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- -1 DIREITO TRIBUTÁRIO APLICADO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO DIREITO TRIBUTÁRIO APLICADO Autoria: Paulo Roberto de Souza Junior - Revisão técnica: Larissa Gonçalves - -2 Introdução Olá, caro (a), estudante. A partir de agora, na Unidade 01, vamos estudar os conceitos fundamentais do Direito Tributário e do tributo e suas espécies, assim como quem pode institui-las e, após, recolhê-las. Assim, no primeiro momento, vamos nos situar sobre qual é a função do Direito Tributário: função, objeto e a conexão com os demais ramos do Direito. Este ramo do Direito analisa e põe freios ao poder de tributar do Estado, definindo regras e momentos do nascimento da relação jurídica tributária, quem são seus elementos e modalidades de extinção. As receitas são divididas em originárias e derivadas. Mas qual é a diferença entre elas e onde os tributos se encontram? Esse será outro ponto a ser apresentado e analisado no decorrer do nosso conteúdo. Em relação aos tributos, analisaremos a sua importância em sociedade, ou seja, sua função social, seus elementos, classificação e espécies. Dentro dessas espécies tributárias, verificaremos a quantidade delas, assim como o debate entre os autores de quantas seriam. Após este momento, o CTN – Código Tributário Nacional e a CF/88 – Constituição Federal de 1988, em relação à quantidade de tributos mencionados e qual é a previsão legal e constitucional de cada espécie tributária. Estudaremos, logo em seguida, o conceito de cada uma, suas diferenças, importância e funções em sociedade. Entenderemos, caro (a), estudante, no último item da Unidade, quem poderá exercer a competência para instituir esses tributos e realizar sua arrecadação, isto é, a diferença entre competência (e suas características) e capacidade tributária. Bons estudos! 1.1 A evolução do Direito Tributário e suas relações com as demais disciplinas do Curso de Direito O Direito Tributário possui a função de delimitar o poder do Estado em tributar, definindo uma relação jurídica tributária, que abrange direitos e deveres entre o Fisco e o contribuinte. Esses direitos e deveres visam o pagamento do tributo e sua fiscalização e cobrança, além de coibir os abusos por parte do Estado durante o exercício dessa arrecadação de receitas. 1.1.1 O objeto do Direito Tributário O objeto do Direito Tributário é garantir a fiscalização, cobrança e pagamento do tributo. Além disso, é coibir os abusos por parte do Estado durante o exercício dessa arrecadação de receitas. Nesse caminho, é o entendimento: Direito Tributário é a disciplina jurídica dos tributos, com o que se abrange todo o conjunto de princípios e normas reguladoras da criação, fiscalização e arrecadação das prestações de natureza tributária. (AMARO, 2017, p. 24) A referida relação entre o Estado ou a administração fazendária (Fisco), que possui a função de arrecadar os tributos, e as pessoas naturais e jurídica (que irão pagá-lo), possui em seus vértices visões diferenciadas, já que tais pessoas buscam minimizar as situações para que não sejam tributadas, através dos meios permitidos legalmente, pois que havendo sonegação, estas estarão praticando um ilícito penal. O Fisco terá que determinar a instituição do tributo, ou seja, criá-lo através de lei; fiscalizar ou vigiar o - -3 O Fisco terá que determinar a instituição do tributo, ou seja, criá-lo através de lei; fiscalizar ou vigiar o contribuinte ou seu responsável no cumprimento da obrigação tributária; e, proceder sua arrecadação, que será realizada mediante o pagamento do tributo e seu ingresso dos valores no erário público, por meio de normas ditadas pelo Direito Financeiro (AMARO, 2019). 1.1.2 A norma jurídica tributária O Direito Tributário positivo é o ramo didaticamente do Direito. Ele é integrado pelo conjunto das proposições jurídico-normativas que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos (CARVALHO, 2019). Assim sendo, cumpre a norma jurídica tributária, nos esclarece sobre o objeto da prestação tributária, suas propostas declarativas sobre o comando normativo a ser tratado e seu conteúdo. Essa norma jurídica tributária traduz o que o texto do Direito Tributário positivo quer nos apresentar, ou seja, demonstra o que estamos sentindo da leitura sobre ele, através de juízos que são expressados como proposições, as quais nascem como enunciados de uma determinada questão (CARVALHO, 2019). 1.1.3 A conexão do Direito Tributário com os demais ramos do Direito Antes de observarmos os principais direitos em espécie e sua relação com Direito Tributário, teremos de analisar a influência dos dois grandes ramos do Direito: Direito Privado e Direito Público. O primeiro, o Direito Privado, é pouco sensível ao Direito Tributário. Já o segundo, o Direito Público, relaciona-se de forma contrária, devido a ser o “guarda-chuva” do referido Direito. 1.1.4 O Direito Privado e o Direito Tributário Chamamos a atenção para os direitos Empresarial e Civil – não que os demais não se relacionam ao Direito Tributário – pois esses dois terão um laço maior. A relação com esses Direitos é mais densa, devido, por exemplo, aos tipos societários existentes que deverão cumprir as determinações, em relação aos tributos inerentes a eles; suas personalidades jurídicas; e, as propriedades que possuem. Não podendo esquecer dos bens das pessoas naturais e o pagamento dos tributos sobre estes (CARVALHO, 2019). 1.1.5 O Direito Público e o Direito Tributário Há uma relação diferenciada com cada Direito que pertence ao Direito Público. Veja a seguir. Direito Constitucional Que apresenta os princípios e as espécies tributárias. Direito Financeiro Que faz a gestão financeira e alocação dos recursos públicos captados através das receitas tributárias, que são receitas derivadas. Direito Administrativo Que busca recursos para a realização de políticas públicas. Direito Ambiental Que utiliza do Direito Tributário para que pessoas, naturais ou jurídicas, possam respeitar a natureza que os cercam. Direito Internacional Que avalia quando há bitributação internacional, por exemplo. Direito Penal - -4 Direito Penal Que se transforma em Direito Penal Tributário, punindo pessoas por seus atos que a lei tributária. 