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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP ANA PAULA DE OLIVEIRA VIEIRA JULIA VANESSA COTTA JUSSARA DE ARAÚJO VASCONCELOS KEILA KARINE DOS SANTOS NASCIMENTO VIDAL MARIA DA GUIA DE LIMA REIS VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER: A PERPETUAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A SUBMISSÃO DA MULHER ITABERAÍ /2020 2 UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP ANA PAULA DE OLIVEIRA VIEIRA JULIA VANESSA COTTA JUSSARA DE ARAÚJO VASCONCELOS KEILA KARINE DOS SANTOS NASCIMENTO VIDAL MARIA DA GUIA DE LIMA REIS VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER: A PERPETUAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A SUBMISSÃO DA MULHER Projeto de Pesquisa apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social pela Universidade Paulista-UNIP. ITABERAÍ/2020 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente queremos agradecer a Deus por ter nos concedido o dom da vida, e por nos deixar chegar até aqui. Aos nossos familiares que sempre estiveram ao nosso lado, nos apoiando e dando força para continuar. Aos nossos filhos que tiveram paciência com nossa ausência. A todos que indiretamente contribuíram para a realização deste sonho. 4 RESUMO A violência contra a mulher, no âmbito familiar, é um dos tipos de violência mais difíceis de ser prevenida e evitada, pois as mulheres que vivenciam a violência por parte de seus companheiros estão inseridas no relacionamento afetivo - conjugal por muito tempo, não sendo tão fácil conseguir romper com o ciclo da violência, em alguns casos existem fatores históricos culturais que interferem na vida dessas mulheres. O objetivo deste estudo é verificar os motivos que levam essas mulheres a permanecer em um relacionamento violento. Analisando o contexto histórico no qual essas mulheres estão inseridas, pois quando faremos uma análise do senso comum acabamos fazendo prejulgamento em relação a vivência dessas mulheres em relacionamentos conflituosos e quando fazemos uma análise com olhar profissional sobre as questões históricas cultural podemos chegar as conclusões totalmente diferentes das do senso comum. Palavras-Chave: Relações de gênero. Violência contra mulher. Inserção do Serviço Social. 5 ABSTRACT Violence against women, within the family, is one of the most difficult types of violence to be prevented and avoided because women who experience violence on the part of their partners are inserted in the affective-marital relationship for a long time, not being so easy to break the cycle of violence, in some cases there are cultural historical factors that interfere in the lives of these women. The purpose of this study is to verify the reasons that lead these women to remain in a violent relationship. Analyzing the historical context in which these women are inserted, because when we make an analysis of common sense we end up prejudging the experience of these women in conflicting relationships and when we make an analysis with a professional eye on historical cultural issues we can reach conclusions totally different from common sense. Keywords: Gender relations. Violence against women. Insertion of Social Work. 6 LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAS - Associação Brasileira de Assistentes Sociais ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social ART - Artigo CEJIL - Comitê Latino Americano de Defesa dos Direitos da Mulher CLADEM - Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos DEAM - Delegacia Especializada de Atendimento a Mulheres Vítimas da Violência IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OEA - Órgão Internacional responsável pelo arquivamento de cominações decorrentes de violação de acordo internacionais. OMS - Organização Mundial da Saúde ONG - Organização Não Governamental PFR - Partido Republicano Feminino SIS - Síntese dos Indicadores Sociais SIM - Sistema de Informações de Mortalidade 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1 : Taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). 83 países.................................30 Tabela 2: Número e taxas (por 100 mil) de homicídio de mulheres. Brasil. 1980/2013…41 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09 I CAPÍTULO: A VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DAS FAMÍLIAS PERTETRADAS PELAS RELAÇÕES DE GÊNERO......................................................................................12 1.1A família na construção do sujeito…........................................................................12 1.2A violência apresentada conforme percepções de alguns autores ….........................17 1.3Relação de gênero.......................................................................................................22 CAPÍTULO II – DEFINIÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER, O AVANÇO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA COM O OBJETIVO DE PROTEGER A MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA E O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL PERANTE A PROBLEMÁTICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ….................................30 2.1 Violência Doméstica Contra Mulher........................................................................30 2.2. Código Civil de 2002...............................................................................................36 2.3 Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006...........................................................................39 2.4 O serviço social no âmbito da violência Doméstica..................................................43 III CAPÍTULO – FACILITADORES DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER E OS FATORES QUE LEVAM ÀS MULHERES A CONTINUAR INSERIDA NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA...................................................................48 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................55 REFERÊNCIAS......................................................................................................................58 9 INTRODUÇÃO A violência, de forma geral, tem ocupado lugar de destaque nos meios de comunicação, repercutindo de forma mundial, causando preocupação aos órgãos de controle e contribuindo para a criação e efetivação de políticas governamentais em diversos países, com a finalidade de contribuir para a redução da violência. Segundo Sousa e Ros (2006): Para a organização Pan-Americana de Saúde, a violência adquiriu um caráter endêmico e se converteu em um problema de saúde pública, devido ao número de vítimas e a magnitude de sequelas orgânicas e emocionais que produz. Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao publicar, em 2002, o Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde torna público o problema da violência, definindo-o como: “uso intencional de força e poder, através de ameaça ou agressão real, contra si mesmo, outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que resulta ou tem grande probabilidade de resultar em ferimentos, morte, prejuízos psicológicos, problemas de desenvolvimentos ou privação (SOUZA; Ros, 2008, P.510). Diante de toda repercussão causada em relação a violência, o tema sobre violência doméstica contra mulher tem gerado muita discussão e debate. De acordo com Souza e Ros (2008) O primeiro documento internacional de direito humano que aborda esta violência foi aprovado em 1993, na Assembleia Geral das Nações Unidas. Esse documento define violência contra a mulher como qualquer ato de violência baseado no gênero que resulta, ou tenha a probabilidade de resultar, dano ou sofrimento físico, sexual e psicológico, incluindo ameaça, coação ou privação arbitrária de liberdade, na vida pública ou privada. (SOUZA; Ros, 2008,p.510). Para Souza e Ros (2008) a violência perpetrada contra a mulher pode estar presente em todos os âmbitos familiares se revelando sobre diferentes formas e em vários momentos. Acredita-se que diante das variadas situações de violêncianas quais as mulheres são vítimas, as que se apresentam com maior frequência são as ocorridas nos espaços privados, no seio da família Desde os tempos históricos a mulher tem sido exposta a gravíssimas situações de violência e sofrido diversas violações de direitos como por exemplo o direito a vida, a liberdade, a dignidade entre outros. “ A violência desafia os saberes hegemônicos no campo da saúde pública, no campo social, de organização administrativa, de planejamento e 10 atendimento ás vítimas de violência e de detecção da situação de violência” (SOUZA; Ros, 2008, p510). A violência é desenvolvida a partir de conflitos os quais as pessoas acreditam que a melhor forma de resolver um desentendimento e utilizando o uso da força física sobre outrem. Como biologicamente, os homens possuem mais força física que as mulheres, esses se consideram superiores a elas acabam por impor suas vontades pelo uso da força sob suas companheiras. Historicamente na sociedade, as mulheres apresentavam pouca autonomia em suas decisões, era vista como uma sobra do homem, tendo que servi-lo e se submeter e vivenciar situações de violência dentro de seus próprios lares. A violência contra