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Consórcio IBAM – UniCarioca Rio de Janeiro – 2008 Capacitação para Implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e do Programa Bolsa Família – PBF Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 2 FICHA CATALOGRÁFICA Capacitação para implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e do Programa Bolsa Família – PBF / Coordenação Geral: Tereza Cristina Barwick Baratta ... [et al.]. – Rio de Janeiro: IBAM / Unicarioca; Brasília: MDS, 2008. 484 p. ; 28cm 1. Assistência social-Brasil. 2. Brasil-política social. 3. Desenvolvimento social. I. Instituto Brasileiro de Administração Municipal. II. Unicarioca. III. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. CDD - 301 3 Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Ministro Patrus Ananias Secretária Executiva Arlete Avelar Sampaio Secretária Executiva Adjunta Rosilene Cristina Rocha Secretária Nacional de Renda de Cidadania Rosani Evangelista da Cunha Secretária Nacional de Assistência Social Ana Ligia Gomes Secretária de Avaliação e Gestão da Informação Laura da Veiga Diretora de Gestão dos Programas de Trasferência de Renda Camille Sahb Mesquita Diretora de Gestão do Sistema Único de Assistência Social - SUAS Simone Aparecida Albuquerque Diretora de Formação de Agentes Públicos e Sociais Aíla Vanessa de Oliveira Cançado Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM Superintendente Geral Paulo Timm Diretora da ENSUR – Escola Nacional de Serviços Urbanos Tereza Cristina Barwick Baratta Centro Universitário Carioca – UniCarioca Reitor Celso Niskier Vice-Reitor Arcy Magno da Silva CRÉDITOS INSTITUCIONAIS 4 Coordenação Geral Tereza Cristina Barwick Baratta Arcy Magno da Silva Camile Sahb Mesquita Aíla Vanessa de Oliveira Cançado Renato Francisco dos Santos Paula Coordenação Pedagógica Marlene Montezi Blois Coordenação de Tecnologia Regina Celia Pereira Marcos de Moraes Villela Márcia Costa Alves da Silva Coordenação de Tutoria Dora Apelbaum Planejamento Instrucional Lana Barbosa Silva Coordenação Técnica Jessie Jane Vieira de Souza CRÉDITOS DO PROJE TO Conteudistas Módulo 1 Alexandre Carlos de Albuquerque Santos Renato Francisco dos Santos Paula Rosani Evangelista da Cunha Simone Aparecida Albuquerque Herculis Pereira Toledo Módulo 2 Adriano Marcomini Aline Diniz Amaral Ana Maria Machado Vieira Lucia Maria Modesto Pereira Othilia Maria Baptista de Carvalho Pedro Nogueira Gonçalves Diogo Solange Teixeira Juliana Rochet Wirth Cheibub Módulo 3 Afrânio de Oliveira Silva Anderson Jorge Lopes Brandão Bernadino Martins A. Junior Cleyton Domingues de Moura Gerson Vicente de Paula Junior Jean Marc Mutzig Luciana Alves de Oliveira Nihad Bassis Pedro Jensen Cerri Costa Rosani Evangelista da Cunha Rose de Pinho Borges Módulo 4 Maria Carmelita Yazbek Renato Francisco dos Santos Paula Rosimere de Souza Vilnia Batista de Lira 5 CRÉDITOS DO PROJETO Equipe de produção do livro Preparação dos originais Frima Zimerfogel e Marlene M. Blois Capa Iury Pinto, José Augusto Praguer e Rafael Albuquerque Aragão Revisão Ângela Lopes e Cláudia Ajuz Ilustrações André Leite Editoração eletrônica Iury Pinto, Rafael Albuquerque Aragão e Selma Rodrigues Módulo 5 Aidê Cançado Almeida Delaine Martins Costa Marlene Merisse Renato Francisco dos Santos Paula Valéria Maria de Massarani Gonelli Módulo 6 Aidê Cançado Almeida Gil Soares Júnior Rosani Evangelista da Cunha Trajano Augustus Tavares Quinhões Apoio Técnico Aloísio Nonato Ana Angelica C. de Albuquerque e Melo Ana Carolina Aires Cerqueira Prata Ana Lucia Nazi Cabral Carolina Franca Marinho Falcão Célia Regina de Castro Denise Suchara Elton Lopes Alcantara Gomes Fabricia da Silva Benazzi Fernanda Pereira de Paula Helena Ferreira de Lima Ida Maria dos Santos Natividade Jaime Rabelo Adriano Jose Ferreira Crus Jovanka Sadeck Julia Galiza de Oliveira Juliana Maria Fernandes Pereira Juliana Marques Bonvini Juliana Rochet Wirth Cheibub Kátia Cristina da Silva Maria Helena Kittel Werlang Milene Maria Machado de Deus Nabil Moura Kadri Priscila Maia de Andrade Ricardo Rodrigues Dutra Solange Stela Serra Martins Solange Teixeira Zóia Prestes 6 7 MENSAGEM AO PARTICIPANTE A criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em janeiro de 2004, foi um importante fator para o fortalecimento das políticas sociais no Brasil ao promover a estruturação de uma rede integrada de proteção e promoção social, articulando as políticas de Assistência Social, de Segurança Alimentar e Nutricional e de Renda de Cidadania. Es- tamos ainda ampliando e integrando as ações de geração de oportunidades para a inclusão produtiva voltadas às famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade social. Nosso compromisso é consolidar as políticas de proteção e promoção social no campo das políticas públicas de garantia de direitos de cidadania, regulamentadas com padrões de quali- dade, critérios republicanos de alocação de recursos, transparência e controle social. Mais do que superar a fome e a miséria – um patamar mínimo obrigatório de dignidade humana – é necessário garantir a todos e a todas as oportunidades para desenvolverem plenamente suas capacidades e, assim, viverem de forma digna e autônoma. A consolidação das políticas de proteção e promoção social no marco das políticas públicas demanda um processo de capacitação que ofereça, aos profissionais da área, novos conhecimentos e instrumentos que os qualifiquem para a gestão dessas políticas em acordo com as especificidades e demandas de seus territórios e comunidades. A qualificação de agentes públicos e sociais é fundamental para a implementação de novos mecanismos de aperfeiçoamento e gestão das políticas sociais de forma a potencializar e integrar os investimentos sociais, otimizando recursos públicos e garantindo maior eficácia e efetividade à execução dessas políticas. O Programa Gestão Social com Qualidade, lançado este ano pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, integra a política de formação do MDS e tem por objetivo capacitar gestores, técnicos e agentes de controle social que atuam nas áreas de assistência social e transferência de renda. Por meio da capacitação a distância, pretendemos alcançar cerca de 15 mil gestores e técnicos que atuam na área da assistência social e na implementação do Programa Bolsa Família, boa parte deles inseridos na esfera municipal trabalhando diretamente com os beneficiários dos programas sociais. O programa aponta, de forma inédita, para a constituição de uma rede nacional de capacitação dos gerentes sociais e operadores do Sistema Único da Assistência Social – SUAS e do Programa Bolsa Família nas esferas municipal e estadual. Tal iniciativa converge para uma nova visão conceitual das políticas de proteção e promoção social fundamentada na descentralização de atribuição de competências e responsabilidades aos entes federados e na necessária integração e intersetorialidade das políticas sociais. 8 Essa iniciativa, para o MDS, é extremamente importante para a qualificação das políticas sociais, ao propiciar a oportunidade de unificarmos os conceitos e divulgarmos os procedimentos adotados na implementação do SUAS e do Bolsa Família. Além de produzir e compartilhar conhecimentos, o Programa Gestão Social com Qualidade contribuirá para a construção de uma política continuada de recursos humanos a fim de tornar os profissionais mais preparados para enfrentar as complexas e multifacetadas demandas sociais de nosso País. PATRUS ANANIAS Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 9 Apresentação Cursos modulares Estrutura dos cursos Orientação para seu estudo Módulo 1 Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Módulo 2 Cadastro Único de Programas Sociais Módulo 3 Gestão e Implementação do Programa Bolsa Família Módulo 4 Gestão doSistema Único de Assistência Social Módulo 5 Estruturação e Implementação do Acompanhamento Familiar e de Serviços Socioeducativos Módulo 6 Programas Complementares Bibliografia SUMÁRIO 10 10 11 13 15 86 138 231 326 427 473 10 Bem-vindo(a) à Capacitação para Implementação do SUAS e do PBF promovido pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Esta iniciativa tem sua execução sob a responsabilidade do Consórcio IBAM – UniCarioca. A Capacitação para Implementação do SUAS e do Programa Bolsa Família faz parte do programa Gestão Social com Qualidade, uma estratégia de capacitação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) para contribuir com o fortalecimento da gestão descentralizada das políticas de Assistência Social e de transferência condicionada de renda. A Capacitação visa a oferecer conhecimentos sistematizados, metodologias e ferramentas técnicas para ajudar os profissionais no desenvolvimento das atividades de implementação do Programa Bolsa Família (PBF) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Essa Capacitação destina-se a profissionais de órgãos estaduais e municipais que estão no exercício direto de funções relacionadas à implementação e ao aperfeiçoamento do Programa Bolsa Família (PBF), da gestão do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF). A Capacitação para a Implementação do SUAS e do Bolsa Família é composta de quatro cursos, com estrutura modular. Os cursos são realizados pela internet, com apoio de material impresso e CD-ROM e com tutoria especializada. Para dar maior flexibilidade ao participante, os cursos são oferecidos em dois regimes de execução: seqüencial e acelerado: CURSOS MODULARES APRESENTAÇÃO Curso do Programa Bolsa Família – PBF;• Curso do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI;• Curso do Programa de Atenção Integral à Família – PAIF;• Curso da Implementação do SUAS e do Programa Bolsa Famíla.