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Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR HIPOGLICEMIA NEONATAL INTRODUÇÃO A homeostase glicêmica baseia-se no aporte de glicose por meio da ingesta alimentar de carboidratos (ou hidratos de carbono, HC), lipídios (Lp) e proteínas (Pt). Nos períodos prandial e pós-prandial imediato, os níveis glicêmicos são proporcionais à ingesta de monossacarídios, e a manutenção da glicemia ocorre pela ação da insulina, que promove a diminuição da glicose circulante, aumentando a captação de glicose pela fibra muscular, pelos adipócitos e pelos hepatócitos. Para a elevação da glicemia, agem o glucagon na hidrólise do glicogênio, a suprarrenalina, o cortisol e o hormônio do crescimento, que atuam na neoglicogênese. A hipoglicemia é o distúrbio metabólico mais comum que ocorre no período neonatal. A triagem de bebês em risco e o manejo dos baixos níveis de glicose no sangue nas primeiras horas aos dias de vida são questões frequentes no cuidado ao recém-nascido. Bebês saudáveis experimentam uma queda esperada nas concentrações de glicose no sangue imediatamente após o nascimento, como parte da transição fisiológica normal para a vida extrauterina. Os bebês estão em risco de hipoglicemia mais grave ou prolongada devido a um ou uma combinação dos seguintes mecanismos subjacentes: suprimento insuficiente de glicose, com baixo estoque de glicogênio ou gordura ou mecanismos deficientes de produção de glicose; aumento da utilização de glicose causada pela produção excessiva de insulina ou aumento da demanda metabólica; ou a falha de mecanismos contra-reguladores. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E LABORATORIAL As manifestações clínicas de hipoglicemia nos lactentes são absolutamente inespecíficas, podendo ocorrer o mesmo grupo de sintomas causados por outras situações patológicas. Por exemplo, crises de apneia podem ser causadas por hipoglicemia, infecções, anemia, distúrbio eletrolítico, acidose metabólica e outras. Na ocorrência de mudança no padrão clínico do lactente, a hipoglicemia deve ser lembrada e pesquisada. Em crianças maiores e adolescentes, a suspeita clínica de hipoglicemia deve ser pautada na existência da tríade de Whiple: clínica sugestiva, hipoglicemia confirmada por dosagem laboratorial e melhora clínica com ingestão ou infusão de glicose. Hipoglicemia é a ocorrência de oferta inadequada de glicose a partir de níveis séricos abaixo dos valores normais para idade. Esses valores normais são diferentes no período neonatal e após o período neonatal. No período neonatal, os limites de 30 mg/dL para prematuros e de 40 mg/dL para recém-nascidos a termo foram substituídos pelo limite de 55 mg/dL, independentemente da idade gestacional. Após o período neonatal, define-se hipoglicemia como valores < 60 mg/dL. ETIOLOGIA E TRATAMENTO Observando o mecanismo da euglicemia, a primeira causa é o jejum prolongado, além de distúrbios hormonais e erros metabólicos no armazenamento e/ou na utilização da glicose. HIPERINSULINISMO A elevação da insulina acarreta hipoglicemia. O hiperinsulinismo pode ser adquirido ou congênito. No adquirido, enquadram-se os portadores de diabete melito em uso de insulina, por sua dose inadequada, omissão de refeições, atividade física aumentada ou insuficiência renal. A terapêutica inicial é a administração via oral, se possível, de alimentos ricos em HC de absorção rápida; se não for possível, deve-se realizar infusão de glicose a 10% 2 a 5 mg/kg/min (1,2 a 3 mL/kg/hora). A hipoglicemia grave é revertida mais rapidamente com a administração de glucagon na dose 0,1 a 0,2 mg/10 kg intramuscular (IM) ou subcutânea (SC). Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR Nas crianças não diabéticas, o hiperinsulinismo mais frequente é o congênito, configurando a hipoglicemia hiperinsulinêmica congênita (HHIC), que congrega as denominações hipoglicemia idiopática da infância, hipoglicemia leucino-sensitiva, insulinoma neonatal, microadenomatose, hiperplasia focal, nesidioblastose e hipoglicemia hiperinsulinêmica da infância. A HHIC é uma das maiores causas de retardo mental e de epilepsia ocasionados pela hipoglicemia neonatal e decorre de alterações nos canais de potássio adenosinotrifosfato-dependente (Katp), os quais estão envolvidos na liberação de insulina pelas células beta pancreáticas. Esses canais são constituídos por duas subunidades: uma formadora do poro, Kir 6.2 e outra, reguladora, que é um receptor de sulfonilureia (SUR1). Essas alterações de caráter autossômico podem se manifestar em qualquer idade, afetando de modo focal ou difuso todo o pâncreas. Em geral, os portadores de HHIC são recém-nascidos grandes para a idade gestacional e, para a compensação da glicemia, podem requerer até 15 a 20 mg/kg/min de glicose por infusão endovenosa. Qualquer nível dosável de insulina, cetonemia negativa e ácidos graxos livres negativos, na presença de hipoglicemia a despeito de altas infusões de glicose, confirma o diagnóstico. Dosagens de peptídio C, insulina e pró-insulina encontram-se elevadas na proporção de 1:1 na HHIC. O tratamento medicamentoso consiste na administração de diazóxido [2 a 15 mg/kg/dia, via oral (VO) a cada 8 horas] ou de octreotida [5 a 20 mcg/kg dia, endovenosa (EV) ou SC], sendo baixos os índices de sucesso. A terapêutica cirúrgica consiste na pancreatectomia geralmente subtotal, com ressecção de 75 a 95% do pâncreas, o que acarreta o desenvolvimento de diabete melito e insuficiência exócrina pancreática. Glicogenoses são alterações na síntese e no armazenamento do glicogênio, por deficiência enzimática de natureza genética autossômica. Sendo o glicogênio a maior fonte de armazenamento de glicose, quaisquer alterações em seu metabolismo levam à hipoglicemia. A alteração mais frequente está associada à deficiência de glicose-6-fosfatase, a qual se manifesta clinicamente com hipoglicemia e acidose lática com hepatomegalia, que pode não estar presente no início das hipoglicemias. À medida que o tempo passa, não havendo diagnóstico e terapêutica adequada, serão encontrados acúmulo de ácidos graxos, hiperuricemia, hiperlipidemia, hipertrigliceridemia e baixa adesividade plaquetária. A confirmação diagnóstica é feita por biópsia hepática e dosagem enzimática. O tratamento baseia-se em alimentação a cada 3 ou 4 horas, calculadas para evitar necessidade de glicogenólise e/ou neoglicogênese. Durante o sono, deve ser feita manutenção de sonda gástrica para alimentação e administração de amido de milho cru a cada 4 horas. O tratamento definitivo é feito com o transplante hepático. A deficiência de galactose-1-fosfato uridil transferase leva à galactosemia, condição na qual são frequentes vômitos, diarreia, icterícia, disfunção hepática e catarata. O tratamento consiste em supressão da lactose da alimentação. HIPOGLICEMIA CETÓTICA Forma de hipoglicemia comum na infância, de início entre 1 e 5 anos e remissão entre 8 e 9 anos de idade, ocorrendo hipoglicemia, em geral, após jejum prolongado (12 a 15 horas). Trata-se, quase sempre, de crianças de massa muscular pouco desenvolvida, com atraso de crescimento e que foram pequenas para a idade gestacional (PIG). Os pacientes apresentam hipoglicemia com cetonemia e cetonúria (beta-hidroxibutirato e acetato elevados no sangue e urina), bem como baixos níveis de alanina, o que indica alteração no catabolismo proteico envolvendo oxidação, desaminação de aminoácidos, transaminação, na síntese de alanina ou no efluxo muscular de alanina. O tratamento consiste em refeições frequentes com dieta rica em proteína e em HC. CONSIDERAÇÕES Hipoglicemia na infância é uma situação de emergência quanto ao diagnósticoe à terapêutica para reversão do quadro, o que é feito com administração de glicose VO ou EV para que se evitem danos no SNC, os quais podem levar a retardo mental e epilepsia. Como causas de hipoglicemia em crianças diabéticas estão: dose inadequada de insulina, omissão de refeições, atividade física excessiva, etc. Em crianças não diabéticas, as principais causas são: distúrbios hormonais como hiperinsulinemia, hipocortisolismo e hipopituitarismo, erros inatos do metabolismo e hipoglicemia cetótica, sendo a terapêutica voltada para correção dos níveis hormonais e alimentação adequada a cada distúrbio metabólico ocasionado pelos déficits enzimáticos. REVISÃO INTEGRATIVA A hipoglicemia é uma condição que ocorre com frequência em recém-nascidos, pela maior necessidade de utilização de glicose. Cerca de 50% dos recém-nascidos assintomáticos possuem fatores de risco para hipoglicemia. Porém, não existe um Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR consenso sobre as consequências no seu desenvolvimento neurológico e psicomotor. A hipoglicemia neonatal pode ser avaliada com base em um conjunto de fatores, tais como níveis baixos de glicemia, sinais clínicos e desaparecimento dos sinais após correção. Portanto, pode ser definida por níveis de glicose no plasma, abaixo de 45 mg/dl, ou do sangue total, abaixo de 40 mg/dl, em recém-nascidos a termo ou prematuros. A SBP, definiu que lactentes a termo ou pré-termo, com mais de 24 horas de vida, considera-se como hipoglicemia o nível inferior a 40 mg/dL. Trata-se de uma condição que ocorre frequentemente em recém-nascidos, particularmente no primeiro ano de vida. Na maioria dos casos, não se vincula a um problema clínico, mas a um processo fisiológico e de adaptação, próprio da transição do feto da vida intrauterina para extrauterina. A importância do controle adequado dos níveis glicêmicos é fundamental para a qualidade de vida em todas as idades, principalmente no período neonatal e na lactância. Nesse momento, o tecido cerebral, ainda não completamente maduro pela intensa atividade metabólica e pela grande demanda por glicose, encontra-se bastante receptivo às reduções de níveis glicêmicos, mesmo que transitórios. A capacidade de homeostase de glicose no período neonatal envolve o processo de transição suave para o ambiente extraútero, principalmente por meio de auxílio alimentar contínuo, proporcionado pelo aleitamento materno no estado de jejum pós-natal. Para um recém-nascido a termo existe a necessidade de alimentação frequente, uma vez que suas reservas de glicogênio são preparadas para fornecer glicose por aproximadamente quatro horas entre as mamadas. O fato de que os recém-nascidos possuem riscos aumentados de hipoglicemia em relação aos adultos ocorre em detrimento da elevada taxa de utilização de glicose, por possuírem uma massa cerebral proporcionalmente maior em relação ao tamanho corporal. Cerca de 50% das hipoglicemias em período neonatal são assintomáticas e detectadas pela existência de fatores predisponentes, tais como prematuridade e desnutrição intrauterina, ou mesmo agravos perinatais importantes, como anóxia ou retardo na introdução alimentar. Em relação a hipoglicemia, sua ocorrência é inversamente proporcional à idade gestacional, devido à glicogenólise, que aumenta a degradação de glicose, a gliconeogênese e a lipólise, as quais provocam uma regulação hormonal deficiente. Os recém-nascidos de muito baixo peso estão mais suscetíveis a apresentar hipoglicemia neonatal, devido à reserva limitada de glicogênio e gordura. Além disso, a associação de muito baixo peso com prematuridade impossibilita a utilização de substratos alternativos como os corpos cetônicos, para a produção de glicose, na ocorrência de hipoglicemia. Concentrações de glicose do cordão umbilical abaixo de 45 mg/dL podem ser utilizadas como estimativas estatísticas de pontos de corte para a hipoglicemia neonatal em recém-nascidos, independentemente da via de parto. A hipoglicemia ocorre normalmente nas primeiras horas de vida, sendo que, problemas metabólicos podem estar presentes. No ambiente intrauterino, a glicose do recém-nascido é originada da circulação materna. Quando está no útero materno, o suprimento de glicose se dá pela circulação materna, através da transmissão transplacentária. Após o nascimento do bebê, com o clampeamento do cordão umbilical, a concentração de glicose materna cessa e, então, para manter os níveis glicêmicos, inicia-se o processo de glicogenólise. Para detectar algum problema com o bebê, é de grande importância verificar o histórico familiar, avaliar os aspectos referentes à mãe e ao pré-natal, para identificar algum risco de desenvolvimento de hipoglicemia. Além disso, outros fatores são citados para ocorrência de hipoglicemia neonatal, tais como: diabetes pré-gestacional ou gestacional, resultado anormal no teste de tolerância à glicose, pré- eclâmpsia, doença hipertensiva específica da gravidez, hipertensão arterial sistêmica, uso de drogas ilícitas, uso de betabloqueadores e hipoglicemiantes orais e administração intraparto de glicose. Cerca de um terço dos recém-nascidos tem dificuldade de manter seus níveis glicêmicos superiores a 30 mg/dl, o que dificulta mais