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SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO INTRODUÇÃO ▪ O sistema respiratório costuma ser dividido em trato respiratório superior (compartimento nasofaríngeo) e trato respiratório inferior (com os compartimentos traqueobrônquico e alveolar). ▪ A estrutura que marca a divisão de ambas as partes é a glote. ▪ Vias respiratórias superiores: fossas nasais, nasofaringe, orofaringe e laringe. o Estas vias, além de servirem como conduto aéreo, desempenham um papel de condicionador do ar inspirado, fazendo com que ele chegue aos locais das trocas gasosas numa temperatura de aproximadamente 37ºC. ▪ Vias respiratórias inferiores: compreendem a traqueia e a árvore brônquica ou ductos alveolares e alvéolos. o A traqueia localiza-se anteriormente ao esôfago e se bifurca, em nível da 4ª vértebra torácica (nível correspondente ao ângulo de Louis ou sínfise manúbrio-esternal), dando origem aos dois brônquios principais, um direito (mas vertical, menor e mais calibroso) e um esquerdo (mais horizontal, maior e menos calibroso). o O esporão formado por essa divisão é chamado de carina da traqueia. o Cada brônquio principal se divide em brônquios secundários que correspondem a cada lobo do pulmão (3 lobos no direito e 2 no esquerdo). ▪ Os pulmões são dois órgãos aéreos de parênquima elástico localizados nas cavidades pulmonares, bilateralmente ao mediastino. ▪ O pulmão direito apresenta 3 lobos (superior, médio e inferior) e o esquerdo, 2 lobos (superior e inferior). ▪ Cada lobo é dividido em segmentos menores: os segmentos bronco pulmonares, que apresentam forma piramidal, com a base voltada para a periferia e o vértice para o hilo. ▪ A pleura é uma estrutura única e contínua com dois folhetos. o O folheto parietal reveste a face interna da parede torácica aderindo-se aos arcos costais, graças a um tecido músculo-ligamentoso (fáscia endotorácica). o Chegando ao hilo, reflete-se sobre si mesma (pleura mediastínica) fixando-se ao pulmão, quando adquire, então, o nome de pleura ou folheto visceral. o Este folheto insinua-se entre os lobos formando as cissuras. o O espaço entre os dois folhetos pleurais é virtual e é banhado por uma serosidade num ambiente de pressão negativa. ▪ OBS1: Circulação pulmonar: A circulação pulmonar compõe-se de dois sistemas: a grande (circulação geral, realizada pela artéria pulmonar) e pequena circulação (circulação própria, realizada pelas artérias brônquicas). o A artéria pulmonar conduz sangue venoso do ventrículo direito aos capilares alveolares. o As artérias brônquicas são ramos diretos da aorta torácica e responsáveis pela nutrição dos pulmões, especialmente em suas porções mais centrais. RESPIRAÇÃO ▪ A respiração compreende quatro processos, cuja finalidade é a transferência de O2 do exterior até o nível celular e a eliminação de CO2, transportado no sentido inverso: ▪ Ventilação pulmonar: a ventilação pulmonar tem por objetivo levar o ar até os alvéolos, distribuindo- o adequadamente; ▪ Trocas gasosas: por diferença de pressão parcial dos gases envolvidos (O2 e CO2), no alvéolo e no sangue, ocorre a passagem dos mesmos através da membrana alvéolo-capilar. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ Transporte sanguíneo dos gases: a circulação sistêmica promove a distribuição periférica do oxigênio e a extração do CO2, havendo a participação de múltiplos mecanismos, tais como captação de O2 pela hemoglobina, sistema tampões, além de outros. ▪ Respiração celular: é a etapa terminal de todo o processo e sua finalidade maior. VENTILAÇÃO ▪ É o processo pelo qual o ar chega até os alvéolos, distribuindo-se adequadamente, para que possa entrar em contato com os capilares pulmonares, onde se farão as trocas gasosas. ▪ A ventilação ocorre por ação da musculatura respiratória, que para isso, contraem de forma adequada e coordenada, de modo a aumentar ou reduzir o volume da cavidade torácica. ▪ A inspiração é um processo ativo que depende fundamentalmente da contração do diafragma e de outros músculos denominados acessórios: intercostais externos, paraesternais, escalenos, esternocleidomastoideo, trapézios, peitorais e os músculos abdominais. ▪ A expiração é passiva, realizada pela força de retração elástica dos pulmões pelo relaxamento dos músculos inspiratórios; ▪ A ventilação normalmente é mantida sob o controle dos centros respiratórios no bulbo. Diferentes doenças podem afetar a ventilação à medida que: o Aumentem a carga de trabalho dos músculos respiratórios repentinamente (Ex: asma brônquica aguda); o Aumentem o trabalho da respiração pela obstrução ao fluxo de ar (Ex: doença pulmonar obstrutiva crônica); o Doenças neuromusculares em que as funções dos músculos respiratórios estivessem comprometidas (Ex:poliomielite; Guillain-Barré, miastenia grave) RELAÇÃO VENTILAÇÃO/PERFUSÃO ▪ Em um indivíduo normal, na posição ortostática, encontra-se predomínio de perfusão sanguínea nas bases pulmonares, que diminui gradativamente em direção aos ápices. ▪ Assim como a perfusão, a ventilação também não é uniforme, havendo evidências de ser menor nos alvéolos dos ápices do que nas bases pulmonares. ▪ As alterações da relação ventilação/perfusão podem ser: o Efeito shunt: o alvéolo está hipoventilado e normalmente perfundido. o Shunt: o alvéolo não está ventilado, mas continua perfundido. o Efeito espaço-morto: seria o volume de ar alveolar que não participa das trocas gasosas na hipoperfusão do alvéolo, que, no entanto, está normoventilado. o Espaço-morto: alvéolo não-perfundido, porém ventilado. ▪ A soma do espaço-morto anatômico com o efeito espaço-morto e o espaço-morto alveolar e denominada espaço-morto fisiológico, este representando o volume de ar que inspiramos, mas que não participa de trocas gasosas. DIFUSÃO ▪ Difusão é um mecanismo pelo qual um gás se movimenta de uma região para outra. ▪ É um processo passivo, pois os gases respiratórios difundem-se de regiões de pressões mais altas para regiões