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O ensino da variação linguística por intermédio do texto literário

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73 
 
ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, n. 11, ano 6, jul-dez. 2016 
 
 
O ensino da variação linguística por intermédio do texto literário 
 
Willian Souza 
Universidade Estácio de Sá 
 
Resumo: Este trabalho tem por objetivo discutir de forma teórico-prática o ensino da 
variação linguística por intermédio do texto literário. Apresenta-se por meio de um 
estudo de caso de caráter multifacetado da língua presente na letra da canção “Samba do 
Arnesto”, de Adoniran Barbosa, e do poema “Pronominais”, de Oswald de Andrade, aos 
quais se segue a proposta de algumas atividades a serem desenvolvidas na sala de aula. 
Para a investigação foram utilizadas como fontes diversos referenciais teóricos de 
renomados autores. Em tempo, os resultados demonstraram que o ensino da variação 
linguística, tendo o texto literário como recurso pedagógico, pode ampliar nos 
indivíduos a competência comunicativa, ou seja, permiti-lhes uma utilização da língua 
nos mais diversos propósitos comunicacionais. 
 
Palavras-chave: Variação Linguística. Preconceito Linguístico. Texto Literário. Língua 
Portuguesa. 
 
Introdução 
 
De acordo com Mollica (MOLLICA, 2015, p. 9), “a sociolinguística é uma das 
subáreas da Linguística e estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, 
voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e 
sociais”. Assim, nota-se que o objeto de estudo da sociolinguística é a língua em uso 
pelos mais diversos falantes e, ainda segundo essa autora (Ibidem, p.9), “esta ciência se 
faz presente num espaço interdisciplinar, na fronteira entre língua e sociedade, 
focalizando precipuamente os empregos linguísticos concretos, em especial os de 
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caráter heterogêneo”. Sendo assim, é de suma importância refletir a respeito da variação 
linguística porque 
na realidade, toda língua, quer sirva a uma grande nação 
consideravelmente extensa e muito diferenciada cultural e 
socialmente, quer pertença a uma pequena comunidade isolada de 
apenas poucas dezenas de indivíduos, é um complexo de variedades, 
um conglomerado de variantes. (BAGNO, 2012, p. 11). 
 
Se o linguista Marcos Bagno se refere à língua como um complexo de 
variedades, como um acumulado de variantes, torna-se oportuno questionar a respeito 
da possibilidade de compreensão da língua como um ser homogêneo: “existe língua 
homogênea?” A língua é dinâmica, viva, heterogênea, modifica-se ao longo do tempo, o 
que valoriza ainda mais a diversidade linguística. Os Parâmetros Curriculares Nacionais 
- PCNs (1998) apresentam a seguinte abordagem: 
Linguagem aqui se entende, no fundamental, como ação 
interindividual orientada por uma finalidade específica, um processo 
de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos 
diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos de sua 
história. Os homens e as mulheres interagem pela linguagem tanto 
numa conversa informal, entre amigos, ou na redação de uma carta 
pessoal, quanto na produção de uma crônica, uma novela, um poema, 
um relatório profissional. (BRASIL, 1998, p. 20) 
 
