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1 SUELEN MARTINS EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA 1 SUELEN MARTINS INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA 1 Suelen Martins Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (2019), Mestre em Estudos de Linguagem pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (2013), Especialista em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2008) e graduada em Letras Português/Inglês e suas respectivas literaturas pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (2007). Dedica-se ao estudo da divulgação cien- tífica em matérias jornalísticas brasileiras e norte-americanas a partir dos aspectos que constituem essa prática textual, principalmente, no que tange à perspectiva das metáforas cognitivas utilizadas para esclarecer conhecimentos. Atualmente, é professora de Língua Portuguesa do Colégio Arnaldo e professora titular da Faculdade Arnaldo nos cursos de Ciências Gerenciais, Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e da Saúde e Ciências Humanas. 2 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA 3 © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral:Valdir Henrique Valério Diretor Executivo:William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Design: Aline De Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 1.1 Linguística : Antecedentes ...................................................................................................................................................8 1.2 O objeto de estudo da linguística ..................................................................................................................................10 1.3 Alguns campos de aplicação linguística ..................................................................................................................12 FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................15 2.1 Conceitos e tipos de linguagem ...................................................................................................................................20 2.2 Língua: O que é? ......................................................................................................................................................................21 2.3 Norma .............................................................................................................................................................................................23 2.4 Variação linguística .................................................................................................................................................................25 2.5 Tipos de gramática ................................................................................................................................................................26 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................29 3.1 Sobre o que é Cultura ............................................................................................................................................................34 3.2 O enlace entre Língua e Cultura ...................................................................................................................................36 3.3 Breve história da Língua Portuguesa ........................................................................................................................37 FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................41 A LINGUÍSTICA COMO CAMPO CIENTÍFICO O MUNDO DA LINGUAGEM LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE UNIDADE 4 4.1 A distinção entre oralidade e escrita .........................................................................................................................47 4.2 Gêneros Discursivos ..............................................................................................................................................................49 4.3 Gêneros Orais ..............................................................................................................................................................................51 4.4 Gêneros Escritos .......................................................................................................................................................................53 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................55 FALA E ESCRITA UNIDADE 5 UNIDADE 6 5.1 O que é Comunicação ........................................................................................................................................................60 5.2 Elementos da Comunicação ............................................................................................................................................62 5.3 Funçoes da Linguagem ......................................................................................................................................................63 FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................69 NOÇÕES BÁSICAS DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 6.1 Estruturalismo .............................................................................................................................................................................75 6.2 Funcionalismo ...........................................................................................................................................................................786.3 Gerativismo .................................................................................................................................................................................80 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................83 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................................................86 REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................87 A LINGUÍSTICA MODERNA 6 UNIDADE 1 A Unidade I traz reflexões sobre a Linguística como a ciência que se ocupa em descrever o fenômeno da linguagem e as línguas naturais. Além disso, essa seção apresenta um breve percurso histórico sobre os estudos da linguagem e evidencia alguns campos de aplicação linguística. UNIDADE 2 A Unidade II mostra o conceito de linguagem, o de língua e o de norma, assim como trata a variação linguística como um fenômeno de mudança natural nas línguas. Ademais, essa unidade traz um panorama sobre as diferentes concepções de gramática. UNIDADE 3 A Unidade III discute o conceito de cultura para, logo em seguida, associá-lo à língua. Nesta sessão, será discutida, brevemente, a história externa da Língua Portuguesa como maneira de mostrar que a língua é sensível às diversas culturas. UNIDADE 4 A Unidade IV traz as particularidades da oralidade e da escrita. Essa seção traz a discussão breve sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua visuomotora ou visuogestual. Por fim, são mostradas as características dos gêneros tipicamente orais e escritos. UNIDADE 5 A Unidade V traz a conceituação e quais são as características da comunicação. São evidenciados, segundo a teoria de Roman Jakobson, quais são os elementos comunicativos e quais as funções de linguagem relacionadas a cada um deles. UNIDADE 6 A Unidade VI visa estabelecer um panorama sobre as principais correntes teóricas da Linguística Moderna cujo precursor é Ferdinand de Saussure. Para tanto, a noção de signo linguístico é mostrada. Outras abordagens linguísticas, como o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Gerativismo, são destacadas nesta seção. C O N FI R A N O L IV R O 7 A LINGUÍSTICA COMO CAMPO CIENTÍFICO UNIDADE 01 8 1.1 LINGUÍSTICA: ANTECEDENTES A morfologia (do grego morfo, que significa forma, e logia, que significa estudo) é o estudo da constituição das palavras. De acordo com Borba (2007), a morfologia também trata das condições de estruturação do significante (parte acústica da palavra) e das regras que deter- minam as variações desses significantes. FIQUE ATENTO Neste capítulo, serão aprofundados os conhecimentos sobre a Linguística como uma ciência (do latim scientia cujo significado é aprender ou conhecer) que descreve os fenômenos pertinentes à língua e à linguagem. Será apresentado um breve histórico dos estudos da linguagem e quais são os campos de aplicação linguística. Os primeiros registros de estudo sobre a linguagem remontam à Grécia Antiga sob a figura de dois grandes filósofos: Platão e Aristóteles. Nessa época, os estudos da lingua- gem estavam atrelados às inquietações filosóficas. Figura 1: Platão Fonte: Mendes et al. (2007) Figura 2: Aristóteles Fonte: Mendes et al. (2007). Platão, autor de Crátilo, propôs o questionamento sobre a natureza dos nomes das coisas do mundo. Por outras, ele questionou o porquê de uma cadeira ser denominada cadeira e não pedra. A tese inicial dele foi a de que haveria uma relação entre as palavras, as formas e a natureza dos objetos. Já Aristóteles sugeriu uma classificação das palavras em categorias, como nomes, verbos e conectivos, bem ao gosto do que hoje conhecemos como morfologia. Foi também Aristóteles que, a partir da concepção da linguagem como expressão do pensamento, portanto, comum a todos os homens, aventou a possibilidade de uma gramática universal, conceito posteriormente tratado no Humanismo. 