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Modulação do Movimento Pelos Núcleos da Base Os núcleos da base são um conjunto de núcleos neurais que se localizam em áreas profundas dos hemisférios cerebrais. Esse conjunto é formado pelo: núcleo caudado, putâmen e globo pálido, substância negra (dividida em compacta e reticulada) e o núcleo subtalâmico; todo esse conjunto forma um circuito subcortical que liga a maioria das áreas do córtex cerebral com o conjunto de neurônios motores superiores do córtex motor primário, do córtex pré-motor e do TE, modulando a atividade dos neurônios motores ↑ (superiores). Núcleos da base Os núcleos da base são divididos em grupos: Corpo estriado: é dividido em caudado e putâmen, sendo que são os locais de entrada dos NB, recebendo projeções de quase todas as áreas corticais (exceto o córtice visual primário e o auditivo primário) pela via corticoestriatal, bem como há também aferências do tálamo e TE (tronco encefál.). De maneira mais específica, o caudado recebe aferências dos córtices associativos multimodais e das áreas motoras do lobo frontal que controlam os movimentos dos olhos; já o putâmen, dos córtices sensoriais somáticos primário e secundário e do resto do córtex motor (áreas primárias e pré-motoras), no lobo parietal: dos córtices visuais secundários (extraestriados), e dos lobos occipital e temporal. Além disso, as principais aferências dopaminérgicas recebidas pelo corpo estriado são da parte compacta da substância negra, as quais modulam a aferência cortical. Essas estruturas apresentam os neurônios espinhosos médios (integram informações de diversas áreas do SNC), os quais têm muito pouca atividade espontânea (potencial interno próximo ao equilíbrio do K), sendo necessário receber muitas aferências excitatórias de neurônios corticais e negrais para ocorrer a despolarização. As sua projeções são GABAérgicas (inibitórias) encaminhadas para o pálido. OBS! Tais neurônios tornam-se mais ativos quando há ocorrência de movimento. Os neurônios do putâmen tendem a disparar em antecipação aos movimentos dos membros e do tronco, enquanto os neurônios do caudado disparam antes dos movimentos dos olhos Pálido: contém o globo pálido (dividido em partes interna e externa) e a parte reticular da substância negra, que são as principais fontes de saída dos NB. Essas estruturas apresentam os mesmos tipos de neurônios e realizam funções similares. O pálido apresenta uma quantidade de cerca de 100x menos neurônios que o estriado. Logo, os espinhosos médios inervam cerca de 100 neurônios do pálido. Todavia, essa distribuição é desigual, pois os axônios individuais do corpo estriado fazem contatos esparsos com muitos neurônios palidais antes de fazerem um contato muito forte com os dendritos de um neurônio específico. Então, grupos de neurônios espinhosos médios exercem uma influência ampla, mas funcionalmente fraca, sobre muitos neurônios palidais, enquanto, ao mesmo tempo, influenciam de forma vigorosa um conjunto de neurônios do globo pálido ou da substância negra reticular. (conceito importante para entender a seleção focada) As projeções do globo pálido surgem na sua divisão medial, chamada de segmento interno, e vão até os núcleos ventral lateral e ventral anterior lateral do tálamo, que por sua vez, projetam-se para diretamente para as áreas motoras do córtex cerebral. Já os axônios da parte reticular da substância negra fazem suas projeções para o colículo superior (comandam os mov. da cabeça e olhos), mas também há projeções da subs. negra → tálamo → campos visuais frontais do córtex pré-motor, bem como projeções para núcleos pedúnculos pontinos → formação reticular e núcleos vestibulares. Os neurônios eferentes do pálido são GABAérgicos (inibitórios); eles apresentam alto grau de atividade espontânea que tendem a prevenir movimentos indesejáveis mediante a inibição, de forma tônica, de neurônios do tálamo e do colículo superior. Integração dos núcleos da base Ao serem excitados pelo córtex cerebral na iminência de um movimento, os neurônios espinhosos