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DIREITO DE FAMÍLIA II
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Dóris Ghilardi
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
 Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
 Cristiane Lisandra Danna
 Norberto Siegel
 Camila Roczanski
 Julia dos Santos
 Ariana Monique Dalri
 Bárbara Pricila Franz
 Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Priscilla Camargo
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
G424d
 Ghilardi, Dóris
 
 Direito de família II. / Dóris Ghilardi – Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 204 p.; il.
 ISBN 978-85-53158-39-3
 1.Direito de família – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
 Da Vinci.
CDD 346.8106
Dóris Ghilardi
Doutora em Ciência Jurídica pela Univali, 
com tese aprovada com distinção e louvor (2015); 
Mestre em Ciência Jurídica pela Univali - Itajaí (2006); 
Formação e aperfeiçoamento pela Escola da Magistratura 
- ESMESC - Florianópolis-SC (2002); Graduação em 
Direito na Univali, Itajaí (2000). Professora adjunta da 
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, na área 
de Direito Civil; professora convidada permanente da ESA-
SC; ex-professora da Escola da Magistratura de Santa 
Catarina (ESMESC); ex-coordenadora do Curso de Pós-
Graduação de Direito de Família e Sucessões do Cesusc; 
pesquisadora. Membro da Comissão de Direito de Família 
da OAB-SC. Coordenadora científi ca do IBDFAM-SC. 
Autora do livro Economia do Afeto: Análise Econômica 
do Direito de Família; coautora do livro de Prática 
Jurídica Processual Civil. Co-organizadora da 
coletânea de livros de Prática Jurídica, publicada 
pela Lumen Juris, e autora de diversos artigos 
científi cos. Membro do grupo de estudos de 
Direito Civil Contemporâneo.
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................07
CAPÍTULO 1
Parentesco .............................................................................09
CAPÍTULO 2
Filiação ...................................................................................23
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
Adoção ....................................................................................43
Do Poder Familiar .................................................................63
Regime de Bens ......................................................................81
Do Usufruto e da Administração dos Bens dos 
Filhos Menores....................................................................117
Dos Alimentos ......................................................................127
Bem de Família .......................................................................157
Tutela e Curatela ................................................................191
União Estável .......................................................................171
APRESENTAÇÃO
O tema a ser abordado no presente livro envolve o Direito de Família, ramo 
em constantes transformações que requer especial atenção. O rompimento com 
institutos da tradição lapidados há séculos, agora desafiam novas soluções, 
ainda carentes de previsão legal. Neste cenário, o afeto foi reconhecido como 
importante valor e possibilitou um novo retrato, garantidor da pluralidade de 
entidades familiares, promovedor de abertura conceitual, além de repaginar 
outros importantes institutos familistas.
A família patriarcal, exclusivamente casamentária, com parentesco definido 
e que preconizava a distinção entre os filhos, cede espaço para múltiplas formas 
de família, em que o parentesco é remodelado e o direito de filiação ampliado. A 
certeza de papéis definidos por cada um dos membros, bem como a estruturação 
sólida do passado, são substituídas por incertezas geradas por relações cada 
vez mais fluidas e efêmeras, que permitem a união entre pessoas do mesmo 
sexo, com mais de duas pessoas, além do convívio mais frequente de filhos de 
uniões anteriores com novos parceiros, fazendo exsurgir relações socioafetivas, 
possibilitadoras de reconhecimento de simultaneidade de vínculos paterno-filiais, 
que criam laços e obrigações jurídicas. Isto tudo em curto espaço de tempo. 
Em observância à multiplicidade de experiências que afasta o modelo único 
e reivindica novos espaços, conformações e estruturas, impõe-se refletir sobre a 
interlocução entre espaço público e privado e suas interferências na construção 
de projetos e sentidos de vida de cada um e de cada entidade familiar. 
Atentando às constantes mutações, a obra é redigida com base em várias 
teorias doutrinárias, entendimentos dos Tribunais, resoluções do Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) e enunciados do Instituto Brasileiro de Direito de 
Família (IBDFAM) e do Conselho de Justiça Federal (CJF).
Com vistas ao atendimento desses critérios, este livro está dividido em 10 
capítulos. O primeiro aborda o parentesco, o segundo a filiação e reconhecimento 
de filhos, ambos baseados no critério biológico, mas também nas mudanças 
ocorridas com a valorização da socioafetividade. O terceiro trata da adoção, o 
quarto do poder familiar e o quinto de regime de bens. O sexto capítulo traz a 
questão do usufruto e administração dos bens dos menores, o sétimo os alimentos 
e questões controvertidas, o oitavo o bem de família. Por fim, os dois últimos 
têm como temas a união estável, a tutela e a curatela e todas as suas recentes 
mudanças.
CAPÍTULO 1
Parentesco
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender o parentesco a partir da nova estrutura que engloba a 
parentalidade registral, biológica e socioafetiva e todas as implicações 
decorrentes dessa mudança.
 Revisar as estruturas de parentesco e a forma de contagem de graus de 
parentes.
 Atentar para as mudanças interpretativas que vem promovendo alterações de 
concepções e de moldes no parentesco.
 Refl etir sobre aspectos polêmicos.
10
 DIREITO DE FAMÍLIA II
11
PARENTESCO Capítulo 1 
ConteXtualiZação
Este primeiro capítulo tratará sobre os elos estabelecidos entre 
determinadas pessoas em razão de seu pertencimento à mesma 
entidade familiar. Historicamente tratado como originado do casamento 
e de laços biológicos, o parentesco vem sofrendo signifi cativas 
alterações. 
O desenvolvimento biotecnológico e científi co, a globalização, as 
mudanças culturais, as relações mais efêmeras e multifacetadas, a 
valorização do amor e do afeto exigem uma releitura dos institutos. É 
fato que a estrutura familiar mudou e com ela o estudo do parentesco precisa se 
adaptar para uma compreensão mais abrangente, pluralista e inclusiva. 
A doutrina já vem abordando o tema e sistematizando o parentesco 
de maneira tríplice: a parentalidade biológica, a parentalidade registral e a 
parentalidade socioafetiva, conforme se verá a seguir.
Este primeiro 
capítulo tratará 
sobre os elos 
estabelecidos 
entre determinadas 
pessoas em 
razão de seu 
pertencimento à 
mesma entidade 
familiar.
Definição de Parentesco
Parentesco é a caracterização de uma relação jurídica que vincula certas 
pessoas de uma mesma família em função dos elos havidos entre si. É o 
pertencimento decorrente de relações entre pessoas que integram um grupo 
familiar. Contudo não se pode confundir família com parentesco, conceitos que 
não se equivalem.
Como advertem Farias e Rosenvald (2017, p. 540), “enquanto a família é um 
grupo formado por pessoas reunidas socialmente, o parentesco dizrespeito ao 
vínculo natural (o que não signifi ca dizer, necessariamente biológico, podendo ser 
afetivo) estabelecido entre determinadas pessoas que podem, ou não, compor um 
mesmo núcleo”. 
Por exemplo, marido e mulher não são considerados parentes entre si, 
assim como os companheiros também não. Eles inauguram uma entidade familiar 
conjugal ou de companheirismo, isto é, eles são família, mas não parentes. 
Outra situação a ser destacada é a relação entre um pai ou mãe e o fi lho 
havido fora do casamento. Eles são parentes, mas não necessariamente irão 
compor o mesmo núcleo familiar. 
12
 DIREITO DE FAMÍLIA II
A família é representada pelo seu núcleo fundamental, hoje 
considerada aberta, plural, formada a partir de variados modelos. Já o 
parentesco, no passado, fundava-se pelos laços biológicos, de adoção 
e também os laços que uniam marido e mulher (ou companheiros) aos 
parentes do outro.
A família é 
representada 
pelo seu núcleo 
fundamental, hoje 
considerada aberta, 
plural, formada a 
partir de variados 
modelos.
Defi nição: Essa noção, contudo, passou a abranger as 
situações existenciais baseadas também na socioafetividade, razão 
pela qual o parentesco pode ser sustentado como “o vínculo, com 
diferentes origens, que atrela determinadas pessoas, implicando 
efeitos jurídicos diversos entre as partes envolvidas” (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017, p. 541).
Parentesco Natural ou Civil
O artigo 1.593 do CC afi rma que “o parentesco é natural ou civil, 
conforme resulte de consanguinidade ou de outra origem”. Assim, 
a leitura que vem sendo feita é a de que o Código Civil permite o 
acolhimento de outros vínculos, além dos laços sanguíneos (que se 
originam por meio de relações sexuais ou técnicas de reprodução 
assistida) ou por adoção, caso da socioafetividade. O enunciado 103 
do CJF, acolhendo essa tese, foi assim redigido: 
O Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies 
de parenstesco civil, além daquele decorrente da adoção, 
acolhendo, assim, técnicas de reprodução assistida heteróloga 
relativamente ao pai (ou mãe) que não contribui com seu 
material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada 
na posse do estado de fi lho.
Ainda o enunciado n. 256 do CJF: “A posse de estado de fi lho (parentalidade 
socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil”. 
A leitura que vem 
sendo feita é a 
de que o Código 
Civil permite o 
acolhimento de 
outros vínculos, 
além dos laços 
sanguíneos (que 
se originam por 
meio de relações 
sexuais ou técnicas 
de reprodução 
assistida) ou por 
adoção, caso da 
socioafetividade.
13
PARENTESCO Capítulo 1 
Portanto, a visão reducionista cedeu espaço para uma 
compreensão mais inclusiva de parentesco, com a inserção dos 
laços socioafetivos. Contudo, o art. 1.593 do CC sofre críticas em sua 
redação ao distinguir entre o parentesco natural ou consanguíneo e o 
parentesco civil, por não ser mais justifi cável qualquer denominação 
discriminatória em com relação aos fi lhos. Sugere-se, portanto, que se 
utilize apenas a denominação parentes, sem qualquer adjetivo.
