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FORMAÇÃO HUMANÍSTICA EMAGIS

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FORMAÇÃO HUMANÍSTICA – EMAGIS 2015
AULA 01: Introdução à Filosofia Grega
Prof. Társis Augusto de Santana Lima
	Introdução à Filosofia Grega
A relevância do pensamento filosófico para a formação de um bom jurista é inquestionável. Entender a filosofia é compreender as bases sobre as quais se assentou a ciência jurídica.
Confira, nesta videoaula introdutória ao pensamento filosófico, a origem e o desenvolvimento da filosofia grega, que é a fonte de onde emana o conteúdo dos mais fundamentais princípios jurídicos que hoje concebemos. Caminhe pelas teses pertinentes ao surgimento da filosofia grega (Milagre Grego, Orientalista e Pensamento Misto) e veja que o pensamento racional não surgiu na Grécia, embora lá tenha tido impulso decisivo. Compreenda, também, os períodos/fases do pensamento grego: pré-socrático; socrático; helenístico-romano), finalizando com uma análise da sofística.
Por que estudar filosofia: são estruturantes no pensamento jurídico. Não há como analisar o direito de uma forma segura sem saber sob quais bases está fundado o Direito, e este está fundado na filosofia. Bases estruturais. A filosofia é a base fundamental do pensamento jurídico. A própria forma de operar as categorias jurídicas.
Princípios jurídicos: para compreendê-los é necessário voltar à filosofia grega, porque todos os principais autores de princípios jurídicos fazem referência à filosofia grega. Aristóteles é o momento inicial da filosofia dos princípios, essencial para compreender todo o entendimento principiológico.
Pensamento grego: não foi a Grécia que criou a filosofia. Existem três bases que tentam explicar o surgimento da filosofia na Grécia: pensamento do milagre grego: por alguma razão desconhecida, como um milagre, a Grécia desenvolveu esta cultura; orientalista: Grécia como herdeira do pensamento anterior, egípcio, por exemplo; mista: baseada em estudos antropológicos, entendem que os Gregos apenas deram clareza a um conjunto de saberes das civilizações anteriores.
Período Homérico: primeiro período grego.
A filosofia na Grécia surge no Período Jônico. O primeiro filósofo, neste período, foi Tales de Mileto. Tem base cosmológica, voltada a explicar os fenômenos, o porquê da existência das coisas, logo, muito próxima da física. Esse é o período Pré-Socrático.
Em seguida a filosofia passa a se transformar dento da própria Grécia: período clássico, socrático. Período racionalista. Passa a estudar as raízes do pensar. O antropocentrismo é destacado.
Em seguida vem Platão e Aristóteles e após o declínio do período grego, com a anexação ao Império Romano.
A filosofia grega dá início a uma explicação racional. Migração do pensamento mitológico para o pensamento racional. Mudou o foco do pensamento do mundo, de um pensamento mítico para um pensamento racional. A ideia fundamental seria o movimento, por isso são chamados de filósofos do movimento. Tem uma base voltada para a análise do movimento. Heráclito: o homem nunca se banha no mesmo rio porque toda vez que ele voltar ao rio, este já não será o mesmo e nem ele, homem, será o mesmo. Parte da ideia de que o mundo é justamente um eterno transformar de fenômenos. Isso vai se aplicar a tudo o que existe, desde os fenômenos materiais até os estados emocionais do indivíduo. Percebe-se a importância dos pré-socráticos na hermenêutica filosófica, base da hermenêutica jurídica. 