1.2 Tributos: conceito, elementos, classificação e sua função em sociedade O tributo nasceu e acompanhou a evolução do homem em sociedade, onde as pessoas detentoras de poder e os políticos necessitam de recursos para atuação em liderados. Desde a Antiguidade, há notícias de cobranças de impostos, às vezes, de forma excessiva e por pessoas sem caráter para tanto, chegando até no confisco de propriedades para o rei. Durante a Idade Média nos deparamos com os camponeses, chamados de servos, que eram obrigados a pagar tributos aos senhores feudais. No período de 1453 a 1789, chamada de Idade Moderna, os feudos foram transformados em reinos, os quais se uniram formando os Estados Nacionais, sendo que os tributos eram a maior fonte de receita para manutenção destes feudos e se constituíam como requisitos de soberania. (AMARO, 2017). Com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, advinda da Revolução Francesa, que teve como lema a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, iniciou-se a Idade Contemporânea, onde era visível a desigualdade social (AMARO, 2017). No século XVIII, os impostos eram cobrados para custear os gastos públicos dos reis, e, por isso, não tendo como função a eliminação das desigualdades sociais existentes. Entretanto, há osomente em meados do século XIX, início dos estudos sobre a tributação aos moldes de hoje. (AMARO, 2017). Assim, os tributos visam dois momentos; o primeiro, captar dos contribuintes, que estão na mesma situação econômica, ou seja, possuem a mesma capacidade contributiva objetiva, recursos financeiros para aplicação nas diversas atividades prestadas pelo Estado à sociedade e, o segundo, orientar a economia. - -5 Figura 1 - Os tributos também são utilizados para custear a saúde pública Fonte: Spotmatik Ltd, Mediapool,2020. #PraCegoVer: na foto, a cena é em um corredor de hospital ou clínica médica. Da esquerda para a direita, temos uma senhora de cabelos brancos sentada em uma cadeira de rodas, representado ser uma paciente, próxima à janela do ambiente. Em pé, ao lado desta senhora, segurando com as duas mãos em seu braço esquerdo, está o médico, um homem de cabelos pretos. Ele veste uma calça de cor em tom grafite, sapato preto, camisa azul clara, gravata preta e um jaleco branco aberto, que vai até a altura dos seus joelhos. Logo atrás, quase ao lado, estão outras duas profissionais da saúde. A primeira, da esquerda para a direita, veste calça, sapato e camisa longa na cor branca. No pescoço desta profissional está pendurado o estetoscópio, que é o instrumento que os profissionais da saúde usam para ouvir os batimentos cardíacos dos pacientes. Ao lado dela, outra profissional, de estatura mais baixa, usando calça e camisa azul, que é o seu uniforme. Ao fundo está uma porta aberta que dá sequência ao corredor, com uma placa de sinalização verde com uma flecha e um boneco desenhados, mostrando que o corredor segue mais adiante. O teto, a parede e o do corredor são em tons de branco. A seguir, estudaremos o conceito e elementos do tributo. Continue lendo! 1.2.1 O tributo: conceito e elementos O art. 3º do Código Tributário Nacional – CTN (BRASIL, ), conceitua oLei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966 tributo, ao apresentar seus elementos. Prestação Pecuniária Compulsória O tributo é uma prestação pecuniária prevista em lei, isto é, não é observada dentro da ilegalidade. Essa prestação vincula a pessoa natural ou jurídica ao Estado. A compulsoriedade é a base de sua cobrança, que é advinda do Poder de Império do Estado, onde se exige a realização de suas prestações para custear as despesas públicas. Deste modo, praticado o fato gerador, nasce a obrigação de pagar o tributo, a ser materializada pelo seu lançamento. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91647/CTN-Lei-no-5172-de-25-de-Outubro-de-1966 - -6 Da moeda ou em valor que nela se possa exprimir O pagamento do tributo deverá ocorrer através de moeda corrente do país, contudo, sua extinção poderá ocorrer por outros meios legais, como por títulos da dívida pública ou por dação em pagamento de bens imóveis, em casos excepcionais, como previsto no art. 156, XI, do CTN, acrescentado pela Lei Complementar n. 104/2001, abrindo “a possibilidade para a dação de outros bens (títulos públicos, por exemplo) sejam utilizados para esse fim, sempre, obviamente, na forma e condições que a lei estabelecer” (BRASIL, 1967). A Portaria PGFN nº 32, de 08 de fevereiro de 2018, publicadaem 09/02/2018, regulamenta o procedimento de dação em pagamento de bem imóveis para extinção de débitos, de natureza tributária, inscritos em dívida ativa da União. Em relação a bens móveis, o STF – Supremo Tribunal Federal, através de seu Pleno, se posicionou pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1917, sob a relatoria do Min. Ricardoprocedência da ADI - Lewandowski, j. 26.04.2007, DJ 24.08.2007, da Lei distrital 1624/97, que dispõe sobre o pagamento de débitos das microempresas, das empresas de pequeno porte e das médias empresas, mediante dação em pagamento de materiais destinados a atender a programas de governo do Distrito Federal. A ADI foi ajuizada pelo governador do Distrito Federal, com fundamento que somente por lei federal, devido a reserva de lei federal, é que se poderia criar a dação em pagamento por bens móveis. (BRASILNão é permitido o tributo in natura e in labore 2007). O tributo in natura seria a troca da arrecadação tributária em moeda por bens, já o tributo in labore é relativo à realização de serviços no lugar de valores em moeda. Nesse caminho, também, não há extinção da obrigação tributária pela penhora do bem determinada durante uma execução fiscal, já que havendo arrematação do bem por um terceiro interessado, o Fisco receberá em dinheiro o valor que lhe é devido. No mesmo sentido, não haverá extinção do crédito tributário pela adjudicação (entrega do bem), pois mesmo acontecendo, haverá necessidade de concordância do fisco, que é o credor da dívida tributária (AMARO, 2019). Que não constitua sanção do ato ilícito A tributação não possui caráter de sanção, ou seja, não advém de ato ilícito. Essa tributação não pode estar descria na hipótese de incidência prevista em lei instituidora do tributo. Nesse caminho, por exemplo, uma indústria que realiza atividades lícitas e, em decorrência dessas polui determinado local, para que se evite tal evento danoso ao meio ambiente, o poder público poderá aumentar as alíquotas de um determinado tributo para inibir tal prática. A lei não pode incluir na hipótese de incidência tributária o elemento