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Ensaio sobre os impactos do modelo de colonização exploratório e da presença portuguesa no desenvolvimento brasileiro.

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Ensaio sobre os impactos do modelo de colonização exploratório e da presença portuguesa no desenvolvimento brasileiro.
Felipe Moreti Bolini
(FGV EESP)
	O presente ensaio tem por objetivo responder à seguinte questão: “Quais os principais impactos do modelo de colonização exploratório e da presença portuguesa no desenvolvimento brasileiro durante os ciclos econômicos açucareiro e aurífero?”. Dessa forma, estruturei a resposta partindo da contextualização da instalação portuguesa no Brasil e seu modelo colonizador exploratório, munindo-me, para isso, da obra “História Econômica do Brasil”, de Caio Prado Júnior. Em seguida, abordarei a temática da colonização exploratória, utilizando do trabalho realizado por Engerman e Sokoloff (1994), e da questão da presença portuguesa no Brasil, utilizando do trabalho de Naritomi et al. (2012). Em meio a este arcabouço acadêmico serão postas as minhas opiniões, além de incluí-las na conclusão.
Contextualização:
	A ocupação do território brasileiro se deu por uma necessidade portuguesa de manter as terras brasileiras sob sua posse. De tal forma que existiram diversos estímulos para favorecer todos os doze indivíduos que vieram ao Brasil. Com soberania sobre suas capitanias, o cultivo de cana-de-açúcar tornou-se a principal produção nacional, frente a imensa demanda internacional.	
	Os indígenas foram os primeiros a serem escravizados, contudo, não eram tão eficientes nos latifúndios, de tal forma que, por não possuírem mais tanto interesse nos objetos europeus e as lavouras não corroborarem com seu modo nômade de viver, tornou-se necessário força-los ao trabalho, o que levou a situações conflituosas, culminando na utilização do negro africano como escravo.
	A estrutura geral das propriedades açucareiras tinha como elemento central o engenho, unidade produtiva do açúcar, que, haja vista seu alto custo de construção, algumas vezes era “terceirizado”, sobretudo quando a terra era arrendada. Para além disso, o alto custo fixo também tornava necessário que o modelo de produção de açúcar ocorresse através do modelo de economia de escala, ou seja, produção de imensas quantidades de açúcar visando diluir o custo fixo, de forma a reduzir o custo médio por quilo de açúcar.
	Frente ao crescimento dos espaços urbanos e sua população, iniciou-se uma atividade econômica secundária: lavouras especializadas na produção de gêneros de manutenção. Essa caracterização das atividades de subsistência como secundária levou a uma situação de subnutrição da população, sobretudo a urbana não abastada.
	Esta estrutura econômica, carregada pela cana-de-açúcar e centrada em Pernambuco e Bahia, permanece até o início do século XVIII, quando se inicia o ciclo aurífero e a expansão rumo ao interior.
	O ciclo aurífero se difere do açucareiro na medida em que este não necessita de grandes montantes de capital para iniciar a exploração, de tal forma que, apesar de também utilizar o trabalho escravo, forneceu oportunidades para o trabalho livre, além de estimular atividades urbanas, diversificando a economia e, portanto, aumentando os fluxos monetários (enquanto na economia açucareira o fluxo se dava entre o engenho e o exterior, na aurífera, temos prestações de serviços). Por fim, a exploração do ouro leva a ocupação territorial ao interior do país, intensificando-se, principalmente, em Minas Gerais. Além da questão extrativa (o fato de ser necessário se deslocar até os locais onde há ouro), essa expansão rumo ao interior se faz possível com o ouro pela facilidade no transporte, diferente da cana-de-açúcar que, além da dificuldade de transporte da própria planta, possuía altíssimo capital instalado nas regiões litorâneas, não sendo possível seu transporte, o que inviabilizava a expansão para o interior.
	O ciclo aurífero ficou marcado por densas alíquotas tributárias e perdurou até fins de 1800, quando a produção nacional decaiu de forma significativa devido à dificuldade de se encontrar reservas minerais. 
	É em meio a estes dois ciclos econômicos que se constrói a estrutura colonial exploratória e a presença portuguesa no Brasil.