com pressões mais baixas. ▪ O mecanismo da difusão está deficiente em pulmões enfermos; SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ANATOMIA CLÍNICA ▪ O estudo da anatomia clínica pulmonar inclui a projeção dos pulmões na parede do tórax, a determinação de linhas e a delimitação de regiões torácicas. PROJEÇÃO DOS PULMÕES NA PAREDE TORÁCICA ▪ Os ápices pulmonares ultrapassam de 3 a 4 cm a borda superior das clavículas, alcançado assim, a raiz do pescoço. ▪ O volume do ápice direito é ligeiramente menor que o do esquerdo e está mais próximo da traqueia. ▪ Há alguns pontos de referência no tórax que merecem ser assinalados: ▪ Ângulo de Louis: constituído por uma saliência transversal que se nota na junção do manúbrio do esterno como corpo do esterno, correspondente à articulação da 2ª costela. o No dorso, o ângulo de Louis projeta-se na altura da 4ª vértebra torácica. ▪ Ângulo de Charpy (ângulo epigástrico): formado pelas duas rebordas costais, servindo para caracterizar o biótipo. o Corresponde ao encontro das costelas inferiores com a porção inferior do corpo do osso esterno. ▪ Vértebra proeminente: eminência cutânea na face inferior do dorso do pescoço produzida pelo processo espinhoso da 7ª vértebra cervical. o Marca o local em que os ápices pulmonares se projetam na parede torácica. ▪ A contagem das costelas e dos espaços intercostais faz-se de cima pra baixo, seguindo-se a linha paraesternal. ▪ Como o ângulo de Loius sempre corresponde à 2ª costela, logo abaixo dele está o 2º espaço intercostal. ▪ Além desta referência, como a primeiracostela e o 1º espaço intercostal são encobertos pela clavícula, o 2º espaço intercostal situa-se logo abaixo da clavícula. LINHAS TORÁCIAS VERTICAIS ▪ Excetuando-se a linha médio-esternal e a linha médio-espinhal ou espondileia, todas as outras são duplas, havendo uma em cada hemitórax: ▪ Linha médio-esternal: traçada no plano mediano, no meio do esterno, dividindo os dois hemitórax; ▪ Linha esternal: direita e esquerda, que tangencia as bordas do osso esterno. ▪ Linha paraesternal: é equidistante entre a linha esternal e a hemiclavicular; ▪ Linha hemiclavicular: também denominada linha mamilar, é a vertical traçada a partir do ponto médio da clavícula; ▪ Linha axilar anterior: seu ponto mais alto localiza- se na prega anterior da axila, separando a região anterior do tórax das regiões laterais; ▪ Linha axilar média: vertical equidistante entre as linhas axilares anteriores e posteriores; ▪ Linha axilar posterior: seu ponto mais alto localiza-se na prega posterior da axila. Separa as regiões laterais do tórax da região posterior; ▪ Linha escapular: é a linha que acompanha a borda medial da escápula, estando o paciente com os membros superiores pendentes. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ Linha paravertebral: é a tangente à borda lateral das vértebras; ▪ Linha espondileia (linha vertebral ou médio espinhal): passa pelos processos espinhosos das vértebras dorsais. HORIZONTAIS ▪ Linhas claviculares superiores: correspondem às bordas superiores das clavículas; ▪ Linhas claviculares inferiores: correspondem às bordas inferiores das clavículas; ▪ Linhas das terceiras articulações condroesternais: linhas horizontais que passam pelas sextas articulações condroesternais, direita e esquerda; ▪ Linha escapular superior: tangencia a borda superior da escápula. REGIÕES DO TÓRAX ▪ Anterior: o região supraclavicular; o região clavicular; o região infraclavicular; o região mamaria; o região inframamária; o região supra-esternal; o região esternalsuperior; o região esternal inferior. ▪ Lateral: o região axilar; o região infra-axilar; ▪ Posterior: o região supra-escapular; o região supra-espinhal; o região infra-espinhal; o região interescapulovertebral; o região infra-escapular; ANAMNESE ▪ A anamnese é a parte mais importante da observação clínica. ▪ O examinador obtém informações dos sintomas apresentados pelo paciente e em algumas oportunidades, com a precisa coleta de dados e a ajuda do exame físico, pode estabelecer o diagnóstico da doença sem a necessidade de exames complementares. ▪ Durante a anamnese, deve-se evitar citar diagnósticos (exceção aos antecedentes), porque o paciente pode ter sido erroneamente rotulado como portador de alguma doença por informações equivocada prévia e isso pode levar a um falso raciocínio para a elucidação diagnóstica. ▪ A anamnese deve ter o seguinte roteiro: IDENTIFICAÇÃO ▪ A identificação possui múltiplos interesses. O primeiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente. ▪ Saber o nome de uma paciente é indispensável para que se comece um processo de comunicação em nível afetivo. ▪ São obrigatórios os seguintes interesses: ▪ “Nome, idade, sexo, cor (raça: branca, parda, preta), estado civil, profissão (atual e anteriores), local de trabalho, naturalidade, residência. Data da internação, enfermaria, leito, Hospital.” ▪ Cada um dos itens da identificação tem o seu devido valor semiológico. ▪ A idade, por exemplo, é fundamental na história clínica para diferenciarmos um paciente que se queixa de chiado, o qual pode ser portador de asma (se for um jovem) ou um DPOC (para pacientes mais idosos). ▪ O sexo pode interferir até mesmo no conhecimento dos hábitos de vida do paciente. Se uma mulher SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO fuma a mesma quantidade de cigarros que um homem ao longo de sua vida, ela terá um risco de desenvolver DPOC muito maior do que ele. QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO ▪ Trata-se de um registro objetivo e simples do principal sintoma que fez com que o paciente procurasse o médico. ▪ Este sintoma pode ser relatado com as próprias palavras do paciente, sendo importante a descrição da duração desta queixa. ▪ A partir daí, será desenvolvida a cronologia desses sintomas, com a construção da terceira parte da anamnese. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA) ▪ Esta fase é fundamental na observação clínica. Os sintomas devem ser obtidos nos mínimos detalhes. ▪ Para se obter uma HDA simples, deve-se lembrar de algumas regras fundamentais a seguir: o Determine o sintoma-guia; o Explore: início do sintoma (época, modo, causa desencadeante), duração, características do sintoma na época em que teve início (caráter do sintoma; localização corporal e irradiação; intensidade; fatores desencadeantes, de piora ou de melhora; relação da queixa com funções do organismo), evolução, repercussões do problema sobre a vida do paciente, relação com outras queixas, situação do sintoma no momento atual; o Use o sintoma-guia como fio condutor da história e estabeleça as relações das outras queixas com ele. Use a ordem cronológica; o As perguntas formuladas devem ser simples, acessíveis e de acordo com o nível cultural de cada doente; o As informações prestadas devem ser transcritas preferentemente em termos técnicos(médicos), mas, em certas ocasiões, será lícito transcrever para a HDA as palavras leigas (entre aspas), especialmente se elas referirem a um sintoma permanentemente enfatizado pelo paciente; o Anote também nomes e resultados de exames laboratoriais realizados no decurso da doença; o Quando possível, permita que o paciente conte sua história como deseja e saliente os aspectos que ele considera importante. Evite perguntas sugestivas, que fornecem as respostas para as perguntas. A história deve ser narrada pelo próprio doente, sempre que possível, ou por intermédio de um responsável, no caso de doentes impossibilitados de falar, fato esse que deverá ser anotado. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO ▪ Nesta parte da observação clínica, que complementa a HDA, é feito um interrogatório sistemático em busca de possíveis sintomas que não foram nela diretamente localizados. ▪ É um interrogatório dirigido, indagando-se sobre sintomas e sinais mais frequentes em cada um dos sistemas. ▪ Nas doenças do aparelho respiratório, os principais a serem pesquisados são: tosse, chiado (sibilância), dispneia, dor torácica, expectoração, rouquidão, hemoptise e vômica. TOSSE ▪ A tosse é o mais importante e o mais frequente sinal respiratório. ▪ A tosse define-se como um mecanismo que envolve uma inspiração rápida e profunda, seguida do fechamento da glote, contração dos músculos expiratórios, terminando com uma expiração forçada, após abertura súbita da glote. ▪ A tosse consiste em um mecanismo de reflexo de defesa das vias respiratórias, as quais reagem aos irritantes ou procuram eliminar secreções anormais, sempre com o objetivo de manter permeáveis. ▪ Contudo, pode tornar-se nociva ao sistema respiratório, em virtude do aumento da pressão na árvore brônquica, que culmina na distensão dos septos alveolares. ▪ A tosse resulta de estimulação dos receptores da mucosa das vias respiratórias. Tais estímulos podem ser de natureza inflamatória (hiperemia, edema, secreções e ulcerações), mecânica (poeira, corpo estranho, aumento ou diminuição da pressão pleural como ocorre nos derrames e nas atelectasias), químicas (gases irritantes) e térmica (frio ou calor excessivo). SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIOMILENA BAVARESCO ▪ As principais patologias que causam tosse são: asma, refluxo gastroesofágico, bronquites, pneumonias, medicamentos (inibidores da ECA), adenoides, faringites, laringites, ▪ Quanto aos seus mecanismos, sabe-se que as vias aferentes partem das zonas tussígenas indo até o bulbo, mediadas por fibras aferentes viscerais gerais do nervo vago. ▪ Este estímulo é carreado até o centro da tosse, bulbo, de onde partem fibras que estimulam os núcleos e os nervos que promovem o componente eferente deste mecanismo: os estímulos dirigem-se à glote e aos músculos expiratórios via nervo laríngeo recorrente (responsável pelo fechamento da glote), pelo nervo frênico e pelos nervos que inervam os músculos expiratórios. ▪ Semiologicamente, deve-se avaliar a tosse por meio dos seguintes parâmetros: o Frequência; o Intensidade; o Duração (aguda ou crônica); o Tonalidade; o Presença ou não de expectoração (seca ou úmida); o Relações como decúbito; o Período do dia em que é maior sua intensidade (diurno, noturno ou diuturno); o Fenômenos que acompanham: vômito (por compressão gástrica e/ou excitação do centro bulbar do vômito) tonturas e síncopes (nas crises de tosse, por diminuição do fluxo sanguíneo cerebral). ▪ A tosse pode ser classificada por meio dos seguintes pontos: ▪ Duração: o Aguda: menor que 3 semanas; o Crônica: maior que 3 semanas. ▪ Produção de secreção: o Seca: quando não apresenta secreção. É inútil e maléfica, causando apenas irritação das vias respiratórias. Têm como causas mais frequentes as doenças pleurais, traqueítes, insuficiência cardíaca e asma brônquica. Pode ser provocada ainda por medicamentos inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA); o Produtiva ou úmida: acompanhada de secreção, não devendo nesses casos ser combatida com medicamentos, por ter um papel de defesa. O catarro pode ser formado como resposta a qualquer agressão feita à mucosa brônquica por agente físico, químico ou infeccioso. Na análise da expectoração, é importante saber: quantidade, aspecto, cheiro, presença de vômica e/ou hemoptise. A toalete brônquica matinal é a eliminação frequente de grande quantidade de catarro pela manhã e pode ocorrer, por exemplo, em bronquiectasias e bronquite crônica. ❖ OBS2:Outros tipos de tosse: ▪ Tosse-síncope: após crise intensa de tosse, resulta na perda de consciência; ▪ Tosse bitonal: deve-se a paresia ou paralisia de alguma das pregas vocais, que pode significar comprometimento do nervo laríngeo recorrente. ▪ Tosse rouca: é própria da laringite crônica, comum nos fumantes; ▪ Tosse reprimida: é aquele que o paciente evita, em razão da dor torácica ou abdominal que ela provoca, como acontece no início das pleuropneumopatias. CHIADO OU SIBILÂNCIA ▪ Som musical semelhante a um “miado de gato”, também conhecido como sibilância, que é ouvido durante a respiração e ocorre nas obstruções de traqueia, nos broncoespasmos, nos edemas ou na obstrução de vias aéreas; ▪ É uma importante informação, que deve ser automaticamente interrogada quando o paciente referir dispneia, com ou sem tosse, ou situações de desconforto respiratório. ▪ Variações do chiado podem ocorrer, como, por exemplo, a cornagem, decorrente de uma dificuldade inspiratória provocada pela diminuição do calibre das vias respiratórias na altura da laringe e que se manifesta como um ruído, estridor, referido pelo paciente como um “guincho”, podendo ser permanente ou episódico. ▪ As principais causas de sibilância são asma, DPOC, bronquite aguda e crônica, congestão pulmonar. Atente que: “nem tudo que sibila é asma; nem toda asma, sibila!” EXPECTORAÇÃO ▪ Na maioria das vezes, a expectoração costuma ser consequência da tosse classificada como produtiva. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ As características semiológicas da expectoração que devem ser avaliadas são: ▪ Volume; ▪ Cor (quando amarelarada, sugere infecção bacteriana; quando de aspecto mucoide, origem alérgica; quando serosa, sugere origem viral; com sangue, sugere fatores associados como tuberculose); ▪ Odor (infecções por bactérias anaeróbias geram escarros com odor pútrido e coloração escura, por exemplo); ▪ Transparência; Consistência; ▪ A expectoração na tuberculose pulmonar, na maioria das vezes, contém sangue desde o início da doença. ▪ Costuma ser francamente purulenta, com aspecto numular, inodora e aderindo às paredes do recipiente. ▪ No início das pneumonias bacterianas, não existe expectoração ou ela é discreta. Após algumas horas ou dias, surge uma secreção abundante, amarelo-esverdeada, pegajosa e densa. ▪ Nesta fase, pode aparecer escarro hemoptoico vermelho-vivo ou cor de tijolo. ▪ Nas pneumonias por bacilos Gram-negativos, a expectoração adquire aspecto de geleia de chocolate; DOR TORÁCICA ▪ A dor torácica é um importante sintoma que frequentemente leva o paciente ao médico. ▪ Pode ser ou não acompanhada de outras manifestações respiratórias. ▪ O parênquima pulmonar e a pleura visceral não transmitem sensações dolorosas para o cérebro, mas a pleura parietal, sim. ▪ A dor pode ser referida ou irradiada, proveniente de um órgão não-torácico. ▪ Quando o paciente é capaz de descrever bem uma dor, está contribuindo com uma preciosa informação diagnóstica. ▪ Os aspectos semiológicos a serem avaliados quanto à dor torácica são: o Localização; irradiação; Qualidade; Intensidade; Duração; Evolução; Fatores desencadeantes, agravantes e de melhora; Manifestações concomitantes. ▪ As causas mais frequentes de dor torácica são: o Parede torácica: muscular, óssea, nevrálgica (como na herpes zoster), etc.; o Mediastinal: miocárdio, pericárdio, tumores, pneumomediastino, etc.; o Pleuropulmonar: pleuris, pneumotórax, tumores, pneumonias, etc.; o Digestivas: esofagite, úlceras, colecistite, pancreatite, doença do refluxo; o Psicogênicas; ▪ A isquemia do miocárdio manifestada pelo quadro de angina do peito ou de infarto do miocárdio, as pleurites, as alterações musculoesqueléticas, as disfunções do esôfago e as afecções pericárdicas são as causas mais comuns de dor torácica. ▪ Nas doenças pleuropulmonares, a dor geralmente é desencadeada ou piora com a tosse e a inspiração, não é irradiada, nem sempre o decúbito sobre lado da dor traz alívio e, às vezes, é acompanhada de dispneia, tosse e febre nas infecções; ▪ As pleurites apicais referem dor no pescoço e nos ombros. Na pleurite diafragmática, o paciente não consegue definir com precisão o local da dor, se torácica ou abdominal. ▪ Em muitos casos de pleurite, quando a dor acontece, surge dispneia: é o derrame que se instalou. ▪ A dor no pneumotórax espontâneo benigno dos jovens é inconfundível: súbita, aguda e intensa. O paciente quase sempre a compara a uma punhalada. Acompanha-se de dispneia. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ O infarto pulmonar cortical, parietal ou diafragmático, provoca dor muito parecida com as pleurites e das pneumonias; DISPNEIA ▪ Dispneia é a dificuldade para respirar, de modo que a respiração é feita com esforço ou desconforto, podendo o paciente ter ou não consciência desse estado. ▪ A dispneia, para ser diagnosticada, deve apresentar sinais evidentes como as tiragens, em que o paciente faz tanto esforço para respirar que causa um abaulamento entre os músculos acessórios e entre as costelas. ▪ A dispneia pode ser objetiva (quando há a presença de tiragens) ou subjetiva (quando apenas o paciente relata). ▪ Podemos classificá-la quanto: ▪ Cronologia: o Aguda: asma, doença pulmonar obstrutiva crônica(DPOC) agudizada, pneumonia, pneumotórax, TEP, derrame pleural; o Crônica (mais de 30 dias): uma história detalhada ajuda na investigação das causas: alergias(asma), ricos ocupacionais (silicose, asbestose, asma ocupacional), tabagismo (DPOC), drogas anoréticas (hipertensão pulmonar), contato com pássaros (pneumonia de hipersensibilidade), além de cardiopatias. ▪ Decúbito e esforço: o Dispneia aos grandes esforços, médios esforços e aos pequenos esforços; o Dispneia de repouso: comum na asma; o Ortopneia: dispneia que impede o paciente o paciente de ficar deitado e o obriga a assentar- se ou ficar de pé para obter algum alívio; o Trepopneia: é a dispneia que aparece em determinado decúbito lateral, como acontece nos pacientes com derrame pleural que se deitam sobre o lado são. ▪ A dispneia pode ser desencadeada por esforços (mínimos, pequenos, médios ou grandes), ser paroxística(crises de broncoespasmo), suspirosa (distúrbios neurovegetativos) ou de repouso (doenças pulmonares avançadas, como DPOC, fibroses e tumores). ▪ As causas da dispneia podem ser dividas em atmosféricas, obstrutivas, pleurais, tóraco- musculares, diafragmáticas, teciduais, cardíacas (ICC) ou ligadas ao sistema nervoso central. ▪ Tosse, expectoração e chiado no peito são sintomas que podem diferenciar causas cardíacas de pulmonares. HEMOPTISE ▪ Hemoptise é a eliminação de sangue vermelho vivo, arterializado, pela boca, passando através da glote. ▪ Em outras palavras, é a eliminação de sangue oriundo das vias aéreas. ▪ O sangue pode ser proveniente das vias respiratórias, do parênquima pulmonar, de vasos pulmonares e de outras regiões. ▪ Trata-se de uma importante informação que pode por si só direcionar o diagnóstico para determinadas doenças. ▪ As causas de hemoptise são várias, mas as mais frequentes são: tuberculose pulmonar, bronquiectasias, tumores de pulmão e tromboembolismo pulmonar. ▪ As hemoptises originadas nas artérias brônquicas são em geral maciças, em que o sangue pode ser recente ou não, saturado ou não. Quando o sangue provém de ramos da artéria pulmonar, seu volume costuma ser menor (é o que ocorre nas pneumonias e broncopneumonias); VÔMICA ▪ Vômica é a eliminação não-usual e mais ou menos brusca, através da glote, de uma quantidade abundante de secreção muco-purulenta de odor pútrido. ▪ Pode se única (como ocorre no abscesso pulmonar) ou fracionada (como nas bronquiectasias), proveniente do tórax ou do abdome; ANTECEDENTES PESSOAIS ▪ Um roteiro sistematizado facilita a investigação de eventos passados que possam ajudar no diagnóstico clínico do processo mórbido. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO INVESTIGAÇÃO DA INFÂNCIA E MOLÉSTIAS PRÉVIAS ▪ Condições de nascimento, sintomas respiratórios, infecções, coqueluche, sarampo complicado, traumas e cirurgias devem ser indagadas pelo examinador. ▪ Essas informações podem ser de grande utilidade para estabelecer um diagnóstico clínico. ▪ Devem ser lembrados infecções respiratórias de repetição, tuberculose, pneumotórax, pneumonias, broncoespasmos, cirurgias, traumas, etc. HÁBITOS E VÍCIOSO ▪ principal hábito de vida que deve ser questionado pelo examinador é a prática do tabagismo, que está relacionada a múltiplas doenças pulmonares. ▪ Deve-se questionar a quantidade de cigarros ou maços (que contém 20 cigarros) que o paciente fuma, em média, por dia, a idade do início do vício e, se for o caso, a idade do término do vício. ▪ Mais importante ainda, é a determinação do índice anos-maços; ▪ O alcoolismo leva à desnutrição, que pode ser um fator de risco para a DPOC, infecções, etc. As doenças pulmonares associadas à AIDS tornam necessária uma pesquisa sobre os hábitos sexuais e o uso de drogas ilícitas pelo paciente; ANTECEDENTES OCUPACIONAIS ▪ As exposições intensas e prolongadas a poeira e produtos químicos ocupacionais (vapores, fumaças) podem causar DPOC, assim como poeiras e agentes sensibilizadores no ambiente de trabalho podem causar aumento de hiperresponsividade das vias aéreas, agravando uma asma preexistente ou causando asma ocupacional; PROCEDÊNCIA ▪ Deve-se relatar que se o paciente é proveniente de áreas endêmicas de paracoccidioidomicose, esquistossomose, histoplasmose, entre outras doenças. USO DE MEDICAMENTOS EM AMBIENTE DOMICILIAR ▪ Também devem ser pesquisados, nos antecedentes pessoais, uso de fogão a lenha, presença de poluentes, alérgenos, poeira e animais domésticos, além de medicação de uso crônico ou não. ANTECEDENTES FAMILIARES ▪ Doenças de caráter familiar como asma, DPOC, etc.; além de outras transmitidas por contágio domiciliar, como tuberculose, são importantes informações que complementam a anamnese. EXAME FÍSICO DO TÓRAX ▪ Antes de iniciar o exame físico do tórax, feito pela inspeção, palpação, percussão e ausculta, o médico já deve ter feito o exame físico geral, incluindo o exame da cabeça, do tronco e dos membros, observando eventuais alterações para correlacioná-las com uma afecção pulmonar. ▪ O exame físico ideal deve ser realizado com o paciente com o tórax despido (camisa ou blusa). INSPEÇÃO ▪ A inspeção pode ser avaliada em dois critérios: estática e dinâmica. INSPEÇÃO ESTÁTICA ▪ Corresponde à uma avaliação do tórax do paciente desconsiderando os movimentos respiratórios do mesmo. ▪ Deve-se examinar a forma do tórax e suas anomalias congênitas ou adquiridas, localizadas ou difusas, simétricas ou não. TIPO TORÁCICO ▪ a morfologia do tórax varia conforme o biótipo do paciente (normolíneo, brevilíneo elongilíneo). ▪ O reconhecimento do biótipo é útil por ter uma cerca correlação do aparelho respiratório. ▪ Tipo torácico normal (A): apresenta uma pequena convexidade anteriormente com um dorso mais plano; SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ Tipo torácico globoso (B): presença de abaulamento na região anterior, aumentando o diâmetro anteroposterior do tórax. ▪ É um tipo de padrão morfológico normal para idosos mas que pode representar uma patologia como enfisema ou asma. Também conhecido com tórax em tonel. ▪ Tipo torácico infundibuliforme (C): presença de depressão na região epigástrica (inferior ao processo xifoide), ou seja, no ângulo de Charpy. É também chamado de tórax de sapateiro. Em geral, esta deformidade é de natureza congênita. ▪ Tipo torácico cariniforme (D): é também chamado de peito de pombo, em que o esterno mostra-se mais protruso e evidente. É comum no raquitismo; ▪ Escoliose (E): consiste em um desvio lateral da coluna vertebral. Deve ser anotado o sentido da convexidade da escoliose. ▪ Cifose (F): o tórax cifótico tem como característica principal a curvatura acentuada da coluna dorsal; ▪ Gibosidade (G): é um tipo de cifose bastante acentuada em que a musculatura dorsal apresenta um aspecto grosseiro, determinando corcundas; ▪ Pele: coloração (destacando cianose ou palidez), presença de lesões elementares, grau de hidratação, etc., sempre correlacionando com as doenças pulmonares. ▪ Mamas: formas das mamas (simetria), posição dos mamilos com relação à linha hemiclavicular (verificar simetria), presença de secreções, etc. ▪ Presença de nódulos visíveis: alguns nódulos podem ser característicos de sarcoidose ou tuberculose. ▪ Musculatura: avaliar a hipertrofia, atrofia, simetria. A contratura da musculatura paravertebral torácica unilateral constitui o sinal de Ramond, que denuncia o comprometimento pleural inflamatório homolateral. O sinal de Lemos Torres, caracterizado pelo abaulamento dos espaços intercostais durante a expiração, é sinal fidedignode derrame pleural. ▪ Vasos (circulação colateral): avaliar a presença de vasos evidentes na parede do tórax bem como examinar o trajeto do fluxo deste vaso: crânio caudal ou caudal-cranial. Circulações colaterais resultam de um obstáculo próximo à desembocadura da veia ázigos na veia cava superior. ▪ Abaulamentos (difusos ou localizados): avaliar abaulamentos ósseos ou musculares. ▪ Retrações: aspecto de pele afundada. ▪ Deformidades localizadas: existência de deformidades variadas, comparando-se um hemitórax com ooutro. 