindo os termos do contrato. 
Imaginemos que irei efetuar a compra de um carro. Em um primeiro 
momento, é necessário verifi car o estado de conservação do automóvel, checar 
sua regularização junto ao Detran, negociar com o vendedor as condições de 
pagamento e possível desconto etc. Se a qualquer momento eu me desinteressar 
pelo veículo, não há qualquer consequência jurídica, pois ainda estávamos na 
fase de negociações preliminares.
Entretanto, é preciso lembrar que neste momento o princípio da boa-fé deve 
ser observado, sob pena de gerar indenização por perdas e danos àquele que 
agir de má-fé nesta etapa. Conforme Gonçalves (2014, p. 56):
Embora as negociações preliminares não gerem, por si mesmas, 
obrigações para qualquer dos participantes, elas fazem surgir, 
entretanto, deveres jurídicos para os contraentes, decorrentes 
da incidência do princípio da boa-fé, sendo os principais os 
deveres de lealdade e correção, de informação, de proteção 
e cuidado e de sigilo. A violação desses deveres durante o 
transcurso das negociações é que gera a responsabilidade 
do contraente, tenha sido ou não celebrado o contrato. 
Essa responsabilidade ocorre, pois, não no campo da culpa 
contratual, mas da aquiliana, somente no caso de um deles 
induzir no outro a crença de que o contrato será celebrado, 
levando-o a despesas ou a não contratar com terceiro etc. e 
depois recuar, causando-lhe dano. 
É possível falar em 
três etapas gerais 
para formação 
contratual: 1) 
Negociações 
preliminares; 2) 
Proposta; e 3) 
Aceitação.
22
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Observe, neste sentido, a seguinte ementa sobre o dever de indenizar em 
caso de negociações preliminares:
Passadas as negociações preliminares, teremos, em seguida, a proposta.
b) Proposta de contratar
Positivada nos artigos 427 e nos seguintes do Código Civil, a proposta 
consiste em uma oferta de contratar que uma parte faz a outra, de forma séria, 
concreta e com real intenção de fi rmar contrato. Poderá ser feita de maneira 
escrita ou verbal, desde que transmita a real intenção do proponente. 
Nesta etapa, já se tem o início de um vínculo obrigacional, pois aquele que 
faz a proposta não pode voltar atrás em sua palavra. Esta vinculação comporta, 
porém, algumas exceções legais, a saber:
• Se a não obrigatoriedade é prevista na proposta, ou seja, quando o proponente 
expressamente declarar que reserva seu direito de arrependimento. 
EMENTA 04: REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. 
RESPONSABILIDADE PRÉ-CONTRATUAL. PRINCÍPIO DA BOA-
FÉ OBJETIVA DOS CONTRATOS
Negociações preliminares a induzir os autores a deslocarem-se 
até o Rio de Janeiro para a aquisição de veículo “seminovo” da ré, na 
companhia de seu fi lho ainda bebê, gerando despesas. Deslealdade 
nas informações prestadas, pois oferecido como “uma joia de carro”, 
“impecável”, gerando falsas expectativas, pois na verdade o veículo 
apresentava pintura mal feita, a revelar envolvimento em acidente 
de trânsito. Omissão no fornecimento do histórico do veículo que 
poderia confi rmar as suspeitas de tratar-se de veículo batido. Danos 
materiais, relativos às passagens aéreas e estadia e danos morais 
decorrentes do sentimento de desamparo, frustração e revolta diante 
da proposta enganosa formulada. Sentença confi rmada por seus 
próprios fundamentos. (Recurso Cível Nº 71000531376, Segunda 
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres 
Hermann, Julgado em 08/09/2004).
23
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
• Se a não obrigatoriedade resultar da própria natureza do negócio. Tem-se, 
como exemplo, as queimas de estoque realizadas por lojas, a oferta é válida 
enquanto durar o estoque, visto que fi ndo o produto, é extinta também a 
possibilidade de vendê-lo. 
• Se a não obrigatoriedade resultar das circunstâncias do caso. Desta forma, 
o juiz possui liberdade para auferir no caso concreto situações nas quais a 
proposta não poderia ser considerada obrigatória.
Há que se falar, ainda, no prazo de validade das propostas. Seriam elas 
ilimitadas temporalmente? 
A resposta é não. O artigo 429 do Código Civil estabelece os prazos de 
validade aplicáveis à proposta, diferenciando, porém, pessoas presentes de 
pessoas ausentes. Assim, para melhor compreender o assunto, é preciso 
diferenciar essas duas categorias.
 
Pessoas presentes são aquelas que mantêm um contato direto e ininterrupto, 
tanto ao vivo quanto virtualmente (chats, messenger, whatsapp, desde que haja 
resposta imediata etc.). O importante nessa situação é que o indivíduo tome 
conhecimento da proposta assim que ela for realizada.
No caso das pessoas ausentes, isso não ocorre porque o meio de 
comunicação utilizado não é imediato. Tem-se, por exemplo, propostas fi rmadas 
por e-mail e as propostas de renegociação de dívidas enviadas por correio para a 
casa do devedor.
Assim, dispõe o Código Civil que a proposta perde seu prazo de validade 
quando:
Art. 428. [...] I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não 
foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a 
pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação 
semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido 
tempo sufi ciente para chegar a resposta ao conhecimento do 
proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a 
resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao 
conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
É importante destacar que no caso de pessoas ausentes, o contrato será 
considerado formado a partir do momento em que a aceitação for enviada, 
conforme artigo 434 do Código Civil. Todavia, a lei estabelece três exceções a 
essa regra, a saber: 1) Se antes ou junto da aceitação chegar a desistência do 
24
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
aceitante; 2) Se quem fez a proposta se comprometer a aguardar a chegada da 
aceitação (forma-se o contrato, então, com a chegada e não com a expedição do 
ato); 3) Se a aceitação não chegar no prazo combinado entre as partes. 