Os PCNs permitem a constatação de que o ensino de língua portuguesa, por 
volta dos anos 1960 e 1970, esteve demasiadamente preso a concepções normativas. No 
entanto, a partir dos anos 1980, as críticas referentes a tal ensino ganharam força devido 
aos estudos linguísticos articulados ao plano social, à natureza heterogênea da língua. 
Começou-se, então, uma reflexão sobre as finalidades da educação linguística, de seus 
conteúdos, reconhecendo a urgência de que a educação passasse por uma revisão que 
coadunasse com a nova realidade educacional do país. Levantaram-se questões relativas 
ao excesso de metalinguagem fora do contexto, à desconsideração da realidade social 
dos alunos, à priorização em demasia da gramática normativa, ao preconceito com 
determinados usos linguísticos, à desvalorização do falar dos estudantes das classes 
menos abastadas, dentre outras. 
Considerando o exposto, as perguntas que originam esta pesquisa, a saber “as 
variações linguísticas estão presentes em sala de aula?” e “como o texto literário pode 
contribuir para a análise e ensino dessas variações?”, permite pensar sobre novas 
perspectivas para as práticas de ensino de língua materna, sobre a importância do 
trabalho com textos reais, a valorização das variedades linguísticas dos alunos, como o 
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preconceito linguístico deve ser combatido em todo âmbito educacional, bem como 
também a revisão do conceito de erro. Quando o professor desenvolve um ensino 
essencialmente metalinguístico, torna-se preso à visão dicotômica “certo e errado” do 
emprego da língua. Essa visão não permite ao aluno o conhecimento e o 
reconhecimento da heterogeneidade da língua e lhe dificulta ser um “estrategista da 
linguagem”, alguém que organiza seu discurso conforme propósitos comunicativos 
(KOCH, 2006). 
O patrimônio cultural, que é a língua portuguesa, torna-se enriquecido pelas 
variações. Sendo assim, neste trabalho, apresenta-se um estudo de caso da variação 
linguística presente no “Samba do Arnesto” de Adoniran Barbosa. A justificativa pela 
escolha de um segundo corpus, a saber, o poema “Pronominais” do poeta modernista 
Oswald de Andrade, dá-se a partir da pretensão de demonstrar como ele pode contribuir 
para análise e ensino da heterogeneidade da língua, e também por ele ser rico na 
exploração de recursos linguísticos. 
Eugenio Coseriu (COSERIU, 1982, p.146) afirma que “a linguagem poética 
revela-se não um uso linguístico entre outros, mas linguagem simplesmente (sem 
adjetivos): realização de todas as possibilidades da linguagem como tal”. Desse modo, 
objetivando dialogar e contribuir com o docente de língua materna, produziu-se uma 
sequência de atividades relacionadas ao poema “Pronominais” a fim de possibilitar a 
observação de que há lugar tanto para a língua popular (heterogeneidade linguística) 
quanto para a língua padrão nas aulas de língua, e lugar para a realização do ensino-
aprendizagem da leitura e da produção textual. 
 
1 A língua compreendida como um produto heterogêneo 
 
A língua tem como principal função a comunicação e, por isso, deve ser 
entendida como uma atividade social que corresponde a 
Um conjunto de usos concretos, historicamente situados, que 
envolvem sempre um locutor e um interlocutor, localizados num 
espaço particular, interagindo a propósito de um tópico conversacional 
previamente negociado. [...] é um fenômeno funcionalmente 
heterogêneo, representável por meio de regras variáveis socialmente 
motivadas (CASTILHO, 2000, p. 12). 
 
Ressalta-se, pois, que a língua é historicamente situada e heterogênea, o que 
significa dizer que ela está sujeita a variações e mudanças no espaço e no tempo. Dessa 
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forma, o sistema linguístico não é homogêneo, mas é constituído de regras variáveis (ao 
lado de regras categóricas), que atuam em todos os níveis linguísticos: fonológico, 
morfológico, sintático, lexical e discursivo. Essas regras variáveis são passíveis de 
sistematização. 
Pode-se definir a língua como uma constituição de variedades linguísticas, 
também chamadas de dialetos. Segundo os PCNs (1998), “a variação é constitutiva das 
línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, 
independentemente de qualquer ação normativa. Dessa forma, a Língua Portuguesa 
pode ser entendida como uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...]”. 
A Sociolinguística, por sua vez, descreve a variação segundo os seguintes 
tipos: variação regional ou geográfica, variação social e variação estilística, os quais são 
descritos abaixo. 
 
1.1 A variação geográfica 
 
Podendo ser chamada de variação regional ou diatópica(do grego dia = através 
de; topos = lugar), a variação geográfica relaciona-se às diferenças linguísticas 
observáveis entre falantes oriundos das mais diversas regiões de um mesmo país ou de 
diferentes países. Podem-se observar diferenças tanto entre o português falado na 
Europa (Portugal, Açores, Madeira), na África (Angola, Moçambique, Guiné Bissau) e 
na Ásia (Goa, Macau), com o português do Brasil, como entre os falares das várias 
regiões do Brasil, como por exemplo, Nordeste e Sul. 
São inúmeras as diversidades do Português falado no Brasil e em Portugal, no 
campo da fonética, que se refere no modo de pronunciar os sons da língua. O brasileiro 
diz “eu sei”, enquanto que o português diz “eu sâi”. No campo sintático, tem-se a 
diferença no modo de dispor as frases, as orações e as partes que as compõem, pois, 
enquanto no Brasil se diz “estou falando com você”; em Portugal, “estou a falar 
consigo” (BAGNO, 2015). 
Ainda segundo o mesmo autor, no campo do léxico, acentua-se ainda mais as 
diferenças entre essas duas variantes, pois há palavras que existem no Brasil e não 
existem em Portugal, ou vice-versa. O português chama de “soloio” o habitante da zona 
rural, enquanto aqui no Brasil chama-se de “matuto”, “caipira”, “capiau”. 
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As variações diatópicas, por seu turno, são aquelas que acontecem entre falares 
locais ou regionais, que podem ser compreendidas como dialetos. Num país imenso 
como o Brasil, percebe-se diferenças entre os falares gaúcho, paulista, carioca, baiano e 
outros. Veja-se o exemplo da palavra “mandioca”, muito utilizada no Sul e no Sudeste, 
já no Norte e Nordeste, recebe o nome de “aipim”. 
 
