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Caderno Renato Brasileiro Processo Penal Tribunal do Juri

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Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
1 
TRIBUNAL DO JÚRI 
Sumário 
1. Considerações iniciais ......................................................................................................... 5 
1.2. Natureza jurídica ........................................................................................................... 5 
2. Princípios constitucionais do júri .......................................................................................... 6 
2.1. Plenitude de defesa ....................................................................................................... 6 
2.2. Sigilo das votações ....................................................................................................... 7 
2.2.1. Sala especial (ou secreta) ...................................................................................... 7 
2.2.2. Incomunicabilidade dos jurados .............................................................................. 8 
2.2.3. Votação unânime .................................................................................................... 9 
2.3. Soberania dos vereditos ................................................................................................ 9 
2.3.1. Recorribilidade contra decisões do júri ................................................................... 9 
2.3.2. Juízo a ser feito pelo TJ ou TRF ........................................................................... 10 
2.3.3. Quesitos dos jurados ............................................................................................ 10 
2.3.4. Revisão criminal contra decisão do júri ................................................................ 11 
2.4. Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida ............................ 12 
3. Procedimento bifásico do tribunal do júri ........................................................................... 13 
4. Impronúncia ....................................................................................................................... 14 
4.1. Natureza jurídica da decisão de impronúncia e coisa julgada ..................................... 15 
4.1.1. Provas novas e oferecimento de outra peça acusatória ....................................... 15 
4.2. Infração conexa ........................................................................................................... 16 
4.3. Despronúncia .............................................................................................................. 16 
4.4. Recurso cabível contra a impronúncia ........................................................................ 17 
4.4.1 Interesse recursal .................................................................................................. 17 
5. Desclassificação ................................................................................................................ 17 
5.1. Desclassificação x Desqualificação ............................................................................. 18 
5.2. Nova classificação ....................................................................................................... 18 
5.3. Procedimento a ser observado pelo juiz singular competente .................................... 18 
5.4. Infração conexa ........................................................................................................... 19 
5.5. Situação do acusado preso frente à desclassificação ................................................. 19 
5.6. Recurso adequado ...................................................................................................... 19 
5.7. Conflito de competência suscitado pelo juízo singular competente ............................ 20 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
2 
6. Absolvição sumária ............................................................................................................ 20 
6.1. Causas de absolvição sumária ................................................................................... 20 
6.2. Infração conexa ........................................................................................................... 21 
6.3. Coisa julgada .............................................................................................................. 21 
6.4. Recurso adequado ...................................................................................................... 22 
6.4.1. Interesse recursal ................................................................................................. 22 
6.4.2. Recurso de ofício .................................................................................................. 22 
7. Pronúncia ........................................................................................................................... 23 
7.1. Pressupostos .............................................................................................................. 23 
7.2. Regra probatória ......................................................................................................... 23 
7.3. Natureza jurídica ......................................................................................................... 24 
7.4. Fundamentação .......................................................................................................... 24 
7.5. Conteúdo da pronúncia ............................................................................................... 25 
7.6. Infrações conexas ....................................................................................................... 25 
7.7. Constatação do envolvimento de outras pessoas ....................................................... 25 
7.8. Efeitos da pronúncia .................................................................................................... 26 
7.8.1. Submissão do acusado a julgamento perante o tribunal do júri............................ 26 
7.8.2. Limitação da acusação em plenário (correlação entre pronúncia e quesitação) .. 26 
7.8.3. Preclusão das nulidades relativas não arguidas até a pronúncia ......................... 27 
7.8.4. Interrupção da prescrição ..................................................................................... 27 
7.8.5. Preclusão da decisão de pronúncia e sua imodificabilidade ................................. 27 
7.9. Decretação da prisão preventiva ou imposição de medidas cautelares diversas da 
prisão ................................................................................................................................. 28 
7.10. Intimação do acusado acerca da pronúncia .............................................................. 29 
7.10.1. Direito intertemporal ........................................................................................... 30 
8. Desaforamento .................................................................................................................. 31 
8.1. Competência para julgamento do pedido de desaforamento ...................................... 32 
8.2. Princípio do juiz natural ............................................................................................... 32 
8.3. Desaforamento x incidente de deslocamento de competência (IDC) .......................... 32 
8.4. Desaforamento no processo penal militar ................................................................... 32 
8.5. Legitimados para o requerimento (art. 427) ................................................................ 33 
8.6. Momento para o desaforamento ................................................................................. 33 
8.7. Hipóteses que autorizam o desaforamento ................................................................. 33 
8.8. Crimes conexos e coautores .......................................................................................35 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
3 
8.9. Comarca (ou subseção judiciária) para a qual o processo será desaforado ............... 35 
8.10. Efeito suspensivo ...................................................................................................... 35 
8.11. Recursos ................................................................................................................... 35 
8.12. Reaforamento............................................................................................................ 36 
9. Preparação do processo para julgamento em plenário ..................................................... 36 
9.1. Ordenamento do processo (despacho saneador) ....................................................... 37 
9.2. Habilitação do assistente da acusação ....................................................................... 38 
10. Organização do júri .......................................................................................................... 38 
10.1. Requisitos para ser jurado ........................................................................................ 38 
11. Organização do júri .......................................................................................................... 40 
12. Sessão do julgamento ..................................................................................................... 42 
12.1. Distinção entre reunião periódica e sessão de julgamento ....................................... 42 
12.2. Ausências injustificadas à sessão de julgamento...................................................... 42 
12.3. Verificação da presença de pelo menos 15 jurados .................................................. 45 
12.4. Empréstimo de jurados ............................................................................................. 45 
12.5. Recusas .................................................................................................................... 45 
12.5.1. Questão .............................................................................................................. 48 
12.6. Instrução em plenário ................................................................................................ 49 
12.6.1. Leitura de peças ................................................................................................. 49 
12.6.2. Interrogatório do acusado e uso de algemas ...................................................... 49 
12.7. Debates ..................................................................................................................... 50 
12.7.1. Réplica e tréplica ................................................................................................ 51 
12.7.2. Exibição e leitura de documentos no plenário do júri .......................................... 52 
12.7.3. Argumento de autoridade ................................................................................... 53 
12.7.4. Direito ao aparte ................................................................................................. 54 
12.7.5. Acusado indefeso ............................................................................................... 54 
12.7.6. Sociedade indefesa ............................................................................................ 56 
12.7.7. Esclarecimentos aos jurados e possível dissolução do conselho de sentença .. 56 
13. Quesitação ....................................................................................................................... 57 
13.1. Sistema utilizado para quesitação ............................................................................. 58 
13.2. Leitura dos quesitos .................................................................................................. 58 
13.3. Votação ..................................................................................................................... 59 
13.4. Contradição e prejudicialidade .................................................................................. 59 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
4 
13.5. Ordem dos quesitos: ................................................................................................. 60 
13.6. Falso testemunho em plenário .................................................................................. 63 
13.7. Agravantes e atenuantes .......................................................................................... 64 
14. Desclassificação pelos jurados ........................................................................................ 66 
14.1. Espécies de desclassificação .................................................................................... 66 
14.2. Desclassificação e infração de menor potencial ofensivo ......................................... 66 
14.3. Desclassificação pelos jurados e competência para o julgamento dos crimes 
conexos e/ou continentes Exemplo: ................................................................................... 67 
14.4. Absolvição pelos jurados e competência para o julgamento dos crimes conexos e/ou 
continentes ......................................................................................................................... 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
5 
1. Considerações iniciais 
Conceito1: o júri é um órgão especial do Poder Judiciário de 1ª instância, 
pertencente à Justiça Comum (Estadual ou Federal), colegiado e heterogêneo (formado 
pelo juiz presidente e por 25 jurados), que tem competência mínima para julgar os crimes 
dolosos contra a vida, temporário (porque constituído para sessões periódicas, sendo 
depois dissolvido), dotado de soberania quanto às suas decisões, tomadas de maneira 
sigilosa e inspiradas pela íntima convicção, sem fundamentação, de seus integrantes 
leigos. 
Observações sobre o conceito: 
 Não existe tribunal do júri na Justiça Eleitoral nem na Justiça Militar (da 
União ou dos Estados). Segundo a doutrina, a lei poderia até regulamentar um 
tribunal do júri nestas justiças, mas não há previsão legal nesse sentido. 