• Curso do Programa Bolsa Família – PBF 11 Estrutura Modular Módulo 1 - Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Módulo 2 - Cadastro Único para Programas Sociais Módulo 3 - Gestão e Implementação do Programa Bolsa Família Módulo 6 - Programas Complementares Curso do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI Estrutura Modular Módulo 1 - Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Módulo 2 - Cadastro Único para Programas Sociais Módulo 4 - Gestão do Sistema Único de Assistência Social Módulo 5 - Estruturação e Implementação do Acompanhamento Familiar e de Serviços Socioeducativos ESTRUTURA DOS CURSOS Curso do Programa Bolsa Família – PBF 12 Curso do Programa de Atenção Integral à Família – PAIF Estrutura Modular Módulo 1 - Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Módulo 4 - Gestão do Sistema Único de Assistência Social Módulo 5 - Estruturação e Implementação do Acompanhamento Familiar e de Serviços Socioeducativos Módulo 6 - Programas Complementares Curso da Implementação do SUAS e do Programa Bolsa Família Estrutura Modular Módulo 1 - Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Módulo 2 - Cadastro Único para Programas Sociais Módulo 3 - Gestão e implementação do Programa Bolsa Família Módulo 4 - Gestão do Sistema Único de Assistência Social Módulo 5 - Estruturação e Implementação do Acompanhamento Familiar e de Serviços Socioeducativos Módulo 6 - Programas Complementares ESTRUTURA DOS CURSOS 13 ORIENTAÇÕES PARA SEU ESTUDO Você recebeu um kit didático, contendo: um livro, com o texto base correspondente aos seis Módulos do Programa Capacitação • para a Implementação do SUAS e do Bolsa Família. um CD-ROM, também contendo os 6 Módulos, mas com o tratamento de texto que lhe • foi oferecido no curso pela internet. Aí vão algumas “dicas” para você ter sucesso no seu estudo. Em primeiro lugar, familiarize-se com o seu LIVRO. Leia atentamente as páginas iniciais, • para ficar bem informado quanto à sua estrutura e como consultá-lo. Ele é o seu material de consulta, mesmo após o término do curso. Aqui estão os conteúdos dos seis módulos que compõem os quatro cursos oferecidos • pelo Programa Capacitação para a Implementação do SUAS e do Bolsa Família. Você deve ler com atenção os módulos correspondentes ao seu Curso. Este material servirá para que você: estude ou consulte seu conteúdo em qualquer hora, em qualquer lugar, individualmente • ou com outro(a) colega de trabalho; fundamente sua posição no Fórum e na Estação Prática;• elabore resumos e sínteses, destaque pontos que julgar mais importantes, estabeleça • relação entre o estudado e o dia-a dia do seu trabalho; faça a revisão dos temas estudados;• prepare-se para realizar a sua avaliação final.• Procure utilizar o livro de maneira integrada com os demais recursos do curso (internet e CD-ROM). Lembre-se Em Educação a Distância você é o agente da sua aprendizagem, responsável pela administração do seu tempo de estudo e pela construção do seu conhecimento. Agora outros lembretes importantes Administre seu horário de estudo e seu processo de aprendizagem. • Caminhe no seu ritmo, lembrando-se sempre de que há um cronograma a ser cumprido. • Portanto, planeje seu tempo e tente cumprir o que planejou. Os textos foram produzidos com o objetivo de facilitar o auto-estudo. Leia cada texto • com muita atenção. 14 Caminhe passo a passo, lendo atentamente os textos de cada unidade para entender todo • o assunto. Não dê saltos! Isso pode prejudicar a sua compreensão dos assuntos abordados. Há uma seqüência prevista para o seu estudo. Escolha um local para estudar, que lhe permita concentração e reflexão. Sua atenção, • assim, estará focada no texto, sem quebra de continuidade. Faça uma primeira leitura para tomar conhecimento do que será estudado. Depois releia • o tópico em estudo, procurando fazer aproximações com a sua realidade de trabalho. Faça anotações dos pontos importantes estudados. Sintetize o que você entendeu com • suas próprias palavras, fazendo esquemas. Anote as dúvidas que surgirem durante a leitura. Troque idéias com seus colegas de • estudo. Esclareça-as com o Tutor. Procure ampliar seus conhecimentos, por meio da leitura dos textos selecionados e • consultando a bibliografia indicada. Lendo outros autores, você amplia sua visão sobre o tema e cresce pessoal e profissionalmente. Leia, estude, reflita, analise, conclua. Lembre-se de que disciplina e seu empenho pessoal são peças-chave para o seu sucesso no curso e na vida. ORIENTAÇÕES PARA O SEU ESTUDO 15 Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva MÓDULO 1 Unidade 1 – Proteção Social: a função do Estado Brasileiro na Garantia de Direitos Unidade 2 – O Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Unidade 3 – Proteção Social Não Contributiva: complementaridade entre serviços socioassistenciais e benefícios Unidade 4 – Controle Social no Âmbito do SUAS e do PBF Unidade 5 – Impactos Produzidos e Potencialidades de Novos Resultados MÓDULO 1 UNIDADE 1 16 MÓDULO 1 – Bases do Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Ementa Unidade 1 – Proteção Social: a função do Estado brasileiro na garantia de direitos A Constituição Federal de 1988: um marco na direção de uma política de proteção social • do Estado brasileiro A função do Estado no enfrentamento da pobreza e da desigualdade• Alguns conceitos importantes: pobreza, desigualdade, vulnerabilidade e risco, direitos e • política pública Princípios e fundamentos da política pública e da política social• Unidade 2 – O Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva• O estabelecimento do pacto federativo e a descentralização • Os princípios da Seguridade Social e os fundamentos do financiamento do modelo de Proteção Social Não Contributiva • A família no centro da atenção da política de proteção social Unidade 3 – Proteção Social Não Contributiva: complementaridade entre serviços socioassistenciais e benefícios • As duas vertentes da proteção social: serviços e benefícios • A política pública de Assistência Social e a construção do Sistema Único de Assistência Social – SUAS • A transferência condicionada de renda: a criação e implementação do Programa Bolsa Família • O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) Unidade 4 – Controle Social no âmbito do SUAS e do PBF • Objetivos do Controle Social no âmbito do Sistema Único de Assistência Social • Objetivos do Controle Social no âmbito do Programa Bolsa Família • O papel dos Conselhos e das Conferências Unidade 5 – Impactos produzidos e potencialidades de novos resultados • Os impactos produzidos e as potencialidades de novos resultados para as ações e serviços de proteção social. MÓDULO 1 UNIDADE 1 17 Unidade 1 – Proteção Social: a Função do Estado Brasileiro na Garantia de Direitos Nesta unidade você vai estudar: A Constituição Federal de 1988: um marco na direção de políticas públicas voltadas à • proteção social garantidoras de direitos. A função do Estado no enfrentamento da pobreza e da desigualdade.• Alguns conceitos importantes: pobreza, desigualdade, vulnerabilidade e risco, direitos e • política pública. Princípios e fundamentos da política pública e da política social.• Uma breve contextualização Pobreza e desigualdade... Essas são palavras que, com certeza, você já ouviu, já leu e pensou no seu dia-a-dia. Com olhos abertos para a pobreza e a exclusão Você, como cidadão, sabe que o Estado brasileiro vem enfrentando os problemas sociais do país com olhos abertos e criando estratégias, com os meios que dispõe, para oferecer proteção social ao grande contingente de brasileiros e brasileiras que, excluídos dos benefícios do desenvolvimento econômico e afetados, ainda, por outras formas de exclusão, vivem em situação de pobreza e extrema pobreza. É uma população que tem no dia-a-dia enormes dificuldades para sobreviver, criar seus filhos, envelhecer, enfim ter uma vida digna. Esta capacitação que você inicia é mais um ingrediente para que se consolidem no país os avanços no campo da proteção social. É preciso conhecer bem o que é exclusão A palavra concentração ajuda a entender o que se chama aqui de exclusão. A nossa formação social e econômica foi marcada pela concentração das riquezas produzidas por muitos, mas apropriadas por poucos. Portanto, você pode entender exclusão como... Uma decorrência do resultado do processo de construção do país marcado pela concentração. Agora, para ilustrar a idéia de exclusão, veja como esse processo ocorre com a distribuição da renda no Brasil, analisando o gráfico que tem como referência o ano de 2004. MÓDULO 1 UNIDADE 1 18 Também o processo de formação da sociedade brasileira obedeceu à mesma lógica. Ao concentrar poderes políticos, econômicos e territoriais num pequeno conjunto de indivíduos e famílias, excluiu, por conseqüência, a maioria da população das decisões relevantes do desenvolvimento e de seus benefícios. Ao concentrar oportunidades de acesso à educação, à cultura, à formação profissional e ao trabalho, excluiu a maioria dos seus integrantes do exercício da cidadania, sobretudo as chamadas minorias (mas que na verdade são a maioria da população): negros, mulheres, índios, camponeses e pequenos agricultores etc. Ao concentrar, por quatrocentos anos, o atributo da cidadania