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eLearning Prof. Fabio Silva LEGISLAÇÃO E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 2 SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL 3 SUMÁRIO 1. Sistema Tributário Nacional 2. Limitações ao Poder de Tributar 2.1. Princípios Constitucionais Tributários 2.2. Imunidades 4 1. SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL Conceito O sistema tributário nacional é formando por um conjunto de normas organizadas hierarquicamente e que define as diretrizes acerca da instituição e cobranças de tributos. Tem como regramento principal a Constituição Federal que, por meio do Sistema Constitucional Tributário, define as competências tributárias dos entes Federativos e as limitações ao poder de tributar. O Sistema Constitucional Tributário está prescrito no capítulo I, do título VI, da Constituição Federal e estabelece precipuamente: (a) Repartição das competências tributárias entre os entes federativos: União, Estados, Municípios e Distrito Federal. (b) Os princípios tributários e as limitações ao poder de tributar. (c) A definição da partilha do produto da arrecadação dos impostos entre os entes federativos. Composição • Constituição Federal com 97 Emendas - Do Sistema Tributário Nacional (artigos n. 145 a 162) - Da Seguridade Social (artigos n. 194 a 204) • Leis Complementares - Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/66) • Leis Ordinárias - Federais, Estaduais, DF e Municipais • Medidas Provisórias e Tratados Internacionais • Normas infralegais - Decretos (chefe do poder executivo) - Instruções normativas/Pareceres normativos - Portarias/Circulares A competência tributária é estabelecida pela Constituição Federal e não pode ser delegada, sendo exclusiva de cada ente nos termos por ela estabelecidos. Assim, por exemplo, a União não pode delegar ao Estado a competência para legislar sobre o imposto sobre a renda. Competência, contudo, não 5 se confunde com capacidade tributária. Essa última pode ser objeto de delegação. Vejamos as diferenças entre ambas: • Competência Tributária: prerrogativa estabelecida pela Constituição Federal aos entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e Município) para instituir e legislar sobre tributos. Embora seja uma faculdade (o ente político não é obrigado a exercer a competência), ela não pode ser delegada a outro ente político. • Capacidade Tributária Ativa: é a aptidão para cobrar os tributos delegada pelo ente político competente. Exemplos: INSS, SESI, SENAI, SEBRAI, SESC, SENAC, Sindicatos, OAB. Divisão de competência tributária conforme Constituição Federal: União Estados Municípios IR IPI II IE ITR IO IGT F IEXT. ICMS IPVA ITCMD ISS IPTU ITBI 6 7 Retirado de: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 270 8 2. LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR 2.1. Princípios Constitucionais Tributários Além de delimitar as competências tributárias, a Constituição Federal estabelece limitações com o intuito de proteger o contribuinte do exercício excessivo desse poder. Essas limitações, em geral, são estabelecidas por meio de princípios constitucionais. Conceito São normas basilares que orientam a aplicação das demais normas tributárias, dando-lhes condição de validade. Limitam o poder de tributar dos entes federativos, protegendo os contribuintes de excessos. Qualquer tributo criado à margem destes princípios deverá ser declarado inconstitucional. São eles: • Capacidade Contributiva (Artigo 145, § 1º da CF) • Legalidade (Artigo 150, I da CF) • Isonomia (Artigo 150, II da CF) • Irretroatividade (Artigo 150, III, “a” da CF) • Anterioridade (Artigo 150, III, “b” da CF) • Anterioridade Nonagesimal ou Noventena (Artigo 150, III, “c” da CF) • Não Confisco (Artigo 150, IV, da CF) • Liberdade de Tráfego (Artigo 150, V, “c” da CF) • Seletividade (Artigo 153, § 3º, inciso I da CF) • Não cumulatividade (Artigos 153, § 3º, inciso II e 155 § 2º, inciso I da CF) • Uniformidade Geográfica (Artigo 151, inciso I da CF) Passaremos a analisar cada um deles, de forma a melhor compreender o alcance dessas limitações: 9 • Capacidade Contributiva Encontra-se previsto no artigo 145, § 1º da Constituição Federal. Estabelece que os impostos devem ser calibrados de forma a considerar a capacidade econômica do contribuinte, inclusive para que não tenham um efeito de confisco. Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: (...) § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Imagem retirada da internet • Legalidade Previsto no artigo 150, inciso I da Constituição Federal, reforçando o princípio genérico contido no inciso II do Artigo 5º, de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – Exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Exceção: atente-se para a exceção que mitiga o princípio da legalidade. O Artigo 153, §1º da CF excepciona alguns impostos que possuem, além do seu caráter fiscal, uma função extrafiscal, como, por exemplo, regular a economia. Por conta disso, há mitigação do princípio da legalidade, de forma que o aumento da alíquota pode ser realizado pelo Poder Executivo, não ficando a mercê do longo processo legislativo. Vejamos abaixo quais são: II – Imposto sobre Importação IE – Imposto sobre Exportação IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados IOF – Imposto sobre Operações Financeiras 10 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; (...) IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; (...) § 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. • Isonomia O princípio da isonomia está previsto no artigo 150, inciso II da Constituição Federal. Notem a figura. Esse princípio NÃO determina que todas Imagem retirada da internet as pessoas sejam tratadas igualmente, mas sim que elas sejam tratadas de forma igual, porém na medida de sua desigualdade. Um milionário, por exemplo, não pode ser tratado igual a uma pessoa desprovida de posses, pagando o mesmo montante de tributos, pois a lei estaria estabelecendo tratamento idêntico para pessoas em condições diferentes. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. Os contribuintes devem ser tratados de maneira igual, na medida de suas desigualdades. 11 • Irretroatividade Previsto no artigo 150, inciso III, “a” da Constituição Federal, trata-se de uma importante garantia aos contribuintes, haja vista garantir segurança jurídica por meio da imutabilidade de fatos pretéritos. Para ilustrar, vamos imaginar que, após alguns anos, o Governo Federal modificasse a alíquota do IR, exigindo que o contribuinte recolhesse a diferença correspondente à renda adquirida no passado. Isso traria enorme insegurança jurídica aos negócios dos contribuintes, tendo em vista quedesconheceriam o custo tributário sobre eles incidentes, dada a possibilidade de mudança posterior da carga fiscal. Em razão disso, a lei tributária aplica-se em relação a fatos tributários ocorridos após o início de sua vigência. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. Imagem retirada da internet O princípio, contudo, comporta uma exceção: artigo 106 do Código Tributário Nacional, que assim dispõe: Art. 106. A lei aplica-se à ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. Atenção para a retroatividade da lei para os casos em que a lei deixe de definir um ato como infração ou a penalidade seja reduzida, hipótese em que, tratando-se de ato ainda não definitivamente julgado, os novos dispositivos são aplicados preteritamente em benefícios ao contribuinte. 12 • Anterioridade O princípio da anterioridade está previsto no artigo 150, inciso III, “b” da Constituição Federal. Novamente, trata-se de uma garantia de segurança jurídica, de forma a impedir que o tributo seja cobrado no mesmo ano que tenha sido instituído, com o objetivo de possibilitar ao contribuinte se preparar para a nova exação tributária. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; O princípio, contudo, comporta exceções. Notem que, novamente, a CF faz exceção àqueles tributos que possuem caráter extrafiscal. Confiram: Art. 150. (...) § 1º: A vedação do inciso III, b (i), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I (ii), 153, I (iii), II (iv), IV (v) e V (vi); e 154, II (vii); i. Mesmo exercício financeiro ii. Empréstimo Compulsório (EC) iii. Imposto de Importação (II) iv. Imposto de Exportação (IE) v. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vi. Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) vii. Imposto Extraordinário (IExt) Obs.: contribuição de seguridade social (art. 190, §6º, CF) tem apenas prazo de 90 dias. • Anterioridade Nonagesimal ou Noventena O objetivo do princípio da anterioridade que acabamos de ver é de que o contribuinte não seja surpreendido com alterações repentinas na carga tributária. Ocorre que, como o princípio da anterioridade permite a cobrança “no ano seguinte”, uma lei que preveja o aumento de alíquota de tributo publicada em 31 de dezembro já teria Imagem retirada da internet 13 Art. 150. (...) § 1º: (...) e a vedação do inciso III, c (i), não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I (ii), 153, I (iii), II (iv), III (v) e V (vi); e 154, II (vii), nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III (viii), e 156, I (ix). i. Antes de decorridos noventa dias ii. Empréstimo Compulsório (EC) iii. Imposto de Importação (II) iv. Imposto de Exportação (IE) v. Imposto sobre a Renda (IR) vi. Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) vii. Imposto Extraordinário (IExt) viii. Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotores (IPVA) ix. Imposto Predial e Territorial Urbana (IPTU) vigência no dia seguinte, haja vista, tratar-se de um novo ano. Por conta disso, a CF foi emendada para prever o princípio da anterioridade nonagesimal para alguns tributos, de forma que, além da alteração ter vigência apenas no ano seguinte, faz-se necessário aguardar 90 dias da publicação da lei para sua vigência. O princípio está previsto no artigo 150, inciso III, “c” da Constituição Federal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b. Tal qual ocorre com o princípio da anterioridade anual, há exceções para a aplicação do nonagesimal. Vejamos o que diz a CF: 14 • Não Confisco O princípio da proibição ao confisco está previsto no artigo 150, inciso IV, da Constituição Federal. Os tributos não devem ser cobrados de forma exagerada que signifiquem o confisco do patrimônio do contribuinte, reduzindo significativamente sua riqueza. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV - utilizar tributo com efeito de confisco. • Liberdade de Tráfego Esse princípio, previsto no artigo 150, inciso V, da Constituição Federal, gera algumas controvérsias, especialmente no que é pertinente à cobrança de pedágios. A CF veda a limitação ao tráfego de pessoas Imagem retirada da internet ou bens por meio de tributos. Isso faz com que algumas pessoas, não atentas ao disposto no inciso, entendam que a cobrança do pedágio é inconstitucional. Ocorre que, conforme expressamente consignado no texto constitucional, há ressalva acerca da cobrança de pedágios. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público. • Não Cumulatividade e Seletividade Os princípios da não cumulatividade e da seletividade serão debatidos mais detidamente oportunamente. No momento, é importante apenas mencioná-los como princípios constitucionais, estando previstos no artigo 153, § 3º, incisos I e II, da Constituição Federal: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) IV - produtos industrializados; 15 (...) § 3º - O imposto previsto no inciso IV: I - será seletivo, em função da essencialidade do produto; II - será não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores. • Uniformidade Geográfica O princípio da uniformidade geográfica está previsto no artigo 151, inciso I, da Constituição Federal. Ele dispõe sobre a instituição uniforme de tributos em todo o Brasil, evitando-se tratamento distinto entre as regiões brasileiras, excetuada a promoção do equilíbrio socioeconômico entre as diferentes regiões do País. Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. 2.2. Imunidades Conceito Trata-se de uma limitação do poder de tributar dos entes federativos, representando uma hipótese de não incidência tributária constitucionalmente prevista. Portanto, a CF impede a imposição de impostos nos casos que expressamente prevê. Imunidades Genéricas Referem-se a todos os impostos de forma geral: • Imunidade recíproca às pessoas políticas (artigo 150, VI, “a” da CF). • Imunidade do patrimônio, da renda e dos serviços dos templos de qualquer culto (artigo 150, VI, “b” da CF).•Imunidade dos Partidos Políticos, Sindicatos dos empregados, Instituições assistenciais e educacionais sem fins lucrativos (artigo 150, VI, “c” da CF). Imagem retirada da internet 16 • Imunidade dos jornais, livros, periódicos e o papel destinado à sua impressão (artigo 150, VI, “d” da CF). • Imunidade do patrimônio, renda e serviços das Autarquias e Fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público (artigo 150, §2º da CF). Imunidades Específicas Referem-se a um determinado tributo especificamente. Vejamos cada um deles: • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI): Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) IV - produtos industrializados; (...) § 3º - O imposto previsto no inciso IV: (...) III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior • Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR): Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) VI - propriedade territorial rural; (...) § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: (...) II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel • Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS): Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II – (ICMS) (...) § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) X - não incidirá: a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, 17 inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica; c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º*; d) nas prestações de serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita *Utilizado como ativo financeiro ou instrumento cambial. • Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI): Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...) II - transmissão “inter vivos”, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos à sua aquisição; (...) § 2º - O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, Aula Virtual 1 incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil*; *Exceção: quando a atividade preponderante da empresa for compra e venda destes direitos. https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/xid-585807_1 18 INDICAÇÕES DE LEITURA ANIS; Kfouri Jr. Curso de Direito Tributário. 3ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. pp 141-166 BARRETO, Aires F. Curso de Direito Tributário Municipal. 2ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2012. pp 26-34 PEGAS, Paulo Henrique. Manual de Contabilidade Tributária. 9ª Edição. São Paulo: Atlas, 2017. pp 21-34 REZENDE, Amaury José; PEREIRA, Carlos Alberto Pereira; e ALENCAR, Roberta Carvalho. Contabilidade Tributária. São Paulo: Atlas, 2010. pp 6-9 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. pp 267-277 © FIPECAFI - Todos os direitos reservados. A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons, vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções, transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento prévio e formal da FIPECAFI. CRÉDITOS Diretoria de Curso: Eliana Rodrigues Coordenação Geral: Marcos Galini Coordenação Educacional: Samuel Durso e Luciana Machado Autoria: Fabio Silva Supervisão Geral: Juliana Nascimento Design Instrucional: Patricia Brasil Design Gráfico e Diagramação: Aline Silva Captação e Produção de Mídias: Erika Alves e Fabio Maiolo Revisão de Texto: Patricia Brasil eLearning Prof. Fabio Silva LEGISLAÇÃO E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 2 TRIBUTOS E SUAS ESPÉCIES 3 SUMÁRIO 1. Conceito de Tributo 1.1. Conceitos Importantes 2. Tributos 2.1. Espécies de Tributos 2.2. Funções do Tributo 2.3. Obrigação Tributária 2.4. Lançamento 3. Exclusão do Crédito Tributário 4. Extinção do Crédito Tributário 5. Suspensão do Crédito Tributário 6. Responsabilidade Tributária 4 1. CONCEITO DE TRIBUTO O conceito de tributo é definido pelo artigo 3º do Código Tributário Nacional, que assim dispõe: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Vamos analisar cada uma das características da definição legal de tributo, para melhor entendimento do conceito: a. prestação pecuniária compulsória: é imposta ao contribuinte independente de sua vontade. Ocorrido o fato gerador previsto em lei surge a obrigação de pagamento do tributo. b. em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: o pagamento não pode ser feito através de outros bens que não moeda ou equivalente. c. que não constitua sanção de ato ilícito: não é imposta na condição de multa ou punição por ato ilícito. d. instituída em lei: só é devido se houver lei anterior prevendo (Princípio da Legalidade). e. cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada: a cobrança se dá por meio de atividade administrativa que observará os ditames legais. 