de ilicitude (ALEXANDRE, 2017). É exatamente nesse ponto que reside a diferença entre tributo e multa. Apesar de ambos serem receitas derivadas, a multa é, por definição, justamente o que o tributo, também por definição, está proibido de ser: a sanção, a penalidade por um ato ilícito. (ALEXANDRE, 2017). Todavia, é possível a tributação de renda auferida, com o tráfico das drogas e do jogo de azar ou de uma casa de VOCÊ O CONHECE? Hugo de Brito Machado é Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE, Mestre em Direito (Direito e Desenvolvimento) pela UFC e Especialista em Direito Público pela UFC. O Ex-Desembargador do TRF – 5º Região e Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Fortaleza, é um dos maiores no Brasil, e seus livros e decisões são referências todos nós que estudamos e trabalhamos na área. Vale a pena você pesquisar mais sobre o trabalho do tributarista. - -7 Todavia, é possível a tributação de renda auferida, com o tráfico das drogas e do jogo de azar ou de uma casa de prostituição, devido à disponibilidade econômica ou jurídica dos rendimentos auferidos. Instituída em lei O tributo só poderá ser instituído em lei. Em sua maioria, será por lei ordinária, porém, há três tributos que deverão ser instituídos por lei complementar: empréstimo compulsório (art. 148, CF); imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII, CF); impostos (art. 154, I, CF) e contribuições de seguridade social (art. 195, § 4º, CF). Há possibilidade de sua criação através de Medida Provisória. Cobrada mediante atividade plenamente vinculada A administração tributária engloba atividade de arrecadar, fiscalizar e exigir o cumprimento da legislação tributária, no que couber. A lei é quem define a cobrança do tributo, tornando-o vinculado à mesma (ALEXANDRE 2017). Ricardo Alexandre (2017) apresenta a separação dos tributos, que poderá levar em conta a relação à hipótese de incidência de tributos e a sua arrecadação, que pode ser vinculada ou não vinculada. Em síntese, menciona que a atividade poderá ser ou não vinculada e os recursos arrecadados podem ou não ser utilizados, dependendo das despesas determinadas ou quaisquer previstas no orçamento. Contudo, só o legislador pode exigir ou dispensar a cobrança do tributo, através da alíquota zero, imunidade e isenção. 1.2.2 Classificação dos tributos Veja como os tributos são classificados. • Quanto à espécie Impostos, taxas, contribuição de melhoria, empréstimo compulsório e contribuições especiais. • Quanto à competência Instituição de tributos. • Quanto à vinculação do fato gerador a uma atividade estatal Vinculada (à uma atividade estatal específica) ou não vinculada (sem destinação específica). • Quanto à função Fiscal, extrafiscal e parafiscal. • Quanto à possibilidade de repercussão do encargo econômico Tributos diretos ou indiretos. • Quanto aos aspectos objetivos ou subjetivos da hipótese de incidência Tributos reais ou pessoais. Os recursos captados dos contribuintes ou seus responsáveis fazem parte da chamada receita pública derivada, que é composta pelos tributos (pagamento determinado por uma lei que indica uma pessoa – natural ou jurídica, como contribuinte), multas administrativas (infrações administrativas, tais como:infrações ao ordenamento urbano) e penais (crimes e contravenções) e reparações de guerra (devida ao Estado que venceu um determinado conflito internacional). • • • • • • - -8 1.2.3 Os tributos e o exercício da sua função em sociedade Os tributos exercem três funções: alocativa (bens públicos); distributiva (redistribuição de renda com base na tributação); e, estabilização (geração de empregos e estabilidade econômica). Esses são divididos, segundo através de seu objetivo: fiscal, extrafiscal, parafiscal.Ricardo Alexandre (2017) No tributo fiscal: O tributo possui finalidade fiscal quando visa precipuamente a arrecadar, carrear recursos para os cofres públicos. São os casos do ISS, do ICMS, do IR e de diversos outros. (ALEXANDRE, 2017, p. 115) Já na finalidade extrafiscal: O tributo possui finalidade extrafiscal quando objetiva fundamentalmente intervir numa situação social ou econômica. São os casos, entre outros, dos impostos de importação e exportação, que, antes de arrecadar, objetivam o controle do comércio internacional brasileiro, podendo, às vezes, servir de barreira protetiva da economia nacional e outras de estímulo à importação ou exportação de determinada espécie de bem (ALEXANDRE, 2017, p. 115) No caso da finalidade parafiscal: O tributo possui finalidade parafiscal quando a lei tributária nomeia sujeito ativo diverso da pessoa que a expediu, atribuindo-lhe a disponibilidade dos recursos arrecadados para o implemento de seus objetivos. (ALEXANDRE, 2017, p. 115). Excetuando, todavia, os tributos de natureza fiscal, o Estado poderá utilizá-los como incentivos fiscais para a redução das desigualdades existentes em sociedade, possibilitando, assim, um equilíbrio entre as regiões, pautados na proteção social, regional e ambiental, e, o desenvolvimento nacional, cumprindo, portanto, sua função em sociedade, chamada de função social. 1.3 As espécies tributárias: suas funções A quantidade de espécies tributárias não é unânime entre os especialistas do Direito Tributário, para uns é dicotômica, como Alfredo Augusto Becker (1972) e Alberto Xavier (1974). Aliomar Baleeiro (2018), Sacha Calmon Navarro Coelho (2015) e Paulo de Barros Carvalho (2019) entendem que é tricotômica. Ricardo Lobo Torres (2013), Luciano Amaro (2019), e Bernardo Ribeiro de Moraes (1996) é quadripartite. E, para José Eduardo Soares (1997) é quinquipartite. Essa última corrente começou a ter mais adeptos devido a VOCÊ QUER VER? O documentário “Tributo: Origem e Destino”, produzido pela TV Câmara, discute como o Brasil usa o dinheiro arrecadado pelos impostos e como as pessoas percebem o uso destes recursos nas principais áreas, como educação e saúde. - -9 Eduardo Soares (1997) é quinquipartite. Essa última corrente começou a ter mais adeptos devido a jurisprudência do STF – Supremo Tribunal Federal. Essas correntes têm como base a vinculação do fato gerador. Corrente bipartite A corrente bipartite dividiu-os em tributos vinculados a uma atividade estatal e a não vinculados, onde taxas e impostos são exemplos, respectivamente. Corrente tricotômica A corrente tripartite os divide em impostos (não vinculados), taxas (vinculados) e contribuição de melhoria (vinculada à valorização de um imóvel em decorrência de uma obra pública). Para esta os empréstimos compulsórios e as contribuições parafiscais não são espécies , já que não possuem fato gerador próprio. Esta corrente baseia-se nos arts. 4ª e 5ª do CTN. Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II - a destinação legal do produto da sua arrecadação. Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria. As espécies tributárias que se utilizarem de outras espécies tributárias como fato gerador serão consideradas como tal, ou seja, se determinada contribuição parafiscal se utilizar do fato gerador de outra espécies, não será mais contribuição e, sim, aquela espécie do fato gerador que ensejou sua cobrança, após o competente lançamento tributário. Corrente quadripartite A corrente quadripartite traz divergências durante a configuração de cada espécie. Bernardo Ribeiro de Moraes (2007) entende que há quatro espécies como tributos: impostos, taxas, contribuição de melhoria e contribuições parafiscais, já que o empréstimo compulsório é um imposto restituível. Ricardo Lobo Torres (2018) discord de Moraes, por entender que, os tributos são: impostos, taxas, contribuições especiais (contribuição de melhoria e contribuições parafiscais) e empréstimos compulsórios. Por sua vez, Luciano Amaro (2019) salienta que os tributos são: impostos, taxas, (incluídos, nesta espécie, os de serviço, de polícia, de utilização de via pública – pedágio – e a de melhoria – contribuição de melhoria), contribuições parafiscais e empréstimo compulsórios. Corrente quinquipartite A quinquipartite inclui dentro das espécies tributarias as cinco espécies definidas pela Constituição Federal de 1988, devido às características próprias elencadas pelo referido Texto: impostos, taxas, contribuição de melhoria, contribuição parafiscal e empréstimos compulsórios. Os impostos, taxas e contribuições de melhoria tem como fundamento a natureza do fato gerador, e as contribuições parafiscais e os empréstimos compulsórios se baseiam na destinação legal do produto de arrecadação. 1.3.1 Impostos O imposto é uma espécie tributária prevista no art. 16 do CTN, não se vinculando a uma atividade estatal específica, como por exemplo, taxa de serviço de bombeiro, já que o imposto decorre da manifestação exclusiva do contribuinte, como é o caso do imposto de renda, que aufere renda e proventos dos contribuintes (BALEEIRO, 2018). - -10 Figura 2 - O formulário do Imposto de Renda é tributo de competência federal e não vinculado, já que não há uma contraprestação específica Fonte: Devrim PINAR, Mediapool, 2020. #PraCegoVer: na foto, da esquerda para a direita, temos uma calculadora na cor cinza, com botões também em tons de cinza, e com o número dezessete mil e oitocentos no visor. Na sequência, um óculos de grau com a armação na cor preta. Logo abaixo, uma caneta na cor prata. Embaixo desses três objetos há uma folha de papel branca com letras, tabelas e números que foram digitados no computador, e impressa na cor preta. Não é possível identificar o que está escrito, pois a imagem está desfocada da escrita. Ao lado direito da folha aparece uma xícara de cor branca, no entanto, apenas a parte inferior e o começo da alça que serve para pegá-la. A taxa é uma espécie tributária que tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia ou do serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte. Aliomar Baleeiro (2018) conceitua como: “a contraprestação de serviço público, ou de benefício feito, posto à disposição, ou custeado pelo Estado em favor de quem a pagou, ou se este, por sua atividade, provocou a necessidade de criar-se aquele serviço público” (BALEEIRO, p. 1228). O conceito desta espécie tributária está delineado no art. 77 do CTN. A Constituição Federal, em seu art. 145, II, indicou quem poderá instituir a taxa e quais são os requisitos, sem, contudo, se manifestar em relação à sua hipótese de incidência, em seu art. 145, II. 1.3.2 Taxa em razão da prestação de serviços públicos Uma das de taxas de serviço público mais conhecidas é aquela destinada à cobrança pelo casamento civil. - -11 Figura 3 - O casamento civil é um ato formal submetido a requisitos previstos em lei Fonte: CapturePB, Mediapool, 2020. #PraCegoVer: imagem de duas alianças de casamento douradas iguais. Uma está com metade de sua parte em cima da outra. O fundo da imagem é na cor branca. Aliomar Baleeiro (2018) esclarece que os serviços públicos são prestados ou colocados à disposição do contribuinte. O serviço é efetivo quando ministrado ao contribuinte a qualquer título, isto é, porque lhe interessa ou porque deva sujeitar-sea ele por sua atividade em relação a terceiros (BALEEIRO, 2018). O serviço é potencial, quando compulsório, ao funcionar de modo efeitvo à disposição do contribuinte. Compulsório o pagamento, não o uso. É específico, quando possa ser separado em unidades autônomas de intervenção da autoridade ou de sua utilidade, ou de necessidade pública, que o justificou. Por exemplo: a existência do corpo de bombeiros para o risco potencial de fogo (BALEEIRO, 2018). O serviço é divisível, quando ele pode funcionar em condições tais que se apure a utilização individual pelo usuário – a expedição de certidões, a concessão de porte de armas, a aferição dos pesos e medidas etc. (BALEEIRO, 2018). Diante disso, esse serviço é individual e mensurável, conforme posicionamento do STF. Veja a seguir. S T F – Vinculante 19 “A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal”. STF – Súmula “O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa”. VOCÊ SABIA? A taxa pública pelo serviço público possui dois requisitos, ou seja, ela deverá ser: divisível e específico. O primeiro, divisível, refere-se à utilização por cada usuário separadamente, isto é, o Estado poderá identificar o usuário; o segundo, específico, é visto em cada unidade específica, de intervenção, utilidade ou necessidade pública. - -12 STF – Súmula 670 “O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa”. Seguindo essas Súmulas, o serviço público deverá possuir natureza divisível. Assim, por exemplo, o serviço de segurança pública deverá ser custeado pelos impostos e não pelas taxas, devido a seu caráter indivisível. Também, não é cabível a sua cobrança quando o serviço não for disponibilizado, entretanto, se for e o usuário não o utilizá-lo, haverá cobrança (BALEEIRO, 2018). 