na população branca, excluiu negros e índios de participarem, como protagonistas, da construção do núcleo hegemônico de nossa sociedade. Começando pela nossa ocupação do território Quando os colonizadores portugueses decidiram concentrar a ocupação no litoral e em algumas cidades próximas da costa brasileira, acabaram por provocar um processo de ocupação desigual que excluía o restante do território, e quem nele vivia, dos processos dinâmicos de crescimento econômico e do desenvolvimento social. Quando mais tarde se concentrou na região Sudeste a produção do café (principal produto agrícola de exportação) e, em seguida, se promoveu a industrialização do país – concentrada na mesma região – as desigualdades regionais aumentaram e, mais uma vez, regiões inteiras foram excluídas das novas oportunidades de desenvolvimento. Desigualdade de renda Distribuição percentual da renda entre os 50% mais pobres e o 1% mais rico 14,1% 12,6% 50% mais pobres 1% mais rico Fonte: IBGE e IPEA Observe que a renda dos 50% mais pobres é quase equivalente à renda do 1% mais rico. Exemplificando para esclarecer melhor Agora um pouco da nossa formação social MÓDULO 1 UNIDADE 1 19 Com a redemocratização no final da década de 1980 e, mais precisamente, com a Constituição de 1988, é que passamos a ver que a pobreza e a desigualdade não poderiam ser enfrentadas ou mitigadas sem uma firme determinação do Estado em assumir suas responsabilidades na condução de políticas públicas voltadas à proteção social garantidoras de direitos. Após essa reflexão inicial, com certeza, você concluiu que: a formação da sociedade e a ação do Estado no Brasil foram, desde o nascimento da • Nação até praticamente o final do século XX, dramaticamente concentradores de renda e de oportunidades e, portanto, geradores de desigualdade e de distintas manifestações de formas de exclusão. a exclusão e, por conseqüência, a pobreza e a desigualdade não são novas no Brasil, como, • também, são questões imensas a serem encaradas. Têm distintas faces, perpetuaram-se por fatores históricos e culturais e consolidaram-se pela sistemática omissão do Estado e da nação brasileira de enfrentá-las como questão social de enorme gravidade, por meio de políticas públicas voltadas à proteção e ao desenvolvimento social. A CONSTITUIÇÃO DE 1988: UM MARCO NA DIREÇÃO DE UMA POLÍTICA DE PROTEÇÃO SOCIAL DO ESTADO BRASILEIRO Você já teve a iniciativa de dar uma olhada na nossa Constituição de 1988? Claro que sim. Sabia que é considerada um marco na direção de uma política de proteção social do Estado brasileiro? Isso mesmo. É considerada o marco legal na transformação dos conceitos até então vigentes em relação ao tratamento conferido à pobreza pelo Estado. E também no atendimento às demandas de segmentos específicos da nossa população. MÓDULO 1 UNIDADE 1 20 Constituição de 1988 Confira, agora, os dispositivos da Constituição de 1988 que merecem destaque e que são considerados marcos dessa transformação social. Nossa Carta Magna se inicia por aí: Princípios fundamentais da República Federativa do Brasil Logo no art. 1º da Constituição de 1988• está uma definição fundamental: aquela que afirma a condição de o Brasil ser uma República Federativa e cria as bases para que se consagre como tal. A Constituição de 1988 cita nominalmente o Estado, o Município e o Distrito Federal como partes integrantes da Federação. Nós voltaremos a esse tema posteriormente, mas é bom observar que ele é tão importante que nossa Carta Magna se inicia por aí. Adiante, ao tratar da organização governamental, a Constituição, no seu art. 18, definirá que o Brasil possui três esferas de governo autônomas: a União, os Estados e os Municípios. • No art. 3º são definidos os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil; entre eles incluem-se o de erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais. Estes, portanto, são compromissos de todas as esferas de governo. Garantias dos direitos individuais e coletivos • No Título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais” a Constituição trata longamente dos direitos e dos deveresindividuais e coletivos. • Dos direitos individuais: o art. 5° trata dos direitos individuais e coletivos (civis, políticos e sociais). • Direitos sociais: o 6° art. trata dos direitos sociais, onde afirma que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição”. • Forma de organização do Estado: no Título III, a Constituição define a forma de organização do Estado. Além do art. 18, que você já estudou, os artigos seguintes atribuem, de forma específica, as responsabilidades comuns, concorrentes e aquelas que são próprias de cada ente federado – União, Estados e Municípios. O Distrito Federal, que também compreende a organização governamental, possui característica especial, já que acumula traços do Estado e do Município. Entre os dispositivos fundamentais da Constituição de 1988, que podem ser considerados marcos dessa transformação, merecem destaque aqueles definidos no Título I, referente aos Princípios Fundamentais da República Federativa; os capítulos I e II do Título II, que regulamentam os Direitos e Garantias Fundamentais; o Título III, que define a forma de Organização do Estado e, ainda, as definições contidas no Título VIII, que institui a Ordem Social. Neste Título, dê especial atenção, para o seu estudo, ao art. 194, que trata da Seguridade Social, e à seção IV, que trata especialmente dos fundamentos jurídicos da Assistência Social. MÓDULO 1 UNIDADE 1 21 • Fundamentos das políticas sociais: no Título VIII – Da Ordem Social – você encontrará os fundamentos das políticas sociais. • Ordem social: o art. 193 afirma que a ordem social tem como base o trabalho e como objetivo, o bem-estar e a justiça social. Nesse Título você deve ficar especialmente atento, ainda, aos arts. 194 e 195, que estabelecem os princípios da Seguridade Social; aos arts. 196 a 200, que estabelecem os princípios da atenção à Saúde; aos arts. 203 e 204, que tratam da Assistência Social, seus princípios e formas de custeio; e, finalmente, aos arts. 205 a 214 que tratam dos direitos relativos à Educação e dos princípios para a organização do sistema de Educação Pública. A FUNÇÃO DO ESTADO NO ENFRENTAMENTO DA POBREZA E DA DESIGUALDADE – ALGUMAS IDÉIAS FUNDAMENTAIS Estudiosos entendem que, mesmo reconhecendo que pobreza não se restringe à privação ou insuficiência de renda, ela pode ser considerada uma boa medida para apreendermos outras carências. Pensar a pobreza nesta perspectiva é importante quando falamos de implementação de políticas públicas voltadas para pessoas ou famílias pobres. Nesse caso, precisamos saber quem é pobre e precisamos definir como medir a pobreza, para podermos atuar de forma compatível com o grau de necessidades de cada indivíduo ou família. Uma família ou uma pessoa é considerada pobre quando vive numa situação de privação de renda e também de privação de outros recursos necessários para obter uma situação de vida que permita que ela desempenhe seus papéis, cumpra seus deveres, participe das relações sociais e compartilhe costumes da sociedade em que vive. Por exemplo, insuficiência de alimentos, de bens, de serviços e de lazer. O Estado Brasileiro assume a responsabilidade de enfrentar a pobreza e a desigualdade existentes no país. Esses e outros dispositivos contidos nesse Título, como os relativos à previdência social, cultura, desporto, ciência e tecnologia, comunicação social, meio ambiente, família, criança, adolescente e idoso e índios, constituem- se nos fundamentos de políticas públicas de amplo alcance, com impacto no combate à pobreza e à desigualdade, na proteção social e na promoção da justiça. Antes de prosseguir, é importante que algumas idéias e conceitos fiquem bem claros para você. POBREZA Existe hoje no mundo, e também no Brasil, um grande debate conceitual e ideológico sobre o que é pobreza. Isto porque a pobreza tem muitas dimensões, muitas caras e não se limita, apenas, à questão da renda. Saiba quando uma família ou uma pessoa pode ser considerada pobre O que dizem os estudiosos do assunto MÓDULO 1 UNIDADE 1 22 Para definir linhas de pobreza é preciso... Normalmente os especialistas definem que a linha que caracteriza famílias extremamente pobres é aquela que considera uma renda que permita atender às necessidades mínimas, associadas ao consumo de alimentos necessários para manter o gasto calórico suficiente para a sobrevivência da família. A linha que caracteriza famílias pobres é aquela que, além de permitir o consumo de alimentos necessários para manter a família, considera, também, a satisfação de necessidades básicas, tais como moradia, transporte, saúde e educação. Embora não haja, no Brasil, uma única maneira para mensurar a pobreza, algumas políticas adotam definições próprias sobre o tema, contidas em legislação espécifica. Dessa forma, linha de pobreza é um conceito normativo que representa o valor agregado de todos os bens e serviços considerados necessários para satisfazer as necessidades básicas da unidade de consumo considerada, geralmente a família ou o domicílio. É importante determinar a renda abaixo da qual a família ou o indivíduo é considerado pobre. Normalmente, quando trabalhamos com linhas de pobreza, são definidas duas: uma para definir famílias consideradas extremamente pobres e, outra, para definir famílias pobres. Agora, fique sabendo como os especialistas caracterizam usualmente famílias extremamente pobres e famílias pobres Conheça