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Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t INFARTO CEREBRAL BRANCO E VERMELHO NE - É a necrose isquêmica de uma área do tecido nervoso secundária a redução acentuada ou interrupção do fluxo sanguíneo cerebral, por obstrução arterial ou venosa. Trombose arterial e embolia são as principais causas de infarto cerebral - De acordo com as causas, o infarto cerebral pode ser: 1. aterotrombótico, por trombose de artéria de grande calibre ou por embolia artéria-artéria 2. cardioembólico 3. lacunar 4. de causa indeterminada - Outras causas de infarto são hipotensão arterial durante o curso de arritmias cardíacas, vasospasmo após episódio de hemorragia subaracnóidea e aumento da viscosidade sanguínea. Causas menos frequentes são trombose venosa e arterite infecciosa e não infecciosa TROMBOSE ARTERIAL - Ocorre, sobretudo, na aterosclerose e, menos comumente, em arterites infecciosas e não infecciosas, drepanocitose, policitemia vera e púrpura trombocitopênica trombótica - Os achados clínicos e anatomopatológicos dependem do número e do calibre dos vasos atingidos, assim como do desenvolvimento da circulação colateral que, por sua vez, depende da velocidade de instalação da obstrução TROMBOSE VENOSA ou dos seios venosos da dura-máter - Pode ser: a. primária e asséptica, denominada FLEBOTROMBOSE; ocorre mais nos estados de caquexia, desidratação, insuficiência cardíaca congestiva, pós- operatório, puerpério e uso de anticoncepcionais b. secundária, séptica ou TROMBOFLEBITE, menos frequente, sendo complicação de infecções purulentas de estruturas adjacentes, como seios paranasais ou espaço sub dural - A trombose compromete mais o seio sagital superior e pode estender-se às veias tributárias EMBOLIA - Junto com trombose arterial, EMBOLIA representa a principal causa de infarto cerebral - A maior limitação em se determinar a incidência exata de embolia reside na dificuldade de se identificar o próprio êmbolo, porque às vezes este é pequeno ou sofre fragmentação e lise. Assim, algumas vezes a natureza embólica do infarto cerebral é inferida de modo indireto, a partir da identificação da doença que origina êmbolos - Essa geralmente reside no coração esquerdo, podendo ser fibrilação atrial, representando cerca de 45% das embolias de origem cardíaca, trombose parietal secundária a infarto do miocárdio (15%), cardiopatia chagásica crônica, endocardite infecciosa ou endocardite trombótica não infecciosa - As embolias podem ainda ser divididas em GORDUROSA, GASOSA E NEOPLÁSICA - Os êmbolos GORDUROSOS originam-se de fraturas de ossos longos, queimaduras, pancreatite, traumatismo do tecido subcutâneo na descompressão súbita, entre outras causas - A embolia GASOSA é encontrada em acidentes dos mergulhadores ou em cirurgias de coração aberto, ao se introduzir ar nas câmaras cardíacas - A embolia gordurosa causa hemorragia petequial difusa na substância branca, caracterizando o quadro de púrpura cerebral, também encontrado em outras condições como malár ia cerebral, infecção por rickétsia, leucoencefalite hemorrágica aguda, iatrogenia e discrasias sanguíneas - O infarto pode ainda ser secundário a ÊMBOLO SÉPTICO, geralmente a partir de endocardite infecciosa ou de veia pulmonar. Na maioria desses casos, a artéria cerebral média está com prometida e a lesão isquêmica tende a ser múltipla em cerca de 20% dos casos. Em geral, o agente infeccioso é de origem bacteriana; entre os fungos, o Aspergillus é o mais comum. O êmbolo bacteriano pode causar infecção na parede vascular ("aneurisma" infeccioso), que pode romper-se e causar hemorragia intracerebral - O infarto pode ser dividido em dois grandes grupos: Infarto cerebral vermelho. Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t 1. não hemorrágico, anêmico ou BRANCO 2. hemorrágico ou VERMELHO - Quanto ao TEMPO DE EVOLUÇÃO, pode ser: 1. recente, até a primeira semana 2. fase de organização, entre a segunda e a quinta semanas 3. antigo ou cicatrizado, após esse período Infarto vermelho - Hemorragia em infarto vermelho decorre de fatores dinâmicos (p. ex., reperfusão) e da sua causa: embolia arterial ou trombose venosa - Cerca de 70% dos infartos por embolia tornam-se hemorrágicos - O mecanismo provável é fragmentação ou lise do êmbolo (natural ou pelo uso de substâncias trombolíticas), que permite a chegada de sangue na área isquêmica, inundando-a. Cerca de 1% dos pacientes tratados com anticoagulantes e 0,3 a 0,8% daqueles em uso de trombolíticos apresentam hemorragia intracerebral durante o tratamento, com piora do quadro clínico - Infarto cerebral por trombose venosa difere daquele por trombose arterial porque é hemorrágico, estende-se à substância branca cerebral, não mostra relação com um território arterial, exibe maior grau de edema perilesional e guarda relação topográfica com o seio venoso ou com a veia acometida. Hemorragia subaracnóidea, principalmente na convexidade dos hemisférios, é sugestiva de trombose venosa Aspectos macroscópicos com as causas dos infartos cerebrais Infarto branco - O infarto na substância branca por oclusão arterial trombótica, vasospasmo ou hipotensão arterial é não hemorrágico devido à MENOR VASCULARIZAÇÃO e à NÃO REPERFUSÃO DE SANGUE NA ÁREA NECROSADA - A transformação hemorrágica do infarto anêmico ocorre na substância cinzenta e se faz a partir da lise de vasos previamente lesados ou por reperfusão a partir dos vasos colaterais MORFOLOGIA Infarto branco - O INFARTO ANÊMICO RECENTE exibe alterações macroscópicas depois de cerca de 12 h de sobrevida do paciente - Os achados iniciais consistem em tumefação da área atingida , borramento do limite entre as substâncias cinzenta e branca e diminuição da consistência, sendo re s p o n s á v e l p e l a e x p re s s ã o amolecimento cerebral - Ao redor do infarto, forma-se faixa mais ou menos extensa de edema, que pode ter efeito de massa e produzir hérnias cerebrais - O tecido NECROSADO perde a textura lisa, adquire aspecto granular e mostra-se progressivamente mais amolecido - Durante a FASE DE ORGANIZAÇÃO, os infartos anêmicos apresentam limites mais precisos com o tecido nervoso adjacente, o aspecto granular da área necrosada se acentua e torna-se friável, iniciando-se a desintegração e cavitação da região infartada. Nessa fase, com a redução do edema perilesional, a área necrosada é menor se comparada com o período inicial - A cavitação, iniciada na terceira semana, se completa depois de alguns meses, caracterizando o INFARTO ANTIGO. A cavidade tem contornos irregulares, é parcial ou totalmente preenchida por trabéculas delicadas e contém líquido límpido, Infarto recente no lobo frontal esquerdo (setas). Notar apagamento do limite entre as substancias branca e cinzenta. Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t incolor ou levemente amarelado. No infarto antigo, especialmente nos mais extensos, pode haver dilatação do ventrículo lateral correspondente (hidrocefalia ex-vácuo) por perda tecidual e/ou atrofia cerebral Aspectos microscópicos - Microscopicamente, identificam-se lesões 4 a 12 h após interrupção da circulação - Seis horas após a necrose: os neurônios da área infartada mostram necrose, aqui chamada de alteração celular isquêmica (picnose nuclear e eosinofilia do citoplasma) e assim permanecem por cerca de quatro dias, desaparecendo depois. Podem também sofrer calcificação - Após 24 a48 horas, há tumefação das células endoteliais dos capilares. Surge exsudato de neutrófilos, logo substituído por monócitos e células da micróglia ativadas, que fagocitam os restos necróticos. Como estes são ricos em lípides, os fagócitos apresentam citoplasma vacuolado, constituindo as células