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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - CCSO CURSO DE DIREITO IEGO HAROLDO SOUSA CONCEIÇÃO, KEYTH LUCY GRAÇA DE SOUZA, NATALIA VALE ALMEIDA A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL, ESCOLAS PENAIS, E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO BRASIL. SÃO LUÍS - MA 2020 IEGO HAROLDO SOUSA CONCEIÇÃO, KEYTH LUCY GRAÇA DE SOUZA, NATALIA VALE ALMEIDA A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL, ESCOLAS PENAIS, E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO BRASIL. Trabalho apresentado ao Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, referente a disciplina de Direito Penal I – Teoria do Crime, para a obtenção de nota. Profª Msc: Luciana Ferreira Portela de Sousa SÃO LUÍS- MA 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4 2. A EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL ........................................................ 4 2.1 O PERÍODO PRIMITIVO E PERÍODO DAS VINGANÇAS .......................... 4 A vingança divina ............................................................................................ 5 A vingança privada. .......................................................................................... 5 A vingança pública .......................................................................................... 6 2.2 DIREITO PENAL DOS POVOS E O PERÍODO HUMANITÁRIO................. 6 3. ESCOLAS PENAIS ........................................................................................ 8 Escola clássica ................................................................................................ 9 Escola positiva .............................................................................................. 10 Escola mista (Terza Scuola Italiana) .............................................................. 11 Escolas Ecléticas e a Luta das Escolas ........................................................... 11 Evolução da teoria da pena ............................................................................ 12 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO BRASIL ............. 12 Período colonial ............................................................................................. 12 Código Criminal do Império ............................................................................ 13 Período Republicano........................................................................................ 14 Reformas contemporâneas ............................................................................... 14 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 15 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 16 4 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho busca retratar de forma sucinta os primórdios do Direito Penal. Analisando suas principais características desde seu surgimento e todas as suas nuances para o processo de evolução. O Direito Penal é de extrema importância para um julgamento correto da mentalidade e dos princípios que nortearam o sistema punitivo contemporâneo. Desde o surgimento da humanidade houve o aparecimento e a evolução das ideias penais. Dessa forma o Direito Penal sofria transformações cada vez que a própria humanidade se modificava. Conceituar o Direito Penal e suas funções, onde está sua área de abrangência, bem como o surgimento dos crimes, que dar-se com o início da própria sociedade, compreendendo a evolução da sociedade, fazendo que o intérprete compreenda que o Direito não pode estagnar-se, que sua evolução deve ser constante, assim como a evolução da sociedade. Fazer uso não só dos períodos penais, mas, das Escolas Penais, que se trata de um entendimento do período moderno. 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL Desde que os povos começaram a se agrupar em sociedade, houve a necessidade de aplicar regramentos através de punições, para que o convívio social pudesse ser estabelecido da melhor maneira possível. Segundo Rogério Sanches “Embora o Direito Penal tenha sua origem vinculada à própria organização do homem em sociedade, não se pode considerar a existência de normas penais sistematizadas em tempos primitivos” (SANCHES, 2019). Dessa forma, o Direito Penal já se encontrava presente desde a antiguidade e foi se desenvolvendo à medida em que se buscava um controle social da violência, e este ramo do direito não progredia de maneira sistemática, mas sim se adaptava a cada fase de evolução da humanidade. 