A visão reducionista 
cedeu espaço para 
uma compreensão 
mais inclusiva de 
parentesco, com a 
inserção dos laços 
socioafetivos.
Linhas e Graus
O vínculo de parentesco é estabelecido em linhas e graus. As linhas são as 
ramifi cações, podendo ser reta ou colateral, também chamada de transversal. Os 
graus, por sua vez, equivalem à distância geracional.
Essa organização importa para fi ns de análise dos efeitos 
produzidos pelo parentesco, que são de caráter obrigatório, não 
podendo ser desfeitos pelas partes. Somente o que extingue os 
vínculos de parentesco é a adoção. Em princípio, nem a extinção do 
poder familiar tem o condão de retirar os efeitos oriundos da relação 
entre pais e fi lhos, mantendo-se, portanto, a obrigação alimentar, o 
direito de herança, bem como os impedimentos ao casamento (LÔBO, 
2012, p. 209).
Os parentes em linha reta são aqueles que guardam entre si relação 
geracional linear; são aqueles que derivam uns dos outros, de acordo com o art. 
1.591 do CC. A linha reta é ascendente ou descendente e contempla os avós, os 
pais, os fi lhos, os netos, os bisnetos e assim por diante. Pode bifurcar-se em linha 
reta materna e paterna, além de poder ser analisada pelo ângulo da ascendência 
(pai, avô, bisavô) ou da descendência (fi lho, neto, bisneto). 
Na linha colateral, encontram-se os parentes que não possuem vínculos de 
ascendência ou descendência, mas compartilham o mesmo ancestral, a teor do 
art. 1.592 do CC. Também chamada de transversal ou oblíqua. São os irmãos, os 
tios, os sobrinhos, os primos, o tio-avô e o sobrinho-neto.
Na linha colateral, classifi cam-se os irmãos em bilaterais (fi lhos do mesmo 
pai e da mesma mãe) e unilaterais (fi lhos apenas do mesmo pai ou da mesma 
mãe). Essa distinção refl etirá no tocante aos efeitos sucessórios (arts. 1.841 a 
1.843, ambos do CC).
Essa organização 
importa para fi ns 
de análise dos 
efeitos produzidos 
pelo parentesco, 
que são de caráter 
obrigatório, não 
podendo ser 
desfeitos pelas 
partes.
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 DIREITO DE FAMÍLIA II
Contagem de Graus
Na linha reta, a contagem do parentesco inicia-se com o primeiro grau e 
continua ilimitadamente, isto é, admite graus ad infi nitum, tendo potencialidade de 
produção de variados efeitos previstos na lei. 
De acordo com o art. 1.594 do CC, “contam-se na linha reta os graus de 
parentesco pelo número de gerações (...)”. Assim, entre pais e fi lhos, há uma 
geração; entre avós e netos, duas gerações; entre bisavós e bisnetos, três 
gerações; entre trisavô e trineto, quatro gerações, e assim por diante. Pode-se 
dizer, ainda, que pais e fi lhos são parentes em primeiro grau; avós e netos são 
parentes em segundo grau etc.
A dica é partir de você ou de alguém que queira descobrir o grau 
de parentesco e seguir até encontrar o outro que se deseja. 
Em que pese a potencialidade de efeitos entre os parentes na 
linha reta, quanto mais próximo o parentesco, maiores as chances 
de incidência desses efeitos. Para ilustrar, no direito sucessório, 
havendo parentes em graus mais próximos, os mais remotos serão excluídos. 
Havendo fi lhos, por exemplo, eles excluirão os netos do direito de herança. Assim 
também na obrigação alimentar, havendo pais, a estes incumbirão o dever de 
pagar alimentos aos fi lhos menores, transmitindo-se esta obrigação aos avós, 
apenas em caráter subsidiário, nunca diretamente. Por outro lado, a proibição de 
casamento prevista no art. 1.521 do CC estende-se a todo e qualquer parentesco 
em linha reta.
A dica é partir 
de você ou de 
alguém que queira 
descobrir o grau de 
parentesco e seguir 
até encontrar o outro 
que se deseja.
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PARENTESCO Capítulo 1 
Figura 1 – Gráfi co de Parentesco em linha reta
LINHA PATERNA LINHA MATERNA
Bisavós
Paternos
Avós
Paternos
Bisavós
Maternos
Avós
Maternos
Pai Mãe
Você
Filhos
Netos
Bisnetos
DESCENDENTES
ASCENDENTES3º grau
2º grau
1º grau
1º grau
2º grau
3º grau
OBS: A linha reta
é ilimitada e o
parentesco se
conta a cada
geração
Fonte: Antonio Pedro Videira - JusBrasil 
Já no parentesco colateral, a contagem é um pouco mais complexa. O início 
da contagem se dá em segundo grau, encerrando-se no quarto grau, ou seja, 
os possíveis direitos somente serão reconhecidos até o quarto grau, no máximo. 
Contudo, o alcance dos efeitos na linha colateral oscila a depender dos direitos 
em pauta. 
Para exemplifi car as situações previstas no Código Civil, pode-se citar o art. 
1.521, inciso IV, que ao tratar sobre os impedimentos do casamento, alcança os 
colaterais até o terceiro grau (tio e sobrinhos); o art. 1.697 do CC, por sua vez, 
que trata dos alimentos entre colaterais, prevê a possibilidade de cobrança de 
alimentos apenas entre irmãos (2º grau); por fi m, o art. 1.839 do CC que trata 
sobre direito sucessório, na linha colateral, contempla os parentes colateraisaté o 
quarto grau, na lógica de que o mais próximo exclui o mais remoto. 
Não há parente em primeiro grau na linha colateral, porque a contagem 
leva em consideração o parente comum. Nas palavras de Lôbo (2012, p. 211), a 
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 DIREITO DE FAMÍLIA II
contagem na linha colateral “inicia-se a partir de determinada pessoa, 
subindo-se até o ascendente comum da outra pessoa, daí descendo-
se até esta, para se poder constatar ou não a relação de parentesco”.
Assim, para saber o parentesco entre irmãos, deve-se primeiro 
achar o parente comum na linha reta, para depois chegar até ele. 
Exemplo: você, seu pai e seu irmão, o que caracteriza dois graus? 
Um entre você e seu pai e outro entre você e seu irmão. Irmãos são, 
portanto, parentes em segundo grau. 
São colaterais em terceiro grau tios e sobrinhos, lembrando que o 
parente comum neste caso é o avô. Em quarto grau aparecem os primos, os tios-
avôs e os sobrinhos-netos, que têm como parente comum o bisavô. 
“Inicia-se a partir 
de determinada 
pessoa, subindo-se 
até o ascendente 
comum da outra 
pessoa, daí 
descendo-se até 
esta, para se 
poder constatar ou 
não a relação de 
parentesco”.
Figura 2 – Gráfi co de parentesco na linha colateral
Linha Reta
Linha ColateralLinha Colateral
Tio Avô
Bisavô
Avô
Pai
Irmãos
Filho Sobrinhos
Neto Filho do Sobrinho
Neto do Sobrinho
Filho do Primo
Primos
Tios
Bisneto
...
Filho do Tio Avô
...
3º
2º
1º
4º
4º
4º
1º
2º
2º
3º
3º
3º
Eu
Fonte: Antonio Pedro Videira - JusBrasil
17
PARENTESCO Capítulo 1 
Afinidade
O vínculo conjugal ou de companheirismo reúne os cônjuges ou 
companheiros entre si, ao passo que a afi nidade liga cada um desses 
individualmente, aos parentes do outro. O art. 1.595 do CC está assim 
construído: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do 
outro pelo vínculo de afi nidade”. 
Também se dá pela linha reta e colateral. Na linha reta não 
há limitação de grau, embora na prática apenas se encontrem 
nomenclaturas específi cas para os parentes por afi nidade na linha reta 
em primeiro grau (sogro(a), genro, nora, enteados(as), padrasto e madrasta).
Segundo a construção do Código Civil, que privilegiava os laços 
biológicos, os vínculos por afi nidade foram construídos muito mais com 
intuito de estabelecimento de limites de impedimentos de casamento, 
do que propriamente criação de direito e deveres. No passado, não 
se cogitava efeitos decorrentes da relação entre padrasto e enteada, 
como obrigação alimentar e/ou direito de herança. Ocorre que, com 
as novas construções de laços afetivos, pode sim a afi nidade gerar 
direitos e obrigações, basta ser baseada em laços de afeto.
O tema ainda é recente e desafi a o Judiciário, mas pouco a 
pouco começam a surgir decisões estabelecendo deveres a partir 
do reconhecimento de vínculos socioafetivos entre parentes por 
afi nidade, caso do padrasto obrigado a prestar alimentos à fi lha de 
sua companheira, conforme se extrai de decisão em primeiro grau, da 
Comarca de São José-SC, confi rmada pelo Tribunal de Justiça, com 
trecho assim ementado: “Alimentos à enteada. Possibilidade. Vínculo socioafetivo 
demonstrado. Parentesco por afi nidade. Forte dependência fi nanceira observada” 
(TJ/SC, AI n. 2012.073740-3, 2ª Câmara de Direito Civil, Comarca de São José, j. 
04.02.2013).
Ainda não de forma geral, porém em casos concretos, o parentesco por 
afetividade começa a também surtir efeitos jurídicos. 
Prosseguindo, a contagem de graus na afi nidade se dá da mesma forma 
que entre os parentes. Recomenda-se agora utilizar a regra do espelho, isto é, 
para saber qual o parentesco do seu marido/companheiro com seus pais, basta 
saber qual o seu parentesco com os seus pais. Como já foi visto, é de primeiro 
grau, portanto, o parentesco do marido/companheiro com os pais da mulher, por 
O vínculo 
conjugal ou de 
companheirismo 
reúne os cônjuges 
ou companheiros 
entre si, ao passo 
que a afi nidade liga 
cada um desses 
individualmente, aos 
parentes do outro.