mulheres é considerada violação dos direitos humanos com interferência na integridade física e psicológica dessas, expondo-as sérias consequências. A violência é definida por vários tipos de agressões, entre as principais estão a violência doméstica, conjugal, intrafamiliar, institucional, moral, patrimonial e o assédio sexual. A violência pode ocorrer tanto na vida pública quanto na vida privada. Nos casos de violência doméstica intrafamiliar contra a mulher, a sociedade costuma apontar fatores como o álcool, drogas ilícitas, ciúmes como os facilitadores para a violência, entretanto, não isenta o agressor das penalidades por se tratar de um crime e também não quer dizer que homens que não faça uso desses ilícitos não sejam agressivos. A violência contra as mulheres é definida como uma relação de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres considerada violência de gênero. Essa relação ampara-se no estigma de virilidade masculina em detrimento da submissão feminina. “Apesar de a mídia mundial denunciar o problema da violência doméstica contra a mulher, a criança e ao idoso, ela cresceu muito nos últimos anos, nos grandes e pequenos centros, e está presente em todas as camadas sociais” (SOUZA; ROS,2008, P510). A violência independe de classes sociais, cultura, cor, raça, etnias. Todos os seres humanos estão expostos a ela. A Violência doméstica contra a mulher, pela sua demanda, é um problema social e de saúde pública, pois afeta a integridade física e psicológica das mulheres e o Serviço Social tem como competência contribuir para a efetivação dos direitos das mulheres vítimas de violência. As ferramentas utilizadas pelo serviço social são: no primeiro momento o acolhimento/acompanhamento dessas mulheres, a realização de 11 orientações referente aos direitos e as formas de acesso, contato com a rede socioassistencial, encaminhamentos entre outras ferramentas. A base da violência doméstica contra a mulher tem sua origem na formação histórica e a manutenção da cultura machista, pois de acordo com alguns autores a manutenção dessa cultura acaba por superiorizando a classe masculina em detrimento a classe feminina. Este estudo teve como objetivo geral, identificar o contexto histórico das relações familiares quanto a violência de gênero, buscando identificar os agentes facilitadores que permeiam a violência doméstica contra a mulher e os fatorem que levam a mulher a se submeter e perpetuar-se em situações de violência doméstica por parte de seus pares, bem como conhecer a inserção do serviço social nesse contexto histórico. Como objetivo específico buscou-se a compreensão da relação de gênero a qual a mulher se encontra inserida. Entender sobre a construção da família com foco para o modelo da família patriarcal, modelo esse que tinha o homem com poder sobre seus subordinados, e por esse motivo, ele se via no direito de impor suas vontades sobre o outro e sendo apoiado pela sociedade. O presente estudo adotou como metodologia a pesquisa bibliográfica. Esse tipo de pesquisa é desenvolvido a partir de consultas a fontes secundárias constituídas de livros, artigos científicos, jornais e revistas impressos ou eletrônicos. 12 I CAPÍTULO: A VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DAS FAMÍLIAS PERTETRADAS PELAS RELAÇÕES DE GÊNERO 1.1 A família na construção do sujeito De acordo com Neves, Romanelli (2006) “família vem do vocábulo latim famulus, significa servo ou escravo, do que se entende que primitivamente a família era considerada um conjunto de servos ou criados de uma pessoa”. De acordo com o dicionário da língua portuguesa, família significa grupo de pessoas ligadas por laços de casamento ou parentesco, pai, mãe e filhos. Assim surgiu-se então a família patriarcal, família esta espelhada como modelo na família romana tendo como personagem central o homem e as mulheres com papeis secundários. O patriarca exercia o domínio e poder sobre mulher, filhos e seus escravos além do direito da escolha de vida e morte de todos eles. “A autoridade paterna se baseava no saber do pai, adquirido pelas suas experiências, suas vivências para encontrar soluções para os problemas do cotidiano. Nesse contexto, o saber se tornava legítimo e era transmitido pela socialização, através de orientações. Explicitadas verbalmente, ou, pelo exemplo paterno, que projetava no futuro o saber adquirido no Passado. E assim, o pai assentava a legitimidade da autoridade na condição de provedor financeiro da família; no saber adquirido que permitia articular passado e presente, projetando-se no futuro; nas posições hierárquicas de marido e de pai, e no caráter institucional de representante da unidade doméstica. Devido às diversas mudanças na organização social, que surgem em um contexto de crescente consequência de seus atos a autoridade e poder na família. (ROOMANELLI, 2004, p 300). Percebe-se que o poder que o patriarca não era apenas o poder do pai e sim do homem, ou masculino, como maior autoridade. De acordo com Koller e Navaz (2006), a família tinha como caráter central a figura masculina e esta centralidade duraria até a morte do patriarca. O patriarcado é uma forma na qual as relações são definidas por dois princípios básicos: as mulheres estão hierarquicamente inferiores aos homens e, os jovens estão hierarquicamente subordinados aos homens mais velhos. Sendo assim, vale a pena analisar a relação de gênero a qual se define às relações societárias que nela se fundamentam desiguais em termos de condições sociais, políticas, financeiras , tendo como ponto forte a relação de poder entre os homens sobre as mulheres, a 13 qual e o resultado de uma construção social histórica ao longo de muitos anos definindo o papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. O machismo é considerado pela sociedade uma marca cultural passada de geração para geração, a imposição do homem sobre a mulher como um ser forte e superior tem como caráter uma das expressões da violência, tanto física como psicológica, e geralmente advém de seus familiares. De acordo com Cabral e Diaz (1999) O papel do homem e da mulher é definido culturalmente e está em constantes mudanças, conforme as mudanças societárias ocorridas ao longo dos anos. As relações de gênero são construídas a partir de um processo histórico que se tem início na gestação e continua no decorrer de toda a vida, sendo imposta pela sociedade a desigualdade existente entre eles. A família se forma através da organização, vivencia e da reprodução humana, se define da união dedois seres humanos que escolhem partilhar uma vida em comum, objetivando ou não a perpetuação da espécie. Ao mesmo tempo em que é para ser o lugar de afetos, amores, lealdade e respeito segundo Sawaia (2010, p.40) ”É acusada com gênese de todos os males, especialmente da repressão e da servidão ou exaltada como provedora de corpo e alma”. Compreende-se que a família e considerada para o indivíduo um lugar onde se aprende a viver, onde se inicia todo o processo de aprendizagem, valores e saberes, a partir disso se inicia a vida em busca dos objetivos e conquistas tendo como base de estrutura a família. “A família e o cenário das versões controversas sobre amor e agressão, confiança e abuso, respeito e invasão, legitimadas em histórias de vida protagonizadas por personagens oriundos das camadas populares da sociedade ao longo das gerações”. (NEVES, ROMANELLI, 2004 p. 300) Para os indivíduos, a família não é apenas a reprodução da espécie e sim a soma de ideais, objetivos, sonhos, lutas, tarefas, sofrimentos, fracassos e conquistas. Segundo Simões (2009, p. 185) “A família constitui a instância básica, na qual o sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e, também, são transmitidos os valores e condutas pessoais”. A família se desenvolve através de três tipos relacionais e pessoais sendo esses: a aliança definida pela união conjugal (ou seja do casal); a filiação biológica sendo eles os pais 14 e filhos; e os consanguíneos descritos pelos irmãos. Diante disso, de acordo com Neves e Romanelli (2004, p. 301) “a partir dos objetos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais (....)”. A família não se reduz a uma estufa protegida, reduto de felicidade, é composição dinâmica que alicerça vínculos conjugais e ou fraternais e ainda se estrutura sob diferentes formatos, nuclear (pai, mãe e filhos), monoparental (pai, ou mãe filhos), extensa (diferentes membros da família, consangüínea moram juntos, reconstituída (famílias que se formam a partir de recasamentos), com novas possibilidades de configuração (como as famílias heterossexuais, homossexuais e transexuais). GUERRA, Et All (2012, p.187) A família tem passado por diversas modificações ao passar dos tempos em seu contexto histórico-cultural. Por se uma organização frágil, tem se adaptado de várias formas impostas pela sociedade, em diferentes épocas e lugares. Percebe-se assim que a instituição família se encontra em constante movimentação e mudanças, conforme as determinações societárias, porém a desigualdade em relação aos sexos continua. Em consonância com a precedência do homem sobre a mulher e da família sobre a casa, o homem é considerado o chefe da família e a mulher, a chefe da casa, o homem corporifica a ideia de autoridade, com uma mediação da família com o mundo externo. Ele é autoridade moral, responsável pela respeitabilidade familiar. Á mulher cabe outra importante dimensão da autoridade: manter a unidade do grupo. Sarti (2010, p.28.) Pode-se considerar que o homem tem o seu papel definido pela sociedade como o superior, a autoridade maior sobre a família, e a mulher a autoridade sobre a casa, porém ela tem que ser submissa ao homem e ser responsável por manter a união de todos que faz parte da família. Segundo Cabral e Diaz (2003), a sexualidade na mulher tem sido correlacionada com a reprodução lhe dando apenas o direito de reprodução da espécie, ou seja, a mulher é considerada o centro da sexualidade, tendo que se submeter apenas a reprodução e não podendo também assim como o homem desfrutar do prazer. É interessante notar que de um modo geral podemos dizer que as mulheres são ensinadas desde a infância a serem mães, para cuidar da casa e dos filhos, satisfazer as vontades e desejos do marido, tendo como desprazer a perda de sua identidade neste contexto. 