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1 Um treinamento de inteligência emocional como estratégia motivacional na gestão de líderes da administração penitenciária do Estado do Espírito Santo Ana Claudia Schulz da Silva* Resumo A motivação organizacional foi estudada e analisada por diferentes autores e pode- se observar, apesar das diversas propostas de entendimento, uma linha incomum que apresenta ser a motivação o resultado de necessidades internas e externas, sendo isso confirmado pela neurociência. Nesse sentido, esse artigo tem o intuito de organizar as principais abordagens conceituais do assunto, trazendo a importância do investimento nos servidores e colaboradores, a começar pelos líderes das organizações. Além disso, trazer alguns exemplos de estratégias para atenção à qualidade de vida dos trabalhadores que grandes empresas têm utilizado para incentivar e motivar seus funcionários. A partir da realização de revisão de literatura, observou-se que a metodologia de treinamentos demonstra ser uma importante vantagem oferecida pelas organizações, uma vez que possibilita aos funcionários um crescimento intelectual e pessoal, vindo de encontro às necessidades trazidas por ele. Durante esse artigo apresentou-se a experiência oportunizada à servidores públicos que gerenciam o sistema prisional capixaba, que puderam participar gratuitamente de um treinamento de inteligência emocional ofertado pela Febracis, chamado Coaching Integral Sistêmico. E puderam se debruçar em cada área de sua vida, refletindo em maneiras de crescer e contribuir, de forma que olhasse para cada necessidade do indivíduo. A fim de verificar os impactos dessa estratégia de treinamento, faz-se necessário um estudo mais detalhado, observando todas as variáveis possíveis. No entanto, já é possível presumir impactos no serviço público, uma vez que uma liderança motivada e preparada gera automaticamente uma equipe de melhor performance. Palavras – chave: Coaching. Estratégias de incentivo. Liderança. Motivação organizacional. Treinamento. Introdução Sabe-se que o ser humano é motivado pela força interior, seus pensamentos e sentimentos, mas para que essa motivação seja efetiva, são necessários estímulos externos. A motivação é o que impulsiona o comportamento humano na direção de uma determinada ação. Se estímulos externos estiverem presentes, * Master in Business - MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Estácio de Sá; graduada em psicologia; atuante na gestão do serviço de saúde ofertado às pessoas privadas de liberdade do Espírito Santo, com o enfoque na promoção, proteção e recuperação da saúde psicossocial; saudemental.gssp.sejus@gmail.com. mailto:saudemental.gssp.sejus@gmail.com 2 alimentando o que já vem de dentro de cada pessoa, a realização das tarefas acontecerá de forma que o objetivo seja alcançado como planejado. No âmbito profissional, os primeiros estudos, que pensavam a teoria clássica administrativa, entendiam que o que motivava trabalhadores era o dinheiro. Posteriormente, Elton Mayo (1927), com a teoria das relações humanas, mostrou que um funcionário é motivado pela organização mediante a satisfação de suas necessidades, não focalizando o "salário ou benefícios financeiros" como ponto central, mas tratando a remuneração no ciclo motivacional como um componente integrante. Isso demonstra que apenas o salário não é objeto motivacional suficiente para o bom desempenho de um funcionário. Dessa forma, outras estratégias de investimento precisam ser analisadas e aplicadas, de maneira que atinjam todos os níveis de necessidade dos indivíduos que colaboram com o objetivo de uma organização/instituição. A escolha desse tema se deu por uma oportunidade vivenciada por líderes na gestão do Sistema Prisional do Estado do Espírito Santo, que foram convidados para participar de um treinamento de inteligência emocional e possibilitaram resultados tanto na atividade laboral, quanto em outras áreas da vida, de modo que todas as necessidades básicas da existência foram vistas e avaliadas. Hoje muitas organizações privadas buscam motivar seus funcionários com estratégicas de bonificação, premiação, participação em lucro, treinamentos, lazer, ou seja, alguma forma de reconhecimento pelo trabalho efetivo, começando pelo investimento nos próprios líderes, uma vez que o resultado do corpo técnico é diretamente afetado pela sua liderança. Segundo Robbins (2005) ser líder é ser capaz de influenciar um grupo direcionado para o alcance de objetivos incomuns, influenciar o comportamento de uma pessoa ou de um grupo para qualquer finalidade. Essa influência pode ser tanto positiva, quanto negativa. Compreende-se então, que se a liderança for bem preparada, influenciando colaboradores positivamente, gerará melhores resultados da sua equipe. No entanto, essa idealização ainda precisa ser melhor aplicada dentro de instituições públicas que nem sempre projetam claramente os efeitos positivos desse tipo de investimento motivacional no serviço prestado à sociedade. Da mesma forma, apesar do avanço percebido nas empresas privadas com o uso dessas 3 estratégias, essa cultura precisa ser trabalhada constantemente, de forma que resulte em adesão de um número maior de organizações privadas. Nesse sentido, esse artigo propõe abordar da importância existente no investimento motivacional de funcionários/colaboradores/servidores, vinculados tanto a organizações privadas quanto em instituições públicas, utilizando-se de outras possibilidades estratégicas que atinjam necessidades tanto básicas quanto secundárias do indivíduo. A conscientização e o entendimento dessas estratégias, se tomadas pelo maior número de organizações, certamente vai resultar em uma mudança na sociedade como um todo, uma vez que indivíduos motivados apresentam-se satisfeitos, felizes, realizados, não só no trabalho, mas também em todas as áreas da vida, considerando que o ser humano é biopsicossocial e suas partes são indissociáveis. Ademais, conhecendo da existência de cursos/treinamentos que realizam um trabalho integral sistêmico do indivíduo, outras instituições/organizações poderão avaliar a possibilidade de utilização desses como estratégia motivacional, como fez