alguns exemplos interessantes de como o Benefício de Prestação Continuada – BPC e o Programa Bolsa Família – PBF utilizam o conceito de pobreza nos seus processos de implementação. Para se ter direito ao Benefício de Prestação Continuada – BPC a renda familiar mensal per capita aferida deve ser inferior a ¼ do salário mínimo vigente. Além dessa renda, muito utilizada por vários estudiosos para definir a extrema pobreza , as pessoas com deficiência incapacitante para a vida independente e para o trabalho , bem como os idosos com mais de 65 anos de idade, devem comprovar não serem capazes de prover seu sustento ou tê-lo provido por sua família. O Benefício de Prestação Continuada – BPC é um direito garantido constitucionalmente, regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e reafirmado pelo Estatuto do Idoso. O benefício pago a título de prestação continuada é sempre no valor de um salário mínimo. Já o benefício pago pelo Programa Bolsa Família define como famílias em situação de extrema pobreza aquelas cuja renda per capita é inferior a R$ 60,00 e as famílias pobres aquelas cuja renda situa-se entre R$ 60,01 e R$ 120,00. Você observou que há diferença na definição de pobreza? A diferença está na definição adotada por cada programa para o conceito de linha de pobreza. Tal definição reflete critérios de elegibilidade para acesso a esses programas. É importante lembrar que os programas são desenhados pensando nos diferentes públicos e necessidades que devem atender e, por isso mesmo, os critérios de acesso são diferenciados. Fique sabendo A renda não é o único critério de seleção de famílias para inclusão no Programa Bolsa Família e para o estabelecimento do valor do benefício. Outros fatores referentes à composição familiar também são levados em consideração. Isso você vai estudar mais adiante. MÓDULO 1 UNIDADE 1 23 Pense nisso Tal como a pobreza, o conceito de desigualdade é passível de mensuração. Além da renda, a desigualdade também se expressa em outras dimensões, tais como território, etnia e gênero. Todavia trataremos o problema sob a ótica da renda, ou seja, a partir de comparações entre extremos da distribuição de renda, o que representaria situações de (in)justiça social. Isto signifiica que quanto maior for a distância entre o valor médio darenda dos mais ricos e o valor médio da renda dos mais pobres, mais injusta e desigual é uma sociedade. Quanto menor for esta diferença, mais igualitária e menos desigual é a sociedade. O Coeficiente de Gini é uma medida comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda, mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda e as demais não têm nada). Evolução temporal da desigualdade de renda familiar per capita no Brasil: Coeficiente de Gini Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa Nacional por amostra de domicílios, PNADI de 1976 a 2005, porém nos anos 1980, 1991 e 2000 não foi a campo. 1977 0.650 0.640 0.630 0.620 0.610 0.590 0.580 0.600 0.570 0.560 0.550 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 0.623 0.604 0.593 0.582 0.589 0.594 0.588 0.596 0.587 0.599 0.615 0.634 0.612 0.580 0.602 0.599 0.600 0.500 0.598 0.592 0.593 0.587 0.581 0.566 A reflexão a respeito do conceito da pobreza nos leva a pensar sobre a idéia de desigualdade. DESIGUALDADE Saiba como se calcula a desigualdade de distribuição de renda Para medir tais diferenças são utilizados vários indicadores, o mais comum deles é o chamado Coeficiente de Gini. O gráfico do Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada – IPEA apresenta a evolução do Coeficiente de Gini para o país, no período indicado. MÓDULO 1 UNIDADE 1 24 Uma dica Para você refletir melhor sobre a condição de vida das pessoas do seu Município, o nível de pobreza e desigualdade das famílias que o constituem, aí vai uma sugestão: Pesquise as informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Censo • Demográfico de 2000 e as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios – PNADs de 2000 a 2005. Consultando os dados, você vai observar que, nos últimos anos, houve uma redução da desigualdade no Brasil. Ela ainda é muito grande, mas está diminuindo. Outras duas idéias importantes que precisam ser melhor compreendidas: VULNERABILIDADE E RISCO Com certeza, você já deve ter percebido que a desigualdade e a pobreza se expressam de forma distinta no território. Os graus de vulnerabilidade e risco que afetam cidadãos e grupos estão relacionados à maneira como se expressam pobreza e desigualdade. De acordo com a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, de 2004, vulnerabilidade e risco são situações que decorrem de: perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. Fique atento É importante que você perceba que os conceitos fundamentais para o entendimento da construção do nosso modelo de proteção social não contributiva estão intimamente relacionados. São eles: pobreza; • desigualdade; e• vulnerabilidade e risco.• Essas e outras situações podem interferir na determinação de maior ou menor grau de vulnerabilidade e risco que afetam indivíduos, famílias ou grupos, independente até mesmo da classe social a que pertencem. Portanto, assim como a pobreza, a(s) vulnerabilidade(s) e o(s) risco(s) social(is), como você viu, têm caráter multidimensionais, sendo as situações de vulnerabilidade e risco impulsionadoras de proteção social, em especial atenção por parte da Política Pública de Assistência Social. Assim, reconhecer a existência de tal multiplicidade é essencial para que se garanta igualmente uma multiplicidade de “ações” que, em última análise, cercam as diferentes situações apresentadas pelos usuários da Assistência Social. Isto nos leva a compreender porque, entre outros fatores, a proteção social se realiza por meio de diferentes serviços, programas, projetos e benefícios, específicos para as situações de vulnerabilidade e risco identificadas. MÓDULO 1 UNIDADE 1 25 Você conhece bem os seus direitos como cidadão? Sabe fazer valer esses direitos? Pelo menos na minha vida pessoal, lógico que sei e luto por eles. Então fique sabendo que na nossa sociedade, só podemos dizer que temos um direito, quando ele é socialmente reconhecido e juridicamente estabelecido. Ah, então a coisa não é tão simples assim. Veja se entendi: a gente acredita ter um direito e ter razão nisso, mas, não sendo reconhecido juridicamente como um direito, não passa de um sonho. Pense, agora, sobre a idéia de Direitos. Acompanhe o diálogo. DIREITOS A verdade é que, na nossa sociedade, apenas podemos dizer que temos um direito quando ele é socialmente reconhecido e juridicamente estabelecido. Em nossa história social e política, por exemplo, a maioria dos direitos sociais foi sendo duramente conquistada e só valeram mesmo quando foram regulamentados pelas Constituições e pelas leis que as sucederam. Muita coisa mudou Ao longo do último século alguns direitos foram sendo reconhecidos e incorporados às Constituições dos respectivos períodos. Por exemplo, o direito ao voto pelas mulheres e a regulação, por meio da carteira de trabalho, da relação entre empresas e empregados urbanos mas é apenas com a Constituição de 1988 que avançamos efetivamente na garantia de direitos. MÓDULO 1 UNIDADE 1 26 Nossa Constituição de 1988 é, como já foi comentado, precisa no reconhecimento de direitos individuais, coletivos e sociais. Ao fazê- lo, cria condições efetivas para que se possa conceber e desenvolver as políticas públicas, estabelecendo inclusive as diretrizes e princípios para que se concretizem. Direitos Individuais Os chamados direitos humanos de primeira geração, os direitos individuais, consistem em direitos de liberdade, isso é, direitos cujo exercício pelo cidadão requer que o Estado e os cidadãos se abstenham de turbar. Em outras palavras, o direito de expressão, de associação, de manifestação do pensamento, o direito ao devido processo, todos eles se realizariam pelo exercício da liberdade, requerendo, se assim se pode falar, garantias negativas, isso é, a segurança de que nenhuma instituição ou indivíduo perturbaria seu gozo. Direitos Sociais, Econômicos e Culturais Os direitos sociais, como os econômicos e culturais, são os chamados direitos de segunda geração. Decorrem de lutas sociais e podem ser vistos como direitos-meio, pois se destinam a assegurar que todos os indivíduos tenham condições de exercer os direitos fundamentais de liberdade de expressão, ou seja, os direitos de primeira geração. Um exemplo para ilustrar esta idéia A Constituição de 1988 incorporou a reivindicação das pessoas com deficiência às medidas de proteção social e estabeleceu que, a partir de então, pessoas com deficiência, incapazes de prover o seu próprio sustento ou de tê-lo provido pela família, teriam direito ao recebimento de um salário mínimo mensal. E foi mais além, estendendo esse direito a idosos nas mesmas condições. Cinco anos mais tarde, em 1993, com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, este direito foi regulamentado e, finalmente, três anos depois, este direito passou a ser operacionalizado com o nome de Benefício da Prestação Continuada – BPC. Com efeito, nossa Constituição de 1988 é plena na afirmação de direitos. Ao determinar que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, e ao restabelecer as liberdades individuais e coletivas de opinião, de expressão, de reunião, de organização política, do pluri- partidarismo, da promoção da cidadania, entre outras,ela reafirma os valores democráticos que haviam