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Questão Racial

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CONEXÕES ENTRE QUESTÃO RACIAL 
E QUESTÃO SOCIAL NA FORMAÇÃO 
SOCIAL BRASILEIRA
Cynthia Studart Albuquerque
Thays Carvalho
Introdução
Para compreendermos a questão racial no país, ao nosso ver, uma particularidade 
da questão social brasileira, temos de desvendar os processos de racismo estrutural 
que estão na fundação das desigualdades sociorraciais e dos antagonismos de classe e 
raça no Brasil. Desse modo, seguimos a pista indicada por Prado Jr. (1996, p. 8-9), de 
resgatar o nosso passado colonial para compreendermos o Brasil de hoje, pois aquele 
passado colonial “[...] aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas 
presente em traços que não se deixam iludir”.
Partimos do suposto de que capitalismo e escravismo determinaram as relações 
sociais existentes no país, ou seja, que o sistema escravista e senhorial colonial 
– mecanismo de exploração para acumulação primitiva de capital por meio da 
escravização da força de trabalho indígena e negra e da espoliação das riquezas das 
colônias para as metrópoles europeias em franca ascensão capitalista – construiu os 
alicerces das desigualdades de classe, raça e de gênero que até hoje se perpetuam. Assim, 
no nosso entendimento, o racismo e a questão racial não podem ser considerados 
apenas como expressões ou manifestações da questão social, pois estão na essência 
da produção e reprodução das relações sociais desiguais da sociedade brasileira. O 
racismo estrutural foi (e continua a ser) elemento constitutivo e constituinte de um 
projeto de nação das elites para o Brasil e, portanto, particularizou a formação das 
classes, as formas de exploração e opressão do trabalho pelo capital e a questão social. 
Desenvolvimento capitalista, escravismo e a desigualdade racial brasileira
Tanto Erick Williams (2012 [1944]) em Capitalismo e Escravidão, como Octavio 
Ianni (1978) em Escravidão e Racismo, apontam a conexão medular entre a formação 
do capitalismo europeu e a escravização em massa de africanos/as no “Novo Mundo”. 
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Ianni (1978), inclusive, adverte que numa primeira aproximação, pode expressar um 
paradoxo o fato de que na mesma época em que na Europa se implantava o trabalho 
livre, no “Novo Mundo” se criavam distintas formas de trabalho escravo. 
Conforme Williams (2012, p. 32), a expropriação do trabalho dos/as negros/as 
através da escravidão esteve na gênese do mundo moderno capitalista:
[...] a escravidão foi uma instituição econômica de primeira importância. Tinha sido a base 
da economia grega e erguera o Império Romano. Nos tempos modernos, forneceu o açúcar 
para as xícaras de chá e café do mundo ocidental. Produziu o algodão que foi a base do 
capitalismo moderno. Constituiu as ilhas do Caribe e as colônias do Sul dos Estados Unidos. 
Numa perspectiva histórica, a escravidão faz parte daquele quadro geral de tratamento cruel 
imposto às classes desfavorecidas, das rigorosas leis feudais e das impiedosas leis dos pobres, 
e da indiferença com que a classe capitalista em ascensão estava começando a calcular a 
propriedade em termos de libras esterlinas e se acostumando com a ideia de sacrificar a vida 
humana ao deus da produção.
Ianni (1978, p. 3) chama atenção que ao longo dos séculos XVI a XVIII, na 
Europa, ocorreu o desenvolvimento da manufatura seguida pela grande indústria 
sob a condição do trabalho “livre”. Simultaneamente, nas colônias do Novo Mundo, 
estruturavam-se as plantations, os engenhos e as encomendas tendo como base o 
trabalho escravo. “Tratava-se de dois processos contemporâneos, desenvolvendo-se no 
âmbito do processo mais amplo e principal de reprodução do capital comercial”. Marx 
(2013, p. 821 – grifos nossos) apontou a centralidade desse processo na acumulação 
primitiva de capital:
A descoberta de terras auríferas e argentíferas na América, o extermínio, a escravização 
e o soterramento da população nativa nas minas, o começo da conquista e saqueio das 
Índias Orientais, a transformação da África numa reserva para a caça comercial de peles-
-negras caracterizam a aurora da era da produção capitalista. Esses processos idílicos 
constituem momentos fundamentais para a acumulação primitiva [...]. Tais métodos 
como o sistema colonial, baseiam-se, em parte, na violência mais brutal. Todos eles, 
porém, lançaram mão do poder do Estado, da violência concentrada e organizada da 
sociedade, para impulsionar artificialmente o processo de transformação do modo de 
produção feudal em capitalista e abreviar a transição de um para outro. A violência é 
parteira de toda sociedade velha que está prenhe de uma sociedade nova. Ela mesma é 
uma violência econômica.
À medida que se expandia o capitalismo comercial dinamizado pelos grandes 
descobrimentos marítimos e pela colonização de novas terras, ocorria na Europa 
e, principalmente na Inglaterra, a acumulação primitiva. Estes são os elementos do 
paradoxo: o mesmo processo de acumulação primitiva, que na Inglaterra criava as 
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condições históricas para a formação do capitalismo industrial, produziu no “Novo 
Mundo” a escravidão. Desse modo, a formação social escravista nas “novas terras” 
estava vinculada, de maneira determinante, ao comércio de prata, ouro, fumo, açúcar, 
algodão e outros produtos coloniais. 
Esses fenômenos, protegidos pela ação do Estado e combinados com os progressos da divisão 
do trabalho social e da tecnologia, constituíram, em conjunto, as condições da transição 
para o modo capitalista de produção. Foi esse o contexto histórico no qual se criou o 
trabalhador livre, na Europa, e o trabalhador escravo, no Novo Mundo. Sob esse aspecto, 
pois, o escravo, negro ou mulato, índio ou mestiço, esteve na origem do operário. (Ianni, 
1978, p. 6 – Grifos nossos)
Clóvis Moura (1981, p. 36), um dos principais intelectuais negros do Brasil, 
corrobora com a ideia de que “[...] a existência da escravidão nas colônias 
proporcionou o desenvolvimento do capitalismo industrial nas metrópoles”, sendo 
o cimento dos alicerces da nova sociedade industrial. A Inglaterra, inicialmente, 
teve necessidade do tráfico de escravos/as para que o capitalismo se consolidasse. 
