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Entendendo a Revisão Criminal

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Entendendo a Revisão Criminal 
 
Revisão criminal é... 
 
 uma ação autônoma de impugnação 
 
 de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal, no caso dos Juizados) 
 
 por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal que reveja a decisão que a condenou (e que já 
transitou em julgado) 
 
 sob o argumento de que ocorreu erro judiciário. 
 
Revisão criminal e ação rescisória 
 
A revisão criminal se parece com a ação rescisória do processo civil. Existem, no entanto, basicamente duas 
diferenças principais: 
 
Revisão criminal Ação rescisória 
Pode ser interposta a qualquer tempo após o 
trânsito em julgado 
(não há prazo de decadência para ajuizar a RC). 
Deve ser interposta até o prazo de 2 anos após o 
trânsito em julgado. 
Só pode ser ajuizada em favor do condenado (só 
existe revisão criminal pro reo; não existe revisão 
criminal pro societate). 
A ação rescisória pode ser proposta pelo autor ou 
pelo réu. 
 
Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo? SIM. A revisão poderá ser requerida em qualquer 
tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art. 622 do CPP). 
 
Natureza jurídica 
 
A revisão criminal NÃO é um recurso. Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação 
penal de natureza constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado). 
 
Pressupostos: 
 
A revisão criminal tem dois pressupostos: 
 
A) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; 
 
B) demonstração de que houve erro judiciário. 
 
Quem pode propor a revisão criminal? 
 
 O próprio réu; 
 
 Procurador legalmente habilitado pelo réu; 
 
 O cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha morrido. 
 
CPP/Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de 
morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. 
 
O MP pode propor revisão criminal em favor do réu? Há divergência na doutrina. No entanto, para fins de prova 
objetiva, deve-se afirmar que não é possível, considerando que o CPP não prevê essa legitimidade. 
 
Juízo rescindente e juízo rescisório: 
 
No julgamento da revisão criminal: 
 
- Se o Tribunal decidir desconstituir a decisão impugnada, diz-se que houve juízo rescindente. 
 
- Se, além de desconstituir a decisão impugnada, o próprio Tribunal proferir uma outra decisão em substituição 
àquela que foi rescindida, diz-se que houve juízo rescisório. 
 
 Repare que, após realizar o juízo rescindente, pode acontecer (ou não) de o Tribunal realizar o juízo 
rescisório. 
 
Quando haverá juízo rescisório na revisão criminal? 
 
O CPP prevê o seguinte: Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da 
infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo. 
 
Dessa feita, julgando procedente a revisão (juízo rescindente), o Tribunal poderá: 
 
 Alterar a classificação da infração (juízo rescindente + juízo rescisório); 
 
 Absolver o réu (juízo rescindente + juízo rescisório); 
 
 Modificar a pena (juízo rescindente + juízo rescisório); ou 
 
 Anular o processo (nesse caso, só haverá juízo rescindente, porque o processo será devolvido à 1ª instância, 
onde será proferida nova sentença). 
 
Hipóteses em que caberá a revisão criminal: 
 
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: 
I — quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; 
II — quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; 
III — quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que 
determine ou autorize diminuição especial da pena. 
 
Competência 
 
1ª regra: a revisão criminal é sempre julgada por um Tribunal ou pela Turma Recursal. Não existe revisão criminal 
julgada por juiz singular. 
 
2ª regra: se a condenação foi proferida por um juiz singular e não houve recurso, a competência para julgar a 
revisão criminal será do Tribunal (ou Turma) ao qual estiver vinculado o magistrado. 
 
3ª regra: se a condenação foi mantida (em recurso) ou proferida (em casos de competência originária - foro 
privativo) pelo TJ, TRF ou Turma Recursal e contra este acórdão não foi interposto RE ou Resp, a competência para 
julgar a revisão criminal será do TJ, TRF ou Turma Recursal. 
 
4ª regra: se a condenação foi mantida ou proferida pelo TJ ou TRF e contra este acórdão foi interposto RE ou 
Resp, de quem será a competência para julgar a revisão criminal? Depende: 
 
1) Se o RE ou o Resp não forem conhecidos: a competência será do TJ ou TRF (regra 3 acima explicada). 
 
2) Se o RE ou Resp forem conhecidos: 
 
2.1) Caso a revisão criminal impugne uma questão que foi discutida no RE ou no Resp: a competência será do STF 
ou do STJ. 
 