15 De acordo com Cabral e Diaz (2003), outra forma que se constrói e se concretiza a desigualdade entre homens e mulheres é a reprodução, pois a mulher pode gerar uma criança em seu ventre por intermédio de espermatozoides liberados pelo sexo masculino, considerado para o homem uma forma de obter o poder sobre a mulher ,mantendo a companheira submissa, controlando-a e diminuindo as possibilidades das realizações e conquistas, limitando a vida das mulheres em outros âmbitos, como por exemplo, no campo do trabalho. Percebe se também a divisão sexual do trabalho a qual a mulher acaba tendo que se submeter a ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar as tarefas domésticas, sendo desvalorizada por seus companheiros e a pela própria sociedade, limitada as atividades do lar; com menos possibilidade de acesso à educação, menos qualificação não conseguindo se adequar às exigências do mercado de trabalho. A partir da década de 1960, não apenas no Brasil, mas em escala mundial, difundiu- se a pílula anticoncepcional, que separou a sexualidade da reprodução e interferiu decisivamente na sexualidade feminina. Esse fato criou as condições materiais para que a mulher deixasse de ter sua vida e sua sexualidade atadas à maternidade como “destino”, recriou o mundo subjetivo feminino e, aliado á expansão do feminismo, ampliou as possibilidades de atuação da mulher no mundo social. SARTI,(2010, p21) Diante disso, a pílula anticoncepcional contribui de forma positiva para o empoderamento da mulher, pois no passado as mulheres não conseguiam, de certa forma, controlar ou até mesmo evitar a gravidez e passava a ter muitos filhos. Algumas mulheres engravidavam enquanto estava de resguardo de um recém nascimento de uma criança. Após a criação da pílula anticoncepcional a mulher conseguiu separar a sexualidade da reprodução, e além da pílula, outro fator de extrema importância foi a inserção da mulher no mercado de trabalho, fato esse que gerou mudanças bastante significativas nas formas a qual as famílias se organizavam. Acredita-se que com a revolução industrial no Brasil na década de 1950, as mulheres deixaram seus lares e a submissão de seus esposos e foram para mercado de trabalho, com a finalidade de desfrutar de sua independência e auxiliar na subsistência familiar juntas com seus companheiros. Diante disso, as configurações familiares têm se alterado, uma vez que a cada dia um número maior de mulheres estão abandonando a 16 exclusividade ao lar e se inserindo no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem. E após estes acontecimentos a mulher ganhou espaço no mercado de trabalho que tinha como caráter de responsabilidade masculina impostos pela sociedade cultural, e mesmo com esta conquista a mulher vive em desvantagem, pois diferentes estudos mostram que em geral em questões salariais as mulheres ganham bem menos que os homens em todas as áreas, e que as mulheres têm menos possibilidades de obter um cargo hierarquicamente superior. Portanto na concepção de Cabral e Diaz, “o excesso de trabalho, tanto no âmbito público quanto no privado é considerado dupla jornada de trabalho” (CABRAL, DIAZ 1998, p2). Percebe-se que de acordo com os autores citados, as mulheres avançaram em relação a conquista do seu espaço no mercado de trabalho, no entanto, as mulheres estão sobrecarregadas, visto que além da jornada executada de oito horas de trabalho remunerado, também possuem uma carga exaustiva de horas de trabalho em casa, e que aumenta nos finais de semana. Diante disto, de acordo com Cabral e diaz (1998) todo o poder e independência que a mulher tem conquistado com a saída do lar têm por outro lado significado um desgaste e impacto na sua saúde tanto física como mental, pois alémdas atribuições desenvolvidas pela mulher em seu local de trabalho, quando chega em casa precisa executar as tarefas doméstica e cuidar dos filhos, não sendo vantajoso para a mulher a saída do lar para o mercado de trabalho. Nas últimas décadas a forma que a família se organiza tem sofrido transformações em sua estrutura e dinâmica, decorrente de mudanças na sociedade. Apesar disso, manifesta grande capacidade de sobrevivência e adaptação, com diferentes arranjos personagens familiares. (MARTINS, 2003, p213) Com a saída da mulher do lar para o mercado de trabalho a família passou a sofrer modificações, pois agora a mulher consegue se planejar e se dedicar a carreira profissional, além isso, contribuir complementando a renda do companheiro para o sustento da casa e dos filhos, ou até mesmo subsidiá-la sozinha. Todavia, algumas famílias passam a ter sua base abalada com essas mudanças, pois os pais passam a não ter tempo para cuidar da educação dos filhos, dar carinho e atenção. O casal passa a não ter um bom relacionamento devido a 17 estresse e esgotamento pelas cargas trabalhistas exaustivas, surgindo então os conflitos conjugais e intrafamiliares. Diante disto, não podemos nos esquecer de que mesmo após vários e anos de mudança, ainda existem algumas marcas deixadas pela família romana com a permanência da autoridade masculina do chefe da família. De acordo com Oliveira (2006, p. 20) “a família sofre fortes influências, políticas, econômicas, sociais e culturais, ocasionando mudanças nos papeis e nas relações em seu interior, bem como alterando sua estrutura no que diz respeito à composição familiar”. Devido as transformações acontecidas na gênese das famílias, podemos destacar que ela ainda se mantém idealizada e desejada por todas as pessoas. A família, não importando a forma com que ela se organiza e a configuração que assuma, continuará existindo, como forma de esperança aos novos sujeitos que se apresentam ao mundo. 1.2 A violência apresentada conforme percepções de alguns autores Desde os primórdios são realizados estudos para tentar entender a essência do fenômeno violência, suas origens e natureza, pois desconhecemos a sociedade onde a violência não tenha estado presente na vida dos indivíduos. Assim, na origem, a lei se impõe pela força, a força física. “Esta força é movida por uma vontade que se aplica ao outro, tanto no que concerne a um objeto, quanto ao outro enquanto o próprio objeto. VANIER (2004,p130) Etimologicamente, violência origina-se do latim violentia e designa o ato de vencer a resistência de alguém pelo emprego de força bruta; qualidade do que é violento; força empregada abusivamente contra o direito natural; constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a praticar algo (SARAIVA; apud LIMA 2000). Para Silva (2010), o termo violência deriva do latim que por sua vez deriva do uso excessivo da força, para melhor compreensão é qualquer ato ou comportamento que cause dano ou sofrimento a outra pessoa, ser vivo ou objeto . A violência se expressa socialmente como um grande problema na vida conjugal das mulheres . É tratado como fenômeno global, considerando violação dos direitos humanos e uma forma de desrespeitos à sociedade. 