1.1. Conceitos Importantes Alguns conceitos são fundamentais para o entendimento da matéria de legislação tributária. Dentre eles, destacamos os quatro abaixo, aprofundados nas Indicações de Leitura: • Hipótese de incidência: é a situação hipotética, definida em lei, que descreve uma situação que, caso ocorra, faz nascer a obrigação tributária. • Fato gerador: é a efetiva concretização, no mundo real, da hipótese de incidência definida pela lei. • Base de cálculo: valor sobre o qual deverá incidir o tributo. • Alíquota: pode ser um percentual que, aplicado à base de 5 cálculo, define o valor do tributo (alíquota ad valorem) ou um valor fixo por unidade (alíquota específica). • Sujeito passivo: é a pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento do tributo (artigo 121 do CTN). 2. TRIBUTOS 2.1. Espécies de Tributos É preciso ficar claro que tributos e impostos não são sinônimos. Tributo é gênero do qual imposto, por exemplo, é espécie. Há uma série de espécies de tributos, conforme veremos a seguir: • IMPOSTOS • TAXAS • CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA • EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO • CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS • CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS • CIDE • CIP 6 Brasil, o país dos impostos? Impostos • Os impostos estão previstos no artigo 16 do Código Tributário Nacional. • É o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. • Distingue-se entre si pelos respectivos fatos geradores. • Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade contributiva do contribuinte (artigo 145, § 1º da CF). Taxas • As taxas estão previstas no artigo 77 do Código Tributário Nacional. • É o tributo que tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia ou a utilização efetiva ou potencial, deserviço público específico e divisível prestado ao contribuinte. • É de competência comum, ou seja, aquele que presta o serviço tem competência para legislar e cobrar o tributo. É um tributo vinculado que somente será devido pelo contribuinte se houver contraprestação por parte do ente federativo que a constituiu. • A taxa não poderá ter a mesma base de cálculo ou fato gerador idênticos aos impostos. Contribuição de Melhoria • A contribuição de melhoria está prevista no artigo 81 do Código Tributário Nacional. • É o tributo cuja obrigação tem como fato gerador a valorização 7 de imóveis decorrente de obra pública. • O valor cobrado referente à contribuição de melhoria encontra o seu valor máximo no valor gasto para a realização da obra pública e/ou na valorização do imóvel. Empréstimo Compulsório • O empréstimo compulsório está previsto no artigo 148 da Constituição Federal: Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, “b”. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. • O que diferencia o empréstimo compulsório de outros tributos é ser ele restituível, o que deve ser feito após o término das causas que originaram sua cobrança. Contribuições Especiais • Contribuições sociais, assim como os impostos, independem de ação direta do Poder Público em favor do contribuinte, tendo a receita de sua arrecadação, todavia, destinação específica. São de 4 tipos: a. Contribuição de intervenção no domínio econômico (art.149 CF) b. Contribuições profissionais (categorias profissionais e econômicas) c. Contribuições sociais para custeio de seguridade social (art. 195 CF) d. Contribuição de Iluminação Pública (art. 149 a CF) Resumindo: 8 Retirado de: REZENDE, Amaury José; PEREIRA, Carlos Alberto; ALENCAR, Roberta Carvalho de. Contabilidade tributária: entendendo a lógica dos tributos e seus reflexos sobre os resultados das empresas. São Paulo: Atlas, 2010. p. 49. 9 Retirado de: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 185. 10 11 Retirado de: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 269 - 270. 12 2.2. Funções do Tributo Precipuamente, os tributos têm função de arrecadação para fazer frente as despesas dos entes federativos. Contudo, alguns deles se destacam, igualmente, por terem, além do caráter arrecadatório, função extra, como, por exemplo, regulação da economia. São três as funções dos tributos: • Parafiscal: há um terceiro arrecadando e administrando o produto do tributo, em interesse de determinada classe profissional, por exemplo: OAB, CRM, CRC, CREA, etc. • Fiscal: possui caráter eminentemente arrecadatório (IRPF, IRPJ, ICMS, etc.) • Extrafiscal: o tributo possui outras funções que não apenas arrecadar. É o caso, por exemplo, de regulação da balança comercial, modificando alíquotas do Imposto de Importação e Exportação (IOF, CIDE, etc.) 2.3. Obrigação Tributária A obrigação tributária se divide em duas, principal e acessória. Assim, vejamos: • Principal: a obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. • Acessória: a obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Obs.: a obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. 2.4. Lançamento O nascimento da obrigação tributária decorre da ocorrência da hipótese de incidência. Por sua vez, o lançamento é o procedimento administrativo praticado pela autoridade fiscal, que visa constatar a ocorrência do fato gerador e a matéria tributária, definindo o montante devido e o sujeito ativo, conforme definição do artigo 142 do CTN: 13 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Possui três modalidades: • Lançamento Direto ou de Ofício: Compete à autoridade realizar o lançamento, apurando o valor do tributo e identificando o sujeito passivo, sem qualquer participação deste. Exemplos: IPTU e IPVA. Ocorre quando a lei assim determina ou quando o contribuinte, obrigado a cumprir determinada obrigação, não o faz (Art. 149 do CTN). • Lançamento por Declaração (Misto): É efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, permitindo à autoridade fiscal efetuar o lançamento, não sendo obrigatório o pagamento antecipado. Exemplos: ITBI, ITCMD, tributos aduaneiros. • Lançamento por Homologação (Autolançamento): Atribui ao sujeito passivo o dever de calcular e antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Ex.: IRPF e ICMS Prevê a antecipação do pagamento, condicionada a ulterior verificação por parte da autoridade administrativa Aula Virtual 1 14 INDICAÇÕES DE LEITURA ANIS; Kfouri Jr. Curso de Direito Tributário. 3ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. pp 99-120 e 219- 227 e 241-251 FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 16ª. Edição. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 134 - 143 e 178 - 183. REZENDE, Amaury José; PEREIRA, Carlos Alberto Pereira; e ALENCAR, Roberta Carvalho. Contabilidade Tributária. São Paulo: Atlas, 2010. pp. 45 - 57 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. Páginas 185-191 3. EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Conceito Corresponde à possibilidade de um determinado crédito em favor da Fazenda Pública existir legalmente, mas por uma concessão do ente Público competente para legislar sobre o tributo, ter a sua incidência excluída do alcance de determinados sujeitos passivos. • Sempre é interpretada literalmente a norma que versar sobre a exclusão do crédito tributário. • A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias. Isenção Enquanto a imunidade é uma vedação Constitucional à competência tributária, a isenção refere-se à exclusão do crédito tributário por meio de legislação infraconstitucional. Na doutrina, é debatido se a isenção impede o nascimento da obrigação tributária ou apenas dispensa o 15 seu pagamento. Independentemente do entendimento que prevaleça sobre o tema, o contribuinte é isentado do pagamento. • A lei que institui a isenção, obrigatoriamente tem que ser emanada pelo Poder Legislativo da Pessoa de Direito Público competente. Exemplificando: somente a União pode prever a isenção do imposto de renda. • A isenção quanto a seus aspectos será: Espacial: afasta a possibilidade de a lei tributária incidir em uma determinada região ou território. Temporal: exclui a possibilidade de a lei tributária incidir durante certo período de tempo sobre uma região ou grupos de contribuintes. Pessoal: afasta do alcance das leis de um grupo de pessoas físicas ou jurídicas. Material: diminui o alcance do fato gerador ou reduz a base de cálculo ou a alíquota aplicável ao cálculo do montante do tributodevido. Essa redução pode variar. A isenção total da alíquota é o que se denomina alíquota zero. • A isenção quanto a suas formas será: Condicionada: para usufruir a isenção, o contribuinte se sujeita a condições determinadas em Lei. Não tem caráter geral, está condicionada ao preenchimento dos requisitos legais. Exemplo: o Município pode conceder isenção do ISS às