2. INSPEÇÃO DINÂMICA: ▪ observam-se os movimentos respiratórios, suas características e alterações; ▪ Expansibilidade: é avaliada observando a expansão da caixa torácica com a entrada de ar durante a inspiração; ▪ Frequência respiratória: deve ser observado o ritmo respiratório do paciente. o Geralmente, o tempo de inspiração é semelhante ao da expiração, apresentando um pequeno intervalo entre ambos. o Em suma, o ritmo respiratório pode ser normal ou anormal. ▪ Tipo respiratório: para o reconhecimento do tipo respiratório, observa-se atentamente a movimentação do tórax e do abdome, com o objetivo de reconhecer em que regiões os movimentos são mais amplos. o Em pessoas sadias, na posição de pé ou sentada, tanto no sexo masculino como no feminino, predomina a respiração torácica ou costal, caracterizada pela movimentação predominantemente da caixa torácica. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO o Na posição deitada, também em ambos os sexos, a respiração é predominantemente diafragmática, prevalecendo a movimentação da metade inferior do tórax e do andar superior do abdome; ▪ Presença de tiragem: durante a inspiração ou condições de normalidade, os espaços intercostais deprimem-se ligeiramente. o Se ocorrer obstrução brônquica, o parênquima correspondente àquele brônquio entra em colapso e a pressão negativa daquela área torna-se ainda maior, provocando assim a retração dos espaços intercostais, fenômeno conhecido como tiragem. o A tiragem pode ser difusa ou o localizada (supraclavicular, infraclavicular, intercostal ou epigástrica). Essas áreas retráteis caracterizam a impossibilidade de o pulmão acompanhar o movimento expansivo da caixa torácica, devido à atelectasia subjacente. PALPAÇÃO ▪ Além de complementar a inspeção, avaliando a mobilidade da caixa torácica, a palpação permite que as lesões superficiais sejam bem examinadas quanto a sua forma, volume e consistência. ▪ Os seguintes parâmetros devem ser avaliados: ▪ Sensibilidade da parede torácica: testando a sensibilidade realizando estímulos dolorosos no paciente. o A sensibilidade superficial e profunda, a dor provocada e espontânea ou qualquer outra manifestação dolorosa relatada pelo paciente devem ser avaliadas pela palpação. ▪ Tonicidade muscular: avaliação do comportamento muscular do tórax do paciente: hipotonia, hipertonia, atrofia, etc. ▪ Elasticidade: a elasticidade é pesquisada com a manobra de Lasègue: nesta o examinador se posiciona obliquamente ou lateralmente ao corpo do paciente e executa compressão forte preferencialmente nas regiões infraclaviculares, podendo ser também nas regiões mamárias, hipocôndrios e infra-escapulares. o A mão predominante, direita, no caso dos destros, é a que aperta e a esquerda (não dominante) serve de a posição para não deslocar o paciente. ▪ Expansibilidade: a expansibilidade é abordada em duas regiões do tórax e dos pulmões: 1) A expansibilidade dos ápices pulmonares é pesquisada com ambas as mãos espalmadas, de modo que as bordas internas toquem a base do pescoço, os polegares apoiem-se paralelamente à coluna vertebral (e se toquem) e os demais dedos nas fossas supraclaviculares; 2) para avaliar a expansibilidade das bases pulmonares, apoiam-se os polegares em contato rente às linhas paravertebrais, enquanto os outros dedos recobrem os últimos arcos costais, abaixo do ângulo inferior da escápula. o Em ambas as manobras, o médico deve ficar atrás do paciente que está em posição sentada, respirando profundamente e pausadamente. o O grau da expansibilidade é estimado a partir do deslocamento dos polegares do pesquisador; ▪ Frêmito toracovocal (FTV): representa a sensação tátil da transmissão da onda mecânica da voz, originada nas cordas vocais durante a fonação, veiculada pela coluna aérea através da traqueia, parênquima pulmonar, pleura, parede e superfície do tórax. o Em outras palavras, corresponde às vibrações das cordas vocais transmitidas à parede torácica. o A sensação tátil será percebida coma face palmar inferior. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO o Os dedos da mão e a face superior palmar deverão ficar suspensos no ar para não abafar a vibração tátil. o Habitualmente o frêmito toraco vocal é um pouco mais intenso do lado direito devido à disposição anatômica do brônquio fonte direito o qual é mais verticalizado e está mais perto da traqueia. o Pede-se, então, para o paciente falar palavras ricas em consoantes, como “trinta e três”. o A técnica deve ser feita alternadamente em cada hemitórax, seguindo a linha médio- esternal de cima para baixo. De um modo geral, pode-se dizer que as afecções pleurais são “antipáticas” ao FTV. o Nas condensações pulmonares, desde que os brônquios estejam permeáveis, o FTV torna-se mais nítido. o Em atelectasias, o FTV está diminuído; ▪ Outras estruturas: deve-se avaliar afecções conferidas a propósito da inspeção por meio, agora da palpação: mamas, pulsações visíveis, abaulamentos, nódulos, edema. PERCUSSÃO ▪ Entende-se por percussão a aplicação de energia à parede torácica e o pulmão de forma intermitente e rítmica diretamente sobre os diversos segmentos pulmonares. ▪ A técnica básica da percussão é a seguinte: com o dedo médio (plessímetro) da mão esquerda, deve- se apoiar a região em que