Vejamos, agora, a fase de aceitação. 
c) Aceitação
A aceitação é a manifestação da vontade do indivíduo no sentido de 
concordar com a proposta realizada. Conforme o artigo 431 do Código Civil, se 
essa aceitação não for integral, teremos uma contraproposta, neste caso, a outra 
parte deverá informar se aceita as mudanças sugeridas para que só então o 
contrato se fi rme. 
Caso a proposta seja feita entre ausentes, caso haja algum imprevisto que 
faça com que a aceitação chegue tarde ao conhecimento do proponente, este 
deve comunicar ao aceitante imediatamente sob pena de responder por perdas e 
danos. Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.) apontam o seguinte exemplo:
EMENTA: BEM MÓVEL. COMPRA E VENDA. AÇÃO DE 
REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. IMPROCEDÊNCIA. 
DESCUMPRIMENTO DO PRAZO CERTO DE ENTREGA DA 
MERCADORIA ADQUIRIDA. RECUSA DA MERCADORIA. CONTRATO 
ENTRE AUSENTES. ART. 434 DO CC. CORREIO ELETRÔNICO. 
PREVALECE A TEORIA DA EXPEDIÇÃO. EXISTÊNCIA DE PRAZO 
LIMITE DECLARADO NA ACEITAÇÃO EXPEDIDA. ENTREGA 
POSTERIOR. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL QUE PERMITIA A 
RECUSA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 
No caso de contrato entre ausentes aplica-se a regra do art. 434 
do CC. Paraa aceitação feita mediante correio eletrônico prevalece 
a data da expedição, com o envio da mensagem. De qualquer modo, 
na mensagem virtual expedida pelo aceitante constou o prazo fi nal 
estabelecido para a entrega, sem contrariedade do proponente. Daí 
porque, descumprido o termo, a recusa está justifi cada e não há direito à 
reparação de danos. (Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP - Apelação: 
APL 10372187820148260576 SP 1037218-78.2014.8.26.0576)
25
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Imagine-se, por exemplo, que Souza houvesse enviado a Frim 
uma proposta para a venda de uma tonelada de bananas-
da-terra. Frim, então, dentro do prazo assinado, responde, 
aquiescendo com a oferta. Ocorre que, por circunstância 
imprevista, a carta é extraviada e somente chega às mãos do 
proponente/vendedor (Souza) sete dias após o fi nal do prazo 
de resposta, já tendo o mesmo, inclusive, se comprometido a 
vender as bananas a um terceiro, Geraldo. Deverá, pois, neste 
caso, comunicar imediatamente a Frim o recebimento tardio 
da sua resposta, sob pena de ser civilmente responsabilizado 
pelos danos daí resultantes. 
Além disso, a aceitação pode se dar de forma expressa ou tácita, conforme 
artigo 432 do Código Civil: “Se o negócio for daqueles em que não seja costume a 
aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o 
contrato, não chegando a tempo a recusa”.
Assim, temos duas hipóteses. Imagine um comerciante que sempre 
recebe em sua loja tecidos de algodão fi ados por moradores locais, sem dizer 
expressamente que aceita a mercadoria, realizando pagamento após cinco dias, 
os tecidos sempre são deixados na loja e cinco dias depois o comerciante procura 
os tecelões para fazer o pagamento. Há, aqui, uma aceitação tácita por costume, 
já que nenhuma das partes exige a aceitação expressa, mas ainda assim fi rmam 
contrato. 
Um outro exemplo decorre de quando o próprio ofertante dispensa a aceitação 
expressa. Imaginemos uma reserva de hotel não negada pelo estabelecimento. 
Não há aceitação expressa do cliente que reservou o quarto, mas ainda assim o 
contrato está celebrado.
Por fi m, cumpre lembrar que o local de celebração do contrato é aquele 
no qual foi realizada a proposta, conforme artigo 435 do Código Civil. Caso a 
proposta tenha sido feita em local indeterminado, como em um voo ou em águas 
internacionais, será considerado o lugar de domicílio do proponente. 
ClassiFicação Geral dos Contratos
A classifi cação geral dos contratos nada mais é que um recurso 
pedagógico utilizado para facilitar a compreensão das particularidades 
de cada contrato. Diferentes autores utilizarão diferentes classifi cações, 
o que não prejudica o aprendizado da matéria justamente porque não 
se trata de uma verdade universal, mas de um recurso utilizado para 
viabilizar o entendimento das características de cada contrato. 
A classifi cação geral 
dos contratos nada 
mais é que um 
recurso pedagógico 
utilizado para facilitar 
a compreensão das 
particularidades de 
cada contrato.
26
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
É importante mencionar que neste momento iremos apresentar uma 
classifi cação genérica, sem nos ater a fundo a cada tipo contratual. Os contratos 
em espécie serão estudados no capítulo 2. 
Tomaremos por base, aqui, a classifi cação adotada por Gagliano e Pamplona 
Filho (2014), que assim classifi cam os contratos:
• Classifi cação dos Contratos quanto à Natureza da Obrigação
- Contratos Unilaterais, Bilaterais ou Plurilaterais.
- Contratos Onerosos ou Gratuitos.
- Contratos Comutativos ou Aleatórios.
- Contratos Paritários ou por Adesão.
- Contratos Evolutivos.
• Classifi cação dos Contratos quanto à Forma
- Solenes ou Não Solenes.
- Consensuais ou Reais.
• Classifi cação dos Contratos quanto à Designação
• Classifi cação dos Contratos quanto à Pessoa do Contratante
- Pessoais ou Impessoais.
 - Individuais ou Coletivos.
 - Autocontrato
• Classifi cação dos Contratos quanto ao Tempo
Comecemos, pois, a partir dos contratos classifi cados quanto à natureza da 
obrigação. 
a) Contratos classifi cados quanto à natureza da obrigação
Nesta classifi cação, é importante observar o tipo de obrigação a ser acordada 
entre as partes: se apenas uma das partes receberá algum benefício, se há 
prestação pecuniária para todas as partes etc. 
No capítulo 2, você encontra um estudo aprofundado sobre as 
espécies de contrato.
