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AÇÕES AUTÔNOMAS IMPUGNATIVAS REVISÃO CRIMINAL 1 – INTRODUÇÃO – natureza jurídica Trata-se de uma ação autônoma de impugnação. Muito embora o CPP a discipline no título dos recursos, não é esta sua natureza jurídica. Difere dos recursos por duas razões principais: 1º. O recurso é um instrumento de reforma de decisões judiciais que deve ser manejado antes da preclusão (“tempestividade”). A revisão criminal, de sua parte, só pode ser ajuizada após o trânsito em julgado da decisão. 2º. O recurso é um instrumento utilizado na mesma relação jurídica processual. A revisão criminal, por outro lado, dá ensejo a uma nova e autônoma relação jurídica processual. 2 – HISTÓRICO A revisão criminal foi introduzida no Brasil em 1890, por meio do Decreto 848. Posteriormente, foi prevista na Constituição (1891), como remédio constitucional. No ordenamento jurídico brasileiro, desde o início, só se admite revisão criminal “pro reo”; não cabe revisão criminal “pro societate”. Conclui-se, a partir disso, que uma sentença absolutória própria, uma vez transitada em julgado, forma coisa SOBERANAMENTE julgada. Artigo 107, I, Código Penal – a morte do agente é causa extintiva da punibilidade. Artigo 62, Código e Processo Penal – exige a juntada de certidão de óbito original. Declarada a extinção da punibilidade com o fundamento acima, como proceder caso se descubra, futuramente, que a certidão de óbito era falsa? Para a maioria da doutrina, resta processar o agente por crime contra a fé pública, não se admitindo a retomada dos processos extintos, sob pena de haver revisão criminal “pro societate”. Todavia, para o STF, não se trata de revisão criminal “pro societate”. A Suprema Corte entende que um fato inexistente não produz efeito jurídico, logo, além do novo processo pelo crime de falsidade, deve haver a retomada dos casos extintos. 3 – DIFERENÇAS COM A AÇÃO RESCISÓRIA Rescisória Revisão Criminal Prazo 2 anos (art. 975, CPC) Não há* Titularidade (polo ativo) Pode ser ajuizada pelo autor ou réu do processo original e até mesmo pelo MP Só pode ser ajuizada pelo réu do processo original, ou seus sucessores Dilação Probatória Admite (art. 972, CPC) Não admite (prova pré- constituída)** Legitimidade do MP (autor) Sim (art. 967, CPC) Não* Fundamentos (CPC, 966; CPP, 621) I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III – quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. *A Revisão Criminal pode ser ajuizada até mesmo após o cumprimento da pena ou, ainda, depois do falecimento do condenado, pois busca tutelar não apenas o “status liberatis”, mas também o “status dignitatis”. 4 – COMPETÊNCIA A revisão criminal é uma ação de competência originária dos tribunais. Regra: cada tribunal é competente para a revisão de seus próprios julgados, se a decisão transitou em julgado em primeira instância, será competente para a revisão criminal o tribunal que julgaria eventual recurso. Cabe revisão criminal contra decisão proferida pelo JECRIM? Qual o órgão competente? Resposta: Sim, admite-se revisão criminal contra decisão proferida no âmbito do JECRIM. Será competente para apreciá-la a Turma Recursal (STJ). Quando os tribunais superiores serão competentes para o julgamento da revisão criminal? Resposta: quando conhecerem de eventual recurso especial ou extraordinário e a matéria impugnada na revisão tiver sido objeto de exame pelo tribunal no respectivo recurso. 5 – FUNDAMENTOS AUTORIZADORES Eles se encontram enumerados em rol taxativo, no artigo 621 do CPP: São eles: I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; Observações: a) Só se admite revisão criminal por contrariedade expressa ao texto da lei quando a situação (lei penal) não for objeto de interpretação controvertida. b) Não se admite revisão criminal fundada em mudança de orientação jurisprudencial. Súmula 343 do Supremo Tribunal Federal: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”. Essa Súmula, porém, não vem sendo aplicada, quando se tratar de interpretação de normas constitucionais. c) Há entendimento doutrinário, contudo, no sentido de que cabe revisão criminal quando a decisão contrariar matéria por tribunais superiores, para a qual haja eficácia “erga omnes”, ainda que tal entendimento/decisão seja posterior à decisão rescindenda. d) Entende-se por decisão “contrária à evidência dos autos” aquela que não se baseia em nenhuma prova válida colhida no processo. Nesse caso, há o patente erro judiciário = decisão arbitrária. A revisão criminal não é sucedâneo da apelação. Esta permite um reexame da prova, uma nova valoração do conjunto probatório. A revisão criminal, por sua vez, não admite tal revaloração do conjunto probatório. Não se aplica à revisão criminal o princípio “in dubio pro reo”. Isto se dá porque deve se ter em consideração o respeito à garantia constitucional da coisa julgada. Revisão criminal: “in dubio pro res judicata”. II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; Observações: a) A revisão criminal não admite dilação probatória, motivo pelo qual o autor deve fazer prova pré-constituída da falsidade. b) Como se pode obter essa prova pré-constituída? 