18 A palavra agreddi é de origem latina e significa abordar, avançar, e, neste sentido, o oposto da agressão não é paz ou amizade, mas o isolamento ou inexistência de qualquer tipo de contato. (NEVES; ROMANELLI,2006, p. 6) De acordo com o dicionário on-line consultado em 19 de março de 2020 violência significa qualidade do que é violento ,ação ou efeito de empregar força física ou intimidação moral contra; ato violento Nos últimos tempos, o assunto violência e um tema bastante discutido em todos os meios de comunicação, nas ruas, nos supermercados, nos pontos de ônibus nas escolas e em diferentes pontos da sociedade. Muito se tem discutido sobre o alto índice de mortos em conflitos, chacinas, assalto a mão armada, lesão corporal, latrocínios, furtos nas residências, crimes contra a pessoa e o tráfico de drogas, a cada ano, os crimes ocorridos nas cidades de médio e grande porte aumentam cada dia. No Brasil é alarmante o aumento dos índices da violência, a sociedade acaba se tornando vitima e refém de todas as mazelas sociais, as medias e grandes cidades estão sendo comparada a verdadeiros campos de batalha onde o número de mortos é superior as mortes dos países em guerras armadas. A criminalidade tem tomado proporção desordenada na sociedade e de difícil controle aos governantes, que para alguns autores, a violência é definida por um fenômeno social que acontece devido às condições as quais os indivíduos estão inseridos. A análise da marginalidade como fenômeno social considera a complexidade de fatores que atribuem ao comportamento real do marginal um papel social que atribuem no drama da vida urbana . Os grupos de homens que atacam , roubam e matam caracterizam um tipo de marginalidade que reflete uma forma de resposta às contradições da sociedade urbana , porque são considerados perturbadores da ordem institucional, Formam grupos, bandos ou gangs e geralmente habitam cortiços e favelas (GULLO, 1998, p.108) De acordo com a fala dos autores, as características da marginalidade social são objeto de um trabalho de Manoel T. Berlinck (1977 apud GULLO, 1998)” que a considera como um fenômeno universal na história das sociedades que se baseiam no capital como forma de organização do mercado, da mercadoria, da tecnologia, da força de trabalho, do luco e da acumulação de capital”. Gullo (1998) diz que o crime organizado é um reflexo da violência que ocorre em nossa sociedade e podendo se manifestar de acordo com a tecnologia implantada pela sociedade. Ocorre de forma clara e evidente a existência da luta de classes entre dominantes e 19 dominados, esse sendo explorado por aquele objetivando o acumulo de riquezas, gerando contradições entre o mundo do trabalho e o sistema capitalista. Como consequência, em determinando momentos, esses embates podem ser maiores ou menos a depender da consciência política do país Ainda de acordo com Gullo (1998) as maiores causas relacionadas a frequência na marginalidade social está ligada aos indivíduos que não conseguem aderir ao processo urbano, trabalhista e industrializado. Possuem problemas de formação educacional e ocupacional, condições precárias de moradia e que, na maioria das vezes, estão excluídos do mercado de trabalho. Portanto, é valido considerar que a violência retratada nas manchetes têm como vilã as condições sociais, políticas e econômicas nas quais a sociedade está inserida ,tendo como fatores agravantes o desemprego, miséria generalizada, prostituição ,drogas, analfabetismo, falta de moradia, preconceito, conflitos conjugais e a fome, levando os indivíduos as tentações das ilegalidades, tendo como retorno um ganho de fácil autores da violência. Para Minayo (1994) a violência é dividida em três tipos: A Violência Estrutural sendo aquela que oferece um marco à violência do comportamento e se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos , classes, nações e indivíduos , aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte. A violência de resistência constitui-se das diferentes formas de respostas dos grupos, classes, nações e indivíduos oprimidos à violência estrutural. Esta categoria de pensamento e ação geralmente não é “naturalizada”; pelo contrário é objeto de contestação e repressão por parte dos detentores do poder político , econômico e/ou cultural. A Violência da Delinquência é aquela que se revela nas açõesfora da lei socialmente reconhecida. A análise deste tipo de ação necessita passar pela compreensão da violência estrutural, que não só confronta os indivíduos uns com os outros, mas também os corrompe e impulsiona ao delito. A desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menosprezo de valores e normas em função do lucro, o consumismo , o culto à força e o machismo são alguns dos fatores que contribuem para a expansão da delinquência. Portanto, sadismo, sequestro, guerras entre quadrilhas, delitos sob ação do álcool e de drogas, roubos e furtos devem ser compreendidos dentro do marco referencial da violência estrutural, dentro de especificidades históricas (MINAYO, 1994, p. 8) 20 A violência é definida de várias formas sendo elas: violência doméstica contra a mulher, violência de gênero, violência familiar, intrafamiliar e conjugal, tendo como formas de expressões a violência física, moral, sexual, psicológica, patrimonial, negligência, privação e abandono. Entretanto, podemos entender que a violência é constituída por uma relação de poder hierarquicamente desigual, definida por qualquer ato ou conduta que cause dano ou sofrimento, físico, psicológico, moral, sexual, emocional, e patrimonial tanto na esfera pública quanto na privada. De acordo com Monteiro e Souza (2006) a violência se manifesta de forma desigual e é considerada uma ameaça permanente à vida por sua alusão á morte, pois a vítima se sente desprotegida ficando em silêncio em relação a situação vivenciada e muitos casos não conseguem romper com o ciclo da violência. Os meios violentos os quais as mulheres estão inseridas repercutem em perdas significativas na saúde física, sexual e psicológica, com consequências graves na vida das mulheres, gerando um problema sério de saúde pública e que precisa ser revisto nas mudanças de comportamentos e as maneiras de pensar das relações entre as pessoas. Conforme afirma Monteiro e Souza (2006) é necessário haver mudanças nas inter- relações na família, na escola e no sistema social. A família precisa aprender a melhor se relacionar uns com os outros repeitando as diferenças, precisam aprender a mudar as formas desiguais presentes entre homens e mulheres, haja vista que a violência conjugal, entendida como questão de gênero, toma por base as questões culturais, educacionais, de dominação e econômica. Para que possamos compreender com mais clareza a violência é definida de várias formas, porém não é determinado um grau e sim que todos os tipos de violência têm consequências ofensivas a vítima e a sociedade. Conforme Instituto Maria da Penha, destacam as fomas de ocorrência dessa violência: Violência Física: Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Ex espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços, estrangulamento ou sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo, tortura. Violência emocional psicológica : É considerada qualquer conduta que: cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, 21 comportamentos, crenças e decisões. Ex. ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, ridicularização e outros. Violência Sexual: Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. Ex. Abuso sexual, estupro, limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, dentre outros. Violência Institucional: É cometida por agentes de órgãos prestadores de serviços públicos que deveriam proteger as vítimas e garantir a reparação dos danos causados pela agressão. Violência Moral: É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Ex. Acusar a mulher de traição, fazer críticas mentirosas e outros Violência Patrimonial: Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Ex. Controlar o dinheiro, estelionato, destruição de documentos pessoais , furto entre outros. As situações de violência, em alguns momentos, se mascaram pela proteção, amor, afeto e companheiros proíbem as mulheres de usar alguns tipos de roupas, ter contatos com algumas pessoas, limitando assim a vida das mulheres. As vezes namorados e esposos tentam passar para sua companheira que esses comportamentos são formas de cuidado ou ciúmes, mas essas formas podem facilmente gerar situações de violência. “Quando a agressão se torna ineficaz, impera a violência, como explosão primária predominantemente física. A violência seria um caminho de descarga tensional na busca por um senso de significação do sujeito” NEVES, ROMANELLI(2006, p 6). A violência e a forma dos seres humanos impor sobre outrem a sua insatisfação, tensão, dominação e controle é um fenômeno que ocorre em todas as classes sociais, porém e mais visível nas classes economicamente menos favorecidas. Dessa forma, violência doméstica e considerada o ato ou dano que cause dor e ou sofrimento físico ou psicológico na pessoa no âmbito familiar, entre os limites que vão de um empurrão ao espancamento. De acordo com Neves e Romanelli (2006) A violência doméstica se forma em todas as camadas da sociedade em diferentes etapas históricas, mas nas camadas populares ela se torna pública em virtude da denúncia e do decorrente acompanhamento ou intervenção dos órgão públicos. Mas a violência na qual os seres humanos estão inseridos não é apenas a violência caracterizada física, psicológica, moral, violência doméstica, violência urbana entre 22 outras, as causas consideradas para a violência geradora de todos os sintomas desagradáveis na sociedade é a falta de acesso à saúde, a educação, a exclusão social, a desigualdade social a miséria e a fome. Segundo Monteiro e Souza (2006) a violência é uma forma de expressão perigosa que tende a crescer e se inicia com incidentes menores com agressões verbais, crises de ciúmes, ameças, destruição de objetos passando para agressões físicas e ou sexuais chegando ao ponto máximo o homicídio. A violência se expressa e se manifesta de várias maneiras com guerras, tortura, assassinato, preconceito desigualdade sociais entre outras. A violência é definida como todas as violações dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. A violência na sociedade não define apenas os crimes, mas todo o efeito provoca- do sobre os indivíduos e as regras estipuladas para o convívio na sociedade. A violência urba- na interfere na organização social, prejudica a qualidade relacional da sociedade. Os crimes organizados por gangues urbanas, tráfico de drogas, vândalos, violências, trânsitos desorgani- zados colaboram com a perda da qualidade de vida. No entanto, no Brasil, a violência, que sempre esteve presentes em cidades de grandes e médios portes está se espalhando para cidades menores, na mesma proporção em que o crime organizado ganha espaços. Além das dificuldades encontradas pelas instituições de segurança pública em deter a violência. Nas últimas décadas, a violência está presente em nosso dia a dia. Para que possamos superá-las é necessária à efetivação das políticas públicas de segurança em paralelo a efetivação das politicas sociais de garantia ao acesso à saúde, a educação, ao trabalho e renda, a previdência social, a cultura, ao esporte e lazer. 