se quer percutir; com o dedo médio da mão direita (plexor), deve-se realizar batidas de intensidade média ou moderadamente forte sobre o dedo médio esquerdo repousado. ▪ O movimento da mão que percute é de flexão e extensão do punho, nunca envolvendo a articulação do cotovelo e muito menos, a do ombro. ▪ Deve-se percutir comparativamente e simetricamente as várias regiões do tórax. Um pequeno intervalo entre duas batidas vai permitir melhor avaliação do som e das vibrações. ▪ Quatro tonalidades de som são obtidas: o Som claro pulmonar, som claro atimpânico ou sonoridade pulmonar nas áreas de projeção dos pulmões (maior parte do tórax). É um som intermediário entre o maciço e timpânico. o Som claro timpânico no espaço de Traube: É um som semelhante à percussão de uma bexiga cheia de ar. Acompanha-se de sensação de elasticidade. o Som submaciço na região inferior do esterno (região em que a língula pulmonar encobre o ventrículo esquerdo). o Som maciço na região infra-mamária direita (macicez hepática) e na região precordial; ▪ Deve-se iniciar a percussão pela face posterior do tórax, decima para baixo, ficando o médico atrás e à esquerda do paciente. ▪ Percute-se cada hemitórax, comparando, imediatamente, os resultados. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO ▪ Deve-se percutir a região dos ápices, os espaços intercostais, a região das bases, regiões axilares e região interescápulo vertebral; ▪ sempre comparando um hemitórax com o outro, mantendo o paciente sentado. ▪ Quando se tenta percutir a área cardíaca, deve-se lembrar de que apenas uma pequena parte do coração se projeta na parede do tórax, de tamanho variável, resultando em som maciço. ▪ A parte emque o ventrículo esquerdo do coração é recoberto pela língula pulmonar, gera um som de submaciez. ▪ As hipertrofia cardíacas, principalmente, do ventrículo direito, fazem com que a submaciez normal dessa área seja substituída por macicez. ▪ A percussão do diafragma permite avaliar sua posição e seu grau de mobilidade. As hérnias do diafragma, ao permitirem a passagem de vísceras ocas para o hemitórax esquerdo (pelo hiato esofagiano, por exemplo), acompanham-se de timpanismo em substituição ao som atimpânico normal. ▪ É no estudo dos derrames pleurais, líquidos ou gasoso que a percussão do tórax fornece os dados mais importantes. ▪ Derrame líquido nas cavidades pleurais livres tende a se localizar nas regiões de maior declive. Por esta razão, quando o paciente estiver sentado, encontra-se macicez na região das bases. ▪ Em casos de pneumotórax, devido a presença de ar no espaço pleural, observa-se som timpânico. ▪ Afecções parenquimatosas, por reduzirem a quantidade de ar nos alvéolos, também provocam macicez: neoplasias periféricas, infarto pulmonar volumoso, pneumonias lobares, cavidades periféricas contendo líquidos (cistos). ▪ Em oposição às afecções que reduzem o conteúdo aéreo do pulmão, estão as que aumentam a quantidade de ar(enfisema, crise de asma, cistos aéreos, escavação pulmonar), provocando hipersonoridade e até mesmo timpanismo. ▪ As principais alterações da percussão são: o Hipersonoridade pulmonar: significa que o som da percussão está mais claro e mais intenso. Hipersonoridade indica aumento de ar nos alvéolos pulmonares. Causa: Enfisema pulmonar e asma o Submacicez e macicez: indicam diminuição ou desaparecimento da sonoridade pulmonar e indicam redução ou inexistência de ar no interior do alvéolo. Causas: derrames pleurais, condensação pulmonar (pneumonia, tuberculose, neoplasias). o Som timpânico: indica ar aprisionado no espaço pleural (pneumotórax) uma grande cavidade intrapulmonar (caverna tuberculosa) ou a presença de uma víscera abdominal no interior do tórax (hérnia diafragmática). AUSCULTA ▪ Com a ajuda do estetoscópio, realiza-se a ausculta, o método semiológico básico no exame físico dos pulmões. ▪ É funcional por excelência e permite a analisar o real funcionamento pulmonar. Para sua realização, exige-se o máximo de silêncio, além de posição cômoda do paciente e do médico. ▪ De início, o examinador deve colocar-se atrás do paciente, que não deve estar em posição ereta, sem forçar movimentos da cabeça ou do tronco. O paciente deve estar com o tórax despido e respirar pausadamente e profundamente, com a boca entreaberta, sem fazer ruído. ▪ Somente depois de uma longa prática, ouvindo-se as variações do murmúrio respiratório normal, é que se pode, com segurança, identificar os ruídos anormais. Auscultam-se as regiões de ambos hemitórax simetricamente. SONS PLEUROPULMONARES SONS RESPIRATÓRIOS NORMAIS ▪ Som traqueal e respiração brônquica: o som traqueal, audível na região de projeção da traqueia, no pescoço e na região esternal, origina-se na passagem do ar através da fenda glótica e na própria traqueia. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO o O inspiratório consiste em um ruído soproso, mais ou menos rude, após o qual há um curto intervalo silencioso que o separa da expiração, em que o som é um pouco mais forte e prolongado. o A respiração brônquica muitos e assemelha ao som traqueal, dela se diferenciando apenas por ter o componente expiratório menos intenso; ▪ Murmúrio vesicular: produzido pela turbulência normal do ar circulante ao chocar-se contra as saliências das bifurcações brônquicas, ao passar por cavidades de tamanhos diferentes, tais como bronquíolos para alvéolos, e vice-versa. o O componente inspiratório é mais intenso, mais duradouro e de tonalidade mais alta em relação ao componente expiratório, que por sua vez, é mais fraco, de duração mais curta e de tonalidade mais baixa (o componente expiratório tende a estar aumentado na asma brônquica e no enfisema, traduzindo a dificuldade de saída do ar). o Não se percebe, diferentemente do que ocorre na respiração traqueal, um intervalo silencioso entre as duas fases da respiração. o Quando se compara o murmúrio vesicular com a respiração brônquica, o primeiro é mais fraco e mais suave. Ausculta-se o murmúrio vesicular