Segundo a 
construção do 
Código Civil, que 
privilegiava os 
laços biológicos, 
os vínculos por 
afi nidade foram 
construídos muito 
mais com intuito de 
estabelecimento 
de limites de 
impedimentos de 
casamento, do 
que propriamente 
criação de direito e 
deveres.
18
 DIREITO DE FAMÍLIA II
afi nidade. Assim também para saber qual o seu parentesco com o irmão do seu 
marido/companheiro, basta saber qual o parentesco do marido/companheiro com 
o irmão. Viu-se que o parentesco entre irmãos é de segundo grau, razão pela qual 
a afi nidade entre cunhados também será de segundo grau. 
São parentes por afi nidade, na linha reta, em primeiro grau: sogro(a), genro, 
nora, enteados(as), padrasto e madrasta. São parentes por afi nidade, na linha 
colateral, em segundo grau, os cunhados(as). A afi nidade na linha colateral se 
restringe ao segundo grau, não sendo considerado como afi m os concunhados ou 
os fi lhos do cunhado.
O parentesco por afi nidade em linha reta não se extingue, conforme redação 
do parágrafo 2º do art. 1.595 do CC, estando impedidos de casar para sempre ex-
nora e sogro, por exemplo. 
Figura 3 – Gráfi co de afi nidade
Casamento
Sogro SogroSogra Sogra
Cunhado (a) Cunhado (a)
(sou Genro/Nora)
EU
Enteado (a) Enteado (a)
Afi nidade 1º grau
linha reta ascendente
Afi nidade 1º grau
linha reta ascendente
Afi nidade 1º grau
linha reta descendente
Afi nidade 1º grau
linha reta descendente
Afi nidade 2º grau
linha colateral
Afi nidade 2º grauAfi nidade 2º grau
linha colateral
Afi nidade 2º grau
(é Genro/Nora)
CÔNJUGE
é Padrasto/
Madrasta
Afi nidade 2º grau
linha colateral
Afi nidade 2º grauAfi nidade 2º grau
linha colateral
Afi nidade 2º grauAfi nidade 2º grau
Sou Padrasto/
Madrasta
Fonte: A autora.
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PARENTESCO Capítulo 1 
Efeitos Decorrentes do Parentesco
O parentesco produz efeitos para além do Direito de Família, podendo-se 
encontrar refl exos no direito sucessório, como já visto, mas também em outras 
áreas, como no direito eleitoral, no direito administrativo, no direito processual e 
no âmbito penal.
No Direito de Família, cria obrigação alimentar (art. 1.694 do CC - os parentes 
são obrigados a prestar alimentos entre si); impõe impedimentos ao casamento 
(art. 1.591 do CC); instaura o poder familiar e refl ete no direito de guarda (art. 
1.589 do CC). 
Já no Direito Processual Civil, o parentesco é considerado para fi ns de 
estabelecimento de impedimentos e suspeição das partes ou advogados com 
relação ao juiz da causa (também aplicável ao Promotor de Justiça e demais 
serventuários), conforme determina o art. 144 do CPC. Também não podem os 
parentes servirem como testemunhas das partes, nem a favor, nem contrariamente 
(art. 447 do CPC).
No Direito Eleitoral, o parentesco pode gerar inelegibilidade (art. 14, parágrafo 
17 da CRFB/88) e, no Direito Administrativo, as restrições aparecem com relação 
à vedação do nepotismo. Nesse sentido, é o teor da Súmula Vinculante n. 13 do 
STF: 
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha 
reta, colateral ou por afi nidade, até o terceiro grau, inclusive, da 
autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica 
investido em cargo de direção, chefi a ou assessoramento, para 
o exercício de cargo em comissão ou confi ança, ou ainda, de 
função gratifi cada na administração pública, compreendidos o 
ajuste mediante designações específi cas, viola a Constituição 
Federal.
No Direito Penal, o parentesco aparece no art. 181 do CP, não sendo 
considerado crime contra o patrimônio o praticado por ascendente ou descendente, 
seja o parentesco natural ou civil. Ainda o art. 61, II, do CP considera o parentesco 
uma circunstância agravante de pena. O Código Penal regula ainda vários crimes 
contra a família, como bigamia (art. 236, CP), entre outros, além de um rol de 
crimes contra o estado de fi liação.
20
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Atividade deEstudos: 
1) Ana, fi lha de Joaquim, casou-se com Ricardo, que é fi lho de 
Augusto, sendo este irmão de Joaquim. Pergunta-se:
a) Existe parentesco ou afi nidade entre Ana e Ricardo?
b) Entre Ana e Augusto?
c) É válido tal casamento segundo o Código Civil?
d) Existe afi nidade entre Joaquim e Augusto?
e) O irmão de Ricardo é o que de Ana?
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21
PARENTESCO Capítulo 1 
Algumas ConsideraçÕes 
Como se pode perceber, a noção de parentesco é relevante não só para 
o Direito Privado, mas também para o Direito Público, produzindo efeitos tanto 
de ordem pessoal, quanto de ordem patrimonial. A importância de seu estudo 
está diretamente atrelada às mudanças de conceito e abrangência das entidades 
familiares, suas novas formações e vínculos. 
O reconhecimento do vínculo socioafetivo como nova forma de constituição 
de relações de parentesco causa uma série de dúvidas relacionadas à extensão 
de efeitos, e vai sendo pouco a pouco delineado por meio das decisões dos 
Tribunais.
ReferÊncia
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
LÔBO, Paulo. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2013.
MADALENO, Rolf. Direito de família. Rio de Janeiro: Gen Editora, 2016.
22
 DIREITO DE FAMÍLIA II
CAPÍTULO 2
Filiação
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Revisar o tema da fi liação.
 Contextualizar a fi liação dentro das novas abordagens da socioafetividade e da 
multiparentalidade.
 Compreender as alterações e suas implicações de modo a aplicar o conteúdo 
considerando a nova estruturação e suas consequências.
 Apontar aspectos polêmicos e instigar refl exões;
24
 DIREITO DE FAMÍLIA II
25
FILIAÇÃO Capítulo 2 
ConteXtualiZação
Aplica-se ao direito de fi liação o princípio da igualdade entre os fi lhos e o 
princípio da vedação de tratamento discriminatório. A Constituição Federal, em 
seu artigo 227, parágrafo 6º, terminou com a construção anterior do Código Civil, 
que autorizava a distinção entre fi lhos, privilegiando os oriundos do casamento e 
discriminando aqueles concebidos fora da relação conjugal. 
Atualmente, portanto, “fi lhos são fi lhos, independente da origem”. Tanto que 
o Código Civil de 2002 já foi reescrito com base nos novos valores, prevendo em 
seu art. 1.596 a igualdade de direitos e qualifi cações para todos os fi lhos, havidos 
ou não da relação de casamento.
Apesar disso, o Código Civil trata em capítulos separados os fi lhos oriundos 
do casamento e os fi lhos de outras origens. No capítulo intitulado “Da fi liação” 
(arts. 1596 a 1606 do CC), trata dos fi lhos oriundos na constância do casamento; 
e no capítulo “Do reconhecimento dos fi lhos” (arts.1607 a 1617 do CC), trata dos 
demais, balizando diferentes realidades fáticas, já que os oriundos do casamento 
são privilegiados com a presunção de paternidade.
Entretanto, como adverte Madaleno (2016 p. 486), “a subsistência desse viés 
diferenciando os fi lhos do casamento em contraste com a prole extramatrimonial, 
em nada se equipara ao estigmatizante contexto das fi liações legítimas e 
ilegítimas vigentes até a edição da Constituição Federal de 1988”.
Filiação: Igualdade de Direito e 
OBrigaçÕes
O conceito de fi liação não é tarefa simples, basta ser vivenciada a 
experiência da fi liação para que ela possa ser constituída, não sendo 
mais necessária a geração biológica ou por adoção regular. Sob um 
ponto de vista mais técnico, pode-se dizer que fi liação é a relação de 
vínculo de parentalidade estabelecida entre fi lhos e pais, que não mais 
pode ser buscada apenas no campo genético, mas também em outras 
origens, como no simples registro, na adoção ou na socioafetividade. 
A concepção de fi lhos genéticos não se restringe apenas aos 
oriundos de métodos tradicionais, mas também aos fi lhos de laboratório, 
por concepção homóloga (material genético oriundo dos próprios pais) 
ou heteróloga (material de doador ou doadores anônimos), “barriga de 
Sob um ponto de 
vista mais técnico, 
pode-se dizer 
que fi liação é a 
relação de vínculo 
de parentalidade 
estabelecida entre 
fi lhos e pais, que 
não mais pode 
ser buscada 
apenas no campo 
genético, mas 
também em outras 
origens, como no 
simples registro, 
na adoção ou na 
socioafetividade.
26
 DIREITO DE FAMÍLIA II
aluguel”, ou as mais recentes parcerias de paternidade (pais que se encontram 
em ambientes virtuais com a única intenção de gerar fi lhos). Essa relação atribui 
reciprocamente direitos e deveres, consoante previsões legais.
Segundo Farias e Rosenvald (2017, p. 566), para a compreensão do 
fenômeno fi liatório no mundo contemporâneo, deve-se respirar os ares da 
constitucionalidade, sendo possível construir um pensamento de fi liação nos 
seguintes termos:
A fi liação está: (i) vocacionada a não discriminação de 
todo e qualquer tipo de fi lho (esteja contemplado, ou não, 
em norma infraconstitucional) e a sua proteção integral, 
independentemente de sua origem; (ii) despatrimonializada, 
tendendo à afi rmação de valores existenciais, muito mais do 
que, simplesmente, voltada para a transmissão de herança. 