9 Graças à ideia de gramática universal de Aristóteles surgiu o conceito de gramática especulativa em que a língua era tratada como um espelho do raciocínio. Vigoravam nessa perspectiva, segundo Azeredo (1990), a noção de diferenças circunstanciais e acidentais entre as línguas e o estudo da sintaxe a qual trata da organização das palavras e da relação estabelecida por estas no enunciado. Adiante, em um contexto de Idade Média, o latim era a língua que se sobressaia como oficial em contextos culturais e científicos e, como denota Guimarães (2014, p. 06), “as línguas derivadas do latim – como o italiano, o francês, o espanhol e, é claro, o nosso português – eram consideradas ‘impuras’ e ‘inferiores’ assim como o alemão e o inglês [...]”. Com a organização em Estados Modernos, a necessidade de uma língua (vernácula) re- presentativa dessas nações emergiu, o que ocasionou a derrocada do latim como a língua predominante até então. Se outrora os pensadores usavam o latim em suas comunicações, nesses estados, esses intelectuais se valiam das línguas locais de cada país. Para saber mais sobre o percurso histórico dos estudos da linguagem, leia o livro Linguística I (2014), organizado por Thelma de Carvalho Guimarães, está disponível em: https://bit.ly/3i2r8Ov. Acesso em: 20 maio 2021. BUSQUE POR MAIS Nesse contexto, surgiu a Grammaire Gé- nérale et raisonnée (Gramática geral e racional), de 1660, ou Gramática de Port-Royal, de Antoine Arnauld e Claude Lancelot, fruto da comparação entre línguas como o latim, o grego, o hebraico e as línguas modernas europeias. Essa gramática é considerada descritiva (por descrever as línguas) e comparativa (por comparar as línguas). Subjacente a essa gramática, predomi- nava a ideia de língua como fruto de razão, já que o pensamento é lógico e racional. Desse modo, a língua era vista como um espelho do pensamento e essa gramática, então, pode ser considerada es- peculativa. Figura 3: Gramática de Port-Royal Disponível em: https://bit.ly/3fpFUNr Acesso em: 10/02/2021. https://bit.ly/3i2r8Ov. https://bit.ly/3fpFUNr 10 Quais seriam as condições históricas do aparecimento da Gramática de Port-Royal? Essa gra- mática influenciou outro modelo teórico dos estudos linguísticos? Em qual medida? VAMOS PENSAR? Com a chegada do século XIX, os estudos sobre a linguagem passaram a ser históri- cos e comparativos. O representante desde momento é Franz Bopp que escreveu em 1816, segundo Guimarães (2014), o livro Sobre o sistema das conjugações da língua sânscrita, comparado com o das línguas grega, latina, persa e germânica sobre linguística histórica. Nesse novo contexto, a busca por uma base comum entre as línguas surgiu para justificar os traços semelhantes entre línguas distintas como aquelas que fazem parte do indo-eu- ropeu, como o espanhol, o português, o francês, o italiano, a saber. Dessa análise, surgiram duas significativas reflexões para a linguística: as línguas mudam com o correr do tempo e nascem da oralidade. De acordo com o Dicionário de linguística e gramática, de Câmara Junior (2002), o indo-eu- ropeu é uma língua pré-histórica, falada há mais ou menos três mil anos antes de Cristo em uma região não definida da Europa Oriental. Essa língua teria se espalhado pela Ásia e pela Europa devido ao movimento migratório. FIQUE ATENTO Apesar de todos os esforços dos estudiosos da linguagem como demonstrado an- teriormente, a linguística ganhou status de ciência com o suíço Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra, conhecido como o “pai do Estruturalismo” (capítu- lo 6), autor da obra seminal Curso de linguística geral, publicada em 1916, postumamente pelos discípulos de Saussure a partir das anotações deles das aulas assistidas. Foi graças a ele que a linguística foi posta comouma ciência autônoma, dissociada da filosofia e da história. A contundência das observações de Saussure serviu como referência para outras áreas como a antropologia e a sociologia. As ideias de Ferdinand de Saussure sobre signo linguístico, arbitrariedade do signo, signifi- cante e significado serão mais bem retratadas no capítulo 06. FIQUE ATENTO 1.2 O OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA A partir do panorama traçado anteriormente, afirma-se que Linguística é uma ci- ência que se interessa pela observação e pela descrição dos fenômenos relacionados à linguagem verbal e à língua natural. A Linguística não pretende, no entanto, prescrever regras para os usuários da língua, já que é analítica e descritiva. Os estudos linguísticos, por um lado, centravam-se na observação das mudanças da 11 língua ao longo do tempo, ou seja, adotavam um viés diacrônico ou histórico. Para Câmara Junior (2002), diacronia foi um termo adotado por Saussure para se referir à transmissão de uma língua em uma perspectiva transgeracional (diz respeito às várias gerações) por meio do tempo e marcada pela evolução linguística. Por outro lado, os estudos da língua podem ganhar contornos sincrônicos, quer di- zer, preocupam-se com a descrição do funcionamento simultâneo da língua. A observação sincrônica da língua necessita de demarcação temporal e de quais usos serão analisados a partir de um corpus – coleção de textos orais ou escritos para análise, marcando uma di- mensão mais estática. Ainda que se faça essa distinção didática sobre as possibilidades do estudo da língua, diacronia e sincronia se completam e alguns estudiosos não conseguem conceber uma perspectiva separada da outra. Borba (2007) registra as línguas naturais como aquelas faladas por comunidade humana, como o português, o inglês e o japonês. Já as línguas artificiais são criadas por um pequeno grupo de pessoas com um determinado objetivo, geralmente, científico, por exemplo, o espe- ranto. FIQUE ATENTO A Linguística visa compreender as particularidades das línguas e se esforça para analisar o funcionamento que está na base delas, de modo a descobrir “aspectos univer- sais essencialmente humanos” (MARTELOTTA, 2008, p. 16). Pode-se afirmar que o linguista, aquele que se dedica aos estudos da língua e da linguagem, parte de traços que se sobres- saem nas línguas para formulam possíveis generalizações. Ainda que várias línguas sejam estudadas, a Linguística não se ocupa de hierarquizá-las em mais ou menos evoluídas pelo contrário o trabalho desta ciência é mostrar resultados advindos de análises linguísticas. No que diz respeito à análise da linguagem, há de se considerar algumas particula- ridades da linguagem. A linguagem apresenta algumas características como a simboliza- ção, a articulação, a regularidade, a intencionalidade e a produtividade. A primeira característica é concernente ao fato de essa capacidade humana operar com elementos que representam a realidade, mas sem a constituir em si. Esse fator permi- te que seja realizado um filtro da realidade. A segunda característica refere-se ao fato de a linguagem ser atrelada a um ato comunicativo ser analisável em vários níveis complexos. A terceira característica diz respeito ao fato de as manifestações linguísticas serem recor- rentes devido ao fato de a linguagem ocorrer graças a um sistema linguístico. A quarta relaciona-se ao fato de toda comunicação ter um propósito e se relacionar a algo. A quinta e última característica diz respeito à linguagem conter mecanismos para produzir uma infinidade de mensagens, ou seja, ser produtiva. A linguagem seria objeto de estudo só da Linguística? A Linguística é uma área interdiscipli- nar? VAMOS PENSAR? 12 A Linguística, sendo uma ciência, apresenta-se como uma forma de adquirir co- nhecimento por meio de um método (do grego methodos; met’hodos), segundo Tartuce (2006, p. 11), “o caminho em direção a um objetivo”. Há a observação de um objeto, enun- ciados da língua, a formulação de perguntas sobre esse objeto, bem como a formulação de perguntas sobre esses enunciados e as possíveis hipóteses. A análise desses enunciados se dá a partir de princípios teóricos e terminologia própria de uma das áreas da linguística. Assim, são gerados resultados e tiradas conclusões sobre esse objeto. 