 Dos 25 jurados, apenas 7 irão compor o conselho de sentença. 
 O MP não faz parte do tribunal do júri. 
 A competência do órgão colegiado e heterogêneo é um exemplo de 
competência funcional por objeto do juízo. Portanto, determinadas matérias 
serão da competência do juiz presidente e outras dos jurados. Ex.: 
 Jurados: existência do crime, causas de diminuição, materialidade, 
qualificadoras, entre outras. 
 Juiz presidente: todas as demais matérias, como nulidades, agravantes e 
atenuantes, entre outras. 
 A competência do tribunal do júri está prevista na própria Constituição Federal. 
De acordo com a doutrina, a competência é considerada mínima porque ela 
pode ser ampliada, inclusive por lei ordinária, mas não pode haver 
supressão. É o que ocorre, por exemplo, com os crimes conexos e continentes, 
pois havendo conexão ou continência com um crime doloso contra a vida, o 
tribunal do júri exercerá força atrativa. 
1.2. Natureza jurídica 
É um órgão do Poder Judiciário de primeira instância. 
O art. 92 da CF/88 não faz referência ao tribunal do júri como órgão do Poder 
Judiciário. Por essa razão, há doutrinadores que entendem que o tribunal do júri não poderia 
ser considerado um órgão do Poder Judiciário. No entanto, segundo RB, o rol do art. 92 da 
CF não é taxativo, por exemplo, JECrim, que entende estar inserido nos tribunais e juízes 
dos Estados. 
 
1
 Conceito baseado na obra Tribunal do Júri – Teoria e Prática, de Walfredo Cunha Campos. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
6 
2. Princípios constitucionais do júri 
CF/ 88. Art. 5º (...) 
XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização que 
lhe der a lei, assegurados: 
a) a plenitude de defesa; 
b) o sigilo das votações; 
c) a soberania dos veredictos; 
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a 
vida; 
2.1. Plenitude de defesa 
Distinção entre a ampla defesa e a plenitude de defesa: 
Ampla defesa Plenitude de defesa 
CF, art. 5º, LV – “aos litigantes, em processo 
judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e 
ampla defesa, com os meios e recursos a 
ela inerentes”. 
CF, art. 5º, XXXVIII – “é reconhecida a 
instituição do júri, com a organização que lhe 
der a lei, assegurados: a) a plenitude de 
defesa; (...)”. 
Assegurada aos acusados em geral, 
inclusive no júri. 
Acusado no júri. 
De acordo com RB, a única diferença é que no tribunal do júri a defesa pode se 
utilizar de argumentação extrajurídica. 
No âmbito do júri, o veredicto é dado pelos jurados, que são pessoas do povo e que 
não possuem necessariamente formação jurídica. Portanto, às vezes, é mais fácil convencer 
o julgador leigo se valendo de teses que não têm fundamento jurídico, como argumentos 
sociais, de política criminal e o lado emocional, o que jamais poderia ocorrer caso o acusado 
estivesse sendo julgado por um juiz singular. 
Jurisprudência: 
STF: “(...) Quanto mais grave o crime, deve-se observar, com rigor, as 
franquias constitucionais e legais, viabilizando-se o direito de defesa em 
plenitude. PROCESSO PENAL - JÚRI - DEFESA. Constatado que a 
defesa do acusado não se mostrou efetiva, impõe-se a declaração de 
nulidade dos atos praticados no processo, proclamando-se insubsistente 
o veredicto dos jurados. JÚRI - CRIMES CONEXOS. Uma vez afastada a 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
7 
valia do júri realizado, a alcançar os crimes conexos, cumpre a realização 
de novo julgamento com a abrangência do primeiro”. (STF, 1ª Turma, 
HC 85.969/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 04/09/2007, Dje 18 
31/01/2008). 
2.2. Sigilo das votações 
Não obstante a CF utilizar a terminologia “sigilo das votações”, não é a votação que é 
sigilosa, mas o voto. Isso significa que a ninguém é permitido conhecer o sentido do voto 
do jurado, inclusive o juiz presidente. 
2.2.1. Sala especial (ou secreta) 
Evitar a terminologia sala secreta. 
Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os 
jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do 
acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a 
fim de ser procedida a votação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 
2008) 
§ 1º Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará que o 
público se retire, permanecendo somente as pessoas mencionadas no 
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 2º O juiz presidente advertirá as partes de que não será permitida 
qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifestação do 
Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenientemente. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Não é o assistente e o querelante que se dirigirão à sala especial, mas sim os 
respectivos advogados, que têm capacidade postulatória. Caso a vítima estivesse presente, 
haveria prejuízo à livre manifestação do Conselho. 
O público pode ser privado do acesso à votação, pois a sala especial trata-se 
publicidade restrita. A regra é a publicidade ampla, porém a própria CF autoriza que a 
publicidade sofra restrições para preservar algum interesse público envolvido (CF, arts. 93, 
IX e 5º, LX). 
O acusado e o público em geral não acompanharão a votação na sala especial, 
com o fim de preservar a livre manifestação dos jurados, que sofreriam nítido 
constrangimento caso o público e o acusado estivessem presentes. 
 O acusado pode ser seu próprio defensor? 
Sim, desde que seja advogado. Para compatibilizar a ampla defesa e a livre 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
8 
manifestação dos jurados no momento da votação, a melhor solução seria a nomeação de 
um defensor ad hoc (para o ato). Assim, o advogado continuaria exercendo sua defesa 
técnica, mas ele, como acusado, não pode acompanhar a votação. 
2.2.2. Incomunicabilidade dos jurados 
Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sentença, o 
juiz presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a suspeição e as 
incompatibilidades constantes dos arts. 448 e 449 deste Código. (Redação 
dada pela Lei nº 11.689/08) 
§ 1º O juiz presidente também advertirá os jurados de que, uma vez 
sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com outrem, nem 
manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do 
Conselho e multa, na forma do § 2º do art. 436 deste Código. (Redação 
dada pela Lei nº 11.689/08) 
§ 2º A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo oficial de 
justiça. (Redação dada pela Lei nº 11.689/08) 
A incomunicabilidade é necessária para preservar o sigilo do voto. 
A incomunicabilidade não é absoluta, já que ela está relacionada com a opinião 
sobre o processo (art. 466, § 1º). 
A ligação rápida e imediatamente após o sorteio, acompanhada do oficial de justiça, 
não viola a incomunicabilidade. Jurisprudência: 
STF: “(...) Não se constitui em quebra da incomunicabilidade dos 
jurados o fato de que, logo após terem sido escolhidos para o Conselho de 
Sentença, eles puderam usar telefone celular, na presença de todos, para o 
fim de comunicar a terceiros que haviam sido sorteados, sem qualquer 
alusão a dados do processo. Certidão de incomunicabilidade de jurados 
firmada por oficial de justiça, que goza de presunção de veracidade. 
Desnecessidade da incomunicabilidade absoluta. Precedentes. Nulidade 
inexistente. (...)”. (STF, Pleno, AO 1.047/RR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 
28/11/2007, Dje 65 10/04/2008). 
A incomunicabilidade é protegida até o fim do julgamento. 
A incomunicabilidade busca proteger o sigilo que, por sua vez, existe para proteger o 
jurado. Só há falar em necessidade de preservação da incomunicabilidade dos jurados até o 
encerramento da sessão de julgamento. Logo, concluído o julgamento, não há falar em 
nulidade absoluta do processo se, porventura, o jurado vier a revelar a posteriori o sentido 
do seu voto. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
9 
2.2.3. Votação unânime 
Antes da Lei 11.689/08: todos os votos eram computados (7x0). Sendo hipótese de 
votação unânime, saber-se-ia o sentido que cada um dos jurados votou, violando-se o sigilo 
das votações. 
Depois da Lei 11.689/08: a votação deve ser encerrada quando forem atingidos 
quatro votos num determinado sentido: 
Art. 483 (...) § 1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a 
qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo 
encerra a votação e implica a absolvição do acusado. (Incluído pela Lei nº 
11.689, de 2008) 
O dispositivo faz referência apenas aos incisos I e II (materialidade e autoria). No 
entanto, a doutrina entende que essa forma de votação também se aplica para os 
demais quesitos (interpretação extensiva), com o intuito de proteger o sigilo das 
votações. 
