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MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS MEIO ABERTO

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Curso 
Medidas Socioeducativas em Meio Aberto
1 ª-AULA
 Introdução
 O objetivo deste curso é capacitar técnicos e gestores das políticas sociais para o atendimento de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas (MSE), mais especificamente aquelas classificadas como de meio aberto executadas no âmbito da Assistência Social. Você irá aprender a respeito de dois tipos de medidas: a Liberdade Assistida (LA) e a Prestação de Serviços Comunitários (PSC), ambas aplicadas a um público específico: os(as) adolescentes em conflito com a lei. No vídeo a seguir, você irá entender a estrutura básica do curso e os principais assuntos que estão distribuídos nas seis aulas.
 As medidas socioeducativas são um grande avanço na conquista dos direitos humanos de adolescentes e estão em consonância com a legislação internacional. No entanto, a ideia de ações que busquem ajudar esse adolescente em vez de apenas puni-lo, ainda são criticadas por parte da população. É provável que você se recorde de alguma notícia de violência contra crianças e adolescentes que tenham cometido algum tipo de ato ilícito. Quase sempre essa violência é praticada de forma coletiva e motivada por um sentimento de revolta e frustração. Essa visão limitada ainda é muito presente em nossa sociedade. Veja a seguir algumas notícias que mostram como as multidões, em alguns casos, podem agir equivocadamente no tratamento de menores em conflito com a lei.
Por que ainda pensamos assim?
E porque ainda hoje carregamos resquícios de práticas que banalizam tanto a violência, a tortura e indignidade humana? Porque ainda acreditamos que adolescentes em conflito com a lei devem sofrer punições severas em vez de serem tratados como indivíduos em situação de vulnerabilidade social numa fase muito peculiar de suas vidas?
 
Talvez a nossa ideia do que seja infância possa ajudar a compreender esse fenômeno. No Brasil, compreendemos a criança e o adolescente a partir do advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, segundo o qual criança e adolescente são sujeitos de direitos, pessoas em situação peculiar de desenvolvimento, com prioridade absoluta e sob a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado. Mas nem sempre foi assim! Como você aprenderá neste curso, a ideia de que a infância deve ser vista com um olhar diferente pelo direito é relativamente recente e foi conquistada por meio de muitas lutas e batalhas travadas ao longo de muitos anos.
ECA e SINASE
Dois desses avanços você conhecerá em detalhes neste curso: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considerado o marco regulatório que normatiza a proteção integral das crianças e dos adolescentes; e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), que regulamenta a execução das medidas destinadas a adolescentes e jovens que pratiquem ato infracional.
 
No entanto, apesar desses e outros avanços institucionais e legais, a interpretação simplista ainda se faz presente em muitos casos. Estamos acostumados a entender um ato ilícito cometido por uma criança ou adolescente como um fato isolado, fruto da ação exclusiva do sujeito que comete a infração. O autor é visto como alguém disfuncional, perverso ou imoral e o ato infracional é lido como uma falha de caráter ou uma desestruturação no âmbito familiar. Com isso, muitas vezes colocamos, equivocadamente, a responsabilidade pela infração exclusivamente sobre a criança ou adolescente.
A visão da socioeducação
Já o ponto de vista da socioeducação aponta para outro caminho: parte-se do princípio de que a responsabilidade do ato infracional é coletiva. Assim, cabe ao jovem a reparação dos danos consequentes de seu ato. Já ao Poder Público e à sociedade compete garantir condições para que o jovem restaure sua relação social com dignidade. No caso do Poder Público, a forma de ajudar esse infrator é lançando mão de um conjunto de Políticas Públicas que valorizem os direitos garantidos constitucionalmente a todos os cidadãos e cidadãs.
 
Lembre-se de que responsabilizar é tornar o sujeito protagonista de sua própria vida, sendo capaz de compreender seus direitos e na mesma medida se ver como cidadão com deveres e obrigações sociais. É com esse olhar sobre a infância e a adolescência que devemos iniciar este curso. Vamos lá?
A infância e o ato infracional
 
Para iniciarmos nossos estudos sobre as Medidas Socioeducativas de Meio Aberto, é fundamental sabermos a quem elas são destinadas: aos adolescentes em conflito com a lei. Temos que saber diferenciar, do ponto de vista legal, uma criança de um adolescente. A legislação considera criança aqueles com idade de zero a 12 anos incompletos. Já a idade dos adolescentes deve estar entre 12 anos e 18 anos incompletos. Quando uma criança comete um ato infracional, ela deve receber uma medida protetiva. Já no caso de um adolescente cometer um ato infracional, ele deve receber uma medida socioeducativa.
E o que são atos infracionais? É como chamamos quando uma criança ou adolescente comete um ato caracterizado como crime ou contravenção penal. Quando se trata desse público específico, nós não usamos a expressão “crime”, mas sim “ato infracional”. O vídeo a seguir, dá mais detalhes, fazendo uma comparação entre atos infracionais e crimes. Fique atento aos seguintes pontos:
 