1.3 ALGUNS CAMPOS DE APLICAÇÃO LINGUÍSTICA Os estudos linguísticos, atualmente, estão concentrados em duas perspectivas, para Martelotta (2008, p. 28), “a microlinguística e a macrolinguística” – a primeira se concentra na língua em si, remete a uma ideia mais restrita do escopo dos estudos linguísticos, e a segunda atem-se a todas as relações entre a língua e o que está ‘fora dela’ (cultura, socie- dade, psicologia etc.), constituindo assim uma visão mais ampla dos estudos linguísticos. Os trabalhos da microlinguística são considerados mais tradicionais e tratam das partes que compõem as línguas; já os trabalhos da macrolinguística são atentos à análise social da língua. A seguir, o esquema 1 ( Figura 4) com a relação entre essas perspectivas da área de Linguística. Figura 4: Microlinguística e macrolinguística Fonte: Weedwood (2002) O livro História Concisa da Linguística (2002), de Barbara Weedwood, tradução de Marcos Bagno, está disponível em: https://bit.ly/3foH7or . Acesso em: 21 maio 2021. BUSQUE POR MAIS Como é possível notar a partir do esquema acima, a Linguística é um campo vasto e com várias frentes de atuação, sendo a microlinguística o núcleo duro e tradicional dos estudos da língua e a macrolinguística a preocupação com a língua e a função social dela. A seguir, o esquema 2 ( Figura 5) apresenta, sucintamente, os campos de aplicação https://bit.ly/3foH7or 13 da microlinguística Figura 5: Microlinguística Fonte: Elaborado pela Autora (2021) Algumas possibilidades de estudo da microlinguística são trazidas a título de ilustra- ção. As pesquisas em fonética envolvem, por exemplo, a análise de produção de sons pelos seres humanos (s/z) e a verificação da qualidade física e percepção de unidades sonoras. Já os estudiosos da fonologia podem analisar e justificar certas regularidades na fala de um determinado grupo a partir de uma gravação. As pesquisas em morfologia podem abarcar observações o uso de sufixos na criação de novas palavras na língua (neologismos). Nas pesquisas sintáticas, o linguista estuda a combinação de formas livres a partir de critérios de linearidade, quer dizer, é aceitável a sentença: “Vejo minha avó sentada no sofá”, enquanto a sentença: “Minha sentada vejo no sofá avó”, é agramatical – não está de acordo com as regras da nossa gramática. Os estudos da semântica podem abarcar a polissemia de uma palavra como em: “A manga da minha camisa é longa” e em: “Eu como manga”. Bem como se detém a estudar a ambiguidade, um fenômeno marcado pela duplicidade não intencional do significado de uma palavra ou de um trecho, considerada maligna à compreensão textual. Você poderia desenhar metodologicamente um exemplo de pesquisa da área de lexicologia? VAMOS PENSAR? A seguir, o esquema 3 (Figura 6) apresenta, sucintamente, os campos de aplicação da macrolinguística. Figura 6: Macrolinguística Fonte: Elaborado pela Autora (2021) 14 Algumas possibilidades de estudo da macrolinguística são trazidas a título de exem- plificação. O estudo sobre a construção de um texto e os elementos de textualidade envol- vidos nessa produção constitui um exemplo de pesquisa em Linguística Textual. A análise do funcionamento do contrato de comunicação em textos de divulgação científica carac- teriza uma pesquisa em análise do discurso. Ao estudar as especificidades do dialeto rural de uma dada região brasileira, o linguista está fazendo uma pesquisa em sociolinguística. Na área de Psicolinguística, pode haver um estudo sobre a dislexia e suas consequências para a aprendizagem de língua. A partir do esquema 3, como seriam as pesquisas da macrolinguística nas áreas não mostra- das noparágrafo acima? VAMOS PENSAR? 15 1. A ciência que estuda as línguas é a Linguística. A partir desse conhecimento, marque V para as proposições verdadeiras e F para as proposições falsas. ( ) A Linguística está voltada às explicações dos fatos que acontecem com a língua e dos fatos linguísticos. ( ) A Linguística é a área que se preocupa com a natureza da linguagem e da comunicação. ( )A Linguística apresenta relação com outras áreas voltadas para o estudo das línguas áreas como a: educação, antropologia, sociologia, psicologia cognitiva, por exemplo. ( ) A Linguística se ocupa de estudar questões relativas à língua e não à linguagem humana. Assinale a alternativa correta: a) F – V –F – F. b) F – V – V – V. c) V – V – V – F. d) F – F – V – V. e) V – V – V – V. 2. A microlinguística concentra-se no estudo da língua em si. Associe as duas colunas, relacionando o campo de estudo à sua definição. 1ª coluna 2ª coluna 1. Fonologia ( )Estuda a formação e a estruturação dos morfemas. 2. Semântica ( )Estuda as relações de significação das palavras. 3. Morfologia ( )Estuda como são produzidos e combinados os fonemas. 4. Sintaxe ( )Estuda como as palavras se organizam para formar enunciados. Assinale a alternativa correta. a) (1), (2), (3), (4). b) (2), (4), (3), (1). c) (2), (3), (4), (1). d) (3), (2), (1), (4). e) (4), (3), (2), (1). 3. (ENADE) Entre os conteúdos que fazem parte da trajetória acadêmica do graduando em Letras, destacam-se os níveis de análise da língua, os quais permeiam os estudos de aquisição da língua materna e tornam-se, portanto, referência básica nos estudos da linguagem. SCARPA, E. M. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado). Nesse contexto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. FIXANDO O CONTEÚDO 16 I. Nos estudos sobre aquisição da língua materna, a aquisição do sistema entonacional, da acentuação e da estrutura silábica pertence ao nível fonológico, entretanto, tais processos contribuem para o desenvolvimento dos níveis morfológico, sintático, semântico e pragmático, embora sejam estudados separadamente. PORQUE II. Os níveis de análise da língua estabelecem redes de relações entre si e, portanto, o estudo do funcionamento de cada nível, de forma estanque, deve ser considerado um critério meramente metodológico. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta. a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são proposições verdades, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições falsas. 4. (UNIMONTES) Em relação à Linguística do Texto, podemos afirmar que I. Desprezou a importância da pragmática nas pesquisas sobre o texto. II. Deu pouca importância à competência textual. III. Possui 3 (três) momentos: o da análise transfrástica, o das gramáticas textuais e o da linguística do texto. IV. Passou a ter como centro de preocupação não apenas o texto em si, mas também o contexto. As afirmativas corretas são a) III e IV, apenas. b) I e II, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II, III e IV. e) I e IV, apenas. 5. (CONTEMAX – adaptada) “É sempre necessário que as circunstâncias em que as palavras forem proferidas sejam de algum modo, apropriadas”. (AUSTIN, 1990) A linguagem é entendida, na perspectiva da Pragmática, como uma atividade intersubjetiva e intencional. Desse modo, as práticas discursivas são as linguagens em ação em que os indivíduos produzem sentidos e se posicionam em suas relações sociais do dia a dia. A linguagem que se processa entre falantes e interlocutores é sempre uma linguagem social, que produz ações e consequências. Estas ideias acerca da linguagem e das práticas discursivas têm como base a teoria dos atos de fala desenvolvida por Austin (1976), em que é possível fazer através do dizer. 17 É incorreto afirmar sobre a polidez na comunicação: a) A perspectiva da Pragmática concebe a polidez como uma atividade social que objetiva contribuir para que as interações transcorram de modo equilibrado e harmônico. b) Como regra de convivência, a polidez posiciona identitariamente os indivíduos em diferentes contextos e ocasiões. c) Em uma situação comunicativa, os indivíduos manifestam apenas sua própria face, e não do grupo a que pertencem. d) A polidez está relacionada à face ou à autoimagem pública, que é monitorada tanto pelo falante, quanto por seu interlocutor durante a interação. Os conceitos de face e polidez encontram-se intrinsecamente relacionados. e) A linguagem politicamente correta serve como propósito de conscientizar os falantes de certo fenômeno linguístico que apenas reflete e consagra uma prática social de preconceito. 6. Leia o fragmento a seguir. “A linguística é uma ciência __________, referente ao homem e à sua __________, como a sociologia, a antropologia cultural e a __________ coletiva; mas também assenta em dados das ciências biofísicas, ou da Natureza, como a biologia [...]”. (CÂMARA JUNIOR, 1986) Assinale a opção cujos itens completam as lacunas do fragmento acima. a) Antropologia, cultura, neurológica. b) Antropológica, cultura, psicologia. c) Biológica, vida, noção. d) Social, cultura, psicologia. e) Sociológica, psicologia, ciência. 7. Leia o trecho a seguir para responder à questão. “Já no século XVII, foi criada entre as chamadas gramáticas gerais, muitos comuns na época, a _________ (1660), sobre a qual se assentaram estudos lógico-linguísticos que caracterizavam as buscas reflexivas sobre linguagem do período”. (CECATO, 2017, p. 23) Assinale a opção cujo item completa a lacuna do fragmento acima. a) À gramática geral. b) À gramática gerativa. c) À gramática normativa. d) À gramática de port-royal. e) À gramática tradicional. 8. Assinale a alternativa correta sobre a Linguística. a) A gramática especulativa partia do princípio de que a língua não reflete a realidade subjacente aos fenômenos do mundo físico. 18 b) As primeiras discussões dos filósofos gregos sobre a linguagem centravam-se na relação entre o pensamento e a palavra. c) A Linguística é autônoma em relação às outras ciências por causa de seu objeto de análise: a linguagem humana. d) A gramática especulativa da Idade Média aproxima-se da tradição filológica na medida em que preconiza o método dedutivo. e) A Linguística é autônoma em relação às outras ciências por causa de seu objeto de análise: a linguagem química. 