2.1 O PERÍODO PRIMITIVO E PERÍODO DAS VINGANÇAS 5 Primitivamente, as sanções nesse período não tinham como finalidade a promoção de justiça ou algum caráter educativo e reparador. Os castigos eram impostos a quem cometiam crimes, como forma de punição e vingança, aplicando–se penas cruéis, desproporcionais ao delito e até mesmo desumanas. Tal período ficou conhecido como período das vinganças penais e compreende três fases: vingança divina, vingança privada e vingança pública. A vingança divina. A percepção de mundo dos homens primitivos era baseada em misticismo e crenças em seres sobrenaturais. Acreditava–se que os fenômenos da natureza eram provocados por divindades que regulavam o comportamento dos indivíduos, e àqueles que cometiam atos delituosos eram passivos de sofrer punições por seu grupo social, como forma de amenizar a fúria dos deuses. Para Nucci, “acreditava–se nas forças sobrenaturais, que, por vezes, não passavam de fenômenos da natureza, como a chuva ou o trovão, motivo pelo qual a punição era concretizada, imaginava o povo primitivo que poderia acalmar os deuses. ” (NUCCI, 2020). Os membros de uma sociedade primitiva eram regidos por totens (figuras que assumiam formas de animais, vegetais ou qualquer outro símbolo de coletividade), e qualquer desrespeito a esses objetos correspondia a ofensa para os deuses, o que levaria a ira destes para todos os indivíduos caso o infrator não fosse punido. A religião influenciava o direito e as sanções punitivas ficavam sob controle de sacerdotes, que eram caracterizados como mensageiros e condutores da vontade divina. Dessa forma, Rogério Greco destaca: Era o direito aplicado pelos sacerdotes, ou seja, aqueles que, supostamente, tinham um relacionamento direto com um deus e atuavam de acordo com sua vontade. Incontáveis atrocidades foram praticadas em nome dos deuses, muitas delas com a finalidade de aplicar–lhes a ira. (GRECO, 2015). Nessa época as penas eram aplicadas de forma cruéis e desumanas e como castigo podem–se destacar: o desterro, onde o autor delituoso era expulso do seu grupo social; sacrifício do autor com sua vida, dando–lhe o castigo de acordo com o tamanho da ofensa e do deus acometido; e a perda da paz, onde o infrator perdia a proteção do seu grupo. A vingança privada. 6 Com o crescimento e desenvolvimento das sociedades, surge as vinganças de sangue, onde quem cometia algum crime ou ofensa, estava sujeito à penalidade imposta por sua vítima, e esta juntamente com seu grupo definia o destino do delinquente. Nessa fase, a vítima e seu grupo decidiam a pena a ser aplicada ao infrator. Ressalta–se que essa decisão, quase sempre, era desproporcional ao castigo, bem como passava da pessoa do infrator, atingindo outras pessoas relacionadas a este. É a chamada “justiça com as próprias mãos” que culminava não só em conflitos sociais como consequentes guerras entre os grupos. Podemos destacar ainda nesse período, o Código de Hamurabi que implementou a lei de talião, onde o castigo deveria se igualar ao crime praticado, bem como distinguir as penalidadesimpostas a ricos e escravos. Essa lei, trouxe uma nova dimensão para o campo penal, apesar de leis que atualmente possam significar desumanas e cruéis, o Código tenta dar o mesmo tratamento para autor e vítima, como meio de controlar e organizar a sociedade. Nucci (2020), afirma, “Entretanto, não é demais destacar que a adoção do talião constituiu uma evolução no direito penal, uma vez que houve, ao menos, maior equilíbrio entre o crime cometido e a sanção destinada ao seu autor. A vingança pública. O desenvolvimento político dentro das sociedades trouxe a figura do Estado na intervenção estatal aplicando penas públicas, ou seja, não existia mais a necessidade de concentrar a decisão da penalidade no individuo ou seu grupo, pois havia agora agentes que se responsabilizariam por esses atos. “O objetivo da pena pública era garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação da sanção penal, ainda dominada pela crueldade e desumanidade, característica do direito penal então vigente. ” (NUCCI, 2020). Isso implica numa melhor organização na aplicação de penas, punindo aqueles que atacassem o Estado e a ordem pública, não desconsiderando o fato de que ainda sim, as sanções possuírem aquele caráter brutal e cruel, como decapitação, fogueira, esquartejamento, entre outros. 