1.3.3 Taxa com base no poder de polícia O poder de polícia é conceituado no art. 78 do CTN: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966) .... (BRASIL, 1966). O fato gerador da taxa de polícia é o exercício regular do poder de polícia, ou seja, uma atividade do Poder Público que privilegie a sociedade e seus interesses, tais como: às liberdades, à segurança, à ordem, aos costumes, ao exercício das atividades econômicas, ao respeito à propriedade (BALEEIRO, 2018). Figura 4 - A taxa de fiscalização de uma obra pública é uma taxa decorrente do poder de polícia Fonte: MikeDotta, Mediapool, 2020. - -13 Fonte: MikeDotta, Mediapool, 2020. #PraCegoVer: na foto, há cinco trabalhadores da construção civil conversando no meio de uma obra, onde há ferros estruturais em pé e outros ferros que ainda foram utilizados, em cima de uma superfície. Da esquerda para a direita, o primeiro trabalhador é um homem, que está de lado, e veste calça e camiseta nas cores em tons de cinza, um colete na cor laranja fosforescente e um capacete na cor azul escuro. O segundo trabalhador é um homem, ele está de costas. O homem veste camiseta na cor amarela, capacete branco, um cinto de segurança usado em obras na cor azul e equipamentos de trabalho e segurança presos na sua cintura. A terceira pessoa é uma mulher, que veste camiseta branca, colete na cor laranja fosforescente, uma touca na cor preta e um capacete na cor branca. Ela está com a mão em cima de ferros da obra. Do lado desta mulher, começando a fechar o círculo de conversa, está um homem que veste camiseta cinza, colete nas cores amarelo e azul e um capacete azul com detalhe em branco. Este homem está apontando com o dedo para a direção da obra. O último homem, que fecha o círculo da conversa e tem apenas uma parte do seu rosto à mostra, veste camiseta na cor amarela, colete na cor azul, capacete na cor branco e tem preso à sua cintura os equipamentos de trabalho e segurança. Ao fundo, desfocados da imagem central, aparecem mais cinco trabalhadores com uniformes semelhantes aos demais. Um exemplo dessa taxa de polícia é a autorização inicial para funcionamento de um bar em determinado município, que será mediante o pagamento da taxa municipal de licença de localização e funcionamento do local, desde que haja, no Município, um local que fiscaliza a existência de higiene, segurança etc. (STF, RE 222.251). Todavia, para a renovação da licença, haveria necessidade de fiscalização (STF, RE 195.788). Decisão alterada pelo posicionamento do STF, com voto do Eminente Rel. Min. Marco Aurélio, em RE, na 1ª Turma do STF: Não há invocar o argumento no sentido de que a taxa de corrente do poder de polícia fica “restrita aos contribuintes ” (STF. 1ª T. AG.REG. NO RECURSOcujos estabelecimentos tivessem sido efetivamente visitados pela fiscalização EXTRAORDINÁRIO 682.168 MINAS GERAISRELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO. j. 03 de setembro de 2013). Grifos nossos. 1.3.4 A base de cálculo das taxas A Constituição Federal, em seu art. 145, § 2º (BRASIL, 1988) proíbe que as taxas tenham a mesma base de cálculo dos impostos. O CTN, em art. 77, § único, proíbe que as taxas tenham a mesma base de cálculo e fato gerador dos impostos. Vejamos a Súmula 595, do STF. STF – Súmula 595 – “É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja idêntica à do imposto territorial rural”. Quando utilizada a base de cálculo de impostos deverá ser seguida o teor da Súmula Vinculante 29 do STF: STF – Súmula 29 – “É constitucional a adoção no cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra”. 1.3.5 Diferença entre taxa e preço público (tarifa) Muita gente não sabe, mas há diferenças entre taxa e tarifa. Você sabia? Confira a tabela a seguir e entenda melhor. - -14 Tabela 1 - As diferenças entre taxa e tarifa são claras Fonte: Elaborada pelo autor, 2020. #PraCegoVer: na tabela, na cor azul e em tons de cinza, estão escritas as diferenças entre o regime jurídico, receita pública, vínculo obrigacional e tipos de serviços público. Na primeira coluna estão a taxa e a tarifa do regime jurídico. Na segunda coluna, a taxa e a tarifa da receita pública. Na terceira coluna a taxa e a tarifa do regime jurídico. Na quarta coluna estão as taxas e a tarifa dos tipos de serviço público. Uma tarifa (preço público) é paga pelo usuário de um serviço público. Por sua vez, essa tem natureza contratual e é facultativa, já que só deverá ser paga por quem estiver utilizando o serviço. De acordo com o STF- Súmula 545: os “Preços de serviços e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que se instituiu”. VOCÊ QUER LER? Vamos entender a diferença entre taxa e preço público. Para isso, sugerimos que você leia a obra de Hugo de Brito Machado “Curso de Direito Tributário - 40 ed. 2019”, que traz de maneira clara essa diferença. Ao final desta Unidade, na bibliografia, temos as informações completas para que você busque a obra. - -15 1.3.6 Contribuição de melhoria A contribuição de melhoria é uma espécie tributária que busca retirar dos imóveis valorizados por uma obra pública, sua valorização, ou seja, a hipótese de incidência é esta valorização. A base de cálculo é oriunda do quantum da valorização entre um e outro momento, ou seja, o antes e o depois da obra, conforme o art. 81 do CTN. O STJ – Superior Tribunal de Justiça, mencionou que “a valorização presumida do imóvel não é o fato gerador da contribuiçãode melhoria mas, tão somente, o critério de quantificação do tributo (base de cálculo), que pode ser elidido pela prova em sentido contrário da apresentada pelo contribuinte” (AgRg no REsp 613.244/RS). Como tributo contraprestacional que é, sua cobrança está limitada a dois momentos, o limite total, que é o valor que o Estado gastou com a obra, e, o limite individual, que é a valorização que o imóvel obteve com a obra pública, conforme exposto no § 1º do art. 82, CTN. Diante disso, há necessidade de ser uma obra nova, pois recursos para obras de recapeamento serão obtidos mediante impostos. Caso a obra traga prejuízos ao imóvel, este não indenizado. O ente federado poderá, ao invés de instituir essa exação tributária, realizar a desapropriação por zona, aos moldes do art. 4º do Decreto-Lei 3.365/1941, com o seu parágrafo único, incluído pela Lei 12.873/2013. Figura 5 - A contribuição de melhoria tem como base a captação da valorização imobiliária decorrente de uma obra pública Fonte: Photos SS, Mediapool, 2020. #PraCegoVer: na foto, temos o chão de terra em primeiro plano, parte dele com a luz do sol e parte com sombra. Ao fundo, uma ponte em construção. Dos dois lados da ponte existem algumas árvores. Na direita, um amontoado de terra. O céu está em tons de azul claro. A desapropriação em tela visa retirar do proprietário, antes da obra, área contígua que será valorizada com a obra e, após o término dela, revendê-la, onde será beneficiado com a diferença do valor do bem antes e após a obra. - -16 A seguir, vejamos mais sobre empréstimos compulsórios. 