No entanto, a continuidade prolongada da escravidão logo se tornou um entrave 
ao desenvolvimento da economia inglesa, já que a África não era apenas uma 
região onde se “preava o negro”, mas também, um mercado potencial para as suas 
manufaturas. “Às manufaturas em ascensão, as colônias garantiam um mercado de 
escoamento e uma acumulação potenciada pelo monopólio do mercado” (Marx, 
2013, p. 823).
Nesse sentido, desde o princípio o Brasil está vinculado à economia mundial, 
em estado de dependência. Num primeiro instante a formação social escravista 
é essencialmente determinada pela reprodução do capital mercantil. E, depois, a 
partir do século XVIII, passa a ser, decisivamente, determinada pelas exigências 
do capital industrial em expansão na Europa, sobretudo, na Inglaterra. Assim, 
o processo de constituição do país, como colônia de exploração, se iniciou pela 
“imediata exploração da nova terra com o simultâneo aparecimento da raça negra 
fertilizando o solo brasileiro com suas lágrimas, seu sangue, seu suor e seu martírio 
na escravidão” (Nascimento, 1978, p. 48). Foi o africano escravizado que construiu 
as fundações da nova sociedade, pois o seu trabalho expropriado integralmente pelo 
colonialismo branco significava a própria espinha dorsal da economia colonial. 
Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do país para o desfrute exclusivo da 
aristocracia branca. Tanto nas plantações de cana-de-açúcar e café e na mineração, quanto 
nas cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das classes dirigentes que não se au-
todegradavam em ocupações vis como aquelas do trabalho braçal. (Nascimento, p. 49-50)
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Contudo, esse processo de espoliação completa da vida, do corpo e do trabalho dos negros 
não aconteceu sem resistência. Havia uma “questão social” no regime de trabalho escravo 
no Brasil, embora muitas vezes ocultada pela “história oficial”.1 
Conforme Ianni:
O escravo era expropriado no produto do seu trabalho e na sua pessoa. Sequer podia dispor 
de si. Era propriedade do outro, do senhor, que podia dispor dele como quisesse: declará-lo 
livre ou açoitá-lo até a morte. A contrapartida, na perspectiva do escravo era o suicídio, a 
tocaia contra o senhor, membros da família deste e capatazes, rebelião na senzala, fuga, for-
mação de quilombo, saque, expropriação. Não havia dúvidas sobre a situação relativa de um 
e outro, escravo e senhor, negro e branco. Não se abria qualquer possibilidade de negociação. 
A questão social estava posta de modo aberto, transparente. (1989, p. 190 – grifos nossos)
Moura (1989, p. 13) na clássica obra As rebeliões da senzala questiona a ideia 
comum entre historiadores e sociólogos “[...] de que os escravos negros, por uma série 
de razões psicológicas, não lutaram contra a escravidão. O processo de acomodação 
foi promovido, por estes estudiosos, à categoria de fator central da dinâmica social 
do Brasil”. Dessa forma, buscou estudar as formas extralegais de que se revestiam as 
contradições entre senhores e escravos. 
Segundo o autor, a estratificação da sociedade escravista em duas classes 
fundamentais – senhores e escravos – intensificava os conflitos e produzia a contradição 
fundamental entre a classe oprimida (dos escravos) e a classe opressora/dominantes 
(dos senhores de escravos). Dessa maneira, os/as negros/as escravizados/as para “[...] 
resistirem à situação de oprimidos em que se encontravam, criaram várias formas de 
resistência, a fim de se salvaguardarem social e mesmo biologicamente, do regime 
que os oprimia” (Moura, 1993, p. 10). 
As relações escravistas produziram inúmeros movimentos de reação protagonizados 
pelos/as negros/as escravizados/as que “[...] iam desde suicídios, fugas individuais ou 
coletivas, até a formação de quilombos, às guerrilhas, às insurreições citadinas e à 
sua participação em movimentos organizados por outras classes e camadas sociais” 
(Moura, 1981, p. 14). Os escravos solapavam, nas suas bases econômicas, as relações 
escravistas, criando uma série de desajustes na sociedade colonial.
Portanto, compreendendo que questão social significa as expressões políticas das 
desigualdades sociais produzidas no capitalismo (Mota, 2010), representadas pelo 
1 Segundo Moura (1981, p. 11) “[...] a conscientização progressiva da comunidade negra, especialmente 
nas grandes cidades e que iniciou a questionar o problema da história oficial do Brasil especialmente 
no que diz respeito ao papel do negro escravo não apenas na construção da riqueza comum, mas como 
contestador da construção desse tipo de riqueza, da qual ele foi sistemática e totalmente excluído”.
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antagonismo entre a exploração do trabalho e, ao mesmo tempo, as lutas e resistências 
dos explorados e oprimidos; e ainda, que a formação social escravista2 brasileira se 
insere na totalidade das relações sociais capitalistas em franca ascensão no mundo, 
naquele período, pode-se afirmar que no Brasil colônia já havia uma questão social.
Fernandes (2008, p. 63-64) destaca que o fato do escravo e do liberto participarem 
como o principal fermento explosivo da degradação do sistema de castas não era em 
si uma participação revolucionária, consciente e organizada coletivamente de modo 
autônomo. Segundo o autor, a moral da história é simples: 
Terminadas as agitações, os escravos e os libertos sabiam bem, coletivamente, o que não 
queriam. Contudo, não tinham consciência clara sobre o que deveriam querer coletivamente 
nem de como agir socialmente para estabelecer semelhante querer coletivo. Formaram um 
polo heteronômico e alienado de uma situação de castas, lutaram com furor contra essa 
situação de castas; e emergiram, em plena era de reconstrução social, diante de uma situação 
de classes, substancialmente diversa da anterior em sua ordenação e potencialidades, com 
loucas esperanças, mas ainda na mesma condição de polo heteronômico e alienado. 
Para Ianni (1978), nas condições de pertencimento a uma casta, o escravo ou a escrava 
não dispunha de elementos para elaborar uma consciência política da sua alienação, 
bem como as possibilidades para a luta organizada. Por isso, na relação escravo-senhor, 
o antagonismo nunca se desdobrava na luta propriamente revolucionária. A atuação dos 
escravos não teve e nem poderia adquirir imediatamente um caráter político-organizado. 