grânulo- adiposas, que se tornam o elemento mais abundante nos dias e semanas seguintes - A partir do quinto dia são notados astrócitos gemistocíticos na margem da área infartada. Estes aumentam em número e volume, sintetizando fibrilas gliais - Com o passar dos meses os astrócitos gemistocíticos se transformam em astrócitos fibrosos. Estes e as fibrilas gliais formam a cicatriz glial ou gliose, que resta como sinal permanente do infarto Infarto antigo do núcleo caudado e do putâmen, revelando cavitação. O córtex infartado mostra maior celularidade (concentração de núcleos por unidade de área) que o normal. Isto se deve à tumefação e proliferação das células endoteliais, que é uma resposta do tecido à anóxia. Neurônios isquêmicos ou “vermelhos" perdem a basofilia normal do citoplasma, que se torna eosinófilo. A tumefação e proliferação das células endoteliais dos capilares cerebrais é uma resposta do tecido à anóxia. Admite-se que isto ocorra porque no tecido submetido à anóxia as células liberam fatores angioproliferativos. A proliferação dos astrócitos e a deposição de proteína glial constitui a gliose, que é a forma de cicatriz no SNC. No SNC a cicatrização não é feita geralmente por fibroblastos, que são escassos. * Quando o citoplasma dos astrócitos passa a ser visível em HE, isto é sinal seguro de que houve lesão. Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t Infarto vermelho - O INFARTO HEMORRÁGICO tem essa mesma evolução, diferindo do infarto branco no ESTÁGIO INICIAL por petéquias na substância cinzenta comprometida ou de pequenos focos hemorrágicos confluentes - Na FASE DE CICATRIZAÇÃO , a cavidade tem parede ferruginosa, pela presença de hemossiderina - Na embolia séptica, a área de infarto forma um abscesso Aspectos microscópicos PATOGÊNESE - Variações no círculo arterial do cérebro e no calibre de vários vasos colaterais, aterosclerose e outras lesões arteriais adquiridas podem interromper o fluxo sanguíneo, aumentando a possibilidade de que a obstrução de uma artéria cause isquemia cerebral - Ocorre a morte de alguns neurônios se o fluxo sanguíneo for < 5% do normal por > 5 minutos; entretanto a extensão da lesão depende da gravidade da Infarto hemorrágico recente no lobo parietal esquerdo. Infarto hemorrágico em fase de organização. Infarto hemorrágico recente. T r o m b o s e d o s e i o long i tud ina l super ior . Infarto hemorrágico do córtex próximo ao seio e da parte profunda do hemisfério (tálamos e parte dos núcleos da base). Isto sugere que a trombose estendeu-se ao seio reto, onde desemboca a veia cerebral magna, que drena a porção central do cérebro. (1) Acidente vascular cerebral hemorrágico, com conteúdo hemático evidente (círculo), comprometendo o tecido nervoso adjacente, em estado necrótico (seta). Tecido nervoso normal, não comprometido (asterisco). (2) Evidencia-se acúmulos de hemossiderina (círculo), sugerindo fase organizada. Macrófagos espumosos com hemossiderina. 1. 2. Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t isquemia. Se for leve, os danos ocorrem lentamente; assim, mesmo sendo a perfusão de 40% do normal, podem levar 3 a 6 h antes de ocorrer perda completa do tecido cerebral. Entretanto, se a isquemia é grave > 15 a 30 minutos, todos os tecidos afetados morrem (infarto) - Zona de penumbra é a expressão utilizada para definir uma zona dinâmica, ao redor da área central de isquemia, irrigada a partir dos vasos colaterais pelo fluxo sanguíneo cerebral criticamente reduzido, na qual os neurônios perdem sua atividade funcional mas continuam morfologicamente intactos, permanecendo viáveis por até 48 h após a isquemia - As células da área central (core isquêmico) tornam-se irreversivelmente lesadas (necrose), enquanto na área de penumbra os neurônios podem ser preservados por meio de medidas terapêuticas. A natural reperfusão e a restauração da