27
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Inicialmente, há que se falar em contratos unilaterais e bilaterais 
(plurilaterais). O contrato unilateral é aquele no qual apenas uma das partes 
realiza prestação pecuniária, como exemplo, na doação pura: caso um pai queira 
doar um carro ao fi lho, apenas o pai irá arcar com algum tipo de prestação. Ao 
fi lho caberá apenas aceitar ou recusar o presente, não é necessário que efetue 
pagamento algum ao pai. 
Entretanto, se o pai estivesse vendendo o carro ao fi lho, estaríamos diante 
de um contrato bilateral, pois a ambos caberia prestação pecuniária. Se a venda 
fosse do pai ao fi lho e sua nora, teríamos um contrato plurilateral: produção 
simultânea de prestações pecuniárias para os três envolvidos. Logo, bilateral 
quando há apenas duas partes arcando com prestações pecuniárias, e plurilateral 
quando existem mais de três indivíduos na mesma situação. 
O contrato também poderá ser oneroso ou gratuito. No contrato oneroso, 
todas as partes experimentam benefícios e deveres, como é o caso da compra 
e venda. Já no contrato gratuito, apenas uma das partes receberá benefícios, 
enquanto a outra arcará com o ônus, como é o caso da doação pura.
Entende-se contrato comutativo aquele no qual as obrigações se equivalem 
e são conhecidas de início. Você entra em uma loja para comprar uma bela roupa 
exposta na vitrine, desde já você conhece o produto, o valor a ser pago por ele 
e, em regra, imediatamente o leva para casa. Porém, existem os contratos 
aleatórios, nos quais a prestação só pode ser exigida por uma das partes em 
razão de evento futuro. É o caso do contrato de seguro, a cobertura só pode ser 
exigida da agência caso haja algum tipo de acidente. 
Por fi m, há que se falar ainda em contratos paritários e contratos de 
adesão. Nos primeiros, há uma igualdade de condições de negociação entre as 
partes: em ambos pode-se discutir valores, prazos, formas de pagamento etc. O 
mesmo não ocorre nos contratos de adesão, uma das partes impõe cláusulas a 
serem cumpridas e cabe a outra aceitar ou não, nem possibilidade de discussões. 
Tem-se como exemplo os contratos de planos de telefone, internet e TV à cabo. 
b) Contratos classifi cados quanto à forma
Em regra, nosso ordenamento jurídico não exige uma forma específi ca a ser 
adotada (art. 107 do CC-02), motivo pelo qual o contrato verbal é perfeitamente 
válido e efi caz, desde que celebrado mediante os requisitos já estudados. Tais 
contratos são classifi cados como não solenes, já que dispensam formalidades 
legais. Porém, em alguns casos, a lei estipula determinadas formalidades a 
serem seguidas. Estes são os contratos solenes, como exemplo, os contratos 
constitutivos translativos de direitos reais sobre imóveis acima do valor consignado 
em lei, uma vez que o código exige a forma pública para a validade do ato.
28
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O contrato poderá, ainda, ser consensual ou real, quanto à forma. O contrato 
consensual é aquele que se concretiza com a mera declaração de vontade, e, 
dado o aceite, fi rmado o acordo. Já os contratos reais exigem a entrega da coisa 
para sua concretização, neste sentido, temos como exemplo os contratos de 
mútuo, depósito e penhor.
c) Contratos classifi cados quanto à designação
Algumas espécies contratuais são designadas por lei, outras não, o que não 
infl uencia na sua validade e efi cácia. Desta forma, tem-se por nominados os 
contratosespecifi camente tratados no Código Civil, como a compra e venda, e 
inominados aqueles que não o são. 
d) Contratos classifi cados quanto à pessoa do contratante 
Segundo esta classifi cação, os contratos podem ser pessoais, impessoais, 
individuais ou coletivos. 
O contrato pessoal é aquele personalíssimo – celebrado unicamente em 
função de uma pessoa. Considere, por exemplo, que você é um grande fã de 
Pabllo Vittar e a tenha contratado para cantar em sua festa de aniversário. Veja: 
não é possível que Anitta, Valesca ou Alcione cantem no lugar da artista, pois o 
contrato é pessoal – você a contratou pelo seu talento específi co. 
Já o contrato impessoal visa apenas a realização do trabalho, 
independentemente de quem o faça. Temos, como exemplo, o contrato de 
prestação de serviços de limpeza para com uma empresa: não importa se Pablo, 
Anitta, Valesca ou Alcione façam a limpeza, desde que o serviço em si seja 
efetuado. 
O contrato individual é o celebrado por pessoas determinadas, 
individualmente consideradas: Anitta faz um contrato de compra e venda com 
Alcione, estabelecendo o acordo entre elas. Já o contrato coletivo é aquele 
celebrado por grupos não individualizados, reunidos por uma relação jurídica, 
como no caso das convenções coletivas no direito trabalhista. O sindicato realiza 
o acordo com a empresa, não Pablo ou Valesca.
Por fi m, é importante mencionar a fi gura do autocontrato, que, apesar do 
nome, não se trata de um contrato consigo mesmo. Suponhamos que você more 
em Curitiba-PR e esteja vendendo um imóvel à sua amiga Yasmim, que mora 
em Belém-PA. Como o preço das passagens é alto, Yasmim o nomeia como 
seu representante legal, por meio de procuração, para que você resolva todos 
os trâmites do negócio em nome dela. Veja: você é a parte contratual que está 
29
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
vendendo o imóvel e está atuando como representante legal da Yasmim, que está 
comprando este mesmo imóvel – seu nome aparecerá duas vezes no contrato, 
nos dois polos, mas com uma grande diferença: em um deles você age em nome 
próprio, no outro, em nome alheio. A este fenômeno, chamamos autocontrato. 
e) Contratos classifi cados quanto ao tempo de execução
 De acordo com esta classifi cação, pode-se falar em contratos 
instantâneos, como exemplo, a compra e venda à vista, ou de duração, como é o 
caso da compra e venda a prazo.
