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ESCOLA DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO TRABALHO DO PARANÁ - EMATRA-IX CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS Curso de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização) em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário/2017 LEONARDO WILLIAM DOMINGUES A TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM CURITIBA 2018 ESCOLA DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO TRABALHO DO PARANÁ - EMATRA-IX CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS Curso de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização) em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário – 2017 LEONARDO WILLIAM DOMINGUES A TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário promovido pela Ematra-IX – Escola da Associação dos Magistrados do Trabalho do Paraná Orientando: Leonardo William Domingues Orientadora: Profª Hilda Maria Brzezinski da Cunha Nogueira CURITIBA 2018 LEONARDO WILLIAM DOMINGUES A TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM TERMO DE APROVAÇÃO Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário na Escola da Associação dos Magistrados do Trabalho do Paraná - Ematra IX, pela Banca Examinadora formada pelos professores: _________________________ Zeno Simm Doutor em Direito __________________________ Sandra Maria da Costa Ressel Mestre em Direito Curitiba, 23 de outubro de 2018 II Agradeço a Deus que me permitiu a realização de mais um objetivo. A minha família: meus pais, os quais me ensinaram a importância dos estudos e o enfrentamento das dificuldades, bem como a transmissão diária de afeto e apoio. À professora Doutora Hilda Maria Brzezinski da Cunha Nogueira, pelo diálogo ofertado ao longo desta caminhada em que a carreira lhe talou Mestre, pela orientação firme, precisa, clara e gentil. III RESUMO DOMINGUES, Leonardo William. A terceirização da atividade-fim. 56p. Monografia (Curso de Pós-graduação em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário) Escola da Associação dos Magistrados do Trabalho do Paraná – EMATRA-IX, Curitiba, 2018. Aborda-se de forma sistemática, o fenômeno da terceirização, enfatizando a sua expansão e evolução mundial desde a origem bem como suas vertentes e aspectos que impactam a sociedade internacionalmente e demonstrando que para além de um procedimento de gestão de empresas e conceito econômico, ele implica uma série e sérias transformações nas relações de trabalho subordinadas e afeta o conceito central do trabalho, como proteção e equilíbrio dos direitos das partes no contrato de trabalho. Objeto de discussão, a terceirização, se inclui nessa reviravolta do modo de produção, que vai de encontro com o discurso da globalização sendo uma manifestação da ideologia neoliberal que privilegia o capitalismo e formula o conceito do Estado mínimo abdicante que sua atuação social e que é entregue à autonomia privada, individual ou coletiva. Os desdobramentos da terceirização são muito fortes e amplos, no sentido que convoca o individualismo do trabalhador, em sentido negativo, como produto do enfraquecimento ou da perda das regulações coletivas. A falta de referências, no mundo, e a propalada perda de um lugar no mundo do trabalho fazem com que o trabalhador seja relegado a situações não favoráveis ou desvantajosas, tendo um papel de pouco destaque e autonomia, gerando uma consequente instabilidade natural que reflete-se em ausência de proteção para tal. Desta forma, tem-se como objetivo analisar a perda de destaque, valor e proteção ofertada ao prestador de serviço nas relações trabalhistas, provocada por esta sistemática. Palavras-chave: Terceirização. Capitalismo. Relações Trabalhistas. Atividade-fim. Proteção Social. IV SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS ........................................................................... 3 1.1 ORIGEM, CONCEITO E EVOLUÇÃO DE TERCEIRIZAÇÃO ........................................ 3 2 PROCESSO DE REGULAMENTAÇÃO LEGISLATIVA DA TERCEIRIZAÇÃO ............ 18 3 A TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO COMPARADO ........................................................ 28 4 A TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM ..................................................................... 37 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 55 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 57 DIREITO INTERNACIONAL COMPARADO....................................................................63 V INTRODUÇÃO Neste presente trabalho aborda-se o fenômeno da terceirização, enfatizando a sua expansão e evolução mundial desde a origem bem como suas vertentes e aspectos que impactam a sociedade internacionalmente e demonstrando que, para além de um procedimento de gestão de empresas e conceito econômico, implica em uma série e sérias transformações nas relações de trabalho subordinadas e afeta a dignidade do ser humano, no que refere-se a proteção e equlíbrio dos direitos das partes no contrato de trabalho. Tal modelo de contratação de serviços por empresa interposta, sejam estes finais ou meios, e cuja prática se tornou crescente e corriqueira no mundo, advinda com o sistema capitalista que se ancora em uma racionalidade econômica dirigida pela maximização do lucro e do excedente econômico no curto prazo, assim como na ordem jurídica do direito privado. Tendo neste processo uma série de consequências na degradação de direitos dos trabalhadores, para isso, torna-se necessário fazer reflexões sustentadas na história das transformações ocorridas na sociedade moderna. Essas transformações que, necessariamente, envolvem o trabalho, principalmente as ocorridas no último quartel do século XX, são adensadas pela quarta Revolução Industrial contemporânea, que vem se instalando no século XXI. Objeto da discussão, tem esbarrado pela falta de segurança jurídica e ante regulamentação falha, bem como pelos conceitos incertos de atividade fim e meio para então definir-se quais atividades são aptas a se terceirizar por uma companhia. Em outras palavras, este sistema permitiu a integração de praticamente todo o processo de trabalho adotado no interior das cadeias de produção, mesmo que isso viesse acompanhado de um conjunto crescente de empresas menores especializadas em cada uma das etapas da atividade empresarial. Tal situação se tornou estratégia também de sobrevivência para trabalhadores desempregados e subocupados, e até mesmo os rurais que se realocam no perímetro urbano em busca de uma melhor qualidade de vida. 2 Desta forma, tem-se como objetivo central examinar a ruptura da proteção social nas relações trabalhistas, provocada por esta sistemática. O marco inicial e teórico do debate é o capitalismo e o reflexo a seus sujeitos, a empresa e o trabalhador, enfatizando o surgimento do trabalho com foco no lucro e irrestrita liberdade de comércio e indústria, como a forma predominante no capitalismo, e o sentido de alcance dos direitos sociais na contemporaneidade e sua constitucionalização. 3 1 CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS1.1 ORIGEM, CONCEITO E EVOLUÇÃO DE TERCEIRIZAÇÃO Pretende-se, neste primeiro capítulo abordar e contextualizar diversos aspectos que fundamentaram o nascimento do tema que significa uma nova concepção e traduz uma ruptura da proteção social nas relações trabalhistas no mundo contemporâneo chamado terceirização. Buscou-se, por meio do marco teórico denominado capitalismo, verificar a extensão e a externalização que esta sistemática promoveu à mercadorização do trabalho ao longo dos anos. A discussão do tema suscita o exame do perfil do trabalho subordinado, em suas vicissitudes que evocam, na doutrina, as formas do trabalho pré-industrial e as modificações que se seguiram com as mudanças da conjuntura econômica e produtiva da sociedade industrial. O surgimento do trabalho dependente e por conta alheia, como a forma predominante no capitalismo, acarretou, também, alterações políticas, pois o Estado que, inicialmente, professara a filosofia da liberdade e igualdade nas relações privadas, passou a ser concitado a exercer um papel regulador dessas relações, pois ficou constatado que o primado econômico inferioriza a situação jurídica dos que vivem de seu trabalho. A globalização, tão evidenciada nos tempos do World Wide Web, ou simplesmente Internet, em um sentido mais amplo, traduz um novo momento na história da sociedade, é fruto do capitalismo que se iniciou com a primeira Revolução Industrial e não parou de crescer. Com a globalização e a ideologia do modo de produção, capitalização, nasceu o fenômeno chamado terceirização de serviços, instalou-se no mundo com a pregação ideológica de ser algo inevitável a curto, médio e longo prazo. Globalização planetária, sob a égide dos princípios capitalistas que tem entre seus maiores legados a exploração da força do trabalho, a exclusão social e a banalização da miséria, precisa ser repensada. O sistema capitalista ancora-se em uma racionalidade econômica dirigida pela maximização do lucro e do excedente econômico no curto prazo, assim como na ordem jurídica do direito privado. Esse 4 processo teve uma série de consequências na degradação de direitos dos trabalhadores1, para isso, torna-se necessário fazer reflexões sustentadas na história das transformações ocorridas na sociedade moderna. Essas transformações, que necessariamente envolvem o trabalho, principalmente as ocorridas no