1.2 A variação social 
 
A variação social refere-se à diferença percebida entre as diversas camadas da 
sociedade. Também conhecida como variação diastrática, encontra-se em grupos sociais 
distintos, em que classe social, idade, sexo, nível de escolaridade são alguns dos fatores 
a ela atribuídos. Um exemplo típico de variação social de acordo com Bagno (BAGNO, 
2015, p.44) é a rotacização do L nos encontros consonantais, conforme acontece em 
Cráudia/Cláudia, grobo/globo, pranta/planta, ingrês/inglês, broco/bloco. 
Torna-se oportuno destacar que a variação social não impede a compreensão 
entre indivíduos e, muito embora a utilização de determinadas variantes possam indicar 
o nível socioeconômico de uma pessoa, há a possibilidade de um individuo menos 
abastado (como por exemplo alguém que diga: “Fessora! A sinhora ia mi castiga 
purarguma coisa qui eu num fiz?”) atingir o padrão de maior prestigio social (por 
exemplo, essa mesma pessoa dizer: “Professora! A senhora iria me castigar por alguma 
coisa que eu não fiz?”). 
Não raro, o individuo que faz uso da norma não padrão é acusado de “não 
saber português”, de “falar feio”, o que denota claramente um preconceito silencioso, 
mesquinho, denominado de preconceito linguístico. Marcos Bagno adverte: 
O que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em 
programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em 
livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é 
“errado”, sem falar, é claro, dos instrumentos tradicionais de ensino da 
língua: as gramáticas normativas e parte dos livros didáticos 
disponíveis no mercado. (BAGNO, 2015, p. 21) 
 
Verifica-se, nesse sentido, que o individuo, quando se manifesta oralmente, 
acaba por expor sua origem regional e social. É como que se pelo seu registro oral, a sua 
identidade revelasse a sua pertença a algum tipo de grupo social, o que contraria a ideia 
de sofrer qualquer tipo de preconceito pelo modo de falar. 
 
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1.3 A variação estilística 
 
Conhecida também como variação contextual ou de registro, a variação 
estilística se apresenta nas mais diversas situações comunicativas, ambiente familiar, 
profissional, na roda de amigos, enfim, a depender da circunstância comunicacional. 
Alguns contextos socioculturais exigem maior formalidade, ou seja, demandam do 
falante o uso de uma linguagem mais elaborada e cuidada, denominada registro formal, 
o qual pode ser verificado em uma palestra ou conferencia acadêmica. Outros contextos 
socioculturais exigem menor formalidade, em que o indivíduo usará uma linguagem 
menos monitorada, menos elaborada e mais descuidada, que ocorre em situações 
familiares, no barzinho com os amigos e também em momentos informais, quando se 
utiliza uma linguagem mais coloquial. 
Compreende-se, então, a necessidade de o falante possuir habilidades dos usos 
linguísticos, a fim de saber adequar a sua fala aos mais variados níveis de comunicação, 
desde os informais aos mais formais, demonstrando, assim, a sua competência 
comunicativa. 
O que norteia a variação estilística são justamente os domínios em que se dão 
as práticas sociais (universidade, lar, trabalho, etc), as relações sociais envolvidas 
(professor-aluno, pai-fi lho, patrão-empregado, etc), o tipo de assunto (religião, esporte, 
brincadeiras, etc). O fato é que os diversos modos de variação linguística não se isolam 
entre si; na verdade elas se relacionam. É um mito pensar que a aprendizagem da norma 
culta pode contribuir para que o indivíduo “cresça socialmente”. De acordo com Bagno 
(Ibidem, p.106) “achar que basta ensinar a norma-padrão a uma criança pobre para que 
ela „suba na vida‟ é o mesmo que achar que é preciso aumentar o número de policiais na 
rua e de vagas nas penitenciárias para resolver o problema da violência urbana”. 
 