a administração penitenciária do ES. Em direção a tal objetivo, para o desenvolvimento deste artigo, foi utilizada metodologia de revisão de literatura, publicações sobre o assunto e sobre as possibilidades existentes, já utilizadas em algumas organizações/instituições no Brasil, que podem ser multiplicadas. Ainda sim, há um foco na estratégia treinamento, enfatizando a importância de se trabalhar primeiro a liderança, principalmente aspectos da competência emocional dos membros dela. 1 Conceito de motivação Vários foram os estudiosos que analisaram o comportamento humano, suas necessidades básicas, secundárias e fundamentais, com o objetivo de entender o que, de fato, é a motivação. Os registros mostram que um dos primeiros teóricos estudiosos da motivação foi Elton Mayo (1927), que propôs que o comportamento do indivíduo se apoia no comportamento do grupo, e que existem componentes integrantes no ciclo motivacional, considerando necessidades externas e internas. 4 Outros teóricos, como Kurt Lewin (1935) Henry Murray (1938), Abraham Maslow (1954), McClelland (1961), Herzberg (1959), Vroom (1964) e Mc Gregor (1999), propuseram diversas formas de entendimento dessas necessidades. As teorias motivacionais clássicas dividem-se em dois focos principais, um deles orienta a motivação como resultado das necessidades de cada indivíduo e o outro explica que são processos cognitivos que impulsionam o mesmo à realização de algo. 1.1 Teoria das relações humanas - Elton Mayo (1927) Um dos primeiros estudos da motivação para o trabalho ocorreupor volta de 1927, quando Elton Mayo, um cientista social Australiano, professor, se opondo às ideias economicistas, desenvolveu pesquisas na Escola de Administração de Empresas de Hardvard e dirigiu um projeto de pesquisa da fábrica de Hawthorne, dando origem à teoria das relações humanas. Sua abordagem humanista da teoria organizacional contrariou os postulados da época, dando ênfase nas pessoas, ao invés de ênfase na estrutura e nas tarefas. Concluiu que é a capacidade social do trabalhador que estabelece o seu nível de competência e de eficiência, não sua capacidade de executar corretamente os movimentos dentro de um tempo pré- determinado. Nesse sentido, reforçou que o homem social é um ser complexo, que ao mesmo tempo é condicionado pelos sistemas sociais em que se insere e também é motivado a agir por necessidades de ordem biológica e psicossocial; e que os valores orientadores do comportamento de cada indivíduo são, de um lado, derivados das necessidades que constituem a fonte de valores sociais; de outro transmitidos ao indivíduo pelos sistemas sociais que participa. Assim, concluiu-se que motivado pela organização mediante a satisfação de suas necessidades, o indivíduo não focaliza o "salário ou benefícios financeiros" como ponto central, mas a remuneração no ciclo motivacional é um componente integrante. 1.2 Teoria de campo - Kurt Lewin (1935) O conceito dessa teoria traz em palavras simples que o comportamento humano é decorrente da interação com o meio, de forma que cada indivíduo 5 sintetiza de maneira diferente suas vivências ao longo da vida, em razão de uma dinâmica interna que interpreta as coisas, pessoas e situações, de forma particular. Deste modo, o indivíduo não depende somente do passado ou do futuro, mas do espaço de vida que contém pessoas e o seu ambiente psicológico atual. Segundo Chiavenato (1994), o comportamento aqui é resultado de uma interrelação entre os fatos e os eventos, criando um campo dinâmico. Esse campo ou ambiente psicológico corresponde ao que o indivíduo percebe sobre si e sobre o seu ambiente. E é esse ambiente, que relacionado às necessidades do indivíduo, que determina um campo dinâmico de forças psicológicas em direção à algo. Lewin propôs uma combinação de análise topológica e vetorial, mapeando o espaço vital de um indivíduo e o que indica a força dos motivos em seu comportamento. Com isso ele desenvolveu a idéia de que existem situações que trazem valência positiva ao indivíduo, quando podem satisfazer suas necessidades, e trazem valência negativa ao indivíduo, quando sugerem causar algum prejuízo. A valência positiva atrai e a negativa, repele. A atração é a força ou vetor dirigido para a situação, a repulsa é a força ou vetor que o leva a afastar-se. Quando dois ou mais vetores atuam sobre a pessoa ao mesmo tempo, a locomoção é uma espécie de resultado de forças. Então compreendeu-se que a motivação, no sentido psicológico, é a tensão persistente que leva o indivíduo a alguma forma de comportamento visando a satisfação de determinadas necessidades. 1.3 Teoria da Hierarquia das Necessidades – Abraham Marlow (1954) Maslow propôs que as necessidades do ser humano se dividam em 05 grupos e as estruturou de forma piramidal, de maneira que os dois grupos da base continham as necessidades fisiológicas e de segurança, o que ele chamou de primárias e essenciais para a sobrevivência. Posteriormente propôs, na região mediana da pirâmide, a necessidade de pertencimento/social, e no topo a de estima e de realização pessoal. Toarmina & Gao (2013) disseram que, segundo Maslow, as necessidades fisiológicas seriam as mais básicas e primárias, como exemplo fome e sede. Como exemplos de necessidades de segurança, pode-se considerar ter uma casa segura, um emprego, contar com uma figura protetora e contar com estabilidade na vida. 6 As necessidades sociais seriam intermediárias, não sendo fundamentais para sobrevivência dos indivíduos. As necessidades de estima consideram a busca por reconhecimento, afeto, amor e companheirismo. A necessidade de realização pessoal está no topo da pirâmide e nela contém a moralidade, a criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceito e a aceitação dos fatos. Para Maslow, o indivíduo conseguiria atingir uma nova necessidade a partir do momento em que a anterior tivesse sido satisfeita. Ele apresentou as necessidades superiores como motivadoras da conduta humana, sendo elas, as necessidades sociais, de estima e de auto realização. 