ainda, quando demoram para se alimentar após o nascimento. HIPERGLICEMIA MATERNA E HIPOGLICEMIA NEONATAL A hipoglicemia neonatal é um efeito adverso determinado pela hiperglicemia pós-prandial devido a um defeito metabólico das gestantes que cursam com diabetes mellitus gestacional. A hiperglicemia materna culmina em excessivo transporte transplacentário de glicose, gerando hiperinsulinemia fetal levando a hipoglicemia neonatal. Esse estado hiperglicêmico materno obriga o feto a estimular precocemente o seu próprio pâncreas, ainda em formação, a partir de 12 semanas de idade Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR gestacional. Durante o nascimento, após a ligadura do cordão umbilical, o recém-nascido absorve rapidamente a glicose pelo excesso na produção de insulina e, como consequência, desenvolve hipoglicemia neonatal. Esse estado hiperinsulinico fetal interfere na hemostasia fetal podendo levar também a macrossomia fetal, traumatismos de parto hiperbilirrubinemia, policitemia e hipocalcemia. Além de aumentar a morte fetal intrautero. A hiperglicemia materna deve ser sempre evitada pois resulta em hiperglicemia fetal, o que predispõe à hipoglicemia quando o aporte de glicose é interrompido com o nascimento. A hipoglicemia neonatal pode ser responsável pelo desenvolvimento neurológico deficiente, portanto, a Academia Americana de Pediatria e a OMS recomendam que testes de glicemia sejam realizados nos recém-natos sintomáticos, ou nos casos de mães com alterações metabólicas, hipertensas na gestação e usuárias de drogas ilícitas. As doenças de base nos neonatos com hipoglicemia foram taquipnéia transitória do recém-nascido seguido por encefalopatia isquêmica hipóxica mais comumente, enquanto entre neonatos sem hipoglicemia, a taquipnéia transitória do recém- nascido era a mais comum seguido de síndrome de angústia respiratória, em seguida, encefalopatia isquêmica típica. CONDUTAS MÉDICAS A definição de hipoglicemia neonatal é controversa, devido à falta de correlação significante entre concentração de glicose, sintomas e sequelas a longo prazo. Sabe se que a glicemia plasmática até 48 horas (h) de vida deve ser mantida > 50mg/dl e, mais de 48 horas de vida: > 60 mg/dl. A incidência da hipoglicemia neonatal é de 15% em RNs pequenos para idade gestacional (PIG) e 8,1% em RNs grandes para idade gestacional (GIG). GRUPOS DE RISCOPrematuros (Idade gestacional - IG < 37 semanas); Gemelar discordante (peso 10% inferior ao gêmeo maior); PIG; Restrição de Crescimento Intrauterino; Baixo Peso (Peso ao nascer - PN < 2500 gramas); GIG; Macrossômicos; Filho de Mãe Diabética; Policitemia; Doença Hemolítica; Estresse Perinatal: acidose grave ou síndrome hipóxico-isquêmica; Hipotermia; Sepse; Micropênis; Defeitos de linha média; Síndrome de Beckwith Wiedmann; Suspeita ou diagnóstico de Erros Inatos do metabolismo ou doenças endócrinas; RNs sintomáticos; RNs de mães que receberam altas infusões de glicose, tocolíticos e hipoglicemiantes orais. SINAIS E SINTOMAS NO PERÍODO NEONATAL Irritabilidade; Tremores; Reflexo de Moro exagerado; Choro estridente; Convulsões; Mioclonias; Letargia, Apatia, Fraqueza e Hipotonia; Coma; Cianose; Apneia; Irregularidade respiratória; Taquipneia; Hipotermia, temperatura instável; Instabilidade vasomotora; Sucção débil; Recusa alimentar. TRATAMENTO O objetivo é manter a glicemia maior que 45 mg/dL antes de cada dieta. Quando não for possível manter a glicemia maior que 45mg/dL após 24 horas, usando infusão de glicose endovenosa: investigar (possibilidade do diagnóstico de hipoglicemia hiperinsulinêmica, que é a causa mais comum de hipoglicemia severa e persistente no período neonatal). PREVENÇÃO Início precoce de amamentação; Alimentação enteral; Monitorização da glicemia nos grupos de risco (busca ativa). Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR TRATAMENTO MEDICAMENTOSO CONSENSO CLÍNICO Após a clampagem do cordão umbilical, a concentração de glicose diminui rapidamente no RN, alcançando o valor mínimo às 2 a 3 horas de vida. E normalizando cerca das 6 à 12 horas de vida. Nos RN com mais de 34 semanas em aleitamento materno exclusivo têm valores de glicemia mais baixos relativamente aos alimentados com fórmula para lactentes. A medição da concentração de glicemia é provavelmente o parâmetro laboratorial mais utilizado em neonatologia, a sua medição tem como objetivo diagnosticar a hipoglicemia para poder ser tratada de forma adequada e evitar as sequelas no neurodesenvolvimento. Em 2011 a Academia Americana de Pediatria propões os seguintes limiares de atuação, para os RN com mais de 34 semanas de idade gestacional, relativamente ao valor da glicemia e ao início de glicose ev: RN sintomático < 40 mg/dL; RN assintomático: nas primeiras 4 horas de vida < 25 mg/dL. Entre as 4 e 24 horas de vida < 35 mg/dL CAUSAS Para se atribuírem os sinais e sintomas à hipoglicemia é necessário verificar-se a tríade de Whipple: Baixa concentração de glicose; Clínica consistente com hipoglicemia; Resolução dos sinais e sintomas após a normalização da glicemia. DISTÚRBIOS NO METABOLISMO DA GLICOSE METABOLISMO A glicose é reconhecidamente a mais importante fonte energética para o feto. Seu fornecimento, do organismo materno para o concepto, ocorre no período intrauterino por difusão facilitada, através da placenta. A partir da segunda metade da gestação, observa-se um aumento da necessidade energética do feto em decorrência de seu crescimento. Com isso, é necessária uma maior oferta de glicose por parte da mãe, que tem sua reserva naturalmente diminuída. Apesar do alto nível de insulina materna circulante, os fatores anti-insulínicos elevados sobrepujam este efeito e disponibilizam nutrientes para o feto. Atualmente, tem-se conhecimento de que o feto também é capaz de produzir glicose e não precisa utilizar exclusivamente a de origem materna. Isso se deve à gliconeogênese hepática. Na veia umbilical, a concentração da glicose é em torno de 70% da glicemia materna. Quando ocorre o nascimento, o suprimento de glicose, a partir da veia umbilical, cessa abruptamente, o que pode trazer graves consequências ao RN. Para agravar ainda mais o problema, as atividades metabólicas sofrem um importante aumento à custa da respiração, contratilidade muscular, exposição ao frio, etc. HIPOGLICEMIA DEFINIÇÃO Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR A ausência de sintomas não indica que a glicemia seja normal e não esteja abaixo do limiar para a manutenção do metabolismo cerebral. Além disso, há evidências de que a hipoxemia e a isquemia potencializam o papel da hipoglicemia em causar lesão cerebral, podendo prejudicar irreversivelmente o desenvolvimento neurológico. Os limites inferiores da normalidade para a glicemia sérica são: 28 mg/dl (com 1-2 horas de vida, nadir fisiológico); 40 mg/dl (3 a 23 horas); 41 mg/dl (24 a 47 horas) e 48 mg/dl (48-72 horas). PATOGENIA CLASSIFICAÇÃO DAS HIPOGLICEMIAS CATEGORIA 1 HIPOGLICEMIA HIPERINSULINÊMICA Filho de mãe diabética; Eritroblastose fetal; RN GIG de mãe obesa; Hiperinsulinemia esporádica ou familiar; Síndrome de Beckwith-Wiedemann (macrossomia, macroglossia, onfalocele, visceromegalia). CATEGORIA 2 HIPOGLICEMIA SECUNDÁRIA AO AUMENTO DA DEMANDA METABÓLICA Hemorragia Intracraniana (HIC), asfixia, malformações do SNC, encefalopatia bilirrubínica; Relacionada à infecção: sepse; Cardiopatia congênita cianótica; policitemia (elevado consumo pela massa eritrocitária), hiperviscosidade; Relacionada à cessação abrupta da infusão venosa de glicose; Relacionada à hipotermia e jejum. CATEGORIA 3 HIPOGLICEMIA POR REDUÇÃO DE RESERVAS RN PIG; RN PT; Gêmeos discordantes. CATEGORIA 4 HIPOGLICEMIA POR DEFEITO GENÉTICO OU METABÓLICOS PRIMÁRIOS Deficiências enzimáticas (glicogenoses, galactosemia, tirosinemia, deficiência de glicogênio sintetase, doença do xarope de bordo); Intolerância à frutose, acidemia metilmalônica e propiônica. REFERÊNCIAS Tratado de pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria (SPB), volume 1, 4 edição, 2017, seção 11, capítulo 8. Bordignon.; J.; S.; Rocha.; B.; D.; et al., Hipoglicemia neonatal: Revisão integrativa, julho de 2018. Duarte.; B.; M.; A.; A.; Ramos.; C.; A.; M.; C.; et al.; Hipoglicemia neonatal resultante da hiperglicemia materna, Revista Cadernos de Medicina, UNIFESO. Consenso Clínico “Hipoglicemia neonatal”, seção de neonatologia SPP, (SN). Hipoglicemia Neonatal – Condutas Médicas, EBSERH, Hospitais universitários federais, UFMT, 2019. Abramowski.; A.; Hamdan.; H.; A.; Hipoglicemia neonatal, NCBI, janeiro de 2020.
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