1.3 Relação de gênero De acordo com Pedro (2005), para o feminismo o termo “gênero” passou a ser discutido entreas mulheres dentro dos movimentos feministas, que buscavam esclarecimentos que justificassem a submissão das mulheres. Mas para definir como foi usada a palavra é importante discutir a trajetória dos movimentos feministas. 23 Ainda de acordo com Pedro (2005), o feminismo como organização social vivenciou em sua trajetória algumas reivindicações, uma delas foram desenvolvidas no fim do século XIX, centradas pelas conquistas dos direitos sociais e econômicos como o do trabalho remunerado, direitos políticos, o direito ao voto e de ser eleita democraticamente. Surgiu também, após a segunda Guerra Mundial, outras fomas de reivindicação como, por exemplo, a busca pelo direito ao prazer carnal com direito de escolha, e contra o patriarcado considerado o poder de submissão dos homens contra as mulheres. Após essas reivindicações que a categoria de gênero foi empregada. Eses movimentos feministas e de mulheres passaram a se destacar nos anos 1960 nos Estados Unidos (PEDRO, 2005). Conforme análise de Pedro (2005) percebe-se que até o início da segunda Guerra Mundial a palavra “gênero” não fazia parte do vocabulário feminista, a categoria utilizada a palavra mulher, tendo em contraposição a palavra homem. Nesta época, o termo mais utilizado e considerado universal era a forma de expressão no masculino, quando as pessoas iriam se referir a um determinado grupo, por mais que a maioria fosse mulher era utilizado o termo sempre no masculino. De acordo com Pedro (2005) o que os movimentos feministas questionavam era, exatamente, a questão universal. Estas reivindicações feministas em prol das mulheres eram defendidas pela sociedade, mas não incluíam as formas específicas das mulheres como, por exemplo, os direitos de escolhas, a batalha contra a violência doméstica, a reivindicação a respeito dos afazeres domésticos que deveriam ser divididos em nome da igualdade de gênero. No seu uso recente mais simples, “gênero” é sinônimo de “ mulheres”. Livros e artigos de todos os tipos, que tinham como tema a história das mulheres, substituíram durante os últimos anos, nos seus títulos o termo de “mulheres” pelo termo de “gênero”, segundo Scott (1986). O termo gênero foi uma palavra criada pelos estudiosos para substituir a palavra mulheres, sendo esse termo utilizado para se referir as mulheres neste contexto relacional de poder entre homens e mulheres. Para Pedro (2005) quando se menciona o termo “ relações de gênero” o mesmo refere- se a uma classe de análise, da mesma forma como quando nós referimos a classe , raça , etnia, geração. Mas o termo gênero significa na gramática uma palavra, invariavelmente em português tendo o significado de: masculino ou feminino. Nem todas as naturezas se 24 reproduzem com formato assexuado, mesmo assim, as palavras que as mencionam, na nossa língua, lhes impõem um gênero. E era justamento pelo fato de que as palavras na maioria das línguas têm gênero, mas não têm sexo, que os movimentos feministas e de mulheres, nos anos oitenta, passara a usar esta palavra “gênero” no lugar de “ sexo”. Buscavam, desta forma, reforçar a ideia de que as diferenças que se constavam nos comportamentos de homens e mulheres não eram dependentes do “sexo” como questão biológica, mas eram definidos pelo “gênero” e, portanto, ligadas à cultura (PEDRO, 2005,p.78) O termo gênero é definido pelo ramo do conhecimento e pela importância do trabalho realizado pelos estudiosos feministas. Possui uma definição mais neutra em relação à palavra mulheres. O gênero é empregado pelos termos técnicos das ciências sociais e por consequência separa da política feminista. A definição para o termo “gênero” sugere a erudição e a seriedade de um trabalho porque “gênero” tem uma conotação mais objetiva e neutra do que “mulheres”. O gênero parece integrar-se na terminologia científica das ciências e, por consequência, dissociar-se da política (pretensamente escandalosa) do feminismo” (SCOTT, 1989, p.4) De acordo com Scott (1989) o estudo sobre o “gênero” é um aspecto que poderíamos chamar de: procura de uma legalidade acadêmica pelos estudos feministas nos anos 1980. Mas isso é só um aspecto. O termo gênero segundo a autora pode ser considerado a procura por uma forma científica acadêmica para utilização foRmal da palavra inserida no assunto. Segundo a autora Scott (1989) o termo “gênero”, surgiu como substituto da palavra “mulheres”, é igualmente utilizado para recomendar-se a informação a respeito das mulheres e é fundamentalmente informação a respeito dos homens que um insinua no estudo do outro. Este uso persiste na ideia de que o mundo dos homens e das mulheres são os mesmos. O gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como aquelas que encontram um denominador comum para indivíduo formas de subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior. O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais” - a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1989,p. 7) 25 É importante definir cada conceito de forma clara e objetiva de como são definidos, já que erroneamente utilizamos como sinônimo os conceitos sexo e gênero. Sendo que os dois pertencem à categoria humana, porém possui significado diferentes. Sexo refere-se às características biológicas de homens e mulheres, ou seja, as características especificam os aparelhos reprodutores femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos caracteres sexuais secundários decorrentes dos hormônios . Gênero refere-se às relações sociais desiguais de poder entre homens e mulheres que são resultados de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das diferenças sexuais. (CABRAL; DIAZ,2010, p.01) Pelo que podemos perceber o termo gênero é definido pelas relações sociais construídas historicamente pela sociedade, e sexo é a diferença corporal constitutiva de distinção do macho e da fêmea do homem e da mulher. “Gênero é um conceito formulado pelas ciências humanas para explicar como são construídas e se manifestam as diferenças culturais entre sexo e qual a relação delas com as desigualdades e as descriminações” (OLIVEIRA et al., 2007 p.10). Considera-se então que a afinidade de poder entre os gêneros é a constituição das identidades sexuais que correlaciona a dinâmica de poder nas relações entre os sexos feminino e masculino. De acordo com Cabral e Diaz(2003) sempre benéficas ao homem, vemos que isso traz sérias questões problemáticas no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos e da própria sexualidade feminina, com graves consequências para o exercício pleno da cidadania, pois esses direitos sexuais incluem o direito de controlar e decidir livremente nos assuntos relacionados com a sua sexualidade, incluindo a saúde sexual reprodutiva, livre de coerção, discriminação e violência. Em geral, parte-se do pressuposto de que sexo é algo definido pela natureza, fundamentado no corpo orgânico, biológico e genético, e de que gênero é algo que se adquire por meio da cultura. Esta compreensão se baseia na percepção de que o sexo homem ou mulher é um dado natural, a-histórico, e de que o gênero é uma construção histórica e social (ARAN,2006, p.50) Segundo Puleo (2004) há diversos discursos que definem a desigualdade de gênero. A mitologia descreve que na Grécia devido à curiosidade própria de seu sexo, Pandora tinhaaberto à caixa de todos os males do mundo. Em consequência as mulheres eram responsáveis por terem desencadeado todo tipo de desgraça. Já a religião usa outro discurso para culpar a mulher por se corromper e corromper o homem ao pecado. Eva é a pandora judaica cristã, pois, por sua culpa, fomos expulsos do 26 paraíso. Mas não somente o mito e a religião, e as ciências, têm funcionado como discurso de legitimação das desigualdades na sociedade (PULEO,2004). As relações de gênero são frutos das construções societárias, são marcadas hierarquicamente definindo o espaço de poder sobre outrem. De acordo com Safiotti (2004) neste sentido o conceito gênero pode representar uma categoria social, histórica, se tomando em sua dimensão meramente descritiva. Podemos perceber então que o termo gênero pode ser considerado a definição sobre a desigualdade ou o domínio entre os sexos, vindo de uma relação de poder do mais forte ao mais frágil visível nas camadas da sociedade, e por essa relação ser extremamente