empresas prestadoras de serviço de auditoria que possuam em seu quadro de funcionários mais de cinco auditores. Incondicionada: não há qualquer exigência específica para usufruir do benefício, condicionada a um ato positivo do contribuinte. Exemplo: faixa de rendimento do contribuinte está abaixo de R$ 900,00. Por prazo certo: a lei determina um prazo em que os contribuintes terão direito ao benefício. A concessão da isenção pode ser retirada, porém, a sua revogação não produz efeitos para aqueles que obtiveram o benefício na vigência da lei, desde que ela também seja condicionada. Por prazo indeterminado: a lei não fixa prazo de concessão, a isenção poderá ser revogada a qualquer tempo, tendo efeito imediato, conforme entendimento majoritário da jurisprudência. A doutrina diverge, em parte, desse entendimento, sustentando que a revogação da 16 isenção importaria na instituição de nova exação, devendo, portanto, observar-se o princípio da anterioridade. Anistia Benefício estipulado por lei específica prevendo a possibilidade de o contribuinte quitar a obrigação tributária com exclusão das penalidades pecuniárias que lhe foram impostas. • Perdão da penalidade imposta ao contribuinte por um descumprimento de mandamento legal. • A anistia poderá ser: Expressa: quando a lei expressamente indica os ilícitos tributários a serem anistiados. Tácita: ocorrendo modificação na ordem jurídica por força de lei, em que as novas normas deixem de definir certos atos como infração, seguindo os ditames do artigo 106 CTN. 4. EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO • Formas de extinção do crédito tributário: O Artigo 156 do Código Tributário Nacional define as formas de extinção do crédito tributário. Vejamos cada uma delas: Pagamento: é a prestação pecuniária que o devedor ou alguém faz por ele ao sujeito ativo. Compensação: a compensação de débitos ocorre na hipótese de duas pessoas serem ao mesmo tempo devedoras e credoras uma da outra ao mesmo tempo, e a possibilidade de suas obrigações serem extintas até onde se contrabalançarem. Transação: é um “acordo” que ocorre quando as partes fazem concessões recíprocas para evitar ou terminar um litígio, extinguindo com a obrigação. Depende de lei expressa. Remissão: é o perdão da dívida, total ou parcial e só poderá ser veiculada por lei e a autoridade administrativa que a conceder deverá fazer por decisão fundamentada. Prescrição e a Decadência: veremos com mais detalhes a seguir. 17 Conversão de depósito em renda: vencido o contribuinte, o depósito realizado em garantia é convertido em renda, o que não deixa de ser uma forma de pagamento. Pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º: esse lançamento é feito na sua totalidade pelo sujeito passivo e possui como característica o pagamento do tributo antes de qualquer procedimento por parte da autoridade administrativa. A homologação pode ser expressa ou tácita, extinguindo o crédito tributário. Consignação em pagamento: depósito em juízo por parte do contribuinte. Ao final, o magistrado determina quem é o sujeito ativo da relação e o crédito tributário é extinto. Exemplo: ISS. Decisão administrativa definitiva: decisão administrativa favorável ao contribuinte, por exemplo, anulando auto de infração e, consequentemente, extinguindo o crédito tributário nele contido. Decisão judicial passada em julgado: decisão judicial favorável ao contribuinte, por exemplo, anulando certidão de dívida ativa e, portanto, extinguindo o crédito tributário inscrito. Dação em pagamento em bens imóveis: hipótese em que o pagamento é feito por meio da entrega de imóveis. Exige lei específica. • Decadência: Decadência é uma das formas de extinção do crédito tributário. Ocorre em razão da inércia da autoridade administrativa em proceder o lançamento tributário. Está definido no artigo 150, § 4º do Código Tributário Nacional e Artigo 173, I do Código Tributário Nacional. Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. (...) § 4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. 18 Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue- se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Vamos avaliar graficamente a decadência, para esclarecer esse conceito tão abstrato: HOUVE PAGAMENTO? NÃO SIM ART. 173, I SIM HOUVE FRAUDE, DOLO OU SIMULAÇÃO NÃO ART. 150, § 4º Fonte: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp.700 - 701. 19 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 ART. 173, I Fato Jurídico Tributário Ano 1 Decadência Exercício em que O lançamento poderia ter sido efetuado 31/12/X1 01/01/X3 01/01/X4 01/01/X5 01/01/X6 01/01/X7 01/01/X8 Extinção do Crédito Tributário 1º Dia do Exercício Seguinte Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 ART. 150, § 4º Fato Jurídico Tributário Ano 1 Homologação do Lançamento Extinção do Crédito Tributário 31/12/X1 31/12/X2 31/12/X3 31/12/X4 31/12/X5 31/12/X6 Fonte: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 700 - 701. Fonte: SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 700 - 701 20 • Prescrição: Outra forma de extinção do crédito tributário é a prescrição. É muito comum a confusão entre decadência e prescrição. Contudo, a decadência ocorre pela inércia da autoridade fiscal em efetuar o lançamento do tributo, ao passo que a prescrição refere-se à perda do direito de cobrar o tributo devido, sendo que a omissão da autoridade causa a extinção do crédito tributário. Compete ao artigo 174 do Código Tributário Nacional tratar da prescrição. Vejamos: • A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data de sua constituição definitiva. A prescrição se interrompe: pela citação pessoal feita ao devedor pelo protesto judicial por qualquer ato inequívoco, ainda que extra judicial que constitua em mora o devedor por ato inequívoco ainda que extra judicial, que importe no reconhecimento do débito pelo devedor Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 ART. 173, I Fato Jurídico Tributário Ano 1 Decadência Exercício em que O lançamento poderia ter sido efetuado 01/03/X1 01/01/X2 01/01/X3 01/01/X4 01/01/X5 01/01/X6 01/01/X7 Extinção do Crédito Tributário 1º Dia do Exercício Seguinte Fonte: SCHOUERI, Luís Eduardo. DireitoTributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. pp. 700 - 701. 21 5. SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO A suspensão do crédito tributário não causa a extinção da dívida tributária do contribuinte, mas, como o próprio nome revela, suspende sua exigibilidade. As formas de suspensão do crédito tributário estão estabelecidas no artigo 151 do Código Tributário Nacional: • Moratória: prorrogação ou concessão de prazo diverso do original para cumprimento da obrigação tributária. • Depósito do seu montante integral: o depósito suspende a exigibilidade do crédito independentemente de qualquer decisão judicial. • Reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo: a impugnação administrativa suspende o crédito tributário, até regular decisão final. • Concessão de medida liminar em mandado de segurança ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial: aplica-se tanto ao mandado de segurança, como medida liminar e tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial. • Parcelamento: trata-se de moratória específica, prevendo o pagamento em prestações do tributo devido. 22 6. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Conceito É o devedor (indireto) que não se reveste da condição de contribuinte, mas, por disposição legal, responde pela obrigação tributária. • Responsabilidade por substituição: a lei coloca como devedor do tributo o sujeito passivo diverso daquele que deveria pagar o tributo (contribuinte). • Responsabilidade por transferência: existe legalmente o contribuinte e, mesmo assim, a Lei, sem ignorá-lo, atribui a outro o dever de pagar o tributo. • Exemplos de responsabilidade: causa mortis e atos inter vivos (artigos 130 e 131 do CTN), como a compra de imóvel com dívidas tributárias; adquirente de fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional que mantiver a exploração no mesmo ramo de atividade (artigo 133 do CTN). Responsabilidade Artigo 128 CTN A lei coloca como devedor do tributo o sujeito passivo diverso daquele que deveria pagar o tributo (contribuinte). Existe legalmente o contribuinte e mesmo assim a Lei, sem ignorá-lo, atribui a outro o dever de pagar o tributo, em razão de outro fato jurídico. Por Substituição: Por Transferência: Responsabilidade Por Transferência Sucessão Artigos 129/133 Infrações Artigos 136/138 Terceiros Artigos 134/135 23 • Responsabilidade de Terceiros: nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis (Art. 134, CTN). São eles: pais tutores curadores administradores de bens de terceiro inventariantes síndico comissários tabeliões/escrivães os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas • Responsabilidade Pessoal de Terceiro: são pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (Art. 135, CTN): pais tutores curadores administradores de bens de terceiro inventariantes síndico comissários tabeliões/escrivães sócios os mandatários, prepostos e empregados os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado Aula Virtual 2 24 INDICAÇÕES DE LEITURA ANIS; Kfouri Jr. Curso de Direito Tributário. 3ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. pp 253-278 BARRETO, Aires F. Curso de Direito Tributário Municipal. 2ª. Edição. São Paulo: Saraiva, 2012. pp 553-575 FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 156 - 162 e 185 - 189. REZENDE, Amaury José; PEREIRA, Carlos Alberto; ALENCAR, Roberta Carvalho de. Contabilidade tributária: entendendo a lógica dos tributos e seus reflexos sobre os resultados das empresas. São Paulo: Atlas, 2010. pp. 57 - 60. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017. pp 661-670 © FIPECAFI - Todos os direitos reservados. A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons, vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções, transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento prévio e formal da FIPECAFI. CRÉDITOS Diretoria de Curso: Eliana Rodrigues Coordenação Geral: Marcos Galini Coordenação Educacional: Samuel Durso e Luciana Machado Autoria: Fabio Silva Supervisão Geral: Juliana Nascimento Design Instrucional: Patricia Brasil Design Gráfico e Diagramação: Aline Silva Captação e Produção de Mídias: Erika Alves e Fabio Maiolo Revisão de Texto: Patricia Brasil eLearning Prof. Fabio Silva LEGISLAÇÃO E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 2 ICMS – IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS 3 SUMÁRIO 1. Contexto Histórico 2. Não Cumulatividade 3. Fato Gerador e Contribuinte 4. Base de Cálculo do ICMS 5. Conflito de Competência ICMS X ISS 6. Alíquotas do ICMS 7. Do Princípio da Não Cumulatividade 8. Crédito 9. O Regime da Substituição Tributária do ICMS 10. Resumo da Contabilização dos Tributos Sobre Receita 4 1. CONTEXTO HISTÓRICO A origem do ICMS remonta à Emenda Constitucional nº 18/1965, prevendo ser da competência dos Estados o imposto sobre as operações relativas à circulação de mercadorias, realizadas por comerciantes, indústrias e produtores. Havia previsão, ainda, de que os Municípios poderiam cobrar o ICMS, desde que a alíquota não ultrapassasse 30% da instituída pelo Estado. A referida emenda não chegou a entrar em vigor, na medida em que, em 1967, foi promulgada nova Constituição Federal. O novo documento constitucional igualmente previu a competência dos Estados em relação ao ICMS, porém nada dispondo sobre a possibilidade de cobrança concomitante por parte dos Municípios. Apenas a partir da Constituição Federal de 1988, surge a figura do ICMS, incluindo, então, como fato gerador do tributo, os serviços de transportes intermunicipais e interestaduais e o de comunicação. O imposto está previsto no Artigo 155 da CF, trazendo suas principais características. É indispensável, antes de avançarmos, a leitura do Artigo 155. Algumas características presentes no atual ICMS já constavam do nosso sistema tributário desde a Emenda Constitucional nº 18/1965, como, exemplificando, a não cumulatividade e a necessidade de habitualidade nas atividades de circulação de mercadorias para ser alçado à condição de sujeito passivo do tributo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 5 2. NÃO CUMULATIVIDADE Para compreender o ICMS, é necessário se aprofundar no conceito da não cumulatividade. Além de ser a principal característica desse tributo, a não cumulatividade é a razão de grande parte das controvérsias e discussões jurídicas, inclusive de natureza contenciosa, que o envolvem. O ICMS é um imposto plurifásico, o que significa dizer que incide, regra geral, desde a produção da matéria-prima até a venda ao consumidor final. Difere da incidência monofásica, em que a exação ocorre em uma única etapa. Ocorre que a incidência plurifásica traz consigo o indesejável efeito cascata, que se refere à cobrança de tributos de forma cumulativa em cada etapa de operação, ocasionando a oneração das cadeias produtivas mais longas e, consequentemente, prejudicando o consumidor, que é o contribuinte de fato do ICMS. A não cumulatividade surge, justamente, para evitar esse efeito cascata, tendo em vista a possibilidade de compensação do montante recolhido nas etapas anteriores. A literatura jurídica revela que hámuitas formas de não cumulatividade. No caso do ICMS brasileiro, o método escolhido é o “imposto sobre imposto”. Vale dizer que não há relação direta entre o imposto recolhido na entrada da mercadoria e o imposto devido na saída dessa mesma mercadoria. Trata-se de um sistema periódico de apuração de créditos, referente ao montante recolhido na etapa anterior, no momento da entrada de mercadorias, e débitos do tributo, referente à saída de mercadorias. Assim, recolhe-se eventual saldo ao final do período. Mais especificamente, no caso brasileiro, o método é chamado de “nota crédito”, em razão de o vendedor recolher o imposto sobre o valor das vendas subtraído do valor do imposto pago na etapa econômica anterior, que deverá ser destacado na nota fiscal da mercadoria adquirida. Observe que esse método faz com que nosso ICMS destoe do típico IVA - Imposto Sobre Valor Agregado. Isso porque, no caso do IVA, a base de cálculo do tributo incide sobre o montante agregado em cada etapa da produção. Vejamos um exemplo numérico para pleno 6 entendimento do conceito: IVA - IMPOSTO SOBRE VALOR AGREGADO Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Valor Agregado R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 R$ 1.400,00 R$ 400,00 R$ 1.800,00 R$ 400,00 R$ 2.500,00 R$ 700,00 Imposto a Recolher R$ 180,00 R$ 72,00 R$ 72,00 R$ 126,00 Podemos observar acima que o tributo foi pago sempre considerando o valor que foi agregado na etapa produtiva, aplicando-se a alíquota de 18%. Ao final, foi recolhido um total de R$ 450,00 que, aplicado sobre o valor final da mercadoria de R$ 2.500,00, tem como resultado justamente 18% de carga tributária. Por se tratar de imposto indireto, repercutindo no preço, o contribuinte final arcou com essa carga tributária. Vamos agora simular a mesma operação, mas aplicando o conceito da não cumulatividade adotada pelo sistema tributário nacional, em que cada etapa gera crédito para as etapas seguintes, conforme imposto destacado na nota fiscal da compra de mercadorias e serviços. Vejamos um exemplo semelhante: ICMS Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Imposto Total Crédito Etapa Anterior R$ 1.000,00 R$ 180,00 Não Há R$ 1.400,00 R$ 252,00 R$ 180,00 R$ 1.800,00 R$ 324,00 R$ 252,00 R$ 2.500,00 R$ 450,00 R$ 324,00 Imposto a Recolher R$ 180,00 R$ 72,00 R$ 72,00 R$ 126,00 Repare que, muito embora a sistemática seja diferente, o resultado financeiro se equivale. Pois bem! Se os resultados financeiros se equivalem, qual a diferença entre o IVA e a não cumulatividade adotada no Brasil? A problemática que encontramos na não cumulatividade adotada pelo ICMS é que, em alguns casos, ela fere a neutralidade tributária. Neutralidade tributária refere-se a não interferência de questões fiscais na decisão dos agentes econômicos. A política fiscal adotada não deveria influenciar nas decisões dos contribuintes, que deveriam ser adotadas por regras de livre mercado. Muito embora uma completa neutralidade tributária pareça utópica, é desejável que o Poder Público busque esse ideal tanto quanto possível. Nesse sentido, a não cumulatividade do ICMS, em algumas 7 oportunidades, afeta a neutralidade tributária, o que não ocorre com o IVA típico. Vamos avaliar alguns exemplos numéricos para melhor retenção desses conceitos. Vamos pressupor a mesma cadeia de circulação acima mencionada e a concessão de benefício fiscal no início da cadeia: IVA - IMPOSTO SOBRE VALOR AGREGADO Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Valor Agregado R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 R$ 1.400,00 R$ 400,00 R$ 1.800,00 R$ 400,00 R$ 2.500,00 R$ 700,00 Imposto a Recolher Isento R$ 72,00 R$ 72,00 R$ 126,00 Observe que, no caso do IVA, o total recolhido na cadeia foi de R$ 270,00, o que equivale a uma carga fiscal de aproximadamente 11%. Aqui, estamos partindo do pressuposto que a redução do custo fiscal não afetou o preço final da mercadoria, que foi definido pela “lei da oferta e da procura”. Porém, essa seria uma