Filiação é um vínculo de parentesco com importância ímpar, responsável por 
dar continuidade às famílias e construir os laços mais genuínos de amor, afeto 
e cuidado. Também envolve, no mínimo, três relações distintas a depender do 
ângulo: fi liação pelo ponto de vista do fi lho; paternidade, do ponto de vista do pai e 
maternidade do ponto de vista da mãe. Esse tríplice laço pode ser denominado de 
parentalidade, como vem sendo apelidado pela doutrina.
O vínculo de parentalidade (laços entre pais e fi lhos) pode ser constituído 
por meio do registro e ter coincidência com o vínculo consanguíneo e afetivo. Em 
outros casos, entretanto, esses laços não serão exercidos por meio da mesma 
fi gura paterna ou materna, podendo haver pluralidade de vínculos. 
Portanto, atualmente, há vários critérios de determinação do vínculo parental: 
a) Critério biológico: consistente no estabelecimento de vínculos 
sanguíneos, isto é, com identidade de material genético. Esse critério 
ganhou importância com o exame de DNA, permitindo a determinação 
biológica com grau de certeza de até 99,999% de chances de acerto. 
Inclusive, foi editada Súmula pelo STJ, de n. 301, que salienta que “em 
ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de 
DNA induz presunção juris tantum de paternidade”. 
Atualmente, contudo, o biológico é apenas mais um critério de defi nição 
de fi liação, tem sido recentemente considerado em pé de igualdade com o 
critério socioafetivo, sem qualquer preponderância de um sobre o outro. Importa 
acrescentar, apenas, queo critério biológico pode ser oriundo de método de 
concepção tradicional de fi lhos, como também oriundo de reprodução assistida 
homóloga e também de barriga solidária. 
27
FILIAÇÃO Capítulo 2 
A reprodução assistida abrange as técnicas de reprodução humana. 
Chama-se homóloga quando decorre de manipulação de gametas masculinos e 
femininos do próprio casal; chama-se heteróloga quando se utiliza o esperma ou 
óvulo de doador(a) fértil; inseminação, quando se implanta o material genético do 
homem diretamente no útero da mulher; fertilização “in vitro”, quando é colhido o 
material tanto do homem quanto da mulher e a concepção é realizada “in vitro” e 
depois inserido o embrião na mulher. 
A gestação por substituição é a famosa “barriga de aluguel”, quando o 
material genético dos pais é implantado em outra mulher, “barriga solidária” que 
gestará a criança. 
 
Por fi m, fala-se ainda das parcerias de paternidade, também chamadas 
de coparentalidade, são aquelas parcerias feitas por pais que se encontram em 
um ambiente virtual, criado especifi camente com a fi nalidade de proporcionar 
encontros a pessoas que desejam ter fi lhos.
b) Critério socioafetivo: é a fi liação resultante de vínculos de afeto. Não 
está lastreada em vínculos biológicos, mas cimentada no tratamento 
recíproco dispendido no cotidiano. Ela é construída aos poucos. João 
Batista Villela, em famoso artigo sobre a desbiologização da fi liação, 
já chamava a atenção de que a fi liação não é um fato biológico, mas 
cultural, reconhecendo a insufi ciência do critério consanguíneo para 
reconhecer os vínculos de parentalidade. 
Essa nova construção permite a separação entre os conceitos de pai e 
genitor. Farias e Rosenvald (2017, p. 614) elaboraram um rol ilustrativo de 
situações em que fi ca evidente a presença do vínculo de afetividade a determinar 
o estado de fi liação: 
(i) na adoção obtida judicialmente; (ii) no fenômeno de 
acolhimento de um “fi lho de criação”, quando demonstrada a 
presença da posse de estado de fi lho; (iii) na chamada adoção 
à brasileira (reconhecer voluntariamente como seu um fi lho 
que sabe não ser) (iv) no reconhecimento voluntário ou judicial 
da fi liação de um fi lho de outra pessoa (quando um homem, 
enganado pela mãe ou por ter sido vencido em processo 
judicial, é reconhecido como pai e, a partir daí, cuida desse 
fi lho, dedicando amor e atenção).
A posse de estado de fi lho mencionada requer a aparência de estado de 
fi liação, estabelecida num ato de vontade, que se sedimenta no terreno da 
afetividade e exige três critérios para o reconhecimento: a) tratamento de fi lho; b) 
reputação/fama: perante a sociedade, ou seja, as pessoas próximas reconhecem 
28
 DIREITO DE FAMÍLIA II
o vínculo como sendo de parentalidade; e c) nome: usar o nome da família. Este 
último critério exigido pela doutrina tradicional já é refutado atualmente, não sendo 
mais exigido na prática, em razão de não ter sentido acolher a socioafetividade 
apenas entre membros de uma mesma entidade familiar. 
 O critério socioafetivo poderá ser utilizado como argumento em 
todas as ações que versem sobre fi liação, desde a investigação de 
paternidade até a negatória de paternidade. Uma vez constituído o 
vínculo pelo critério da socioafetividade, decorrerão todos os efeitos da 
fi liação, sejam existenciais ou patrimoniais. Portanto, caberá o registro 
duplo na certidão de nascimento, bem como o direito de alimentos e de 
herança. 
Em princípio, reconhecido o vínculo socioafetivo, estariam 
desconstituídos os vínculos biológicos. Ocorre que a teoria da 
multiparentalidade, que já vinha sendo propalada pela doutrina, 
inclusive por mim já defendida, em artigo publicado pelo Instituto Brasileiro de 
Direito de Família, foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, que passou a 
admitir a concomitância dos laços genéticos e afetivos. 
A tese fi xada pelo STF foi: “A paternidade socioafetiva, declarada 
ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo 
de fi liação concomitante baseado na origem biológica, com os 
efeitos jurídicos próprios” (STF, Ac Tribunal Pleno, RE 898.060/SC, 
Repercussão Geral 622, rel. Min. Luiz Fux, j. 22.9.16).
O reconhecimento da multiparentalidade, bem como as 
consequências advindas a partir de seu acolhimento, ainda precisam 
ser melhor refl etidos, pairando inúmeras dúvidas sobre o tema, 
questões como se os alimentos deverão ser prestados por ambos 
os pais ou se caberá duplicidade de direito de herança ainda são 
incógnitas, gerando controvérsias entre os autores.
 
Por enquanto, as questões estão sendo analisadas de acordo com a 
casuística. Mesmo nos casos em que se reconhece apenas o vínculo socioafetivo 
com o rompimento dos laços biológicos, há pensamentos controvertidos, caso 
dos alimentos. Farias e Rosenvald (2017, p. 615) sustentam que, estabelecido o 
vínculo socioafetivo, não mais se pode exigir do pai biológico alimentos, herança, 
nem pode exercer o poder familiar. Já Madaleno (2016) defende a tese da 
paternidade alimentar, entendendo cabível a obrigação ao genitor, quando o pai 
socioafetivo não tiver condições de prestá-los. 
O critério 
socioafetivo poderá 
ser utilizado como 
argumento em 
todas as ações 
que versem sobre 
fi liação, desde a 
investigação de 
paternidade até 
a negatória de 
paternidade.
“A paternidade 
socioafetiva, 
declarada ou não 
em registro público, 
não impede o 
reconhecimento do 
vínculo de fi liação 
concomitante 
baseado na origem 
biológica, com os 
efeitos jurídicos 
próprios”
29
FILIAÇÃO Capítulo 2 
Todavia, entende-se possível ao fi lho afetivo o pleito de reconhecimento de 
origem genética, sem qualquer outro efeito, ou seja, o direito ao reconhecimento 
da ancestralidade é tutelado, enquanto a extensão dos direitos patrimoniais, em 
regra, é repelida. 
Sobre socioafetividade e multiparentalidade, leia: CALDERÓN, 
Ricardo. Princípio da afetividade no Direito de Família. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2017.
c) Presunção de paternidade: é também um critério jurídico de fi liação. 
O Código Civil em seu art. 1.597 estabelece as presunções resultantes 
do casamento, apesar dos avanços na área genética, que permitem 
comprovar a paternidade biológica através do exame de DNA. 
A presunção tem fundamento numa época em que apenas a maternidade era 
certa, estabelecendo-se a paternidade por meio das presunções, cabendo apenas 
ao marido o direito de impugnação de tal paternidade (art. 1.601 do CC). O artigo 
está assim redigido:
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do 
casamento os fi lhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de 
estabelecida a convivência conjugal; 
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da 
sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e 
anulação do casamento; 
III - havidos por fecundação artifi cial homóloga, mesmo que 
falecido o marido; 
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões 
excedentários, decorrentes de concepção artifi cial homóloga; 
V - havidos por inseminação artifi cial heteróloga, desde que 
tenha prévia autorização do marido.
O inciso I trata do casamento em que a criança nasce até seis meses 
depois da união conjugal. O inciso II leva em consideração um período mais ou 
menos correspondente ao tempo máximo gestacional, atribuindo ao ex-marido a 
paternidade da criança. Já os incisos III, IV e V contemplam três hipóteses de 
gestação provenientes de concepção artifi cial. As presunções se estabelecem na 
fecundação homóloga, que é aquela em que a mulher engravida com esperma 
do marido, embora este faleça posteriormente; também no caso de gravidez com 
embriões originados com material genético do marido e, por fi m, na inseminação 
com material de terceiro quando haja autorização prévia do marido. 
30
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Essa presunção não foi estendida à união estável, sendo o 
artigo taxativo aocasamento. Na prática, isso signifi ca que a mãe 
de uma criança, nos casos elencados no artigo 1.597 do CC, pode ir 
diretamente ao Cartório Civil e registrar a criança em nome do marido. 
Quando a mulher não for casada, somente conseguirá registrar o nome 
do pai, se deste estiver acompanhada. 
Prova da fi liação: para encerrar o item sobre fi liação, importa anotar que o 
registro civil é o meio hábil ordinário para estabelecer a parentalidade, devendo 
todos os nascimentos serem registrados (Lei 6.015/73, arts. 50 a 66). 