Dos modelos de colonização:
	Quando olhamos para a hodierna realidade econômica Latino Americana, notamos grande discrepância em relação aos países Norte Americanos. Muitas vezes é feita uma análise histórica acerca das instituições de cada país para explicar tal discrepância, contudo, muitas vezes, as instituições são superestimadas frente aos factor endowments, ou seja, as leis e normas que restringem escolhas dos agentes e determinam a maximização de lucro e utilidade são superestimadas frente à pré-disposição (dotação inicial) de recursos do local. Dessa forma, ao colocarmos, como muitas vezes é feito, a questão dos diferentes meios de colonização (exploratório e povoamento) como a causa dos diferentes desenvolvimentos das duas regiões, estamos ignorando diversas pré-disposições de recursos dos países.
	Pensando nos factor endowments, podemos distinguir dois grupos de países: aqueles com alta capacidade para produção agrícola, dotados de grandes latifúndios e alta desigualdade (Brasil); e aqueles com terras mais bem distribuídas (menores), com pouca desigualdade (EUA, exceto o sul).
	Quando temos uma situação de maior igualdade, a industrialização ocorre de forma antecipada, levando a um mercado mais diversificado e, portanto, eficiente. Além disso, temos a evidência de que altos níveis de renda per capita também estão relacionado com altos níveis de igualdade, e este está relacionado com uma maior disponibilidade de capital humano, poder político e riqueza, afetando, portanto, a oferta nos mercados. Com isso, temos clara evidência da relação positiva entre igualdade socioeconômica e evolução econômica da colônia.
	Elucidando as diferentes trajetórias dos dois grupos de países, utilizando Brasil e Estados Unidos como exemplo de cada um dos grupos, respectivamente, temos que os países partem de diferentes recursos naturais, o Brasil com alta capacidade produtiva agrícola e grandes latifúndios e, os EUA, com menor capacidade produtiva e pequenas propriedades. Dessa forma, desenvolvem-se diferentes instituições no mercado, o que acaba por impactar o desenvolvimento do trabalho nas colônias: enquanto nos EUA a mão-de-obra era predominantemente europeia, detentora de grande capital humano, no Brasil era predominantemente escrava, com baixo capital humano. Isso levou a diferentes desenvolvimentos dos mercados de ambos os países, de tal forma que nos EUA houve melhor distribuição de renda (pequenas propriedades em grande número) e, portanto, maior demanda por produtos simples e industrializados, havendo maior liberdade de escolha. Por outro lado, no Brasil havia alta concentração de renda (grandes latifúndios, em pequeno número), com um mercado consumidor voltado para bens de luxo e de menor liberdade de escolha. 
	Esses diferentes desenvolvimentos levaram a uma aceleração na industrialização dos Estados Unidos, favorecendo o aumento do estoque de capital, fatos que ocorreram de forma tardia no Brasil. A expansão do estoque de capital acaba por aumentar a produtividade marginal do trabalho, tornando a economia estadunidense capital intensiva durante o século XIX. Comparando à realidade brasileira, o período de economia capital intensiva se deu no período dos engenhos de açúcar (século XVI), haja vista a necessidade de uma estrutura de economia de escala, como já citado, para viabilizar a produção açucareira, desfavorecendo o desenvolvimento industrial até o século XX.
	Com as trajetórias postas e a relação positiva entre igualdade e desenvolvimento econômico esclarecida, notamos o fato de que os factor endowments são mais decisivos do que os modelos de colonização (exploratório ou de povoamento) no desenvolvimento econômico dos países. 
	Expandindo a visão posta por Engerman e Sokoloff (1994), apesar de concordar com a maior significância dos factor endowments e de não encontrar efetivamente evidências ou estudos que corroborem com meu pensamento, acredito que os modelosde colonização possuem um papel mais importante do que o artigo dá a entender. Da forma como eu vejo, o fato de os primeiros integrantes da população brasileira terem um viés puramente exploratório levou a um desenvolvimento tardio de algumas instituições, como modelo de ensino, sistema judiciário, além de infraestruturas básicas, de tal maneira que, pelo fato de países com uma colonização caracterizada pelo povoamento possuírem um viés desenvolvimentista, o desenvolvimento das instituições e infraestruturas se iniciaram antecipadamente, construindo uma base de maneira prévia mais sólida para o desenvolvimento do país.
	Por fim, também enxergo uma relação entre os modelos de colonização e os factor endowments. Apesar de este conceito tratar das dotações iniciais de um país, acredito que o modelo de colonização impacta as dotações que o processo de desenvolvimento futuro da população encontrará.