2 “Samba do Arnesto”: um estudo de caso da variação linguística 
 
Torna-se evidente a necessidade de a variação linguística estar presente na sala 
de aula, na prática pedagógica do professor. Constitui papel da instituição escolar 
proporcionar ao aluno meios de ampliar suas experiências linguísticas e seus recursos 
comunicativos, haja vista que quando ele chega à escola já traz consigo um 
conhecimento prévio das regras do português não padrão, da variedade popular ou 
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coloquial e também de registros ou estilos que não são monitorados ou são pouco 
monitorados. 
 Cabe à escola propor ao aluno o desenvolvimento de uma competência que lhe 
garanta uma forma de assumir outras funções sociais, visto que: 
Todo falante dispõe de suficiente competência linguística em sua 
língua materna para produzir sentenças bem formadas e comunicar-se 
com eficiência. Ao chegar à escola, portanto, todos os alunos 
brasileiros que têm o português como língua materna já são 
competentes em língua portuguesa [...] mas têm de ampliar a gama de 
seus recursos comunicativos para poder atender às convenções sociais, 
que definem o uso linguístico adequado a cada gênero textual, a cada 
tarefa comunicativa, a cada tipo de interação. (BORTONI-RICARDO, 
2004, p. 75). 
 
 Entrando em contato com o fenômeno da variação linguística, na perspicácia 
de suas funções sociais, o discente amplia seu saber expressivo e passa a reconhecer a 
necessidade de transitar por entre as variedades, promovendo, pois, adaptações ao 
assunto, aos tipos de texto, ao interlocutor, as intenções de comunicação etc. O 
entendimento acerca da variação linguística não visa a fazer o “erro” desaparecer e 
muito menos fazer com que o aluno escreva “errado”, mas se constitui uma amostra de 
possibilidades para que ele adapte seu texto às diversas circunstâncias do ato de fala, ou 
seja, propõe uma reflexão crítica acerca da língua. Veja o que diz Travaglia (2001), ou 
melhor, a forma como ele analisa as possibilidades de uso da língua: 
Achamos natural exigir que o aluno aprenda a norma culta para 
utilizá-la em determinadas situações sociais de comunicação social, 
mas achamos absurdo, por exemplo, exigir que alguém tivesse de 
aprender o dialeto caipirapara falar com o pessoal da zona rural de 
determinadas regiões do país (sobretudo sul de Minas Gerais e parte 
de São Paulo). Por quê? Os falantes da norma culta ”exigem” que o 
caipira aprenda seu modo de falar para circular entre eles, mas o 
contrário não acontece: os caipiras não “exigem” que os falantes da 
norma urbana culta aprendam seu dialeto pra circular entre eles. 
Aprender dialeto caipira será sempre uma “concessão” dos membros 
do outro grupo social, por interesse científico, ou porque isso pode ser 
interessante, cômico, exótico, etc. (TRAVAGLIA, 2001, p. 64). 
 
 O ensino de língua portuguesa deve favorecer um espírito investigativo ao 
aluno em relação à variação, por meio de múltiplas atividades, dentre as quais a 
identificação das regras da variedade não padrão em oposição com a variedade padrão. 
Isso pode lhe permitir um domínio maior da variedade padrão bem como lhe conduzir 
ao combate ao preconceito linguístico e a valorização do seu próprio falar. Acredita-se 
que assim o aluno identificar-se-á mais com a variação de sua fala, sem que o estudo da 
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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, n. 11, ano 6, jul-dez. 2016 
 
norma padrão lhe pareça algo imposto de maneira brusca, fazendo-o sentir-se 
desprivilegiado pela língua que usa. Ao contrário, ele passará a perceber que a língua 
deve ser utilizada em conformidade com cada momento comunicativo e compreenderá o 
papel transformador da escola ao proporcionar ao aluno desenvolver sua competência 
comunicativa. Segundo Soares (1995): 
Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição 
dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas 
por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio, 
mas também e, sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter 
político inaceitável [...] Em segundo lugar, uma escola transformadora 
atribui ao bidialetalismo a função não de adaptação do aluno às 
exigências da estrutura social, como faz a teoria das diferenças 
linguísticas, mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira 
condições de participação na luta contra as desigualdades inerentes a 
essa estrutura. (SOARES, 1995, p. 74). 
 
 Nessa perspectiva é que se propõe uma análise da letra da música de Adoniran 
Barbosa, intitulado “Samba do Arnesto”, com a qual se almeja comprovar o escopo 
teórico aqui apresentado e também mostrar o quanto de realidade há nela no que se 
refere não só a variação linguística, como também da vida de um povo. Veja-se a letra 
da canção: 
O Arnesto nos convido prum samba, ele mora no Brás 
Nóis fumos e não encontremos ninguém 
Nóis vortemo cuma baita duma reiva 
Da outra veiz nóis num vai mais 
Nóis não semos tatu! 
Outro dia encontremo com o Arnesto 
Que pediu descurpa mais nóis não aceitemos 
Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa 
Mais você devia ter ponhado um recado na porta 
Um recado anssim: "Ói, turma, num deu prá esperá 
Ah, duvido que isso num faz mar, num tem importância 
Assinado em cruz porque não sei escrever 
Arnesto". 
 