1.4 Teoria da Motivação pelo êxito e/ou medo – David McClelland (1961) Segundo Clelland, a motivação dos indivíduos resulta de três necessidades: a de realização/conquista, de associação/afiliação/pertencimento e de poder; ou teoria das necessidades adquiridas, necessidades motivacionais e necessidades aprendidas. A primeira está relacionada ao desejo de alcançar metas desafiantes. Pessoas com ênfase nessa necessidade, buscam alta performance nos resultados e gostam de feedbacks. A segunda necessidade está ligada ao desejo de manter relações afetivas com outros indivíduos em busca de aceitação e do sentimento de pertencimento. Essas pessoas valorizam o contato com as pessoas, as relações humanas e costumam agir de acordo com decisões de um grupo. E a terceira é representada pelo desejo de controle, influência, liderança e busca de status. Essas pessoas, no trabalho, buscam cargos que lhe confiram poder de influenciar os outros e o ambiente. Portanto, McClelland defende que independente do nosso sexo todos temos 3 motivadores dominantes e uma delas será o motivador principal, que depende da nossa cultura e experiencia de vida. Em uma organização, o reconhecimento de cada perfil auxilia na administração de incentivos e recompensas. 1.5 Teoria dos dois fatores - Frederick Irving Herzberg (1987) 7 Frederick Herzberg apresentou a Teoria da motivação fatorial, tendo como base o princípio de que existem fatores higiênicos e motivadores, que funcionam de forma independente. Chiavenato (2005) aborda a teoria de Herzberg esclarecendo que para ele a motivação pelos fatores higiênicos se dá pelo contexto do trabalho e os motivacionais se dão pelo cargo, tarefas e atividades relacionadas a esse cargo. Segundo Robbins (2005), Herzberg, com a teoria dos dois fatores, defende que estímulos de insatisfação se eliminados pela organização podem apaziguar os colaboradores, mas não necessariamente trazem satisfação. Nesse sentido, o fato de pessoas não estarem insatisfeitas, não quer dizer que estejam satisfeitas. Os fatores higiênicos, diz respeito aos fatores externos e extrínsecos ao trabalho, que são variáveis quanto á insatisfação e a não-insatisfação. E o segundo, se refere aos fatores internos e intrínsecos ao trabalho, que se alternam entre as classes de satisfação e não-satisfação. Foi concluído que o contrário de satisfação não é insatisfação, mas sim a não satisfação, e o oposto da mesma forma, o contrário de insatisfação não é satisfação, mas a não insatisfação. (KANFER, 1992) Na abordagem dele, dentre os fatores que levariam à insatisfação no trabalho, por exemplo, está a política da empresa, condições de trabalho, conflitos interpessoais, segurança e salário. E o que levaria à satisfação, seria o crescimento, desenvolvimento, responsabilidade, reconhecimento e realização. As condições ambientais, no entanto, não são suficientes para induzir o estado de motivação para o trabalho. Para que haja motivação, de acordo com Herzberg, é preciso que a pessoa esteja sintonizada com seu trabalho, que enxergue nele a possibilidade de exercitar suas habilidades ou desenvolver suas aptidões. (MAXIMIANO, 2007 p.268-269.) 1.6 Teoria da expectativa – Victor Vroom (1964) Na teoria da expectativa de Victor H. Vroom, ele salienta quea motivação para produzir numa determinada organização é constituída em função de três fatores determinantes: as expectativas, as recompensas e a relação entre esses dois. Chiavenato (1994) traz que o fator expectativas, tem a ver com força do desejo de atingir tais objetivos. Isso inclui ganhar dinheiro, ter segurança no cargo, aceitação social, reconhecimento, etc. O fator recompensas vem da relação entre a 8 produtividade e os objetivos individuais. Nesse caso, por exemplo, se o interesse do funcionário é o salário, terá forte motivação e empenho se a recompensa recebida for importante. Já se o interesse for a aceitação dos colegas no trabalho que produzem pouco, certamente a produtividade desse indivíduo cairá para não destoar do grupo e se sentir rejeitado. O fator relação entre expectativas e recompensas surge quando o indivíduo acredita que o que está fazendo trará bons resultados para a organização, contribuindo para a sua boa avaliação de desempenho, trazendo com isto, excelentes recompensas organizacionais, tais como: bonificações, aumento de salário ou promoção, atendendo, assim, às suas expectativas e metas pessoais. Para as pessoas, as contribuições que elas dão à organização representam investimentos pessoais que devem proporcionar certos retornos na forma de incentivos ou recompensas; para a organização, os incentivos representam investimentos que também devem proporcionar retornos na forma de contribuições das pessoas. (CHIAVENATO, 2005) 1.7 Teorias X e Y – Douglas Mc Gregor (1999) Segundo essa teoria, basicamente devem ser considerados dois perfis de personalidade e comportamento de funcionários. Se opondo ao Taylorismo, que defendia que os líderes tinham que motivar os funcionários através do dinheiro, McGregor propôs que existem diferentes posicionamentos e pontos de vista sobre o comportamento humano, que ele chamou de teoria X e teoria Y. Na teoria X, entende-se uma falta de interesse natural pelo trabalho. Nela as pessoas precisam ser controladas, evitam responsabilidades novas, procuram segurança e carecem de ambição. Aqui os funcionários estariam motivados por recompensas extrínsecas e pelo temor da punição/sanção. Na teoria Y, entende-se que o indivíduo tem sim um desejo natural de trabalhar, até por necessidade, possuindo iniciativa própria para o serviço, satisfação pessoal e realização quando do alcance das metas da organização. Com essa idéia, Mc regor demonstrou que existe tanto o grupo da teoria X, quanto o grupo da teoria Y dentro de uma mesma organização. E cabe ao gestor identificar, através do perfil individual de cada colaborador, a qual grupo pertence para então traçar metas. Seu objetivo deve ser motivar o grupo X para que tenha o 9 mesmo desempenho e interesse que o grupo Y. Para isso devem ser usados recursos como tarefas, atividades e processos que instiguem a ambição e o interesse nos riscos e na aventura. E para Gregor, o grupo da teoria Y irá se dedicar muito mais, com maior motivação, engajamento e comprometimento, sob condições adequadas de trabalho. Nesse plano, entende-se que as pessoas têm crenças que geram comportamentos diferentes e perceber isso dará ao gestor mais condições de determinar as estratégias de gerenciamento e administração de sua empresa. Para gestores, Robbins (2005) afirma que cada funcionário possui necessidades diferentes e não deve ser tratado de maneira igual. Ele sugere que o administrador compreenda a importância de cada um deles, permitindo individualização das metas, avaliando os níveis de envolvimento e recompensas, no sentido de alinhá-los com as necessidades individuais. Além disso, sugere que o gestor faça um plano de tarefas que maximizem o potencial de motivação no trabalho. 