último quartel do século XX, são adensadas pela quarta Revolução Industrial contemporânea, que vem se instalando no século XXI. O capitalismo brasileiro constituiu-se como um capitalismo tardio, dependente, de extração colonial-escravista e via prussiana, onde historicamente o moderno se articulou com o arcaico e o primado da iniciativa privada se impôs sobre a dignidade da pessoa humana e os direitos sociais dos trabalhadores. O Brasil sempre esteve à sombra do espectro da barbárie salarial. Na verdade, está na genese do capitalismo brasileiro o modo oligárquico-patrimonialista de organização da exploração da força de trabalho, com a “Casa Grande” continua sendo movida insaciavelmente pela busca desenfreada de lucros (o que explica a ânsia da terceirização como estratégia de rebaixamento salarial e espoliação de benefícios trabalhistas).2 Ao mesmo tempo, existe uma adequação estrutural da terceirização com a nova lógica do capitalismo global na qual o Brasil se inseriu com vigor na década do neodesenvolvimentismo. A terceirização tornou-se o Zeitgeist do capitalismo flexível, ou seja, o termo alemão significa o espírito da época, ou característica predominante dentro de um período. A expansão da terceirização no Brasil vincula-se à fase histórica de desenvolvimento do capitalismo global imerso na crise estrutural do capital. Por “crise estrutural do capital” entende-se a incapacidade candente do sistema de controle do metabolismo social realizar suas promessas civilizatórias. O desmonte do Estado de bem-estar social no polo mais desenvolvido da civilização do capital – União Europeia, por exemplo – é maior exemplo da mutação estrutural do sistema produtor de mercadoria incapaz de afirmar e ampliar direitos dos trabalhadores.3 1 LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 285. 2 RAMOS FILHO, Wilson. Direito Capitalista do Trabalho: história, mitos e perspectivas no Brasil. São Paulo: LTR, 2012. p. 18. 3 Idem., Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. São Paulo: Praxis, 2015. p. 9. 5 A partir de 1990, o Brasil entrou no processo de mudança histórica maciça da organização da capitalização num plano mundial (a dita globalização). Na presente temporalidade histórica do capital, existe uma tendência de precarização estrutural do trabalho que faz parte da nova dinâmica do sistema do capital global, articulando, por um lado, acumulação flexível; e, por outro lado, acumulação por espoliação. Com o neoliberalismo, a lógica auto expansionista do capital imprimiu sua marca nas instituições jurídico políticas da ordem burguesa, tornando-as insensíveis aos argumentos humanísticos e valores sociais. Os sumos sacerdotes do mercado clamam pelo princípio da iniciativa privada. Predomina no discurso das personificações do capital o pragmatismo de ocasião, que reitera, como um destino irremediável, a adaptação à nova ordem global, a palavra de ordem é flexibilizar as relações de trabalho.4 O desenvolvimento da acumulação flexível/acumulação por espoliação nos trinta anos perversos (1980-2010) de capitalismo global ocorre no bojo das pressões estruturais com o objetivo de reduzir custos das grandes empresas capitalistas. De acordo com István Mészáros, isso se denominou tendência à equalização descendente da taxa diferencial de exploração. Nos países capitalistas do Ocidente, as classes trabalhadoras puderam por um longo período de tempo gozar dos benefícios da taxa diferencial de exploração, constituindo, assim, um Estado social democrático de direitos trabalhistas e cidadania salarial para ampla maioria da população trabalhadora5. Suas condições de vida e de trabalho eram incomensuravelmente melhores do que as encontradas nos ‘países subdesenvolvidos’ (como o Brasil, por exemplo). Os países capitalistas do Ocidente eram modelo social de regulação do trabalho e muitos juristas e estudiosos do mundo trabalhista tomam como exemplo os países do capitalismo socialdemocrata. Porém, com o desenvolvimento do capitalismo global, percebemos no plano mundial, a deterioração dos direitos trabalhistas, e do próprio Direito do Trabalho, sob a ameaça da flexibilização laboral. 6 No Brasil, a nova precariedade salarial é um elemento que caracteriza as condições de deterioração do trabalho, ou seja, a equalização descendente da taxa 4 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. São Paulo: Praxis, 2015. p. 8. 5 Ibidem., p.8 6 Ibidem., p. 9. 6 de exploração. Um exemplo que pode ser citado, é o fenômeno do precariado que vem a ser o resultado social, no que diz respeito à estrutura de classes, da equalização descendente da taxa de exploração que ocorre nos países capitalistas europeus. O que se pode perceber no plano mundial é que os trabalhadores estão ameaçados em suas mais básicas condições de existência, não apenas devido o desemprego, mas, como vimos no caso do Brasil da era do neodesenvolvimento, a vigência da nova precariedade salarial, caracterizada pela expansão de relações de trabalho flexíveis. Os investidores lamentam o Custo Brasil e clamam pela Reforma Trabalhista. Como personificações do capital, expressam em si e para si, tão somente a tendência de equalização descendente do diferencial das taxas de exploração. O ideal para eles seria aproximar as taxas de exploração do Brasil das taxas de exploração da China.7 A concorrênciaacirrada mundial que começou a ocorrer devido à entrada da China no mercado mundial, fez com que o capital social total, se impusesse sobre a totalidade do trabalho, fazendo com que o capital global promovesse em cada país, nos últimos tempos, processos intensos de reestruturação produtiva com o objetivo de “desvalorizar a força de trabalho e impulsionar a ofensiva contra direitos dos trabalhadores buscando, em última instância equalizar as taxas diferenciais de exploração8”. A crise do sindicalismo e a corrupção dos partidos de esquerda provocaram a fragilização do Estado-nação diante do capital global, principalmente da esquerda socialdemocrata que incorporou a agenda neoliberal, colocando definitivamente o trabalho organizado na defensiva9. A tendência de equalização descendente da taxa diferencial de exploração leva a barbárie salarial e ao rebaixamento civilizatório. Para um país capitalista como o Brasil, isto assume dimensão de perversidade social tendo em vista o cenário histórico de desigualdades sociais no País. Na era da terceirização aprofunda-se, por um lado, a crise do Direito do Trabalho e o declínio da instituição Justiça do Trabalho e das cortes constitucionais (como o TST).10 No que diz respeito ao trabalho, tanto Tereza Aparecida Asta Gemignani como Daniel Gemignani ajudam a analisar o contexto histórico, principalmente no que diz respeito aos contornos da globalização ao afirmarem: “na 7 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. São Paulo: Praxis, 2015. p. 9. 8 Ibidem., p. 10. 9 Ibidem., p. 10. 10 Ibidem., p. 10. 7 contemporaneidade, a lógica da compra/venda passou a monitorar os demais atos da nossa vida, aniquilando o conceito de valor e substituindo-o pela ideia de preço. Assim, pouco importa o valor, basta saber qual é o preço11. Ainda os mesmos autores sustentam que “o mais assustador é que nessa mentalidade vem sendo aplicada também ao ser humano, destituindo-o da condição de sujeito e transformando-o num objeto passível de troca, cujo preço é aferido pela possibilidade de uso”. A globalização e seus reflexos no mundo do trabalho são questões atuais e polêmicas e, obviamente, interferem no que se tem denominado terceirização. Esse tema é cada vez mais relevante porque a realidade atual é dinâmica, em razão das céleres mudanças ocorridas com transformações sociais e políticas em nível mundial, principalmente com a internacionalização do capital e do trabalho, com o impacto tecnológico nos meios produtivos e com a controversa flexibilização de direitos. Polêmica porque imbuída de caráter social e de respeito à cidadania, ao envolver as condições de vida em sociedade e a conflitante relação entre capital e trabalho. Criado para suprir as deficiências sociais resultantes do sistema capitalista, o Direito do Trabalho, e por consequência, seus institutos, princípios e conceitos, necessitam caminhar e progredir juntamente com as nuances e alterações da sociedade, mas sem permitir que os mesmos fatores sociais, econômicos e políticos que resultaram em sua origem, contribuam para sua derrogação ou o esmorecimento de sua essência, em prol de uma suposta adaptação.12 Como mencionado, o Direito do Trabalho guarda como função primordial suprir, no plano jurídico a desigualdade existente no plano fático, entre trabalhador e tomador da mão de obra, equilibrando a distribuição das riquezas produzidas com a 11 GEMIGNANI, Tereza Aparecida Asta; GEMIGNANI, Daniel. Meio ambiente de trabalho. Precaução e prevenção. Princípios norteadores de um novo padrão normativo. Revista TST, Brasília, v.78, n.1, p. 258-280, jan./mar. 2012. p. 260. 12 MANDALOZZO, Silvana Souza Netto; ALVES, Juliana Cristina Amaro de Castro; COLMAN, Juliano. Terceirização: uma análise histórico, evolutiva e social. Revista Tribunal Regional do Trabalho. 9ª R., Curitiba, a.37, n. 68, p.233-249, jan./jun. 2012. 