Com o registro, a certidão de nascimento passa a comprovar a fi liação 
(art. 1.603, do CC), gozando de presunção quase que absoluta do vínculo ali 
estabelecido, o qual somente poderá ser desconstituído em caso de erro ou 
falsidade (art. 1.604, CC). 
O legislador deixou claro que, além da certidão de nascimento, a fi liação 
pode ser comprovada por qualquer outro modo admissível em direito, a teor do 
disposto no art. 1.605 do CC, sendo o principal deles a prova pericial de DNA. 
Contudo, não se pode olvidar de que a comprovação de origem genética 
estabelece a parentalidade biológica, que hoje pode ser afastada se já existente e 
comprovada a parentalidade socioafetiva.
“Sem dúvida, a notoriedade e a exteriorização de uma relação 
paterno-fi lial (isto é, posse de estado de fi lho) decorre de veementes 
presunções de fatos já certos” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 569).
A existência e a comprovação dessa relação socioafetiva poderá 
então ser regularizada com o registro civil, podendo, a partir disso, 
garantir todos os direitos e deveres advindos do reconhecimento de 
parentalidade.
Essa presunção 
não foi estendida à 
união estável, sendo 
o artigo taxativo ao 
casamento.
A existência e a 
comprovação dessa 
relação socioafetiva 
poderá então ser 
regularizada com 
o registro civil, 
podendo, a partir 
disso, garantir 
todos os direitos e 
deveres advindos do 
reconhecimento de 
parentalidade.
Do Reconhecimento dos Filhos
O art. 1.607 do Código Civil preconiza que “o fi lho havido 
fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou 
separadamente”. O fi lho que não tenha sido regularmente registrado 
por declaração dos pais ou legitimado (art. 52 da Lei n. 6.015/73), 
pode ser reconhecido posteriormente, a qualquer tempo (antes do 
nascimento, em vida ou após a sua morte).
“O fi lho havido fora 
do casamento pode 
ser reconhecido 
pelos pais, conjunta 
ou separadamente”.
31
FILIAÇÃO Capítulo 2 
Em que pese a igualdade trazida pela Constituição Federal de 1988, que 
veda qualquer referência à natureza da fi liação, o Código Civil continuou a tratar 
a fi liação separadamente a depender se o vínculo é oriundo do casamento ou de 
relações extraconjugais. O capítulo sobre reconhecimento dos fi lhos trata desta 
segunda situação, que pode decorrer de casais que vivam em união estável, que 
tenham um simples namoro ou que não tenham qualquer vínculo.
Como já visto, aos fi lhos oriundos do casamento prevalece a presunção de 
certeza da maternidade da mulher, e a presunção da paternidade, com relação ao 
marido, não tendo sentido se falar em reconhecimento. 
Em síntese: “enquanto a fi liação matrimonial decorre de uma 
presunção jurídica, a fi liação extramatrimonial é materializada por 
meio do reconhecimento de fi lhos, por ato voluntário ou por decisão 
judicial” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 622).
O reconhecimento dos fi lhos é um direito personalíssimo e irrevogável. 
Todavia, se o fi lho já estiver reconhecido por outra pessoa, será necessário o 
ajuizamento de ação judicial para discutir o estado de fi liação, já que o registro 
estabelece presunção de paternidade ou maternidade ali referidos. Caso acolhido o 
pedido, ocorrerá uma retifi cação de registro civil. Essa presunção somente poderá 
ser elidida em caso de erro ou falsidade, segundo termos do art. 1.604 do CC.
O reconhecimento dos fi lhos pode decorrer de ato voluntário ou de 
intervenção judicial. 
Reconhecimento voluntário: é o que ocorre sem qualquer constrangimento. 
Feito de forma espontânea pelo pai ou pela mãe, ou também por procurador, com 
poderes especiais (art. 59, da Lei 6.015/73, Lei de Registros Públicos). Pode ser 
feito conjuntamente pelos pais ou em atos separados (art. 1.607 do CC e art. 26 
da Lei 8.069/90 - ECA).
Estabelece o art. 1.609 do CC que, além do registro de nascimento, o 
reconhecimento de parentalidade dos fi lhos havidos fora do casamento também 
pode se dar por escritura pública ou instrumento particular, a ser arquivado em 
cartório; por testamento ou por manifestação direta e expressa perante o juiz, 
ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o 
contém. 
32
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Percebe-se a esse respeito que o legislador previu várias formas possíveis 
para o reconhecimento, no intuito de facilitar o estabelecimento do vínculo de 
parentalidade também fora do casamento. Todos esses modos independem de 
homologação judicial, produzindo todos os efeitos jurídicos por si só. 
Além do mais, o reconhecimento é ato declaratório que pode ser 
feito a qualquer tempo, inclusive antes do nascimento. A doutrina se 
posiciona no sentido de ser possível o reconhecimento de nascituro, 
diante da justifi cativa de receio por parte do pai, de que algo possa lhe 
acontecer antes do fi lho nascer, bem como do receio da mãe, de não 
sobreviver ao parto, garantindo, em ambos os casos, os direitos do fi lho. 
Também no caso de o fi lho já ter falecido é admitido o 
reconhecimento, porém, apenas se o fi lho deixou descendentes. Isso para evitar 
que o reconhecimento se dê com intenção de fraudar a partilha, isto é, com 
interesse exclusivo de adquirir herança (art. 1.609, parágrafo único, do CC).
Nas palavras de Madaleno (2013, p. 578), “mostra-se imoral um pai pretender 
reconhecer o seu fi lho que deixou de perfi lhar em vida, apenas apressando-
se em reconhecê-lo depois de morto para lhe recolher a herança, por vocação 
hereditária”. 
Farias e Rosenvald (2017, p. 623), por sua vez, trazem interessante ponto 
de vista sobre o reconhecimento feito por incapazes. Os autores defendem que 
em razão de se tratar de ato jurídico em sentido estrito e não de negócio jurídico, 
pode o reconhecimento de fi liação ser feito sem assistência do pai ou mãe do 
relativamente incapaz. Apenas se o reconhecimento for feito por escritura pública 
é que deverá estar assistido, “por conta da solenidade essencial do ato público, 
mas não pelo reconhecimento em si”. 
Esse posicionamento faz todo o sentido, apesar de vários posicionamentos 
contrários. Com relação ao absolutamente incapaz, o reconhecimento somente 
será válido se este estiver devidamente representado ou por meio de decisão 
judicial, não sendo aceitável que faça sozinho.
Outra questão relevante trata de reconhecimento de fi lho maior de idade, 
caso em que será necessário o seu consentimento (art. 1.614, CC e art. 4 da Lei 
8.560/92 - Lei de Investigação de Paternidade) e, se menor, este pode impugná-
lo nos quatro anos que se seguirem à maioridade ou emancipação, “desde que 
fundada em falsa fi liação ou existente fi liação socioafetiva” (CARVALHO, 2015, p. 
601).
Além do mais, o 
reconhecimento 
é ato declaratório 
que pode ser feito 
a qualquer tempo, 
inclusive antes do 
nascimento.
33
FILIAÇÃO Capítulo 2 
Em caso de recusa do fi lho maior, Carvalho (2015, p. 602) 
entende que se esta for injustifi cada, caberá ação reivindicatória de 
paternidade ou maternidade para o possível reconhecimento. Já Farias 
e Rosenvald (2017) posicionam-se no sentido de descaber suprimento 
judicial, pouco importando se a recusa é justifi cada ou não.
Em se tratando de fi lho menor, não exige a lei qualquer tipo de consentimento. 
Contudo, o Conselho Nacional de Justiça baixou o provimento n. 7, dirigido aos 
Cartórios de Registro Civil, exigindo a concordância da mãe nesses casos. 
O artigo 1.614 do Código Civil, porsua vez, estabelece o prazo decadencial 
de quatro anos para o fi lho menor, que foi reconhecido sem a sua concordância, 
impugnar a paternidade, a contar da aquisição da maioridade. Essa ação 
impugnatória não precisa ser motivada, basta a alegação da discordância do 
reconhecimento. 
Outra situação prevista no art. 27 do ECA, que estabelece a 
imprescritibilidade do direito ao reconhecimento forçado de paternidade, 
tutela a qualquer pessoa o direito de buscar o reconhecimento de seus 
vínculos de parentalidade a qualquer momento, ou seja, não há prazo 
para o ajuizamento de ação investigatória de paternidade.
Por este artigo também se entende ser imprescritível a negação 
da paternidade, ou seja, motivadamente pode o fi lho pretender 
desfazer o vínculo de fi liação constituído no passado, a qualquer 
tempo, principalmente na era da socioafetividade, em que a realidade 
fática pode confrontar a fi liação biológica e a socioafetiva.
 
O que defendem Farias e Rosenvald (2017, p. 627) é de que não há 
incompatibilidade entre as regras do art. 1.614 do Código Civil e o art. 27 do 
ECA. O primeiro é aplicável à impugnação de paternidade, sem necessidade de 
motivação. Já o segundo permite a constituição ou a negativa de paternidade, 
neste último caso, de forma motivada.
Antes de tratar sobre o reconhecimento de fi lhos de modo judicial, importa 
destacar o procedimento de averiguação ofi ciosa. 
Outra situação 
prevista no art. 
27 do ECA, que 
estabelece a 
imprescritibilidade 
do direito ao 
reconhecimento 
forçado de 
paternidade, tutela 
a qualquer pessoa 
o direito de buscar 
o reconhecimento 
de seus vínculos 
de parentalidade a 
qualquer momento.
34
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Averiguação ofi ciosa: a averiguação ofi ciosa é um procedimento 
administrativo, inspirado no direito português. No Brasil, a Lei de Investigação 
de Paternidade (Lei n. 8.560/92) previu referido procedimento em seu art. 2º. A 
averiguação ocorre toda vez que a mãe sozinha registrar o fi lho. Caso ela indique 
o nome do suposto pai, o ofi cial do cartório remete ao juiz (da Vara de Registros 
Públicos) o procedimento para as devidas providências.