Contudo, essas reações forneceram os ingredientes políticos ao movimento abolicionis-
ta.3 Não teve, mas assumiu uma “configuração política”, por intermédio dos homens 
2 Para Ianni (1978) o escravismo é um sistema de produção de mais-valia absoluta, em que a mercadoria 
aparece imediata e explicitamente como produto da força de trabalho alienada. Nestas condições, o 
escravo é duplamente alienado, como pessoa, enquanto propriedade do senhor, e em sua força de tra-
balho, faculdade sobre a qual não pode ter comando. 
3 É importante destacar, que o movimento abolicionista não pode ser compreendido como único e 
homogêneo, já que houve manifestações e perspectivas distintas na conformação do chamado aboli-
cionismo. Fernandes (2017, p. 103-104) nos ajuda a desmistificar de forma crítica esse fenômeno ao 
destacar que ocorreram simultaneamente dois movimentos convergentes de caráter abolicionista. “Um, 
que era expressão do liberalismo e do humanitarismo radicais dos brancos, com frequência nascidos na 
casa-grande ou aliados dos interesses senhoriais, e que queriam libertar o Brasil da nódoa e do atraso 
da escravidão. Outro, que vinha da senzala e exprimia a luta do escravo para passar da condição do 
escravo para a condição de homem livre. O primeiro movimento era pacífico e, em essência, libertava 
a sociedade dos entraves ao desenvolvimento capitalista, que resultavam da imobilização do capital 
e da inibição dos dinamismos do capitalismo comercial e industrial, que provinham da persistência 
do modo de produção escravista e do trabalho escravo. O segundo associava-se à violência, à fuga, ao 
aparecimento de quilombos e à fermentação de conflitos sociais nas fazendas, nas zonas de plantações 
e mesmo nas cidades”. Ou seja, enquanto o primeiro era expressão da integração do Brasil ao circuito 
da divisão internacional do trabalho, o segundo era manifestação do antagonismo entre senhores e 
escravos e da luta de classes no país. 
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livres que organizaram e lideraram o abolicionismo. Assim, a resistência negra acabou 
adquirindo uma significação política incontestável. 
A posição crítica (embora inconsciente, fazemos questão de insistir) do quilombola, por seu 
turno, ao onerar o trabalho escravo no seu conjunto e ao desinstitucionalizá-lo, mostrava 
de um lado, as falhas intrínsecas do escravismo e, ao mesmo tempo, mostrava aos outros 
escravos a possibilidade de um tipo de organização no qual tal forma de trabalho não existia. 
(Moura, 1981, 248) 
Na compreensão de Moura (1981) havia uma dinâmica contraditória no 
escravismo, pois na formação da sociedade brasileira o negro escravizado foi o segmento 
social que conseguiu garantir durante muito tempo uma economia latifundiária e 
colonial, baseada na exploração da mão de obra e da exportação das riquezas ao 
mercado mundial; por outro lado, o quilombola nas suas várias formas de resistência 
ao trabalho escravo explorado, se transformou em uma das forças que dinamizaram 
a passagem da escravidão para o trabalho livre.Gorender (2013, p. 94) ao tratar das contradições do escravismo colonial manifesta 
aquelas postas à população negra escravizada: objeto de delito e sujeito de delito; 
condição de coisificação e condição de criminalização. Segundo ao autor,
[...] o primeiro ato humano do escravo é o crime, desde o atentado contra o senhor à fuga do 
cativeiro. Em contrapartida, ao reconhecer a responsabilidade penal dos escravos, a sociedade 
escravista os reconhecia como homens: além de incluí-los no direito das coisas, submetia-os 
à legislação penal. Essa espécie de conhecimento tinha, está claro, alto preço. 
Como se pode ver, a partir das múltiplas formas de luta contra a sua opressão, 
mesmo que individuais e limitadas, os negros conseguiram provocar modificações 
no direito escravista que reconhecia certa condição humana no escravo, ainda que, 
contraditoriamente, a condição de criminoso. É nesse sentido que identificamos 
as variadas formas de reação e resistência dos negros escravizados, ainda no Brasil 
Colônia, como força motriz e protagonista no processo histórico, explicitando, já 
naquela época uma questão social embrionária, pois expressava a “[...] negação de 
um sistema que, para afirmar-se em sua plenitude, tinha que estabelecer toda uma 
mecânica de sujeição” (Moura, 1981, p. 16).
Entretanto, após a abolição da escravatura, ocorrida em 1888, intensificou-se o 
processo de “marginalização” e criminalização dos/as negros/as no Brasil, pois os/as 
recém-libertos/as foram “abandonados à própria sorte”. Em várias partes do país, o 
ex-escravo se tornou um desempregado, lumpenizou-se na competição com os brancos 
e imigrantes. Ocupou lugar principal no exército de reserva de trabalhadores não 
incluídos na emergente sociedade de livre mercado. De forma muito lenta o negro 
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foi sendo absorvido pelas ocupações assalariadas que surgem com a urbanização e 
a industrialização, ou mesmo no setor de serviços, resultante da complexificação da 
divisão social do trabalho no país. “Assim, pouco a pouco, ele se transforma em negro 
operário, na indústria ou na agricultura. Note-se, negro e operário, o que tem sido a 
dupla condição de vida da maioria dentre os negros e mulatos” (Ianni, 1978, p. 78). 
A desagregação do sistema escravista se operou sem viabilizar aos antigos agentes 
do trabalho escravo nenhuma reparação, assistência ou garantia social na transição 
para o trabalho livre. Tanto os senhores quanto o Estado foram eximidos de qualquer 
responsabilidade pela manutenção ou integração dos negros no novo regime de 
organização da vida e do trabalho.
O liberto se viu convertido, sumária e abruptamente, em senhor de si mesmo, tornando-se 
responsável por sua pessoa e por seus dependentes, embora não dispusesse de meios materiais 
e morais para realizar essa proeza nos quadros da economia competitiva. (Fernandes, 2008, 
p. 29) 
Eram poucas as alternativas de inserção dos negros no mercado de trabalho 
e, portanto, no recente capitalismo e diante do quadro de muitas dificuldades, 
frequentemente,
[...] se abriam duas escolhas irremediáveis, sem alternativas. Vedado do caminho da classi-
ficação econômica e social pela proletarização, restava-lhes aceitar a incorporação gradual a 
escória do operariado urbano em crescimento ou se abater penosamente, procurando no ócio 
dissimulado, na vagabundagem sistemática ou na criminalidade fortuita meios para salvar 
as aparências e dignidade de ‘homem livre’. (Fernandes, 2008, p. 44)
Florestan Fernandes (2007, p. 87-88), ao problematizar O negro no mundo dos 
brancos, aponta que a principal vítima da escravidão foi também da crise do sistema 
escravista, já que a ordem social competitiva foi conduzida por uma revolução branca. 