· Quais as diferenças e semelhanças entre ato infracional e crime?
· Como o adolescente deve ser responsabilizado pelos atos que comete?
· Em quais contextos devemos considerar o ato infracional?
· A importância da responsabilização como forma de construção de novas trajetórias para o adolescente.
O tráfico de drogas no Brasil é responsável pelos maiores números de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas. Atualmente essa população é criminalizada pela inserção nesse setor econômico, todavia essa é uma das piores formas de trabalho infantil. O vídeo que segue é uma produção da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do então Ministério do Desenvolvimento Social e a Casa Poema, que trata sobre o Trabalho Infantil no Tráfico de Drogas. Lembre-se de que o crime ou o ato infracional é uma construção social e política e que precisa ser visto nessa dimensão.
O que são as medidas socioeducativas?
 
As Medidas Socioeducativas são sanções judiciais aplicadas a adolescentes que tenham cometidos atos infracionais. Elas podem ser cumpridas privando os adolescentes de sua liberdade ou não. O vídeo abaixo é uma iniciativa do Laboratório de Intervenção Social e Desenvolvimento Comunitário da Universidade Federal do Amazonas e faz um resumo das medidas socioeducativas previstas em lei.
Apesar deste curso abordar apenas as medidas de meio aberto, que incluem a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA), é importante ter uma visão ampla sobre todas as medidas. Assim é mais fácil compreender o contexto em que elas são utilizadas.
Medidas socioeducativas de Execução Imediata:
 
Existem dois tipos de medidas socioeducativas de execução imediata:
 
· Advertência
· Reparação de dano.
 
A execução dessas medidas ocorre de forma direta. No caso da advertência, o juiz apenas adverte o adolescente pelo ato que lhe é atribuído. Já a reparação do dano é aplicada quando o ato infracional possui reflexos materiais. Nesses casos a autoridade judicial poderá determinar ao adolescente que restitua a coisa, ressarça o dano, compense ou minimize o prejuízo da vítima. O objetivo é que o adolescente se defronte com o impacto de sua ação, melhore a percepção do outro e o juízo crítico sobre si e suas condutas.
Medidas socioeducativas de Meio Aberto:
 
A expressão “de meio aberto” significa que não há privação de liberdade. Ou seja, a característica fundamental aqui é o cumprimento da medida em liberdade, buscando a responsabilização e a integração social do adolescente.
 
As medidas socioeducativas em meio aberto devem ser cumpridas sob a orientação de profissionais qualificados e que tenham conhecimento acercado Sistema de Justiça. O artigo 112 do ECA prevê as seguintes medidas de meio aberto:
 
· Prestação de serviço à comunidade (PSC)
· Liberdade assistida (LA)
Medidas socioeducativas de Meio Fechado:
 
Essas medidas são aplicadas a adolescentes autores de atos infracionais de maior gravidade e implicam em restrição ou privação de liberdade associada ao dever de participar de atividades de escolarização e educação. Veja que, mesmo restringindo a liberdade, há a preocupação em usar a educação como forma de promover uma ruptura com a prática infracional. Assim, busca-se a reorganização da vida do adolescente. Os dois tipos de medidas socioeducativas de meio fechado são:
 
· Semiliberdade
· Internação
Responsabilização
  Um dos objetivos da socioeducação é a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional cometido. Essa é a dimensão jurídico-sancionatória da medida, ou seja, diz respeito à sanção atribuída ao infrator.
 
O Estatuto da Criança e Adolescente procura estabelecer medidas de responsabilização que busquem romper com a lógica predominante no passado, que enxergava a infância em conflito com a lei como sendo um perigo o qual, portanto, deveria ser isolado da sociedade e do convívio familiar. Nas medidas socioeducativas, o objetivo não é a segregação, mas sim a reinserção na sociedade. Assim, a ideia de responsabilização está ligada aos conceitos de direitos humanos, educação e cidadania. Essa concepção é diferente da responsabilização penal, que possui caráter predominantemente punitivo.
 
No caso das medidas socioeducativas de meio aberto, em que os adolescentes permanecem em sua comunidade de origem, é particularmente importante que haja uma mentalidade de aceitação e responsabilização sobre os adolescentes. É preciso destacar também que o Poder Judiciário, Rede de Atendimento, funcionários executores das medidas socioeducativas, família e comunidade devem estar incluídos no processo de responsabilização, dividindo os graus de responsabilidade com o adolescente. Dessa forma, busca-se atender às necessidades que não foram supridas até o momento da infração e que teriam contribuído para a situação de vulnerabilidade dos(as) adolescentes.
Educação
A educação representa a dimensão ético-pedagógica das medidas. Embora as medidas socioeducativas tenham um caráter sancionatório, de responsabilização do adolescente, sua execução e sua operacionalização devem se referenciar numa ação educativa, embasada na concepção de que o adolescente é sujeito de direitos e pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, necessitando de referência, apoio e segurança.
 