1.3.7 Empréstimos Compulsórios Os requisitos dos empréstimos compulsórios estão definidos nos incisos I e II do art. 148, da Constituição Federal de 1988. Confira! Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. (BRASIL, 1988) CASO O município onde você reside está realizando algumas obras públicas previstas no programa de governo apresentado à sociedade, quando o atual prefeito era apenas candidato ao cargo. Entretanto, após sua posse, o mesmo verificou que não havia caixa para tanto. Assim, buscou parceira com o Estado, onde o município estava situado. Havia a necessidade de construção de malha de água e esgoto em dois bairros localizados na periferia do munícipio e um viaduto para desafogar o trânsito em bairros e no centro da cidade. Obra orçada, parceria realizada. Ao final, foi verificado que os imóveis tangenciados com as obras foram beneficiados, deste modo, foi proposta a cobrança de uma espécie tributária. No entanto, abriu-se uma dúvida sobre o que seria instituído: uma taxa de serviço ou uma contribuição de melhoria? Após a análise de cada conceito, entendeu-se que seria uma contribuição de melhoria em função da valorização imobiliária decorrente da obra pública. Deveria ser instituída e cobrada uma única vez e por quem primeiro publicasse em Diário Oficial, a sua instituição, com valor, limite geral e individual, já que a taxa só poderia ser cobrada dos moradores dos bairros onde foi realizada a construção da tubulação de água e esgoto, mensalmente, após seu regular funcionamento. - -17 Figura 6 - Um evento da natureza poderá permitir a instituição e cobrança do Empréstimo Compulsório Fonte: think4photop, Mediapool, 2020. #PraCegoVer: na foto, uma mulher, que está de costas, caminhando, vestida com bermuda em tons de cores vermelho e branco e uma camiseta na cor azul clara, segura um menino pendurado em suas costas. O menino, que veste bermuda em tom cinza claro, camiseta na cor branca e chinelos na cor amarelo, está se apoiando no pescoço da mulher. Os dois estão em uma rua que foi invadida pela água, uma enchente. A água está na altura do joelho da mulher. Do lado direito deles, mais longe, estão outras três pessoas: uma mulher e duas crianças, que são meninos. Os dois meninos estão brincam na água. A mulher segura os observa, ela, embaixo de um telhado. Na foto aparecem um muro, telhados, lixeiras, uma casa na cor branca, os postes de iluminação e os fios de energia elétrica. O céu está em tom de azul claro e com nuvens brancas. Paulo de Barros Carvalho (2019) analisa o teor de expressão calamidade pública para concluir que: Daí admitirmos que, por calamidade pública, se deva entender não somente as catástrofes provocadas por agentes da natureza circundante, mas também outros eventos, de caráter socioeconômico, que ponham em perigo o equilíbrio do organismo social, considerado em sua totalidade. Advirta-se, porém, que do estado de calamidade pública há de decorrer a premência do provimento de recursos para atender-se às despesas extraordinárias. (CARVALHO, 201, p.75) São empréstimos forçados e restituíveis com arrecadação vinculada, criados pela União Federal através de lei complementar. - -18 1.3.8 Contribuições Especiais A Constituição Federal de 1988, em seu art. 149, estipula três espécies de contribuições especiais: contribuições sociais (seguridade social; outras contribuições sociais; contribuições sociais gerais); contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDE); contribuições de interesses de categorias profissionais ou econômicas (corporativas). Soma-se a estas a contribuição para custeio do serviço de iluminação pública (COSIP). Essas contribuições especiais seguem os princípios da capacidade contributiva, contraprestação e da solidariedade entre os membros. 1.3.9 Contribuições sociais As contribuições sociais se dividem em: contribuições para a seguridade social (financiamento da previdência social, assistência social e saúde) e as contribuições sociais gerais (serviços sociais autônomos – SENAI/SESI, SENAC/SESC). O art.195 da Constituição Federal define que a União poderá instituir: novos impostos e novas contribuições sociais de financiamento da seguridade social, através da competência residual. Em relação às contribuições para a seguridade, podem ser instituídas pela União: sobre os empregadores ou empresas, que podem incidir sobre a folha de pagamentos, a receita e o lucro; sobre os trabalhadores; sobre as receitas dos concursos de prognósticos; sobre a importação de bens e serviços; e, a contribuição social residual (ALEXANDRE, 2018). Figura 7 - A contribuição da seguridade social serve para custear a saúde, a assistência social e a previdência social Fonte: Robert Kneschke, Mediapool, 2020. - -19 #PraCegoVer: na foto, uma mulher, vestida com o uniforme da área da saúde na cor verde clara, está sorrindo enquanto olha no rosto e segura a mão de uma senhora de cabelos brancos, que está sentada em uma cadeira de rodas. A senhora, que veste uma blusa na cor azul e uma camiseta, que aparece apenas na gola da blusa, na cor branca, está sorrindo e olhando para o rosto da mulher. Ao fundo, desfocados, aparecem uma parede branca e uma fechadura de porta na cor preta. As contribuições sociais seguem os princípios tributários e os da seguridade social, preservando o prazo de cobrança e o respeito do motivo de cobrança. As contribuições sociais gerais são destinadas a outras atuações da União na área social, como o salário- educação (ALEXANDRE, 2018). A contribuição interventiva do SEBRAE poderá ser estendida a empresas que não são de pequeno porte (STF, Pleno, RE 396.266), bem como as contribuições destinadas ao INCRA poderão ser exigidas de empresas urbanas (STF, 1ª T, AgAgAI 548.733). Vamos observar a tabela a seguir. Figura 8 - As contribuições sociais e de seguridade tem finalidades que favorecem a sociedade Fonte: Elaborada pelo autor, 2020. #PraCegoVer: na tabela, na cor azul e em tons de cinza, estão divididas as contribuições sociais e as contribuiçõesde seguridade. Na primeira coluna estão as contribuições sociais. Na segunda coluna, estão os tipos de contribuições de seguridade. Na sequência do nosso conteúdo, estudaremos sobre as Contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDE). Você sabe de quem é a competência da CIDE? Continue lendo e descubra! 