2.3. Soberania dos vereditos 
Um tribunal formado por juízes togados não pode modificar o mérito da decisão 
dos jurados. Fundamento: a CF/88 outorga ao tribunal do júri a competência para julgar 
crimes dolosos contra a vida. 
A soberania dos veredictos existe para proteger os jurados quanto ao mérito da 
decisão por eles proferida. 
2.3.1. Recorribilidade contra decisões do júri 
Cabe apelação contra sentença do Tribunal do Júri quando (art. 593, III): 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão 
dos jurados; 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida 
de segurança; 
d) for a decisão dos jurados manifestamentecontrária à prova dos autos. 
O recurso do júri é de fundamentação vinculada, devendo ser apontada a alínea 
na própria petição do recurso. 
Súmula 713 STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões 
do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição” 
Ou seja, o tribunal não pode julgar com base em alínea não apontada na petição da 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
10 
apelação. 
2.3.2. Juízo a ser feito pelo TJ ou TRF 
Quando se fala em conhecimento (ou provimento) de recursos existem dois juízos: 
 Juízo rescindente (revidente): desconstituição da decisão impugnada, 
cassando a decisão. 
 Juízo rescisório (revisório): nova decisão em substituição à impugnada. 
No tribunal do júri, a soberania dos veredictos existe para proteger a decisão dos 
jurados especificamente quanto ao mérito, não sendo aplicada para decisão do juiz 
presidente. Portanto: 
 Alínea “a”: juízo rescindente. 
 Alínea “b”: juízos rescindente e rescisório (decisão proferida pelo juiz 
presidente). 
 Alínea “c”: juízos rescindente e rescisório (decisão proferida pelo juiz 
presidente). 
 Alínea “d”: juízo rescindente – novo julgamento pelo tribunal do júri (o recurso 
com base nessa alínea pode ser interposto apenas uma vez). 
Dispositivo legal: 
Art. 593: (...). 
§ 1º: Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou 
divergir das respostas dos jurados aos quesitos [CPP, art. 593, III, “b”], o 
tribunal ad quem fará a devida retificação. 
§ 2º: Interposta a apelação com fundamento no nº III, c, deste artigo, 
o tribunal ad quem, se Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena 
ou da medida de segurança. 
§ 3º: Se a apelação se fundar no nº III, d, deste artigo, e o tribunal ad 
quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente 
contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a 
novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda 
apelação. 
2.3.3. Quesitos dos jurados 
Um tribunal formado por juízes togados não pode modificar no mérito a decisão dos 
jurados. Os quesitos formulados tratam do mérito da decisão dos jurados. 
Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, 
indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
11 
I – a materialidade do fato; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
II – a autoria ou participação; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 
2008) 
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de 
pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que 
julgaram admissível a acusação. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
São esses os quesitos que estarão protegidos pela soberania dos veredictos. 
Ex.: 
 Erro quanto à qualificadora: novo julgamento pelo júri. 
 Erro quanto à agravante: juízos rescindente e rescisório. 
Obs.: quem decide sobre agravante é o juiz presidente. 
Jurisprudência: 
STF: “(...) A soberania dos veredictos do Tribunal do Júri, não 
sendo absoluta, está sujeita a controle do juízo ad quem, nos termos do 
que prevê o artigo 593, inciso III, alínea d, do Código de Processo Penal. 
Resulta daí que o Tribunal de Justiça do Paraná não violou o disposto no 
artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea c, da Constituição do Brasil ao anular a 
decisão do Júri sob o fundamento de ter contrariado as provas coligidas 
nos autos, Precedentes. O Tribunal local proferiu juízo de cassação, não 
de reforma, reservando ao Tribunal do Júri, juízo natural da causa, novo 
julgamento. (...) Ordem denegada”. (STF, 2ª Turma, HC 94.052/PR, Rel. 
Min. Eros Grau, j. 14/04/2009, DJe 152 13/08/2009). 
Questão: 
(Procurador da República – Março/2017). Se, em razão de recurso da 
defesa, o Tribunal de Apelação entender que não existiu a qualificadora 
reconhecida pelo Conselho de Sentença, deverá necessariamente 
submeter o acusado a novo julgamento, não podendo, em hipótese 
alguma, afastar essa qualificadora (CORRETO). 
2.3.4. Revisão criminal contra decisão do júri 
Não há violação à soberania dos veredictos. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
12 
Tanto a soberania dos veredictos como a revisão criminal são garantias que foram 
pensadas para proteger a liberdade de locomoção do indivíduo. Logo, seria um absurdo 
permitir que uma decisão do júri, contaminada por um grave erro judiciário, jamais 
pudesse ser revista em razão da soberania dos veredictos. 
Controvérsia sobre o juízo: 
1ª C: juízo rescindente, desconstituindo a decisão impugnada com trânsito em 
julgado, necessitando de novo júri. 
2ª C: juízos rescindente e rescisório, proferindo uma nova decisão em 
substituição àquela impugnada. 
RB entende que a segunda corrente seria a mais adequada, que adota uma visão 
pragmática, já que a revisão criminal geralmente é ajuizada muitos anos após o fato 
delituoso (pressupõe o trânsito em julgado), dificultando, por exemplo, ouvir testemunhas. 
Questão: 
(MPE/SP – 2017) Considerando o princípio da soberania dos 
veredictos e as particularidades dos procedimentos da competência do 
Tribunal do Júri, é correto afirmar que 
(A) a Superior Instância só poderá anular a decisão do Tribunal do 
Júri em razão de nulidade processual. 
(B) anulada a decisão pela Superior Instância, a decisão em um 
segundo julgamento é definitiva, não podendo ser conhecida nova 
apelação [apenas no caso da alínea “d”, porém pode ser interposta 
apelação com base em outra hipótese]. 
(C) a apelação só é cabível para a apreciação do montante da pena 
aplicada. 
(D) a Superior Instância, ao avaliar a decisão de mérito dos jurados, 
verificará apenas se a decisão encontra respaldo na prova dos autos. 
(E) é incabível revisão criminal das decisões do Tribunal do Júri. 
Gabarito: D. 
2.4. Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a 
vida 
Trata-se de uma competência mínima, não podendo ser suprimida nem mesmo 
por emenda constitucional, mas pode ser ampliada por uma simples lei ordinária. 
Considerações: 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
13 
 O tribunal do júri é uma cláusula pétrea (CF, art. 5º). 
 O tribunal do júri assegura o caráter democrático do Poder Judiciário, 
permitindo a participação do povo nos julgamentos desse Poder. 
A ampliação já ocorre. De acordo com o próprio CPP, o tribunal do júri tem força 
atrativa para o julgamento dos crimes conexos e continentes (art. 78, I), salvo se 
eleitorais ou militares. 
Infrações penais envolvendo mortes dolosas que não são julgadas pelo júri: 
 Latrocínio (crime contra o patrimônio): Súmula 603 STF. 
 Atos infracionais (ECA). 
 Genocídio (crime contra a existência de grupo racial, étnico ou religioso). Ex.: 
pode ser praticado dando anticoncepcionais à uma tribo indígena. Contudo, se 
for praticado genocídio com a prática de mortes dolosas (homicídio), haverá 
força atrativa do crime de genocídio para ser julgado no Tribunal do Júri em 
razão dos homicídios. 
 Militar da ativa contra militar da ativa (crime militar - CPM, art. 9º, II, “a”). 
 Civil que mata dolosamente militar das forças armadas em serviço (STF - HC 
91.003) (crime militar – CPM, art. 9º, III, “b”) (Justiça Militar da União). 
 CPM, art. 9º, § 2º (Lei 13.491/17). 
 Crime político do artigo 29 da Lei 7.170/83 (morte dolosa do Presidente, 
presidente do Senado, da Câmara e do Supremo com motivação política). 
 Foro por prerrogativa de função previsto na CF 
S. 721 STF (SV. n. 45): “A competência constitucional do tribunal do 
júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido 
exclusivamente pela constituição estadual”. 
3. Procedimento bifásico do tribunaldo júri 
Além de ser especial, o tribunal do júri é um procedimento bifásico (ou escalonado): 
 1ª fase: sumário da culpa (iudicium accusationis). 
 2ª fase: julgamento em plenário (iudicium causae). 
Na primeira fase verifica-se a admissibilidade da acusação de um crime doloso 
contra a vida, em uma espécie de filtragem, evitando-se que um possível inocente seja 
levado a julgamento pelo júri (e eventualmente condenado). 