2 Um breve olhar da neurociência para a motivação Pela ótica neurocientífica, a afirmação de que tanto estímulos internos quanto externos contribuem para os estados motivacionais, é reforçada. Segundo Kandel (2014) os estados motivacionais influenciam a atenção, a seleção de objetivos e a resposta aos estímulos. Propôs que os estímulos internos ocorrem mediante sinais de erro fisiológicos. Isso assemelha-se à idéia de Abraham Marlow que partiu do pressuposto de que a motivação inicia-se por necessidades fisiológicas e mais emergentes. Sinais externos incluem estímulos de incentivo, que se originam do objetivo do estado motivacional. Tem-se o exemplo de um animal desidratado durante uma caça, que ao encontrar uma fonte de água, desiste da presa para matar a sede. Nesse caso, a visão da água pode servir como estímulo de incentivo, deslocando o equilíbrio entre a fome e a sede. Trazendo essa explicação neurológica para um exemplo prático da motivação pelo trabalho, pode-se dizer que um indivíduo que busca ser reconhecido (sinal interno), enquanto trabalha sem energia para atingir certo resultado em 10 produtividade, ao se deparar com uma oportunidade de investimento pessoal (sinal externo), pode se interessar primeiro pelo estímulo de incentivo em busca de equilíbrio interno e posteriormente aplicará seus recursos, agora equilibrados, para empreender os esforços de chegar aos resultados esperados. 3 Perfil de liderança e a influência na motivação do grupo de trabalho Naturalmente qualquer grupo é coordenado por um líder, que vai refletir seus pensamentos e ações no resultado final do trabalho, uma vez que ele exerce grande influência sobre seus colaboradores. Sobre isso, Enriquez (1990) disse: Essa conexão estabelecida entre líder e liderado surge da afeição, da admiração e do temor que leva os membros da equipe a tomarem certas atitudes padronizadas e consideravelmente previsíveis. Nesse contexto, o líder assume a posição de referencial do que seus seguidores anseiam se tornar. Isso faz com que os funcionários ajam segundo as causas defendidas pela liderança. Portanto o líder que constrói suas ações motivacionais pode administrá-las de maneira que estimule à equipe na adesão dos objetivos incomuns da organização. Por isso é tão importante o preparo dos gestores que, muitas vezes, não foram preparados para liderar pessoas, além de não possuírem habilidade para tal tarefa. Muitas vezes não sabem como estabelecer relações harmoniosas entre os indivíduos e a organização, utilizar comunicação fluente, cooperação e da importância da participação nas decisões, por exemplo. E segundo Bergamini (1997), o líder possui dois papéis principais: o de auxiliar na alavancagem da energia motivacional da equipe e o de mantê-la motivada. Para que ele atinja esses papéis, Peters (1989) traz a idéia de que ele proporcione aos seus liderados oportunidade de redescoberta pessoal. Para isso ele diz: O papel da liderança é descobrir e desenvolver novos talentos e, muitas vezes, isso significa confrontar antigos conceitos. (PETERS, p. 39,40) Para Chiavenato (2006), na lida diária de um líder é provável que ele se posicione em todos os tipos de liderança, a depender da situação-problema. E pela dificuldade de decidir qual o melhor posicionamento em cada uma delas, é que 11 tornaram-se necessários programas para a formação de líderes democráticos, que se preocupam com o bem estar de seus funcionários. O estilo de liderança que é orientado para pessoas e não para tarefas, que preocupa-se com a participação e motivação de seu grupo, valoriza as relações humanas, procura cumprir metas contando com o empenho de cada um dos membros de sua equipe e tenta estimulá-los ajudando na compreensão das questões individuais de cada membro do grupo. Banov & Fidelis defende que algumas organizações se equivocam no uso de estratégias motivacionais, focando somente nos fatores extrínsecos da motivação: As empresas criam ambientes físicos e bonitos, limpos, ou criam uma série de programas ditos motivacionaisque visam melhorar as relações humanas dentro delas. Na verdade, estão trabalhando com os fatores higiênicos e, ao mesmo tempo, estão desviando a ação dos fatores realmente motivacionais. (BANOV & FIDELIS, 2007, p 45) Deste modo, entende-se que os fatores realmente motivacionais sejam os intrínsecos, ou seja, fatores internos de cada indivíduo, voltados para o reconhecimento e a autorrealização, sentida depois do alcance de um objetivo. Em razão disso, sugere-se que as estratégias motivacionais de uma instituição/organização sejam planejadas de forma a buscar transformação de ambos os fatores motivacionais, tanto internos quanto externos, a começar pela sua gestão. Assim, identificada a influência que o estilo de liderar tem no perfil de um grupo e seus resultados; e considerando que muitas vezes, esses líderes possuem necessidade de reforço da capacidade de gestão e liderança, o preparo deve ser iniciado pelos fatores intrínsecos trazidos por eles próprios. Dentro dessa abordagem atual, isso certamente trará impactos mais significativos no estilo de liderança e automaticamente no engajamento dos funcionários. 4 Exemplos de estímulos externos usados por algumas empresas como estratégias motivacionais A seguir, pode-se verificar uma série de exemplos de organizações que apresentam alguns resultados com diferentes estímulos externos como incentivos à seus funcionários. 