hipótese válida, o que resultaria em um preço menor para o consumidor final. De toda forma, a isenção cumpriu seu papel, reduzindo o custo tributário e, se não reduziu o preço nas etapas, aumentou a margem de lucro na primeira etapa, não afetando as demais. Vejamos o que ocorre, agora, no caso do ICMS. Observe que o montante recolhido na cadeia, ainda que seja concedida a isenção na primeira etapa, não é modificado, mantendo-se a carga fiscal de 18%. Vejamos: ICMS Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Imposto Total Crédito Etapa Anterior R$ 1.000,00 Isento Não Há R$ 1.400,00 R$ 252,00 Não Há R$ 1.800,00 R$ 324,00 R$ 252,00 R$ 2.500,00 R$ 450,00 R$ 324,00 Imposto a Recolher Isento R$ 252,00 R$ 72,00 R$ 126,00 Observe que os mesmos R$ 450,00 foram recolhidos, como aconteceria se não houvesse qualquer benefício fiscal. Como resultado, temos que a isenção aumentou a margem de lucro na primeira etapa, porém esse efeito onerou a segunda etapa, que reduziu sua margem de forma equivalente. Ao final, o benefício fiscal não teve qualquer efeito na cadeia produtiva, haja vista que a carga tributária total foi a mesma, apenas beneficiando o agente econômico da primeira etapa. Ainda mais grave é o que acontece quando o benefício fiscal é oferecido no meio da cadeia. Observe o que acontece no caso do IVA: 8 IVA - IMPOSTO SOBRE VALOR AGREGADO Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Valor Agregado R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 R$ 1.400,00 R$ 400,00 R$ 1.800,00 R$ 400,00 R$ 2.500,00 R$ 700,00 Imposto a Recolher R$ 180,00 Isento R$ 72,00 R$ 126,00 Podemos observar que a carga tributária total atinge aproximadamente 15%, tendo a isenção cumprido seu papel de redução do custo tributário. Diferente é o que acontece no caso do ICMS. Confira: ICMS Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Valor da Operação Imposto Total Crédito Etapa Anterior R$ 1.000,00 R$ 180,00 Não Há R$ 1.400,00 Isento Não Há R$ 1.800,00 R$ 324,00 Não Há R$ 2.500,00 R$ 450,00 R$ 324,00 Imposto a Recolher R$ 180,00 Isento R$ 324,00 R$ 126,00 O total recolhido remonta a R$ 630,00, de modo que a concessão da isenção na segunda etapa da cadeia produtiva faz a carga tributária total saltar para aproximadamente 25%. É de se imaginar que, caso a demanda do produto seja elástica, a isenção acarretará o aumento do preço final, onerando o consumidor. Caso contrário, a cadeia produtiva terá que reduzir sua margem de lucro, em razão do aumento do custo fiscal. Isso acontece porque a isenção tem como consequência a anulação do crédito do imposto recolhido nas etapas anteriores, em atendimento ao que dispõe o inciso II do § 2.º do art. 155 da CF. Vejamos: § 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: […] II – a isenção ou não incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes; b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores. Fica claro, diante dos exemplos acima, que o modelo adotado no Brasil pode ter efeitos perversos em alguns casos, em prejuízo da neutralidade tributária. 9 3. FATO GERADOR E CONTRIBUINTE O fato gerador do ICMS é a circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte interestaduais e intermunicipais e de comunicações, ainda que as operações se iniciem no exterior, conforme artigo 2º da Lei Complementar 87/96. Embora haja alguma controvérsia a respeito do conceito de circulação, bem como a insistência por parte de alguns legisladores de considerar mera circulação física como fato gerador do ICMS, grande parte da doutrina adota o termo “circulação” como relacionado à transferência de propriedade ou posse. Esse conceito tem encontrado respaldonos Tribunais, muito embora o STF tenha se manifestado no sentido de que mera circulação física, desde que integre uma etapa do processo de circulação direcionada ao consumo, é fato gerador do ICMS1. Contribuinte do ICMS é qualquer pessoa, física ou jurídica, que: • realize, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. • importe mercadorias ou bens do exterior, qualquer que seja a sua finalidade; • seja destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior; • adquira em licitação mercadorias ou bens apreendidos ou abandonados; • adquira lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo e energia elétrica oriundos de outro Estado, quando não destinados à comercialização ou à industrialização. ATENÇÃO para o conceito de estabelecimento como contribuinte autônomo, trazido pela Lei Complementar 87/96 que dita o regramento fundamental do ICMS. Segundo a lei, cada estabelecimento da empresa é autônomo, ou seja, cada um é um contribuinte para fins de ICMS, sendo que é a saída do estabelecimento que configura o fato gerador do tributo. 1 RE 67.844/SP, RTJ 53/191; RE 70.613/SP; RE 70.538/GB 10 Nesse passo, retornamos à discussão prévia sobre circulação física e jurídica. Há intensa controversa sobre se a circulação meramente física de mercadoria é fato gerador do ICMS. O STJ, por meio da súmula 166 dispôs: “Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte”. Contudo, referida súmula não encerra a discussão, tendo em vista que ela é anterior à Lei Complementar 87/96 que traz o seguinte dispositivo: Art. 12. Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no momento: I - da saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que para outro estabelecimento do mesmo titular; 4. BASE DE CÁLCULO DO ICMS Conforme define a Lei Complementar n. 87/96, a base de cálculo do ICMS é o montante da operação, incluindo o próprio tributo, incluindo o frete e despesas acessórias cobradas do adquirente/ consumidor. Regra geral, tudo que for cobrado do adquirente comporá a base de cálculo do ICMS, inclusive o próprio imposto, por meio da sistemática de “cálculo por dentro”. Dúvida que surge refere-se ao IPI e se esse tributo federal compõe a base de cálculo do ICMS. Nesse caso, é necessário avaliar o destino da mercadoria, aplicando-se o inciso X, do parágrafo 2º do Artigo 155 da CF: XI - não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos dois impostos 11 Dizendo de outro modo: IPI não comporá a base de cálculo do ICMS no caso de circulação de mercadoria industrializada pelo fornecedor, cujo destinatário seja contribuinte e tenha adquirido a mercadoria para revenda ou industrialização. Graficamente: 12 Vamos exemplificar o cálculo nessas duas hipóteses: Trata-se de uma operação em que incide ICMS e IPI, realizada entre contribuintes do ICMS, cuja mercadoria será destinada para revenda ou industrialização. Portanto, o IPI não compõe a base de cálculo do ICMS. Custo da mercadoria + margem de lucro R$ 100,00 Alíquota do ICMS 18% (1 (100% do preço) – 0,18 (alíquota)) 0,82 Base de cálculo = R$ 100,00: 0,82 = R$ 121,95 x 18% 21,95 ICMS DEVIDO R$ 21,95 Trata-se de uma operação em que incide ICMS e IPI, realizada entre contribuintes do ICMS, contudo, a mercadoria não será destinada para revenda ou industrialização. Portanto, o IPI não compõe a base de cálculo do ICMS. Custo da mercadoria + margem de lucro R$ 100,00 Alíquota do ICMS = (IPI x ICMS) + (ICMS) - Alíquota do ICMS = (0,10 x 0,18) + (0,18) 19,8% (1 (100% do preço) – 0,198 (alíquota) 0,802 Base de cálculo = R$ 100,00 : 0,802 = R$ 124,68 x 19,8% 24,68 ICMS DEVIDO R$ 24,68 5. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ICMS X ISS Situação controversa está relacionada com eventual conflito de competência entre Estados e Municípios, relacionados aos casos em que o fornecimento de mercadoria está atrelado ao fornecimento de serviços ou vice-versa. Nesses casos, para definição da competência, regra geral, avaliar os seguintes pontos: 1. Verificar se a prestação do serviço é ou não tributado pelo ISS, consultando a lista de serviços da Lei Complementar 116/03; 2. Caso tributada pelo ISS, a mercadoria não deverá ser tributada pelo ICMS, salvo quando constar expressamente na legislação do ISS que o preço da mercadoria sofrerá incidência do tributo estadual; 3. Se o respectivo serviço não constar da lista do ISS, tanto a mercadoria, como o valor do serviço serão tributados pelo ICMS, conforme dispõe a LC 87/96, art. 12, VIII, “a” e “b”. 