Diferenças entre as duas fases: 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
14 
Iudicium accusationis Iudicium causae 
Apenas o juiz sumariante Juiz presidente + 25 jurados (7 compõem o 
Conselho de Sentença) 
Início: oferecimento da denúncia (exceção: 
queixa-crime) 
Início: 
- Antes da Lei 11.689/08: libelo-acusatório 
- Depois da Lei 11.689/08: preparação para 
julgamento em plenário 
Término: impronúncia; desclassificação; 
absolvição sumária e pronúncia 
Término: sentença na sessão de julgamento 
Assemelha-se com procedimento comum 
ordinário 
 
Considerações: 
 Início (queixa-crime): ação penal privada subsidiária da pública e crime 
conexo ou continente de ação privada (o MP deverá oferecer denúncia em 
relação ao crime doloso contra a vida ao passo que o ofendido terá a 
oportunidade de oferecer queixa-crime em relação ao crime de ação penal de 
iniciativa privada). 
 O libelo-acusatório foi extinto pela reforma processual de 2008. Atualmente, o 
início da segunda fase ocorre com a preparação do processo para julgamento 
em plenário, que, por sua vez, terá início imediato quando houver a preclusão da 
pronúncia. 
Procedimento comum ordinário x procedimento do iudicium accusationis: 
 Procedimento comum 
ordinário 
Procedimento do iudicium 
accusationis 
Oitiva da acusação após a 
resposta à acusação 
Não há previsão legal. Há previsão legal (art. 409) 
Absolvição sumária Início do processo. Final da primeira fase. 
Diligências Há previsão legal. Não há previsão legal. 
Alegações Orais (ou memoriais). Orais. 
Prazo (audiência) 60 dias (ou 30 dias, no 
sumário). 
90 dias. 
Ausência dos memoriais da 
defesa 
Nulidade absoluta (violação à 
ampla defesa). 
Pode ser uma estratégia da 
defesa. 
4. Impronúncia 
Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da 
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
15 
fundamentadamente, impronunciará o acusado. (Redação dada pela Lei 
nº 11.689, de 2008) 
A decisão de impronúncia deverá ser proferida pelo juiz sumariamente em duas 
hipóteses: 
 Não convencido da materialidade do delito. 
 Ausência de indícios suficientes de autoridade ou de participação. 
4.1. Natureza jurídica da decisão de impronúncia e coisa julgada 
A redação antiga do CPP determinava que o juiz, ao impronunciar o acusado, deveria 
julgar a denúncia ou a queixa improcedente. No entanto, na impronúncia, o juiz se abstém 
de analisar o mérito, porque não está convencido da materialidade ou dos indícios de 
autoria. 
Atualmente, a decisão de impronúncia é classificada como uma decisão: 
 Interlocutória: não há análise do mérito. 
 Mista: põe fim a uma fase procedimental. 
 Terminativa: extinção do processo. 
A decisão de impronúncia só faz coisa julgada formal, porquanto proferida com base 
na cláusula rebus sic standibus. Assim, caso haja alteração dos pressupostos fáticos ou 
jurídicos, a decisão de impronúncia poderá ser modificada. 
4.1.1. Provas novas e oferecimento de outra peça acusatória 
Diante do surgimento de provas novas será possível o oferecimento de outra peça 
acusatória. 
Art. 414 (...) 
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, 
poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
De acordo com a doutrina, prova nova é aquela capaz de alterar o contexto 
probatório dentro do qual fora proferida a impronúncia. Espécies: 
 Substancialmente nova: inédita, sendo a prova desconhecida quando da 
decisão de impronúncia. 
 Formalmente nova (Nucci): nova versão. Ou seja, a prova já era conhecida e 
já tinha sido utilizada, mas ganhou uma nova versão. Ex.: testemunha muda 
versão do depoimento. 
Não há falar em reabertura do processo (em razão da coisa julgada formal), sendo 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
16 
necessário oferecer uma nova peça acusatória, dando origem a um novo processo criminal. 
Não há violação ao princípio do ne bis in idem processual. De acordo com o 
princípio do ne bis in idem processual, ninguém pode ser processado duas vezes pela 
mesma imputação. Sucede que na impronúncia não há apreciação do mérito, portanto, a 
doutrina majoritária entende que não há violação ao princípio. 
- Impronúncia absolutória 
Antes da Lei n. 11.689/08 existia a impronúncia absolutória, que ocorria caso o juiz 
reconhecesse a atipicidade, a inexistência do crime ou a negativa de autoria ou de 
participação. A absolvição sumária no júri só era cabível para excludentes da ilicitude e da 
culpabilidade. Assim, apesar de receber a denominação de “impronúncia”, essa decisão era 
de mérito (coisa julgada formal e material). 
Depois da Lei 11.689/08 a impronúncia absolutória não mais subsiste, já que suas 
causas foram colocadas pelo legislador como hipóteses de absolvição sumária. 
4.2. Infração conexa 
Ao proferir a decisão de impronúncia, o juiz deve se ater ao crime doloso contra a 
vida. Logo, a infração conexa deve aguardar o julgamento de eventual recurso contra a 
impronúncia: 
 Provimento: o crime conexo também será levado a julgamento perante o tribunal 
do júri. 
 Não provimento: significa que foi mantida a decisão de impronúncia, sendo o 
crime conexo encaminhado ao juiz singular competente. 
4.3. Despronúncia 
A despronúncia ocorre quando alguém é pronunciado, mas essa decisão é alterada 
para uma impronúncia, em virtude da interposição de um recurso (RESE). 
Juízo competente para despronunciar o acusado: 
 Juízo a quo: caso se retrate após a interposição do RESE; ou 
 Juízo ad quem. 
Antes do ano de 2008, o recurso cabível contra a impronúncia também era o RESE. Se 
a impronúncia ocorresse em sede de juízo de retratação seria suficiente ao MP apresentar 
uma simples petição para que interpusesse o RESE (art. 589, parágrafo único). 
Art. 589 (...) Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho 
recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da nova 
decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. 
Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
17 
próprios autos ou em traslado. 
No entanto, isso não mais subsiste. Com a reforma processual de 2008, já não cabe 
mais o RESE contra a impronúncia, sendo a apelação o recurso adequado contra a 
impronúncia. Assim, caso o juiz se retrate no julgamento do RESE interposto contra a 
pronúncia, caberá à acusação interpor uma apelação, não podendo mais se valer da regra 
do parágrafo único do artigo 589. 
 Recurso contra pronúncia: RESE 
 Recurso contra impronúncia: APELAÇÃO 
4.4. Recurso cabível contra a impronúncia 
Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição 
sumária caberá APELAÇÃO. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Considerações sobre o artigo 416 do CPP: 
 A impronúncia não é sentença. 
 A vigência da Lei n. 11.689/08 ocorreu no dia 09/08/2008. 
Exemplo (TJ-MG): 
 08/08/08 (sexta-feira): decisão de impronúncia. 
 09/08/08 (sábado): entrada em vigor da Lei n. 11.689/08. 
 11/08/08 (segunda-feira): interposição do recurso (?). 
R.: Qual seria o recurso adequado a ser interposto? O RESE. A lei aplicável ao 
recurso é a norma vigente à época em que a decisão fora proferida. Como a decisão data 
de 8 de agosto de 2008, o acusadopassou a ter o direito adquirido às regras recursais então 
em vigor (RESE). 
4.4.1 Interesse recursal 
 MP e querelante. 
 Assistente (art. 584, § 1º). 
 Defensor e acusado. 
A decisão de impronúncia só faz coisa julgada formal. Portanto, o acusado pode ter 
interesse recursal, desde que ele tenha interesse em transformar a impronúncia em uma 
decisão de absolvição sumária. 
5. Desclassificação 
A desclassificação ocorre quando o juiz sumariante entender, em dicordância com a 
acusação, que a imputação não versa sobre crime doloso contra a vida (homicídio, 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
18 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio e aborto) e não for competente 
para seu julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja (art. 419). O juiz sumariante 
não fica vinculado à classificação formulada pela acusação. 
É possível a desclassificação para crime mais grave. 
Exemplo: se o juiz entender que não se trata de homicídio doloso, mas sim de 
latrocínio, deve proceder à desclassificação, remetendo os autos ao juiz singular, salvo 
se ele próprio for o competente. 