8 força de trabalho despendida, em busca da pacificação obtida com a justiça social entregue, proporcionando, assim, condições civilizatórias mínimas.13 Também, é cediço que o Direito do Trabalho encontra seu fundamento no contrato de trabalho subordinado, cercando-o de garantias, que visem protege-lo muitas vezes do próprio trabalhador, que no ímpeto de garantir condições econômicas de sobrevivência renuncia a direitos fundamentais, sujeitando-se a situações fraudulentas.14 Em contraponto, o Direito do Trabalho não busca a proteção do trabalhador como ser individual, mas sim como ser coletivo, como se depreende da leitura do artigo 8° da CLT, razão pela qual deve também almejar a viabilidade econômica das atividades empresariais, garantindo a manutenção dos postos de trabalho.15 Em meio a contraditória busca do equilíbrio entre a proteção dos direitos e garantias fundamentais que cercam o trabalhador e a necessidade de proteção e viabilidade da própria atividade empresarial, surgiu este sistema de gestão denominado terceirização, um fenômeno social que rompe com o conceito tradicional de pactuação laboral, criando novas figuras como tomador de mão de obra e fornecedor de mão de obra.16 Neste sentido, a terceirização deve ser tratada como exceção, vez que trata de forma de pactuação da mão de obra além da clássica dualidade do contrato formado por empregado e empregador, através do liame denominado subordinação direta.17 De acordo com Harison, apud Maeda “o desenvolvimento tanto do capitalismo como do liberalismo constituiu terreno fértil para o surgimento, na França, do intermediário – tâcheron ou subcontratante, no início do Século XIX”.18 Uma das primeiras e principais bandeiras do movimento trabalhista foi pela proibição da marchandage como simples locação de força de trabalho, que desde os primórdios do capitalismo significa a intermediação visando o 13 MANDALOZZO, Silvana Souza Netto; ALVES, Juliana Cristina Amaro de Castro; COLMAN, Juliano. Terceirização: uma análise histórico, evolutiva e social. Revista Tribunal Regional do Trabalho. 9ª R., Curitiba, a.37, n. 68, p.233-249, jan./jun. 2012. 14 Ibidem., p.233-249. 15 Ibidem., p.233-249. 16 Ibidem., p.233-249. 17 Ibidem., p.233-249. 18 Ibidem., p.127-150. 9 lucro. Os trabalhadores sempre reconheceram facilmente na figura desse intermediador um explorador, nesse caso, talvez a exploração fique mais evidente do que na figura do empregador direto – e lutaram para aboli-lo das relações de trabalho.19 Então, de acordo com Marx, “a subcontratação surgiu de forma marginal e se expandiu na França até que houvesse uma reação organizada dos trabalhadores”. A partir de 1840, intensificou-se a luta contra a marchandage, constituindo sua abolição, como a principal reinvidicação das greves nesta época. “Isso resultou em lei que tentou extirpá-la em 1848, sem qualquer êxito diante da lacuna sobre o trabalho por peça e da intermediação coletiva, um sistema de exploração que foi denunciado por Marx”.20 A marchandage foi formalmente extinta em 1848, “mas a sua forma coletiva – marchandage collectif – foi amplamente estimulada como forma de organização do trabalho”.21 Assim, de acordo com Harrison, “a abolição desta prática na França só ocorreu por meio da lei de 10 de julho de 1911, após muitas greves e debates, que envolviam tanto o argumento do ganho de produtividade quanto as péssimas condições dos trabalhadores subcontratados”.22 A conclusão que se pode obter, é que, “mesmo durante o período entre as Revoluções de 1830 e 1848, a marchandage foi uma forma persistente de superexploração da força de trabalho”.23 Caso o trabalho assalariado no capitalismo seja considerado como uma mercadoria, pois a força de trabalho humano utilizada tende a assumir a expressão indiferenciada ou equivalente da forma social do trabalho abstrato, a qual pode ser vendida e compradano mercado, tem-se que, de acordo com Paula Marcelino, “na terceirização, a mera interposição do intermediador entre o trabalho e o capital não irá alterar a relação social do trabalho assalariado nem o processo de acumulação, 19 MAEDA, Patrícia. Terceirização no Brasil: histórico e perspectiva. Revista do Tribunal Regional do Trabalho. 15ª R. n. 49, p. 127-150, 2016. p. 128. 20 MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. 21 MAEDA, Patrícia. Op. Cit. p. 128. 22 MAEDA, Patrícia. Op. Cit. p. 128. 23 MAEDA, Patrícia. Op. Cit. p. 127. 10 configurando-se apenas o fracionamento do mais-valor”.24 Isso torna obscuro o processo de acumulação, que se dá pela relação de trabalho. Desse modo, na perspectiva do direito, ao ser inserido um terceiro intermediário entre essas partes em processo de externalização da contratação de trabalhadores, ainda que a relação econômica capital x trabalho remanesça, há um deslocamento de tratamento jurídico trabalhista para o civilista.25 Outro aspecto importante, de acordo com Dedecca é que o conflito capital x trabalho, no Brasil, possuiu características diferentes das existentes nos países do capitalismo central. A escravidão deixou marcas profundas na sociedade brasileira, as leis que surgiram no início do Século XX devido aos movimentos operários, constituía mais o despotismo da relação de trabalho do que estabelecia alguma proteção aos trabalhadores.26 Já para Paoli, o sindicalismo que surgiu nas primeiras fábricas durante a tardia industrialização brasileira foi severamente repreendido pelo Estado. A autora afirma que: A incipiente ideologia anarquista que exaltava o trabalho, atribuindo-lhe um valor intrínseco de dignidade, liberdade e inteligência, contrapôs-se à ordem dominante segundo o qual o trabalho é apresentado como um favor, um ato de caridade da classe dominante em prol dos pobres27. Os fatos históricos que caracterizam o domínio do capital sobre o trabalho, de acordo com Alves, são “o colonialismo, o capitalismo, o imperialismo de hegemonia dos Estados Unidos e a globalização da economia”, dentro da economia nacional através de uma grande exploração da força do trabalho que era muito utilizada na periferia capitalista.28 Dedecca defende que: 24 MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo de produção do capital. Tradução de Rubens Enderle., São Paulo: Boitempo, 2013. p. 134-135. 25 MARCELINO, Paula. Trabalhadores terceirizados e luta sindical. Curitiba: Aprris, 2013. p. 52-53. 26 DEDECCA, Cláudio Salvadori. Flexibilidade e regulação de um mercado de trabalho precário. In: GUIMARÃES, Nadya Araujo et al. Trabalho flexível, empregos precários?: uma comparação Brasil, França, Japão. São Paulo: EUSP, 2009. p. 134. 27 PAOLI, Maria Celia. Trabalhadores e cidadania: experiência do mundo público na história do Brasil moderno. Estudos Avançados, São Paulo, v.3, n.7, p. 47-48, 1989. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000300004&script=sci_arttext. Acesso em: 26 set.2017. 28 ALVES, Giovanni. Trabalho e mundialização do capital: a nova degradação do trabalho na era da globalização.2. ed. Londrina: Práxis, 1999. p. 162. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000300004&script=sci_arttext 11 A reorganização dos instrumentos de regulação pública sobre o contrato de trabalho, com a Consolidação das Leis do Trabalho e a instituição do salário- mínimo, ocorreu durante a vigência do governo autoritário de Vargas com a finalidade de promover o processo de industrialização nacional, com a atuação estatal sobre as assimetrias do mercado de trabalho, buscando reduzir a desigualdade social29. Mas, apesar da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o salário mínimo terem sido grandes promessas, nenhum dos dois representou um ganho para a classe trabalhadora como um todo, mas sim, somente para trabalhadores das cidades, os trabalhadores rurais, que vinham de condições escravas, só tiveram parte de seus direitos reconhecidos na Lei nº 5.589/1973. E, somente por meio da promulgação da Emenda Constitucional n. 72, de 2 de abril de 2013, vários direitos trabalhistas foram estendidos aos empregados domésticos, que também vinham de condições escravas.30 Tudo isso mostra que o trabalhador brasileiro está sempre lutando para que seus direitos sejam, validados e conforme afirma Braga: “a CLT teria iniciado um processo civilizatório do capital, totalmente ausente quando comparado ao Estado antissocial, ou seja, ao Estado construído contra o povo miserável, anterior a revolução de 1930”31. A CLT já possui, desde 1943 a previsão de contratação de força de trabalho por intermédio de subempreiteiro, que consta no artigo 455, “com a responsabilização do empreiteiro principal pelo adimplemento das obrigações trabalhistas, no caso de subempreiteiro inadimplente (e não insolvente)” ressaltando- se ainda que a subempreitada é uma exceção à regra geral do contrato de trabalho conforme artigos 2° e 3° da CLT e, como tal, manteve-se marginal à forma de contratação dos trabalhadores.32 No período da ditadura militar surgiu o primeiro ataque ao modelo ordinário de contrato de trabalho firmado entre empregado e empregador: o Decreto-Lei n°: 29 DEDECCA, Cláudio Salvadori. Flexibilidade e regulação de um mercado de trabalho precário. In: GUIMARÃES, Nadya Araujo et al. Trabalho flexível, empregos precários?: uma comparação Brasil, França, Japão. São Paulo: EUSP, 2009. p.134. 30 MAEDA, Patrícia. Terceirização no Brasil: histórico e perspectiva. Revista do Tribunal Regional do Trabalho. 15ª R. n. 49, p. 127-150, 2016. p. 129. 31 BRAGA, Ruy. A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. São Paulo: Boitempo, 2012. p. 32. 32 MAEDA, Patrícia. Op. cit. p. 130. 