2.2 DIREITO PENAL DOS POVOS E O PERÍODO HUMANITÁRIO 7 Na Grécia Antiga, não havia preocupação com os direitos fundamentais e todas as questões relacionadas a vida, seja no campo social ou político, tinham como base as polis. Dracon pode ser considerado o primeiro legislador ateniense, trazendo a pena de morte para todo e qualquer tipo de delito, independentemente de sua gravidade. A partir de então, surgiram filósofos que trouxeram discussões a respeito do direito de punir e qual a finalidade dessas penas. Pitágoras, baseado nas ideias de Platão, descrevia a pena como um meio correção não apenas para o infrator, mas também para todos os demais indivíduos, ou seja, a pena servia como método de intimidação para todos. Para Aristóteles, a educação serviria como forma de evitar atos delituosos, bem como se não houvesse meios de punição, essa sensação de impunidade poderia gerar práticas infracionais. A justiça ateniense se preocupava com o desenvolvimento da sociedade e por isso, garantia direitos aos culpados como a absolvição de culpados, quando estes não prejudicassem a vida dos demais indivíduos. Destaca–se dois tipos de sanções baseados na vingança privada, divina e pública: as sanções públicas (crimina publica), quando eram violados os interesses públicos; e as sanções privadas (delicta privata), quando os interesses privados, como o patrimônio, eram lesados. As estruturas familiares davam ao pater famílias o poder de decidir da maneira que achar conveniente como seus familiares e escravos deveriam ser punidos. O coercitio era uma espécie de juiz formada pela atuação militar e que tinha como limite a apelação popular. Na fase do reinado, vigorou o caráter sagrado da pena, firmando-se o estágio da vingança pública. No período republicano, perdeu a pena o seu caráter de expiação, pois separou-se o Estado e o culto, prevalecendo, então, o talião e a composição. Havia, para tanto, a possibilidade de se entregar um escravo para padecer a pena no lugar do infrator, desde que houvesse a concordância da vítima – o que não deixava de ser uma forma de composição. (NUCCI, 2020). A lei das XII tábuas também teve vital importância na construção do direito romano, pois trouxe um caráter mais disciplinador para as vinganças privadas. Nessa época também surgem os crimes extraordinários, penas capitais, o direito ao recurso bem como o impedimento a tortura, além da distinção entre dolo e culpa. De caráter consuetudinário, no direito germânico não havia ainda leis escritas e os crimes praticados eram observados de acordo com seu caráter público ou privado. Se público, o infrator tinha como pena a perda da paz, sem proteção jurídica e ficando à 8 própria sorte. Por outro lado, se o crime fosse de natureza privada, o autor do delito era entregue à vítima e seus familiares que exerciam o direito de vingança. Predominante da Idade Média, o direito canônico tinha como objetivo a regeneração do infrator. “A gravidade do delito era medida pela gravidade da intenção, ou seja, pela maior ou menor pecado cometido. ” (SANCHES, 2019). Influenciado pelo cristianismo, o direito canônico defende a liberdade e o livre arbítrio, buscando a concepção de igualdade entre os homens, e procura–se retomar a justiça pública em oposição a justiça privada do direito germânico. Contribuiu, assim para o surgimento da prisão moderna, pois de acordo com o pensamento teocrático, o cárcere servia como forma de reparação do criminoso e consequentemente, o livramento do pecado, através do sofrimento e solidão. Findados esses períodos de repressão violenta, o direito penal seguiu por um caminho mais humanitário, se preocupando com a dignidade da pessoa humana e condenando toda e qualquer forma de castigo e tortura aplicados principalmente no período das vinganças. Surge então, pensamentos voltados para prevenção do crime e não apenas na aplicação de penas. Com o advento do iluminismo, os pensamentos bárbaros que vigoravam até então foram deixados de lado e a pena começava a ser entendida como tendo uma finalidade comum para toda a sociedade. Como marco desse período, podemos destacar César de Bonesana, o Marques de Beccaria que revolucionou os pensamentos do direito penal em sua obra Dei Delliti e Delle Pene (Dos delitos e das penas). Era a favor do livre arbítrio e contra a pena de morte, e uma das suas concepções era a de que a pena deveria ser proporcional