EFeitos do Contrato
Em geral, é possível elencar quatro efeitos gerais oriundos dos 
contratos. O primeiro deles é a obrigatoriedade; uma vez fi rmado o 
pacto, ele se torna lei absoluta entre as partes, devendo ser cumprido 
conforme o combinado, se nele não há qualquer invalidade. O segundo 
refere-se à irretratabilidade; isto signifi ca que o contrato previamente 
estabelecido só poderá ser desfeito por outro contrato, chamado 
de distrato (art. 472 CC). O terceiro efeito é o da intangibilidade; o 
contrato não poderá ser alterado por vontade única de uma das partes, 
dependendo de um consenso mútuo para que haja a efetivação de 
qualquer mudança. Por fi m, não custa lembrar que o contrato possui 
um efeito pessoal, pois vincula apenas as partes contratantes, não 
podendo, em regra, atingir terceiro desinteressado. 
 
Existem, porém, dois elementos oriundos dos efeitos contratuais que 
merecem ser estudados com maior atenção. Tratam-se do vício redibitório e da 
evicção. Vejamos cada um deles. 
a) Vícios redibitórios
Conforme o artigo 441 do Código Civil, os vícios redibitórios são defeitos 
ocultos que diminuem o valor ou prejudicam a utilização da coisa recebida. 
Segundo Farias e Rosenvald (2012, p. 469): 
[...] o vício redibitório consiste no vício oculto que acomete 
a coisa transferida em contratos comutativos, tornando-a 
imprópria ao uso a que se destina ou lhe reduzindo o valor. 
Sendo inerente à essência do produto, o vício é capaz de 
torná-lo imprestável ao seu fi m natural ou reduzir a capacidade 
do bem por ocasião de sua utilização. 
Em geral, é possível 
elencar quatro efeitos 
gerais oriundos 
dos contratos. O 
primeiro deles é a 
obrigatoriedade; O 
segundo refere-se à 
irretratabilidade; O 
terceiro efeito é o da 
intangibilidade; Por 
fi m, não custa lembrar 
que o contrato 
possui um efeito 
pessoal, pois vincula 
apenas as partes 
contratantes.
30
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
É importante mencionar que em qualquer tipo de contrato no qual haja 
transmissão de propriedade, a teoria do vício redibitório poderá ser aplicada. 
Para que se caracterize o vício redibitório, alguns requisitos são 
necessários. O primeiro deles é o de que o contrato seja comutativo, ou 
seja, tenha obrigações equivalentes para ambas as partes, exigíveis de 
imediato. Nos contratos de doação, o doador não é obrigado a suportar 
as consequências dos vícios redibitórios, embora possa fazê-lo se 
assim quiser (art. 552 CC). Além disso, é necessário que o defeito seja 
oculto e exista antes da tradição, ou seja, da entrega do bem e que 
acarrete em diminuição de valor econômico ou prejuízo à adequada 
utilização da coisa. 
 
O referido instituto encontra fundamentação jurídica na garantia 
contratual, segundo a qual, quem adquire um bem por meio de 
contraprestação, tem total direito de usufruí-lo segundo sua utilidade 
natural. Imagine um indivíduo que adquire um Iphone 7, de última 
geração, mas em razão de um vício oculto, precisa utilizá-lo como um 
simples peso de papel. Não faria o menor sentido. 
Por essa razão, é preciso que o adquirente tenha algum tipo de garantia 
contra o vendedor, caso o bem venha eivado por algum tipo de defeito. Assim, 
a garantia contratual está diretamente relacionada ao princípio da boa-fé, uma 
vez que cabe ao vendedor informar ao comprador todos os detalhes relativos 
ao negócio a ser fi rmado. É importante destacar que, mesmo que o vendedor 
desconheça o vício no bem a ser vendido, ainda será responsável por reparar o 
dano ao comprador. 
E quais são as consequências jurídicas do vício redibitório?
Segundo Farias e Rosenvald (2012, p. 469): o vício redibitório 
consiste no vício oculto que acomete a coisa transferida em contratos 
comutativos, tornando-a imprópria ao uso a que se destina ou lhe 
reduzindo o valor. Sendo inerente à essência do produto, o vício é capaz 
de torná-lo imprestável ao seu fi m natural ou reduzir a capacidade do 
bem por ocasião de sua utilização.
Para que se 
caracterize o vício 
redibitório, alguns 
requisitos são 
necessários. O 
primeiro deles é o 
de que o contrato 
seja comutativo.
Além disso, é 
necessário que o 
defeito seja oculto 
e exista antes da 
tradição, ou seja, 
da entrega do bem 
e que acarrete 
em diminuição de 
valor econômico ou 
prejuízo à adequada 
utilização da coisa.
31
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Vejamos o que diz o Código Civil, em seu artigo 442: “Em vez de rejeitar a 
coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no 
preço”. Assim, é possível inferir que, caso o dilema não seja resolvido de forma 
amigável, por meio de rescisão ou abatimento no preço, o adquirente terá duas 
opções na esfera judicial: redibir o negócio ou obter judicialmente o abatimento 
no preço por meio de ação estimatória. São o que chamamos de ações edilícias. 
Assim, nas ações estimatórias, o adquirente visa ao abatimento na prestação 
já paga. Já nas ações redibitórias, o objetivo é devolver a coisa com a restituição 
da quantia ou prestação paga ao comprador adquirente. 
 Veja o esquema a seguir. Assim, temos:
No entanto, o adquirente deve estar atento aos prazos para propositura das 
ações edilícias. Se estivermos falando de bens móveis, o prazo será de 30 dias, 
para bens imóveis, o prazo será de um ano, sempre contados a partir da efetiva 
entrega do bem. É importante, sobretudo, compreender o que diz a segunda parte 
do art. 445 do Código Civil: “O adquirente decai do direito de obter a redibiçãoou 
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se 
for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da 
alienação, reduzido à metade.” 
De acordo com o dispositivo mencionado, se o indivíduo já estava na posse 
do bem no momento da efetivação do contrato, seus prazos irão cair para metade. 