médios inibitórios inibem os neurônios palidais (inibitórios), que deixam de inibir tonicamente os neurônios do tálamo e do colículo superior, que fazem a excitação dos neurônios motores do córtex cerebral para a movimentação. Já em um momento de ausência de movimentos corporais voluntários, os neurônios do pálido fornecem uma inibição tônica dos neurônios motores ↑ do tálamo (globo pálido) e dos colículos superiores (parte reticular da substância negra). Movimentação do corpo pelos NB (Alça motora) Quando as células do globo pálido interno são inibidas pela atividade dos neurônios espinhosos médios do putâmen, os neurônios talâmicos ficam desinibidos e podem intermediar sinais de outras fontes aos neurônios motores superiores do córtex. Essa desinibição é o que normalmente permite aos neurônios motores superiores o envio de comandos aos circuitos locais e aos neurônios motores inferiores que iniciam os movimentos. Movimento oculares pelos NB (Alça oculomotora) Os neurônios ↓ dos colículos superiores comandam os movimentos rápidos de orientação dos olhos (movimentos sacádicos). Quando os olhos estão fixando um alvo visual, esses neurônios motores ↓ estão inibidos, de modo tônico, pelas células da parte reticular, que estão ativas de maneira espontânea, prevenindo, assim, movimentos sacádicos indesejáveis. Logo antes do início de um movimento sacádico, a frequência de disparos dos neurônios da parte reticular se reduz pela inibição dos neurônios espinhosos médios do caudado, os quais, por sua vez, foram ativados pelo córtex. A ↓ da inibição dos colículos permite a geração de potenciais de ação que comandam os movimentos sacádicos. As áreas corticais que excitam os colículos superiores quando ele não está sendo inibido pela substância negra reticular é o campo visual frontal. OBS! Os núcleos da base formam diferentes alças corticais, que estão relacionadas com o início do movimento, planejamento do movimento e até o comportamento/emocional do indivíduo; são elas: alça do movimento corpóreo, alça oculomotora, alça pré-frontal e alça límbica. O foco deste resumo foi a alça motora e oculomotora; as outras alças são parecidas, mas elas inervam diferentes regiões das mesmas estruturas citadas anteriormente. Circuitos internos do sistema núcleos da base A “via direta” dos NB é a já demonstrada neste resumo; existe uma “via indireta” entre os NB que reforça a supressão de movimentos inapropriados (aumenta o nível de inibição tônica). Nessa via indireta, a população de neurônios do segmento externo do globo pálido envia projeções tanto ao segmento interno como ao núcleo subtalâmico (recebe também projeções excitatórias dos neurônios do córtex cerebral). O núcleo subtalâmico, então, envia projeções excitatórias ao segmento interno do globo pálido e à substância negra reticular. Essa via modula as ações desnibitórias da direta - aumentando a influência inibitória dos NB. Os neurônios do núcleo subtalâmico são glutamatérgicos (excitatórios). Quandoessa via indireta está ativada por sinais corticais, os neurônios espinhosos médios do caudado disparam e inibem os neurônios GABAérgicos tonicamente ativos do globo pálido externo. Assim, as células subtalâmicas ficam + ativas (deixaram de ser inibidas), o que leva projeções excitatórias ao globo pálido interno e a substância negra reticular, que vão atuar mais frequentemente inibindo o tálamo e os colículos superiores. OBS! Vale lembrar que, por exemplo, em uma inibição, não ocorre o cessamento total das despolarizações daquela atividade tônica, apenas uma ↓. Essa interação antagônica é chamada de seleção focada. Esse conceito determina que as vias direta e indireta estão organizadas funcionalmente em um modelo centro-periferia principalmente na questão do globo pálido interno. Nesse caso, a via direta controla difusamente a periferia do globo pálido interno, enquanto faz fortes conexões com a região central dessa estrutura. Já a via indireta (aferências excitatórias dos núcleos subtalâmicos) está distribuída por todo o segmento do globo pálido interno, proporcionando