No entanto, se entender que o fato delituoso versa sobre crime de infanticídio, a 
decisão a ser proferida não é a de desclassificação, mas sim a de pronúncia. Afinal, 
referido delito também é da competência do júri. 
5.1. Desclassificação x Desqualificação 
A desqualificação é a exclusão de qualificadoras por ocasião da pronúncia. 
Exemplo: 
 Denúncia: CP, art. 121, § 2º, II. 
 Pronúncia: CP, art. 121, caput. 
De acordo com a doutrina e os tribunais superiores, a desqualificação é uma medida 
excepcional. Fundamento: o juiz sumariante não pode usurpar a soberania dos jurados, 
portanto, a desqualificação somente pode ocorrer em caso de evidente excesso. 
5.2. Nova classificação 
Por ocasião da desclassificação, o juiz sumariante deve se abster de fixar nova 
capitulação, evitando um pré-julgamento. Portanto, o juiz sumariante deve se restringir a 
análise de se tratar ou não de crime doloso contra vida. 
5.3. Procedimento a ser observado pelo juiz singular competente 
Em comarcas compostas por várias varas criminais, o juiz sumariante, ao proferir a 
decisão de desclassificação, remeterá os autos ao novo juízo competente. 
Questão: a decisão de desclassificação é proferida após toda uma instrução. 
Quando os autos são encaminhados ao novo juízo competente, é necessária uma nova 
instrução? 
 1ª corrente: não, podendo o novo juízo proceder de imediato ao julgamento. 
 2ª corrente (RB e Gustavo Badaró): sim, procedendo-se à oitiva da acusação e 
da defesa, respeitando-se o contraditório e a ampla defesa. O contraditório e a 
ampla defesa valem não apenas quanto aos fatos, mas também quanto à 
desclassificação. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
19 
5.4. Infração conexa 
Deve aguardar o julgamento de eventual RESE interposto contra a 
desclassificação: 
 Provimento: a pronúncia vai trazer consigo o crime conexo, já que o tribunal do 
júri exerce força atrativa em relação aos crimes conexos. 
 Não provimento: a imputação desclassificada será encaminhada a outro juízo, 
juntamente com o crime conexo. 
Art. 81. [...] 
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por 
conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou 
impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a 
competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. 
Obs.: o ideal é que a remessa dos autos ao juízo competente ocorra somente após o 
julgamento do recurso. Enquanto ele não ocorrer, essas decisões ainda não são definitivas, 
podendo ser modificadas. 
5.5. Situação do acusado preso frente à desclassificação 
Art. 419. (...) Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a 
outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. (Incluído pela Lei 
nº 11.689, de 2008) 
Havendo desclassificação, o acusado preso não necessariamente será colocado em 
liberdade. Logicamente, para que a prisão seja mantida, há necessidade de decisão 
fundamentada do novo juízo. 
Ao desclassificar, o juiz sumariante não tem mais competência para o feito, remetendo 
os autos para o competente. Portanto, se a competência é de outro juízo, o indivíduo preso 
precisa de uma nova decisão fundamentada quanto à sua prisão, proferida por esse novo 
juízo. 
5.6. Recurso adequado 
O recurso adequado contra a desclassificação é o RESE 
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou 
sentença: (...) II - que concluir pela incompetência do juízo; 
Interesse recursal para interpor o RESE contra a desclassificação: 
 MP e querelante. 
 Defensor e acusado (a desclassificação pode ser para um crime mais grave). 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
20 
O assistente da acusação tem interesse recursal? 
 1ª corrente (legalista): não. O CPP indica que o assistente só pode recorrer 
contra a impronúncia, a extinção da punibilidade e a sentença absolutória. 
Ademais, o interesse patrimonial do assistente continuaria presente, já que o 
acusado continuará sendo julgado perante outro juízo. 
 2ª corrente (RB): sim. O assistente da acusação não tem apenas interesse 
patrimonial, mas também na justa aplicação da lei. Portanto, caso entenda 
tratar-se de crime doloso contra a vida, o assistente poderá recorrer. 
5.7. Conflito de competência suscitado pelo juízo singular 
competente 
Questão: proferida a decisão de desclassificação pelo juiz sumariante, e 
confirmada pelo juízo ad quem, em razão da interposição de RESE, os autos serão 
remetidos a outro juízo. Esse novo juízo poderá suscitar um conflito de competência, 
entendendo tratar-se de crime doloso contra a vida? 
 1ª corrente (adotar em bancas tradicionais): não é cabível o conflito de 
competência, pois já teria sido operada a preclusão pro judicato, pois não 
houve recurso das partes ou a decisão foi confirmada pelo Tribunal, não 
cabendo ressuscitar a discussão sobre a matéria, sob pena de retrocesso do 
procedimento. 
 2ª corrente (RB): a existência ou não de crime doloso contra a vida segue o 
regime da competência absoluta (improrrogável), pois a competência do tribunal 
do júri é em razão da matéria (ratione materiae). Portanto, o tema não estaria 
sujeita à preclusão. Ademais, os conflitos de competência são julgados por uma 
Câmara especial do TJ, que é superior à Câmara que julgou o RESE que 
confirmou a desclassificação. 
Obs.: Se a desclassificação acarretar a remessa dos autos para outra Justiça, será 
cabível o conflito de competência. 
6. Absolvição sumária 
A absolvição sumária está prevista tanto para o procedimento comum (art. 397) como 
também para o tribunal do júri (art. 415). 
Vide caderno: procedimento comum. 
6.1. Causas de absolvição sumária 
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
21 
acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, 
de 2008) 
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada 
pela Lei nº 11.689, de 2008) 
III – o fato não constituir infração penal; (Redação dada pela Lei nº 
11.689, de 2008) 
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do 
crime. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste 
artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do 
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo 
quando esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 
2008) 
No âmbito do júri é cabível a absolvição sumária imprópria, quando a 
inimputabilidade for a única tese defensiva. Ou seja, o juiz absolve sumariamente, mas 
aplica medida de segurançaao inimputável (CP, art. 26, “caput”). 
Caso exista outra tese defensiva, primeiro é necessário verificar se ela não se subsume 
a nenhuma das demais hipóteses de absolvição sumária. Caso positivo, tratar-se-á de 
absolvição sumária própria, não sendo o réu submetido à medida de segurança. Caso 
contrário, ou seja, não estando o juiz convencido sobre a outra tese defensiva, o réu não 
poderá ser absolvido sumariamente com fundamento no parágrafo único do artigo 415. 
Nesse último caso, a solução seria a pronúncia, já que no júri ele poderá convencer os 
jurados quanto à outra tese defensiva (situação mais vantajosa). E, caso logre êxito, o réu 
será absolvido. 
De acordo com o STJ, se houver outra tese defensiva que seja sustentada de 
maneira genérica, seria cabível a aplicação do parágrafo único do artigo 415 (RHC n. 
39.920). 
6.2. Infração conexa 
Deve aguardar o julgamento de eventual apelação interposta contra a absolvição 
sumária (mesmo raciocínio já visto). 
6.3. Coisa julgada 
A coisa julgada em torno da absolvição sumária é formal e material, tratando-se de 
sentença absolutória proferida ao final da primeira fase do procedimento escalonado. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
22 
6.4. Recurso adequado 
Antes da Lei n. 11.689/08: RESE. 
Depois da Lei n. 11.689/08 (09/08/08): APELAÇÃO. 
Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição 
sumária caberá apelação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
6.4.1. Interesse recursal 
 MP e querelante. 
 Assistente da acusação. 
O acusado e o defensor? Sim, tendo em conta que em algumas situações o 
fundamento da sentença absolutória poderá ser mais ou menos benéfico ao acusado. Ou 
seja, dependendo do fundamento absolutório, a absolvição sumária poderá, ou não, fazer 
coisa julgada no cível. Exemplo: 
 O reconhecimento da atipicidade não faz coisa julgada no âmbito cível. 
 O reconhecimento categórico da inexistência do fato faz coisa julgada no âmbito 
cível. 
6.4.2. Recurso de ofício 
Recurso de ofício refere-se à hipótese de reexame necessário (duplo grau 
obrigatório). Para muitos doutrinadores, o recurso de ofício sequer poderia ser tratado 
como recurso, já que a ele falta o pressuposto da voluntariedade. 