Claro, se a pessoa já usufruía da coisa, seria de se esperar que ela mesma 
notasse os vícios presentes no bem. 
Imaginemos duas situações. 
Na primeira delas, Ana Paula mora de aluguel na casa de Fabiana há dois 
anos, quando fi nalmente decidiu comprar o imóvel. Realizada a compra, Ana 
Paula descobriu que em razão de desmoronamentos na região, o piso do imóvel 
tende a inclinar dois centímetros por ano, sendo que com o passar do tempo sua 
moradia ali seria inviável. Fabiana não quer conversa, obrigando Ana Paula a 
tomar as medidas legais cabíveis. 
Ações Edilícias
Ação Estimatória: reclamar abatimento na prestação
Ação Redibitória: rejeitar a coisa, redibindo o contrato
32
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Qual o prazo para Ana Paula ajuizar ação edilícia? 
O prazo será de seis meses e não de um ano, pois Ana Paula já residia 
no imóvel quando fez a compra, ou seja, já estava na posse do bem objeto do 
contrato. 
Em situação semelhante, imaginemos que Nathália possui um belo carro 
Ford KA em sua garagem, presente de seus pais, mas não saiba dirigir. Ela e 
sua prima Andressa, que já possui carteira de motorista, combinam que apesar 
do carro ser de Nathália, é Andressa quem irá dirigi-lo, tanto para levar e buscar 
Nathália em qualquer lugar que ela deseje, quanto para seu uso próprio, para sair 
com seus amigos e realizar atividades cotidianas. Andressa gosta tanto de dirigir 
o carro que, após seis meses do acordo, fez uma oferta irrecusável a Nathália, 
que o vendeu. Todavia, na primeira tempestade que desaba na cidade, o carro, 
guardado em garagem aberta, sofre inundação em razão de um pequeno furo 
embaixo do volante. 
Qual o prazo para Andressa ajuizar a ação edilícia de sua preferência?
Como se trata de bem móvel que já estava na posse da adquirente, o prazo 
será de quinze dias (metade do que seria se ela não estivesse na posse do bem).
EMENTA: COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. 
VÍCIOS REDIBITÓRIOS. O objeto da compra e venda, à época do 
negócio, contava com cerca de sete anos. Assim, e tendo a venda 
se realizado entre particulares, cumpria ao adquirente verifi car o 
estado do bem, a fi m de evitar a despesa reclamada. Isso porque, 
considerando o rol de peças dos orçamentos acostados, observa-se 
se tratar muito mais de desgaste por decurso do tempo e de uso do 
que por defeito no motor. Dessa forma, não responde o vendedor 
pelos problemas manifestados no funcionamento do carro. Esse, 
inclusive, é o entendimento predominante nestas Turmas Recursais. 
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 
RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71004278974, Terceira 
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Carlos Eduardo 
Richinitti, Julgado em 27/06/2013) 
33
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
b) Eviccção
Conforme já mencionado, nas relações contratuais não basta que as partes 
cumpram a obrigação acordada. É necessário, ainda, que ajam de acordo 
com o princípio da boa-fé, atuando conforme os deveres anexos de proteção, 
cooperação e informação. Neste sentido, trataremos de mais uma fi gura que se 
origina a partir dos efeitos do contrato: a evicção.
Conforme Farias e Rosenvald (2012, p. 493), a evicção é “a perda da coisa em 
virtude de decisão judicial ou administrativa que conceda o direito – total ou parcial 
– sobre ela a um terceiro estranho à relação contratual em que se deu a aquisição”. 
 
Imaginemos que Silvana compre o computador usado de Joel, por meio de 
contrato válido de compra e venda. O computador funciona normalmente, não há 
nenhum vício redibitório e atende perfeitamente às necessidades de 
Silvana. Acontece que, meses depois, ela é surpreendida por Nívea, que 
comprova em juízo que o computador, na verdade, era seu – e não de Joel, 
motivo pelo qual ele não poderia tê-lo vendido. Silvana, assim, torna-se 
evicta (excluída) e deve procurar Joel para obter a devida indenização. 
Eis a evicção: perda da posse ou propriedade de um bem em razão 
do reconhecimento de que este bem, na verdade, pertencia a terceiro 
antes da celebração do contrato em questão. 
Eis a evicção: 
perda da posse ou 
propriedade de um 
bem em razão do 
reconhecimento de 
que este bem, na 
verdade, pertencia 
a terceiro antes 
da celebração 
do contrato em 
questão.
Conforme Farias e Rosenvald (2012, p. 493), a evicção é “a 
perda da coisa em virtude de decisão judicial ou administrativa que 
conceda o direito – total ou parcial – sobre ela a um terceiro estranho 
à relação contratual em que se deu a aquisição”. 
Assim como no caso dos vícios redibitórios, a evicção só atinge os contratos 
onerosos comutativos, ou seja, no qual ambas as partes têm encargos e 
vantagens. No caso da doação, Farias e Rosenvald (2012, p. 494-495) afi rmam:
34
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Não se olvide ainda da possibilidade de o doador suportar 
a evicção quando dolosamente transfere a propriedade do 
bem, sabendo ser ela portadora de vício jurídico. Cuida-
se do “presente de grego”. A especifi cidade da hipótese 
reside no fundamento diferenciado da demanda: não será o 
alienante responsabilizado pela evicção por ser ela estranha 
aos contratos gratuitos, mas por eventuais perdas e danos 
decorrentes do ato ilícito. 
Desta forma, ainda que a evicção em si não possua incidência obrigatória 
sobre os contratos de doação, alienar bem que não lhe pertence confi gura ato 
ilícito e, como tal, gera indenização. 
Outros elementos constituintes da evicção são: privação do direito do 
adquirente, que apesar de já ter fi rmado o negócio não poderá usufruir do bem 
que adquiriu; preexistência do direito de terceiro, em razão da ilegitimidade do 
alienante vendedor para dispor sobre a coisa, já que esta, na verdade, pertencia 
a terceiro; e privação judicial ou extrajudicial, ou seja, a evicção poderá ocorrer 
tanto por força de uma sentença quanto por reconhecimento espontâneo do 
adquirente, ou mesmo mediante apreensão por autoridade administrativa. Basta 
lembrar de casos de apreensão de veículos furtados, a simples atuação da polícia 
já é sufi ciente para ocorrência da evicção. 