12 200/1967, que versava sobre a organização administrativa da União, e introduziu a noção de descentralização administrativa, distanciando o trabalhador para quem ele prestava serviços, ou seja, o Estado. Dessa maneira, a União pode contratar com empresas da iniciativa privada “a realização material de tarefas executivas”, institucionalizando a triangulação entre tomadora de serviços e trabalhador, com a intermediação de empresa interposta. A posterior promulgação da Lei n 5.645/1970 supriu a falta de definição das chamadas tarefas executivas mencionadas no artigo 3°, parágrafo único, do Decreto-Lei n°: 200/1967, complementando sua redação. As lutas operárias, que ocorreram no final dos anos 1970, levaram segundo Thébaud-Mony e Druck: As conjunturas políticas, incluindo a luta pela democracia no país, que fizeram retroceder a condição precária do mercado de trabalho brasileiro e conquistar novos direitos, com destaque para inclusão dos direitos sociais como direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988, ampliando direitos, especialmente a proteção social.33 A partir de 1990, no Brasil, a mesma ideologia neoliberal trouxe propagandas da modernidade e da flexibilidade com o objetivo de ser repensado o Direito do Trabalho, significando, na realidade, a destruição da ideia de proteção ao trabalhador como sendo algo necessário para que ocorresse um aumento da produtividade e até mesmo da competitividade dentro do cenário mundial provocando além disso mudanças no Direito Administrativo. Com isso, o parágrafo único do art. 3° da Lei nº: 5.645/1970 foi revogado pela Lei nº: 9.527/1997, sem justificativa alguma ou norma substitutiva, não sendo mais funcional limitar a terceirização na Administração Pública a apenas esses segmentos, passando a ser admitida em qualquer setor.34 Os primeiros governos que foram eleitos diretamente adotaram uma política de liberalização, já com a utilizaçãoda Constituição Federal de 1988, negaram efetividade aos direitos sociais nela previstos, com forte impacto no mercado de trabalho. 33 THÉBAUD-MONY, Annie; DRUCK, Graça. Terceirização: a erosão dos direitos dos trabalhadores na França e no Brasil. In: DRUCK, Maria da Graça; FRANCO, Tânia (Org.). A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007. p. 40. 34 MAEDA, Patrícia. Terceirização no Brasil: histórico e perspectiva. Revista do Tribunal Regional do Trabalho. 15ª R. n. 49, p. 127-150, 2016. p. 130. 13 Referente a isso, Dedecca “relata a redução de 50% dos empregos no setor industrial nos anos 1990, a triplicação da taxa de desemprego em vinte anos, e a dominância da informalidade”.35 O mesmo autor supracitado afirma ainda que “os governos justificavam o desemprego como decorrente da regulação pública do contrato de trabalho e da baixa escolaridade da força de trabalho”. As grandes empresas transnacionais, por sua vez, passaram a exercer forte pressão a favor da flexibilização da regulação pública, e os patrões passaram a reivindicar aos sindicatos “a aceitação da remuneração por resultados, da adoção da jornada de trabalho flexível – banco de horas, da redução de salários e da realização de trabalho aos domingos” de acordo com Burawoy. Essas flexibilizações foram realizadas através de negociação coletiva viabilizando novas demandas empresariais, que o Estado implementou: “contrato por tempo parcial, contrato por prazo determinado, dentre outras”. O mesmo autor supracitado ainda ressalta que: A emergência do contrato de prestação de serviços mediante pessoa jurídica como forma de contratação de força de trabalho, equiparando o trabalhador a uma empresa, retirando toda a proteção social ao seu trabalho. A experiência brasileira revela um caso singular no cenário global de um país que transitou diretamente de um regime de natureza despótica para despótico-hegemônica.36 Ainda em 1990 ocorreu a generalização da terceirização. Marcelino define terceirização como: “todo processo de contratação de trabalhadores por empresa interposta, cujo objetivo é a redução de custos com a força de trabalho e/ou a externalização dos conflitos trabalhistas”. Desta forma, não se pode separar a “ampliação da exploração do trabalho, da precarização das condições de vida da classe trabalhadora e do esforço contínuo das empresas para enfraquecer as organizações dos trabalhadores”37. A autora supracitada destaca ainda como principais formas de terceirização no Brasil: 35 DEDECCA, Cláudio Salvadori. Flexibilidade e regulação de um mercado de trabalho precário. In: GUIMARÃES, Nadya Araujo et al. Trabalho flexível, empregos precários?: uma comparação Brasil, França, Japão. São Paulo: EUSP, 2009. p.137-138. 36 BURAWOY, Michael. A transformação dos regimes fabris no capitalismo avançado. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.5, n. 13, p.33-34. jun.1990. p.33-34. 37 MARCELINO, Paula. Trabalhadores terceirizados e luta sindical. Curitiba: Aprris, 2013. p. 50. 14 Cooperativas de trabalhadores, trabalho temporário; empresas externas que pertencem a uma rede de fornecedores para uma empresa principal, como, por exemplo, os fornecedores de autopeças para as montadoras; as empresas externas à contratante, subcontratadas para tarefas específicas, como as centrais de tele atendimento; as empresas de prestação de serviços internos à contratante, as chamadas personalidades jurídicas; além da quarteirização ou terceirização delegada ou terceirização em cascata.38 Em meados da década de 1950, de acordo com Leiria, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, cresceu nos Estados Unidos, inicialmente na indústria bélica, um novo processo de gestão, que se resumia a delegar algumas atividades de suporte a empresas contratadas, para que as contratantes pudessem se concentrar na produção e desenvolvimento de armamentos.39 Segundo Giosa, mais tarde, também com a necessidade de especialização e reformulação de suas estruturas, grandes empresas introduziram uma técnica denominada downsizing, que visava reduzir suas divisões hierárquicas intra- empresariais, encurtando o trâmite da tomada de decisões.40 Em um segundo momento e, como resultante deste processo, desenvolveu- se o denominado outsourcing, expressão em inglês que significa terceirização, que resultou na transferência de atividades secundárias para terceiros. No Brasil, influenciadas pela pressão externa e interna, com a abertura de mercado intentada pelo governo vigente, as empresas, mais especificamente, a indústria automotiva, passou a praticar esta nova técnica da administração denominada pelos gestores de terceirização.41 Tal intento delegava a outras empresas a fabricação de rodas e peças necessárias para a sua produção, o que as transformou, assim, em meras montadoras de veículos. Seguindo assim a mesma tendência, outras grandes empresas iniciaram processo de descentralização de atividades ligadas à alimentação, sistema de saúde, limpeza, segurança e transporte de trabalhadores, com o intento de diminuir seus custos fixos de produção, simplificar sua estrutura e 38 MARCELINO, Paula. Trabalhadores terceirizados e luta sindical. Curitiba: Aprris, 2013. p. 54-57. 39 LEIRIA, Jerônimo Souto; SARATT, Newton Dornelles. Terceirização: uma alternativa de flexibilidade empresária. São Paulo: Gente, 1996. p.22. 40 GIOSA, Lívio Antonio. Terceirização: uma abordagem estratégica. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007.p. 26 41 LEIRIA, Jerônimo Souto; SARATT, Newton Dornelles. Op. cit. p.22. 15 melhorar a qualidade técnica de seus produtos, com maior aprimoramento da mão de obra disponível. O que, em início, para alguns, não passava de modismo ou um novo termo da administração, ganhou força ao longo dos anos, resultando em uma maciça adesão dos empresários, apesar da resistência inicial da própria justiça laboral, de doutrinadores e estudiosos, que temiam a regulamentação da fraude nos contratos de trabalho, em virtude de eventual legalização da intermediação de mão de obra.42 A expansão dos modos flexíveis de exploração capitalista, que caracteriza os elementos hegemônicos de denominação econômica no mundo atual, tem claros reflexos sobre o mundo de trabalho. A atual configuração dos processos produtivos difundidos no mundo empresarial conduziu gradualmente a um desmanche da tradicional fábrica fordista, caracterizada pela racionalização das técnicas e tecnologias de produção e pela divisão detalhada e pré-existente do trabalho entre trabalhadores estacionários.43 Apresenta-se, assim, uma nova tendência de estruturação econômica e de distribuição da força de trabalho, caracterizada pela conjugação entre os processos fordistas e modos flexíveis de realização da produção, que levaram à cunhagem do termo toyotismo para identificar o modo de organização da produção que passou a se exercer no capitalismo contemporâneo, diferenciando-se essencialmente do fordismo em razão dos seguintes caracteres, de acordo com Antunes: Vinculação da produção à demanda mediante individualização da oferta de bens e serviços; trabalho em equipe, baseado na multifuncionalidade operária; flexibilidade do processo produtivo; aproveitamento aperfeiçoado do tempo de produção; sistema de estoques mínimos; estrutura empresarial horizontalizada; preocupação crescente com os sistemas de gestão de qualidade; e vinculação entre salário e produtividade.44 Especificamente no mundo do trabalho, segundo Harvey é um tempo que se notabiliza pela redução da quantidade de trabalhadores nas atividades consideradas centrais nas empresas e pelo contínuo incremento da “força de trabalho que pode 42 LEIRIA, Jerônimo Souto; SARATT, Newton Dornelles. Terceirização: uma alternativa de flexibilidade empresária. São Paulo: Gente, 1996. p.22. 