 
O CNJ editou o provimento n. 016/12, buscando dar maior efetividade ao 
procedimento da averiguação ofi ciosa, com objetivo de atender ao Programa Pai 
Presente, nos seguintes termos:
 
Art. 1º. Em caso de menor que tenha sido registrado apenas 
com a maternidade estabelecida, sem obtenção, à época, do 
reconhecimento de paternidade pelo procedimento descrito no 
art. 2º, caput, da Lei nº 8.560/92, este deverá ser observado, a 
qualquer tempo, sempre que, durante a menoridade do fi lho, a 
mãe comparecer pessoalmente perante Ofi cial de Registro de 
Pessoas Naturais e apontar o suposto pai.
Art. 2º. Poderá se valer de igual faculdade o fi lho maior, 
comparecendo pessoalmente perante Ofi cial de Registro de 
Pessoas Naturais.
Art. 3º. O Ofi cial providenciará o preenchimento de termo, 
conforme modelo anexo a este Provimento, do qual constarão 
os dados fornecidos pela mãe (art. 1º) ou pelo fi lho maior (art. 
2º), e colherá sua assinatura, fi rmando-o também e zelando 
pela obtenção do maior número possível de elementos para 
identifi cação do genitor, especialmente nome, profi ssão (se 
conhecida) e endereço.
§ 1º. Para indicar o suposto pai, com preenchimento e assinatura 
do termo, a pessoa interessada poderá, facultativamente, 
comparecer a Ofício de Registro de Pessoas Naturais diverso 
daquele em que realizado o registro de nascimento.
§ 2º. No caso do parágrafo anterior, deverá ser apresentada 
obrigatoriamente ao Ofi cial, que conferirá sua autenticidade, a 
certidão de nascimento do fi lho a ser reconhecido, anexando-
se cópia ao termo.
§ 3º. Se o registro de nascimento houver sido realizado na 
própria serventia, o registrador expedirá nova certidão e a 
anexará ao termo.
Art. 4º. O Ofi cial perante o qual houver comparecido a pessoa 
interessada remeterá ao seu Juiz Corregedor Permanente, 
ou ao magistrado da respectiva comarca defi nido como 
competente pelas normas locais de organização judiciária ou 
pelo Tribunal de Justiça do Estado, o termo mencionado no 
artigo anterior, acompanhado da certidão de nascimento, em 
original ou cópia (art. 3º, §§ 2º e 3º).
§ 1°. O Juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a 
paternidade alegada e mandará, em qualquer caso, notifi car o 
suposto pai, independentemente de seu estado civil, para que 
se manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída.
35
FILIAÇÃO Capítulo 2 
§ 2°. O Juiz, quando entender necessário, determinará que a 
diligência seja realizada em segredo de justiça e, se considerar 
conveniente, requisitará do Ofi cial perante o qual realizado o 
registro de nascimento certidão integral.
§ 3°. No caso do suposto pai confi rmar expressamente a 
paternidade, será lavrado termo de reconhecimento e remetida 
certidão ao Ofi cial da serventia em que originalmente feito o 
registro de nascimento, para a devida averbação.
§ 4°. Se o suposto pai não atender, no prazo de trinta dias, 
a notifi cação judicial, ou negar a alegada paternidade, o Juiz 
remeterá os autos ao representante do Ministério Público ou 
da Defensoria Pública para que intente, havendo elementos 
sufi cientes, a ação de investigação de paternidade.
§ 5°. Nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, é dispensável 
o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo 
Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa 
do suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a 
criança for encaminhada para adoção.
§ 6°. A iniciativa conferida ao Ministério Público ou Defensoria 
Pública não impede a quem tenha legítimo interesse de intentar 
investigação, visando a obter o pretendido reconhecimento da 
paternidade.
Resumindo, o ofi cial remeterá o procedimento ao Juiz, que ouvirá a 
mãe e, posteriormente, mandará notifi car o suposto pai. Se este reconhecer 
voluntariamente o fi lho, será lavrado termo de reconhecimento. Se o suposto 
pai não se manifestar em 30 dias ou se negar a paternidade, o juiz encaminhará 
os autos ao Ministério Público, que poderá ajuizar ação de investigação de 
paternidade, se tiver elementos sufi cientes para tanto.
Reconhecimento judicial: caso não tenha ocorrido o reconhecimento 
espontâneo de parentalidade, pode o fi lho socorrer-se do reconhecimento forçado, 
por meio de ação judicial. A medida judicial cabível será a Ação de Investigação de 
Paternidade ou Maternidade. A doutrina já questiona a terminologia utilizada como 
sendo de investigação de paternidade, o que, nas palavras de Dias (2013, p. 345), 
caracteriza um “ranço cultural”, já que não é mais condizente com a identifi cação 
plural de vínculos possíveis. 
a) Ação de Investigação de Parentalidade: ação cabível para investigar 
os vínculos de parentalidade. O procedimento é regulado nos artigos 
1.606, 1.615 e 1.616 do Código Civil.
Para Madaleno (2013, p. 589), “o fato gerador da demanda judicial de 
reconhecimento coativo da fi liação é a eventual negativa do pai ou da mãe em 
reconhecer o próprio fi lho”. 
36
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Já para Farias e Rosenvald (2017, p. 634), na investigação almeja-se o 
reconhecimento do estado paterno-fi lial, não havendo prevalência necessária do 
laço biológico ou socioafetivo, podendo ser estabelecido qualquer dos laços, a 
depender do caso concreto.
Essa pequena diferença ao expor o fato gerador de referida ação interfere 
na maneira de visualizar a legitimidade ativa. Grande parte dos doutrinadores, 
incluindo Rolf Madaleno (2016) e Flávio Tartuce (2017), entende ser legitimado 
ativo apenas o fi lho, devidamente representado ou assistido pela mãe ou 
responsável, por ser este um direito personalíssimo. Além do Ministério Público, 
conforme já visto. 
Contudo, há entendimentos no sentido de ampliação dessa legitimidade 
exclusiva do fi lho, conforme se verá a seguir. 
Teria legitimidade o nascituro para propor ação de investigaçãode paternidade? Grande parte da doutrina sequer toca no assunto. 
Tartuce (2017, p. 471) entende que sim, seguindo a teoria 
concepcionista. A jurisprudência é bastante dividida acerca dessa 
possibilidade, alguns julgados entendem que o nascituro tem sim 
legitimidade para estar no polo ativo, e outros no sentido de que 
apenas a mãe, nesse caso, é parte legítima.
Tartuce (2017, p. 471) defende, ainda, a possibilidade de 
legitimidade ativa à Defensoria Pública, tema ainda recente e em 
debate. 
Farias e Rosenvald (2017, p. 636-638), seguidos por 
entendimentos jurisprudenciais, entendem também ter legitimidade 
ativa o pai para investigar a parentalidade com relação ao 
fi lho. Referidos autores não discordam se tratar de um direito 
personalíssimo do fi lho, contudo, entendem também ser possível ao 
pai ou a mãe discutirem o estado de fi liação. Nesse caso, alegam 
que a pretensão deveria ser reconhecida como ação vindicatória.
Na jurisprudência, encontra-se ainda a legitimidade do neto em 
propor ação em face dos avós (ação avoenga), ou do sobrinho em 
relação aos tios, para investigar o vínculo familiar. Extrai-se do STJ: 
“Ação dos netos para identifi car a relação avoenga. Precedente da 
Terceira Turma reconheceu a possibilidade da ação declaratória para 
37
FILIAÇÃO Capítulo 2 
que diga o Judiciário existir ou não a relação material de parentesco 
com o suposto avô” (Resp 269/RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, 
DJ 07/05/90 e Resp 603.885/RS 3 Turma, Re. Min. Carlos Alberto 
Menezes de Direito, j. 03.03.2005)
A legitimidade passiva, por sua vez, em regra será titularizada pelo pai ou 
pela mãe, diante do caráter personalíssimo. Entretanto, com base na ampliação 
da legitimação ativa, podem também estar no polo passivo o fi lho ou os avós, a 
depender de quem fi gura no polo ativo. 
Deve ser destacado que a investigatória de parentalidade também cabe no 
caso de já existir um pai registral e se estar buscando o reconhecimento de outro 
vínculo. Nesse caso, o pai registral deverá constar também no polo passivo, já 
que poderá ser atingido pela decisão. Se o juiz entender pela aceitação do pedido 
e determinar a retifi cação do registro civil, com a exclusão do pai registral, esse 
deverá ter o direito ao contraditório. 
Poderá a decisão, ainda, reconhecer a coexistência de vínculos e determinar 
a inclusão de mais um pai ou de mais uma mãe, caso da multiparentalidade. Sobre 
essa possibilidade, antes mesmo do STF reconhecê-la já a defendia, deixando 
como dica de leitura para quem quiser, em uma análise de um julgado aqui do 
TJSC. 
GHILARDI, Dóris. A possibilidade de reconhecimento da 
multiparentalidade: vínculo biológico X vínculo socioafetivo, uma 
análise a partir do julgado da AC n. 2011.027498-4 do TJSC. Revista 
Brasileira de Direito da Família. n. 36, Porto Alegre: Magister/
IBDFAM, out.nov. 2013.