Nesse sentido, a supremacia branca nunca foi ameaçada pelo abolicionismo, ao con-
trário, no processo de passagem do escravismo para a ordem competitiva garantiu-se 
através da lei de terras, em 1850, o direito à terra apenas para os brancos e impediu-se 
aos futuros libertos o acesso a pequenas propriedades. Após 13 de maio de 1888, os 
negros foram “jogados ao léu”, sem a realização de reformas que os integrassem social 
e economicamente ao nascente capitalismo brasileiro. Por trás disso, havia um projeto 
de modernização conservadora que não tocou no regime do latifúndio e exacerbou o 
racismo como forma de manutenção da hierarquia racial no país. 
De fato, o sistema de desigualdades e discriminações em que viviam negros 
e negras foi reestruturado noutros termos, a partir de uma nova lógica com con-
sequências incomensuráveis para a população negra expulsa das senzalas para a 
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periferia da ordem social competitiva ou para estruturas semicoloniais herdadas 
do passado, 
[...] como assinalou Caio Prado Júnior, a escravidão não preparou o seu agente humano 
para tornar-se um trabalhador livre, nem mesmo como trabalhador não especializado ou 
semiespecializado. Por trás da estrutura social da ordem social escravocrata e senhorial, o 
‘escravo’ e o negro eram dois elementos paralelos. Eliminando o ‘escravo’ pela mudança social, 
o ‘negro’ se converteu num resíduo racial. Perdeu a condição social que adquirira no regime 
da escravidão e foi relegado, como ‘negro’, à categoria mais baixa da ‘população pobre’, no 
momento exato em que alguns dos seus setores partilhavam das oportunidades franqueadas 
pelo trabalho livre e pela constituição de uma classe operária assalariada. Dessa maneira, o 
negro foi vítima da sua posição e da sua condição racial. (Fernandes, 2007, p. 88)
Nesse sentido, há o reconhecimento de que a correlação entre os sistemas de 
exploração-opressão-dominação, ou seja, o capitalismo-escravismo-patriarcado 
é determinante na constituição das relações de classe no Brasil, da classe traba-
lhadora e da chamada questão social. Configurada como expressão das relações 
entre a “casa-grande” e a “senzala”,4 traduz as relações de violência, tutela e favor 
que irão incidir nas formas de controle e regulação social impostas pela elite 
escravocrata e assumidas pelo Estado, mediadas pela histórica dialética entre 
assistência e repressão.
Racismo estrutural no Brasil: marginalização, criminalização e genocídio
Ao buscarmos as conexões existentes entre capitalismo, questão social e racismo 
no Brasil, identificamos suas raízes nos processos concomitantes e inter-relacionados: 
da acumulação capitalista primitiva e do sistema escravista colonial. Mas foi no 
pós-abolição, por meio do racismo estrutural como projeto político do Estado e da 
sociedade brasileira, que se conformou (e ainda se mantém) as desigualdades socior-
raciais no país.
Após a abolição da escravatura, tanto se produziram processos estruturais de ne-
gação aos negros à condição de cidadão brasileiro e sua consequente marginalização, 
quanto, legalmente, se constituiu uma legislação penal racista produzindo um extre-
mado processo de criminalização da população negra, que resultou nos fenômenos 
4 Na utilização dos termos “casa-grande” e “senzala”, não nos fundamentamos nos argumentos de Gilberto 
Freyre, que considera que as relações de miscigenação produziram uma suposta democracia racial no 
país. Ao contrário, aqui as usamos como metáfora para nos referirmos à relação antagônica entre as 
classes fundamentais no Brasil: os proprietários dos meios de produção e os possuidores da força de 
trabalho. 
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CONEXÕES ENTRE QUESTÃO RACIAL E QUESTÃO SOCIAL NA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
atuais do encarceramento em massa e do genocídio5 de jovens negros, conforme o 
quadro a seguir:
Legislações brasileiras e o racismo estrutural
Ano Legislação Conteúdo
1824 Constituição do Império
“Art. 6. São Cidadãos Brazileiros
I. Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos,ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço 
de sua Nação
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos”.
Obs. Os direitos dos “livres”, contudo, estavam condicionados a ter 
rendimentos, posses e “a soma de oitocentos mil réis.”
1830 Código Penal
“CAP. IV INSURREIÇÃO – Art. 113. Julgar-se-ha commettido este 
crime, retinindo-se vinte ou mais escravos para haver a liberdade por 
meio da força. 
Penas – Aos cabeças – de morte no gráo maximo; de galés perpetuas no 
médio; e por quinze annos no minimo; – aos mais – açoutes.
Art. 114. Se os cabeças da insurreição forem pessoas livres, incorrerão 
nas mesmas penas impostas, no artigo antecedente, aos cabeças, quando 
o são escravos”
1850 Lei de Terras
Estabelece a compra como única forma de obtenção de terras públicas. 
Dessa forma, inviabiliza os sistemas de posse ou a doação e o consequente 
acesso dos negros à propriedade da terra. 
1854 Decreto n. 1.331
Não permitia aos escravos o acesso às escolas públicas, a previsão de 
instrução para adultos dependia da disponibilidade (boa vontade) dos 
professores.