43HARVEY, David. The Condition of postmodernity: aenquiry into the origins of cultural change, Cambridge: Blackwell, 1992. 44 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade no mundo do trabalho. 15 ed. São Paulo: Boitempo, 2011. p.37. 16 ser rapidamente contratada e, ao mesmo tempo, pode ser despedida com agilidade e sem custos quando os tempos não são bons negócios”45. Com isso, aprofundam-se as pressões competitivas e o sistemático controle da força de trabalho, culminando na formação de “uma rede de subcontratação e terceirização que garanta maior flexibilidade em face da competição ampliada e do aumento dos riscos”46. Esta tendência encontrou rápida repercussão no interior do capitalismo brasileiro marcado pela predominância histórica de uma superexploração da força de trabalho, conceito cunhado pela teoria marxista da dependência e que se define como a propensão ao esgotamento da força de trabalho do sujeito trabalhador, impedindo- o até mesmo do acesso a condições mínimas de recuperação do desgaste ocasionado pelo trabalho.47 Tal objetivo é alcançado por meio de uma intensificação e de um alongamento da jornada e da defasagem entre o valor histórico-social da força de trabalho e a remuneração efetivamente recebida48. A mais difundida expressão do modelo de acumulação flexível no Brasil é a estruturação simples de relações triangulares de contratação trabalhista, que não só permitem maior facilidade e menores custos de contratação e despedida, como também viabilizam o incremento de superexploração destacada pelos autores da teoria marxista da dependência. Tal como destaca Giovanni Alves, trata-se de expressão atual e destacada do modo de produção capitalista no país. Portanto a terceirização no Brasil não é traço meramente contingencial por conta da lei ou inescrupulosidade de maus capitalistas. Ele é um modo de reafirmar a forma de ser de entificação do capitalismo brasileiro baseado na superexploração da força de trabalho (exploração da força de trabalho que articula intensificação do trabalho, alongamento da jornada laboral e rebaixamento salarial). Ao mesmo tempo, a vigência do capitalismo flexível e a constituição da nova precariedade salarial 45 HARVEY, David. The Condition of postmodernity: aenquiry into the origins of cultural change, Cambridge: Blackwell, 1992, p.152. 46 ibidem., p.155-156. 47 MARINI, Ruy Mauro. As razões do neodesenvolvimento. In: SADER, Emir (Org.) Dialética da de dependência: antologia. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 69-70. 48 LUCE, Mathias Seibel. Brasil: nova classe média ou novas formas de superexploração da classe trabalhadora? Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 169-190, jan/abr. 2013. p. 173. 17 contribuiu para a reafirmação do modo de entificação do capitalismo no Brasil – hipertardio, dependente, com extração escravista-colonial de via prussiana – aprofundando, deste modo, os traços históricos da miséria do trabalho no interior do próprio núcleo da modernidade salarial.49 O contexto sociológico da terceirização no Brasil leva à percepção de um processo que tem, em sua essência, a pretensão de impor, por meio de práticas difusas de gestão empresarial, a institucionalização de “um processo social que desestabiliza as relações de trabalho, trazendo insegurança e volatilidade permanentes, fragilizando os vínculos e impondo perdas dos mais variados tipos – de direitos, do emprego, da saúde e da vida dos trabalhadores”.50 Para Catharino, a terceirização, entre as sequelas do neoliberalismo, é o fenômeno que dele recebeu menor influência, por ser muito antigo, na história do Direito do Trabalho, localizando-se em institutos tradicionais como a subempreitada e o trabalho a domicílio51. Em recuo mais distante no tempo, Druck e Thebaud-Mony defendem a ideia de que a terceirização: É um fenômeno velho correspondente a uma prática utilizada desde a Revolução Industrial, que no Brasil se encontrava no trabalho rural sazonal, por meio de ‘gatos’52, mas se tornou um fenômeno novo porque, no toyotismo, passou a ocupar um lugar central53. Sendo a terceirização um dos procedimentos mais evidentes da transformação que ocorreram nas relações de produção com a introdução do conceito da empresa em rede, ela insere também a modificação do Direito do Trabalho, por meio da flexibilização que, por sua vez, surge para a reestruturação das relações de trabalho. Enquanto no contrato de trabalho temporário, expressão inicial de terceirização, tem- se um contrato previsto em lei trabalhista, nos novos 49 ALVES, Giovanni, Terceirização e capitalismo no Brasil: um par perfeito. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. p. 90-105, São Paulo. v. 80, n. 3, julho-setembro 2014. 50 DRUCK, Graça; SILVA, Jair Batista da. Precarização terceirização e ação sindical. In: DELGADO, Gabriela Neves; PEREIRA, Ricardo José Macedo de Britto, Trabalho, constituição e cidadania: a dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas. p. 31-45. São Paulo: LTr, 2014. p. 42 51 CATHARINO, José Martins. Neoliberalismo e sequela. São Paulo: LTr, 1997. p. 70-72. 52 São conhecidos como “gatos” os arregimentadores de trabalhadores rurais, irregularmente. 53 THEBAUD-MONY, A; DRUCK, G. Terceirização: a erosão dos direitos dos trabalhadores na França e no Brasil. In: Graça Druck, Tânia Franco. (Orgs.). A Perda da Razão Social do Trabalho: Terceirização e Precarização. São Paulo: Boitempo, 2007. p.23-58. 18 casos é adotado um contrato de Direito Civil, a prestação de serviços, como setores ou seções a outras empresas, suas parceiras, ou leva para suas dependências para, ali, prestarem certos serviços, trabalhadores vinculados a outras empresas.54 Vivendo em sociedade ao longo tempo, o homem adquire a condição de diminuir a desigualdade no mundo corporativo no tocante ao consumismo através de incessantes lutas e difíceis trajetórias marcadas pela escravidão, servidão, evolução do capitalismo até a chegada ao Estado Neoliberal, no qual se busca o aumento de patrimônio, através da transposição de vários obstáculos decorrentes de limitações resultadas pela introdução de novos métodos que são caracterizados pela busca do aumento da competitividade, de mercados e de lucros, em detrimento do trabalho realizado pelo ser humano, momentos esses que chegam a comprometer a sua liberdade que se torna precária ou se extingue. Com o desenvolvimento da economia mundial, a sobrevivência das empresas ficou condicionada à busca de produções em grande escala e com qualidade, mas com o menor custo possível. Logo, a volatibilidade da economia, com os mercados financeiros em crise, fizeram com que as empresas procurassem reduzir os custos através de formas atípicas de contratação decorrentes das transformações de novas formas de produzir e a terceirização é contribuinte nesse processo, pois a mesma é uma expressão e extensão a diferentes e diversas empresas de modo a ser tornar uma forma comum nas divisões de trabalho caracterizada por uma relação triangular de prestação de mão de obra, formada pelo tomador do serviço que geralmente são as empresas, o prestador de serviços que estabelece uma relação direta empregatícia com o obreiro, e o trabalhador que executará a mão de obra, o famigerado terceirizado55. 54 CASTRO, Maria do Perpétuo Socorro Wanderley de. Terceirização: uma expressão do direito flexível do trabalho na sociedade contemporânea. São Paulo: LTr, 2014. p. 115. 55 PEREIRA, Paulo Henrique Borges. A eficácia e os limites da terceirização no Brasil. 2015. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8931/A-eficacia-e-os-limites-da- terceirizacao-no-Brasil. Acesso em: 20 jul. 2018 http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8931/A-eficacia-e-os-limites-da- 19 2 PROCESSO DE REGULAMENTAÇÃO LEGISLATIVA DATERCEIRIZAÇÃO O contexto sociológico da terceirização no Brasil leva à percepção de um processo que tem, em sua essência, a pretensão de impor, por meio de práticas difusas de gestão empresarial, a institucionalização de “um processo social que desestabiliza as relações de trabalho”, trazendo insegurança e volatibilidade permanentes, fragilizando os vínculos e impondo perdas dos mais variados tipos – de direitos, do emprego, da saúde e da vida – dos trabalhadores, conforme entende Ramos Filho.56 A terceirização se difundiu no Brasil ao arrepio de qualquer processo legislativo democrático, ocasionando tentativas de tratamento legislativo lentas e seguidas de retiradas de projeto de lei apresentados. De fato, ao definirem as figuras de empregador e empregado, os artigos 2° e 3° da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelecem, exclusivamente, como critérios de aferição da relação empregatícia, a pessoalidade, a não eventualidade, a subordinação e a bilateralidade da relação jurídica. Apenas excepcionavam tal regra, no texto consolidado, as figuras da empreitada e da subempreitada, previstas no artigo 455, que previa a subcontratação em situações bastante específicas. A emergência de elementos normativos fundamentadores da intermediação de mão de obra somente foi possível quando, já durante a ditadura militar brasileira, foi editado o Decreto-Lei nº 200/1967, que reestruturou o aparelho de Estado, conjugando o autoritarismo da ocasião com certa vertente econômica liberal. 