Uma das hipóteses de reexame necessário é a do inciso II do artigo 574 do CPP: 
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes 
casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: 
I - da sentença que conceder habeas corpus; 
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência 
de circunstância que exclua o crime [causa excludente da ilicitude] ou 
isente o réu de pena [causa excludente da culpabilidade], nos termos do 
art. 411 [era o que tratava da absolvição sumária: atualmente 415]. 
O inciso II desse artigo não continua válido. O atual artigo 415 não faz nenhuma 
referência ao recurso de ofício, como o fazia o antigo artigo 411 em sua redação original. 
Portanto, segundo a doutrina (LFG e RB), o inciso II do artigo 574 foi tacitamente 
revogado pela reforma de 2008. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
23 
7. Pronúncia 
A pronúncia é o juízo de admissibilidade quanto à imputação de um crime doloso 
contra a vida. Em outras palavras, o juiz, ao pronunciar o acusado, está admitindo que ele 
seja levado a julgamento perante o tribunal do júri. O juízo de admissibilidade é relevante 
para que um possível inocente não seja levado para o júri. 
O indivíduo deve ser pronunciado pelo juiz quando este estiver convencido quanto à 
existência do delito e a presença de indícios de autoria ou de participação. 
Em regra, a decisão de pronúncia é proferida pelo juiz sumariamente após as 
alegações orais. No entanto, ela também pode ser proferida no julgamento de eventual 
recurso (ex.: juízo ad quem no julgamento de recursos interpostos contra impronúncia, 
desclassificação ou absolvição sumária). 
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se 
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios 
suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada pela Lei nº 
11.689, de 2008) 
7.1. Pressupostos 
 Convencido quanto à materialidade do fato; e 
 Presença de indícios de autoria ou de participação. 
7.2. Regra probatória 
O juiz não pode proferir o non liquet, abstendo-se de decidir por não saber como fazê-
lo, devendo nesse caso aplicar a regra probatória. 
Regra probatória a ser aplicada por ocasião da pronúncia: 
 1ª corrente (majoritária, bt): in dubio pro societate. Na dúvida o réu deve ser 
pronunciado. 
 2ª corrente: in dubio pro reo. 
A primeira corrente, apesar de majoritária, vem perdendo espaço para a segunda 
corrente. Um dos fundamentos é a própria redação do artigo 413: 
 Quanto à materialidade, o legislador utilizou o termo “convencido”, indicando um 
juízo de certeza. 
 Quanto à autoria, o legislador utilizou o termo “indícios”, que nesse contexto 
significa prova semiplena. Essa prova tem menor valor persuasivo, não 
autorizando um juízo de certeza, mas autoriza um juízo de probabilidade. 
Portanto, conforme a segunda corrente, a dúvida não autoriza a pronúncia, pois o CPP 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
24 
exige certeza quanto à existência do delito e probabilidade de autoria. 
7.3. Natureza jurídica 
A pronúncia é uma decisão: 
 Interlocutória: não há apreciação do mérito. 
 Mista: põe fim a uma fase procedimental. 
 Não terminativa: não encerra o processo. 
Como a decisão de pronúncia não é sentença, mas decisão interlocutória, operar-se-
á a preclusão de decisão de pronúncia. Não há se falar em trânsito em julgado. 
7.4. Fundamentação 
A pronúncia deve ser fundamentada (CF, art. 93, IX e CPP, art. 413), sob pena de 
nulidade absoluta. A fundamentação deve ser feita sem excessos. Inclusive, o próprio 
CPP traz uma espécie de fundamentação vinculada da pronúncia: 
Art. 413 (...) § 1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à 
indicação da materialidade do fato e da existência de indícios 
suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o 
dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as 
circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena (Incluído 
pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Qual é a consequência da “eloquência acusatória” (excesso de fundamentação por 
ocasião da pronúncia)? 
Pela reforma processual de 2008 é a de que a pronúncia não pode ser lida como 
argumento de autoridade com o intuito de convencer os jurados. Assim, poder-se-ia concluir 
que já não há mais porque se anular o processo em razão da eloquência acusatória, já que 
ela não teria o condão de prejudicar o animus judicandi dos jurados. No entanto, essa 
conclusão está equivocada. De fato, a pronúncia não pode ser lida como argumento de 
autoridade, mas ela continua a ser entregue aos jurados, imediatamente após prestarem o 
compromisso (p.u. art. 472), portanto, a eloquência acusatória continua tendo o condão de 
influenciar o animus judicandi, consubstanciando causa de nulidade, e não de mera 
irregularidade. 
A eloquência acusatória é causa de nulidade relativa (comprovação do prejuízo) ou 
nulidade absoluta (o prejuízo é presumido)? 
Há doutrinadores que entendem que a nulidade em questão seria relativa. No entanto, 
os jurados não fundamentam seu voto, portanto, impossível de comprovar o prejuízo, o ideal 
é concluir que a nulidade seria absoluta, em razão da prova diabólica. 
STJ (decisões antigas) que, ao invés de declarar esta nulidade absoluta, 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
25 
determinou o envelopamento de pronúncias (REsp n. 982.033). No entanto, o próprio 
Código prescreve que os jurados recebem a cópia da pronúncia. Posteriormente, o próprio 
STJ deixou de determinar o envelopamento, passando a reconhecer a nulidadeabsoluta do excesso de eloquência (AgRg no REsp n. 1.442.002). Por fim, há julgados 
mais recentes do STJ que determinam a rasura de trechos ínfimos da pronúncia, 
impedindo a leitura por parte dos jurados. 
A eloquência acusatória na sentença condenatória não é causa de nulidade de 
absoluta (STJ – REsp n. 1.315.619). 
7.5. Conteúdo da pronúncia 
Art. 413 (...) § 1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à 
indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes 
de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal 
em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias 
qualificadoras e as causas de aumento de pena (Incluído pela Lei nº 
11.689, de 2008) 
Conteúdo da pronúncia: 
 Tipo penal (e o tipo penal por extensão, caso seja o caso – exemplos: CP, 
arts. 14, II, 13, § 2º e 292). 
 Qualificadoras. 
 Causas de aumento de pena. 
Elementos que não devem constar da pronúncia: 
 Causas de diminuição de pena. 
 Atenuantes e agravantes. 
 Concurso de crimes. 
7.6. Infrações conexas 
Exemplo: denúncia de homicídio e furto. Caos o juiz sumariante decida pela pronúncia 
quanto ao homicídio, o furto também será levado a júri (força atrativa). 
7.7. Constatação do envolvimento de outras pessoas 
Ao proferir a decisão de pronúncia (ou impronúncia) o juiz poderá constatar o 
envolvimento de outras pessoas, que não estavam incluídas na peça acusatória. Nessa 
hipótese, aplica-se o artigo 417: 
Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de outras 
 
2
 Concurso de agentes 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
26 
pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou impronunciar 
o acusado, determinará o retorno dos autos ao Ministério Público, por 15 
(quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. 80 deste Código. (Redação 
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
O órgão ministerial poderá aditar a peça acusatória originária (aditamento 
provocado) ou oferecer nova denúncia, com base no art. 80 (conexão / continência): 
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as 
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar 
diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes 
prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz 
reputar conveniente a separação. 
Ao oferecer o aditamento, os novos acusados passarão a integrar o processo 
originário. No entanto, há situações em que é mais vantajoso oferecer uma nova denúncia, 
instaurando-se um novo processo. 
Exemplo: quatro acusados por homicídio, todos presos. Ao 
pronunciar, o juiz constata que uma determinada pessoa teria fornecido 
as armas para a execução do homicídio (partícipe). Nessa hipótese, caso o 
MP opte pelo aditamento, haverá um retrocesso na marcha 
procedimental, repetindo-se a instrução. Consequentemente, isso poderia 
acarretar um excesso de prazo na formação da culpa, dando ensejo à 
soltura dos quatro acusados presos. Portanto, o melhor caminho seria o 
oferecimento de uma nova denúncia contra o partícipe. 
7.8. Efeitos da pronúncia 
7.8.1. Submissão do acusado a julgamento perante o tribunal do júri 
A pronúncia encerra um juízo de admissibilidade da acusação de um crime doloso 
contra a vida. Ao operar-se a preclusão dessa decisão, o indivíduo será levado a julgamento 
perante o tribunal do júri. 