Das influências portuguesas no Brasil:
	Apesar de já termos demonstrado o fato de que os factor endowments são mais significativos do que as instituições quanto ao desenvolvimento de um país, isso não quer dizer que podemos negligenciar o impacto destas. Nesse sentido, quando estudamos o presença portuguesa no Brasil, notamos a clara interferência nas instituições coloniais. O fato de Portugal ter sido o único colono, levou o Brasil a um sistema centralizado, com “macro-instituições” muito similares por todo o Brasil. Por outro lado, quando olhamos para a qualidade das instituições e a distribuição de terras, entre outros fatores, temos grandes diferenças ao longo do território, haja vista que, muitas vezes por diferenças geográficas, apesar de existirem instituições de jure similares, as instituições de facto se diferenciavam significativamente.
	Como já mencionado, no ciclo açucareiro havia uma altíssima barreira de entrada e, portanto uma extremamente sociedade desigual, política e economicamente. Por outro lado, no ciclo aurífero, a barreira de entrada era baixíssima, sendo uma possibilidade de alavancagem social. Contudo, havia uma severa regulamentação metropolitana, com densos impostos. Essas regiões são uma evidência do fato de que um Estado que apenas extrai recursos econômicos leva a região a uma situação negativa, de tal forma que hodiernamente as regiões que em certo momento foram ricas regiões auríferas, hoje se revelam com um péssimo governo.
	O estudo de Naritomi et al. (2012) demonstra, por meio da econometria, que municípios, sobretudo quando ponderados com a distância do município até Portugal, com origens em regiões açucareiras, apresentam mais desigualdade na distribuição de terras, enquanto municípios com origens em regiões auríferas apresentam piores práticas de governança e menos acesso à justiça. As atividades extrativas coloniais estão relacionadas com uma disposição inferior de bens públicos, além de uma parte significativa da correlação entre a geografia e o desenvolvimento no Brasil estar relacionada com a história colonial de diferentes áreas do país.
	A conclusão que obtemos é que a presença portuguesa impactou de forma negativa as regiões, sendo por meio da restrição da distribuição de riquezas, ou por meio da alta coercitividade Estadual. Uma questão a ser criticada no trabalho de Naritomi et al. (2012), apesar de acreditar que chegaríamos a conclusões similares, é o fato de o estudo não utilizar a melhor proxy para o fator “Distância até Portugal”. Os autores utilizam a distância em linha reta entre as cidades e a metrópole, contudo, nem sempre os trajetos utilizados são feitos dessa maneira, de tal forma que seria melhor utilizar o tempo necessário para se deslocar da cidade até a metrópole.
Conclusão
	De forma objetiva, temos que o modelo exploratório de colonização estabelecido no Brasil se mostra menos significativo (mas não insignificante) no que tange ao desenvolvimento da sociedade e economia do país do que seus factor endowments. Desconfio que o modelo de colonização de povoamento estabeleça uma bases melhor estruturada para o desenvolvimento do país, se comparado com o modelo exploratório. Além disso, enxergo que os modelos colonização impactam as dotações do processo de desenvolvimento futuro do país. Quanto à questão da presença portuguesa, temos que seu impacto é negativo. Apesar de criar “macro-instituições” de jure similares ao longo do território, a proximidade com Portugal levou regiões açucareiras a uma péssima distribuição fundiária, e, regiões auríferas, a um péssimo acesso ao sistema jurídico e bens públicos. Ou seja, no que tange aos impactos de ambas as questões postas, modelo exploratório de colonização e proximidade de Portugal, todos são negativos para o desenvolvimento brasileiro.
Bibliografia:
JÚNIOR, Caio Prado. História econômica do Brasil. Editora brasiliense, 1970.
ENGERMAN, Stanley L.; SOKOLOFF, Kenneth L. Factor endowments: institutions, and differential paths of growth among new world economies: a view from economic historians of the United States. National Bureau of Economic Research, 1994.
NARITOMI, Joana; SOARES, Rodrigo R.; ASSUNÇÃO, Juliano J. Institutional development and colonial heritage within Brazil. The journal of economic history, p. 393-422, 2012.
COUTINHO, Mauricio C. Economia de Minas e economia da mineração em Celso Furtado. Nova Economia, v. 18, n. 3, p. 361-378, 2008.
VALE, Eduardo; HERMANN, Hildebrando. Economia mineral do ouro no Brasil.

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