um meio para a via indireta influenciar um conjunto de unidades funcionais “periféricas” muito mais amplo. Dessa forma, quando os sinais corticais são recebidos são recebidos ocorre: ● pela via direta: inibição difusa da região periférica do globo pálido interno e inibição forte na região central do globo pálido interno ● pela via indireta: excitação mediana de todo o globo pálido interno, mas, como a região central está sendo fortemente inibida pela via direta, apenas a região mais periférica do globo pálido interno fica mais propensa a inibir uma certa região do tálamo; ocorrendo, então, apenas ativação de programas motores pretendidos do tálamo (e não todo o tálamo, como ocorreria se não houve a via indireta). OBS! Diferentemente da via direta, a substância negra compacta na via indireta é inibitória. Organização funcional centro-periferia das vias direta e indireta. A integração das aferências corticais pelo corpo estriado leva à ativação das vias direta e indireta. Com a ativação da via indireta, os neurônios de uma região “periférica” do globo pálido interno são controlados por aferências excitatórias do núcleo subtalâmico. Isso reforça a supressão de um amplo conjunto de programas motores antagônicos. Ao mesmo tempo, a ativação da via direta leva à inibição focal de um grupo de neurônios mais restrito (“centro”) do globo pálido interno; isso resulta, por sua vez, na desinibição (seta maior debaixo) do complexo VA/VL e na expressão do programa motor pretendido. Dopamina no circuitos dos NB Um outro circuito dos NB envolve as células dopaminérgicas da parte compacta da substância negra. Os neurônios espinhosos médios do corpo estriado projetam fibras à região compacta da substância negra, que por sua vez, envia fibras dopaminérgicas de volta aos mesmos neurônios, pela via nigroestriatal. Essas projeções da substância negra compacta podem ser excitatórias ou inibitórias, fator que vai depender do receptor dopaminérgico (D1 ou D2) presente nos neurônios espinhosos médios. As proteínas D são associadas à proteína G, sendo que a D1 é associada à Gs (causam eferências excitatórias), enquanto os D2 à Gi (causam eferências inibitórias). A proteína D1 está relacionada à via direta dos NB, sendo que ela reforça a atividade inibitória do corpo estriado (no final do circuito vai favorecer o movimento do corpo); já a D2 está relacionado com a via indireta, sendo que ela ↓ a atividade inibitória do estriado em cima do globo pálido externo (no final do circuito vai favorecer o movimento). Patologias dos núcleos da base Como os NB modulam a frequência de disparo do tálamo e dos colículos superiores, as patologias envolvendo os NB podem ser de dois tipos: ● Hipercinéticas: ex doença de huntington ● Hipocinética: ex doença de parkinson Doença de parkinson Nessa doença, ocorre a degeneração da Substância negra (50-60% das células). Logo, ocorre perdas das influências relacionadas às proteínas D1 (+) e D2 (-); então, como a atividade da via nigroestriatal levava ao favorecimento do movimento (↓ as projeções do tálamo ao córtex motor), ocorre uma ↓ da movimentação/coordenação do movimento do indivíduo acometido. Uma forma de diminuir os efeitos do parkinson são terapias cirúrgicas, onde é feita lesões no globo pálido interno, o qual ↓ a sua atividade inibitória sobre o tálamo; outra forma também é lesionar os núcleos subtalâmicos, que deixam de potencializar a atividade inibitória do globo pálido interno. Existem outras terapias por chip e células tronco Doença de Huntington É uma doença hereditária autossômica dominante, que causa degeneração em muitas áreas do encéfalo, de maneira mais proeminente no estriado e no córtex cerebral. A ↓ dos sinais provenientes dos núcleos de saída (principalmente do putâmen ao núcleo pálido externo), causa a desinibição do tálamo e do núcleo pedunculopontinos, ocasionando uma estimulação excessiva por parte das áreas motoras do córtex cerebral. Os sintomas são coréia (movimento involuntários, rápidos e espasmódicos) e demência.
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