Assim como os vícios redibitórios, a evicção tem por fundamentação a 
garantia contratual. Conforme Farias e Rosenvald (2012, p. 496):
A função prático-social da garantia da evicção nos contratos 
onerosos é a de recompor o equilíbrio contratual, abalado 
pelo rompimento da correspectividade das prestações. Com 
a provação do bem, experimenta o evicto uma mitigação 
patrimonial que rompe o sinalagma genético, pois o seu 
sacrifício fi nanceiro já não mais será compensado por qualquer 
vantagem econômica. 
Assim, a evicção é uma forma de restabelecer o equilíbrio na relação 
contratual fi rmada, já que nos contratos onerosos comutativos há deveres e 
obrigações para ambos. 
 
Quanto aos direitos do evicto, além da restituição integral da prestação paga, 
ele terá direito a indenização por perdas e danos decorrentes do ato, ainda que 
o bem esteja de alguma forma deteriorado. A responsabilidade será do alienante, 
exceto quando o adquirente estiver de má-fé (saber que o bem pertencia a 
terceiro, por exemplo). 
 
Ainda há que se falar em duas espécies de evicção, a total e a parcial. A 
primeira ocorre quando há perda completa da posse ou propriedade do bem, como 
mencionado no exemplo do computador. A evicção parcial ocorre quando apenas 
parte da posse ou propriedade da coisa é perdida. Como exemplo, imaginemos 
35
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
que Beatriz compre a biblioteca completa de seu primoIgor, pelo seu amor à 
leitura e à erudição. Satisfeita com a compra, Beatriz é surpreendida por Douglas 
que afi rma que, dos 890 livros constantes no acervo, 300 são seus, e não de Igor. 
Neste caso, conforme artigo 455 do Código Civil, Beatriz poderá optar entre a 
extinção do contrato com Igor ou a restituição do preço pelo prejuízo sofrido. 
Por fi m, é preciso ressaltar que o Código Civil em seu artigo 448 permite 
expressamente que as partes diminuam, aumentem ou excluam completamente 
a hipótese de evicção. Essas convenções, entretanto, devem estar expressas no 
contrato, não podendo nunca serem implícitas. Desta forma, segundo Gagliano e 
Pamplona Filho (2014, s.p.):
Se as partes resolverem aumentar (extensão da garantia) 
o direito do adquirente – estabelecendo uma multa caso 
se consume a perda, por exemplo -, abater a garantia de 
indenização pelos eventuais frutos restituídos (diminuição 
da garantia), ou, bem assim, excluírem totalmente a 
responsabilidade pela evicção, somente poderão fazê-lo por 
cláusula expressa constante do contrato fi rmado. 
Vistos os efeitos decorrentes das relações contratuais, passaremos agora ao 
estudo das hipóteses de extinção do contrato.
 
c) Extinção contratual 
Neste tópico, abordaremos as hipóteses de extinção contratual. Também 
trataremos de algumas questões relacionadas à extinção dos contratos, como a 
exceção de contrato não cumprido e a resolução por onerosidade excessiva.
Tomando por base a classifi cação proposta por Gagliano e Pamplona Filho 
(2014), estudaremos as formas de extinção do contrato conforme o seguinte 
resumo esquemático:
Natural
Extinção
Posterior
Cumprimento do pacto
Verifi cação de fator efi cacial
Causa anterior ao contrato: invalidade, cláusula 
resolutória, direito de 
arrependimento, redibição.
Causa posterior ao contrato: resilição, resolução, 
rescisão, morte, caso 
fortuito ou força maior
36
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Vejamos primeiro as causas naturais de extinção do contrato. 
• Extinção natural do contrato
Os contratos existem para serem cumpridos, certo? Neste sentido, 
nada mais lógico que a primeira hipótese de extinção natural seja o 
cumprimento integral do contrato. As partes cumpriram as obrigações 
acordadas, usufruíram dos bônus ofertados e o contrato chegou ao fi m 
de seu ciclo sem maiores problemas. 
A segunda causa de extinção natural refere-se ao plano da 
efi cácia, já estudado neste capítulo. Como faláramos, em regra, os 
contratos são celebrados de forma que o acordado seja efetivado 
imediatamente. A critério das partes, porém, é possível suspender a 
efi cácia do acordo para um momento futuro. 
Assim, é possível que as partes tenham estabelecido um termo, 
um evento futuro e certo para só então o contrato se efetivar. Por 
exemplo, Fabíola encomenda um belo vestido no ateliê de Núbia, que 
só fi cará pronto em 30 dias. Desta forma, ambas se comprometem a 
realizar as devidas prestações 30 dias após a encomenda, ou seja, no dia 09 
de abril. Até lá, o contrato existe e é válido, mas é inefi caz em razão do termo 
estabelecido, apenas no dia 09 de abril o vestido será entregue, o valor será 
recebido e, assim, o contrato terá fi m. 
Outra possibilidade é que as partes tenham estabelecido uma condição, 
um termo futuro e incerto para a efetivação do contrato. Assim, Conceição se 
compromete, mediante contrato, a doar um imóvel a seu neto Mateus no dia 
de seu casamento. Podem se passar 10, 15, 20 anos, caso o casamento não 
aconteça, o contrato jamais terá efi cácia, pois está vinculado a esta condição. 
Vistas as hipóteses naturais de extinção, passamos às outras hipóteses de 
extinção. 
• Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato
Caso as obrigações pactuadas não tenham sido cumpridas, 
estaremos diante de causas não naturais de extinção contratual, 
que podem ocorrer antes, durante e após a celebração do pacto. 
Trataremos das hipóteses ocorridas antes ou durante a fi rmação do 
contrato. 