57 Naquela figura normativa, inseriu-se dispositivo genérico e abrangente que permitia a delegação de funções estatais à iniciativa privada, desde que se tratassem das chamadas “tarefas executivas” (art. 10, § 7°, do mencionado decreto- lei). Para se considerar o agente privado hábil à execução da tarefa, exigia-se tão somente que gozasse de suficiente desenvolvimento técnico para o desempenho da função. Apenas com a edição da Lei nº 5.645/1970 é que se dimensionou com maior precisão, as modalidades das tarefas sujeitas à delegação referida, conforme se depreende do artigo 3°, que especificava ser viável a terceirização de atividades públicas de transporte, conservação, custódia, operação com elevadores, limpeza e outras assemelhadas. 58 56 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015. p.12. 57 Ibidem.,p. 15. 58 Ibidem.,p. 16. 20 No setor privado, as únicas permissões legislativas à terceirização foram viabilizadas por meio das Leis n° 6.019/1974 e nº 7.102/1983, que versam, respectivamente sobre trabalho temporário e serviços de segurança. Em nenhum caso, como se verifica, foram incluídas permissões genéricas à terceirização, prevalecendo, ainda, o conceito de relação jurídica trabalhista sintagmática (obrigação contraída entre duas partes de comum acordo de vontades) constante na CLT. 59 Por compreender que tal seria a decorrência lógica dos dispositivos normativos enumerados, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) editou, no ano de 1986, o verbete de Súmula n° 256, segundo o qual salvo os casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previstos nas Leis n° 6.019, de 3-1-1974, e nº 7.102, de 20-6-1983, “é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta, formando-se o vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços”. A ausência de previsão sumular específica relativa à legislação que abrangia a Administração Pública, bem como a presença da expressão “outras assemelhadas” entre as atividades que poderiam ser terceirizadas nos serviços estatais, conforme cita Delgado60, fizeram o TST rever o enunciado, editando a Súmula n°331 no ano de 1993, assim originalmente redigida: Contrato de prestação de serviços. Legalidade. Revisão do enunciado N° 256 I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador de serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n° 6.019, de 03.01.1998). II – A contratação irregular de trabalhador, mediante emprea interposta gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n° 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. 59 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional, Bauru: Canal 6, 2015.p. 16. 60 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 39. 21 IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que este haja participado da relação processual e constem do título executivo judicial (artigo 71 da Lei n° 8.666/93). O verbete, como se observa, manteve o objetivo do seu antecessor, apenas interpretando que se acrescentam às exceções dos serviços de conservação e limpeza e de segurança, as atividades especializadas ligadas às atividades-meio das empresas.61 Ao longo das décadas de 1990 e 2000, o tema dos impactos da terceirização trabalhista sobre a regulação do trabalho no Brasil dominou a agenda pública de discussões sobre a reconfiguração jurídica da legislação trabalhista. Não foram poucas as tentativas patronais de impor a tão sonhada reforma trabalhista, mediante a introdução de normas flexibilizadoras que impactam diretamente sobre as garantias constitucionais do emprego e que objetivam aprofundar a superexploração anteriormente verificada.62 Em 1996, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Vantuil Abdala apontou para a conveniência de lei reguladora, que regulamentasse a relação, como atividade exercida por uma empresa prestadora de serviço autorizada pelo Ministério do Trabalho, mediante licença especial, como disciplina do conteúdo dos contratos e descrição dos trabalhos a serem executados pelos trabalhadores e a atribuição de dirigir esses trabalhos, bem como a garantia dos mesmos salários quando idênticas as funções entre os empregados do tomador e os terceirizados. Nada foi alcançado, todavia, diversos projetos de lei sobre terceirização estiveram em curso, examinam- se dois que foram objeto do debate público ocorrido no TST em outubro de 2011. 63 O PL n° 4.330/2004, apresentado pelo Deputado Sandro Mabel, dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho dele decorrentes. Nele, é previsto que a prestadora de serviços contrate e remunere o trabalho realizado por seus empregados ou subcontrate outra empresa para realização desses serviços, sem configurar vínculo empregatício entre a empresa 61 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015. p.12. 62 Ibidem., p.12. 63 ABDALA, Vantuil. Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade subsidiária do tomador de serviço. Revista LTr, São Paulo, v. 60. n. 5. p. 587-590, 1996 22 contratante e os trabalhadores ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o ramo64. Esse PL cuidou de requisitos para o funcionamento da empresa prestadora de serviços, entre os quais capital social compatível com o número de empregados. É definida como contratante a pessoa física ou jurídica que celebra com empresa prestadora de serviços contato de prestação de serviços determinados e específicos que podem versar sobre o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares à atividade econômica da contratante e estabeleceu às cláusulas de contrato entre as empresas. O PL possibilitava a contratação dotrabalhador, sucessivamente, por diferentes empresas prestadoras de serviços a terceiros que prestem serviços à mesma contratante de forma consecutiva, prevendo que os serviços podem ser executados no estabelecimento da contratante ou em outro local. Estabelece, ainda, a responsabilidade da contratante pelas condições de segurança e saúde dos trabalhadores, o fornecimento de treinamento adequado, ou sua exigência à prestadora, se tratar de serviços que exijam treinamento específico. A responsabilidade subsidiária pelas obrigações trabalhistas, e a solidariedade quando houver a subcontratação é prevista no PL, possibilitando a extensão, pela contratante, ao trabalhador da prestadora de serviços, dos benefícios oferecidos aos seus empregados. Dispõe, também, que o recolhimento da contribuição sindical deve ser feito ao sindicato da categoria profissional, correspondente à atividade exercida pelo trabalhador na empresa contratante. 65 Por fim, o PL n° 4.330/2004 estabeleceu que os contratos em vigência serão convertidos às suas disposições. Esse projeto reforça o procedimento de terceirização, ao determinar que os contratos vigentes serão submetidos, mediante adequação, às suas disposições. De outra parte, verifica-se que a amplitude dada à terceirização como mecanismo de fuga ao vínculo empregatício, de forma expressa ao afastar a sua formação com a contratante tomadora. A precarização do trabalho se aprofunda, mediante a possibilidade da contratação sucessiva do trabalhador por 64 BRASIL. Projeto de Lei nº 4.330 de 2004. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=5D720927F50CBDA2A02 4147AB247E2F9.proposicoesWeb1?codteor=1316902&filename=Avulso+-PL+4330/2004. Acesso em: 25 nov. 2017. 65 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015. p.118. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra%3Bjsessionid%3D5D720927F50CBDA2A02 23 diferentes empresas prestadoras de serviços a terceiros que prestem serviços à mesma contratante de forma consecutiva, mecanismo que implica a coisificação do trabalhador, fazendo-o circular entre diferentes empregadoras, sempre a serviço da mesma tomadora e na execução das mesmas tarefas, simples ou especializadas. Ele reforça também a independência entre as empresas, assegurando apenas responsabilidade subsidiária pelas obrigações trabalhistas. Dificulta a formação da consciência de classe e associativismo dos trabalhadores em prestadoras de serviços, por impor o recolhimento da contribuição sindical ao sindicato da categoria profissional correspondente à atividade exercida pelo trabalhador na empresa contratante; ora a configuração sindical na legislação existente é dada pela atividade preponderante da empresa, enquanto a atividade do trabalhador somente é considerada quanto aos trabalhadores de categoria profissional e descrita em lei.66 Outro projeto é o PL n° 1.621, de 2007, do Deputado Vicentinho, que dispõem sobre as relações de trabalho em atos de terceirização e na prestação de serviços a terceiros no setor privado e nas sociedades de economia mista. Nele fora definida a terceirização como a transferência da execução e serviços de uma pessoa jurídica de direito privado ou sociedade de economia mista para outra pessoa jurídica de direito privado, estabelecendo como tomadora a pessoa jurídica que contrata serviços de outra pessoa jurídica prestadora e como prestadora, a pessoa jurídica de direito privado que exerce atividade especializada e que, assumindo o risco da atividade econômica, contrata, assalaria e comanda a prestação de serviços para uma tomadora. Na época havia a proibição da terceirização atividade-fim da empresa, como tal considerada a que consiste no conjunto de operações que tem estreita relação com a finalidade central da empresa, sua estrutura e organização produtiva e é estabelecido que, para atividade fim, deverão ser contratados trabalhadores com vínculo de emprego direto. Também era proibida a contratação de empresas que não tenham atividade especializada, as meras fornecedoras de mão de obra, salvo em se tratando de trabalho temporário, serviços de vigilância e asseio e conservação. 