sido atingidos em períodos anteriores de nossa República. Assim, com a nova Constituição promoveu-se o realinhamento do país com os chamados direitos de primeira geração, ou seja, os direitos civis e políticos. Complementando... Para você pensar Como pode alguém exercer sua cidadania plena, manifestar-se politicamente, ter clareza em relação às suas opiniões, por exemplo, se não dispõe das condições mínimas de sobrevivência, não tem o que comer, não tem como morar com dignidade, não tem saúde, ou não teve acesso à educação? Confirmando esta idéia Você já deve ter observado que Direitos são decorrentes de lutas políticas consagrados pela Nação na forma da Lei. MÓDULO 1 UNIDADE 1 27 Como ensina Maria Paula Dallari Bucci (2006) “ Os direitos sociais representam uma mudança de paradigma no fenômeno do Direito, a modificar a postura abstencionista do Estado para o enfoque prestacional, característico das obrigações de fazer que surgem com os direitos sociais”. No momento que institui a Lei reconhecendo os princípios e objetivos fundamentais da República, a nação reorienta a ação do Estado, de uma postura distanciada da questão social, para outra que lhe atribui responsabilidades de proteger a sociedade e de promover seu desenvolvimento social, ou seja: a cidadania, a dignidade da pessoa humana (art. 1°, incisos II e III), a erradicação da pobreza e da marginalização e a diminuição das desigualdades sociais e regionais, além da promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3°, incisos III e IV). Em síntese, o reconhecimento dos direitos incluídos na Constituição pressupôs a intervenção do Poder Público, no sentido de conferir materialidade aos direitos conquistados e instituídos. Merece ser lembrado A Constituição, no art. 6°, que trata dos direitos sociais, afirma justamente os direitos de segunda geração, ou seja: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição”. Alguns exemplos de conquistas de direitos referendados pela Constituição de 1988 Como você já sabe, a Constituição criou as bases institucionais de uma nova e democrática relação entre Estado e Sociedade, na direção da ampla afirmação de direitos, inclusive avançando sobre os chamados direitos de terceira geração, ou os direitos transgeracionais, como, por exemplo, o direito ao meio ambiente e a garantia da biodiversidade, que estabelecem compromissos com as gerações futuras. Para fechar a idéia sobre direitos O importante é você fixar que direitos sociais e direitos humanos são coisas que se conquistam e para que se transformem em benefício real são necessários muita luta e muitos debates em um ambiente de democracia, para que possam ser reconhecidos como tal pela sociedade, pelas leis do país e pelo Estado. Para garantir tais direitos, portanto, é que são institucionalizadas e implementadas as Políticas Públicas, que se materializam por meio de normas, regulamentos, recursos especialmente destinados para os fins pretendidos, além do trabalho de muita gente, dentro e fora do Estado, e, principalmente, do seu trabalho aí em seu Município. MÓDULO 1 UNIDADE 1 28 Significa dizer que é condição para o desenvolvimento social que o país garanta de forma integral os direitos dos cidadãos e cidadãs brasileiras, combinando políticas específicas e políticas universais e fazendo convergir os resultados das ações setoriais, no sentido de multiplicar seus efeitos e impactos. Chegou o momento de você saber porque o Estado brasileiro assume a responsabilidade de enfrentar nossas desigualdades Com a Constituição de 1988, finalmente, o Estado brasileiro começou a assumir sua responsabilidade para com a sociedade brasileira em sentido amplo e universal, reconhecendo os direitos de todos à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança. Em especial, a Carta Magna buscou garantir os direitos da população pobre e dos segmentos vulneráveis ao reconhecer como direitos dos cidadãos e dever do Estado e da sociedade as ações destinadas a promover a Assistência Social; assegurou, também, que essa assistência se faça de forma integrada não apenas com as demais políticas de Seguridade – Previdência Social e Saúde – como, também, com as políticas públicas que asseguram direitos. A afirmação dos direitos, tal como postos na Constituição, nos leva a dois caminhos complementares de políticas públicas: as políticas universais, que se destinam a permitir que todos, indistintamente, tenham garantia de acesso à saúde, à educação, ao trabalho, entre outros, e políticas específicas, destinadas a alguns segmentos que demandem atenção específica. POLÍTICA PÚBLICA E POLÍTICA SOCIAL – PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS Como o Estado brasileiro atua para formular e implementar políticas públicas na área social? Você já conhece alguns conceitos e idéias que são muito importantes para compreender a direção que o Estado brasileiro tomou para formular e implementar políticas públicas na área social, em especial a Política Pública de Assistência Social, tais como: pobreza;• desigualdade;• vulnerabilidade e risco; e• direitos.• Agora, você vai ficar sabendo... Como as políticas nessas áreas foram sendo definidas, delineando as ações do Estado brasileiro, para que pudéssemos chegar ao Sistema Único de Assistência Social e ao Programa Bolsa Família: as duas iniciativas públicas mais importantes hoje instituídas para combater a fome, promover e proteger as famílias em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco. Iniciativas estas que, com a sua participação, vêm sendo implementadas em regime de cooperação federativa. MÓDULO 1 UNIDADE 1 29 Os instrumentos que dão consistência às políticas públicas são: leis, normas, recursos financeiros e humanos que se tem ou que se pode mobilizar, inclusive fora da esfera governamental. Cada vez mais você houve falar neste termo – Política Pública – não é mesmo? Pois é, isto não é em vão. Tomando como base o pensamento de Dallari (2006), não é errado supor que, com a absorção do conceito de direitos como um dever do Estado, também evoluíram as leis, as normas e os regulamentos que dão consistência a essa ação. Decorreram, na verdade, da evolução da democracia e da absorção pelo conjunto da sociedade, inclusive pelos governos, de direções políticas que progressivamente vêm sendo determinadas por consensos sociais. As Políticas Públicas são o lugar de encontro entre a ação governamental (e todos os instrumentos que lhes dão consistência) e a política vista como um campo de negociações de conflitos e consensos. O que é Política Pública? De fato Na medida em que avançamos no processo de consolidação democrática, a ordem jurídica passa a absorver as demandas da sociedade. A formulação das linhas políticas que orientam a ação do Estado traduz esta nova ordem jurídica socialmente estabelecida. Isto você já deve ter percebido quando estudou o conceito de direitos. E, com certeza, você já entendeu a relação entre a conquista de direitos, sua formalização no campo jurídico-institucional do país (a Constituição e as Leis que a sucedem) e as Políticas Públicas. Fique sabendo Um pouco mais de informação Em realidade a construção da expressão não é nossa, vem da língua inglesa – public policy. Ela popularizou-se justamente quando a Constituição de alguns países começaram a incor- porar às suas propostas de ação governamental idéias de direitos que refletiam consensos das respectivas sociedades. MÓDULO 1 UNIDADE 1 30 Em inglês existem duas palavras para designar o que a gente chama normalmente de política. A palavra policy se refere às ações governamentais e seus desdobramentos, como normasem leis, decretos, além de planos e orçamentos aprovados – situados, portanto, no campo do direito público. A palavra politics se refere ao discurso, à intenção, ao compromisso de um determinado grupo, um partido político, um movimento social, ou seja, expressa um compromisso público ou diretriz que reflete determinado consenso da sociedade. O Dr. Ulysses Guimarães chamou a Constituição de 1988 de Constituição Cidadã. E por que ele dizia isso e todos concordaram? Concluindo Uma Política Pública será a definição de instrumentos de gestão – normas, planos de ação, recursos fiscais, formas de atuação do Estado, formas de cooperação com a sociedade – que, estabelecidos em lei, irão permitir a concretização de um compromisso público acordado no campo político. A concepção das políticas públicas no Brasil após 1988 Você pode entender, agora, depois de ter estudado o conceito de Política Pública, que a sociedade brasileira, em um contexto de retomada da democracia estabeleceu, na Constituição de 1988, os fundamentos das políticas públicas que o Estado viria a implementar. Ao ser elaborada, expressou o estabelecimento de um novo pacto federativo que: impulsionou a descentralização e a cooperação intergovernamental;• fortaleceu a participação da população na gestão da coisa pública; e• promoveu a garantia de direitos, por meio do desenvolvimento de políticas públicas com • esta finalidade. Alguns desses traços são comuns às políticas sociais, como é o exemplo da saúde. Fique atento Porque, superados os 20 anos do regime militar – nos quais as esferas descentralizadas de governo não dispunham de autonomia política, financeira ou administrativa, bem como as liberdades de opinião e expressão foram sistematicamente tolhidas e as formas de exclusão exacerbadas – formaram-se determinados consensos na sociedade naquele momento: a importância de se estabelecer um novo pacto