desigual os homens querem impor suas vontades sobre as mulheres utilizando a força ou impondo a mulher a se submeter e perpetuar em situação de violência considerada assim por alguns estudiosos a violência de gênero. Para alguns autores a violência de gênero é considerada qualquer ato que cause dano exercido de um sexo sobre o sexo oposto. Em geral, o conceito refere-se à violência contra a mulher. Neste sentido, também se aplicam as noções de violência machista, violência no seio do casal e violência doméstica (designação mais usada). Conforme Oliveira Et All (2007) é estabelecida uma conduta pela sociedade e esta conduta fundamenta normas formais e informais que acaba sendo tidas como naturais, um bom exemplo dessas normas criadas pela sociedade e a forma de nos expressarmos a nossa linguagem, o gênero neste sentindo é também uma linguagem, uma forma de comunicação orientada a conduta das pessoas em suas relações específicas que muitas vezes base para preconceitos e descriminação e exclusão social. Por exemplo, expressões como “lugar de mulher é na cozinha!”; “homem que é homem não chora” passam a ser estabelecidas determinadas formas e definição de papéis impostos pela sociedade. Gênero é mais do que um modo como às pessoas se relacionam; é também um jeito de olhar e compreender a realidade. Dentre as relações entre homens e mulheres em alguns períodos da vida é claro a exclusão das mulheres nas definições de papéis da sociedade. De acordo com Saffiotti (2004 ) as desigualdades atuais entre o sexo masculino e feminino são pequenos resíduos de um patriarcado não mais existentes ou em seus últimos estágios. De acordo com Tavares e Pereira (2007) na Roma antiga o patriarca tinha poder de decisão sobre vida e morte de seus familiares, já na Grécia antiga, o homem era considera- http://conceito.de/violencia-de-genero 27 do autoridade sobre a mulher, podendo apenas ele viver grandes paixões, ao contrário da mu- lher que era condicionada a reprodução. Na idade Média, no casamento a mulher era tratada como propriedade exclusiva do marido, devendo lhe obediência, seguindo se a mesma condição na América onde as mulheres continuavam descriminadas quanto seus filhos, sendo legalmente expostas em praças públicas a tortura por aborrecer o marido. No século XIX, as mulheres eram proibidas de ter posse de seus bens, não tinham o direito de romper como o relacionamento. No caso de rompimento eram menosprezadas pela sociedade, que as abominavam. [...] enquanto as esposas não tinham direitos legais para solicitar o divórcio, nem mesmo por adultério, o qual era considerado uma vergonha para a mulher, não para o homem, os maridos não encontravam nenhuma dificuldade para obtê-lo. Se, em lugar do divórcio que lhe era negado, uma mulher fugisse, o marido publicava um comunicado ameaçando processar qualquer um que a recebesse (TAVARES, PEREIRA APUD MILLER, 1999, p. 80). Ainda conforme os autores Tavares e Pereira (2007) os anos se passam e a desigualdade continua tendo bem claro o exemplo da China, onde é defendido pelos governantes a esterilização da mulher, obrigando ainda o aborto para a efetivação da lei de ter apenas um filho, além de desprezarem as crianças do sexo feminino que são mortas por acreditarem que o sexo masculino tem mais valor. No Sudão e na Somália exige-se a extinção do órgão genital feminino (clitóris), na Arábia Saudita a lei não protege os maus tratos as empregadas domésticas, no Congo, o adultério é permitido apenas ao homem sendo desprezadas pela sociedade as mulheres que cometem o ato. De acordo com o pensamento dos autores Tavares e Pereira (2007) a forma como a mulher é tratada, percebe-se que na sociedade contemporânea, ainda existe o paradigma que o papel da mulher é cuidar da casa e dos filhos e a decisão fica definida ao homem, mesmo quando é a mulher quem prover o sustento da família, não em todos os casos, mas em alguns a figura do homem representa o poder. De acordo com Tavares e Pereira (apud SCOTT, 1995) tem como base suas abordagens nos seguintes eixos teóricos: a)As relações de gênero possuem uma dinâmica própria, mas também se articulam com outras formas de dominação e desigualdade(raça, etnia, classe). 28 b)A perspectiva de gênero permite entender as relações sociais entre homens e mulheres, o que pressupõe mudanças e permanências, desconstruções, reconstrução de elementos simbólicos ,imagens, práticas, comportamentos, normas, valores e representações. c)A categoria gênero reforça o estudo da história social, ao mostrar que as relações afetivas, amorosas, e sexuais não se constituem realidades naturais. d)A condição de gênero legitimada socialmente se constitui em construções, imagens, referências de que as pessoas dispõe, de maneira particular, em suas relações concretas com o mundo. Homens e Mulheres elaboram combinações e arranjos de acordo com as necessidades concretas de suas vidas. e)As relações de gênero, como relações de poder, são marcadas por hierarquias, obediências e desigualdades. Estão presentes os conflitos, tensões, negociações, alianças, seja através da manutenção dos poderes masculinos ,seja na luta das mulheres para ampliação e busca do poder. (TAVARES, PEREIRA apud SCOTT (1995,p. 415) De acordo com as falas da autora Safiotti, tanto a identidade social feminina como a masculina é construída através da definição de papéis determinadas pela sociedade, sendo delimitados os campos em que pode operar tanto o homem quanto a mulher. Diante disto, é definido pela sociedade qual o papel a ser desenvolvido pela mulher e pelo homem ficando bem claro a desigualdade existente entre os gêneros. Conforme explica Safiotti “ os seres humanos nascem machos ou fêmeas, e através da educação que recebem que se se tornam homens e mulheres”. A identidade social é, portanto, socialmente construída” (SAFIOTTI, 1987, p. 10). Em quase todos os materiais pesquisados percebe-se a grande demanda pela defesa das questões femininas, em alguns momentos alguns autores discorrem bastante sobre as discriminações praticadas contra as mulheres, existem movimentos feministas, artigos, livros, reivindicações, enfim, lutas em prol das mulheres, ficando no esquecimento as questões que dizem a respeito do papel masculino. Como explica Safiotti (1987) do mesmo jeito em que as mulheres sofrem pressões perante a sociedade para trabalhar fora de casa, ser boa mãe, cuidar da casa de dos filhos, os homens também sofrem pressões impostas pela sociedade no sustento do lar, sendo responsável pela reprodução biológica, tendo que assumir um papel perante a sociedade, papel este de superioridade perante a família. Numa sociedade em que as práticas cotidianas mutilam indivíduo, dimensõesda personalidade feminina, existem também condutas impostas aos homens, que limitam extraordinariamente seu desenvolvimento. Em outros termos, as mulheres mutiladas correspondem, necessariamente, homens mutilados. É exatamente por isso que a luta das mulheres não diz respeito apenas a elas, mas também aos homens. 29 Seria impensável pretender mudar comportamentos femininos sem redefinição dos papéis de ambos seja travada adequadamente e alcance resultados positivos e preciso que se conheçam, pelo menos, as discriminações fundamentais de que é alvo, com frequência, a mulher (SAFIOTTI, 1987, p. 27.) Conseguimos perceber então que a desigualdade de gênero sempre existiu em determinadas épocas e permanece até os dias de hoje, não com a mesma proporção mas ainda com a forma cultural, a qual a sociedade está inserida deixa muito a desejar em relação às desigualdades sociais, a subordinação, a falta de repeito com o outro, os interesses individuais, sendo necessário ser revistos todos esses conceitos formados pela sociedade em relação aos gêneros para ser possível à efetivação dos direitos das mulheres. 30 CAPÍTULO II – DEFINIÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER, O AVANÇO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA COM O OBJETIVO DE PROTEGER A MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA E O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL PERANTE A PROBLEMÁTICA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 2.1 Violência Doméstica Contra Mulher De acordo com o Mapa da Violência 2015, com sua taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, o Brasil, num grupo de 83 países com dados homogêneos, fornecidos pela Organização Mundial da Saúde, ocupa uma pouco recomendável 5ª posição, evidenciando que os índices locais excedem, em muito, os encontrados na maior parte dos países. De acordo com a tabela 6.1 do referido Mapa. Taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil). 83 países. Fonte: Mapa da Violência 2015. Homicídio de mulheres no Brasil. 