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Urgências urológicas não traumáticas – Dr. Felipe 1. ESCROTO AGUDO: ❖ CONCEITO: Dor súbita de forte intensidade na região escrotal, associado ou não ao edema e eritema local. Caracteriza uma emergência urológica Com a finalidade de preservação testicular. O importante no atendimento de escroto agudo é saber diferenciar o escroto agudo por torção testicular das outras causas, e quando realizar o diagnóstico de torção deve fazer o tratamento o mais rápido possível. A precocidade do atendimento facilita o diagnóstico, pois o quadro inicial permite a melhor identificação das alterações do cordão. A ocorrência de uma TT determina sequencialmente obstrução venosa e arterial, com destruição progressiva de células reprodutoras, de Leydig, e, finalmente, necrose testicular, dependentes do grau de torção e tempo de evolução. ❖ DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: · Torção de apêndice testis (apêndice do testículo) – Tem um sinal patognomônico chamado “sinal do ponto azul”. Trata com anti-inflamatório. · Torção de apêndice de epidídimo - O quadro clínico se assemelha à torção do cordão espermático, porém, cursa com dor e alterações locais de menor intensidade. A palpação e transiluminação poderão identificar o apêndice testicular ou epididimário aumentado e de coloração escura. A ultra-sonografia com Doppler localiza a lesão e mostra o fluxo sanguíneo normal do testículo; · Epididimite/ orquite - A orquite (inflamação do testículo) ocorre mais em crianças durante quadros agudos de caxumba. Há dor e aumento de volume testicular, sendo que a cintilografia mostra aumento da irrigação sanguínea devido à inflamação. O repouso e a analgesia costumam ser suficientes para resolução dos quadros virais; · Hérnia inguinal; · Hidrocele - O diagnóstico é feito por suas características clínicas, sendo indolor, com palpação sugestiva de conteúdo cístico, e por meio da transiluminação escrotal e da ecografia; · Trauma/ Picada de inseto -Mais comum em crianças, provocam dor e aumento de volume do escroto. A ultrassonografia mostra a extensão da lesão, sendo que na maioria dos casos, repouso e anti-inflamatórios resolvem o quadro. Somente em grandes hematoceles a exploração cirúrgica faz-se necessária; · Lesões dermatológicas; · Vasculite (Púrpura de Henoch-Schõnlein); · Edema escrotal idiopático; · Espermatocele; · Varicocele. ❖ TORÇÃO DO CORDÃO ESPERMÁTICO – TESTICULAR: Torção testicular deve ser tratada como EMERGÊNCIA O médico tem cerca de 6 HORAS (4-8 hrs) desde o INÍCIO DOS SINTOMAS para tratar esse quadro. ❖ HISTÓRIA: – Clássica: · Dor escrotal unilateral súbita e intensa; · Frequentemente náuseas e vômitos; · Edema testicular; · Por vezes eritema. - Intermitência História de sintomas anteriores. ❖ EXAME FÍSICO: O exame físico de escroto deve ser feito com o paciente em pé, sempre. A torção testicular apresenta 4 SINAIS CARACTERÍSTICOS: I. Testis Redux: › Elevação do testículo torcido, ou seja, o testículo que está torcido fica mais alto que o outro. II. Sinal de Angel: › Horizontalização do testículo – Fisiologicamente o testículo tem sentindo longitudinal, na torção o testículo assume sentido horizontal. III. Sinal de Prehn: › Elevação manual sem alívio da dor. › Diferencia de orqui-epidermite, neste caso quando aproxima o testículo do corpo, elevar o testículo com a mão o paciente sente um alivio da dor. › Se elevar o testículo com a mão e o paciente continuar sentindo dor ele tem sinal de Prehn + (Positivo para torção). Se elevar o testículo e aliviar a dor o paciente tem sinal de Prehn – (Negativo para torção). IV. Sinal de Rabinowitz: › Ausência do reflexo