7.8.2. Limitação da acusação em plenário (correlação entre 
pronúncia e quesitação) 
A pronúncia delimita o que vai ser abordado pela acusação no plenário do júri. 
Exemplo: pronúncia (CP, art. 121, § 1º, I), operando-se a preclusão, portanto, quando o 
indivíduo for levado ao plenário do júri, a acusação também deverá ser pelo CP, art. 121, § 
1º, I. 
Nucci denomina o fenômeno de “princípio da correlação entre pronúncia e quesitação”, 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
27 
isto é, caso conste da pronúncia, obrigatoriamente será quesitado aos jurados. No entanto, a 
quesitação tem outras fontes como, além da decisão de pronúncia, o interrogatório do 
acusado e as alegações das partes. 
Art. 482 (...) 
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições 
afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser 
respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua 
elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das 
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do 
interrogatório e das alegações das partes. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 
2008) 
7.8.3. Preclusão das nulidades relativas não arguidas até a 
pronúncia 
A nulidade relativa deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão. 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...] III - das 
decisões do Tribunal do Júri, quando: [...] a) ocorrer nulidade posterior à 
pronúncia; 
Assim, quando a nulidade for posterior à pronúncia, o recurso cabível será a apelação. 
Interpretado a contrario sensu o dispositivo, caso a nulidade relativa seja anterior à 
pronúncia, deverá ser arguida até o exato momento da pronúncia, sob pena de preclusão. 
7.8.4. Interrupção da prescrição 
A pronúncia é uma das causas que interrompem (volta a fluir do início) a prescrição 
(CP, art. 117, II). 
Súmula 191 do STJ: “A pronúncia é causa interruptiva da 
prescrição, ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime”. 
7.8.5. Preclusão da decisão de pronúncia e sua imodificabilidade 
Em regra, um dos efeitos da preclusão da decisão de pronúncia é a 
imodificabilidade. Excepcionalmente, ela poderá ser modificada em razão de 
circunstância superveniente, que altere a classificação do delito. 
Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão 
encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada pela 
Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 1º Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo 
circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz 
ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
28 
11.689, de 2008) 
Exemplo: preclusão da decisão de pronúncia por homicídio tentado (CP, art. 121, 
“caput” c.c. art. 14, II) e posterior morte da vítima. O óbito é posterior à preclusão da 
pronúncia, sendo ele capaz de alterar a classificação do delito, pois até então havia um 
homicídio tentado. Por conseguinte, os autos serão remetidos ao MP, que procederá ao 
aditamento (provocado), observando-se o procedimento da mutatio libelli (art. 384). 
Caso a morte ocorra no dia do julgamento, ainda é possível solucionar o problema, 
requerendo ao juiz a dissolução do conselho. No entanto, caso o indivíduo já tenha sido 
julgado, inclusive com o trânsito em julgado, não há nada a ser feito (proibição do ne bis 
idem processual). 
7.9. Decretação da prisão preventiva ou imposição de medidas 
cautelares diversas da prisão 
Antes de 2008, a prisão era uma consequência automática da pronúncia, desde 
que o acusado fosse reincidente ou tivesse maus antecedentes. Muitos doutrinadores a 
consideravam como uma espécie autônoma de prisão cautelar, denominada de prisão 
decorrente de pronúncia. Assim, o CPP trabalhava com uma presunção de fuga do 
reincidente ou do acusado com maus antecedentes. 
Essa prisão era muito criticada pela doutrina, pois nenhuma prisão cautelar poderia ser 
imposta como efeito automático de uma decisão, sob pena de violação à regra de 
tratamento que deriva do princípio da presunção de inocência. 
Com o advento da Lei n. 11.689/08, a prisão decorrente de pronúncia passou a ser 
a preventiva, sem prejuízo das cautelares diversas da prisão, não sendo mais um efeito 
automático da pronúncia. 
A fundamentação quanto à prisão preventiva ou às cautelares diversas da prisão será 
necessária tanto na hipótese de manutençãocomo na de decretação. 
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se 
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios 
suficientes de autoria ou de participação. (Redação dada pela Lei nº 
11.689, de 2008) 
[...] 
§ 3º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, 
revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade 
anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a 
necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das 
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código. (Incluído pela Lei 
nº 11.689, de 2008) 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
29 
Situações: 
 Acusado preso durante a primeira fase: por ocasião da pronúncia, em regra, 
deverá permanecer preso, salvo se desaparecer a hipótese que justificava sua 
preventiva. 
 Acusado solto durante a primeira fase: por ocasião da pronúncia, em regra, 
deverá permanecer solto, salvo se surgir alguma hipótese que justifique a 
preventiva. 
Deliberando pela manutenção da prisão, imprescindível a fundamentação. Ademais, os 
motivos que justificam a manutenção da prisão podem ser os mesmos motivos que 
justificaram sua prisão pretérita. É o mesmo raciocínio para as medidas cautelares diversas 
da prisão. 
7.10. Intimação do acusado acerca da pronúncia 
Em regra, a intimação do acusado é pessoal, expedindo-se um mandado a ser 
cumprido por oficial de justiça. 
Exceção: acusado não seja encontrado: 
 Antes do ano de 2008 somente era cabível a intimação por edital caso o 
crime fosse afiançável: 
 CPP, art. 413 (antiga redação): O processo não prosseguirá até que o 
réu seja intimado da sentença de pronúncia. 
Parágrafo único. Se houver mais de um réu, somente em relação ao 
que for intimado prosseguirá o feito. 
CPP, art. 414 (antiga redação): A intimação da sentença de 
pronúncia, se o crime for inafiançável, será sempre feita ao réu 
pessoalmente. 
CPP, art. 451 (antiga redação): Não comparecendo o réu ou o 
acusador particular, com justa causa, o julgamento será adiado para a 
seguinte sessão periódica, se não puder realizar-se na que estiver em 
curso. 
§ 1º: Se se tratar de crime afiançável, e o não-comparecimento do réu 
ocorrer sem motivo legítimo, far-se-á o julgamento à sua revelia. 
Como não era cabível a intimação por edital para o crime inafiançável ocorria o que a 
doutrina denominou de crise de instância, que consiste em hipóteses em que a marcha 
procedimental fica paralisada. No entanto, a prescrição continuaria fluindo normalmente. 
Essa situação ocorria porque o Código de Processo Penal não permitia o julgamento à 
revelia do acusado quando o crime fosse inafiançável. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
30 
 Depois do ano de 2008 o Código passou a admitir a intimação por edital, 
independente da natureza do delito (afiançável ou inafiancável): 
Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita: (Redação 
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério 
Público; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do 
Ministério Público, na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste Código. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não 
for encontrado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Interpretando-o “a contrario sensu”, caso o acusado esteja preso, ainda que em outra 
unidade da Federação, deverá ele ser intimado pessoalmente, já que ele está à disposição 
do Estado. 
A lei não menciona o prazo de dilação. A doutrina aplica analogicamente o prazo de 15 
dias do art. 361. 
7.10.1. Direito intertemporal 
De acordo com a doutrina (Gustavo Badaró) e a jurisprudência, o parágrafo único do 
artigo 420 terá aplicação imediata aos processos que estavam paralisados, salvo em 
relação aos crimes cometidos antes da Lei n. 9.271/96, que alterou a redação do art. 366. 
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem 
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo 
prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das 
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, 
nos termos do disposto no art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 
17.4.1996) 
Caso o crime tenha sido cometido antes da Lei n. 9.271/96, a ele não foi aplicável o 
artigo 366. 
STJ: “(...) A lei nova aplica-se imediatamente na instrução criminal 
em curso, em decorrência do princípio estampado no brocardo jurídico 
tempus regit actum, respeitando-se, contudo, a eficácia jurídica dos atos 
processuais já constituídos. A nova redação conferida aos arts. 420, 
parágrafo único, e 457, ambos do CPP não pode ser aplicada aos 
processos submetidos ao rito escalonado do Júri, em que houve a 
citação por edital e o réu não compareceu em juízo ou constituiu 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
31 
advogado para defendê-lo, os fatos apurados ocorreram antes da Lei n.º 
9.271/96 e ocorreu a paralisação do feito, decorrente da regra anterior 
inscrita no art. 414 do CPP. Os princípios constitucionais do devido 
processo legal - em seus consectários do contraditório e da ampla defesa - 
impossibilitam que um acusado seja condenado pelo Conselho de 
Sentença sem nunca ter tomado conhecimento da acusação. Hipótese dos 
autos em que a conduta delituosa imputada ao paciente ocorreu em 
06.01.1992. Não tendo ele sido citado pessoalmente da acusação, por 
consequência também não poderia ser intimado da pronúncia por edital. 