31 Ainda de acordo com o Mapa, efetivamente, só El Salvador, Colômbia, Guatemala (três países latino-americanos) e a Federação Russa evidenciam taxas superiores às do Brasil. Mas as taxas do Brasil são muito superiores às de vários países tidos como civilizados: • 48 vezes mais homicídios femininos que o Reino Unido; • 24 vezes mais homicídios femininos que Irlanda ou Dinamarca; • 16 vezes mais homicídios femininos que Japão ou Escócia. Esse é um claro indicador que os índices do País são excessivamente elevados. Tendo em vista o alto índice de violência contra mulher no Brasil, uma vez que de acordo com o Mapa da Violência 2015 o Brasil ocupa a 5° posição, apresentando alto índice em relação aos demais países foi necessário e urgente a crianção de políticas públicas com o objetivo de coibir e prevenir esses tipos de crime. A promulgação da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, apresenta um grande avanço na legislação brasileira. De acordo com a Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 art. 5° “configura violência doméstica e familiar contra mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: i – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregada; ii – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; iii- em qualquer relação íntima de afeto, no qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Paragrafo único: as relações pessoais enunciadas nesse artigo independem de orientação sexual. Art. 6° a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos (BRASIL, 2006). Segundo Saffioti (2004) O significado para violência doméstica costuma ser empregado como sinônimo de violência familiar, ou as vezes podendo ser identificado como violência de gênero, a qual é considerada teoricamente como violência de homens contra mulheres ou violência de mulheres contra homens, uma vez que o conceito sobre gênero é aberto não identificando qual o sexo se refere o temo gênero, porém tem maior predominância de utilização para o sexo feminino devido à dominação e exploração das mulheres por parte de seus companheiros. 32 Dentro da construção social e cultural da violência, a violência intrafamiliar em que se inserem as relações consanguíneas e se localiza dentro do seio da família, que está próxima da violência doméstica, a qual se refere as pessoas quem fazem parte do lar independente de relações consanguíneas, mostram´se como um problema inadiável, que vem assumindo proporções assustadoras. A violência doméstica e intrafamiliar são problemas que acometem ambos os sexos e não costumam obedecer a nível social, econômico, religioso ou cultural, idade, específicos (OLIVEIRA. 2206,P.26). A violência vivenciada pelas mulheres é, hoje, considerada um problema de saúde pública. Sua definição mais comum é aquela perpetrada por companheiros íntimos. Além de alta dimensão, esses episódios de violência mostram uma questão de caráter muitas vezes grave, anunciando a desigualdade nas relações de gêneros. As repercussões se definem na saúde física, psicológica e reprodutiva das mulheres e podem permanecer mesmo após o término da violência. De acordo com Santi; Nakano e Letierre (2010) a violência merece lugar de destaque entre as preocupações da contemporaneidade, gerando políticas públicas em diversos países com a finalidade de minimizar a violência doméstica contra a mulher. A violência doméstica, nos relacionamentos entre parceiros, expressa formas de afeto e poder e ao mesmo tempo denuncia as relações entre dominadores e dominados, sendo uma dinâmica desigual na definição de papéis a qual o homem usa o poder e a força para impor suas vontades sobre as mulheres. Segundo os autores Santi, Nakano e Letierre (2010) diante do fenômeno da violência doméstica que permeia o espaço social dos indivíduos, encontra-se a violência contra mulher. Em 1993, foi aprovado um acordo internacional na Assembleia Geral das Nações Unidas, definindo que a violência contra a mulher é qualquer ato que cause sofrimento que resulte, ou tenha a possibilidade de resultar, dano ou sofrimento físico, sexual e psicológico, incluindo ameaça, coação ou privação a liberdade na vida pública ou privada. Para Santi, Nakano e Letierre (2010)a violência perpetrada contra a mulher pode existir em todos os âmbitos da vida e se manifestar de várias formas e inúmeras conjunturas. Neste contexto, dentre as diferentes situações de violência das quais as mulheres estão inseridas, como destaque, e frequentemente, exitem aquelas violências no espaço definido pelas mulheres como sagrado, como por exemplo o lar. Dessa forma, a violência doméstica 33 refere-se às formas de violência e as condutas praticadas pelos que se consideram dominantes no âmbito familiar. “O autor da infração, o sujeito que transgride não somente as normas sociais mais invade a intimidade e a organização afetiva e corpórea do outro, utiliza-se da persuasão e do controle para manter o outro na condição de dominado e subjugado”. Para Neves e Romanelli (2005) a violência e considerada uma forma de descarga tensional, a qual os homens não conseguem conter sua fúria e precisam descarregar contra as mulheres sem ter consciência de seus atos, causando danos físicos e psicológicos a suas companheiras. Nas últimas décadas, o assunto sobre violência doméstica contra mulher tem ganhado espaço na sociedade e se tornado matéria de vários estudos e apresentações mundiais. A identificação da ocorrência de abusos e violaçõescontra a mulher dentro do quadro de referência maior das “relações de gêneros” permitiu compreender o contexto em que esses comportamentos se realizam, desvendando se cenário de iniquidades e dominação que permeiam a vida privada e pública e as relações de poder entre homens e mulheres na sociedade (FONSECA et.al.,2009). Fonseca et.al (2009) declaram que apesar de a relação de dominação e exploração de gênero esteja presente desde os primórdios da humanidade, só tomou forma e adquiriu espaços na problemática científica de ações da saúde pública a partir da década de 1970. No Brasil, isso ocorreu, respectivamente, de forma coordenada com a luta pela democratização do estado, estabelecendo uma das exigências dos movimentos sociais constituídos. O conceito atual da violência doméstica contra a mulher compreende todos os atos de violência física, psicológica, moral, sexual, patrimonial dentre outras. É definida pelo desrespeito aos direitos humanos, cometidos por um membro da família, ou seja, na maioria das vezes pelo companheiro que habita ou tenha habitado no mesmo domicílio. A violência de gênero é um problema mundial ligado ao poder, privilégios e controle masculinos. Atinge as mulheres independentemente de idade, cor etnia, religião, nacionalidade, opção sexual ou condição social. O efeito é, sobretudo, social, pois afeta o bem-estar, a segurança, as possibilidades de educação e desenvolvimento pessoal e a autoestima das mulheres. Historicamente à violência doméstica e sexual somam-se outras formas de violação dos direitos das mulheres {…} (FONSECA et.al., 2009). 34 Nos últimos trinta anos, a violência doméstica contra mulher tem recebido bastante atenção e mobilização. Várias pesquisas estatísticas declaram que os principais autores das agressões são companheiros e familiares. “Em pesquisa realizada no Distrito de Saúde do Butantã, na cidade de São Paulo, 44,4% das mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos corresponderam já ter sofrido, na vida, pelo menos um episódio de violência física de gênero ” (FONSECA et al. 2009). Segundo Lima (2012), a violência existe porque em nossa sociedade alguns seres humanos acredita que usando a força é o melhor jeito de resolver um conflito, tendo para si que o sexo masculino são mais fortes e superiores do que o feminino. É assim que, muitas vezes, os autores da agressão se sentem no direito de impor e submeter as suas vontades sobre as mulheres. Embora muitas vezes o consumo de álcool, o uso de drogas ilícitas e ciúmes sejam grandes indicadores para a violência contra a mulher, na verdade tudo é desencadeado pela maneira como a sociedade define como deve ser e qual as responsabilidades definidas para os sexos masculinos e femininos, o que por sua vez se reflete na forma de educar os meninos e as meninas. De acordo com Cabral e Diaz (1999) enquanto os meninos são motivados a valorizar a força física, agressividade, ação a dominação e a que outrem satisfaça seus desejos, inclusive sexuais, as meninas são valorizadas pela delicadeza, beleza, sedução, submissão, dependência, sentimentalismo e cuidado com os outros. Segundo Pougy (2007) a violência doméstica é fenômeno de visibilidade crescente, sendo considerada violência doméstica qualquer ação ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a mulher adulta, criança ou adolescente, perpetrada geralmente, no lar ou na unidade doméstica por um membro da família (marido, pai, padrasto, companheiro). E não apenas existindo na família, o lar é considerado o ambiente perfeito entre os seus personagens, existindo um vínculo muito próximo entre os familiares e sendo considerado um local acima de qualquer suspeita. De acordo com algumas pesquisas em todo o Mundo, pelo menos uma em cada três mulheres, já foi espancada, coagida ao sexo ou sofreu alguma outra forma de violência durante a vida. 35 Conforme pesquisa realizada pela SIS (Síntese dos Indicadores Sociais), pesquisa divulgada pelo IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que, na maioria das vezes, a violência contra a mulher parte de seus próprios companheiros. Segundo o estudo em 68,7% dos casos registrados no ano passado pela Central de Atendimento à Mulher ( 180), ligada à Secretaria de Políticas para as Mulheres, o agressor é o marido, namorado ou companheiro da vítima. Dados colhidos junto à central mostram que grande parte das