federativo e, por conseqüência, promover • a descentralização, fortalecer posições e papéis dos municípios e dos estados e indicar uma direção clara para atuar de forma cooperativa nas relações intergovernamentais; mais do que isso, as decisões e ações do Estado deveriam resultar de amplos debates com • a população, por meio de suas instâncias de representação e controle social (conselhos e fóruns setoriais); e e que a norma constitucional deveria incorporar direitos que expressassem o • reconhecimento das demandas sociais de uma maneira ampla. MÓDULO 1 UNIDADE 1 31 A ação do Estado é limitada pelos recursos financeiros disponíveis, pela capacidade de gestão das localidades, pela necessidade de definição de critérios de priorização e por uma série de outros problemas, vários deles específicos de cada lugar. Assim, você deve perceber que os resultados poderão ser sempre potencializados, na medida em que as ações forem mais integradas e mais e mais pessoas e instituições sociais estiverem mobilizadas para caminhar, no sentido de apoiar suas implementações. Para efetivar a garantia de Direitos e implementar políticas públicas que contribuam na redução da pobreza e da desigualdade, é fundamental um trabalho intersetorial, com participação de diferentes áreas de governo e com contribuição de diferentes políticas públicas. Dois exemplos que ilustram a intersetorialidade Quando se transfere renda para as famílias pobres por meio do Programa Bolsa Família, além de assegurar o direito à alimentação, a integração do Programa com as áreas de saúde e educação faz com que a família também tenha reforçado o seu direito ao atendimento nestas áreas. Quando em seu Município se promove um investimento em saneamento básico, por exemplo, não se está apenas promovendo o direito a uma moradia digna, mas, também, se estão gerando oportunidades de trabalho e a melhoria da saúde da comunidade beneficiada. O que deve ter ficado bem claro para você A importância desta integração é que, quanto mais pensarmos nessa perspectivas de • integração entre as distintas políticas públicas, quanto mais trabalharmos nessa direção, maiores e melhores serão os resultados que poderemos alcançar. Nesse sentido, o papel das administrações municipais e das pessoas que têm a gestão das localidades em suas mãos é fundamental, pois é nas localidades que são planejadas as ações das diversas políticas públicas. O que são as políticas públicas e, no que toca à proteção social, que elas devem ter • como finalidade última concretizar a ação do Estado e da sociedade civil na prevenção e no combate à pobreza, à desigualdade e à vulnerabilidade social, que são direitos dos brasileiros e brasileiras. Que as políticas públicas não se limitam a definir a ação do Estado ou se esgotam nela. • Na verdade, trata-se de um conjunto de iniciativas, expressas em normas, regulamentos, procedimentos, que se viabilizam por meio de uma ação conjunta do Estado – atuando numa perspectiva de cooperação federativa – e da Sociedade. Neste sentido, mesmo quando uma ação é exercida por uma entidade privada, mas é, por exemplo, regulada ou financiada pelo poder público, também estamos falando de políticas públicas. Parabéns! Você venceu a primeira etapa do seu estudo. Somente avance para Unidade 2, se o conteúdo desta unidade tenha ficado bem claro para você. Prossiga estudando com entusiasmo. MÓDULO 1 UNIDADE 2 32 Unidade 2 - O Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva Começo de conversa Você está iniciando mais uma Unidade do Módulo 1. Nesta Unidade você vai conhecer o Modelo Brasileiro de Proteção Social Não Contributiva. E mais: aprofundará conhecimentos sobre pacto federativo, descentralização e cooperação federativa, Seguridade Social e, por fim, o que é família e como é considerada para efeitos de acesso a serviços e benefícios. De uma forma bastante simples, Modelo de Proteção Social Não Contributiva significa o conjunto de estratégias públicas que garanta o cumprimento de direitos sociais constantes da Constituição de 1988, assegurando a todo brasileiro ou brasileira o livre acesso aos serviços, programas, projetos e benefícios, independentemente de qualquer contribuição ou pagamento direto. O Brasil é uma República Federativa. Mas, efetivamente, apenas com a Constituição de 1988 e o pacto federativo nela estabelecido é que se pode dizer que o princípio federativo do Estado brasileiro tornou-se realidade. CONSTRUÇÃO DO MODELO DE PROTEÇÃO SOCIAL NÃO CONTRIBUTIVA Relembrando o que ficou para trás A Constituição de 1988 foi o marco de referência de uma mudança expressiva no sentido de assegurar direitos individuais, coletivos e sociais. A partir desse marco legal é que foi sendo construído o conceito de Proteção Social Não Contributiva, que a partir de agora você vai conhecer. Essa mudança no marco legal imprimiu no Estado a responsabilidade de assegurar novos direitos. Portanto, o Estado brasileiro hoje, assume a responsabilidade de enfrentar a pobreza, a desigualdade e a exclusão. Ao fazê-lo, cria condições efetivas para que se possa conceber e desenvolver as políticas públicas, estabelecendo inclusive as diretrizes e princípios para que se concretizem. Depois dessas reflexões iniciais, é hora de aprofundar seu estudo. Este modelo de proteção social é implementado de forma descentralizada e em cooperação com estados e municípios. Nesta Unidade, você conhecerá, em primeiro lugar, o estabelecimento do pacto federativo e a descentralização. Em seguida, você estudará os princípios da Seguridade Social e os fundamentos do financiamento do Modelo de Proteção Social Não Contributiva. Finalmente, você poderá compreender porque a família está no centro da atenção dessa política. MÓDULO 1 UNIDADE 2 33 Desdobrando essa idéia A República nasceu com o objetivo de zelar pela chamada coisa pública (res publica, em latim). Nesse regime, os bens públicos pertencem à nação. Além disso, os governantes são eleitos por prazo determinado, por voto livre secreto, em intervalos regulares,variando conforme o país. O conceito de república opõe-se à monarquia, onde tudo pertencia ao rei. Uma Federação se caracteriza pelo fato de cada uma das suas esferas de governo – União, Estados e Municípios – contar com autonomia em seu respectivo âmbito de competência. Conheça estas autonomias: Fique atento A garantia constitucional da autonomia permite que o Município exerça suas competências de forma ampla. Mais à frente você estudará as diversas competências privativas e comuns (ou compartilhadas) do Município. Autonomia política Poder eleger livremente os governantes.• Autonomia financeira Poder instituir e cobrar tributos e aplicar seus recursos, observada a legislação em • vigor. Autonomia administrativa Poder organizar serviços, estruturar órgãos e administrar pessoal de acordo com as • suas necessidades. Autonomia legislativa Poder elaborar leis sobre assuntos de sua competência.• Saiba mais O pacto federativo instituído pela Constituição permitiu que a descentralização efetivamente avançasse, a partir de 1988, e os estados-membros da Federação e os municípios passaram a contar com condições incomparáveis de governabilidade, em relação aos períodos anteriores de nossa República. MÓDULO 1 UNIDADE 2 34 A força dos municípios se faz presente Por determinação do art. 29 da Constituição, os municípios brasileiros passaram a reger-se por lei orgânica própria, cabendo-lhes, ainda segundo o art. 30, “legislar sobre assunto de interesse local; suplementar a legislação federal e estadual no que couber; instituir e arrecadar tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas; criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local”, entre outras prerrogativas de autogoverno. Do ponto de vista político e institucional, os municípios brasileiros receberam realce inédito na nossa Carta Magna. Ao mencionar, em seu art. 1º, que: “A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”, tornou- se a única carta constitucional de país federativo que reconhece o Município como parte indissolúvel da Federação. A autonomia do Município é reforçada pela situação tributária e financeira determinada pela Constituição de 1988 que, além de ampliar o conjunto das receitas próprias incluindo, além dos tradicionais IPTU e ISS, o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Intervivos), possibilitou o aumento das alíquotas das transferências constitucionais, via Fundo de Participação dos Municípios – FPM, e via Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, arrecadado pelos estados, do qual parte é, também, transferida para os municípios. Complementando o seu estudo Saiba um pouco mais sobre as condições para o exercício da autonomia financeira dos municípios. Algumas pesquisas realizadas no início da década de 1990 confirmam esse impacto positivo: dados de 1993 do Tesouro Nacional informam sobre um incremento real de 109% no • conjunto das receitas municipais para o período de 1988/1993; a Associação Brasileira de Secretários de Fazenda de Capitais – ABRASF, em pesquisa • sobre os municípios das capitais, apresenta resultado ainda mais expressivo, de 140% de incremento real. Um recado para você A partir de agora você estudará o que e quais são as competências privativas e comuns (ou compartilhadas). MÓDULO 1 UNIDADE 2 35 Uma dica Dê uma olhadinha na Constituição, consulte os arts. 23 e 30 e acompanhe o texto a seguir: o art. 23 da Constituição aponta as competências comuns ou compartilhadas, ou seja, as • que são ao mesmo