12 O primeiro exemplo é o da empresa Coca-Cola, que dentre seus principais pilares, entende que o sucesso dos negócios depende diretamente de funcionários comprometidos e motivados. Há na organização uma gratidão permanente pelo papel significativo dos empregados no alcance das metas corporativas, que engaja seus funcionários através de pacotes de vantagens como, por exemplo, fundo financeiro para investimento em graduação e desconto para compra de carros. O segundo exemplo é o do Facebook. Dentre as principais vantagens estão assistência médica e odontológica, seguro de vida, reembolso de 50% nas mensalidades de academia. Para futuras mamães, além da licença maternidade, oferta uma verba de U$4 mil para despesa de adoção. Os pais de filhos de até 5 anos tem direito a U$3 mil/ano para cobrir gastos com babás. O terceiro é o da empresa Dream Work, que investe em benefícios não monetários que impactam na qualidade de vida dos funcionários. No pacote de vantagens está a oferta de aulas de exercícios físicos, estações de trabalho personalizadas, smoothies (bebidas de frutas), dentre outras iniciativas que visam o engajamento. A empresa entende que em algum momento do projeto as pessoas podem perder a energia e a motivação. Dessa forma, ofertam essas atividades para a retomada da concentração de seus colaboradores. O quarto é o da grande empresa Google, que flexibiliza o horário de trabalho em todas as suas sedes ao redor do mundo, creditando na responsabilidade de seus funcionários. Um dos pontos mais marcantes dessa empresa é a administração por metas e não por processos. Assim os próprios colaboradores definem como vão alcançar esses objetivos e gerir a carreira, mantendo a sua identidade e maneira de trabalhar. O quinto é o da L’oréal que engaja seus funcionários nos primeiros meses pós contratação. A empresa usa esse recurso e reconhece o impacto direto na qualidade do atendimento ao cliente. Após a utilização dessa estratégia, a L’oréal identificou o aumento de 50% na fidelidade dos consumidores dos produtos da marca. O sexto é o da Hewlett Packard que tem uma política global de trabalho remoto com horário flexível há 15 anos. No Brasil, a empresa conta com mais de 8.400 funcionários, sendo que 40% deles atuam de maneira remota. Segundo o vice-presidente de RH da empresa, não há uma regra determinada para o trabalho remoto, que pode ser negociado entre colaborador e gestor. Essa estratégia já https://www.xerpa.com.br/blog/gestao-de-metas/ https://www.hpe.com/br/pt/home.html 13 demonstra aumento da produtividade por dispensar os funcionários do deslocamento. O sétimo é a empresa Elektro, que já conquistou prêmios por causa dos seus programas de educação e desenvolvimento de pessoas. Dentre os pacotes de vantagens estão algumas atuações, como por exemplo, a criação do Programa Bem Estar Elektro, que tem como finalidade promover a melhoria da saúde dos colaboradores, bem como a qualidade de vida e o bem estar por meio de atividades como torneios, jogos, projetos culturais, ginásticas laborais, etc. Criaram também o Programa do Reconhecimento Top Elektro, que tem como objetivo premiar o esforço dos colaboradores. O programa é dividido em categorias (Comprometimento, Voluntariado, Educador e outros) e premia os funcionários que se destacaram na prática dos valores da Instituição. O oitavo é a Caterpillar, que se destaca pelo baixo índice de turnover, não passando de 1%. Dentre as práticas do projeto de qualidade de vida da empresa, destaca-se o Job rotation e a avaliação 360º, que visam o treinamento e desenvolvimento de seus recursos humanos. Neles são oferecidos cursos presenciais, e-learning e a empresa também possui programas de redução de riscos e maior segurança no ambiente de trabalho. Por fim, os funcionários e familiares portadores de doenças crônicas recebem o acompanhamento médico periódico e medicamentos gratuitos. Já os dependentes químicos possuem um serviço específico para se reabilitarem. A nona é a Accor que se destaca nos programas de qualidade de vida dos trabalhadores pelos benefícios voltados para o bem estar e a satisfação dos funcionários. São oferecidos treinamentos constantes para todos os níveis de colaboradores e formação profissional para os funcionários e familiares por meio do programa “Academia Accor”, criada em 1992. 5 - O uso da estratégia treinamentos como instrumentos motivacionais dentro das organizações O treinamento é o meio de adequar as pessoas para o exercício dos respectivos cargos, capacitando-as para seu melhor aproveitamento. Pode ser usado como ferramenta para mudar o comportamento dos colaboradores e dar-lhes um novo conceito dentro da organização. No entanto, antes de iniciar qualquer tipo http://www.accorhotels.com/pt-br/brasil/index.shtml 14 de treinamento é preciso identificar a necessidade e o que se pode melhorar a partir do mesmo. O treinamento precisa de um processo com quatro etapas: Diagnóstico é o levantamento das necessidades de treinamento a serem satisfeitas. Essas necessidades podem ser passadas, presentes ou futuras. Desenho é a elaboração do programa de treinamento para atender as necessidades diagnosticadas. Implementação é a aplicação e condução do programa de treinamento. Avaliação é a verificação dos resultados obtidos com treinamentos. (CHIAVENATO, 2004) 6 Treinamento de inteligência emocional para líderes Tão importante quanto trabalhar competências intelectuais e técnicas de um gestor, é trabalhar suas competências emocionais, sua capacidade de se conectar com as pessoas e isso parece ser uma exigência cada vez maior ao longo dos anos. Líderes com baixa inteligência emocional podem ser propensos a um comportamento passivo-agressivo, levam as situações para o âmbito pessoal e não são capazes de avançar com planos e projetos sem se preocupar com o impacto em seus egos, inibem a colaboração de seus liderados, reage de forma inadequada, levando seus colaboradores a não contribuir com suas idéias, por medo de como o líder irá responder. Eles não proporcionam ambientes seguros onde os funcionários se sintam confortáveis para assumir riscos calculados e expressar suas opiniões. Daniel Goleman, um psicólogo americano, escritor e jornalista científico, atuando 12 anos no The New York Times, teve como mentor em Harvard, David Clelland. Escreveu grandes obras e popularizou o conceito de inteligência emocional, dizendo,desde 1995, que existem cinco elementos-chave que