Primeira hipótese 
de extinção natural 
seja o cumprimento 
integral do contrato. 
As partes cumpriram 
as obrigações 
acordadas, 
usufruíram dos 
bônus ofertados e o 
contrato chegou ao 
fi m de seu ciclo sem 
maiores problemas.
Caso as obrigações 
pactuadas não 
tenham sido 
cumpridas, 
estaremos diante 
de causas não 
naturais de extinção 
contratual, que 
podem ocorrer antes, 
durante e após a 
celebração do pacto.
É possível que 
as partes tenham 
estabelecido um 
termo, um evento 
futuro e certo para 
só então o contrato 
se efetivar.
37
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
A primeira delas diz respeito ao plano da validade, conforme já estudado 
neste capítulo. Lembre-se de que para um contrato ser válido, ele deve ter sujeito 
capaz, vontade livre e sem defeitos, forma livre ou não proibida por lei, objeto 
lícito, possível, determinado ou determinável. Assim, imagine o seguinte caso: 
José Herrera, uruguaio, fi rma um contrato de compra e venda de cannabis sativa 
com João Pedro, brasileiro, no Brasil, sem saber da ilicitude deste objeto em 
solo brasileiro. José Herrera, esperto, recebe o bem, mas se recusa a pagar sua 
prestação. O que resta a João Pedro? Sentar e chorar, já que o contrato é inválido 
em função da ilicitude do objeto e, portanto, será considerado extinto. 
A segunda hipótese refere-se à cláusula resolutória constante no artigo 474 
do Código Civil, sendo uma cláusula que contém um evento futuro e incerto e que, 
ocorrendo, acarretará a extinção do contrato. 
A terceira hipótese refere-se aos vícios redibitórios, aqueles defeitos ocultos 
no bem pactuado. Nathália vende a Andressa um carro Ford KA que, ao enfrentar 
sua primeira tempestade em local aberto, inunda. Andressa pode tanto extinguir o 
contrato, obtendo seu dinheiro de volta, ou optar por manter o contrato e solicitar 
abatimento no preço. 
A quarta e última hipótese de extinção contratual em razão de causas 
anteriores ou contemporâneas à formação do contrato é o direito de 
arrependimento. As partes podem pactuar expressamente no contrato que, dentro 
de um determinado período de tempo, reservam-se ao direito de se arrepender 
do negócio fi rmado. Caso este arrependimento realmente ocorra, fi ndo está o 
contrato, sem que sua fi nalidade original tenha sido cumprida. 
• Causas supervenientes à formação do contrato
A partir de agora, estudaremos as causas de extinção contratual que são 
posteriores à formação do pacto entre as partes. 
A primeira delas é a resilição, oriunda de uma vontade que poderá ser 
bilateral (querida por todas as partes) ou unilateral (desejada por apenas uma 
das partes). A primeira, também conhecida como distrato, é um novo contrato 
cujo objeto é a extinção de contrato anteriormente fi rmado. A segunda tem sua 
incidência reduzida, podendo incidir em apenas alguns tipos contratuais, em 
razão do princípio da obrigatoriedade dos contratos. 
A respeito do distrato, o artigo 472 do Código Civil assim preceitua: “O distrato 
faz-se pela mesma forma exigida para o contrato”, ou seja, se a lei exige alguma 
forma específi ca para o contrato original, o distrato também deverá obedecê-la. 
Conforme Gonçalves (2014, p. 143-144):
38
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
A exigência de observância da mesma forma exigida para o 
contrato, feita no citado art. 472, não deve ser interpretada, 
contudo, de forma literal, mas com temperamento: o distrato deve 
obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este 
tiver forma especial, mas não quando esta for livre. Desse modo, 
a compra e venda de imóvel de valor superior à taxa legal, que 
exige escritura pública, só pode ser desfeita, de comum acordo, 
por outra escritura pública. Mas o contrato de locação, que tem 
forma livre, pode ser objeto de distrato verbal, mesmo tendo sido 
constituído mediante contrato escrito, por exemplo.
É importante mencionar que o distrato pode findar qualquer tipo de contrato 
ainda não cumprido, bastando, para tanto, a vontade das duas partes em realizá-
lo e seus efeitos não são retroativos, valendo apenas para o futuro. 
A respeito da resilição unilateral, ela poderá ocorrer apenas nos contratos 
que tenham por objeto obrigações duradouras, impedindo sua renovação 
ou continuação, independentemente do inadimplemento de uma das partes. 
Um bom exemplo é o contrato de renovação de aluguel; em regra, ele irá se 
renovando automaticamente até que uma das partes opte por fi ndá-lo, sem que 
haja inadimplemento de qualquer dos lados. Trata-se do meio adequado para 
extinguir contratos que não tenham prazo determinado, pois, se não houvesse tal 
possibilidade, o contrato seria eterno.
Ademais, como preceitua Gonçalves (2014, p. 144):
A resilição unilateral independe de pronunciamento judicial e 
produz efeitos ex nunc, não retroagindo. Para valer, deve ser 
notifi cada a outra parte, produzindo efeitos a partir do momento 
em que chega a seu conhecimento. É, destarte, declaração 
receptícia da vontade. Em princípio, não precisa ser justifi cada, 
mas em certos contratos exige-se que obedeça à justa causa. 
Nestas hipóteses a inexistência de justa causa não impede a 
resilição do contrato, mas a parte que o resiliu injustamente fi ca 
obrigada a pagar, à outra, perdas e danos. 
 
A segunda causa é a resolução, segundo a qual o contrato se extingue em 
virtude do descumprimento do que fora pactuado. A resolução pode ocorrer de duas 
formas: por inexecução voluntária ou por exceção de contrato não cumprido. 
Na inexecução voluntária, um dos contratantes deixa de cumprir a obrigação 
pactuada, gerando um desequilíbrio na relação contratual que acarretará em 
danos para a outra parte. Resolvido o contrato por esta razão, as partes devem 
realizar restituições recíprocas, estando o indivíduo inadimplente sujeito à 
indenização por perdas e danos. Caso a obrigação pactuada seja passível de 
realização imediata, os efeitos dessa extinção serão retroativos, caso seja de trato 
sucessivo, como a compra e venda a prazo, as prestações já pagas permanecem 
inalteradas, gerando efeito não retroativo. 