1.3.10 Contribuições de intervenção no domínio econômico – CIDE A CIDE é de competência exclusiva da União, podendo ser instituída por lei ordinária. Sua função é intervir em determinada situação social ou econômica. CIDE – royalties Onde recursos arrecadados são destinados ao desenvolvimento de tecnologia do País. - -20 CIDE – combustíveis Seus recursos são destinados conforme definido pela EC nº 33/2001, onde há combinação entre os arts. 149, § 2º, II e 177, § 4º, ambos da CF/88. CIDE – nas operações de importação Deve ser observada através da EC nº 42/2003. 1.3.11 Contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas – contribuições corporativas É uma subespécie tributária que tem como finalidade o financiamento das atividades de interesses de instituições representativas ou fiscalizatórias de categoria corporativa profissional ou econômica, sendo de competência da União. 1.3.12 Contribuição sindical A Constituição Federal, em seu art. 8, IV (BRASIL, 1988) apresenta dois tipos de contribuições: Art. 8º .... IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei. BRASIL, 1988).( Segundo o , com a Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017, queDecreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 aprova a Consolidação das Leis do Trabalho, há necessidade de autorização dos participantes ser quitada a contribuição sindical: Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de (BRASIL, 1943).2017) Assim, a contribuição sindical, desde 2017, só será exigida mediante autorização prévia, voluntária, individual e expressa (por escrito) pelo empregado. Em relação à contribuição confederativa, vejamos: • STF - Súmula vinculante 40: a contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da CF só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo. 1.3.13 Contribuições corporativas para o custeio das entidades de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas São contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas (RE 138.284/CE) que visam recursos exclusivamente para atividades corporativas com finalidade de fiscalizar a profissão, e à representação dos profissionais inscritos, como, a OAB e o CREA. São autarquias corporativas e, por isso, são devidas a elas, por seus membros, as contribuições corporativas. • http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEL%205.452-1943?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm - -21 seus membros, as contribuições corporativas. 1.3.14 Contribuição de iluminação pública – COSIP A COSIP está definida no art. 149-A da Constituição Federal, sendo a competência para sua instituição e cobrança destinada aos Munícipios e ao Distrito Federal. Importantes passos destinados a explicação de sua cobrança foram destacados na Ementa do RE 573675-SC (Decisão pela existência de repercussão geral, RE 573675 RG/SC - STF, Pleno, meio eletrônico. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/03/2008) sobre seus contribuintes, alíquota e sua progressividade e seu caráter . Vejamos:sui generis I- Lei que restringe os contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação pública. II- A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. III - Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se destina a finalidade específica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao contribuinte. ... (STF, O Tribunal, por maioria. RE 573675-SC, Min. Ricardo Lewandowski. DJE 22/05/2009). 1.4 Competência Tributária: classificação, entes federados, imposição e papel econômico A competência é uma “faculdade” reconhecida pela Constituição Federal a um ente federado para instituição de determinados tributos, já que o Texto Constitucional não os institui. Esta competência é indelegável, segundo os arts. 7º (expressa) e 8º (tácita) do CTN (BRASIL, 1966), além de ser, intransferível, inalterável e irrenunciável. Vejamos o quadro elaborado com base na diferença entre competência e capacidade tributária ativa. Tabela 2 - Competência e capacidade se diferem no campo dos tributos Fonte: Elaborada pelo autor, 2020. #PraCegoVer: na tabela, na cor azul e em tons de cinza, estão divididas a competência tributária e a capacidade tributária ativa. Na primeira coluna estão quatro atribuições da competência tributária. Na segunda coluna, à direta, estão quatro atribuições da capacidade tributária ativa. A competência para instituir o tributo é diversa da competência para legislar sobre normas gerais do direito tributário, a qual pertence à União, conforme delineado no art. 146, III, a, da CF/88. Um exemplo é o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, que deverá ser instituído com base na Lei Complementar Federal nº 116/03. - -22 1.4.1 Os entes federados e a repartição de receitas tributárias A repartição leva em conta o desenho do Sistema Tributário brasileiro, já que na maior parte os tributos estão a cargo da União Federal. Busca-se, assim, a justificativa fiscal e igualdades entre contribuintes e seus responsáveis tributários. 1.4.2 Classificação das competências tributárias: privativa, comum, cumulativa e residual A competência poderá variar dependendo da espécie tributária, ou seja, se é vinculada a uma atividade estatal ou não. Há competência concorrente entre União e Estados, por exemplo, em relação ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, onde as normas gerais são de competência da União, e, na falta destas normas, a competência será outorgada aos Estados e ao Distrito Federal, segundo os § 1º ao 4º, do art. 24 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 1.4.3 Competência privativa dos entes federados A Constituição Federal definiu uma gama de tributos destinada aos entes federados, ou seja, somente estes poderão instituí-los, já que neste rol estão as competências privativas. Como exemplo, podemos citar os empréstimos compulsórios, previstos no art. 148 (BRASIL, 1988). 