cremastérico – Se fizermos um estímulo na face interna da coxa o testículo do paciente “sobe”, quando o paciente tem torção testicular esse reflexo fica abolido. ❖ EXAMES DE IMAGEM: Normalmente não há necessidade do uso de EXAME DE IMAGEM Se há uma forte suspeita de torção só com a história e exame físico Não perca tempo com exame!!!! JÁ FAZ O TRATAMENTO DIRETO. Se você acha que NÃO é torção, ou seja, a história e o exame físico não dão muitos indícios de torção Faz exame de imagem apenas para descartar a torção. O exame mais realizado nesses casos é US com Doppler (para ver vascularização). ❖ TIPOS DE TORÇÃO DE CORDÃO ESPERMÁTICO – TESTICULAR (Importante – pessoal pede em prova – pois é anatomia): Extravaginal: › Ocorre no período intrauterino ou perinatal – na fase final da fixação dos testículos; › É muito raro; › Torção proximal da túnica vaginal durante a descida; › Giro conjunto das túnicas e testículo (Torce tudo, testículo e túnica); › Fixação frouxa do gubernaculum. Intravaginal: › Mais frequente; › Adolescente; › Fixação anormal do testículo e epidídimo dentro da túnica (Bell-Clapper Deformity - “Badalo de sino”) – O testículo fica solto dentro da túnica, não se fixa corretamente; › Normalmente é bilateral. Obs.: Com a descida testicular – o testículo leva consigo um pedaço de peritônio – que passa a se chamar túnica vaginal. ❖ FATORES ETIOLÓGICOS: Rápida contração cremastérica (frio, exercício, sexo); Rápido crescimento e aumento da vascularização testicular; Congestão vascular (Processo inflamatório); Traumatismo contuso local. Obs.: A maioria acontece no período noturno e de maneira involuntária. Obs.: Não é comum ocorrer trauma, mas pode acontecer. ❖ GRAU DE TORÇÃO E TEMPO DE NECROSE TESTICULAR - Grau de torção Tempo de necrose testicular: ❖ TRATAMENTO: Exploração cirúrgica precoce!!! › Destorção e orquidopexia – Abre o escroto, destorce o testículo e espera um tempinho, se voltar a circulação e o testículo voltar a cor normal você faz uma orquidopexia (fixa o testículo), coloca para dentro e fecha. › Orquiectomia – Se após a destorção o testículo não voltar a cor normal é porque já necrosou e ele é inviável, aí faz a retirada dele. › Orquidopexia contralateral – OBRIGATÓRIO – Após tratar o lado que torceu, com orquidopexia ou orquiectomia, é obrigatório você abrir o outro testículo e fixar ele. ❖ RESUMO: Diagnóstico e tratamento precoce. Abordagem cirúrgica: destorção e fixação + orquidopexia contralateral. Testículo: › Francamente necrótico – Orquiectomia. › Viabilidade duvidosa – Orquidopexia. 2. PRIAPISMO: ❖ CONCEITO: É uma ereção peniana persistente e prolongada, não relacionada ao estímulo sexual. Geralmente é dolorosa. É uma urgência e precisa de tratamento rápido, se não for tratado rápido o paciente terá uma lesão permanente. Até 4 horas é considerado uma síndrome compartimental e é possível reverter sem lesão permanente. Acima de 4 horas o paciente já apresentará lesões permanentes, e acima de 24 horas já começa a apresentar necrose e fibrose. ❖ EPIDEMIOLOGIA: 0,5 a 1,5 por 100.000 pessoas/ ano; Faixa etária – apresentação bimodal; 5 a 10 anos (Causa mais comum: anemia falciforme); Após os 40 anos (Causa mais comum: uso de drogas – cocaína). ❖ CLASSIFICAÇÃO: Pode ser ISQUÊMICO ou NÃO ISQUÊMICO É importante saber classificar o priapismo porque a causa e o tratamento será diferente. I. PRIAPISMO ISQUÊMICO: Também conhecido como de baixo fluxo ou venoclusivo. É a forma mais frequente. Corpos cavernosos (se enchem de sangue para ocorrer a ereção): ficam rígidos e dolorosos Pênis está extremamente turgido – com dor intensa. Potencial para alterações permanentes da ereção peniana. Fisiopatologia: Neste tipo de priapismo há uma obstrução na drenagem do corpo cavernoso, ou seja, o sangue não consegue sair pelas vênulas. Esse sangue permanece dentro do corpo cavernoso, e com o tempo a artéria não consegue mais mandar sangue arterial para o corpo cavernoso porque ele já está cheio de sangue (fluxo arterial impedido) com isso o tecido entra em isquemia (falta sangue arterial, consequentemente falta oxigênio) e o paciente sente muita dor. › Todo sangue com pouco oxigênio ativa o efeito agregatório de plaqueta e começa a formar trombo agravando ainda mais o quadro, pois com o trombo dificulta ainda mais a drenagem e a hipóxia piora. › A partir de 24h desse quadro o paciente já apresenta morte celular e fibrose dos corpos cavernosos, eprovavelmente tem perda de função Formação de trombos é tardia! II. PRIAPISMO NÃO ISQUÊMICO: Também conhecido como de alto fluxo ou priapismo arterial. Forma pouco frequente. Corpos cavernosos: semirrígidos e indolor. Não se relaciona com necrose ou fibrose dos corpos cavernosos. Pode permanecer longos períodos sem prejuízo. Fisiopatologia: Neste tipo de priapismo a drenagem é mantida, a veia está normal, mas neste caso o problema é na arterial que está mandando MUITO sangue e assim a veia não dá conta de drenar (a veia não está com problema, ela só não está dando conta) › Nesses casos não há isquemia do tecido, porque continua chegando sangue arterial oxigenado, portanto o paciente não sente dor. E como a drenagem é mantida o pênis não fica totalmente ereto, fica meia vida (meio morto, meio vivo). › Porque que chega mais sangue? Por causa de fístulas arterio-lacunar (por traumas ou injeções), ou pode ser por pseudoaneurismas. Causas: › Trauma perineal ou peniano. › Agulha para injeção de fármacos. ❖ DIAGNÓSTICO: Clínico: História e antecedentes pessoais. Exame físico: Evidências de trauma/ Tumescência glandar e peniana. Exames laboratoriais: Hemograma completo e eletroforese de hemoglobina. Gasometria de punção sanguínea do corpo cavernoso Em casos de dúvida se é isquêmico ou não (de rotina não é muito feito). Imagem: Ultrassonografia duplex-scan (posição ginecológica) ou Eco-dopller colorido – normalmente não se faz. Arteriografia. ❖ TRATAMENTO: I. Priapismo Isquêmico: Lavagem dos corpos cavernosos + Agonista adrenérgico Escalpe (butterfly) 19G inserido em um dos corpos cavernosos (sulco bálano-prepucial) – Nunca colocar o escalpa a 0h ou a 6h, deve colocar em 3h ou 9h: › Drenagem (lenta e com compressão) – Lavagem do corpo cavernoso com SF 0,9% (Drena bem, até não sair mais sangue e só sair soro) – resolve 85% dos casos. Se só a drenagem não der certo aí faz a limpeza com soro e agonista adrenérgico: › Agonista adrenérgico: Fenilefrina (1 ampola/ 1ml/ 10mg) — 1ml de adrenalina em 500ml de SF — A lavagem com adrenalina você tem que monitorar muito o paciente, controlar a hemodinâmica dele – deixa para os Urologistas. Tratamento cirúrgico – SHUNT – é mais raro fazer isso: › Só é feito quando a lavagem não deu certo e nem a adrenalina. › Shunt distal (Chester Winter ou Al-Gjorad) = A cirurgia consiste em fazer uma comunicação entre o corpo cavernoso com o corpo esponjoso – aí o corpo esponjoso faz a drenagem do cavernoso. › Shunt proximal (Quackels ou Grayhack) = pelo corpo cavernoso – via veia safena – muito difícil de ser usado. II. Priapismo não-isquêmico: Não necessita abordagem de urgência. Aguardar resolução espontânea – 7 a 10 dias. Em casos de ausência de melhora, ou cliente não tolera – fazer arteriografia e embolização da fístula – tratamento da hemodinâmica – vascular – acesso via femoral – acha o local e emboliza.
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