precisam ser trabalhados para conquista de IE: a autoconsciência, auto-regulação, a motivação, a empatia e as habilidades sociais. Em 1998 escreveu o livro “Trabalhando com inteligência emocional” no qual defendeu a ideia de que desenvolver habilidades não cognitivas é tão importante quanto desenvolver o conhecimento intelectual. Em 2001, Goleman escreveu “Liderança primordial: o motivador oculto do ótimo desempenho”, descrevendo como a capacidade emocional de um líder afeta seu grupo, aborDando isso em uma publicação na época: A implicação é que a liderança primordial exige mais do que fazer uma cara de jogo todos os dias. Exige que um executivo determine, por meio de uma 15 análise reflexiva, como sua liderança emocional impulsiona o humor e as ações da organização e, então, com igual disciplina, ajuste seu comportamento de acordo. (HARVARD BUSINESS REWIEW, ED DEZ. 2001) Nessa mesma publicação, utilizando os cinco elementos-chave propostos por Goleman, os autores fazem a conexão resposta do treino de inteligência emocional feita por líderes: Um líder emocionalmente inteligente pode monitorar seu humor por meio de autoconsciência, mudá-lo para melhor por meio de autogerenciamento, compreender seu impacto por meio da empatia e agir de forma a impulsionar o humor dos outros por meio do gerenciamento de relacionamento. (HARVARD BUSINESS REWIEW, ED DEZ. 2001) Os estudos sobre a inteligência emocional sugerem o uso de algumas técnicas eficazes para desenvolvimento desses cinco elementos e, apesar de ser possível aprender de maneira autodidata algumas delas, a melhor performance dar- se-á mediante mentoria, por isso a importância de buscar parceiros, a fim de ofertar esse tipo de treinamento para líderes e colaboradores. 7 – Contribuição do autor Sérgio Mena Barreto com o livro “Zona de Coragem” Sérgio Mena é diretor de uma empresa de consultoria especializada em programas de desenvolvimento de pessoas e organizações. Escreveu o livro Zona de Coragem em 2008 onde narra a estória de um profissional bem sucedido que ocupava um cargo de uma empresa de destaque, que de repente, viu-se desempregado. Ao aceitar o desafio de trabalhar em uma empresa de menor porte, em uma menor posição, onde não se sentia seguro, começou a perceber seus defeitos e limitações. Com a narrativa, o autor do livro enfatiza a necessidade permanente de mudança. Mostra como é importante deixar a zona de conforto todos os dias, encarando a zona de coragem, deixando de lado fórmulas que foram anteriormente aprendidas, dominadas e criadas e que levaram o indivíduo à acomodação. Na estória, o personagem William perde o emprego em uma grande empresa em razão de sua falta de conexão com os outros funcionários. Ao encarar um novo desafio, em uma empresa com resultados negativos, viu-se em uma situação de desconforto e para não errar como fez no emprego anterior, se permitiu dar atenção às relações interpessoais. Ao rever um amigo de longa data, que inclusive o 16 encorajou a aceitar esse novo desafio, percebeu como eram necessárias algumas mudanças. Surgiu então uma parceria-consultoria mútua. Marcos (o amigo) era diretor geral de uma grande empresa e passou a atuar como consultor para temas de articulação e sinergia para Will, enquanto Will seria seu consultor de visão sistêmica. Após compartilhar com Marcos sobre o péssimo clima organizacional de sua equipe de gerentes, Will planejou então um encontro de fim de semana com os mesmos, junto às suas famílias, intitulando o evento de Seminário de Integração e Desenvolvimento Pessoal. Realizado em um hotel fazenda, possuía uma área de lazer enorme onde seus familiares se divertiam enquanto o workshop acontecia. A estória conta que a tensão inicial do treinamento era nítida e a desconexão da equipe era aparente, o que foi mudando ao longo das atividades e conceitos propostos por Marcos. Momentos de avaliação da qualidade de conexão interpessoal e da zona em que cada profissional se encontrava fez com que muitas fichas caíssem. E foi após a avaliação das características individuais de cada gerente, que eles puderam avançar no sentido de identificar que eles compunham uma equipe completa, com potenciais necessários ao equilíbrio de uma empresa, mas que todos precisavam agir no momento certo, da forma certa, explorando seus potenciais em áreas certas e problemas certos. Após esse encontro, a empresa passou por vários desafios, só que agora com um comitê gestor muito mais coeso, consciente dos seus potenciais e da importância da atuação em conjunto. Perceberam que novos desafios e a vivência de constantes mudanças davam sentido a cada um deles. O livro traz como ponto chave a oportunidade vivida pelo personagem William em aprender com sua experiência traumática, que na verdade era necessário olhar para dentro de si e tomar consciência de seus pontos falhos, do seu perfil individual, para depois pensar em estratégias para melhorar o desempenho de uma empresa. Ele permitiu-se compreender que tão importante quando trabalhar as questões empresariais propriamente ditas, era trabalhar a conexão entre funcionários, olhando para cada um deles de maneira individual, a começar por si mesmo. O livro trata-se, sobretudo, da descoberta sobre a real chave de uma liderança eficaz, permitindo-se olhar primeiro para dentro de si. 17 Só conhecemos um bom líder, melhor dizendo, só conseguimos perceber se o seu modelo de liderança é realmente bom, se olharmos um pouco mais abaixo. Temos que observar as raízes, o quanto ele conhece a si mesmo – o modo como desenvolve suas competências. E também o tronco, a sua competência em se conectar com outras pessoas, que é um item realmente fundamental. Todos nós temos pontos cegos (...) são aquelas falhas de relacionamento que as pessoas ao nosso redor percebem claramente, mas nós mesmos não conseguimos enxergar. Às vezes são comportamentos bem danosos à equipe. BARRETO, 2008 – P.57,58 8 Uma experiência particular de líderes da administração penitenciária do Estado do Espírito Santo 8.1 Perfil do trabalho no sistema prisional No ano 2009, o filósofo francês Michel Foucault, através da sua obra Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão, a fim de exemplificar sua ideia a respeito