Ordem concedida”. (STJ, 5ª Turma, HC 172.382/RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, 
DJe 15/06/2011). 
8. Desaforamento 
É uma causa de mudança da competência territorial. 
Conceito: Consiste no deslocamento da competência territorial de uma comarca 
para outra, a fim de que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri. 
Aplica-se exclusivamente ao julgamento em plenário do júri, portanto, não se aplica 
à primeira fase. No caso do sumário da culpa (1ª fase do júri), havendo dúvidas quanto à 
(im)parcialidade do magistrado, a parte prejudicada deve se valer das exceções de 
suspeição, impedimento ou incompatibilidade. 
De acordo com o CPP, o desaforamento existe apenas no âmbito do júri, 
especificamente quanto ao plenário. Já o CPPM, autoriza o desaforamento em qualquer 
delito ou procedimento. 
- Previsão legal: 
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver 
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, 
o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do 
querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, 
poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca 
da mesma região, onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as 
mais próximas. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 1º O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e 
terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 2º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
32 
determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 3º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido 
por ele solicitada. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
8.1. Competência para julgamento do pedido de desaforamento 
O desaforamento não é uma medida correcional, não sendo da competência da 
corregedoria ou do CNJ, mas medida de natureza jurisdicional, a semelhança da decisão 
de um recurso. O pedido será apreciado por uma Câmara ou Turma do Tribunal (TJ ou 
TRF). 
8.2. Princípio do juiz natural 
De acordo com a doutrina, não há falar em violação.Fundamentos: 
 As causas de mudança de competência já estão preestabelecidas (segurança 
jurídica). 
 O acusado continuará sendo julgado pelo tribunal do júri (não há a criação de 
um juízo de exceção). 
8.3. Desaforamento x incidente de deslocamento de competência 
(IDC) 
Desaforamento Incidente de deslocamento de competência 
Mudança de competência territorial. Mudança de competência de justiça. 
TJ ou TRF STJ 
Pressupostos a serem estudados Pressupostos diversos (crime cometido com 
grave violação aos direitos humanos e risco 
de descumprimento de tratados 
internacionais sobre direitos humanos 
firmados pelo Brasil evidenciado pela desídia 
do Estado-membro em proceder à 
persecução penal). 
8.4. Desaforamento no processo penal militar 
No processo penal militar, o desaforamento poderá ser determinado 
independentemente do delito ou do procedimento em questão 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
33 
8.5. Legitimados para o requerimento (art. 427) 
 MP e Querelante. 
 Assistente de Acusação (introduzido em 2008). 
 Acusado. 
 Juiz-Presidente do Tribunal do Júri: quando não fizer o pedido, deve ser ouvido 
pelo Tribunal. 
Considerações: 
 Uma das causas do desaforamento é o excesso de serviço, consistente no 
decurso do prazo de seis meses da preclusão da pronúncia (art. 428, 
caput). Essa é a única hipótese que não pode ser objeto de representação 
pelo Juiz-Presidente. 
 Como o desaforamento é uma medida jurisdicional, é obrigatória a oitiva da 
parte contrária. 
Súmula 712 STF: “É nula a decisão que determina o desaforamento 
de processo da competência do júri sem audiência da defesa”. 
8.6. Momento para o desaforamento 
Em regra, o desaforamento somente pode ser cogitado após a preclusão da decisão 
de pronúncia (certeza de julgamento pelo plenário do júri) e até o julgamento. 
Excepcionalmente, o desaforamento poderá ser determinado após o julgamento já ter 
sido realizado, desde que preenchidas duas condições: i) julgamento anulado; e ii) fato 
ocorrido durante ou após o julgamento anulado. 
Art. 427 (...) § 4º Na pendência de recurso contra a decisão de 
pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido 
de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido 
durante ou após a realização de julgamento anulado. 
8.7. Hipóteses que autorizam o desaforamento 
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver 
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do 
acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, 
do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz 
competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para 
outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos, 
preferindo-se as mais próximas. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 
2008) 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
34 
Hipóteses: 
 Interesse da ordem pública. 
 Dúvida sobre a imparcialidade do júri. 
 Segurança pessoal do acusado. 
 Excesso de serviço (art. 428, caput). 
Em relação ao interesse da ordem pública, a ideia é a de que o julgamento, em tese, 
deva ser realizado com tranquilidade e paz, que não podem ser comprometidas, 
principalmente em casos de convulsão social ou risco à incolumidade dos jurados. 
Jurisprudência: 
STJ (HC n. 85.707): “É certo que o desaforamento é medida 
excepcional; todavia, na hipótese, restou comprovado nos autos o temor 
da realização do julgamento dos pacientes na Comarca de Tucano/BA, 
pois seriam integrantes de quadrilha responsável por inúmeros 
assassinatos e outros crimes na região, e um ônibus cheio de pistoleiros, 
chegou à cidade para assistir o julgamento, ameaçando invadir a Sessão 
plenária e resgatar os réus em caso de condenação, com ameaça a 
segurança de todos os presentes.” 
Em relação ao excesso de serviço: 
Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em 
razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a 
parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6 
(seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia. 
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 1º Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se 
computará o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de 
interesse da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
§ 2º Não havendo excesso de serviço ou existência de processos 
aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a possibilidade 
de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas 
para o exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que determine a 
imediata realização do julgamento. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
O § 2º do art. 428 é denominado, por alguns, de “aceleração de julgamento“. O 
acusado não é o único legitimado para requerer a aceleração de julgamento, pois a todos 
pertence o direito à razoável duração do processo. Portanto, também seriam legitimados o 
MP, o querelante e o assistente da acusação. 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
35 
8.8. Crimes conexos e coautores 
Também serão atingidos pelo desaforamento. 
8.9. Comarca (ou subseção judiciária) para a qual o processo será 
desaforado 
O processo será desaforado para outra comarca da mesma região, onde não existam 
aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas (art. 427, caput). 
Desaforamento para outro Estado da Federação: não é cabível na Justiça 
Estadual. No entanto, é cabível na justiça Federal, desde que dentro da competência 
do TRF. 
8.10. Efeito suspensivo 
Competência monocrática do relator: 
Art. 427 (...) 
§ 2º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá 
determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri. 
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
 
8.11. Recursos 
Não há previsão legal de recurso adequado. 
No entanto, caso visualizado o risco à liberdade de locomoção, é possível a impetração 
de habeas corpus. Ademais, caso preenchidos seus pressupostos constitucionais, também 
é possível a interposição dos recursos extraordinários (especial e extraordinário). 
A decisão que denega o desaforamento é baseada na cláusula rebus sic 
Processo Penal – Renato Brasileiro 
Tribunal do Júri – Caderno 14 
36 
standibus. Portanto, havendo mudança dos pressupostos um novo pedido poderá ser 
formulado. 
CPPM, art. 110: “O pedido de desaforamento, embora denegado, 
poderá ser renovado se o justificar motivo superveniente”. 
8.12. Reaforamento 
O reaforamento consiste no retorno do processo desaforado para a comarca de 
origem, quando desaparecerem os motivos que deram ensejo a esse deslocamento. 
Apesar de não ser cabível o reaforamento, nada impede novo desaforamento, 
desde que presentes os pressupostos. 
9. Preparação do processo para julgamento em plenário 
Marca o início da segunda fase. 
Antes do ano de 2008, a segunda fase do júri tinha início por meio do libelo acusatório 
(que seria utilizada como espelho dos quesitos). Após o ano 2008, a segunda fase inicia-se 
com a preparação do processo para julgamento em plenário, operada a preclusão da 
pronúncia. 
Previsões legais: 
Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão 
encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. (Redação dada 
pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Seção III 
Da Preparação do Processo para Julgamento em Plenário 
Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri 
determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do 
querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) 
dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o 
máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e 
requerer diligência. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
A preparação se inicia com a intimação das partes, com

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