66 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015. p.119. 24 Estabelece este projeto de lei o dever de informação da empresa terceirizante ao sindicato de sua categoria profissional, com especificação de dados sobre a terceirização relativos aos motivos, serviços, trabalhadores, redução de custos e empresas que atuarão como prestadoras. Ele impõe a especificação dos serviços a serem executados e prazo determinado de duração no contrato de prestação de serviços entre a tomadora e a prestadora e a apresentação, pela prestadora, de documentos relativos às obrigações trabalhistas e previdenciárias, incluído acordo ou convenção coletivos celebrados. Previu este projeto a integralização do capital social integralizado da prestadora, suficiente para garantir a satisfação dos direitos e créditos trabalhistas, inclusive na rescisão. Dispôs, ainda, sobre a execução dos serviços, vedando a subordinação e a pessoalidade à tomadora, e assegura igualdade de salário, jornada, benefícios, ritmo de trabalho e condições de saúde e de segurança entre os empregados da tomadora e os empregados da tomadora que atuem nas instalações físicas da tomadora ou local por ela determinado, vedando que o terceirizado tenha, na tomadora, atividade diversa daquela para qual foi contratado pela prestadora; assim como impõe a garantia pela tomadora, dos gastos dos trabalhadores com deslocamento e acomodações. Prevê, também, a responsabilidade solidária da tomadora, estabelecendo a formação do vínculo empregatício entre a tomadora e os empregados da prestadora, quando ocorrentes os elementos previstos no artigo 3° da CLT. Estabelecia o PL n° 1.621/07, a formação de Comissão composta por representantes das empresas prestadoras, tomadoras e sindicatos dos trabalhadores para acompanhamento do contrato de prestação de serviços. Determinou a adequação dos contratos de prestação de serviços às exigências nela estabelecidas. Percebe-se, neste projeto, a tendência à civilização da terceirização, mediante a previsão de direitos iguais entre empregados da tomadora e terceirizados, bem como a restrição à sua adoção ao permiti-la como alcance restrito às atividades-fim. Há valorização do vínculo empregatício, por afirmar sua caracterização quando presentes os requisitos do artigo 3° da CLT, e houver o desvirtuamento do contrato, haja vista a expressa proibição da pessoalidade e subordinação entre 25 empregado terceirizado e tomadora. Reforça-se, nele, a responsabilidade pelas obrigações trabalhistas, mediante a responsabilidade solidária entre prestadora e tomadora. Os dois projetos tiveram em comum a aceitação da terceirização, o que denota que o procedimento passou a constituir senso comum nas relações de trabalho, deferindo apenas sua adoção e efeitos em maior ou menor extensão. Sua utilização no Brasil é crescente, confrontada, todavia, pela desistência do procedimento por parte de algumas empresas que o adotaram e pelo surgimento de novo movimento, o chamado outsourcing reverse, ou desterceirização. Rodrigues Pinto argumenta que a terceirização é cercada pelo temor dos empregados, das associações sindicais, dos doutrinadores, do Ministério Público do Trabalho, do Judiciário trabalhista e das empresas, mas pode ser conjurado pela declaração da fraude e nulidade do contrato, com base no artigo 9° da CLT, pelo suprimento da incapacidade da terceirizada e pela imposição do fraudadores (empresa prestadora e tomadora dos serviços) de compensação punitiva, destacando a necessidade de legislação quanto aos traçosdistintivos da terceirização lícita e ilícita, fazendo sua objetivação normativa. Além da divergência quanto ao efeito proveito da sua prática, constata-se que os partidários dessa forma organizacional reconhecem a necessidade de sua regulação, o que está espelhado nos dois projetos de lei analisados, cuja diferença de perspectiva não significa uma rejeição à terceirização, mas uma regulação encaminhada segundo seus díspares interesses. Tema inçado de dificuldades, a seu respeito a Organização Internacional do Trabalho (OIT) promoveu uma discussão inicial em 1997, e posteriormente, comunicou aos Estados-Membros o relatório com um projeto de convenção e um projeto de recomendação, mas as diferentes preocupações e os diferentes tipos de situações que estão contidas sob a definição de terceirização, dada pelos Estados- Membros, tornam opaca a questão.67 É importante considerar que, no preâmbulo do projeto de convenção, era assinalado que o crescente uso da terceirização torna conveniente a adoção de 67 OIT. Le travail em sous-tritance. Disponível em: www.ilo-mirror.library.cornell.ecu. Acesso em: 25 fev. 2018. http://www.ilo-mirror.library.cornell.ecu/ 26 normas sobre esta matéria para fazer com que os terceirizados gozem de uma proteção adequada. Neste sentido, em 2014, superando diversos óbices formais claramente perceptíveis da análise processual, o Supremo Tribunal Federal decidiu discutir o tema sob a ótica constitucional do princípio da legalidade, inscrito no artigo 5°, II, da Constituição da República. Por meio do seu Plenário Virtual, reconheceu a existência de repercussão geral quanto ao tema da terceirização trabalhista de atividade-fim, assim sintetizando a discussão: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CÍVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE DE TERCEIRIZAÇÃO E SUA ILÍCITUDE. CONTROVÉRSIA SOBRE A LIBERDADE DE TERCERIZAÇÃO. FIXAÇÃO DE PARÂMETROS PARA A IDENTIFICAÇÃO DO QUE REPRESENTA ATIVIDADE-FIM. POSSIBILIDADE. 1. A proibição genérica de terceirização calçada em interpretação jurisprudencial do que seria ativiade-fim pode interferir no direito fundamental de livre iniciativa, criando, em possível ofensa direta ao art. 5°, inciso II, da CRFB, obrigação não fundada em lei capaz de esvaziar a liberdade do empreendedor de organizar sua atividade empresarial de forma lícita e de maneira que entenda ser mais eficiente. 2. A liberdade de contratar prevista no art. 5°, II, da CF é conciliável com a terceirização dos serviços para o atingimento do exercício-fim da empresa. 3. O thema decidendum, in casu, cinge-se á delimitação das hipóteses de terceirização de mão-de-obra diante do que se compreende por atividade- fim, matéria de índole constitucional, sob a ótica da liberdade de contratar, nos termos do art. 5°, inciso II, da CRFB. 4. Patente, assim, a repercussão geral do tema, diante da existência de milhares de contratos de terceirização de mão-de-obra em que subsistem dúvidas quanto a sua legalidade, o que poderia ensejar condenações expressivas por danos morais coletivos semelhantes àquela verificada nestes autos. 5. Diante do exposto, manifesto-me pela existência de Repercurssão Geral do tema, ex vi art. 534, CPC. O caso eleito como paradigma para o tema da repercussão geral remonta a um conjunto de denúncias formalizadas junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) em Minas Gerais, pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Extração de Madeira e Lenha de Capelinha-Minas Novas, a respeito das condições de trabalho na indústria de celulose naquela região. A partir do processo de investigação inicial, foram propostas ações civis públicas requerendo a imediata 27 suspensão da terceirização da atividade e a condenação das empresas por danos morais coletivos68. Em uma dessas ações, a empresa Celulose Nipo-Brasileira S.A (Cenibra) foi condenada pela Justiça do Trabalho da 3ª Região (Minas Gerais), que aplicou a Súmula n° 331 do TST para caracterizar as atividades terceirizadas como atividade- fim da empresa. A empresa recorreu à instância máxima do Judiciário trabalhista, alegando, em síntese, que sua liberdade de contratar serviços prestados por outra empresa teria sido violada pela decisão condenatória. Em 2012, no entanto, o TST inadmitiu o recurso da empresa, em razão de questões de índole processual: “entendeu-se que a matéria não estava pré-questionada e que a pretensa violação à liberdade de contratar, ainda que fosse existente, não teria sido violada diretamente pela decisão, que corretamente aplicara dispositivo de súmula do tribunal”69. Ainda naquele ano, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), sob a forma de agravo em recurso extraordinário. Em decisão de 19 de abril de 2013, o ministro Luiz Fux negou seguimento ao recurso, pelas mesmas razões que fundamentaram a decisão do TST. Considerou, ainda, que a controvérsia havia sido resolvida na Justiça do Trabalho em Minas Gerais simplesmente mediante a aplicação de normas infraconstitucionais, o que impediria o exame da questão pelo Supremo Tribunal Federal. A Cenibra recorreu, então, à 1ª Turma do STF, que compreendeu, modificando o entendimento anterior, que a proibição genérica de terceirização calçada em interpretação jurisprudencial do que seria atividade-fim pode interferir no direito fundamental de livre iniciativa, criando, em possível ofensa direta ao art. 5°, inciso II, da CRFB, obrigação não fundada em lei capaz de esvaziar a liberdade do empreendedor de organizar sua atividade empresarial de forma lícita e de maneira que entenda ser mais eficiente.70 Diante disso, reconheceu que há matéria constitucional discutida no caso e que além disso, a questão poderá repercutir “na situação jurídica de milhares de 68 LOPES, João Gabriel. A terceirização e o supremo: e vamos à luta outra vez. 2014. Disponível em: http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html. Acesso em: 20 jul. 2018. 