de que os indivíduos não são sujeitos transformadores do seu ambiente, mas sim objetos controlados pelas instituições, cita o conceito de “panóptico” apresentando um modelo visual de prisão, em uma estrutura circular com uma torre no meio, possibilitando que o vigia observasse os presos, mas não o contrário, oportunizando-o poder e onipresença. É claro que dentro desse contexto, a idéia era dizer que o poder tem um lado negativo, mesmo sendo uma força necessária, produtiva e positiva para a ordem social. No sentido de que a disciplina é um instrumento de dominação e controle dedicado a excluir ou domesticar comportamentos sociais divergentes. Muito se estudou sobre a exclusão da pessoa presa, seu posicionamento inferior diante do poder estatal, suas garantias de direitos, sua oportunidade de reconhecimento na sociedade e quase nada se pensou nas consequências desse “poder” entregue aos vigias, à segurança, aos policiais, aos inspetores e mais, à gestão desse sistema complexo. Pode-se dizer que servidores envolvidos na manutenção do sistema carcerário, seja direta ou indiretamente, atuam sobre pressão tanto interna, quanto externa, uma vez que há uma grande expectativa da própria sociedade no resultado desse trabalho. 18 A lida diária dentro de presídios, por exemplo, é complexa no sentido de ser necessária vigilância 24 horas, compreensão dos movimentos internos do estabelecimento penal, capacidade de diálogo estratégico, conhecimento bem próximo do perfil das pessoas privadas de liberdadeali custodiadas, preparo a todo momento para movimentos de revolta, dentre outros motivos. Já na equipe da gestão do sistema, a atenção incessante nas decisões que envolvam a assistência e o suporte à comunidade prisional (familiares, advogados e congêneres), na interlocução entre representantes do Direito e da sociedade como um todo, na criação e manutenção de projetos e programas que impactem em resultados positivos tanto para o preso quanto para a sociedade que o receberá de volta em breve, dentre outras inúmeras atividades. Estudos mostram que profissionais que atuam dentro das prisões, submetidos a sobrecarga emocional, apresentam quadros de distúrbios, como por exemplo, a síndrome de Burnout, absenteísmo, estresse e depressão. Portanto essa tensão é capaz de impactar muito negativamente na vida de gestores e executores da administração penitenciária e em razão disso, surgiu no Brasil o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI que em 2010 estabeleceu a necessidade de se criar ações que garantissem a qualidade de vida dos servidores da segurança pública, incluindo servidores que atuam no sistema penitenciário. E em abril de 2013, o Estado do Espírito Santo, levou sua contribuição para o VI Congresso de Gestão Pública – CONSAD, com a proposta da criação do Programa de Atenção Psicossocial do Servidor Penitenciário. Como justificativa dessa ideia está o resultado de dois levantamentos importantes realizados com os servidores, tendo sido um no ano de 2010 e outro em 2011. O resultado das pesquisas demonstrou que o estresse do trabalho e do ambiente eram responsáveis por desencadear problemas físicos e psíquicos, que justificavam o constante afastamento desses profissionais. E a maior necessidade evidenciada foi a de que esses servidores precisavam de suporte e cuidados no que tange a saúde psicossocial. Por esse diagnóstico foi fundada a Unidade Central de Atenção Psicossocial do Servidor Penitenciário – UCAP, com espaço reservado na sede da Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo. 19 Portanto, observa-se que desde 2010, a saúde mental dos servidores tem sido o objeto primordial a ser cuidado e investido, uma vez que funcionários não saudáveis psiquicamente estarão certamente desmotivados, afetando diretamente o serviço público. Dessa maneira, a SEJUS já demonstrava, em seu pacote de vantagens, o zelo pela qualidade de seus servidores e, antes de criar qualquer programa, fez o diagnóstico situacional, passo importantíssimo que antecede a decisão do plano de ação que será adotado por qualquer organização/instituição. Segundo Pedrosa (2004), o diagnóstico organizacional consiste na primeira etapa do processo de intervenção, constituindo-se como um verdadeiro check-up, uma visão global que indica insuficiências, que permite analisar instabilidades e avaliar os desequilíbrios. O diagnóstico foi o ponto crucial para se identificar que era necessário olhar cuidadosamente para demandas mais profundas e individuais, ao invés de só observar a metodologia de trabalho. Nesse sentido, Barreto traz em seu livro “zona de coragem” o seguinte pensamento: Quando apresentam problemas de desempenho, muitas empresas investem pesadamente no desenho de novos processos, produtos e sistemas, achando que a situação será resolvida imediatamente. Infelizmente, na maioria dos casos, os resultados não aparecem. Isso muitas vezes agrava o quadro, a ponto de não haver mais solução. A grande falha, então, está em não se observar profundamente o lado humano da questão. BARRETO, 2008, P.118 8.2 O método de coaching integral sistêmico (CIS) Em julho do ano 2019, o Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN, oportunizou à líderes representantes da SEJUS, a participação em um treinamento presencial de inteligência emocional, o Método de Coaching Integral Sistêmico – MCIS, organizado pela Febracis, que ocorreu no Estado do Rio de Janeiro. A Febracis, chamada anteriormente de Instituto Paulo Vieira, é uma reconhecida escola de Coaching, presente dentro e fora do Brasil, que teve início em 1998. Ela é presidida pelo Master Coach e PhD em Business Administration pela Flórida Christian University, Paulo Vieira, autor de pelo menos 09 livros que venderam mais de 3 milhões de cópias e estão na lista de best-sellers do ranking da Veja. 20 Paulo Vieira apresenta em sua missão, transformar e potencializar vidas e negócios por meio da metodologia do coaching integral sistêmico, construindo um mundo extraordinário e abundante. Dentre os seus valores está a necessidade de transmitir à todos a importância de crescer e contribuir. E foi nessa seara da contribuição, que Paulo passou a ofertar à Segurança Pública Nacional do Brasil, vagas