19 O MUNDO DA LINGUAGEM UNIDADE 02 20 2.1 CONCEITO E TIPOS DE LINGUAGEM Neste capítulo, serão apresentados os principais conceitos a serem instrumentaliza- dos nos estudos linguísticos. Serão propostas reflexões sobre o conceito de linguagem, de língua, de norma, de variação linguística e de tipos de gramática. Essas noções são impres- cindíveis para o entendimento da Linguística enquanto ciência. A linguagem é a faculdade particular do ser humano de se comunicar com inte- grantes de uma dada comunidade por meio da língua (seção 2.2), é o que nos distingue dos animais. Em outras palavras, para Fiorin (2013, p. 13-14), “a linguagem responde a uma necessidade natural da espécie humana, a de comunicar-se. No entanto, ao contrário da necessidade de comer, dormir, respirar, manter relações sexuais etc., ela não se manifesta de maneira natural”. Estes se comunicam, mas não possuem uma linguagem no sentido humano, a qual pressupõe um diálogo. É por meio da linguagem que o homem percebe o mundo e organiza sua experiência no mundo. Alguns linguistas defendem concepções de linguagem de acordo com as correntes teóricas nas quais estão inseridos.A depender dessa corrente, predominam algumas ca- racterísticas como apresentadas no esquema a seguir. Figura 7: Concepções de linguagem Fonte: Elaborado pela Autora (2021) A linguagem pode manifestar-se por meio não-verbal, verbal ou misto como mos- tram as figuras a seguir. Essas diferentes manifestações da linguagem são capazes de pro- duzir sentido. Figura 8: Linguagem não-verbal Disponível em: https://bit.ly/2R1Ai2O. Acesso em: 20 maio 2021. https://bit.ly/2R1Ai2O 21 Figura 9: Linguagem mista Disponível em: https://bit.ly/3vsXwOe. Acesso em: 20 maio 2021. Figura 10: Linguagem mista Disponível em: https://bit.ly/2SwBw6r. Acesso em: 20 maio 2021. Pelos exemplos, nota-se que a linguagem não verbal não apresenta palavras em sua organização como ocorre na dança, na mímica, na pintura, na fotografia, na escultura, en- tre outros. Já a linguagem verbal é aquela que se vale da palavra (oral ou escrita) para a comunicação como acontece em contos, em crônicas, em haicais, em artigos de opinião, em e-mails, entre outros. Por fim, a linguagem mista organiza-se por meio da palavra e dos elementos não verbais como acontece nas tirinhas, nas charges, nas histórias em quadri- nho, em cartazes, em publicidades, entre outros. Quais são os indícios de que a linguagem é de fato uma faculdade exclusivamente? VAMOS PENSAR? A ideia de língua muitas vezes é confundida com a de linguagem, é multifacetada e pode ser estabelecida a partir de uma gama teórica. Ainda que especulada sob diferentes vieses, há, subjacente a essas visões, a noção de linguagem manifestada por intermédio da língua. Para Cecato (2017, p.28), a língua “pode ser definida como sistema pelo qual um conjunto de falantes se comunica”, o que denota uma concepção de língua como uma estrutura, um sistema constante, tendo o social como pano de fundo. Por outro lado, sob uma visão bakhtiniana, a língua não é um objeto abstrato, pau- tada na rigidez e em sua natureza individual. Para Bakhtin (2010b, p. 15), “todo signo é ide- ológico; a ideologia é um reflexo das estruturas sociais; assim, toda modificação da ideo- logia encadeia uma modificação da língua”. Sendo assim, fica expresso que, para Bakhtin (2010b), a língua é associada à sua natureza social e às suas condições de comunicação; a língua é viva, maleável, variável e dirigida por leis sociais. 2.2 LÍNGUA : O QUE É? https://bit.ly/3vsXwOe https://bit.ly/2SwBw6r 22 A língua está em constante mudança, e a palavra é instrumento que sinaliza essa instabili- dade ainda que socialmente não se perceba isso. Nesse sentido, ainda que Bakhtin e o círcu- lo tenham veiculado essa ideia, no início do século XX, ela continua perceptível e atual. FIQUE ATENTO Conciliando as duas formas de entender a língua – como sistema e como fato social – surge a figura de Benveniste (1991), responsável por refletir sobre o papel da subjetividade (capacidade de o falante se colocar como sujeito) nos estudos linguísticos. Isso pode ser respaldado por Noble, Simões e Medeiros (2017, p. 19) ao afirmarem que “a língua é uma estrutura e também um fato social, porque a sociedade não é possível sem a língua, e a lín- gua não deixa de ser um sistema organizado de signos”. Em suma, para Benveniste (1991), o sujeito se apropria da língua e faz o uso dela em um contexto, “entendido como o entorno mais imediato no interior do texto e tudo aquilo que está para além do verbal, mas com ele contribui para que o sentido se produza” (NOBLE, SIMÕES e MEDEIROS, 2017, p. 78), ou melhor, a situação de comunicação. Em termos didáticos, no quadro 1, algumas das principais concepções de língua e suas características são apresentadas sinteticamente. Há de se alertar que essas concep- ções, para alguns estudiosos, como Martelotta (2008) são atribuídas à linguagem. Acredi- ta-se que isso se deva ao fato de que língua e linguagem estão intrincadas em uma relação de pertencimento. CONCEPÇÃO DE LÍNGUA CARACTERÍSTICAS REPRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO A língua é o espelho do pensamento e as circunstân- cias não afetam o funcionamento daquela. Nessa con- cepção, prevalece a ideia de que, se alguém se expres- sa mal, é porque não pensa. FORMA OU ESTRUTURA A língua é um sistema de regras ou um sistema de signos (significante – parte acústica da palavra e signi- ficado – parte conceitual da palavra). INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO A língua é um código e é capaz de transmitir uma mensagem de um emissor a um receptor. Nessa con- cepção, a língua é tida como um instrumento de fácil manuseio, a transmissão de informações seria natural e a compreensão seria objetiva. ATIVIDADE SOCIOINTERATIVA A língua é uma atividade tem fundamentação cogniti- va, sócio-histórica e sociointerativa. Nessa concepção, a língua não é autônoma, nem abstrata. Quadro 1: Concepções de língua Fonte: Adaptado de Marcuschi (2009) 23 Cada linguista pode optar por uma concepção de língua em seus estudos. Além disso, cada uma dessas abordagens de língua pode influenciar, a saber, a forma como a língua é ensina na escola. O mais importante nesse processo é ter posicionamento em re- lação à escolha que faz. Relacione os conceitos de língua e de linguagem, mostrando seus pontos de contato. VAMOS PENSAR? 2.3 NORMA De maneira geral, a palavra “norma” significa diretriz, princípio ou regra. Do ponto de vista linguístico, esse termo pode ser explicado como no esquema 5 ( Figura 11) a seguir. Figura 11: Norma Fonte: Elaborado pela Autora (2021) A contar com o esquema 4, o primeiro conceito refere-se ao que é normal ou habitu- al em uma comunidade de fala – um grupo social que partilha do uso de determinadas ca- racterísticas linguísticas –, por isso, encerra uma realidade linguística, ou seja, o que de fato ocorre no uso. Já o segundo conceito alude à tentativa de regularizar, controlar, normatizar o uso linguístico por parte dos falantes. Sendo assim, uma língua é considerada “boa e adequada” para o uso. Fica exposta, então, uma visão prescritiva em prol da boa utilização da língua em oposição ao que de fato é socialmente usado, fruto de uma diversidade ou variação linguística (seção 2.4). Surge dessa maneira a ideia de norma padrão que é uma forma “correta” de escrever ou de falar. Essa normatização é uma idealização, pois nem as pessoas consideradas cultas e pertencentes a uma elite cultural, como professores, intelectuais, acadêmicos, escritores e jornalistas, falam ou escrevem exatamente de acordo com essa norma. Mesmo assim, ve- rifica-se que esse parâmetro ainda determina qual é a concepção de língua predominante na sociedade e qual gramática deve ser ensinada na escola. Para ilustrar como funciona esse fato, cita-se o caso do uso de pronome oblíquo átono. Segundo a norma padrão da língua portuguesa, deve-se privilegiar o uso de ênclise, pronome átono depois do verbo no início de frase, por exemplo, “Inicia-se agora a cerimônia”. No uso corrente, no entanto, no- ta-se a prevalência da próclise, inserção do pronome átono antes do verbo, “Se inicia agora a cerimônia”, o que comprova a ineficiência de um padrão. Oswald de Andrade (1972), no poema “Pronominais”, mostra a dificuldade de se fazer cumprir sempre a norma padrão como mostra a figura 12 a seguir. 