Embora no início da análise se tenha mencionado que a ação investigatória 
possa ser utilizada tanto para o reconhecimento de vínculo biológico, quanto 
afetivo, merece ser destacado um trecho de um acórdão do TJRS, pioneiro no 
reconhecimento da ação declaratória de paternidade socioafetiva:
38
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Ação declaratória. Adoção informal. Pretensão ao 
reconhecimento. Paternidade afetiva. (...) A paternidade 
sociológica é um ato de opção, fundando-se na liberdade de 
escolha de quem ama e tem afeto, o que não acontece, às 
vezes, com quem é fonte geratriz. Embora o ideal seja apenas 
a concentração entre as paternidades jurídicas, biológica 
e socioafetiva, o reconhecimento da última não signifi ca o 
desapreço à biologização, mas atenção aos novos paradigmas 
oriundos da instituição das entidades familiares. (TJRS, AC 
70008795775, 7 Câmara de Direito Privado. Rel. José Carlos 
Teixeira Gioris, 23.06.2004)
Não há mais, na contemporaneidade, desprezo ao aceite das demandas 
socioafetivas, pelo contrário, foram recepcionadas de tal forma que estão a causar 
uma verdadeira repaginação do Direito de Família.
Outrossim, o foro competente para tais demandas será, em regra, o de 
domicílio do réu (art. 46 do CPC), porém, como geralmente vem cumulada com 
pedido de alimentos, entende-se no sentido de que será competente o foro de 
domicílio do autor, isto é, do investigando (art. 53, II do CPC). Nesse sentido, 
inclusive, foi editada a Súmula 1 do STJ. 
 
Outra questão que importa destaque refere-se à relativização da coisa 
julgada, no que tange às ações de investigação de paternidade. Nas ações em 
que houve o reconhecimento da paternidade, sem a realização do exame de 
DNA, permitir a relativização da coisa julgada causa enorme polêmica entre os 
doutrinadores. Contudo, o STJ entende pela possibilidade da relativização em tais 
circunstâncias, desde o ano de 2001, ressaltando sempre que se o reconhecimento 
se deu sem a produção sufi ciente de provas, mormente em épocas em que o DNA 
não era possível ou pouco conhecido, é permitido rediscutir a questão. 
Em tempos de DNA, realizar essa prova pericial é obrigatório? Se houver 
negativa, se estabelece a presunção de parentalidade? Após muitas controvérsias, 
foi editada a Súmula 301 do STJ, que prescreve: “Em ação de investigatória, a 
recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris 
tantum de paternidade”. 
Reafi rmando a Súmula, em 2009 foi editada a Lei 12.004, que introduziu na 
Lei 8.560/92 artigo expresso acerca da presunção, nos seguintes termos: 
Art. 2. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios 
legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para 
provar a verdade dos fatos. Parágrafo único. A recusa do réu 
em se submeter ao exame de código genético - DNA - gerará 
a presunção de paternidade, a ser apreciada em conjunto com 
o contexto probatório.
39
FILIAÇÃO Capítulo 2 
Portanto, em resposta às perguntas, percebe-se não ser obrigatória a 
realização do exame, porém, a recusa gera presunção relativa, que pode ser 
contrariada por outras provas. 
Negatória de Paternidade: duas hipóteses de negatória são admitidas pelo 
Código Civil, a primeira está localizada no art. 1.601, que confere a legitimidade 
exclusiva ao marido de contestar a paternidade dos fi lhos de sua esposa, em 
razão da presunção estabelecida. 
Todavia, em complemento, o art. 1.604 do CC salienta que uma vez realizado 
o registro civil, só poderá ser impugnado em caso de erro ou falsidade. Portanto, 
apenas com base nessas duas situações seria admissível o reconhecimento da 
impugnação. 
Com relação a esse aspecto, no passado, a ação negatória de paternidade 
servia para comprovar a inexistência de vínculo biológico, cujo assento 
havia ocorrido mediante vício. Todavia, com o reconhecimento do critério da 
socioafetividade, não basta para desconstituir os laços apenas a prova negativa 
dos vínculos biológicos, porquanto, uma vez comprovada a existência do liame 
afetivo, a negatória não desconstituirá os vínculos de fi liação. 
A segunda hipótese está prevista no art. 1.614 do CC, conferindo legitimidade 
ao fi lho menor de impugnar a paternidade nos quatro anos que se seguirem a 
sua maioridade. Já se frisou anteriormente que este prazo é imprescritível, por se 
tratar de uma ação de estado, envolvendo direito personalíssimo. 
Contudo, atualmente, também a possibilidade de impugnação de paternidade 
por parte do fi lho não é questão pacífi ca, provocando intensos debates, tendo 
em vista o reconhecimento da parentalidade socioafetiva, que não autoriza, de 
pronto, a desconstituição dos vínculos formados e mantidos ao longo do tempo.
Para que uma ação dessa natureza tenha seu pedido acolhido, precisa fi car 
demonstrada a inexistência de qualquer laço entre fi lho e pai registral.
Denota-se ser o direito de fi liação um campo bastante arenoso, mormente 
em tempos de realidades plurais, que admitem múltiplos vínculos, devendo os 
operadores do Direito de Família estarem atentos e sensíveis a todas essas 
novidades, até paraque se separe pedidos baseados no afeto, de pedidos com 
interesses meramente patrimoniais.
40
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Atividade de Estudos:
1) Analise a seguinte situação hipotética: 
Ana possui um pai registral, que é também o seu pai afetivo. 
Contudo, ao completar 18 anos, sua mãe lhe conta que Carlos 
não é seu pai biológico. Ana descobre, então, que João é seu pai 
biológico e resolve ir atrás dele, curiosa para conhecê-lo. Diante 
do caso concreto, responda:
a) Há alguma medida judicial para que Ana possa estabelecer o 
vínculo de parentalidade biológica com seu pai genético? Qual 
seria a medida mais adequada?
b) Quem são as partes legítimas para fi gurar nos polos da ação?
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FILIAÇÃO Capítulo 2 
Algumas ConsideraçÕes 
O direito de fi liação sofreu e continua sofrendo mutações signifi cativas. O 
reconhecimento da fi liação socioafetiva trouxe mais humanismo, ao acolher 
vínculos não apenas baseados em origem genética. É fato que os padrões 
estabelecidos no passado não comportam mais as estruturas que lhe foram 
forjadas e desafi am todo tipo de mudanças. 
Questões complicadas passaram a fazer parte do dia a dia do Judiciário 
brasileiro, debruçando-se vários estudiosos na busca de alternativas e soluções 
para intrincadas questões.
 
Nesse sentido, o reconhecimento da multiparentalidade apresenta-se como 
um importante passo ao reconhecimento de situações coexistenciais múltiplas, 
sem a necessidade de exclusão de qualquer delas. Há também que se ter 
atenção e aplicar referido instituto apenas quando a realidade fática a comporta e 
se apresenta como a melhor solução. A análise de cada caso concreto revelará se 
é ou não caso de aplicar a multiparentalidade. 
Com efeito, em resumo ao capítulo da fi liação, tentou-se trazer ao aluno 
a temática específi ca, abordando de forma pontual todos os seus aspectos, 
apresentando os pontos controvertidos, além das novas teorias e visões 
defendidas pelos especialistas. Deixaremos como dica de fi nalização ao capítulo 
a sugestão para que o aluno faça uma pesquisa jurisprudencial, no STJ e STF, 
sobre esse tema em especial, como forma de aprofundamento. Não deixe de 
ler o voto sobre a multiparentalidade (STF, Ac Tribunal Pleno, RE 898.060/SC, 
Repercussão Geral 622, rel. Min. Luiz Fux, j. 22.9.16).
ReferÊncia
CALDERON, Ricardo. Princípio da Afetividade. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
CARVALHO, Dimas Messias de. Família. São Paulo: Saraiva, 2015.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Saraiva, 2013.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
LÔBO, Paulo. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2013.
MADALENO, Rolf. Direito de Família. Rio de Janeiro: Gen Editora, 2013.
MADALENO, Rolf. Direito de Família. Rio de Janeiro: Gen Editora, 2016.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Família. Rio de Janeiro, Forense Editora, 2017.
42
 DIREITO DE FAMÍLIA II
CAPÍTULO 3
Adoção
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Revisar o instituto da adoção e suas recentes alterações legais.
 Compreender o instituto e suas nuanças jurídicas e sociais
 Analisar a adoção, seus mecanismos legais e alternativas de reformas.
 Apontar os aspectos polêmicos e instigar refl exões.
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 DIREITO DE FAMÍLIA II
45
ADOÇÃO Capítulo 3 
ConteXtualiZação
Este capítulo abordará a adoção, seus contornos atuais, requisitos para adotar 
e ser adotado, além dos efeitos tanto da adoção nacional quanto internacional. Se 
no passado a adoção era tratada como um tipo de fi liação de segunda classe, ou 
uma forma de se solucionar a esterilidade, após a Constituição Federal de 1988 
ocorreu uma releitura e valorização da adoção. 
Atualmente, a ideia de adoção passa pela oportunização de uma criança, 
adolescente ou adulto ser inserido em um núcleo familiar. É uma importante forma 
de criação de vínculo de parentalidade, assentada em laços de afeto e tem como 
escopo o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente.
 
Sua regulamentação sofre alterações constantes, estando prevista tanto no 
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8.069/90) quanto no Código Civil. 
Em 2009, foi promulgada a Lei 12.010, cunhada como Nova Lei de Adoção, que 
revogou vários dispositivos do Código Civil (1.620 a 1.629), alterando, também, os 
artigos 1.618 e 1.619. Basicamente, hoje, a matéria está legislada pelo ECA, que 
também teve vários dispositivos modifi cados.
Conceito e NatureZa Jurídica 
A adoção, para Maria Helena Diniz (2005, p. 484), é:
Ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, 
alguém estabelece, independentemente de qualquer relação 
de parentesco consanguíneo ou afi m, um vínculo fi ctício de 
fi liação, trazendo para sua família, na condição de fi lho, pessoa 
que, geralmente, lhe é estranha.
Nas palavras de Madaleno (2016, p. 639), “A adoção é sem qualquer dúvida 
o exemplo mais pungente da fi liação socioafetiva, psicológica e espiritual, porque 
sustentada, eminentemente, nos vínculos estreitos e únicos de um profundo 
sentimento de afeição”. 