2.2) Caso a revisão criminal impugne uma questão que não foi discutida no RE ou no Resp: a competência será do 
TJ ou TRF. 
 
Revisão criminal e soberania dos veredictos: 
 
A Constituição Federal afirma que, no Tribunal do Júri, o veredicto dos jurados é soberano: 
 
Art. 5º (...) 
XXXVIII - e reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: 
c) a soberania dos veredictos; 
 
Sobre esse tema, existem dois grandes debates: 
 
1) A revisão criminal pode ser aplicada no caso de condenações proferidas pelo júri ou haveria uma violação à 
soberania dos veredictos? Em outras palavras, a revisão criminal de uma decisão condenatória do júri ofende o 
princípio da soberania dos veredictos? 
 
R: NÃO. Cabe revisão criminal mesmo no caso de condenações proferidas pelo Júri. 
 
 Assim, a condenação penal definitiva imposta pelo Júri também pode ser desconstituída mediante revisão 
criminal, não lhe sendo oponível a cláusula constitucional da soberania do veredicto do Conselho de Sentença. 
 Esse é o entendimento do STF e do STJ, tendo sido reafirmado neste julgado. 
 
Argumentos: 
 
- A soberania dos veredictos do Júri, apesar de ser prevista constitucionalmente, não é absoluta, podendo a decisão 
ser impugnada, seja por meio de recurso, seja por revisão criminal. A CF não previu os veredictos como um poder 
incontrastável e ilimitado. 
- Segundo a doutrina, a soberania dos veredictos é uma garantia constitucional prevista em favor do réu (e não da 
sociedade). Desse modo, se a decisão do júri apresenta um erro que prejudica o réu, ele poderá se valer da revisão 
criminal. Não se pode permitir que uma garantia instituída em favor do réu (soberania dos veredictos) acabe por 
prejudicá-lo, impedindo que ele faça uso da revisão criminal. 
 
Agora vem a pergunta mais polêmica: 
 
2) O Tribunal que irá julgar a revisão criminal, além de fazer o juízo rescindente, poderá também efetuar o juízo 
rescisório? 
 
Ex: se o Tribunal de Justiça entender que a decisão condenatória do júri foi contrária à evidência dos autos (art. 621, 
I, do CPP), ele terá que apenas anular a decisão e determinar que outra seja proferida (juízo rescindente) ou poderá, 
além de desconstituir a decisão condenatória, julgar o caso e absolver desde logo o réu (juízo rescisório)? 
 
 Segundo o STJ, se o Tribunal de Justiça, ao julgar uma revisão criminal, entender que a condenação do réu foi 
proferida de forma contrária à evidência dos autos, ele poderá absolver diretamente o condenado, não sendo 
necessário que outro júri seja realizado. 
 
Confira: 
 
(...) 1. É possível, em sede de revisão criminal, a absolvição, por parte do Tribunal de Justiça, de réu condenado pelo 
Tribunal do Júri. 
(...) 
5. Em uma análise sistemática do instituto da revisão criminal, observa-se que entre as prerrogativas oferecidas ao 
Juízo de Revisão está expressamente colocada a possibilidade de absolvição do réu, enquanto a determinação de 
novo julgamento seria consectáriológico da anulação do processo. (...) 
(REsp 964.978/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. P/ Acórdão Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado do 
TJ/RJ), Quinta Turma, julgado em 14/08/2012, DJe 30/08/2012) 
 
Uma última pergunta: 
 
Se houver empate no julgamento da revisão criminal pelo Tribunal, o que acontece? 
 
Em caso de empate, deve-se aplicar, por analogia, a regra prevista no § 1º do art. 615 do CPP: 
 
§ 1º Havendo empate de votos no julgamento de recursos, se o presidente do tribunal, câmara ou 
turma, não tiver tomado parte na votação, proferirá o voto de desempate; no caso contrário, 
prevalecerá a decisão mais favorável ao réu. 
 
 Desse modo, havendo empate de votos no julgamento da revisão criminal, se o presidente do Tribunal, 
Câmara ou Turma, não tiver votado ainda, deverá proferir o voto de desempate. Caso já tenha votado, prevalecerá a 
decisão mais favorável ao réu. (Quinta Turma. HC 137.504-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012) 
 
Obra consultada: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Vol. II. Niterói: Impetus, 2012. 
FONTE: JusBrasil – Flávia Ortega

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