gratuitas para o treinamento de inteligência emocional, visando contribuir com a saúde mental de servidores, que seriam multiplicadores das transformações sugeridas por ele ao longo dos treinamentos. A proposta do CIS® é trabalhar de forma integral a razão e a emoção, de modo que seja possível obter alta performance pessoal e profissional, reorganizando dentre todas as áreas da vida, os aspectos saúde, família, conjugal, financeiro, profissional, intelectual e social. Essa oportunidade foi então estendida a outros líderes e gestores que se destacam no Sistema e se interessam no processo de mudança proposto. Desde então, inúmeros servidores vêm participando dos treinamentos gratuitamente, que durante a pandemia, continuou ocorrendo em transmissões online, com o Programa que a Febracis intitulou de “CIS em casa”. Esse formato de treinamento possibilitou, não só a participação do servidor ligado diretamente à Secretaria, como também a seus familiares, uma vez que o treinamento ocorria dentro da própria casa do servidor. Mais uma vez, portanto, essa Instituição entendeu que essa seria uma grande oportunidade de cuidar e investir na saúde mental do servidor. Percebeu que seria uma estratégia positiva e fundamental para o aprimoramento do mesmo, estimando que possíveis transformações de vida afetassem diretamente na qualidade do serviço prestado à sociedade como um todo. 8.3 Possíveis impactos do treinamento de inteligência emocional com o método CIS para líderes da SEJUS Dentro da proposta de Chiavenato (2004), ainda faz-se necessária a avaliação dos resultados desse investimento. Nesse sentido, uma pesquisa das possíveis mudanças ocorridas na vida dos servidores participantes deve ser realizada para verificar o real impacto desse treinamento para os funcionários e 21 confirmar se, de fato, essas mudanças trouxeram aprimoramento no serviço prestado ao público. A despeito dos resultados que serão encontrados, deve-se valorizar que para que esse tipo de incentivo/investimento seja feito por uma Instituição desse perfil em nível de gestão, há na cultura e propósito dela o zelo pelo servidor público, o entendimento de que ele é ser indivisível, dotado de necessidades básicas e primordiais, físicas, psicológicas e sociais, para além da necessidade de reconhecimento financeiro percebido através dos proventos mensais. Conforme os diversos autores anteriormente já citados, o estilo e perfil da liderança de uma organização reflete diretamente na execução e perfil do trabalho realizado por seus colaboradores. E foi compreendendo isso, que a Secretaria de Justiça decidiu investir nos gestores e servidores, utilizando a estratégia do CIS, buscando a valorização desses, demonstrando interesse pela pessoa que coordena um serviço tão complexo e essencial para a manutenção do Estado. Conclusões Apreende-se da revisão dos diversos autores da motivação organizacional que cada indivíduo possui uma estrutura específica para se desenvolver no ambiente de trabalho, mas fica claro que motivos intrínsecos e extrínsecos estarão sempre presentes, orientandogestores/administradores da importância de observar aspectos estruturais, culturais e principalmente individuais. Um dos grandes desafios de uma organização é extrair o máximo de produtividade de cada funcionário, analisando criteriosamente o perfil de cada colaborador, concentrando esforços para possibilitar auto realização pessoal e satisfação com os resultados no trabalho. Dados mostram que empresas que investem na motivação dos funcionários alcançam índices de crescimento e lucratividade muito maiores. Isso porque as organizações dependem diretamente de profissionais engajados e dispostos para que o seu produto ou serviço tenha um alto padrão de qualidade. Grandes corporações já se deram conta disso e investem muito para oferecer as melhores condições de trabalho possíveis, apostando no bem-estar e na qualidade de vida dos colaboradores. Percebe-se que, nem sempre, o estímulo externo será vantajoso, sinônimo de boa produtividade e envolvimento com o trabalho, se dentro do indivíduo existirem 22 conflitos não satisfeitos. Isso reforça a importância da análise individual de perfil que vai demonstrar quais serão as melhores estratégias de investimento motivacional para a organização. Entende-se que o treinamento, oportunizado aos servidores do Sistema Prisional do ES, foi resposta da identificação das necessidades atuais desses, resposta aos impactos negativos causados pelo perfil do trabalho. Esse diagnóstico foi primordial para a escolha dessa estratégia de investimento e incentivo, que possivelmente tenha impactado em análises e transformações em todas as áreas da vida desses servidores. Avalia-se que um indivíduo já satisfeito em necessidades primordiais, consciente de suas competências e possibilidades, demonstre maior probabilidade de continuar produzindo de maneira eficaz no trabalho. Para além disso, possibilitar treinamentos como esse, pode demonstrar, inclusive, ser estratégia de incentivo à servidores/colaboradores que não estejam em alta performance e demonstrem necessitar de suporte, mais do que a manutenção da energia despendida por líderes já comprometidos. Isso por compreender que pela proposta de transformação, àqueles servidores que não estiverem apresentando os resultados esperados pela gestão, mesmo identificados com potencialidades, podem se tornar importantes autores com grandes iniciativas, destaque e inovação no serviço prestado. Propõe-se que a adesão de toda a liderança dessa e de outras instituições à treinamentos como o MCIS, estendendo-se à organizações privadas, resulte em colaboradores mais motivados, realizados, satisfeitos com suas questões internas, compreendendo cada um a sua missão e propósito de vida, o que certamente influenciará positivamente na sociedade, transformando indivíduos materialistas em grandes entusiastas tanto com o crescer, quanto com o contribuir. Referências BARRETO, S.M. Zona de coragem. Rio de Janeiro: Idéia & Ação, 2008. BASTOS, F.B “et al”. Atenção Psicossocial do Servidor Penitenciário. In: VI Congresso de Gestão Pública – CONSAD. Brasília, 2013. BERGAMINI, Cecília Whitaker. 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