 
“Por certo, a adoção se apresenta como muito mais do que, simplesmente, 
suprir uma lacuna deixada pela Biologia. É a materialização de uma relação 
fi liatória estabelecida pela convivência, pelo carinho, pelos conselhos, pela 
presença afetiva, pelos ensinamentos e pelo amor” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, 
p. 966).
46
 DIREITO DE FAMÍLIA II
Quanto a sua natureza jurídica, para Madaleno (2016, p. 640), a natureza 
jurídica da adoção não mais é contrato, mas, sim, instituição, já que suas regras 
são todas ditadas pelo poder público. Já Tartuce (2017) traz a discussão sobre ser 
negócio jurídico ou ato jurídico stricto sensu e conclui defendendo ser majoritário 
o entendimento de que a adoção é um ato jurídico stricto sensu, que parece, de 
fato, prevalecer entre os doutrinadores. 
 
Segundo preconiza a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, § 
6º, “os fi lhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os 
mesmos direitos e qualifi cações, proibidas quaisquer designações discriminatórias 
relativas à fi liação”. Portanto, como já se viu em matéria de fi liação, não mais é 
autorizado qualquer tratamento distintivo entre os fi lhos, independentemente de 
sua origem. 
Quem Pode ser Adotado e Quem 
Pode Adotar 
Podem ser adotadas crianças e adolescentes órfãos, abandonadas ou cujos 
pais foram destituídos do poder familiar, sendo regida a adoção nestes casos 
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Podem, ainda, ser adotados 
os maiores de 18 anos, segundo previsão do art. 1.619 do Código Civil, que 
determina aplicaçãono que couber do ECA. Ambas as adoções atualmente 
dependerão de decisão judicial, proferida em procedimentos que tramitarão na 
Vara da Infância e Juventude, no caso de crianças e adolescentes, ou na Vara da 
Família, nos demais casos. 
Até a entrada em vigor do Código Civil atual, a adoção de maiores 
de 18 anos dava-se por mera escritura pública, registrada em cartório. 
Portanto, atualmente, é imprescindível o controle jurisdicional em 
qualquer tipo de adoção.
Pode-se adotar qualquer pessoa capaz, independentemente do 
seu estado civil, desde que tenha idade mínima de 18 anos. Portanto, a adoção 
pode ser requerida por pessoa solteira, viúva, casada ou mesmo em união estável.
A adoção por apenas uma pessoa é chamada de unilateral e a adoção 
bilateral passou a ser tratada como adoção conjunta. Esta última é tratada pelo 
art. 42, parágrafo 2º do ECA, e exige que os adotantes sejam civilmente casados 
ou mantenham união estável, com comprovada estabilidade familiar, sendo 
necessário o consentimento de ambos.
O parágrafo 4º, do art. 42 do ECA traz uma importante questão sobre a 
possibilidade de adoção conjunta no caso de divórcio do casal:
Portanto, 
atualmente, é 
imprescindível o 
controle jurisdicional 
em qualquer tipo de 
adoção.
47
ADOÇÃO Capítulo 3 
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que 
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o 
estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do 
período de convivência e que seja comprovada a existência de 
vínculos de afi nidade e afetividade com aquele não detentor 
da guarda, que justifi quem a excepcionalidade da concessão. 
Com relação à adoção por homossexuais, não há qualquer barreira legal 
impeditiva. Aliás, a tendência atual é pela aceitação da adoção por casais 
homossexuais, apesar do tema ainda suscitar algumas polêmicas. 
Com o reconhecimento das uniões homossexuais pelo Supremo Tribunal 
Federal, em 2011, como entidades familiares igualáveis às uniões estáveis, difícil 
sustentar posicionamento contrário. Deve ser lembrado, ainda, que logo após a 
decisão do STF, o Conselho Nacional de Justiça aprovou a Resolução 175, que 
impede os cartórios brasileiros de se recusarem a converter uniões estáveis 
homoafetivas em casamento civil. 
Outrossim, o próprio STF, em 2015, teve oportunidade de analisar e manter 
decisão autorizando casal homoafetivo a adotar criança. A matéria surgiu por meio 
de Recurso Extraordinário n. 846.102 (j. 05.03.2015), após o Ministério Público do 
Paraná questionar decisão favorável. 
Portanto, sendo possível tanto a união estável, quanto o casamento entre 
pessoas do mesmo sexo, já tendo o STJ (Resp 1.540.814/PR) e o STF se 
posicionado favoravelmente à adoção nesses casos, o único argumento que 
sobra acerca da não possibilidade de adoção por casais homossexuais, refere-se 
a argumentos de caráter discriminatório.
Com relação à adoção unilateral do fi lho do cônjuge ou companheiro:
Quando alguém quiser adotar fi lho de seu cônjuge (enteado) 
ou de seu companheiro e que também não seja fi lho seu, fará 
sozinho a adoção, como adotante único, com o assentimento, 
exigido no artigo 45 da Lei 8.069/90 - ECA, do pai ou mãe do 
adotando. Este (ou esta) permanecerá com seu vínculo parental 
consanguíneo inalterado e comparecerá à adoção apenas como 
anuente, sem poder adotar, é claro, fi lho que já é seu e fi ca 
sendo. O que muda é a relação do parentesco do outro lado, ou 
seja, da linha do adotante (TAVARES, 2010, p. 42).
Outro requisito indispensável por quem deseja adotar é a diferença mínima 
de idade exigida pela lei entre adotante e adotado, a qual não poderá ser inferior a 
16 anos, conforme está previsto no artigo 42 § 3º do ECA.
48
 DIREITO DE FAMÍLIA II
 No entanto, em virtude do melhor interesse à criança e do adolescente, a 
doutrina vem sustentando a fl exibilidade da aplicabilidade dessa norma.
A adoção pode ainda ser realizada pelo tutor ou curador, desde que preste 
contas de suas administrações e salde eventuais débitos (art. 44, do ECA).
Por sua vez, o art. 45 do ECA exige o consentimento dos pais biológicos, 
ou na falta desses, do representante legal do menor, no processo de adoção. O 
artigo está assim redigido:
 
Art. 45, do ECA:
A adoção depende do consentimento dos pais ou do 
representante legal do adotando. § 1º. O consentimento será 
dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais 
sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder 
familiar. § 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos 
de idade, será também necessário o seu consentimento. 
Segundo Tartuce (2017 p. 496), há dúvidas sobre a necessidade de 
consentimento dos pais no caso de adoção de maiores. Dias (2013) conclui ser 
dispensável, devendo, contudo, os pais biológicos serem citados. 
Outra vedação legal diz respeito à adoção pelos ascendentes ou irmãos 
do adotado (art. 42, par. 1, do ECA). Esse requisito, aparentemente contrário e 
prejudicial ao menor, é defendido por alguns em virtude das alterações que seriam 
provocadas nos graus de parentesco, causando uma verdadeira desordem nas 
relações familiares. Nesse caso, havendo interesse por parte dos ascendentes ou 
irmãos do menor em mantê-lo sob seus cuidados e proteção, a lei confere a eles o 
instituto da tutela ou da guarda, de acordo com cada caso. 
Todavia, o STJ já decidiu favoravelmente a adoção de descendente por 
ascendente, diante das peculiaridades do caso concreto, na Resp n. 1.448.969/
SC, julgado em 2014. Vale a citação da ementa:
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 
HIPÓTESE DE ADOÇÃO DE DESCENDENTE POR 
ASCENDENTES. Admitiu-se, excepcionalmente, a adoção de 
neto por avós, tendo em vista as seguintes particularidades do 
caso analisado: os avós haviam adotado a mãe biológica de 
seu neto aos oito anos de idade, a qual já estava grávida do 
adotado em razão de abuso sexual; os avós já exerciam, com 
exclusividade, as funções de pai e mãe do neto desde o seu 
nascimento; havia fi liação socioafetiva entre neto e avós; o 
adotado, mesmo sabendo de sua origem biológica, reconhece 
os adotantes como pais e trata a sua mãe biológica como 
49
ADOÇÃO Capítulo 3 
irmã mais velha; tanto adotado quanto sua mãe biológica 
concordaram expressamente com a adoção; não há perigo 
de confusão mental e emocional a ser gerada no adotando; 
e não havia predominância de interesse econômico na 
pretensão de adoção. De fato, a adoção de descendentes 
por ascendentes passou a ser censurada sob o fundamento 
de que, nessa modalidade, havia a predominância do 
interesse econômico, pois as referidas adoções visavam, 
principalmente, à possibilidade de se deixar uma pensão 
em caso de falecimento, até como ato de gratidão, quando 
se adotava quem havia prestado ajuda durante períodos 
difíceis. Ademais, fundamentou-se a inconveniência dessa 
modalidade de adoção no argumento de que haveria 
quebra da harmonia familiar e confusão entre os graus de 
parentesco, inobservando-se a ordem natural existente entre 
parentes. Atento a essas críticas, o legislador editou o § 
1º do art. 42 do ECA, segundo o qual “Não podem adotar 
os ascendentes e os irmãos do adotando”, visando evitar 
que o instituto fosse indevidamente utilizado com intuitos 
meramente patrimoniais ou assistenciais, bem como buscando 
proteger o adotando em relação a eventual confusão mental 
e patrimonial decorrente da transformação dos avós em pais 
e, ainda, com a justifi cativa de proteger, essencialmente, o 
interesse da criança e do adolescente, de modo que não 
fossem verifi cados apenas os fatores econômicos, mas 
principalmente o lado psicológico que tal modalidade geraria 
no adotado. No caso em análise, todavia, é inquestionável a 
possibilidade da mitigação do § 1º do art. 42 do ECA, haja 
vista que esse dispositivo visa atingir situação distinta da 
aqui analisada. Diante da leitura do art. 1º do ECA (“Esta

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