A letra da música retrata fielmente a linguagem típica do Bexiga. Adoniran 
utilizou essa variação linguística para contar, de forma amena, pequenas tragédias 
cotidianas das favelas e dos subúrbios de São Paulo. Percebe-se já de início, no título do 
texto, a variação no emprego do nome próprio, para muitos uma incorreção gramatical, 
já que o nome do personagem Arnesto é uma derivação popular de Ernesto, o que bem 
configura a variação social, a qual envolve fatores concernentes à organização 
socioeconômica e cultural da comunidade de falantes. Logo, é comum nas classes 
sociais menos abastadas e menos escolarizadas a troca de fonemas ao registrarem seus 
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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, n. 11, ano 6, jul-dez. 2016 
 
filhos (por desconhecerem o nome correto ou simplesmente por criatividade). Assim é 
que Ernesto vira Arnesto. 
Merece também serem destacados os tempos verbais utilizados na letra da 
música, que apontam para o português não padrão, que, segundo Bagno (BAGNO, 
2015, p.28) “é a língua da grande maioria dos pobres e dos analfabetos do nosso povo. 
É também, consequentemente, a língua das crianças pobres e carentes que frequentam 
as escolas públicas”. Observa-se que as formas verbais, tais como “fumos”, 
“encontremo”, “fiquemo”, “vortemo”, embora respeitem a formação do plural, 
apresentam variações. Para Bagno (Ibidem, p. 51) o português não padrão “é mais 
sóbrio, mais econômico, mais modesto, menos „vaidoso‟ Sua regra de plural é a 
seguinte: „marcar uma só palavra para indicar um número de coisas maior que um”. É 
muito criativo o emprego de “ponhado” ao invés de “posto”, ocupando o lugar de um 
verbo regular como “colocar” ou “botar”. 
 Outra característica que dá ritmo, musicalidade, ao texto é a troca do fonema /l/ 
pelo /r/ em algumas palavras, como em “vortemo” ou “descurpa”. De acordo com 
Bagno (Ibidem, p. 46) “quem diz broco em lugar de bloco não é „burro‟, não fala 
„errado‟, nem é „engraçado‟, mas está apenas acompanhando a natural inclinação 
rotacizante da língua”. Nota-se, ainda, como ocorre a colocação do “i” entre a vogal e o 
“s” final das sílabas (como em “nóis”, “mais”, “veiz”), ou mesmo as variações em 
“anssim”, “reiva” e “pidiu”. Considerando o exposto, a letra da música de Adoniran 
Barbosa traz muitas marcas da oralidade, convergindo, portanto, à ideia de que a 
variação linguística existe mais marcadamente no registro oral da língua. 
 A análise linguística do “Samba de Arnesto” leva a uma reflexão da 
necessidade da utilização dos elementos linguísticos inquirindo as possibilidades do 
sistema, bem como conhecer diversas gramáticas (tais como: normativa, descritiva, 
implícita, internalizada, reflexiva, entre outras), de modo a facultar ao aluno a 
ampliação de seu conhecimento idiomático. A simples e desnecessária “incorporação” 
de regras gramaticais obsoletas e deterministas desrespeita as variedades linguísticas 
assim como as identidades culturais dos falantes. 
 
2 O ensino da variação linguística por meio do texto literário 
 
O texto literário se revela como um relevante recurso para a exploração da 
variação linguística em sala de aula, onde nem sempre é permitido fazer a manobra de 
82 
 
ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, n. 11, ano 6, jul-dez. 2016 
 