5 Há um complexo debate acerca do processo de mortandade da juventude periférica no país. Alguns 
militantes e intelectuais o identificam como extermínio, já outros defendem que se trata de um geno-
cídio. O termo genocídio significa destruição, aniquilamento ou matança de uma raça, povo, tribo ou 
nação. Nesse sentido, optamos por este último pois, o termo extermínio poderia levar ao entendimento 
que o elevado número de homicídios juvenis é produzido tão somente pelos agentes do Estado ou por 
agentes necessariamente externos. Entretanto, embora sejam alarmantes os números de autos de resis-
tência, os dados apontam que uma parcela significativa da juventude periférica tem a vida ceifada nos 
fronts cotidianos da insana guerra, sobretudo, entre grupos rivais no mercado ilegal de drogas. Mas a 
destruição da juventude é produzida cotidianamente pela violência neoliberal que desmonta o Estado 
social, produz marginalização e fortalece o Estado penal. Conforme aponta Andréa Pires, a violência 
está no juvenicídio que “[...] se inicia com a precarização da vida dos jovens, a ampliação de sua vulne-
rabilidade econômica e social, o aumento de sua condição de cidadania violada e a diminuição de opções 
disponíveis para que possam desenvolver projetos viáveis de vida” e, portanto, se encontram vulneráveis 
frente às forças do Estado ou aos grupos paramilitares das redes criminosas. Está em curso uma política 
de eliminação não só dos corpos negros, mas de sua cultura, do seu dialeto, das suas formas de viver, 
da sua existência, isto é, um genocídio da juventude negra periférica produzido pelo entrelaçamento do 
racismo estrutural, a política de guerra às drogas e o Estado penal. Conferir em: <https://www.geledes.
org.br/o-genocidio-da-juventude-negra-no-brasil/>; <http://www.justificando.com/2019/02/25/o-
-juvenicidio-brasileiro-e-as-prisoes-preventivas-por-trafico-de-drogas/>.
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1878 Decreto n. 7.031
Os negros poderiam frequentar o período noturno, no entanto, dependiam 
da boa vontade de seus senhores, e das condições físicas depois de um 
dia de árduo trabalho
1888 Lei Áurea Declara extinta a escravidão no Brasil.
1890 Código PenalDecreto n. 847
É considerado criminoso:
“Art. 399. Deixar de exercitar profissão, [...]
Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade e destreza 
corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; [...]
Art. 157. Praticar o espiritismo, [...]
Art. 158. Ministrar, [...] substancia de qualquer dos reinos da natureza, 
fazendo, ou exercendo assim, o officio do denominado curandeiro:[...]”
1911 Decreto n. 9.081
Serviço de Povoamento por meio da imigração e colonização das terras 
brasileiras, através da estruturação de colônias e concessão de propriedade 
de terras, saúde, escola pública etc. aos imigrantes. 
1934 Constituição da República
“Art 138 – Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos 
das leis respectivas: b) estimular a educação eugênica; 
 g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais”.
1940/1941
Código 
Penal (1940) 
Código de 
Contravenções 
Penais (1941)
O código de 1890 foi revogado, dando lugar a legislação penal em vigor até 
os dias de hoje (mesmo sofrendo muitas alterações pela via das emendas). 
Já na primeira versão do código de 1940 a categoria penal capoeira foi 
extinta, no entanto mantiveram a criminalização da vadiagem e da 
prostituição, o que também foi revogado com o passar do tempo. Na Lei 
de Contravenções Penais a criminalização da vadiagem e da mendicância 
continuaram presentes. Em 2009 extraiu-se a mendicância, no entanto, 
a vadiagem ainda permanece (Art. 59 CCP). 
1968 Lei do Boi 5.465
Dispõe sobre o preenchimento de vagas nos estabelecimentos de ensino 
agrícola para os filhos dos proprietários de terras.
1988 Constituição da República
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo
 XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
2006 Lei de Drogas 11.343/2006
Art. 28
§ 2º Para determinar se a droga destina-se a consumo pessoal, o juiz 
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local 
e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e 
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
2012
Aprovação 
das cotas no 
STF: Lei n. 
12.711/2012
“Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de 
que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por 
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência, 
nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual à 
proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência 
na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, 
segundo o último censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística – IBGE”. (Redação dada pela Lei n. 13.409, de 2016).
 Fonte: Quadro produzido pelas autoras.
Como se pode observar, nesta linha do tempo de legislações do Estado brasileiro, 
diferente do que muitos argumentam em relação ao racismo: tanto em relação à vítima 
como sendo vitimização, complexo, trauma; quanto em relação aos opressores como 
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sendo manifestação individual e/ou patológica de sujeitos intolerantes, ou mesmo, 
expressão da discriminação racial realizada por determinadas instituições na sociedade. 
O racismo foi (e é) um projeto político de produção e reprodução das desigualdades 
sociorraciais, incontestavelmente, tal como afirma Almeida (2018, p. 38-39 – grifos 
nossos), o racismo é estrutural:
[...] É uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se 
constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma 
patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural. Comportamentos 
individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e 
não exceção. O racismo é parte de um processo social que ‘ocorre pelas costas dos indivíduos 
e lhes parece legado pela tradição’. Nesse caso, além de medidas que coíbam o racismo 
individual e institucionalmente torna-se imperativo refletir sobre mudanças profundas nas 
relações sociais, políticas e econômicas. A viabilidade da reprodução sistêmica de práticas 
racistas está na organização política, econômica e jurídica da sociedade. O racismo se expressa 
concretamente como desigualdade política, econômica e jurídica. 
Note-se que o racismo como ideologia6 foi, inicialmente, produzido como es-
tratégia discursiva para justificar a escravidão, já que os negros escravizados eram 
equiparadosa animais de trabalho, a asnos, a partir de um ideal iluminista da supe-
rioridade do homem branco europeu civilizado e da inferioridade dos povos conside-
rados primitivos, tais como os africanos. Após a abolição, no início do século XX, a 
reprodução dessas ideias se dá através da eugenia,7 uma espécie de racismo “científico” 
cujo argumento era de “melhoramento” da nação, diga-se, de branqueamento do país 
por meio de políticas de higiene social e moral. 
Contudo, mais do que um discurso, o racismo estrutural se materializa não 
somente pela estigmatização e discriminação racial sofrida pelos negros, mas, 
efetivamente, por meio de medidas de impedimento do acesso aos direitos civis e 
sociais tais como o voto, a liberdade religiosa, o emprego, a educação, a cultura, a 
6 É importante salientar que a compreensão sobre ideologia neste texto está ancorada na tradição marxista, 
enquanto expressão das formas de consciência, representações e ideias que estão diretamente entrelaçadas 
com as relações materiais de produção em uma dada sociedade. Em síntese, “[...] não é a consciência 
que determina a vida, é a vida que determina a consciência” (Marx, 2009, p. 31). 