ao crime praticado. Para ele “à medida da crueldade dos tormentos, enrijece–se a alma pelo espetáculo da barbárie, e, quanto maiores os castigos, mais o indivíduo se dispõe a praticar novos crimes para subtrair–se da pena que pôr primeiro mereceu. ” (MASSON, 2019). Beccaria defendia também que a pena só valeria se o condenado não voltasse a cometer crimes, servindo assim de exemplo para a sociedade. As leis deveriam ser claras e precisas, e as penas surgiriam apenas como último recurso, sendo proporcional ao delito e embasadas pelas leis. 3. ESCOLAS PENAIS 9 Segundo Bissoli Filho (1997), as escolas penais marcam o início da sistematização do estudo acerca do crime, do criminoso e da pena pelas Ciências Penais. O estudo das escolas penais é importante para entender e analisar criticamente o Direito Penal como é hoje, uma vez que o ordenamento jurídico é repleto de institutos que possuem características de diferentes tempos históricos. As escolas penais são divididas em Escola Clássica, Escola Positiva, ambas possuem posicionamento bem fundamentados de modo que essas seriam as escolas puras. E também podemos citar a Escola Mista. Escola Clássica. A Escola Clássica também conhecida como Escola Idealista ou Primeira Escola, surgiu na Itália, de onde se espalhou para o mundo, principalmente para a Alemanha e a França. A escola clássica formou-se no marco histórico do iluminismo francês, do racionalismo alemão, das ideias do livre-arbítrio e na obra de Cesare Beccaria, sendo interpretada como defensora da liberdade e da ordem jurídica (DE MATOS, 2004). O processo de consolidação da escola clássica ocorreu entre o final do século XVIII a meados do século XIX, o período do saber clássico e criminológico é dividido e marcado por dois momentos: o teórico ou teórico/filosófico que emerge da obra “Dos Delitos e das Penas”, de Cesar Beccaria e o prático ou ético/jurídico que surge da obra “Programa do Curso de Direito Criminal”, de Francesco Carrara (BISSOLI FILHO, 1997). Se contrapondo à pena de morte e às penas cruéis, Beccaria (1994), em sua obra, disserta sobre assuntos que caracterizariamposteriormente o pensamento penal clássico, como a função da pena, a natureza do ato criminoso e o impacto da estrutura jurídica penal sobre a sociedade. Pregando o princípio da proporcionalidade da pena à infração praticada, dando relevo ao dano que o crime havia causado à sociedade, sustentando a ideia de que somente leis poderiam fixar penas, não cabendo aos magistrados interpretá- las, mas somente aplicá-las tal como postas (NUCCI, 2017). Como destaca Estefam, Beccaria ponderava que os homens se reuniram em sociedade de modo a sofrer o mínimo possível e, com vistas ao exercício de sua liberdade, abriram mão de uma parcela por meio do contrato social. Nesse sentido, Beccaria defendia que a pena tinha pôr fim a exemplaridade, isto é, transmitia a ideia de que o temor do castigo afastaria a tentação do delito. 10 A escola clássica encontra na obra de Beccaria os pressupostos filosóficos e ideológicos da ciência penal, e o apogeu da que corresponde ao período ético/jurídico aflora com a publicação da obra de Carrara, sendo considerado o grande representante e consolidador da escola. Como afirma Nucci, Carrara se manifestou contrário à pena de morte e às penas cruéis, afirmando que o crime seria fruto do livre-arbítrio do ser humano, devendo haver proporcionalidade entre o delito e a sanção aplicada. Dessa forma, a escola clássica, passou-se a considerar que a responsabilidade penal se fundava na responsabilidade moral, justamente porque se deu ênfase ao livre-arbítrio do ser humano. Ainda conforme observação de Nucci, no método lógico-abstrato que é o método ressaltado pela escola clássica, o crime passou a ser tratado como um ente jurídico, e não como simples fato do homem. O escopo da pena era retribuir o mal do crime com o mal da sanção, embora pudesse haver – e até fosse desejável que ocorresse – a emenda do infrator. A pena ganha nesse momento um contorno de utilidade, destinando-se a prevenir delitos, e não simplesmente castigar (CARRARA, 1956). O destaque do fato-crime pela escola clássica, com o privilegiamento da teoria acerca do crime, levou a comunidade científica a identificar a produção teórico-jurídica dessa escola como o Direito Penal do fato (BOSSOLI, 1997). Escola Positiva. Em contraposição a escola clássica, no ano de 1876 com a publicação do livro “O Homem Delinquente” do autor Cesare Lomeroso, acompanhado por seus discípulos Enrico Ferri e Rafael Garófalo nasce a escola positiva, que se fundamenta de fatores histórico e teóricos da época, sob forte influência dos estudos da biologia e da sociologia. A escola positiva nega veementemente a ideia do livre-arbítrio que era exaltado pela escola clássica. Nucci, explica que Lomeroso sustentou em sua obra, que o ser humano poderia ser um criminoso nato, submetido a características próprias, originárias de suas anomalias físico-psíquicas. Dessa forma, acreditavam ser o criminoso um “doente”, portador de anomalias que levavam ao impeditivos de sua adaptação social, tendo como consequência o crime. 11 O método científico dedutivo, utilizado pela escola clássica, deu lugar a um método indutivo, pelo qual eram analisados os fatos do caso concreto, o criminoso, bem como o perigo que este representava para a sociedade SALESIANO (2019). Alguns autores dividem a escola positiva em três fases, A primeira fase é conhecida como antropológica, representada por Cesare. A segunda fase é a sociológica, por Enrico Ferri e a terceira fase foi intitulada como fase jurídica (BEZERRA, 2019). Greco (2018), menciona que na fase antropológica o homem poderia cometer o ato criminoso em virtude da sua genética, a fase sociológica estabelece que o agente poderia praticar crimes em razão do meio em que vive, e na fase jurídica é definido a sistematização jurídica à escola positiva. Sem dúvida, a escola positiva exerceu grande influência sobre o campo da individualização da pena, que rege o direito penal até os dias de hoje, tendo em conta, a personalidade e a conduta social do delinquente para o estabelecimento da justa sanção, como afirma Nucci (2017). Escola Mista Terza Scuola Italiana Conhecida também como escola crítica, a terceira escola italiana nasceu com a finalidade de produzir a junção dos postulados da escola clássica e da escola positiva, sendo a primeira escola penal eclética, pois convergiam em sua formação princípios das duas escolas, com o objetivo de oferecer alternativa aos seus extremismos (DE MATOS, 2004). Como destaca Nucci, entre as ideias propagadas pela escola, podemos citar: a distinção entre as disciplinas jurídicas e as empíricas, conceber o delito como um fato complexo, refutar a tipologia positivista, e utilização de penas e medidas no direito penal. Escolas Ecléticas e a Luta das Escolas Além da escola crítica, diversas escolas ecléticas surgem com o objetivo de juntar as ideologias e princípios da escola clássica e a escola positiva, dessa forma não há como prosseguir, indefinidamente, na procura da escola ideal, mesmo porque ela não existe. Jamais se alcançou, nem se atingirá, a unanimidade em torno das finalidades e funções do direito penal, e muito menos em relação à pena. Cabe ressaltar ainda que algumas 12 escolas ecléticas, por sua vez, basearam-se na hipertrofia dogmática, sem grande conteúdo (Nucci, 2017). Evolução da Teoria da Pena Com o fim da segunda grande guerra, e com o desenvolvimento de novos estudos ligados à área do direito penal, nasce um novo movimento que ficou conhecido como “Nova Defesa Social”. Tal movimento surge com base na obra de Marc Angel, intitulada como “A Nova Defesa Social” publicada no ano de 1954. A nova defesa social se afasta das ideologias pregadas pela escola positivista e volta a afirmar o livre-arbítrio fundamentado pela escola clássica. Além disso, admitem que a prisão é um mal necessário, mas se contrapõem a pena de morte. Pregam ainda a descriminalização de certas condutas, especialmente aquelas que são consideradas crimes de bagatela para evitar o encarceramento indiscriminado. Nucci (2017), afirma que é notório que todas as escolas que surgem posteriormente as escolas clássica e positivas não trazem adventos inéditos, mas trazem ideologias e princípios que são enraizadas por ambas as escolas, o que deixa de ser necessário, pois o direito penal interliga-se, cada vez mais, com outras ciências, prescindindo da formação de movimentos específicos, com características excludentes um do outro. E esclarece ainda que pena possui caráter multifacetado, implicando retribuição, o que continua a imperar no inconsciente coletivo da sociedade. 4. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL NO BRASIL A história do Direito Penal brasileiro apresenta noções básicas de regulamentações que buscavam a harmonização social em vários períodos distintos. Segundo Bitencourt (2008), num primeiro período, regeu-se pela legislação portuguesa, e, só num segundo período, por legislação genuinamente brasileira. Nesse contexto, a evolução do direito penal brasileiro pode ser classificada em três fases: período colonial, código criminal do império e período republicano. Período Colonial 13 Antes da legislação lusitana vigorar no Brasil, os nativos utilizavam-se dos seus saberes costumeiros para transmitir seus conhecimentos místicos. E era por meio desses costumes que ocorriam as punições que regiam a conduta dos índios. O ato de punir estava relacionado a vingança privada, também denominada de vingança coletiva. Com o avanço da colonização, instaurou-se a legislação portuguesa; primeiro as Ordenações Afonsinas, em seguida as Ordenações Manuelinas e posteriormente as Ordenações Filipinas. As Ordenações Filipinas, a fim de evitar o caos na sociedade e preservar a ordem vigente, apresentava uma série de punições, com predomínio da pena de morte. Utilizavaoutras sanções cruéis, como açoite e amputação de membros. Não se adotava o princípio da legalidade, ficando ao arbítrio do julgador a escolha da sanção aplicável. O Código Filipino foi ratificado em1643 por D. João IV e em 1823 por D. Pedro. (BITENCOURT, 2008). Código Criminal do Império A Constituição do Império brasileiro, outorgada em 1824 determinou no artigo 179, número XVIII a “necessidade de se organizar, quanto antes, um código civil e um criminal, fundado em sólidas bases de Justiça e Equidade”. O código civil teve que esperar até 1916, enquanto o criminal é promulgado em 1830. De inspiração liberal, é a imagem daqueles que o arquitetaram: o segmento político letrado, donos de terra e escravos e grandes comerciantes. (SCHWARTZ, 1979). O Código de 1830, está segmentado em quatro partes: • Dos crimes e, das penas: expõe o que é considerado crime, a qualidade das penas e o modo de impô-las. Organizam-se do Art. 1° ao Art. 13., definido os crimes e os criminosos e como as penas devem ser aplicadas, reunidas em seis grupos (crimes, criminosos, crimes justificáveis, circunstâncias agravantes, enforcamento e satisfação); • Dos crimes públicos: crimes contra o Império, contra a tranquilidade interna do Império, contra a administração, o tesouro e a propriedade pública; • Dos crimes particulares: contra a liberdade e a segurança individual, contra a propriedade privada; • Dos crimes policiais: contra as normas policiais e regras públicas. De modo geral, o Código Criminal do Império do Brasil, está voltado a dominação de uma elite, que pretende consolidar sua hegemonia de grande latifundiário e senhor de 14 escravos. As penas para esses senhores eram leves, quase sempre multas; enquanto os escravos recebiam punições severas, como, pena de morte, açoites, prisão com trabalho e banimento. O Código de 1830 é o reflexo de um Estado monárquico que utilizava de coerção e adestramento para um controle social. Período Republicano O Código Penal de 1890 foi elaborado com o intuito de fazer a “construção da ordem legal republicana” que, segundo Alvarez, Salla e Souza (2007), foi publicado após o sistema escravista, quando se iniciou a expansão da urbanização no Brasil. Com o objetivo de relacionar sociedade e lei, levando em consideração o fim da escravidão e o início do desenvolvimento urbano, a publicação do CP de 1890 é justificado pela necessidade de ter um conjunto de leis que regesse e determinasse as relações sociais de uma nova proposta de sociedade. Contudo, o novo código é dotado de críticas, pois foi elaborado apressadamente para responder os novos anseios sociais. Considerado arcaico, ainda adotará a pena de morte e a prisão perpétua. A Constituição republicana, embora inspirada na Constituição dos Estados Unidos, deixou de incluir diversas garantias referentes aos direitos individuais (Levine, 1995). E diversas pesquisas têm mostrado o papel das leis penais como instrumento de controle social no período (Neder, 1986; Alves,1990). É nessa perspectiva, que mais importante do que enfocar o papel da legislação penal enquanto instrumento de repressão e controle social dos movimentos sociais, ou mesmo enquanto instrumento de construção de uma ética do trabalho, é ressaltar que desde sua promulgação o Código Penal de 1890 foi considerado como incapaz de dar conta dos novos desafios colocados pelas transformações sociais e políticas do período republicano. Reformas contemporâneas O Código Penal vigente no Brasil foi criado em 1940, pelo então presidente Getúlio Vargas, durante o período do Estado Novo. Dentre as várias leis que modificaram nosso Código Penal, duas, em particular, merecem destaque: a Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, que procurou atualizar as sanções penais, e a Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984, que instituiu uma nova parte geral, com nítida influência finalista humanizou as 15 sanções penais e adotou penas alternativas à prisão, além de reintroduzir no Brasil o festejado sistema dias-multa. (BITENCOURT, 2008). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para compreender a evolução histórica do Direito Penal é necessário acompanhar seus processos de transformações ao longo dos contextos sociais aos quais encontram-se inseridos. Com a formação das sociedades torna-se necessário a normatização das regras e leis para os regimentos sociais. Neste sentido, desde as origens das civilizações existia a preocupação de criar-se uma sistematização que definisse os crimes e as suas respectivas sanções penais. A evolução do pensamento humano conduz o entendimento da ciência do Direito Penal, repleto de tentativas e falhas, o conceito, o procedimento e a elaboração formam as matrizes da sistematização penal. 16 REFERÊNCIAS ALVAREZ, Marcos Cézar; SALLA, Fernando; SOUZA, Luiz Antônio F. A sociedade e a lei: o Código Penal de 1890 e as novas tendências penais na Primeira República. Revista Justiça e História – Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, v. 3, n. 6, 2003. ALVES, Paulo. A Verdade da Repressão: práticas penais e outras estratégias na ordem republicana (1890-1921). São Paulo. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 1990. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 1764. Madrid, Altaza, 1994. BEZERRA, Beatriz A. A influência das escolas penais no direito penal brasileiro.2015 BISSOLI FILHO, Francisco et al. O estigma da criminalização no sistema penal brasileiro: dos antecedentes à reincidência criminal. 1997. BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2008. BRASIL, Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal Brasileiro. Brasília: Senado, 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 30 out. 2020. CARRARA, Francesco; JOSÉ LUIZ, V. de A.; BARRA, JR Prestes. Programa do curso de direito criminal: parte general. Edição Saraiva, 1956. CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120). 7. ed. Ver, amp. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2019. DE MATOS, João Carvalho. Prática e teoria do direito penal e processual penal. União Editorial Jurídica, 2004. DUARTE, Maércio Falcão. Evolução histórica do direito penal. Disponível em: http://www.sedep.com.br/artigos/evolucao-historica-do-direito-penal/. Acesso em: 25 out. 2020. ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor. Direito Penal Esquematizado-Parte Geral. Saraiva Educação SA, 2012. MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a120). – vol.1. 13 ed, – rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019. NEDER, Gizlene. Criminalidade, justiça e constituição do mercado de trabalho no Brasil: 1890-1927. São Paulo, Tese de Doutorado, Departamento de História, USP. 1986. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm http://www.sedep.com.br/artigos/evolucao-historica-do-direito-penal/ 17 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. – 16 ed, – Rio de Janeiro: Forense, 2020. NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: Parte Geral: Arts. 1º a 120 do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. PACHECO, Eliana Descovi. Evolução histórica do direito penal. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/evolucao- historica-do-direito-penal/amp/. Acesso em: 25 out. 2020. SALESIANO, Centro Universitário Católico; Gonçalves, Gabriel Henry Costa. Ressignificação Da Teoria Do Crime: A Moderna Construção Analítica Do Tipo. SCHWARTZ, Stuart. Burocracia e sociedade no Brasil Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. https://www.google.com/amp/s/ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/evolucao-historica-do-direito-penal/amp/https://www.google.com/amp/s/ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/evolucao-historica-do-direito-penal/amp/
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