produção aeróbica representam os mecanismos mais importantes para proteger o dano tecidual. O uso de bloqueadores de canais de Ca++ atua diminuindo o volume da área de infarto por aumento do fluxo sanguíneo cerebral regional PROGNÓSTICO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - As manifestações clínicas dependem da extensão e da função do território atingido - A área mais afetada é da artéria cerebral média, que compreende a maior parte do hemisfério cerebral, isto é, a parte lateral da superfície orbital do lobo frontal, toda a convexidade do hemisfério cerebral, os giros temporais superior e médio, a ínsula e a maior parte do corpo estriado e da cápsula interna, excetuando-se a região parassagital, irrigada pela artéria cerebral anterior, e o polo occipital, nutrido pela artéria cerebral posterior. A obstrução pode ocorrer no segmento proximal da artéria cerebral média quando a necrose isquêmica ocupa quase todo esse território. Na maioria dos casos, porém, somente parte do território é comprometida - Oclusão da porção intracraniana da artéria carótida interna provoca necrose isquêmica de todo o território das artérias cerebrais anterior e média. Infarto no território da artéria cerebral anterior é pouco frequente - No território das artérias vertebrais e basilar, os locais mais atingidos são cerebelo, ponte e lobo occipital - Infarto da medula espinhal é raro, em virtude da ampla circulação colateral das artérias espinhais, que se originam das artérias vertebrais, intercostais e lombares Acidente vascular cerebral EPIDEMIOLOGIA DO AVC - É uma das causas mais comuns de morte no Brasil, perdendo apenas para a doença isquêmica cardíaca - O AVE isquêmico é o principal representante da doença cerebrovascular, sendo responsável por até 80-85% dos casos de acidente vascular encefálico no mundo (os 15-20% restantes são eventos hemorrágicos) - Acomete mais a partir dos 50 anos O primeiro infarto no território da A. cerebral média causou edema cerebral. O edema é melhor visto comparando-se com o hemisfério oposto: causa aumento de volume, forçando o hemisfério para baixo contra a margem livre da tenda do cerebelo e contra o mesencéfalo. A lingueta do uncus temporal (área do lobo temporal imediatamente medial ao hipocampo) que se insinua entre a margem livre da tenda e o mesencéfalo é a hérnia de uncus. Além de deformar o mesencéfalo, a hérnia comprime a artéria cerebral posterior levando a isquemia do território desta. Como a oclusão arterial não é completa, pode ocorrer reperfusão do território necrótico, levando à transformação do infarto (inicialmente anêmico) em hemorrágico. Ádila Cristie Matos Martins UCXXI Aula 3, PATOLOGIA t FATORES DE RISCO PARA AVC AVALIAÇÃO DO AVC - Fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo - Confusão, alteração da fala ou compreensão - Alteração na visão (em um ou ambos os olhos) - Alteração do equilíbrio, coordenação , tontura ou alteração no andar - Cefaleia súbita, intensa, sem causa aparente - Escala de Cincinnati: desvio da rima labial / queda facial, fraqueza no braço e fala anormal REFERÊNCIA 1.Patologia — Bogliolo (8ª edição - pág. 948/950) 2.Acidente vascular encefálico isquêmico — ManualMSD 3.Infartos cerebrais (http://anatpat.unicamp.br/taneuinfartos.html e http://anatpat.unicamp.br/bineuinfarto.html) — Anatpat 4.Infarto cerebral recente (http://anatpat.unicamp.br/lamneuro3.html) e antigo (http://anatpat.unicamp.br/lamneuro4.html) — Anatpat 5.Infarto cerebral anêmico recente do território da A. cerebral média (http://anatpat.unicamp.br/pecasneuro11.html) — Anatpat 6.Acidente vascular cerebral/Cerebrovascular accident — LabPath 7.Anotações da aula - Estenose carotídea - Fibrilação atrial - Tabagismo - Obesidade - Diabetes - Hipertensão arterial sistêmica - Dislipidemia - Sexo masculino
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