7 Conforme Ducatti (2015), a eugenia foi uma pseudociência racista que ganhou corpo na América Latina, 
nas décadas de 1920 e 1930, e influenciou políticas do Estado brasileiro, dentre as quais a formação da 
Saúde Pública no início do século passado. O discurso eugênico era formado por um conjunto de ideias 
e práticas relativas ao “melhoramento da raça”, pois a miscigenação era considerada a justificativa para 
o atraso econômico do Brasil, pelo fato de o país possuir uma grande população negra e pobre sujeita 
aos vícios e a degeneração, portanto, um empecilho para o desenvolvimento do país. Inúmeros inte-
lectuais, médicos e juristas brasileiros foram influenciados pelo movimento de eugenia, destacando-se 
personalidades como Oliveira Viana, Monteiro Lobato, Renato Kehl e Roquette Pinto.
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saúde, dentre outros. Ao lado da marginalização imposta, a face mais perversa do 
racismo estrutural é a histórica criminalização da cultura, da resistência e da existência 
da população negra. Isto posto, um dos principais dispositivos contemporâneos de 
criminalização dos negros no país é a Lei de Drogas. 
Na história do Brasil, a utilização de um estereótipo racial para construção de 
suspeitos, fundado na ideia de “classes perigosas” é uma constante, foi construída 
no pós-abolição, mas se reflete ainda hoje na estrutura seletiva do sistema de justiça 
criminal. A seletividade do sistema penal se concretiza ancorada num ideal punitivista 
visivelmente direcionado para determinados segmentos sociais, sobretudo, à juventude 
negra periférica e se dedica ao encarceramento em massa como forma prioritária de 
controle social punitivo.
No período de transição da ditadura militar para a abertura democrática, houve 
a transferência do inimigo interno, do comunista para a figura do traficante, pois 
todo o sistema de controle social brasileiro (incluindo as agências ideológicas de lei e 
ordem como os meios de comunicação de massa) “[...] convergiu para a confecção do 
novo estereótipo. O inimigo, antes circunscrito a um pequeno grupo, se multiplicou 
nos bairros pobres, na figura do jovem traficante” (Batista, 2003, p. 40).
Assim, a criminalidade não é uma “qualidade ontológica” de determinados 
indivíduos, é, antes de tudo, um status atribuído a partir de uma dupla seleção: 
primeiramente, ocorre a seleção dos bens protegidos penalmente e dos comportamentos 
ofensivos a estes bens; depois, sucede-se a seleção dos indivíduos “estigmatizados” 
para responder penalmente as infrações às normas pré-estabelecidas. A criminalidade 
é “[...] um bem negativo, distribuído desigualmente conforme a hierarquia dos 
interesses fixada no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade social entre 
os indivíduos” (Baratta, 2013, p. 161).
“Seletividade, repressividade e estigmatização são algumas características centrais 
de sistemas penais como o brasileiro” (Batista, 2013, p. 26). Essa “seleção penalizante” 
se chama criminalização, sendo resultado da gestão das políticas criminais. É por isso 
que consideramos as prisões de hoje, as senzalas de ontem. Como afirma a ativista 
Deborah Small. “A guerra às drogas é um mecanismo de manutenção da hierarquia 
racial”,8 pois como não se pode mais dizer abertamente que o negro é inimigo social, 
então, deliberadamente, utiliza-se da questão das drogas como forma de se manter a 
dominação branca (Alexander, 2017). 
8 Sobre esse assunto conferir em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-guerra-as-drogas-e-um-
-mecanismo-de-manutencao-da-hierarquia-racial>.
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CONEXÕES ENTRE QUESTÃO RACIAL E QUESTÃO SOCIAL NA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA
Com já foi apontado, o racismo estrutural na sociedade brasileira delineia não 
somente processos de criminalização e punição. Se fizermos uma breve análise sobre 
os indicadores sociais da população, logo, identificaremos que são os negros e as mu-
lheres negras que estão na base da pirâmide social e, portanto, sujeitados às maiores 
situações de insegurança social e de violações de direitos. 
Segundo o Censo do IBGE 2010,9 pela primeira vez, desde o primeiro censo 
realizado no Brasil, em 1872, a população preta e parda autodeclarada ultrapassou 
os brancos, correspondendo a 50,7% da população brasileira. O que impressiona são 
os elevados índices da população negra quando se trata de estatísticas relacionadas 
às situações identificadas como “de risco e vulnerabilidade social”. A distribuição 
da população em situação de pobreza extremada, segundo o Censo Demográfico de 
2010, por sexo, revela que há uma distribuição homogênea entre homens e mulheres, 
com leve superioridade da presença feminina (50,5% contra 49,5%). Já em relação à 
questão de cor ou raça – a grande maioria destas pessoas (70,8%) são pardas ou pretas. 
Conforme apontou o Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),10 
jovens negros e negras representam 70% das vítimas de assassinatos no Brasil e apre-
sentam um risco de 114% maior de sofrer violência letal do que um jovem branco. 
Em relação às condições de trabalho e renda, o desemprego atinge 5,3% dos homens 
brancos, já entre os negros o índice chega a 6,6%. Entre as mulheres, a diferença é 
ainda maior. Entre as brancas, o desemprego é de 9,2%, enquanto entre as mulheres 
negras, ultrapassa os 12%. Em média, a renda de negros e negras é 40% menor que a 
dos brancos. No que tange à educação, até 2013, a população branca tinha 8,8 anos de 
estudo em média, já na população negra a média é de apenas 7,2 anos, muito embora 
esta diferença já tenha sido muito maior. Mesmo assim, a taxa de analfabetismo entre 
os negros (11,5%) é mais do que o dobro do que entre os brancos (5,2%).
Estudo da Oxfam Brasil11 revela que apenas 5% dos mais ricos no Brasil possuem a 
mesma fatia de renda que os outros 95% da população. Destes 5%, apenas seis pessoas, 
concentram a mesma riqueza que 100 milhões de pessoas, ou seja, de quase metade 
da população do Brasil (207,7 milhões). O estudo também aponta que, seguindo a 
mesma linha de desenvolvimento socioeconômico dos últimos 20 anos no Brasil, as 
mulheres só passariam a ganhar o mesmo que os homens em 2047 e os negros só 
passariam a ganhar o mesmo que os brancos apenas em 2089. Ou seja, a pesquisa 
9 Ver mais em: <http://censo2010.ibge.gov.br/>.
10 Conferir em: <http://www.ipea.gov.br/igualdaderacia l/index.php?option=com_content& 
view=article&id=730>.