24 Figura 12: Pronominais Fonte: Andrade (1972) A necessidade de uma padronização do uso linguístico, conforme Guimarães (2014), foi imposta pelos portugueses, no século XV, e apresentou algumas justificativas como ex- posto no esquema 6 ( Figura 13) a seguir. Figura 13: Padronização da norma Fonte: Elaborado pela Autora (2021) A primeira causa da padronização, a uniformização da língua, tem relação com a ins- tituição de uma referência de uso da língua para escrever textos. A segunda, construção de identidade, diz respeito à tentativa de diferenciar o português do espanhol. A terceira e úl- tima, valorização da língua, corresponde à normatização em prol do prestígio de escritores e intelectuais. Embora, a norma padrão do português de Portugalde outrora seja diferente do português de hoje, essa iniciativa influencia o movimento de norma padrão no Brasil. Por fim, vale a reflexão que quase sempre a norma padrão é confundida com a nor- ma culta talvez porque aquela seja baseada “nos hábitos linguísticos de seus falantes mais cultos” (GUIMARÃES, 2012, p. 42). Faz-se, no entanto, em termos didáticos, a distinção entre elas. A primeira trata-se de um modelo idealizado ou de um conjunto de parâmetros ho- mogeneizadores do uso linguístico enquanto a segunda revela usos típicos de um grupo de falantes tidos como cultos, pessoas da zona urbana com elevado grau de escolaridade e adeptos à cultura escrita. 25 Como vimos, a norma padrão é um parâmetro de uso da língua a ser seguido por ser consi- derado correto. A partir do momento em que essa norma é contrariada, surge um fenômeno chamado preconceito linguístico. Segundo Bagno (2007), linguista que ventilou esse concei- to, trata-se de uma forma de julgamento negativo, uma discriminação arraigada em nossa sociedade a qual é praticada contra as pessoas que usam variedades linguísticas diferentes daquela de prestígio. FIQUE ATENTO As línguas naturais não são estáticas e mudam, uma vez que são organismos vivos. Essas mudanças são denominadas variação linguística e refletem uma transformação so- cial, de acordo com Guimarães (2012), no nível diacrônico – variação na estrutura da língua ao longo do tempo – e no nível sincrônico – variação em um dado momento da língua. 2.4 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Para entender mais sobre variação linguística sincrônica e diacrônica, leia o capí- tulo 2 do livro Comunicação e Linguagem (2012), de Thelma de Carvalho Guima- rães, disponível em https://bit.ly/3hYgkkv Acesso em: 20 maio 2021. BUSQUE POR MAIS As variedades linguísticas sincrônicas são: Figura 14: Variedades linguísticas Fonte: Elaborado pela Autora (2021) A variação diatópica é relacionada às diferenças observadas no uso da língua segun- do a região em que o falante se encontra. Essa variação ao nível da pronúncia, da morfo- logia, da sintaxe ou do vocabulário e pode ocorrer entre estados, cidades e regiões de um mesmo lugar. Por exemplo, o vocábulo mandioca pode ganhar inúmeras denominações de acordo com a região do Brasil como: mandioca (Minas Gerais), macaxeira (Nordeste), aipim (Rio de Janeiro e algumas regiões de São Paulo) e maniva (Pará). A variação diastrática diz respeito às diferenças reparadas na língua a partir de al- guns critérios tais como: a) nível de escolaridade (pessoas com níveis de escolaridade dis- tintos usam a língua de formas diferenciadas em se tratando de norma padrão) b) faixa etária (pessoas de diferentes gerações usam a língua de maneira dessemelhante, c) sexo (homens e mulheres usam a língua diferente com privilégio do uso da norma padrão pe- las mulheres), d) profissão (pessoas de diferentes profissões usam vocabulário próprio – https://bit.ly/3hYgkkv . 26 jargão), e) grupos sociais (pessoas de grupos sociais diferentes usam a língua de forma diferente – surfistas e funkeiros). Por exemplo, o avô pode usar a palavra supimpa para se referir a algo magnífico enquanto o neto pode usar a expressão da hora. A variação diamésica tem relação com a dicotomia oralidade e escrita (capítulo 3). Oralidade e escrita são diferentes a começar pelo contexto de produção e recepção de texto. Para Guimarães (2012, p. 47), “[...] na comunicação oral, eles são simultâneos – à medi- da que você fala, seu interlocutor ouve; já na comunicação escrita, existe uma defasagem entre o momento de produção e o de recepção”. Por exemplo, se fala algo com o meu in- terlocutor e ele não entende, prontamente, posso desfazer o mal-entendido, já na escrita, o interlocutor não conta com a possibilidade de explicar o que queria comunicar, sendo assim, o texto precisa estar claro de antemão. A variação diafásica diz respeito à diferença de registro, ou seja, nível de linguagem ou grau de formalidade. Segundo diversas situações de comunicação, escrita ou falada, o sujeito será condicionado a usar a língua de modo mais ou menos formal. Por exemplo, uma pessoa, ao conversar com chefe, por videoconferência sobre os últimos relatórios en- viados por e-mail, tenderá a usar a língua de uma maneira mais formal, enquanto essa mesma pessoa, ao estar entre colegas de trabalho, sexta-feira à noite, em um happy hour, tenderá a usar a língua mais informalmente. • A música “Tiro ao Álvaro”, de Adoniran Barbosa, interpretada por Elis Regina, traz exemplos de variação linguística. Link: https://youtu.be/eUJ8YNkMOBI. Acesso em: 20 maio 2021. • O livro “A língua de Eulália: novela sociolinguística” (2010), de Marcos Bagno, está disponível em: https://bit.ly/3yL4XCz . Acesso em: 20 maio 2021. BUSQUE POR MAIS 2.5 TIPOS DE GRAMÁTICA A gramática refere-se aos estudos relativos à estrutura e ao funcionamento da lín- gua. Além da ideia de gramática tradicional, há outros pontos de vista existentes e cada um deles revela subjacentemente uma concepção de língua e de linguagem. No quadro 2, ficam expressas essas visões e suas características. https://youtu.be/eUJ8YNkMOBI https://bit.ly/3yL4XCz 27 PONTOS DE VISTA DE GRAMÁTICA CARACTERÍSTICAS Tradicional ou Normativa Conjunto de normas a serem seguidas, tem caráter prescritivo. Nessa gramática, vigora a concepção de língua como forma de expressão observada e produzi- da por pessoas cultas. O erro é considerado tudo que foge à norma padrão da língua, o que demonstra uma reflexão incompleta da língua. Histórico-comparativa Diz respeito às mudanças internas de uma língua sob a perspectiva temporal e espacial. Essa gramática tinha como intuito a comparação entre línguas para aferir parentesco entre elas. Descritiva Descreve como ocorre a língua sem prescrever regras. Nessa gramática, segundo Possenti (1996), nenhum dado é desqualificado como não pertencendo à lín- gua, e as regras são variáveis, pois a língua é variável. O erro é tudo que não faz parte das construções da língua; é o agramatical. Internizada Conjunto de regras que o falante domina, pois já nasce dotado de uma gramática. Na época da ponderação sobre a gramática internalizada, surge a ideia de gra- mática universal. A gramática internalizada é objeto da gramática descritiva. Cognitivo-funcional Diz respeito à estrutura da língua e às situações de comunicação como a intenção e o perfil do falante, o contexto de comunicação. Por outras palavras, fatores comunicativos e cognitivos são considerados nessa gramática. Quadro 2: Pontos de vista de gramática Fonte: Elaborado pela Autora (2021) Muitas são as concepções de gramática, no entanto, no ambiente acadêmico um tipo é mais privilegiado. Qual seria essa gramática valorizada? Você saberia justificar a razão desta pre- ferência? VAMOS PENSAR? A gramática tradicional tem origem em uma base filosófica. Ganhou relevo entre os gregos, Aristóteles que relacionou linguagem e lógica além de compreender a linguagem como espelho do pensamento. Essa gramática tinha caráter normativo, aquela que “assu- mia a incumbência de ditar padrões que refletissem o uso ideal da língua grega” (MARTE- LOTTA, 2008, p. 46). A gramática histórico-comparativa tem pretensões no estudo das línguas sob o viés diacrônico, portanto, visa ao estudo das variações da língua no tempo à comparação entre línguas, a fim de checar similaridades entre elas. A gramática descritiva descreve estruturas da língua como sistema autônomo, sua 28 forma e sua função. Essa gramática mostra quais elementos constituem o sistema daquela língua e como se organizam nesse sistema. A gramática internalizada é uma estrutura inata, como se fosse “um chip” que o ser humano possui, “constituída de um conjunto de princípios gerais que impõem limites na variação entre as línguas” (MARTELOTTA, 2008, p. 59). O indivíduo já nasce com essa gra- mática, não sendo possível ensiná-la à pessoa. A gramática cognitivo-funcionalcontempla os elementos linguísticos e o discurso, ou seja, essa gramática associa aspectos da língua, da cognição, da interação e do uso. No século IV a.C., os gramáticos hindus, com destaque para Panini, dedicaram-se a descre- ver a sua língua a partir de modelos de análise que influenciaram estudiosos modernos da língua como Chomsky. FIQUE ATENTO 29 1. (ENADE - adaptada) Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu vim catar verdura, sempre acho uns tomate, umas cenoura, uns pimentão por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra comer... Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. Quase desmaiei até. Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, imagine: fiquei de pernas bamba. Me deu até tontura. Acho que também por causa do fedor... Uma carniça que só o senhor cheirando, pra saber. Mas eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa lixeira! Nessa aqui! Coitadinho... Deve ter se esgoelado de tanto chorar. A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, cheinha de tapuri. Eu nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei morrendo de pena... E de medo, também... Os olho... É do que mais me alembro... Esbugalhados, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai! Soltei um berro e saí correndo. FONTE: SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação linguística e texto literário: perspectivas para o ensino. Caderno do CNLF, v. XIV, n. 4. T. 4, 2010, p. 3310. Avalie as afirmações a seguir. I. A redução do verbo “estar”, como em “tá” e “tava”, é uma característica evidenciada na fala de sujeitos escolarizados e não escolarizados. II. A eliminação da marca de plural, como em “os pedaço” e “pernas bamba”, é um traço das variedades linguísticas populares faladas e escritas. III. A prótese do fonema /a/ em “alembro” é uma característica associada à história da língua portuguesa. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. 2. (ENADE – adaptada) O seguinte diálogo entre uma mãe (A) e sua filha de 2 anos(N) foi transcrito como foi falado. A: “E o que você fez, depois, meu bem?” N: “Eu fazi o favô de i lá pa ela.” A: “Ah, é? E daí?” N: “Eu tússi o pacotchi pa ela.” A: “Que lindinha! Você gosta da vovó?” N: “Eu amu ela.” FIXANDO O CONTEÚDO 30 Essa fala é um bom exemplo para ser usado por um professor em sala de aula porque revela que: a) N, como interlocutora, está aprendendo sua língua na interação, pautada pelo foco na comunicação. b) N, como ainda é nova, está errando muito no seu modo de falar, porque não interiorizou a gramática padrão. c) N, como falante nativa, está-se apropriando da língua padrão, sendo o seu falar uma peculiaridade indevida. d) A, como mãe e interlocutora adulta, não corrige a filha, mas deveria corrigi-la para ela aprender a metalinguagem. e) A, como mãe e interlocutora adulta, não corrige a filha, porque desconhece a gramática normativa e, assim, aceita tudo o que é dito pela filha pequena. 3. (ENEM – adaptada) Leia a tirinha. Nesse contexto, percebe-se, na tirinha, uma crítica: a) À falta de assistência familiar no que se refere à educação escolar dos filhos. b) À língua em si, cheia de regras e normas gramaticais desnecessárias. c) À escrita dos livros em linguagem muito rebuscada, dificultando o entendimento dos leitores. d) À influência dos estrangeirismos na língua, em especial, daqueles provenientes do inglês. e) Ao ensino da língua que, devido à metodologia utilizada, desestimula os alunos. 4. (ENEM) As dimensões continentais do Brasil são objeto de reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse tema aparece no seguinte poema: “[...] Que importa que uns falem mole descansado Que os cariocas arranhem os erres na garganta Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais? Que tem se o quinhentos réis meridional Vira cinco tostões do Rio pro Norte? Junto formamos este assombro de misérias e grandezas, Brasil, nome de vegetal! [...]” Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo: Martins Editora, 1980. O texto poético ora reproduzido trata das diferenças brasileiras no âmbito: a)Étnico e religioso. b) Linguístico e econômico. 31 c) Racial e folclórico. d) Histórico e geográfico. e) Literário e popular. 5. (ENADE) Disponível em: https://descomplica.com.br O texto exemplifica a variedade linguística: a) Diatópica (geográfica). b) Diacrônica (de tempo). c) Diafásica (formal/informal). d) Diamésica (modalidade oral/escrita). e) Diastrática (camada social/profissional). 6. (ENADE) Considerando a transposição do cartum acima para uma situação de ensino e aprendizagem de língua portuguesa, avalie as afirmações a seguir. I. A concepção de linguagem que a professora revela em sua prática desvincula a língua de seu funcionamento social e histórico. II. O ensino de língua portuguesa concebido como ensino de “português correto” toma a língua como um sistema de regras autônomas, privilegiando uma análise interna do objeto. III. A situação de comunicação apresentada no cartum evidencia a concepção de língua 32 como atividade sociointerativa situada e fonte geradora de aprendizagem. IV. A valorização do conhecimento linguístico de que o aluno dispõe ao chegar à escola sustenta a noção de língua como sistema de práticas linguísticas não fechadas e em permanente constituição. É correto apenas o que se afirma em a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. 7. (FEPESE) Considerando as diversas concepções de linguagem, assinale a alternativa correta. a) Na Concepção da Linguagem como forma de Interação, a linguagem é lugar de convívio. Através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser falando. Há um aprendizado mais ativo por parte dos alunos. b) Na Concepção da Linguagem como Instrumento de Comunicação, fica evidente uma ênfase ao ensino da gramática normativa, norteando o aprendizado dos alunos como “certo e errado”. Foco na exteriorização do pensamento. c) Na Concepção da Linguagem como Forma de Interação, a língua é vista como um código que transmite uma mensagem e toma forma fora do pensamento. d) Na Concepção da Linguagem como Forma de Expressão do Pensamento, a língua é compreendida como homogênea e estática. O professor deve trabalhar a leitura, interpretação e produção de textos variados, enfatizando as variedades da língua. e) Na Concepção da Linguagem com Instrumento de Comunicação, a língua é vista como um código que transmite uma mensagem e toma forma fora de nosso pensamento. As formas gramaticais pré-estabelecidas são enfatizadas, configurando o ensino como prescritivo. 8. (UNIFACVEST – adaptada) Seja a seguinte situação de comunicação: A mãe se dirige para a criança de, aproximadamente, 4 anos de idade: - Meu bebê, você já tomou teu mingau? E a criança assim lhe responde: - Eu já tomou, mamãe. Na resposta da criança, está evidenciada uma concepção de gramática denominada a) Gramática teórica. b) Gramática reflexiva. c) Gramática normativa. d) Gramática descritiva. e) Gramática internalizada. 33 LÍNGUA , CULTURA E SOCIEDADE UNIDADE 03 34 3.1 SOBRE O QUE É CULTURA Neste capítulo, serão abordadas as reflexões sobre o que é cultura e sobre como a cultura influencia a constituição da língua. Além disso, é mostrado um breve histórico da língua portuguesa e como esse idioma mudou sob a influência de outras línguas. A cultura é parte da sociedade que envolve comportamentos, valores, crenças, reli- gião, manifestações artísticas e literárias, dentre outros. Os homens convivem e aprendem por via dela. Isso significa que os parâmetros culturais são determinados pelos indivíduos que compõem essa sociedade, justificando assim as diversas culturas existentes no mun- do. Os diferentes rituaisde casamento mostram o caráter multifacetado da cultura como evidenciado nas figuras seguintes. Figura 15: Casamento nigeriano Fonte: https://bityli.com/7KzIw . Acesso em: 02 fev. 2021 Figura 16: Casamento hindu Fonte: https://bityli.com/7KzIw Acesso em: 02 fev. Ainda que os conceitos de tradição (prática historicamente preservada de uma na- ção) e de cultura sejam tratados distintamente, afirma-se que esses casamentos possuem algumas tradições importantes para a manutenção da singularidade da cultura em cada um dos territórios. Por outras, Corrêa (2012, p. 20) afirma que “[...] a variedade de culturas denota também a variedade de símbolos, ou seja, signos que expressam essa variedade”, o que é mostrado pelas vestimentas e pelos adereços usados os quais materializam as pes- soas e as suas nações: Nigéria e Índia. De acordo com Tylor (1920, p. 01), a cultura é “aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Para muitos estudiosos contemporâneos, a cultura é um conceito mais polissêmico (vários significados). Por que essa concepção de Tylor pode ser con- siderada ultrapassada? VAMOS PENSAR? https://bityli.com/7KzIw https://bityli.com/7KzIw 35 De acordo com Barroso (2018, p. 48), “a cultura é exclusiva das sociedades humanas, já que a partir dela, se pode traçar a diferenciação entre o homem e o animal”. Assim, pode- -se deduzir que, como a linguagem, a cultura também distingue os homens dos animais. É a cultura que marcar muito do existir do homem, dá significado à existência dele e o modifica constantemente. Laraia (2001) define a cultura a partir de cinco critérios como mostrado na Figura 17. Figura 17: Critérios definidores da cultura Fonte: Adaptado de Laraia (2001) O primeiro critério versa sobre os homens seguirem regras culturais que são estabe- lecidas socialmente. O indivíduo que não segue essas regras é considerado um elemento desviante em relação aos demais e é julgado e discriminado. Dessa maneira, a cultura é apreendida, já que não é inata, quer dizer, o sujeito aprende a se adequar às diversas situa- ções culturais da sociedade. O segundo critério trata de nossas condições biológicas como determinadas por fatores culturais como é o caso dos hábitos alimentares. A escolha pelo consumo de determinados alimentos é meramente cultural e é o que faz carne da vaca não ser comida na Índia e ser comida no Brasil. O terceiro parâmetro é sobre o indivíduo participar de uma parcela da cultura de seu povo e não de todas as ma- nifestações culturais disponíveis na sociedade da qual ele faz parte. As escolhas culturais de um sujeito dependem de fatores socioculturais, etários, religiosos e de gênero. Há de se considerar que, ao longo da vida, uma mesma pessoa pode aderir a distintas expressões culturais a depender de seus interesses e grau de transformação individual. O quarto parâmetro diz respeito à cultura ser particular de uma sociedade e poder não ser relevante ou inteligível para outra cultura. O último critério é sobre a cultura ser dinâmica, não ser estática. Alguns aspectos culturais são incorporados de outras culturas, outros são modificados e outros são reinventados. A língua é considerada fator cultural e, ao inserirmos palavras de outras línguas no nosso vocabulário – estrangeirismo – fica assim sinalizado que houve a integração entre culturas. Observa-se a alteração cultural à medi- da que o tempo passa. Pessoas de gerações passadas tinham o hábito de fazer uma liga- ção telefônica para se comunicarem, hoje, indivíduos de outra geração resolvem inúmeras questões por meio de aplicativo de mensagem. 