corpus da modalidade falada da língua de modo a permitir a criação ou a recriação, de 
forma estética, da realidade extralinguística e linguística, em especial, dos mais diversos 
níveis de língua e dos registros de fala. Percebe-se no texto literário uma riqueza de 
recursos que refletem a própria realidade, de tal sorte a criar mundos possíveis, 
demonstrar a diversidade da linguagem e a multiplicidade social. 
A partir do auxílio desse tipo de texto, o docente de língua materna pode 
conduzir o discente à reflexão sobre os recursos linguísticos da obra aumentando, assim, 
sua competência linguística, pois a tomada de consciência da variação linguística 
promove no aluno a capacitação de dar mais verossimilhança a um texto construído por 
ele. Conforme o aluno se apresenta como detentor da diversidade de recursos 
linguísticos, a produção textual é vista como uma atividade criativa de exposição da 
variação linguística e, dessa forma, o aluno trilha o caminho “uso > reflexão > uso”, que 
fora proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1998, p.40). 
A variação linguística presente nos textos literários refere-se a um tema 
abordado em outros momentos por diversos linguistas brasileiros. Cita-se, como 
exemplo, Dino Pretti (1977), que traz uma fundamentação teórica da sociolinguística a 
partir de textos do Romantismo e do Modernismo brasileiro, razão porque, neste 
trabalho, para adentrar o cenário da variação linguística por intermédio do texto 
literário, busca-se sustentação nesse renomado linguista, tomando-o como referência. 
A opção pelo poema “Pronominais” de Oswald de Andrade é decorrentede ele 
apresentar a variação linguística. Assim, a escolha justifica-se pela facilidade de 
aplicação pedagógica desse texto haja vista que, em poucas aulas, é possível ler e 
trabalhar com a linguagem e a variação linguística em conjunto com os alunos, 
possibilitando-lhes sentir a poesia, saboreá-la, de modo que ela os eleve, transporte-os a 
outros estágios, causando-lhes bem estar. 
A leitura deve ser viabilizada por fruição, o ler, por gosto, por prazer, e não por 
obrigação, numa perspectiva metalinguística, apenas para cumprir o que está no 
material didático, pois se deve ler também para se emocionar, para adquirir e 
redimensionar conhecimentos, para omitir opiniões, o que parece estar muito distante 
dos bancos escolares. A leitura é tão significativa a ponto de favorecer o processo de 
humanização. Lê-se que: 
A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser 
satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar 
forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos 
liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura 
83 
 
ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, n. 11, ano 6, jul-dez. 2016 
 
é mutilar a nossa humanidade. (CANDIDO, 1995 apud COSSON, 
2014, p. 15). 
 
Com essa visão é que se propõe a leitura do poema que se segue, de Oswald de 
Andrade. 
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro. 
 
No poema, percebe-se a busca do autor por reduzir a distância entre a 
linguagem falada e a escrita, uma das principais características do Primeiro Tempo 
Modernista (1922-1930), negando, então, o passadismo acadêmico, uma vez que se tem 
a defesa da colocação pronominal que segue o padrão fonético brasileiro, em que a 
próclise é a mais comum, constituindo-se uma marca muito presente no português não 
padrão, como se vê no verso “Me dá um cigarro”, diferente do português da norma culta 
que orienta a valorização da ênclise: “Dê-me um cigarro”. 
No primeiro verso de “Pronominais”, há um exemplo das muitas diferenças 
existentes entre a língua que é considerada modelo, padrão, denominada norma culta, e 
a língua falada, o português não padrão, que, de acordo com Bagno, é (Ibidem, p. 
28) “utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas, 
oprimidas pela terrível injustiça social que impera no Brasil, o português não 
padrão é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas”. 
Faz-se oportuno aqui novamente esclarecer que o indivíduo detentor de 
competência comunicativa utiliza a língua nos mais diversos contextos de 
comunicação. Tente imaginar um domingo de manhã, a família reunida em torno 
da mesa para tomarem o desjejum e o filho diz para a mãe: “Dê-me a xícara”. Soa 
até um pouco estranho essa fala, dada à situação comunicativa. Assim, pelo bom 
uso da contextualização da linguagem, melhor a informalidade. Portanto, não se 
configura “erro” dizer: “Me dá uma xícara”. 
Ao se refletir sobre o poema “Pronominais”, emerge a característica 
modernista utilizada pelo autor com os versos livres, com o intuito de traduzir a 
liberdade plena da forma, a qual não significa ausência de ritmo, mas a criação para 
cada verso um ritmo. Ao mesmo tempo, percebe-se que o autor optou por ressaltar essas 
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duas características com o objetivo de acentuar outras peculiaridades como a procura 
pelo moderno, pelo controverso. 
O nacionalismo se manifesta na linguagem do poema, sendo essa uma das mais 
relevantes propostas do projeto artístico desse poeta, que é a anulação dos padrões da 
língua literária culta, em busca de uma língua eminentemente brasileira, capaz de 
agrupar todos os “erros” gramaticais, vistos por ele como verdadeiras contribuições para 
a elucidação da nacionalidade. 
 