11 Para aprofundar a leitura sobre o referido estudo buscar em: <https://www.oxfam.org.br/a-distancia-
-que-nos-une>.
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expressa de modo evidente como as relações sociais de classe, raça e sexo reproduzema desigualdade social e, portanto, particularizam a questão social brasileira.
A desigualdade de renda e a contenção salarial, somada ao desemprego e à 
instabilidade do trabalho, acentuam as alterações na composição da força de trabalho, 
agravadas com a expansão do contingente de trabalhadores conduzidos à ociosidade 
forçada, engrossando a superpopulação relativa às necessidades médias do capital. 
Essa massa de trabalhadores marginalizados do mercado formal de trabalho – grande 
parte, negros e negras, mulheres, imigrantes e jovens – são sujeitados ao trabalho 
instável e invisível, muitas vezes, ilegal e clandestino, a exemplo da produção e do 
comercio ilícito de drogas (Iamamoto, 2011). Assim, muitos dos conflitos atribuídos 
às drogas refletem problemas sociais de outra natureza, como pobreza, desemprego, 
falta de educação, cultura, lazer e acesso a melhores oportunidades de vida e trabalho 
(Bokany, 2015).
Conforme Rodrigues (2017, p. 52), pode-se afirmar que a proibição das drogas, 
na verdade, é um fracasso exitoso. Um fracasso na tentativa de exterminar a produção, 
o consumo e o comércio de psicoativos no mundo; porém, tem se apresentado como 
um exitoso dispositivo de estigmatizações e de produção de “desviantes”, ou seja, de 
controlá-los pela prisão, pelo confinamento em guetos e favelas ou, simplesmente, 
eliminá-los nas cotidianas “guerras contra o narcotráfico”. E neste último sentido, 
podemos atestar o êxito do proibicionismo, ou seja, como um poderoso instrumento 
de criminalização e genocídio das classes e raças indesejáveis, isto é, das juventudes 
negras periféricas. Vejamos.
O Mapa da Violência 2016 aponta que, em 2014 no Brasil, houve 44.861 homi-
cídios por arma de fogo; 21,2% é a taxa de homicídios por arma de fogo por 100 mil 
habitantes; destes 59,7% eram jovens, 94,4% do sexo masculino e 70,5% pretos e 
pardos. Entre 1980 e 2014 quase 1 milhão de pessoas (967.851) morreram vitimadas 
por arma de fogo. Nesse período, as vítimas passaram de 8.710, no ano de 1980, para 
44.861, em 2014, o que representa um crescimento de 415,1%. Estima-se que uma 
grande parte destes óbitos tenha relação com a “questão das drogas”, seja por “autos 
de resistência” em conflitos entre supostos traficantes e a polícia, seja resultante de 
conflitos entre grupos organizados em disputa pelo domínio dos territórios de comér-
cio de drogas, ou mesmo, execuções realizadas por milícias e grupos de extermínio. 
Uma breve análise desses dados evidencia um processo em curso de genocídio da 
juventude negra, já que
[...] perversa e preocupante é a seletividade racial dos homicídios por arma de fogo, além de 
sua tendência crescente. Entre 2003 e 2014, as taxas de HAF de brancos caem 27,1%, de 14,5, 
em 2003, para 10,6, em 2014; enquanto a taxa de homicídios de negros aumenta 9,9%: de 
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24,9 para 27,4. Com esse diferencial, a vitimização negra no país, que em 2003 era de 71%, 
em poucos anos mais que duplica: em 2014, já era 158,9%, ou seja, morrem 2,6 vezes mais 
negros que brancos vitimados por arma de fogo. (Brasil; Waiselfisz, 2016) 
Dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen – 
junho de 2016) revelam que o Brasil já ultrapassou a marca de 726.712 pessoas 
encarceradas. Assumimos, agora, o terceiro lugar no ranking dos países que mais 
prendem no mundo. Dessas, a maioria, 55%, tem até 29 anos; 73% é negra; 80% 
não concluiu o Ensino Médio e menos de 1% possui Ensino Superior Completo. O 
crime de tráfico de drogas foi a tipificação de pena que gerou o maior encarceramento 
(28%); roubos e furtos, somados, chegam a 37% e apenas 11% dos aprisionados foram 
condenados por homicídio.
Uma análise comparativa dos dois levantamentos apresentados, tanto em relação 
aos homicídios quanto ao encarceramento dos jovens, aponta que negros do sexo 
masculino é a maioria das vítimas da violência e da seleção penal no país. Os dados 
comprovam que as instituições do sistema de justiça criminal identificam esse grupo 
como alvo do intenso controle social, em que pese às atividades delitivas mais visíveis 
e criminalizadas. Assim, a proibição e a criminalização das drogas desfazem o mito 
da igualdade jurídica, de que todos são iguais perante a lei, diante da seletividade 
penal que classifica e pune de forma diferenciada os crimes relacionados às drogas e 
às pessoas que foram selecionadas para responderem por estes crimes. Elas formam 
outro mecanismo de reprodução das desigualdades, contradizendo o discurso jurídico 
do Estado democrático e de direito que, supostamente, teria como fundamento a 
igualdade e a liberdade abstratas.
Os dados do Infopen Mulheres12 apontam que no curto período de 2000-2014 
houve crescimento de 567% no número de mulheres encarceradas. A taxa é superior 
ao crescimento geral da população penitenciária que teve aumento de 119% no mes-
mo período, já que a população penitenciária feminina subiu de 5.601 para 37.380. 
Boiteux e Chernicharo (2016), ao analisarem as relações entre o encarceramento fe-
minino, a seletividade penal e o tráfico de drogas apontam que os modos de inserção 
das mulheres no mercado das drogas e sua seleção pelo poder punitivo formal estão 
delineados pela sua condição de classe e gênero/sexo. O mercado das drogas reproduz 
padrão similar ao mercado formal quanto à subalternização das mulheres em relação 
às posições ocupadas, aos rendimentos e à hierarquia de poder. “A maioria dessas 
mulheres ocupa uma posição coadjuvante no crime, realizando serviços de transporte 
12 Conferir em: <http://www.justica.gov.br/noticias/estudo-traca-perfil-da-populacao-penitenciaria-
-feminina-no-brasil/relatorio-infopen-mulheres.pdf>.