39
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Na exceção de contrato não cumprido, enfrentamos situação um pouco 
diferenciada: o contrato será extinto porque nenhuma das partes cumpriu aquilo 
que fora pactuado. Geralmente é utilizada como instrumento de defesa na 
inexecução voluntária, já que a parte inadimplente pode argumentar que não 
cumpriu com sua obrigação porque o outro indivíduo também não cumpriu com 
a sua. Disciplinada no artigo 476 do Código Civil, a exceção de contrato não 
cumprido tem como um de seus requisitos a existência de um contrato bilateral; 
a demanda de uma das partes pelo cumprimento daquilo que fora pactuado e um 
prévio descumprimento da prestação pela parte demandante. 
Desta forma, imagine que Sofi a realiza a compra de uma geladeira usada 
com Raíssa. Fica pactuado que a geladeira deverá ser entregue no dia 02 de 
março, ao passo que Raíssa deverá depositar o dinheiro no dia 03 de março. No 
dia 04, Sofi a reclama em juízo que não recebeu a prestação combinada, exigindo, 
portanto, a resolução do contrato. Em sua defesa, porém, Raíssa afi rma que 
não realizou o pagamento porque não recebeu a geladeira, utilizando, assim, a 
exceção de contrato não cumprido como forma de defesa processual. 
Apesar de ser utilizado de forma indiscriminada, o termo rescisão, em seu 
signifi cado técnico, refere-se à invalidade dos contratos em razão de dois vícios 
do consentimento: lesão ou estado de perigo. 
A lesão, prevista no artigo 157 do Código Civil, caracteriza-se quando um 
indivíduo se aproveita da necessidade ou inexperiência de outrem para celebrar 
com ele um negócio extremamente desvantajoso. Já o estado de perigo, elencado 
no artigo 156 do mesmo diploma legal, confi gura-se quando um indivíduo celebra 
contrato desvantajoso para salvar a si próprio ou alguém de sua família em razão 
de perigo conhecido pela outra parte. Nas duas hipóteses o contrato é inválido, 
em razão de vício na vontade emanada e, portanto, poderá ser judicialmente 
rescindido (extinto). 
No caso da morte de um dos contratantes, o contrato só será extinto caso 
a obrigação pactuada seja personalíssima, de forma que apenas o falecido 
poderia cumpri-la. Caso contrário, ela será transmitida aos herdeiros que 
deverão fazê-la se cumprir. 
Uma outra hipótese refere-se à extinção contratual em virtude de caso 
fortuito ou força maior, cumprimento do contrato torna-se impossível em 
razão de acontecimentos alheios à vontade dos contratantes. No entanto, este 
ocorrido deve ser objetivo, ou seja, não ser criado ou infl uenciado pelo devedor; 
impossibilitar totalmente o cumprimento do pacto, pois o credor pode ainda 
ter interesse na prestação mesmo que parcial; e defi nitiva, pois, se temporária, 
gerará apenas a suspensão momentânea do contrato. 
Neste caso, o inadimplente não é responsável por perdas e danos, a não ser 
que no contrato haja previsão expressa de que ele arcará com os danos em situação 
40
 Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
de caso fortuito ou força maior ou, ainda, se estiver em mora para com o adquirente 
(arts. 393 e 399, CC). A extinção do contrato será imediata, com efeito retroativo, ou 
seja, a parte inadimplente deve devolver eventual prestação que já tenha recebido 
sem, entretanto, estar obrigado a pagar indenização por perdas e danos. 
Por fi m, é importante tecer algumas considerações a respeito da teoria 
da imprevisão e a extinção contratual por onerosidade excessiva. Como já 
mencionado anteriormente neste capítulo, embora a regra seja a não alteração 
arbitrária dos contratos, em razão de sua obrigatoriedade, algumas circunstâncias 
supervenientes podem tornar a prestação excessivamente onerosa. Por tal 
motivo, temos o princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva, 
também conhecido como rebus sic stantibus. 
De acordo com tal princípio, entende-se que nos contratos comutativos 
existe uma cláusula implícita segundo a qual o contrato só será completamente 
obrigatório se as situações fáticas que o circundam na origem permanecerem 
inalteradas, sem modifi cações extraordinárias que tornem o contrato excessivo, 
por exemplo, na ocorrência de uma guerra. 
No ordenamento jurídico brasileiro, para que o devedor se livre da obrigação 
tornada demasiadamente excessiva em razão de fato extraordinário, este 
acontecimento deve ser, também, imprevisível. Alterações econômicas como 
a infl ação, por exemplo, não podem ser evocadas como desculpas para o 
inadimplemento contratual. 
Uma de suas características é a de que a onerosidade excessiva pode ser 
alegada tanto pelo devedor quanto pelo credor. Qualquer uma das partes atingida 
por uma mudança imprevisível e fora do comum terá o direito de recorrer a essa 
cláusula implícita. Além disso, caso ainda haja algum interesse no cumprimento 
da obrigação acordada, é possível realizar alterações no contrato para que, ao 
invés de extinto, ele adeque-se às circunstâncias. 
A matéria é tratada no Código Civil de 2002, nos artigos 478, 479 e 480. 
Conforme o referido diploma legal, a extinção contratual com base na onerosidade 
excessiva só pode se efetivar na ocorrência dos seguintes elementos: 
acontecimento extraordinário, imprevisível e excessivamente oneroso para uma 
das partes que acarretará em extrema vantagem para a outra. 
Atividades de Estudo:
 1) A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário 
não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das 
circunstâncias do caso. Deixa, entretanto, de ser obrigatória a 
proposta.
41
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS Capítulo 1 
Algumas Considerações 
Neste capítulo procuramos tecer algumas considerações gerais a respeito 
do direito contratual, como: o conceito técnico de contrato, seus requisitos

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