13 6. ALÍQUOTAS DO ICMS Limitações ao poder de tributar Tal como ocorre com outros tributos, no caso do ICMS, a competência tributária do Estado também sofre limitações, que visam à proteção do contribuinte. Tais limitações já foram abordadas anteriormente. Contudo, no caso do ICMS há, ainda, dois novos princípios que são aplicados. Quando se trata das alíquotas, temos a aplicação do Princípio da Seletividade. Vejamos: • Seletividade (Artigo 155, § 2º, inciso III da CF): as alíquotas podem ser definidas de acordo com a essencialidade das mercadorias e serviços. Exemplo • ALÍQUOTAS DO ICMS – REGRA GERAL: Produtos Alíquota Supérfluos 25% Comunicação 25% Normais 17% Relevância Social 12% Transporte 12% Primeira Necessidade 7% Bebidas alcóolicas Farinha de trigo 14 • ALÍQUOTAS INTERNAS E INTERESTADUAIS – QUADRO RESUMO: Obs.: sujeito a alterações de alíquotas. Sempre consultar para confirmação da alíquota do momento. • ALÍQUOTAS INTERESTADUAIS: • ALÍQUOTAS INTERESTADUAIS: 15 • ALÍQUOTAS INTERESTADUAIS: Vendas realizadas para outro Estado: COMO ERA: • Para contribuinte do ICMS: alíquota interestadual no estado de origem e diferencial de alíquota no estado de destino. • Para não contribuinte do ICMS: alíquota interna no estado de origem. COMO É: Para contribuinte OU não do ICMS: alíquota interestadual no estado de origem e diferencial de alíquota ao estado de destino, porém aplicado de forma escalonada: I – para o ano de 2015: 20% (vinte por cento) para o estado de destino e 80% (oitenta por cento) para o estado de origem; II – para o ano de 2016: 40% (quarenta por cento) para o estado de destino e 60% (sessenta por cento) para o estado de origem; III – para o ano de 2017: 60% (sessenta por cento) para o estado de destino e 40% (quarenta por cento) para o estado de origem; IV – para o ano de 2018: 80% (oitenta por cento) para o estado de destino e 20% (vinte por cento) para o estado de origem; v – a partir do ano de 2019: 100% (cem por cento) para o estado de destino. Pergunta-se: por que mudou? 16 • A QUESTÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO O comércio eletrônico acarretou queda de arrecadação aos estados “consumidores”. • EXEMPLIFICAÇÃO DE CÁLCULOS - OPERAÇÕES INTERESTADUAIS: Exemplo: São Paulo - Rio de Janeiro - Valor da Nota Fiscal: R$ 10.000,00 - Valor Destacado (pertencente à SP): R$ 1.200,00 (Alíquota de 12%) - Diferencial de ICMS (pertencente ao RJ): R$ 10.000,00 x 19% = R$ 1.900,00 – R$ 1.200,00 = R$ 700,00 (a ser recolhido no RJ) 17 7. DO PRINCÍPIO DA NÃO CUMULATIVIDADE Previsto no Artigo 155, § 2º, inciso I da CF: compensa-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal. Exemplo: 8. CRÉDITO a. A apuração deverá ser registradano Livro de Apuração do ICMS, o qual consolidará as informações contidas nos livros Registro de Entrada e Registro de Saída. • VEDAÇÃO DO CRÉDITO (Artigo 155, 155, § 2°, II, “a” e “b” da CF): A isenção ou não incidência, salvo determinação em contrário da legislação: - Entrada: não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes. - Saída: acarretará a anulação do crédito relativo às 18 operações anteriores. • CRÉDITO DE AQUISIÇÃO DE ATIVO PERMANENTE (Artigo 20 da LC 87/96): É assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica no estabelecimento, inclusive destinada ao seu uso ou consumo, ao ativo permanente, recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação. Não dão direito a crédito as entradas de mercadorias ou utilização de serviços resultantes de operações ou prestações isentas ou não tributadas, ou que se refiram a mercadorias ou serviços alheios a atividade do estabelecimento. • Mercadorias destinadas ao exterior, pode ser tomado crédito em qualquer hipótese, mesmo que isentas as saídas. • CRÉDITO DE AQUISIÇÃO DE ATIVO PERMANENTE (Artigo 20 da LC 87/96): A apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada do bem no estabelecimento. Em caso de venda do bem, os créditos não apropriados não poderão ser aproveitados. Em cada período de apuração do imposto, não será admitido o creditamento em relação à proporção das operações de saídas ou prestações isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações efetuadas no mesmo período: Crédito Total x Saídas não Tributadas = Crédito a ser apropriado • CRÉDITO DE USO E CONSUMO (Artigo 33 da LC 87/96): Art. 33. Na aplicação do Art. 20, observar-se-á o seguinte: I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento, nele entradas a partir de 1º de janeiro de 1998; - a partir de 1º de janeiro de 2000; (LCP nº 92, de 23.12.1997) - a partir de 1o de janeiro de 2003; (LCP nº 99, de 20.12.1999) - a partir de 1o de janeiro de 2007; (Lcp 114, de 16.12.2002) - a partir de 1o de janeiro de 2011; (Lcp nº 122, de 2006) 48 Total de Saídas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp92.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp99.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp114.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp122.htm 19 - a partir de 1o de janeiro de 2020; (Lcp nº 138, de 2010) • CRÉDITO DE SERVIÇO DE TRANSPORTE: Sempre que a circulação de mercadoria gerar tributação do ICMS, a quantia do tributo poderá ser recuperada pelo tomador de serviço a título de crédito. Poderá contratar o serviço de transporte tanto na aquisição de mercadoria, quanto na saída destas. • CRÉDITO DE ENERGIA ELÉTRICA: Somente dará direito a crédito a entrada de energia elétrica no estabelecimento: - quando for objeto de operação de saída de energia elétrica - quando consumida no processo de industrialização - quando seu consumo resultar em operação de saída ou prestação para o exterior, na proporção destas sobre as saídas ou prestações totais - a partir de 1o de janeiro de 2020 nas demais hipóteses Obs.: as empresas industriais que desejem se creditar do ICMS destacado nas notas fiscais de energia elétrica, terão que confeccionar um laudo técnico emitido por um perito para quantificar a energia elétrica consumida nos setores de industrialização (Fonte: Portal Tributário). • CRÉDITO DE COMUNICAÇÃO: Somente dará direito a crédito o recebimento de serviços de comunicação utilizados pelo estabelecimento: - ao qual tenham sido prestados na execução de serviços da mesma natureza - quando sua utilização resultar em operação de saída ou prestação para o exterior, na proporção desta sobre as saídas ou prestações totais - a partir de 1o de janeiro de 2020 nas demais hipóteses http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp138.htm 20 9. O REGIME DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA DO ICMS • SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA: regime pelo qual a responsabilidade pelo ICMS devido em relação às operações ou prestações de serviços é atribuída a outro contribuinte que não praticou o fato gerador do tributo. Compete ao responsável a retenção e recolhimento do tributo. Regime utilizado especialmente com intuito de facilitar a fiscalização. Exemplo: veículos. • SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA PARA FRENTE: quando o substituto paga o ICMS antecipadamente, antes mesmo da ocorrência dos fatos geradores subsequentes. • CONTRIBUINTE SUBSTITUTO: é aquele que a lei atribui de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário. Trata-se de pessoa vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação. Nesse caso, ocorre a exclusão da responsabilidade do contribuinte ou atribui-se a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. No caso do ICMS, a responsabilidade pela retenção e o recolhimento do imposto pode envolver operações antecedentes ou subsequentes, sendo a mais comum a substituição tributária “para frente”. • CONTRIBUINTE SUBSTITUÍDO: é aquele cujo imposto, relativo as suas operações, é retido e recolhido pelo contribuinte substituto. Importante • No caso do ICMS, somente se aplica se houver operações subsequentes, caso contrário, não há substituição tributária. Exemplo: venda de material de uso e consumo não está sujeita à substituição, pois não haverá operação subsequente. • Atenção: há casos em que, em operações interestaduais, paga-se o ICMS-ST ainda que material para destinação final (uso e consumo, ativo imobilizado), desde que o destinatário seja contribuinte. Porém, nesse caso, não é aplicada o MVA, sendo pago apenas o diferencial de alíquota. • Também não se aplica se houver mudança no produto na operação subsequente. Exemplo: industrialização. • Não se aplica na venda para estabelecimento paulista, 21 cuja operação subsequente foi isenta ou não tributada. Ex.: exportação. • Não se aplica na saída para outro estabelecimento do mesmo titular, desde que não varejista. • Não se aplica na saída para estabelecimento em outro estado, salvo se houver protocolo e convênio a respeito. • Deve questionar o destinatário a destinação do produto (documentar). • O ICMS – ST, ao contrário da operação própria, é cobrado por fora. • Consultar, em São Paulo, o anexo 6 do RICMS para saber se determinado produto tem substituição tributária. • Empresas enquadradas no simples sujeitam-se normalmente ao ICMS – ST (atenção ao conceito de Receita para cálculo de imposto devido – DAS). • SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA - Exemplos de produtos (sujeito a alteração): Artefatos de uso doméstico Autopeças Bebidas alcoólicas Bicicletas Brinquedos Cigarro, fumo ou seus sucedâneos Cimento Ferramentas Frutas Instrumentos musicais Lâmpadas elétricas Máquinas e aparelhos mecânicos, elétricos, eletromecânicos e automáticos Materiais de construção e congêneres Materiais elétricos Medicamentos Papel Petróleo, combustíveis ou lubrificantes Pilhas e baterias Pneumáticos e afins Produtos da indústria alimentícia Produtos de colchoaria Produtos de higiene pessoal Produtos de limpeza Produtos de papelaria Produtos de perfumaria Produtos eletrônicos, eletroeletrônicos e eletrodomésticos Produtos fonográficos Ração animal Das operações com refrigerante, cerveja, inclusive chope e água Sorvete Tintas e vernizes Veículos Veículos de duas rodas 22 • BASE DE CÁLCULO DO ICMS - ST: BASE DE CÁLCULO Valor da Mercadoria (+) Frete (+) IPI (+) Outras Despesas (x) Margem de Lucro (MVA) • CÁLCULO DO VALOR DEVIDO DO ICMS - ST: VALOR DEVIDO ICMS – ST Base de Cálculo (x) Alíquota ICMS (=)Valor Total (-) ICMS Operação Própria (=) ICMS ST a Recolher • SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA - MVA: a margem de valor agregado, que é determinada de acordo com preços usualmente praticados pelo mercado. É divulgado por cada Estado. No caso de operação interestadual, o MVA é divulgado por Convênio ou Protocolo. Exemplo: 23 10. RESUMO DA CONTABILIZAÇÃO DOS TRIBUTOS SOBRE RECEITA 24 25 26 27 28 INDICAÇÕES DE LEITURA PEGAS, Paulo Henrique. Manual de Contabilidade Tributária. 9ª edição. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 177 - 207. ANIS; Kfouri Jr. Curso de Direito Tributário. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2016. pp. 446 - 467. KIYOSHI, Harada. ICMS: doutrina e prática. 1ª edição. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 195 - 203. FABRETTI, Láudio Camargo. Contabilidade Tributária. 16ª. edição. São Paulo: Atlas, 2017. pp. 193 - 204. 29 © FIPECAFI - Todos os direitos reservados. A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons, vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções, transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento prévio e formal da FIPECAFI. CRÉDITOS Coordenação Educacional: Samuel Durso e Luciana Machado Autoria: Fabio Silva Supervisão Geral: Juliana Nascimento Design Instrucional: Patricia Brasil Design Gráfico e Diagramação: Aline Silva Captação e Produção de Mídias: Erika Alves Revisão de Texto: Patricia Brasil eLearning Prof. Fabio Silva LEGISLAÇÃO E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 2 IPI – IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS 3 SUMÁRIO 1. Introdução e contexto histórico 2. Fato gerador 3. Base de cálculo 4. Alíquotas, sujeito ativo e sujeito passivo 5. Crédito presumido de IPI 6. Interdependência 7. Conflito de competência entre IPI e ISS 8. Cálculo do IPI 9. Contabilização do IPI 4 1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO O IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados é um tributo de competência federal, disposto no artigo 153, inciso IV da Constituição Federal. O CTN, igualmente, dispõe o IPI, por meio dos artigos 46 e seguintes. Conceitualmente, o IPI é considerado um imposto com características extrafiscais. Vale dizer que, muito embora preste-se para arrecadação tributária, também é utilizado como mecanismo de regulação econômica, sendo utilizado pelo Poder Executivo para intervir na economia quando necessário. Em razão dessa extrafiscalidade, o princípio da legalidade não se aplica integralmente ao IPI, ou seja, ele é mitigado. Em outras palavras, muito embora o tributo seja instituído por lei, o chefe do Poder Executivo pode, por meio de decreto, alterar as alíquotas do tributo, conforme os interesses nacionais (§ 1º do art. 153 da CF). Da mesma forma, a ele não se aplica o princípio da anterioridade anual, mas apenas o princípio da anterioridade nonagesimal (noventena), não sendo necessário aguardar o primeiro dia do ano seguinte para a vigência das alterações nas alíquotas, mas sim 90 dias. O § 3º do artigo 153 da CF traz as principais características do imposto, que abaixo analisaremos: I – SERÁ SELETIVO, EM FUNÇÃO DA ESSENCIALIDADE DO PRODUTO As alíquotas do IPI devem ser estabelecidas de acordo com a essencialidade do produto, de modo que aqueles considerados mais essenciais para a população devem possuir alíquotas menores quando comparados àqueles que são considerados supérfluos. Assim, por exemplo, podemos mencionar a água mineral, cuja alíquota do IPI é de 5%, ao passo que a do cigarro é de 300%. Outro exemplo: 5 II – SERÁ NÃO CUMULATIVO, COMPENSANDO-SE O QUE FOR DEVIDO EM CADA OPERAÇÃO COM O MONTANTE COBRADO NAS ANTERIORES Já abordamos a não cumulatividade no material de ICMS, de modo que nos remetemos aos conceitos ali estudados. Vale mencionar, contudo, que, no caso do IPI, as polêmicas a respeito dos créditos do tributo são menores do que ocorre com o imposto estadual. Isso se dá – justamente pelo fato do IPI ser um imposto federal, evitando as discussões que são comuns no caso do ICMS – em razão de operações interestaduais. Ademais, no caso do IPI, os créditos garantidos são aqueles advindos da aquisição de insumos para a produção, assim considerados MP – Matérias-Primas, PI – Produtos Intermediário e ME – Material de Embalagem que se integrem ao processo de produção da empresa. Portanto, máquinas e equipamentos, ainda que utilizados na produção, não dão direito à crédito, ao contrário do que ocorre no ICMS. Exemplificando: No caso de remanescer saldo credor, após efetuada a compensação, será adotado o seguinte procedimento: I - o saldo credor remanescente de cada período de apuração será transferido para o período de apuração subsequente; II - ao final de cada trimestre-calendário, permanecendo 6 saldo credor, esse poderá ser utilizado para ressarcimento ou compensação, na forma da INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1717, DE 17 DE JULHO DE 2017. Importante observar que deverão ser estornados os créditos originários de aquisição de MP, PI e ME, quando destinados à fabricação de produtos não tributados (NT). Os contribuintes poderão também se creditar do imposto relativo à matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem, adquiridos de comerciante atacadista não contribuinte, calculado pelo adquirente, mediante aplicação da alíquota a que estiver sujeito o produto, sobre cinquenta por cento do seu valor, constante da respectiva nota fiscal. Vejamos: III – NÃO INCIDIRÁ SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS DESTINADOS AO EXTERIOR Regra geral, quando se trata de comércio exterior, vigora o princípio do destino. Equivale dizer que a exportação é desonerada, sendo que a tributação incide no destino da mercadoria. No caso do IPI, a Constituição Federal expressamente prevê a desoneração do tributo na venda de produtos destinada ao exterior. Muito importante ressaltar que, nessas hipóteses, os créditos referentes aos insumos adquiridos são mantidos pela empresa, que pode utilizá-los para compensar com débitos de IPI ou outros tributos administrados pela Receita Federal. IV – TERÁ REDUZIDO SEU IMPACTO SOBRE A AQUISIÇÃO DE BENS DE CAPITAL PELO CONTRIBUINTE DO IMPOSTO, NA FORMA DA LEI Acima, mencionamos que a aquisição de máquinas e equipamentos não dá direito à crédito do tributo. Contudo, a Constituição expressamente prevê que a legislação irá dispor sobre a redução do impacto do IPI na aquisição de bens de capital. Por esse motivo, muitos equipamentos 7 possuem alíquota zero ou alíquota reduzida, incentivando a renovação do parque industrial das empresas e, como consequência, a produção. 2. FATO GERADOR O CTN, em seu artigo 46, define que o fato gerador do IPI é: • O desembaraço aduaneiro do produto importado; • A saída do produto industrializado do estabelecimento do importador, do industrial, do comerciante quando equiparado ao produtor; • A arrematação de produto apreendido ou abandonado levado a leilão. Analisando mais detidamente a redação do CTN, observamos que o código identifica o momento (aspecto temporal) que considera ocorrido o fato geral. Porém, o RIPI – Regulamento do IPI (Decreto nº 7.212/2010), dispõe no artigo 4º sobre o critério material, ou seja, aquilo que caracteriza o fato gerador do tributo. Vejamos: Art. 4o Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para 8 consumo, tal como: I - a que, exercida sobre matérias-primas ou produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova (transformação); II - a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma,
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