1º. Numa ação penal que tenha tido por objeto o crime de falso testemunho, falsa perícia ou falsidade documental (ou, ainda, o crime de denunciação caluniosa). 2º. Também se admite a obtenção dessa prova por meio do ajuizamento de uma justificação criminal. 3º. Admite-se, ainda, que testemunhas sejam ouvidas em cartório extrajudicial, elaborando-se a ata notarial, que poderá ser juntada na inicial. c) É necessário que a condenação tenha tido por fundamento principal a prova comprovadamente falsa. III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. Observações: a) Do mesmo modo que no inciso anterior, a prova de ser pré-constituída; acrescenta-se, além das hipóteses já estudadas, como forma de obtê-la, uma prova produzida em ação cível. b) A prova nova pode apontar para a inocência do condenado ou para a aplicação de qualquer circunstância capaz de reduzir a pena ou autorizar algum benefício (como, por exemplo, a substituição da prisão por pena alternativa ou a concessão de um regime de cumprimento mais favorável). c) Admite-se revisão criminal comescopo de reavaliar a dosimetria da pena (pedido), desde que fundada numa das hipóteses do artigo 621 (causa de pedir). 6 – ELEMENTOS DA REVISÃO CRIMINAL 6.1_- PARTES a) Autor “Art. 623. A revisão criminal poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge (ou companheiro), ascendente, descendente ou irmão. ” Após o cumprimento da pena ou a morte do condenado, a revisão criminal buscará o resguardo do “status dignitatis”. O réu possui legitimidade para ajuizar a revisão criminal sem advogado? Sim, pois a despeito da indispensabilidade da atuação do advogado para se postular em juízo, que decorre do artigo 133 da CF, admite-se, em casos excepcionais, que a própria parte, em caráter pessoal e desacompanhada de advogado, ajuíze determinadas ações. “Art. 631. Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o presidente do tribunal nomeará curador para a defesa.” b) Réu: Ministério Público Qual o papel que o MP deve exercer no polo passivo da revisão criminal? Resposta: Cumpre ao MP zelar pela manutenção da coisa julgada (que constitui garantia constitucional). Se o MP que oficia na revisão criminal, se convencer de sua procedência, pode se manifestar a favor do pedido: Resposta: Sim, pois o MP possui independência funcional (artigo 127, § 1º, da CF). 6.2 – CAUSA DE PEDIR – ARTIGO 621 DO CPP 6.3 – PEDIDO a) Principal: desconstituição da coisa julgada. Total: declaração da inocência do condenado (isto é, a absolvição) ou nulidade do processo. Parcial: redução da pena ou se abrandamento (pode figurar como pedido principal ou subsidiário). b) Secundário (sucesso): indenização por erro judiciário (não se trata de efeito automático da procedência da revisão – tem que haver pedido expresso). Acolhido o pedido de indenização, o acórdão fixará o “an debeatur”, de modo que a decisão terá que ser liquidada no juízo cível. “Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos. § 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça.” § 2o A indenização não será devida: a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder; Atenção: quando se tratar de confissão obtida mediante coação, não há óbice à fixação da indenização por erro judiciário. b) se a acusação houver sido meramente privada. Esse dispositivo, ao restringir o direito à indenização por erro judiciário em face da natureza da ação penal, não foi recepcionado pela CF. 7 – RITO – ARTIGO 625, CPP a) Petição inicial: a inicial deve ser instruída como a decisão rescindenda e com certidão comprovando seu trânsito em julgado. Além disso, deve ser acompanhada de prova pré-constituída. Deve a inicial observar os requisitos do artigo 319 do CPC, salvo quando requerida pelo próprio réu. Nesse caso, encaminha-se o pedido à defensoria pública, para que elabore corretamente a inicial. b) Distribuição: relator O relator, ao receber a inicial, pode: 1) Indeferi-la liminarmente, se ela se revelar descabida ou não vier acompanhada da prova pré-constituída; 2) Requisitar os autos do processo original, para instruir a revisão; 3) No caso de admiti-la, determinará o envio ao MP. c) Indeferimento liminar: se a revisão for indeferida de plano, cabe recurso ao próprio tribunal (agravo interno). No julgamento desse recurso, não tomará parte o relator que indeferiu “in limine” a medida. d) Efeito suspensivo? O CPP não prevê; logo, não