denúncias (92,5%) é feita pelas próprias vítimas. O levantamento aponta que 50,4% dessas mulheres têm entre 20 e 34 anos e que 50,8% são casadas. Segundo Ana Lúcia Saboia, gerente de indicadores sociais do IBGE, esses dados mostram uma realidade violenta. É triste constatar que muitas vezes o “inimigo” está dentro da própria casa, que é a pessoa com quem a mulher tem um relacionamento. A violência doméstica ainda é responsável pela maioria dos atendimentos para o Ligue 180. Em 2009, das quase 401.729 ligações, a maioria (52,3%) foram relatos de violência contra a mulher – casos de lesão corporal leve, grave e gravíssima, além de tentativa de homicídio e assassinato. Ainda segundo a Secretaria de Políticas para as mulheres, do governo federal, foram denunciados casos de violência psicológica (ameaça, perseguição e assédio moral no trabalho) e de violência sexual (estupro, exploração sexual e assédio no trabalho). O estudo também mostra que 44,1% das mulheres atendidas tinham algum tipo de dependência financeira em relação ao seu agressor. De acordo com Soares (2005) a violência conjugal contra a mulher ocorre em ciclos, no primeiro momento, considera-se o momento de tensão, ocorre a insatisfação do parceiro, o autor da agressão ameaça a vítima de diversas maneiras para que ela se sinta intimidada, é a fase cheia de desentendimentos e ameaças entre o casal. Nesse momento ocorre o desrespeito, intimidações, palavras de baixo calão, destruição de documentos, coação perante outras pessoas, atribui a mulher a culpa pelo fracasso entre outras coisas. Nessa fase a vítima acredita que poderá contornar a situação. O autor acima afirma ainda que no segundo momento, o parceiro não satisfeito parte para agressões física contra sua companheira, inicia-se com pequenos empurrões, seguram a mulher com agressividade e depois ações mais brutas, como dar socos, chutes, bater com pedaços de pau, ferro, entre outros. É comum o uso de arma branca ou de fogo para amedrontar a vítima. Nessa fase é normal que todas as promessas feitas pelo autor da agressão 36 de que não irá mais agredi-la são esquecidas. É esse o momento o qual acontece a violência física. Geralmente, algumas mulheres socorre-se na casa de uma amiga, da mãe, de algum conhecido pata tentar se proteger. Para concluir Soares (2005) afirma que no terceiro momento é a fase da reconciliação, considera a fase da lua de mel. O agressor pede perdão à mulher terminando o período da violência física. O agressor demostra remorso e medo de perder a companheira. Promete qualquer coisa, implora por perdão, compra presentes para a parceira, demostra estar arrependido, jura a companheira que jamais irá agredi – la novamente. Pede outra chance para recomeçarem e a vítima aceita por achar que não será mais agredida por seu companheiro e que esse mudará seu comportamento. As vezes, pergunta-se o porquê das mulheres se submeterem e perpetuarem por tanto tempo a situações de violência ou por qual motivo elas denunciam e depois retiram a queixa. Algumas pessoas utilizam o senso comum para justificar que as mulheres estão expostas a esses tipos de situações de violência porque gostam, não tem personalidade, são covardes, entretanto, existe uma série de fatores como, por exemplo, questões histórico estrutural, o riscoem romper com o relacionamento, a vergonha, o medo, a ameaça de morte, a dependência emocional, a dependência financeira, falta de apoio familiar entre outros fatores. Além disso, existe a esperança de que o companheiro mude seus comportamentos. 2.2 Código Civil de 2002 De acordo com a Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002, mais conhecido como código civil declara em seu artigo: Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro. Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 37 Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares. Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos i ncisos III e IV do art. 1.557 . Com a sansão do Código Civil em 2002 percebe-se um avanço considerável na legislação brasileira no que se refere ao casamento, uma vez que determinou-se que o casamento poderia ser anulado caso houvesse alguma forma de dano para a vida, saúde e honra das mulheres e seus familiares. De acordo com o Código Civil em seu artigo 1.511 e 1.538: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I - recusar a solene afirmação da sua vontade; II - declarar que esta não é livre e espontânea; III - manifestar-se arrependido. (BRASIL 2002) Percebe-se que, de acordo com os artigos citados do Código Civil, as mulheres tiveram como prerrogativa o direito de expressar suas vontades na decisão do casamento, pois em séculos anteriores quem fazia essas escolhas eram seus pais. Assim, entende-se que com essa garantia legislativa a mulher tem autonomia para fazer suas escolhas e preferências, podendo desfrutar de uma vida mais feliz ao lado de quem desejou estar. De acordo com os artigos 1.565, 1566 e 1.573 do Código Civil: Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1 o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. § 2 o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art1557 38 V - respeito e consideração mútuos. Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum dos seguintes motivos: I - adultério; II - tentativa de morte; III - sevícia ou injúria grave; IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo; V - condenação por crime infamante; VI - conduta desonrosa. Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum. (BRASIL 2002) Conforme explica o Código Civil, com o casamento, ambas as partes passaram a ter os mesmos direitos e deveres para subsidiar a família, sendo responsabilidade dos dois com o apoio do Estado para garantir soluções educacionais e financeiras para o custeio da família. Garantiu-se o direito a dissolução do matrimônio para casos constatados de adultério, tentativa de morte, sevícia ou injúria grave, abandono voluntário do lar conjugal durante um ano contínuo, condenação por crime infame; conduta desonrosa. A partir do código civil de 2002, a legislação brasileira tem apresentado diversos avanços se tratando de proteção aos direitos das mulheres, pois antes desse período as mulheres tinham que se submeter a todas essas situações indesejadas e não tinham o direito de sair do relacionamento e caso se recusassem a aceitar a situação eram vistas com maus olhos pela sociedade. Considera-se também um grande avanço na legislação a forma de interpretar a saída do lar pelas mulheres, pois nas legislações anteriores, se a mulher saísse do lar por vivenciar violência doméstica, perdia todos os seus direitos aos bens adquiridos, com a as mudanças na legislação, mesmo a mulher saindo de sua residência continua tendo seus direitos garantidos. Ainda segundo o Código Civil, artigo 1.580: Art. 1.580. Decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial, ou da decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos, qualquer das partes poderá requerer sua conversão em divórcio. § 1º A conversão em divórcio da separação judicial dos cônjuges será decretada por sentença, da qual não constará referência à causa que a determinou. § 2º O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada separação de fato por mais de dois anos. Outro avanço considerável na legislação foi a forma de separação, que até o Código Civil, era necessário comprovar a separação de fato por mais de dois anos e teria que haver sentença judicial, hoje, se ambas as partes concordarem poderão apenas procurar um cartório ou advogado para fazer a dissolução do casamento. 39 2.3 Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 A promulgação da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006 foi considerada uma das maiores conquistas na história relacionada a garantia de direitos das mulheres. Conhecida como Lei Maria da Penha, essa trouxe esperança para mulheres que vivenciavam situações de violência doméstica por parte de seus companheiros e eram tratadas pelo poder público como mais uma das formas de violência existentes. A senhora Maria da Penha Maia Fernandes protagonizou um caso simbólico de violência doméstica e familiar contra a mulher. Em 1983, seu marido, por duas vezes, tentou assassiná-la. Na primeira vez, por arma de fogo, na segunda vez, por eletrocussão e afogamento. As tentativas de homicídio resultaram em lesões irreversíveis à sua saúde como a paraplegia e outras sequelas. Maria da Penha transformou sua dor, luta, tragédia em solidariedade. Á sua luta e de tantas outras mulheres contribuíram para o avanço da legislação nesses últimos vinte anos. A legislação Brasileira tem passado por diversas modificações, porém até o ano de 2006 as mulheres vítimas de violência não tinha nenhum respaldo legal específico para esse tipo de crime. Muitas mulheres eram espancadas por seus companheiros, sofriam violências psicológicas, morais, sexuais, patrimoniais, algumas mulheres chegavam até ao óbito em decorrência da violência sofrida. Só após várias torturas, violências físicas, psicológicas e tentativas de homicídios que a corajosa senhora, Maria da Penha Maia Fernandes, recorreu ao Centro Pela Justiça e pelo Direito Internacional (CEJIL) e ao comitê Latino Americano
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