4 Variação linguística: um estudo de caso no poema “Pronominais” 
 
No poema “Pronominais”, Oswald de Andrade demonstra a regra variável da 
colocação pronominal no português. Os pronomes do caso oblíquo átonos, no 
português, podem ocorrer em três posições: antes do verbo (próclise) como em 
“Alguém me ligou?”, no meio do verbo (mesóclise), a titulo de exemplo: “Falar-lhe-ei a 
teu respeito” e depois do verbo (ênclise), tendo como exemplo: “Diga-me apenas a 
verdade”. Cada uma dessas colocações dá-se em função das motivações do ambiente 
linguístico em que ocorre, muito embora haja uma grande motivação sociocultural que 
impera na escolha de uma ou outra colocação: o reconhecimento de que o português 
falado no Brasil é diferente do português falado em Portugal (conforme se viu na 
subseção 1.1). 
No Brasil, o uso proclítico é predominante, diferentemente de Portugal e das 
gramáticas normativas, inspiradas em autores portugueses, em que se impera a ênclise. 
Oswald de Andrade retrata, ainda, em “Pronominais”, aspectos sociais relacionados a 
usuários de cada um dos tipos de colocação pronominal: note-se que a ênclise, 
concernente à norma padrão - aquela que prescreve as regras gramaticais e que é a 
grande responsável por um ensino metalinguístico - faz referência à escolarização (o 
professor, o aluno, o mulato sabido e, principalmente, a gramática). A próclise, por sua 
vez, faz alusão à “Nação Brasileira”, ao povo pobre e analfabeto, que não conhece as 
regras gramaticais. Relaciona-se às pessoas que falam “feio”, “errado”, que não tem 
uma amplitude do seu repertório linguístico. 
 
5 Sequência de atividades: uma proposta de ensino da variação linguística por 
intermédio do texto literário 
 
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Nesta seção, busca-se propor e executar uma sequência de atividades a partir 
do poema “Pronominais” de Oswald de Andrade, tomando-o como recurso para se 
trabalhar variação linguística por intermédio do texto literário em sala de aula. 
Os objetivos aqui são demonstrar e refletir sobre a língua e suas variações; 
compreender a língua como um fenômeno heterogêneo; identificar contextos e 
adequações; estimular o espírito pesquisador-investigador; distinguir as principais 
diferenças da língua escrita e da língua falada. As atividades descritas abaixo foram 
baseadas na obra de Rildo Cosson, Letramento Literário (2014), e adaptadas para que 
pudessem cumprir os objetivos propostos. 
 
5.1 Produção textual 
 
A crônica é um gênero textual pertencente à tipologia narrativa e tem por 
finalidade narrar fatos cotidianos. Por isso, ela é uma leitura agradável levando, muitas 
vezes, o leitor a identificar-se com as ações das personagens e interagir com os 
acontecimentos. A proposta, portanto, é a escrita de uma crônica partindo do poema 
“Pronominais”. 
 
5.2 Pesquisa de opinião 
 
A pesquisa de opinião pode ser utilizada na turma para avaliar o conhecimento 
prévio dos alunos a respeito da variação linguística, podendo ser formulada questões 
tais como: 1 – Você já ouviu falar em variação linguística? 2- Você já ouviu a expressão 
preconceito linguístico? A pessoa que diz: “Me dá um cigarro” ela pode sofrer 
preconceito linguístico? 3 – Você sabia que é possível estudar variação linguística por 
meio do texto literário “Pronominais” de Oswald de Andrade? A opinião dos alunos 
pode ser computada e apresentada estatisticamente pelo professor ou pelo grupo de 
alunos, de preferência, por meio de gráficos e índices percentuais. 
 
5.3 Dissertação prática 
 
O professor começa explicando sobre a língua como um produto heterogêneo e 
em seguida apresenta o poema “Pronominais” a fim de embasar a sua teoria sobre 
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variação linguística. Divide-se a turma em grupos de quatro alunos para que eles 
possamdiscutir sobre as diversas funções sociais da língua em cada atividade 
comunicativa. Após essa discussão, o professor lista no quadro aquilo que foi falado 
pelos alunos, que devem explicar como formularam determinados pensamentos, ideias e 
pontos de vista e, assim, ambos (professor e aluno) fazem uma reflexão partilhada sobre 
a heterogeneidade da língua. 
 
5.4 Glosa 
 
O professor apresenta um verso do poema “Pronominais” e solicita aos alunos 
que aproveitem o verso para produzirem um texto, sendo que esse texto pode dar 
continuidade àquele verso ou concluir com ele. Não é necessário que seja um poema, 
pode, aliás, ser um texto narrativo. Uma variante da glosa consiste em tomar um verso e 
ilustrá-lo com uma história. O verso, então, funcionará como uma espécie de moral de 
fábula ou se pode fazer dele uma epígrafe, outra variante. 
Além do mais, essa glosa pode, inclusive, ser conduzida como uma atividade 
de interpretação. 
 