1.4.4 Competência cumulativa Baseada no art. 147, da Constituição Federal (BRASIL, 1966), a competência cumulativa trata-se de impostos nos Territórios Federais, caso venham a ser criados, e no Distrito Federal (art. 153 e 156, CF/88). 1.4.5 Competência residual da União Federal A União, através da competência residual, também chamada de remanescente, exposta no art. 154, II da Constituição Federal, poderá mediante lei complementar instituir impostos não previstos em seu rol de competência, desde que não-cumulativos e que não tenham o fato gerador ou a base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição (BRASIL, 1988). 1.4.6 Competência comum A competência comum é aquela exercida por todos os entes federados dentro de suas atribuições, como acontece, nas taxas de serviço públicoe nas contribuições de melhoria, onde qualquer um dos entes poderá institui-lo, desde que o serviço ou a obra tenha sido por este, art. 145 I e II, CF/88 (BRASIL, 1988). 1.4.7 Competência extraordinária A competência que a União possui para instituir novos impostos, não relacionados na Constituição Federal, em caso de guerra externa ou sua iminência, por lei ordinária, nos termos do art. 154, II, da CF (BRASIL, 1988). - -23 1.4.8 Bitributação e bis in idem Um imposto extraordinário de competência da União, que possui a característica de temporalidade, poderá ser instituído, desde que respeite os requisitos para tanto, utilizando os impostos sob competência de outro ente federado, o que neste caso seria hipótese de bitributação, ou, impostos de sua própria competência, que seria bis .in idem Conclusão Chegamos ao final desta unidade. Agora, você tem elementos para compreender os conceitos fundamentais do Direito Tributário e do tributo e suas espécies. Do mesmo modo, sabe quem é que pode instituir e, em seguida, recolher os tributos. Além disso, você já possui conhecimento para entender a conexão do Direito Tributário com os demais ramos do Direito. Estudamos, juntos, a importância dos tributos para a sociedade, sua função social e a quem cabe fiscalizar a aplicação dos recursos. Identificamos ainda a diferença entre competência e capacidade tributária. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender a função do Direito Tributário em sociedade, que é organizar e retirar o poder de tributar do Estado com efeito de confisco, definindo regras para tanto; • discutir o conceito de tributos, entendendo que os elementos que compõem o tributo são eminentemente arrecadadores, onde se capta recursos para correção de desigualdades socioeconômicas; • avaliar as espécies tributárias, seus conceitos, características e diferenças; • analisar os conceitos de competência tributária e capacidade tributária, elementos e diferenças. Bibliografia AMARO, L. . 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Direito tributário brasileiro AMARO, L. . . ed. São Paulo: Saraiva, .Direito tributário brasileiro ALEXANDRE, R. . ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, .Direito Tributário Esquematizado BALEEIRO , A. / Aliomar Baleeiro, Misabel Abreu Machado Derzi. 14. ed., rev.Direito tributário brasileiro atual. e ampl, Rio de Janeiro: Forense, 2018. BECKER, A. A. . São Paulo: Saraiva, 1972.Teoria Geral do Direito Tributário CARVALHO, P. de B. . 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.Curso de direito tributário COÊLHO, S. C. N. . 14. ed. São Curso de Direito Tributário Brasileiro Paulo: Forense, 2015. MACHADO, H. de B. . . ed. São Paulo: Malheiros,Curso de direito tributário MELO, J. E. S. . São Paulo: Dialética, 1997.Curso de direito tributário MORAES, B. R. . 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996.Compêndio de Direito Tributário SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – . Supremo julga procedente ADI contra lei distrital que permitia outrasSTF formas de pagamento de tributos. 2007. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe. . Acesso em: 04 jun. 2020.asp?idconteudo=69769 TORRES, R. L. : elisão abusiva e evasão fiscal. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.Planejamento tributário TRIBUTO: origem e destino. Produção: TV Câmara. Direção e roteiro: Frederico Schmidt. 2011. 37.52min. XAVIER, A. . v. 1, Lisboa, 1974.Manual do direito fiscal • • • • http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=69769 http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=69769 - -24 XAVIER, A. . v. 1, Lisboa, 1974.Manual do direito fiscal Introdução 1.1 A evolução do Direito Tributário e suas relações com as demais disciplinas do Curso de Direito 1.1.1 O objeto do Direito Tributário 1.1.2 A norma jurídica tributária 1.1.3 A conexão do Direito Tributário com os demais ramos do Direito 1.1.4 O Direito Privado e o Direito Tributário 1.1.5 O Direito Público e o Direito Tributário 1.2 Tributos: conceito, elementos, classificação e sua função em sociedade 1.2.1 O tributo: conceito e elementos 1.2.2 Classificação dos tributos Quanto à espécie Quanto à competência Quanto à vinculação do fato gerador a uma atividade estatal Quanto à função Quanto à possibilidade de repercussão do encargo econômico Quanto aos aspectos objetivos ou subjetivos da hipótese de incidência 1.2.3 Os tributos e o exercício da sua função em sociedade 1.3 As espécies tributárias: suas funções 1.3.1 Impostos 1.3.2 Taxa em razão da prestação de serviços públicos 1.3.3 Taxa com base no poder de polícia 1.3.4 A base de cálculo das taxas 1.3.5 Diferença entre taxa e preço público (tarifa) 1.3.6 Contribuição de melhoria 1.3.7 Empréstimos Compulsórios 1.3.8 Contribuições Especiais 1.3.9 Contribuições sociais 1.3.10 Contribuições de intervenção no domínio econômico – CIDE 1.3.11 Contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas – contribuições corporativas 1.3.12 Contribuição sindical 1.3.13 Contribuições corporativas para o custeio das entidades de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas 1.3.14 Contribuição de iluminação pública – COSIP 1.4 Competência Tributária: classificação, entes federados, imposição e papel econômico 1.4.1 Os entes federados e a repartição de receitas tributárias 1.4.2 Classificação das competências tributárias: privativa, comum, cumulativa e residual 1.4.3 Competência privativa dos entes federados 1.4.4 Competência cumulativa 1.4.5 Competência residual da União Federal 1.4.6 Competência comum 1.4.7 Competência extraordinária 1.4.8 Bitributação e bis in idem Conclusão Bibliografia
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