em quase todo o tórax, com exceção apenas das regiões esternal superior, interescápulo-vertebral direita e ao nível da 3ª e 4ª vértebras torácicas. o Nestas áreas ouve-se a respiração bronco vesicular. A diminuição do murmúrio vesicular pode resultar de números as causas, entre as quais se ressaltam: presença de ar (pneumotórax), líquido (hidrotórax) ou tecido sólido(espessamento pleural) na cavidade pleural; enfisema pulmonar; obstrução das vias aéreas superiores(espasmo ou edema de glote, obstrução da traqueia); oclusão parcial ou total dos brônquios ou bronquíolos. o Quando normais, relata-se: murmúrios vesiculares presentes e audíveis em ambos hemitórax. o Ele pode, entretanto, estar aumentado, diminuído ou inexistente; ▪ Respiração broncovesicular: somam-se aqui, as características da respiração brônquica com as do murmúrio vesicular. Deste modo, a intensidade da duração da inspiração e da expiração tem igual magnitude; SONS OU RUÍDOS ANORMAIS DESCONTÍNUOS ▪ os sons anormais descontínuos são representados pelos estertores, que são ruídos audíveis na inspiração ou na expiração, superpondo-se aos sons respiratórios normais. ▪ Ruídos estertores finos ou crepitantes: ocorrem no final da inspiração, têm frequência alta, isto é, são agudos, e duração curta. o Não se modificam com a tosse ou com a posição do paciente. Predominam mais na base. o Podem ser comparados ao ruído produzido pelo atrito de um punhado de cabelos junto ao ouvido ou ao som percebido ao se fechar ou abrir um fecho tipo velcro. o Aceita-se atualmente que os estertores finos são produzidos pela abertura sequencial das vias respiratórias (dos alvéolos, principalmente) com presença de líquido ou exsudato no parênquima pulmonar ou por alteração no tecido de suporte das paredes brônquicas. o Os estertores finos são audíveis nos casos de pneumonia, tuberculose e insuficiência cardíaca. o Estas doenças são diferenciadas pela clínica: a pneumonia cursa com febre com cerca de 3 dias de duração; o a tuberculose cursa com febre por mais de 2 semanas; a insuficiência cardíaca não cursa com febre, tem uma história pregressa de hipertensão arterial (geralmente) e acomete as duas bases pulmonares concomitantemente. ▪ Ruídos estertores grossos (bolhosos ou subcrepitantes): tem frequência menor (são mais graves) e maior duração que os finos. SEMIOLOGIA SISTEMA RESPIRATÓRIO MILENA BAVARESCO o Sofrem nítida alteração com a tosse e com a posição do doente (inclusive, podem ser abolidos). o Podem ser ouvidos em todas as regiões do tórax. Diferentemente dos estertores finos (que só ocorrem do meio para o final da inspiração), os ruídos bolhosos são audíveis durante o início da inspiração e durante toda a expiração. o Parecem ter origem na abertura e fechamento de vias aéreas contendo secreção viscosa e espessa, bem como pelo afrouxamento da estrutura de suporte das paredes brônquicas. o Os ruídos bolhosos são audíveis nas bronquites (quando disseminados) e nas bronquiectasias (quando bem localizados). SONS OU RUÍDOS ANORMAIS CONTÍNUOS ▪ são representados pelos roncos, sibilos e estridor e tendem a apresentar-se ao longo de todo ciclo respiratório; ▪ Roncos e Sibilos: os roncos são constituídos por sons graves, portanto, de baixa frequência.o Os sibilos são constituídos por sons agudos, formados por ondas de alta frequência, semelhante a um miado suave de gato. o Originam-se nas vibrações das paredes brônquicas e do conteúdo gasoso quando há estreitamento destes ductos, seja por espasmo ou edema da parede ou presença de secreção aderida a ela, como ocorre na asma brônquica, nas bronquites, nas bronquiectasias e nas obstruções localizadas. o Aparecem na inspiração como na expiração, mas predominam nesta última. São fugazes, multáveis, surgindo e desaparecendo em curto período de tempo. o A sibilância pode estar presente na asma, bronquiectasias, DPOCs e traqueobronquite aguda; ▪ Estridor: som produzido pela semi-obstrução da laringe ou da traqueia; ▪ Sopros: presença de sopro brando é normal na ausculta de certas regiões (7ª vértebra cervical posteriormente, traqueia, região inter-escapular). o Toda via, ocorre em certas situações patológicas, quando, por exemplo, o pulmão perde sua textura normal, como nas pneumonias bacterianas e nos pneumotórax hipertensivos. SOM DE ORIGEM PLEURAL ▪ Atrito pleural: em condições normais, os dois folhetos da pleura deslizam um sobre o outro sem produzir som algum. ▪ Nos casos de pleurite, por se recobrirem de exsudato, passam a produzir um ruído irregular, descontínuo, mais intenso na inspiração, com frequência comparada ao ranger de couro atritado. AUSCULTA DA VOZ ▪ para completar o exame físico dos pulmões, auscultam-se a voz nitidamente pronunciada e a voz cochichada. ▪ Para isto, o paciente vai pronunciando as palavras “trinta e três” enquanto o examinador percorre o tórax com o estetoscópio, comparando regiões homólogas, tal como fez no exame do FTV usando a mão. ▪ Os sons produzidos pela voz na parede torácica constituem o que se chama ressonância vocal, que em condições normais, tanto na voz falada como na cochichada, constitui-se de sons incompreensíveis, isto é, não se distinguem as sílabas que formam as palavras. ▪ Isto ocorre porque o parênquima pulmonar normal não absorve muito componentes sonoros, mas quando está consolidado (pneumonias, infarto pulmonar), a transmissão é facilitada. Toda vez que houver condensação pulmonar (inflamatória, neoplásica ou pericavitária), há aumento da ressonância vocal oubroncofonia. ▪ Ao contrário, na atelectasia, no espessamento pleural e nos derrames, ocorre diminuição da broncofonia. ▪ A ressonância vocal pode estar, portanto: o Normal (não audível); o Diminuída; o Aumentada: pode constituir três variantes: (1) broncofonia, em que ausculta-se a voz sem nitidez; (2) pectorilóquia fônica, em que ausculta-se a voz nitidamente; (3) pectorilóquia afônica, em que ausculta-se a voz mesmo se cochichada.
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