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de drogas e pequeno comércio; muitas são usuárias, sendo poucas as que exercem 
atividades de gerência no tráfico” (Infopen Mulheres, Junho, 2014). Outro fator, é 
que a inserção feminina nesse delito tem uma estreita relação com o fenômeno da 
feminização da pobreza provocado pela avalanche neoliberal pós 1990 no país. 
A criminalização, portanto, fortalece e perpetua o sistema capitalista-racista-
-patriarcal produtor de opressões, explorações e desigualdades. Além do que, alimenta 
também, a partir do grande encarceramento, as redes criminosas do mercado ilícito 
de drogas e todas as suas consequências decorrentes: violência urbana, militarização 
da vida social, corrupção dos operadores do Estado e outros ramos da economia ilegal 
como o tráfico de armas. E ainda, produz, como afirma Alexander (2017) uma nova 
segregação social, ou seja, pessoas que permanecem marginalizadas e imobilizadas 
socialmente após a passagem pela prisão.
Considerações finais
Buscamos, neste texto, produzir uma síntese sobre as relações existentes entre a 
questão racial e a questão social, em diálogo com autores clássicos e contemporâneos 
que pensam a realidade brasileira, na perspectiva de contribuirmos para um debate 
que muito precisamos avançar no Serviço Social. Partimos da ideia de que a questão 
racial no país é uma particularidade da nossa questão social, tendo por base a cone-
xão entre a formação social escravista e a acumulação primitiva de capital, pilares do 
colonialismo. Tais determinações configuraram o racismo estrutural no país como 
projeto político de dominação burguesa e da supremacia branca, que produz e reproduz 
as desigualdades de classe e raça contemporâneas. Assim, o racismo conforma uma 
morfologia particular à questão social no Brasil. 
Desse modo, a questão racial no país expõe, de modo inconteste, os mecanismos 
desse racismo à brasileira que marginalizou, favelizou e criminalizou a população negra, 
historicamente, tratada como classe perigosa. Agora, em um contexto de crise econômica, 
social e política generalizada, cada vez mais, o nosso frágil Estado democráticoe de 
direito desloca-se para um Estado penal e policial, por meio de uma política criminal 
genocida para todos aqueles considerados indesejados, a exemplo dos fenômenos do en-
carceramento em massa e do genocídio da população negra. Sob o discurso da proteção 
e da segurança, reatualizam-se práticas evidentemente racistas, higienistas e eugênicas, 
ou seja, de eliminação dos corpos negros, tais como as propostas do Decreto de Posse 
de Armas, do Projeto Anticrime e da Nova Lei de Drogas do governo Bolsonaro. 
Essas medidas nos desafiam a refletir sobre algo que acompanha a história do 
Serviço Social brasileiro que, a bem da verdade, está na sua gênese e na sua funciona-
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lidade ao capital; falamos aqui do punitivismo, ainda hoje tão presente e requisitado 
à profissão. Inclusive, embora pouco discutido, o Serviço Social tradicional foi imen-
samente influenciado pelo racista movimento de eugenia, através da incorporação 
de supostas causas das “degenerações humanas” e da proposição de mecanismos 
preventivos como a educação higiênica e normalizadora na família, no trabalho e 
nos serviços de saúde da classe trabalhadora (Vasconcelos, 2016).
Atualmente, milhares de assistentes sociais estão inseridas nas políticas sociais 
e criminais, e se defrontam cotidianamente com requisições profissionais para a 
gestão da barbárie. No entanto, nossas atribuições e competências não podem se 
confundir com uma visão policialesca, criminalizante e de imposição de normas 
ou condutas, tampouco, de julgamento moral e senso comum punitivo às classes 
e corpos marginalizados. Em qualquer área de atuação, não se pode deixar a 
requisição institucional transformar nosso legado de uma intervenção crítica, criativa 
e competente nas nossas análises e respostas profissionais, em agentes de controle e 
de repressão. 
Chamamos atenção, particularmente, para reciclagem de intervenções racistas, 
higienistas e criminalizantes no âmbito do Estado brasileiro. Medidas penais e 
extrapenais de controle social, cada vez mais, requisitam a participação de assistentes 
sociais na operacionalização de ações punitivas que associam determinadas práticas 
e “desvios morais” a grupos etiquetados socialmente, tais como as contemporâneas 
classificações de “dependentes químicos” ou de “envolvidos com o crime”, em que 
as pessoas negras são os alvos preferenciais. No campo sociojurídico, observamos 
a participação de assistentes sociais na retirada da guarda dos filhos de mulheres 
em situação de rua, por meio de relatórios, laudos e pareceres sociais; na saúde 
identificamos a atuação de profissionais em internações compulsórias e involuntárias 
de usuários de substâncias psicoativas, além da realização de algumas atribuições em 
comunidades terapêuticas divergentes do nosso projeto profissional; na assistência 
social, registramos ações fiscalizatórias e de educação higienista às famílias beneficiárias 
dos programas sociais.
Portanto, com base na perspectiva crítica de análise da realidade, ou seja, de 
compreender as relações sociais na sua concretude, ao recuperarmos as relações entre 
capitalismo e escravismo na formação econômico-social do Brasil, chegamos ao en-
tendimento de que, longe de se reduzir apenas a uma expressão da questão social, o 
racismo estrutural conforma, atravessa e determina a questão social no país. Em síntese, 
a questão racial é uma particularidade da questão social, logo, uma preocupação do 
Serviço Social brasileiro que, por meio do Conjunto Cfess-Cress, de forma corajosa 
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rompe o histórico silenciamento sobre a questão, ao realizar a relevante campanha 
“Assistentes Sociais no combate ao racismo”. 
Nessa perspectiva, o Serviço Social enquanto profissão que participa da reprodução 
das relações entre as classes, por meio de políticas sociais e criminais, não pode se 
abster do debate profundo sobre a questão racial, o racismo estrutural e suas conexões 
com a questão social. Um projeto profissional emancipatório é, necessariamente, 
anticapitalista, antirracista, feminista, antimanicomial e antiproibicionista. 
Referências
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