há a possibilidade de concessão de efeito suspensivo à revisão criminal. A doutrina, contudo, entende cabível, excepcionalmente, a aplicação do CPC (tutela de urgência – artigo 300 e seguintes). e) “Parecer” do MP: o “parecer” será exarado pelo membro do MP que oficia no tribunal (Procurador de Justiça ou Procurador Regional da República). Embora o CPP fale em “parecer”, por se tratar a revisão criminal de uma ação, a manifestação do MP tem força de contestação. Prazo: 10 dias (prazo impróprio). f) Relator : 10 dias (prazo impróprio). g) Revisor: 10 dias (prazo impróprio). h) Julgamento Absolvição Redução de pena Alteração da dosimetria (em favor do réu) Nulidade do processo (em caráter excepcional) – nesse caso, o processo original poderá ser reaberto, refazendo-se os atos processuais anulados, desde que não tenha ocorrido a prescrição. Pode também haver o pedido sucessivo de indenização por erro judiciário. 8 – RECURSO Do acórdão proferido em sede de revisão criminal cabe recurso especial ou extraordinário. Também se admite a oposição de embargos de declaração, se houver omissão, contradição, obscuridade ou ambiguidade (artigos 619 e 620 do CPP). 9 – REVISÃO CRIMINAL NO TRIBUNAL DO JÚRI Para o STJ: “(...) 1. A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de admitir o pedido revisional (art. 621, I, do CPP) do veredicto condenatório emanado do Tribunal do Júri, calcada no entendimento de que o direito à liberdade prevalece em confronto com a soberania dos veredictos. Precedentes do STJ. 2. A melhor interpretação da dicção legal sentença contrária à evidência dos autos, é aquela que restringe o acolhimento da revisão às hipóteses de erro judiciário (prova de inocência) ou de inexistência absoluta de prova para a condenação, sendo inviável rescindir o veredicto condenatório com base em uma suposta insuficiência de provas. (...)” (STJ - REsp: 1686720 SP 2017/0178030-1, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 23/08/2018, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/09/2018). 10 – TESES JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA REVISÃO CRIMINAL (Fonte: Jurisprudência em Teses – STJ) 1) A revisão criminal não é meio adequado para reapreciação de teses já afastadas por ocasião da condenação definitiva. 2) O julgamento superveniente da revisão criminal prejudica, por perda de objeto, a análise do habeas corpus anteriormente impetrado. 3) Não é cabível habeas corpus como sucedâneo ou para substituir eventual revisão criminal. 4) O julgamento pelo Supremo Tribunal Federal de habeas corpus impetrado contra decisão proferida em recurso especial não afasta, por si só, a competência do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar posterior revisão criminal. 5) É assegurada à defesa a sustentação oral em sessão de julgamento de revisão criminal 6) A aplicação do princípio do favor rei veda a revisão criminal pro societate. 7) A Turma Recursal é o órgão competente para o julgamento de revisão criminal ajuizada em face de decisões proferidas pelos Juizados Especiais. 8) É possível a correção da dosimetria da pena em sede de revisão criminal. 9) A soberania do veredicto do Tribunal do Júri não impede a desconstituição da decisão por meio de revisão criminal. 10) O ajuizamento de revisão criminal não importa em interrupção da execução definitiva da pena, tendo em vista a ausência de efeito suspensivo. 11) O réu possui capacidade postulatória para propor revisão criminal, nos termos do artigo 623 do CPP, que foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 e não foi revogado pela Lei nº 8.906/94 Estatuto da Advocacia. 12) Na revisão criminal prevista no artigo 105, I, “e” da CF, apenas a questão federal anteriormente decidida por esta Corte Superior pode ser examinada. 13) O acolhimento da pretensão revisional, nos moldes do artigo 621, I, do CPP, é excepcional e limita-se às hipóteses em que a contradiçãoà evidência dos autos seja manifesta, dispensando a interpretação ou análise subjetiva das provas produzidas. 14) A mudança de orientação jurisprudencial e a interpretação controvertida a respeito de determinado dispositivo legal não são fundamentos idôneos para a propositura de revisão criminal. 15) A justificação criminal é via adequada à obtenção de prova nova para fins de subsidiar eventual ajuizamento de revisão criminal. 16) A revisão criminal não pode ser fundamentada no arrolamento de novas testemunhas, tampouco na reinquirição daquelas já ouvidas no processo de condenação. 17) A retratação da vítima ou das testemunhas constituem provas novas aptas a embasar pedido de revisão criminal. 18) O atraso no julgamento da revisão criminal provocado exclusivamente pela defesa não caracteriza excesso de prazo.
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