tempo responsabilidade da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios e que, portanto, devem ser prestadas de forma cooperativa. Nele são definidas nada menos do que 12 competências comuns; já o art. 30, como já se viu, trata das competências privativas. Estas são entendidas como • as que se encontram sob responsabilidade direta do Município. Este é, por exemplo, o caso dos serviços de pavimentação de vias, limpeza urbana e administração de cemitérios. Entre os 12 incisos do art. 23, que trata das competências comuns, conheça aqueles que são fundamentais para o seu estudo Uma história para contar Em um programa especial da série Globo Rural, da Rede Globo de Televisão, que tratava do combate à pobreza no campo, a equipe de reportagem que esteve na região de Irará, no sertão da Bahia, entrevistando a agricultora Maria Angélica dos Santos, conhecida como Gel, registrou o seguinte, que exemplifica como o Município pode atuar. Além de receber auxílio em dinheiro do Programa Bolsa Família, as agricultoras de Irará passaram a fazer cursos de capacitação profissional. Esta realização é uma iniciativa da Prefeitura local, por meio do Centro de Referência da Assistência Social – CRAS, co- financiado pelo governo federal. A família da agricultora Maria Angélica dos Santos, beneficiária do Programa Bolsa Família, participa do projeto de inclusão produtiva ofertado no CRAS. Trata-se de uma estratégia de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, do desenvolvimento de potencialidades, da participação, entre outras aquisições. Inciso II Cuidar da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiências. Inciso V Proporcionar meios de acesso à cultura, à educação e à ciência. Inciso VII Fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar. Inciso IX Promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico. Inciso X Combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos. MÓDULO 1 UNIDADE 2 36 Uma das aulas ensina a fazer bijuteria, como explica a coordenadora Edith de Assis: “Nós pretendemos fazer geração de renda para essas famílias vulneráveis. Essa geração de renda vai fazer com que elas saiam da vulnerabilidade e com que a família não seja dependente de repasse federal e, realmente, venha a se capacitar para se auto-sustentar”. Esse tipo de curso ocorre em 1.621 municípios brasileiros. Além de oficinas de artesanato, são oferecidas aulas sobre horticultura, produção de doces e informática. A idéia é que o investimento em educação e em atividades produtivas permita que, no futuro, famílias como essas estejam preparadas para superar a pobreza. Enquanto isso, na prática e no presente, Gel comemora o aumento de renda: “Todo mundo fica bem, não é? Fica de bom humor, ninguém reclama de nada, aí é muito bom”. Percebeu que os três entes federados estão formalmente comprometidos com • responsabilidades compartilhadas? Percebeu que entre as responsabilidades compartilhadas está a de combater as causas da • pobreza e da marginalização? Percebeu como as ações se complementam e que, portanto, devem ser mesmo tratadas • de forma integrada? Com o exemplo descrito, você conheceu ações que promoveram a proteção da sociedade brasileira e o combate às causas da pobreza e da marginalidade. Mas se você já consultou a nossa Constituição, pôde constatar que há outras formas de se fazer isso. De olho na realidade Fique atento a essas diferenças de realidades. Quando se implementa uma política pública de alcance nacional, como a política da Assistência Social e o Bolsa Família, é preciso estar atento às diferentes realidades e considerar que nem sempre todos estão, igualmente, preparados para realizar as tarefas que lhes competem. TOME, COMO EXEMPLO, VOCÊ, PARTICIPANTE DA CAPACITAÇÃO. O esforço de capacitação que você está fazendo é um exemplo de que é necessário compreender melhor os processos de trabalho para que os resultados colhidos reflitam as alterações positivas no cotidiano das famílias. Nessa perspectiva federativa, a formulação e a implementação de políticas públicas de alcancenacional dependem de uma estreita relação entre os diferentes níveis de governo. Guarde em sua memória Competências comuns ou compartilhadas são ações de responsabilidades da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, que devem ser prestadas de forma cooperativa. MÓDULO 1 UNIDADE 2 37 Atenção Cabe a cada esfera de governo exercer um papel específico, colocar à disposição recursos humanos, materiais e financeiros suficientes para que as atividades sejam realizadas a contento e atuar em acordo com o que for consenso, nas instâncias deliberativas do setor e entre essas instâncias. Fechando esta idéia No caso brasileiro, a descentralização vem geralmente acompanhada de processos participativos. Hoje, o governo municipal, junto com os representantes da sociedade, define as ações prioritárias e a alocação dos recursos para o respectivo setor em sua localidade. É certo que tudo está limitado ao volume predefinido de recursos disponíveis e às diretrizes e normas do programa de governo em referência. Em algumas áreas, como saúde, educação, assistência social, direitos da criança e do adolescente e do Programa Bolsa Família, tais diretrizes devem obedecer às orientações do Conselho Municipal específico. SEGURIDADE SOCIAL: CONCEITO, INTERSETORIALIDADE E FINANCIAMENTO Todo dia você ouve no rádio, assiste na televisão e lê nos jornais sobre a falta de dinheiro no país, destinado à Assistência Social, não é mesmo? Fique atento As questões apresentadas aqui poderão ajudá-lo a entender o porquê dessas notícias. Relembrando... O art. 194 da Constituição trata da Seguridade Social – a Assistência Social equipara-se à Saúde e à Previdência, formando o tripé da Seguridade Social. Quando falamos de Seguridade Social, falamos de direitos do cidadão e de deveres do Estado e da sociedade. De uma maneira geral, no passado, a idéia de Seguridade Social estava associada apenas à idéia de seguro social, visto como contrapartida de contribuições previdenciárias que permitiam usufruir o benefício da aposentadoria e de alguns estabelecimentos públicos de atenção à saúde aos contribuintes da previdência, ou seja, à população formalmente empregada. Quando o Brasil, por meio de sua Constituição, estende a abrangência do conceito às áreas de saúde e assistência social e, mesmo na área de previdência social, reconhece que também devem ser beneficiários os segmentos que ao longo da vida não contribuíram para a previdência, e por isso estavam excluídos do sistema: reconhece a Seguridade como política de proteção e direito;• reconhece o direito à saúde e permite a constituição do Sistema Único de Saúde; e• institui as bases de uma Política de Proteção Social Não Contributiva.• O princípio da Seguridade Social reafirma, portanto, a criação de uma Rede de Proteção Social que, englobando um conjunto de ações, é capaz de garantir direitos e de reduzir a ocorrência de riscos sociais. É complementar ao princípio de integração da assistência social, da previdência social e da saúde às demais políticas sociais e econômicas, cujas dinâmicas determinam em grande parte o enfrentamento das vulnerabilidades e dos riscos sociais. Assim, a gestão da Assistência Social, na perspectiva de seguridade, exige ações intersetoriais, ou seja, que se integrem com as dos demais setores (econômicos e sociais) e que considerem a integração territorial. MÓDULO 1 UNIDADE 2 38 No art. 195, a Constituição estabelece quais são as fontes que deverão viabilizar essa parte da Política Pública de Proteção Social Não Contributiva, mesmo porque os recursos provenientes das contribuições dos trabalhadores formais não seriam suficientes. No próprio artigo e nos incisos I a III essas fontes estão claramente definidas. Acompanhe, com atenção, o que discrimina o art. 195. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes I. sobre: a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, - a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; a receita ou o faturamento; e - o lucro. - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo II. contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; sobre a receita de concursos de prognósticos;III. do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. IV. Mas, o que é orçamento da Seguridade Social? Quem, afinal, paga essa conta? Será que é do orçamento da Seguridade Social que vêm os recursos para todas essas despesas? Para esclarecer alguns pontos sobre suas dúvidas, leia o que diz o art. 195 da nossa Constituição. MÓDULO 1 UNIDADE 2 39 É preciso que todo mundo contribua um pouquinho para não faltar dinheiro e os governos, ainda, podem destinar recursos de outras fontes, de acordo com seus objetivos específicos. A FAMÍLIA NO CENTRO DA ATENÇÃO DA POLÍTICA DE PROTEÇÃO SOCIAL Família o que é? E como é considerada para efeitos de acesso aos benefícios? Um repórter ao entrevistar três pessoas diferentes sobre o que para elas significava o termo família, obteve as seguintes respostas: Resposta da 1ª pessoa entrevistada: - Ah, família, para mim, é todo mundo que mora lá em casa. Resposta da 2ª pessoa entrevistada: - Sei, ora, é meu pai, minha mãe e meus irmãos solteiros, isto é família. Resposta da 3ª pessoa entrevistada: Destacando... Em princípio, os governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais devem • colocar recursos de seus orçamentos. Depois as empresas com a contribuição sobre sua folha de salários e com uma parcela • da receita ou faturamento