A educação é o objetivo central da medida socioeducativa, pois entende-se que o adolescente está em situação peculiar de desenvolvimento e pode, num processo de orientação continuada e determinada pela justiça, deixar as práticas infracionais.
 
A perspectiva educativa da medida socioeducativa é essencial aos dispositivos legais admitidos para o enfrentamento da prática infracional no Brasil. Segundo o SINASE, os adolescentes e jovens atendidos devem ser alvo de um conjunto de ações socioeducativas que possibilitem a formação de cidadãos autônomos e solidários, capazes de relacionarem-se bem consigo, com a família e a comunidade
Proteção Integral
A ideia de Proteção Integral está prevista no ECA, de 1990, e no artigo 227 da Constituição Federal, que diz:
 
 
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
 
 
A perspectiva da proteção integral indica que o processo de intervenção não deve apenas ser direcionado ao adolescente, em resposta à sentença judicial, mas precisa atingir todos os membros da família por meio da busca pela proteção social, encontrada nos diversos serviços e benefícios oferecidos pelas políticas sociais . Essa ação articulada é parte fundamental da execução da política da socioeducação, e deve ser referência para a execução dos programas de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviços à Comunidade (PSC).
Como as ideias se relacionam?
 
É possível afirmar que no contexto da socioeducação há uma tensão entre responsabilização, educação e proteção integral. Não é uma tarefa simples atuar nas três perspectivas simultaneamente. Por exemplo: ao promovermos a responsabilização excessiva em detrimento da educação e proteção, corremos o risco de produzir um efeito unicamente sancionatório e repressivo, deixando de lado a perspectiva pedagógica e protetiva que são justamente as dimensões que permitiriam ao adolescente refletir sobre sua conduta e buscar novos caminhos. Por outro lado, se a responsabilização não é aplicada de forma efetiva, corre-se o risco do adolescente não perceber as consequências danosas dos atos infracionais.
A educação deve ter papel predominante. Por mais que a função de responsabilização seja relevante no processo que levará o adolescente à tomada de consciência sobre o ato cometido, é a educação (juntamente com a proteção integral) que deve possibilitar a ruptura com a trajetória infracional.
Para a socioeducação a ideia de sofrimento é antipedagógica. Qualquer ação com base no uso da autoridade violenta, torna-se ilegalidade e repercute tanto quanto o ato infracional cometido. A lógica do sistema socioeducativo não se sustenta na punição. Assim, é enfatizado o papel da educação na construção de um novo projeto de vida para os adolescentes em conflito com a lei, tendo como horizonte o alcance da liberdade e a plena expansão da sua condição de sujeito. Nessa perspectiva, a socioeducação tem sido considerada capaz de interferir no potencial dos adolescentes por meio de ações articuladas, que entendam o adolescente ou jovem de forma integral.
Quem executa as medidas socioeducativas?
 
 
A responsabilidade pela execução dos programas de medidas socioeducativas de meio aberto – LA e PSC, deverá estar com os municípios, tendo como principal executor os Centros de Referência Especializados em Assistência Social – CREAS. Quanto à competência dos municípios, o artigo 5º da Lei do Sinase lista :
 
· Formular, instituir, coordenar e manter o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo, respeitadas as diretrizes fixadas pela União e pelo respectivo estado;
· Elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo em conformidade com os planos nacional e estadual;
· Criar e manter programa de atendimento socioeducativo em meio aberto; e
· Cofinanciar, com os demais entes federados, a execução de programas e ações destinadas a adolescentes em medidas socioeducativas em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade).
 
Os municípios são os responsáveis pela execução das medidas socioeducativas de meio aberto, tendo a autonomia para escolher o desenho para sua execução.
Apesar da Lei do Sinase estabelecer a responsabilidade do município na execução das medidas em meio aberto, não é dito em qual política social tais programas devem ser desenvolvidos. O município tem liberdade para escolher a política mais adequada.
 
Os demais entes federativos também possuem responsabilidades:
Mesmo com o protagonismo dos município nesse processo, todos os demais entes federativos colaboram de forma compartilhada para a execução das medidas socioeducativas de meio aberto.
 
Governo Federal
No Capítulo 2 da Lei do Sinase, que trata das competências na execução das medidas socioeducativas, o artigo 3º estabelece nove atribuições  para a União, entre as quais se destacam:
 
· O dever de formular e coordenar a política nacional das medidas socioeducativas.
· Financiamento da execução dos programas e serviços do Sinase com os demais entes federados.
 
Governo Estadual
Em relação aos estados, o artigo4º da Lei do Sinase, estabelece dez atribuições,  com destaque para a responsabilidade em:
 
· Formular, instituir, coordenar e manter o Sinase, respeitadas as diretrizes fixadas pela União.
· Elaborar o Plano Estadual Socioeducativo, em conformidade com o Plano Nacional.
· Criar, desenvolver e manter programas para a execução das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação.
 
Destacam-se, também, a responsabilidade e colaboração com os municípios para o atendimento socioeducativo em meio aberto, por meio de assessoria técnica e suplementação financeira.

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