69 LOPES, João Gabriel. A terceirização e o supremo: e vamos à luta outra vez. 2014. Disponível em: http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html. Acesso em: 20 jul. 2018. 70 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6, 2015. p.18. http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html 28 sociedades empresariais brasileiras que contratam força de trabalho por meio do regime de terceirização”71. Após longo lapso temporal, finalmente na data de 31 de março de 2017 foi publicada no Diário Oficial a Lei nº 13.429/17, cujo o texto foi elaborado durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), encaminhado à Câmara em 1998 e aprovado no Senado em 2002, que libera a terceirização para todas as atividades de uma empresa, gerando por um lado maior liberdade na gestão das empresas e por outro, fragilizando a sistemática protetista consagrada na CLT.72 A referida lei, que na visão do governo é necessária e positiva pois faria parte de um processo de modernização das relações de trabalho para estimular a cadeia produtiva, por outro lado gera no entanto, discussões entre doutrinadores e economistas que acenam com visões negativas, não obstante a sua ilegitimidade, dada pela supressão do regular processo democrático para a sua aprovação, sendo uma lei repleta de incongruências técnicas, que atraem, inclusive, o posicionamento, por alguns já manifestado, de que não teria efetivamente regulado a terceirização, de modo a permiti-la na atividade-fim das empresas.73 71 LOPES, João Gabriel. A terceirização e o supremo: e vamos à luta) outra vez. 2014. Disponível em: http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html.Acesso em: 20 jul. 2018. 72 RAMOS FILHO, Wilson. Terceirização no STF: elementos de debate constitucional. Bauru: Canal 6. 2015. p.19. 73 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Terceirização da atividade fim é o fim da terceirização. 2015. Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/22/terceirizacao-da-atividade-fim-e-o- http://trabalho-constituicao-cidadania.blogspot.com/2014/06/e-vamos-luta-outra-vez.html http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/22/terceirizacao-da-atividade-fim-e-o- 29 3 A TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO COMPARADO Neste capítulo pretende-se abordar, contextualizar e até fazer uma comparação entre diferentes países sobre a evolução do instituto terceirização que se tornou tendência no cenário atual mundial. Há quem se manifeste afirmando que a terceirização das atividades secundárias e até primárias – funções ligadas à atividade principal de uma empresa ocorreram e ocorrem de modo tardio pois, em países nórdicos, por exemplo, onde a regulamentação do trabalho é rígida e estruturada, atividades secundárias e até mesmo aquelas que já nasceram terceirizadas, frutos de avanço tecnológico como a implementação e manutenção de sistemas de informática já haviam sido instaladas e flexibilizadas nas décadas de 1950 e 1960, conforme cita o economista Cláudio Dedecca, especialista em mercado de trabalho pela Unicamp74. Para este processo de flexibilização de atividades já ocorre há muito tempo, porém sem a devida regulamentação necessária por meio de projeto de lei, enxerga e afirma que a extensão das atividades terceirizáveis abre uma porta enorme para uma redução dos direitos e uma precarização do mercado de trabalho. Não que o mercado de trabalho brasileiro já não seja precário – mas essa lei poderá agravar a situação, observa. “Permitir a terceirização da mão de obra em atividades fins é o grande aspecto negativo da lei, difícil de não ser reconhecido”75. Nos Estados Unidos, as empresas estão adotando o método just-in-time scheduling, sistema que é objeto de simpatia por parte dos empresários estadunidenses. Tal processo consiste em exigir do trabalhador um telefonema ou mensagem a cada manhã antes do início do expediente para que seja feito o questionamento ao seu chefe se a ida ao trabalho naquele dia se faz necessária, se for irá recebê-lo pelo dia trabalho, caso contrário, não receberá obviamente.76 Tal modelo faz parte de um desenho geral dos padrões das sociedades no mundo em que se deseja que os custos de um negócio sejam mantidos em menores níveis, não sendo necessário o empregador gastar com funcionários que não sejam extremamente essenciais. 74 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Terceirização do trabalho é tendência, mas com regulação. 2015. Disponível em: http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- regulacao/. Acesso em: 27 fev. 2018. 75 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Terceirização do trabalho é tendência, mas com regulação. 2015. Disponível em: http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- regulacao/. Acesso em: 27 fev. 2018. 76 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Terceirização do trabalho é tendência, mas com regulação. 2015. Disponível em: http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- regulacao/. Acesso em: 27 fev 2018 http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- http://br.rfi.fr/economia/20150414-terceirizacao-do-trabalho-e-tendencia-mas-com- 30 Pesquisa recente realizada nos Estados Unidos demonstrou que 42% dos americanos ganham em média 15 dólares a hora trabalhada, sendo que este salário, sem garantias trabalhistas, não asseguram a um cidadão americano uma vida decente e satisfatória. O economista Robert Reich, ex-secretário do trabalho do antigo presidente Bill Clinton afirma que o trabalhador ao fazer parte da folha de pagamento da empresa, ele entrava nos custos fixos. Isso trazia a ele a segurança de saber quanto ganharia por ano, de que horas a que horas trabalharia e de poder se programar. Além de não saber mais nada disso, o trabalhador americano continua a ter seus custos fixos: aluguel, financiamentos, escola do filho, plano de saúde, supermercado etc. Cita ainda que empresas como a Gap e a Target estão fazendo uso do just-in-time scheduling.77 Em pesquisa realizada pela Deiloitte, que é a marca estabelecida no Reino Unido com ramificações pelo mundo, sob a qual dezenas de milhares de profissionais dedicados de firmas independentes em todo o mundo trabalham em colaboração a fim de entregar serviços de auditoria, consultoria, assessoria financeira, risk advisory ou assessoria de risco, consultoria tributária e serviços relacionados, a uma seleta carteira de clientes, chegou-se à conclusão que países não fazem distinção entre atividades-meio e atividades-fim para restringir a terceirização, em levantamento inédito junto com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) demonstrou-se que tal critério é adotado apenas no Brasil num comparativo realizado frente a outros 17 países do cenário mundial78. A contratação de serviços por empresa interposta sejam eles finais ou meios são prática corriqueira no mundo, no entanto, tal prática tem implicado na falta de segurança jurídica ante regulamentação falha, bem como pelos conceitos incertos de atividade fim e meio para então definir-se quais atividades são aptas a se terceirizar por uma companhia. Tal dicotomia, em levantamento pela Deloitte o qual analisou o tema sob a perspectiva junto a outros 17 países, ficou constatada que não existem restrições entre as delegações de processos dentro de uma cadeia produtiva entre as empresas. Sylvia Lorena, gerente-executiva de relações do trabalho da CNI afirma que a “falta de definição nos conceitos de atividades fim e meio aumenta a distância entre 30 de saber quanto ganharia por ano, de que horas a que horas trabalharia e de poder se programar. Além de não saber mais nada disso, o trabalhador americano continua a ter seus custos fixos: aluguel, financiamentos, escola do filho, plano de saúde, supermercado etc. Cita ainda que empresas como a Gap e a Target estão fazendo uso do just-in-time scheduling.77 Em pesquisa realizada pela Deiloitte, que é a marca estabelecida no Reino Unido com ramificações pelo mundo, sob a qual dezenas de milhares de profissionais dedicados de firmas independentes em todo o mundo trabalham em colaboração a fim de entregar serviços de auditoria, consultoria, assessoria financeira, risk advisory ou assessoria de risco, consultoria tributária e serviços relacionados, a uma seleta carteira de clientes, chegou-se à conclusão que países não fazem distinção entre atividades-meio e atividades-fim para restringir a terceirização, em levantamento inédito junto com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) demonstrou-se que tal critério é adotado apenas no Brasil num comparativo realizado frente a outros 17 países do cenário mundial78. A contratação de serviços por empresa interposta sejam eles finais ou meios são prática corriqueira no mundo, no entanto, tal prática tem implicado na falta de segurança jurídica ante regulamentação falha, bem como pelos conceitos incertos de atividade fim e meio para então definir-se quais atividades são aptas a se terceirizar por uma companhia. Tal dicotomia, em levantamento pela Deloitte o qual analisou o tema sob a perspectiva junto a outros 17 países, ficou constatada que não existem restrições entre as delegações de processos dentro de uma cadeia produtiva entre as empresas. Sylvia Lorena, gerente-executiva de relações do trabalho da CNI afirma que a “falta de definição nos conceitos de atividades fim e meio aumenta a distância entre 77 REICH, Robert. O inferno do trabalhador norte-americano,
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