36 O livro Estudos culturais e antropológicos (2018), de Priscila Farfan Barroso, disponí- vel na Minha Biblioteca Única, traz um panorama interessante sobre o conceito de cultura e sobre as questões relativas à Antropologia. Link: https://bit.ly/3frUp3C. Acesso em: 20 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS 3.2 O ENLACE ENTRE LÍNGUA E CULTURA Por ação da língua, os sujeitos de um grupo social se enxergam como pertencentes a ele; por meio da língua é possível acessar a cultura do outro. Para Corrêa (2012, p. 45), “a língua é o elemento-mor da cultura de qualquer povo”. Sendo assim, a língua é um fator de identidade cultural, pois é um meio pelo qual o indivíduo é vinculado à sua nação que, por sua vez, é dotada de costumes, crenças e valores. A Figura 18 mostra como a língua e a cultura são interdependentes. Figura 18: Interdependência entre língua e cultura Fonte: Guimarães (2014) O esquema é entendido a partir da noção de que as nossas vivências com a língua são permeadas por questões culturais. De acordo com Brown (1994, p. 165), “uma língua é parte de uma cultura e uma cultura é parte de uma língua; as duas estão intrinsecamen- te entrelaçadas de modo que não se podem separar as duas sem perder o significado do idioma ou da cultura”. Na imagem acima, língua e cultura formam um organismo vivo. Para Jiang (2000, p. 328), “sem cultura, a linguagem estaria morta; sem língua, cultura não teria forma”, o que denota a interdependência da língua e da cultura. A língua, então, é uma forma de manter a cultura de um povo; a língua é moldada e manipulada por um grupo que possui uma dada cultura. Como a cultura é variável, o uso da língua também pode ser. O fenômeno de variação linguística (capítulo 2) efetiva isso e mostrar que haverá tantas manifestações da língua quantas formas culturais existirem. Sendo assim, algo pode ser designado de diferentes formas de acordo com diferentes cul- turas ou em uma mesma cultura. Cortina et al. (2018), por exemplo, mostra como, no inglês, a nomeação de ovelha animal é sheep enquanto, na mesma língua, a carne de ovelha é mutton. Mesmo a carne fazendo parte do animal ovelha, na língua inglesa, há tratamento diferente para ambos. Se em língua portuguesa a expressão “tirar doce da boca de crian- https://bit.ly/3frUp3C 37 ça” pode sinalizar linguisticamente que algo foi fácil, em língua inglesa, algo fácil pode ser representado pela expressão “To be a piece of cake” algo como “ser um pedaço de torta”. Afirma-se ainda que possa haver a interferência da língua de um país, no caso os Es- tados Unidos, sobre a língua de outras nações, em uma manifestação denominada como estrangeirismo. Para ilustrar essa situação, basta pensar que, com o advento tecnológico, palavras como Google, on-line, off-line, postar (to post) e deletar (to delet) passaram a fazer parte do léxico de muitas línguas de diferentes culturas espalhadas pelo mundo. Esse fe- nômeno também ocorre na língua portuguesa como é mostrado no final da seção 3.1. 3.3 BREVE HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Com o intuito de ilustrar como a prática linguageira é sensível aos aspectos cultu- rais, nesta seção, será apresentada uma breve história da língua portuguesa. Para que essa língua seja compreendida como é hoje, faz-se necessário mostrar a origem do português (latim vulgar), a chegada dos romanos à península ibérica, as transformações sofridas pela língua a partir das invasões das tribos germânicas bárbaras, a alteração linguística sofrida pelo português com a chegada dos mouros (árabes) a Portugal e o processo de reconquis- ta desse território, a chegada da língua portuguesa ao continente sul-americano por razão das conquistas ultramarinas e suas mudanças a partir da mistura com as línguas dos indí- genas, dos negros e dos imigrantes europeus. Figura 19: Península ibérica Disponível: https://bityli.com/jx0Fi . Acesso em: 02 mar. 2021. O português derivou do latim que, por sua vez, veio do ramo itálico, uma das subdi- visões do indo-europeu ocidental. O latim era a língua do Lácio (Latium), pequena região situada na parte centro-ocidental da península itálica, hoje região em que se situa a cidade de Roma, responsável à época do Império Romano pelo prestígio e pela divulgação da lín- gua latina por meioda marcha pela ocupação de novos territórios. Os povos dessas regiões sofreram um processo de dominação cultural em que o latim era a língua de contato entre o dominador e o dominado. O latim apresentava três variações: o latim literário, o latim eclesiástico e o latim vulgar. As duas primeiras variações foram difundidas com o aporte da escrita, já o latim vulgar foi uma variante falada e passada de uma pessoa a outra de maneira informal. FIQUE ATENTO https://bityli.com/jx0Fi 38 Com o crescimento desordenado do Império Romano e com o enfraquecimento de suas fronteiras, houve a invasão das tribos bárbaras, o que abalou uma até então uniformi- dade linguística e ocasionou um processo de variação, já que cada tribo bárbara impôs a sua língua àquela já usada na região invadida. De acordo com Ilari e Basso (2009, p. 17), esse processo gerou um “mosaico de falares locais, de maior ou menor prestígio”. Essa diversi- dade deu origem às línguas neolatinas ou românicas, tais como o português, o espanhol, o francês, o italiano, o romeno, o sardo, o catalão, o rético. A formação da língua portuguesa tem também relação com a invasão dos mouros à península ibérica, no século VIII, e com a reconquista dessa região pelos cristãos. Os mou- ros fixaram moradia, a princípio, no Sul e foram, paulatinamente, conquistando essa penín- sula. Dessa maneira, a língua oficial utilizada passou a ser o árabe. Os mouros demonstram permitiram o uso do romance regional (línguas neolatinas) na vida cotidiana dos domina- dos, o que demonstrou tolerância linguística da parte desses invasores. Com a reconquista por parte dos cristãos, no ano 1.000, línguas como galego, leonês, asturiano, castelhano e aragonês emergiram. Figura 8: Mouro Disponível: https://bityli.com/8Hs4v. Acesso em: 15 mar. 2021. Há influência linguística dos árabes no vocabulário da língua portuguesa. Várias palavras re- ferentes principalmente à agricultura, à moradia, às cores, ao comércio, às ciências, à admi- nistração, à cavalaria, entre outros campos lexicais, são encontradas no português. Exemplos: fulano, arroz, xaveco, azulejo, sofá, enxaqueca, açúcar, açougue, papagaio e almoxarifado. FIQUE ATENTO A língua falada em Portugal, em 1100, era o galego-português ou português arcaico, variante intermediária entre o latim vulgar e o português atual, língua utilizada nos can- cioneiros (livro com coletânea de cantigas trovadorescas) do século XIII. Ao mesmo tempo, o latim literário era empregado em documentos oficiais. Logo após esse período, deu-se o surgimento do português clássico ou moderno – 1536/1550 até o século XVIII – uma varian- te muito próxima do que é usado atualmente. O português clássico foi utilizado em textos literários e, segundo Ilari e Basso (2009, p. 30): https://bityli.com/8Hs4v 39 [...] escrevendo em português, os intelectuais de quinhentos realizaram simultaneamente duas tare- fas cuja importância histórica é inestimável. A pri- meira consistiu em fixar a língua portuguesa, esco- lhendo entre as formas e construções legadas pela Idade Média e/ou disponíveis no uso aquelas que, de acordo com sua sensibilidade, mas condiziam com o ‘gênio da língua’. [...] A outra tarefa dos renas- centistas consistiu em enriquecer a língua através de uma convivência íntima com o latim clássico, re- descoberto no período do humanismo. Essa afirmação reforça o plano de expansão e valorização do português europeu. A obra-prima que demarca o apogeu do português clássico é Os lusíadas, de Luiz Vaz de Ca- mões um poema épico – narra os feitos heroicos do povo lusitano rumo às Índias – datado de 1572, escrito durante o exílio do autor nas colônias da África e da Ásia em um período de 17 anos. A obra é composta por dez cantos, 1102 estrofes e 8816 versos decassílabos – versos com dez sílabas poéticas. O clássico Os Lusíadas é dividido em: a) proposição (apresenta- ção dos heróis portugueses); b) invocação (invocação das ninfas do rio Tejo – as tágides); c) dedicatória (oferecimento da obra ao reio D. Sebastião); d) narração (narração sobre como foi a viagem); e) epílogo (conclusão da obra). Faça uma lista com palavras incorporadas ao português brasileiro de origem indígena, afri- cana e europeia. VAMOS PENSAR? Com o advento das conquistas ultramarinas e após o português ganhar outros con- tinentes, houve a amálgama da língua europeia com aquela falada no território conquis- tado e por aquela usada por imigrantes. No Brasil, é preciso se ater ao influxo das línguas indígena, africana, europeia e asiática sob o português brasileiro e reconhecer palavras e construções linguísticas desses povos incorporadas ao idioma lusitano como um processo de formação da língua brasileira. Na época do descobrimento, a língua portuguesa não era única, haja vista que o território abrigava muitas tribos com língua e dialetos próprios e bem distintos entre si. Na primeira metade do século XVI, com a chegada de vários africanos ao Brasil, o português passou por outras transformações linguísticas e a língua dos sujeitos escravizados passou a vigorar juntamente com a língua indígena e a língua portuguesa. Nações como a francesa, a holandesa e a espanhola tentaram estabelecer colônia no país, o que ocasionou modifi- cações no português brasileiro. Com a abolição da escravatura e com a consequente necessidade de substituir a mão-de-obra escrava, nasceu o projeto de colonização brasileira, a fim de atrair imigrantes europeus e asiáticos para o país. Como afirmam Ilari e Basso (2009), essa imigração teve seu pico entre 1890 e 1930 e, ao país, chegaram quase 4 milhões de imigrantes dentre ita- lianos, espanhóis, alemães e japoneses. Esse acontecimento fez com que a língua brasileira 40 também variasse. Muitas palavras de origem estrangeira foram incorporadas à língua por- tuguesa, como talharim, esfirra, pizza, tchau, no entanto, no plano da sintaxe, não houve tanta interferência, uma vez que a língua já estava estandardizada ou gramatizada (ILARI e BASSO, 2009), por outras, estava estabilizada e com padronização de uma norma a ser seguida. Atualmente, novas palavras provenientes do inglês vêm sendo incorporadas ao por- tuguês – processo conhecido como estrangeirismo que é um empréstimo linguístico. Essa inserção de palavras norte-americanas, no léxico brasileiro, é resultado das influências po- líticas, culturais e comerciais que os Estados Unidos exercem sobre o Brasil e o mundo. O entendimento e o uso de palavras, em língua estrangeira, denotam inclusão, mas também evidencia a dominação de uma cultura sobre a outra em plena era globalizada. Palavras como baby doll, coffee break, crush, feedback, light, entre outros são exemplos de vocábu- los em inglês que fazem parte do dia a dia do brasileiro. O internetês, segundo Rajagopalan (2016, p. 37), “linguagem ou linguajar (como se quiser) que os internautas estão espalhando pelo mundo” também impacta o uso linguís- tico no Brasil. Palavras como notebook, Facebook, e-mail, blogs, Twitter fazem parte do léxico brasileiro devido à constante necessidade social e profissional de uso da internet. O documentário “Língua - Vidas em Português”, dirigido por Victor Lopes, mos- tra como a língua portuguesa pode se manifestar em diferentes territórios e pode sofrer influência de diversas culturas. Disponível em: https://youtu.be/JBmLzbjmhhg. Acesso em: 15 mar. 2021. BUSQUE POR MAIS https://youtu.be/JBmLzbjmhhg. 41 1. (ENEM) O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio imaterial” que não pode ser, por isso, guardado e exposto em uma redoma de vidro. Assim, o museu, dedicado à valorização e difusão da língua portuguesa, reconhecidamente importante para a preservação de nossa identidade cultural, apresenta uma forma expositiva diferenciada das demais instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e recursos interativos para a apresentação de seus conteúdos. Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br.Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado). De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode ser exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto de que a) Língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários. b) O modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público. c) A escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa. d) O contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última geração. e) As atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de recursos tecnológicos. 2. (ENEM - adaptada) Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história e que só a partir do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os territórios. CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (Orgs.). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado). Ao considerar as variedades linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a atenção do leitor para a a) Desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta. b) Difusão do português de Portugal em todas as regiões do brasil só a partir do séc. XVIII. c) Existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do brasil, distinta da de Portugal. d) Inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado país. e) Necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser FIXANDO O CONTEÚDO http://www.museulinguaportuguesa.org.br 42 aceitos. 3. (ENEM) Quando eu falo com vocês, procuro usar o código de vocês. A figura do índio no Brasil de hoje não pode ser aquela de 500 anos atrás, do passado, que representa aquele primeiro contato. Da mesma forma que o Brasil de hoje não é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de pessoas com diferentes sobrenomes. Vieram para cá asiáticos, europeus, africanos, e todo mundo quer ser brasileiro. A importante pergunta que nós fazemos é: qual é o pedaço de índio que vocês têm? O seu cabelo? São seus olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome da sua praça? Enfim, vocês devem ter um pedaço de índio dentro de vocês. Para nós, o importante é que vocês olhem para a gente como seres humanos, como pessoas que nem precisam de paternalismos, nem precisam ser tratadas com privilégios. Nós não queremos tomar o Brasil de vocês, nós queremos compartilhar esse Brasil com vocês. TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e saberes locais. Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado). Na situação de comunicação da qual o texto foi retirado, a norma padrão da língua portuguesa é empregada com a finalidade de a) Demonstrar a clareza e a complexidade da nossa língua materna. b) Situar os dois lados da interlocução em posições simétricas. c) Comprovar a importância da correção gramatical nos diálogos cotidianos. d) Mostrar como as línguas indígenas foram incorporadas à língua portuguesa. e) Ressaltar a importância do código linguístico que adotamos como língua nacional. 4. (ENEM) A língua tupi no Brasil Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem a “língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”. Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua. “Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do Sul, uma espécie de tupi facilitado. ÂNGELO, C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado). http://super.abril.com.br 43 O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena. a) Contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos dos lugares designados. b) Originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical também está a fala de variadas etnias indígenas. c) Desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses, vindos de Lisboa. d) Misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas investidas contra o quilombo dos palmares. e) Expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a língua dos bandeirantes paulistas. 5. (ENEM) Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo, mandinga designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio. COTRIM, M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009 (fragmento). No texto evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta de um(a): a) Contexto sócio-histórico. b) Diversidade étnica. c) Descoberta geográfica. d) Apropriação religiosa. e) Contraste cultural. 6. (ENEM - adaptada) A forte presença de palavras indígenas e africanas e determos trazidos pelos imigrantes a partir do século XIX é um dos traços que distinguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos empréstimos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a partir do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, particularmente, coma Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses empréstimos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os empréstimos linguísticos, recebidos de diversas línguas, são importantes na constituição do português do Brasil porque a) Tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que 44 também tiveram colonização portuguesa. b) Transformaram
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