e, ainda, contribuindo sobre o lucro líquido que tiverem. Os trabalhadores formais ou os autônomos que pagam carnês e que também recolhem, • mensalmente, uma contribuição ao INSS. Finalmente há uma parcela das apostas nas loterias oficiais e contribuições sobre • produtos importados. Assim como as pessoas são diferentes, as famílias e a sua composição também diferem, os modelos são diversificados, diferem ao longo do tempo e de um lugar para outro. - Família é minha mãe, meus avós e meus irmãos. Por que falamos tanto da família? Pelo fato da família desempenhar um papel central na vida de qualquer pessoa. E porque a própria Constituição reconhece isso em vários momentos e, assim, situa a família como eixo prioritário da proteção social do Estado. E, finalmente, porque, da mesma forma, todos os instrumentos normativos pactuados em relação à Assistência Social e ao Programa Bolsa Família também tem centralidade na família. Ao falar de família pensamos logo no modelo mais difundido, isto é, da família nuclear composta por uma hierarquia baseada no marido ou pai, que exerce autoridade e poder sobre a esposa e os filhos e filhas, que desempenha o papel de provedor, e dentro dessa família são atribuídas atividades masculinas e femininas. MÓDULO 1 UNIDADE 2 40 Olhando para nossa realidade atual Atualmente, sabemos que existem muitos outros modelos de organização familiar que foram se constituindo no Brasil, em especial o da família matrifocal, ou seja, aquelas famílias constituídas pela mulher “chefe da família” e seus filhos e filhas, biológicos ou não, resultantes de uma ou mais uniões, de um companheiro(a), permanente ou ocasional, ou, ainda, por outras pessoas que gravitem em torno desse núcleo. Hoje também verificamos casais que, embora partilhem uma vida em comum, nem sempre habitam sob um mesmo teto. E há, ainda, aqueles grupos familiares constituídos por pessoas que não são ligadas por laços consangüíneos.A família é, portanto, o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social; supera o conceito de família como unidade econômica, mera referência de cálculo de rendimento per capita e a entende como núcleo afetivo, vinculado por laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e gênero. A família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel, no sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e pessoas com deficiência. Atenção O fortalecimento de possibilidade de convívio, educação e proteção social, na própria família, não restringe as responsabilidades públicas de proteção social para com os indivíduos e a sociedade. Independente dos formatos ou modelos que assume, família é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida, ou seja, um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivos ou de solidariedade. Conheça, agora, as diferentes definições de família para efeitos de acesso a benefícios Para fins da implementação de políticas públicas é necessário que se estabeleçam critérios de elegibilidade, de acordo com as necessidades diferenciadas das famílias e indivíduos. Por exemplo: Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF Para sua operacionalização, considera a unidade de medida família referenciada, em razão da metodologia do convívio familiar, do atendimento e da qualidade de vida da família na comunidade e no território onde vive e, também, para atender situações isoladas ou eventuais relativas a famílias que não estejam em agregados territoriais atendidos, em caráter permanente, mas que demandam proteção social do ente público. Fique atento a esta informação: da mesma forma que existem diversas possibilidades de se definir o que seja uma família, também para os processos de implementação e de definição de critérios de elegibilidade de distintos programas sociais convivem conceitos ligeiramente diversos. MÓDULO 1 UNIDADE 2 41 Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico Para efeito de inclusão no CadÚnico, instrumento que tem como um dos objetivos a inclusão de famílias no Programa Bolsa Família, considera-se família: unidade nuclear, eventualmente ampliada por pessoas que com ela possuem laços de • parentesco ou afinidade, que forma um grupo doméstico e viva sob o mesmo teto, mantendo-se pela contribuição de seus membros. Programa Bolsa Família – PBF O conceito de família é o mesmo do CadÚnico. Observe que, na medida em que o Programa Bolsa Família se direciona à transferência de renda para minimizar as situações de pobreza ou extrema pobreza, o conceito é, nesse sentido, bem aberto, mas sublinha a necessidade da coabitação e da contribuição de seus membros para sua manutenção. Porém, o fato de uma família ser incluída no CadÚnico não quer dizer que ela vá receber, automaticamente o benefício. Em primeiro lugar, limitações estabelecidas no Programa em relação à renda e, em seguida, como há limitação de recursos para atender a todos os cadastrados, a composição do grupo familiar será decisiva para definir quem deve ou não ter prioridade para receber o benefício e de quanto será este benefício. Atenção! Nos Módulos 2 e 3 o conceito de “família” será novamente estudado. Nos Módulos 4 e 5 o tema “família referenciada” será aprofundado. O que você precisa ter em mente Independente do formato específico do grupo familiar, a família é o lugar ideal para • a reprodução social e, em função do objetivo e do processo de implementação de cada ação, este conceito pode ser mais ou menos amplo ou flexível. Que benefícios e serviços não esgotam a atenção às famílias e a seus membros que • demandam atenção especial. Eles são pensados de acordo com as necessidades e situações de vulnerabilidade e risco a que as famílias estão expostas. Representam, portanto, um ponto de partida decisivo para um processo de inserção social mais amplo. Você venceu mais uma etapa do seu estudo, concluindo a Unidade 2! Prossiga com entusiasmo. MÓDULO 1 UNIDADE 3 42 Unidade 3 – Proteção Social Não Contributiva: complementaridade entre serviços socioassistenciais e benefícios Nesta unidade você vai conhecer a dupla dimensão da proteção social: serviços e benefícios;• a política pública de Assistência Social e a construção do Sistema Único de Assistência • Social – SUAS; a transferência condicionada de renda: a criação e implementação do Programa Bolsa • Família; e o Cadastro Único – registro das famílias brasileiras de baixa renda. Além de servir como • referência para os diversos programas sociais de concessão de benefícios, o CadÚnico permite que os municípios e os estados conheçam melhor os riscos e vulnerabilidades aos quais sua população está exposta. Antes de iniciar o seu estudo, relembre O que é Proteção Social Não Contributiva• Como se realizam as ações de Proteção Social Não Contributiva• O que você precisa ter em mente Proteção Social Não Contributiva é o conjunto de estratégias públicas que garante • o cumprimento dos direitos sociais constantes da Constituição, assegurando a todo brasileiro ou brasileira o livre acesso aos serviços, programas, projetos e benefícios, sem que tenha que pagar de forma direta. As ações da Proteção Social Não Contributiva se realizam por meio de cooperação • federativa, onde todos os níveis de governo e a sociedade civil, em suas distintas expressões, compartilham responsabilidades. É hora de aprofundar, passo a passo, o seu estudo Primeiro você precisa saber... Na direção de diminuir a pobreza e as desigualdades, proteger indivíduos e famílias de situações de vulnerabilidade e risco social, foram delineadas pelo Estado duas vertentes de ações de proteção social. MÓDULO 1 UNIDADE 3 43 AS DUAS VERTENTES DA PROTEÇÃO SOCIAL: SERVIÇOS E BENEFÍCIOS Primeira vertente• Provisão de serviços: organização e implementação dos serviços, inclusive os serviços socioassistenciais voltados a indivíduos, às famílias e a diversos segmentos sociais em situação de vulnerabilidade e risco. Segunda vertente• Pagamento de benefícios: a partir da Constituição de 1988 pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC seguido de programas de transferência condicionada de renda. Uma grande parcela da população brasileira é privada do acesso a seus direitos O grande desafio do Estado brasileiro é conceber e implementar políticas públicas com objetivo de proteger essa parcela da população brasileira privada do acesso a seus direitos. Pare e pense Você já pensou no tamanho do nosso país?• No percentual da população que demanda atendimento?• Na diversidade de realidades e nas diversas manifestações de desigualdades nele • existentes? Deu para você imaginar o tamanho desse desafio? Realidade brasileira Fome• Miséria• Moradia precária• Desigualdade• Negligência e abandono• Falta de escolaridade• MÓDULO 1 UNIDADE 3 44 São cerca de 50 milhões de brasileiros e brasileiras que demandam serviços e benefícios. As saídas que o Estado brasileiro perseguiu, nos anos mais recentes, caminharam sobre duas vertentes integradas: os serviços socioassistenciais oferecidos em cada localidade; e• os benefícios.• O Sistema Único de Assistência Social – SUAS é: um elemento importante para implementação da Política Nacional de Assistência Social • – PNAS/2004; um componente do Modelo de Proteção Social Não Contributiva; e• um dos instrumentos da integração da política de Assistência Social com as demais • políticas públicas. MÓDULO 1 UNIDADE 3 45 Conheça agora os serviços socioassistenciais oferecidos pelo Sistema Único de Assistência Social – SUAS
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