Considerações finais 
 
A proposta do presente trabalho foi refletir a urgente necessidade de o 
professor de língua portuguesa trabalhar em sala de aula o fenômeno da variação 
linguística por intermédio do texto literário, apresentando, portanto, uma proposta de 
contribuições teóricas e práticas que facultem aos discentes adquirissem consciência das 
regras linguísticas que dominam, as quais denunciam a gramática da variedade que 
usam e, não raras vezes, fazem-nos vítimas de preconceitos linguísticos. 
Tornou-se visível que a língua é um fenômeno heterogêneo e que sua principal 
função é a comunicação. Assim, quando se fala em língua portuguesa esta se referindo a 
uma unidade constituída de diversas variedades. Travaglia faz a seguinte abordagem: 
[...] se se acredita que em diferentes tipos de situação tem-se ou deve-
se usar a língua de modos variados, não há porque, ao realizar as 
atividades de ensino/aprendizagem da língua materna, insistir no 
trabalho apenas com uma das variedades, a norma culta, discutindo 
apenas suas características e buscando apenas o seu domínio em 
detrimento das outras formas de uso da língua que podem ser mais 
adequadas a determinadas situações. (TRAVAGLIA, 2001, p.41) 
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Com isso, verificamos a real necessidade de uma reflexão sobre a variação 
linguística, de modo que proporcione em todos uma mudança de postura, visto que o 
aluno chega à escola com uma variação, e que essa mesma deve ser respeitada e não 
rotulada de “errada”. É função da escola promover o desenvolvimento da competência 
comunicativa desse aluno, garantindo-lhe o uso da língua para atender a distintas 
funções sociais. Constatou-se pelo estudo de caso da variação linguística presente na 
letra da canção “Samba do Arnesto” que apenas decorar regras gramaticais anacrônicas 
e arbitrárias destitui da língua suas variedades, assim como as identidades culturais dos 
falantes. 
Tornou-se aqui o texto literário como recurso pedagógico relevante para se 
ensinar e analisar a variação linguística em sala de aula já que ele possibilita a 
(re)criação, de forma estética, da realidade extralinguística e linguística, em especial, 
dos mais diversos níveis de língua e dos registros de fala. Os Parâmetros Curriculares 
Nacionais se referem da seguinte forma ao texto literário: 
O texto literário está livre para romper os limites fonológicos, lexicais, 
sintáticos e semânticos traçados pela língua: esta se torna matéria- 
prima (mais que instrumento de comunicação e expressão) de outro 
plano semiótico- na exploração da sonoridade e do ritmo, na criação e 
recomposição das palavras, na reinvenção e descoberta de estruturas 
sintáticas singulares, na abertura intencional a múltiplas leituras pela 
ambiguidade, pela indeterminação e pelo jogo de imagens e figuras. 
Tudo pode tornar-se fonte virtual de sentidos, mesmo o espaço gráfico 
signos não- verbais, como em algumas manifestações da poesia 
contemporânea (BRASIL, 1998, p.27). 
 
Conclui-se, desse modo, que o levantamento de proposta de algumas atividades 
tendo como base o poema “Pronominais”, a fim de serem realizadas em sala de aula, 
deu-se com o intuito de contribuir para um ensino epilinguistico, na esperança de um 
trabalho capaz de desenvolver a criatividade linguística dos alunos e de ampliar-lhes a 
competência para o uso da língua em qualquer propósito comunicativo. 
 
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Brasileira, 1972. 
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______. A língua de Eulália. São Paulo: Contexto, 2015. 
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sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004. 
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fundamental – língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental MEC, 
1998. 
CANDIDO, A. O direito à literatura . Vários escritos. 3.ed. São Paulo: Duas Cidades, 
1995. 
CASTILHO, A. T. de. A língua falada e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: 
Contexto, 2000. 
COSERIU, E. O homem e a sua linguagem. Trad. Carlos Alberto da Fonseca e Mário 
Ferreira. Coleção Linguagem. Rio de Janeiro: Presença, 1982. 
COSSON, R. Letramento literário : teoria e prática. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2014. 
KOCH, I.G.V. Argumentação e linguagem. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. 
LETRAS.MUS.BR. Disponível em:<https://www.letras.mus.br/adoniran-
barbosa/43968/>. Acesso em 11 setembro de 2016. 
MOLLICA, M.C.; BRAGA, M.L. Introdução à sociolinguística. São Paulo: Contexto 
2015. 
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literário. 3. ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977. 
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1995. 
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º 
graus. São Paulo: Cortez, 2001.

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