Atribui-se a Demócrito a primeira ideia de átomo – demonstra que a filosofia já se preocupava com o movimento da vida. Falava em partículas essenciais que dariam ensejo às transformações do mundo. Todos os filósofos desse período têm em comum a ideia de estudar o mundo como um cosmos, um conjunto de coisas que se movimentam e se transformam. Todos os processos são captados pela minha sensação, pela minha experiência. A filosofia seria a aproximação com estes processos, seria conhecer o ser das coisas. Seria o movimento que leva o homem da aparência das coisas à sua essência, ao conhecimento de suas raízes. Essa filosofia inicial dará a base para o que virá em seguida, a filosofia racional. Os sofistas, logo a seguir, são os que passam a exercitar a filosofia. Os Sofistas usam o método pré-socrático para construir argumentos. Eles são a base da arte retórica, a ponto de se discutir se seriam filósofos ou apenas argumentadores, artistas da palavra. Sócrates dizia que ele sim estava preocupado com a verdade, enquanto os sofistas estavam preocupados tão somente em persuadir o auditório. Os sofistas tinham uma técnica retórica da qual eles se valiam para criar argumentos fortes, e isso era quase que uma forma de entretenimento dentro da Grécia. Sócrates quer fazer a divisão, entre a arte de argumentar e a verdade.
AULA 02: Pré-socráticos
Pré-Socráticos
Aprenda, nesta videoaula, sobre quatro dos mais importantes pré-socráticos, que foram os grandes inspiradores de toda a cultura filosófica: Heráclito e a sua "luta dos contrários"; Parmênides de Eléia e a falibilidade dos órgãos dos sentidos, considerado o fundador da Lógica; Empédocles e os quatro elementos; Zenão, discípulo de Parmênides e fundador da dialética, que abriu caminho para o idealismo platônico.
Trataremos de quatro pensadores pré-socráticos: Heráclito, Parmênides, Zenão e Empédocles. Estes quatro não finalizam todo o conjunto da produção pré-socrática; são apenas exemplares de formações filosóficas que deram uma importante contribuição para a filosofia. Foram os mestres da cultura filosófica que a partir de então surgir. 
Migração do problema da physis para a compreensão do mundo, inclusive compreensão do pensamento. Transição da filosofia da natureza para a filosofia idealista, socrática, platônica e aristotélica.
Heráclito: sua principal marca é a ressignificação da relação entre os fenômenos. Ele funda dentro da filosofia uma compreensão de índole mais abrangente. Tensão entre os contrários e da impermanência. É dele a frase do rio. O ser é uma tensão permanente entre opostos. A realidade do ser nunca será revelada porque ela mesma já se encontra imersa em uma impermanência constante. O oposto é a condição da existência de tudo. A separação entre o ser e o não ser não existe. Para ele eu só posso falar do ser por que existe o não ser. Não existe a possibilidade de falar de uma coisa sem falar em seu contrário. Essa revolução proposta por Heráclito não chega a ser um relativismo completo. Esta tensão é da natureza de um ser que não se acessa por completo, exatamente por ser a conjunção dos contrários. Até a própria natureza humana já revela essa relação. O home é tenso e calmo; dorme e acorda. Captar a essência do ser é exatamente captar um nível mais elevado de consciência. A ideia do conhece-te a ti mesmo para Heráclito é a chave para perceber a verdade. A unidade do mundo não é permanente, estável, mas sim se revela nas lutas de contradições. A unidade é uma multiplicidade. O homem precisa mudar sua atitude rumo ao interior; dmitir que dentro de si já guarda toda essa contradição. Essa é a fonte de toda a sabedoria.
Parmênides: se contrapõe a Heráclito. É considerado o pai da lógica. Para este o acesso à verdade, ao logos, é o acesso a um conhecimento completo, que não se satisfaz com estados transitórios. A ideia de que o quente é o oposto do frio é um conhecimento aparente, porque a verdade está no ser e o ser tem que ser algo que seja imutável e não sujeito a essas variações. É o autor das máximas da lógica. Quando afirma que o ser é, quer dizer que é necessário afirmar a identidade de algo, para não se confundir com o seu contrário. Aí reside o segundo mandamento da lógica: se o ser é, então o ser não pode não ser. O caminho para o conhecimento é a construção de um raciocínio. Ideia do método como caminho para conhecer o ser, totalmente livre de variações, de contradições. A lógica como um princípio de orientação do pensamento, que permitirá ao homem encontrar verdades irrefutáveis. O ser tem como características a unidade, a atemporalidade. O que é de forma verdadeira é sempre. O que se modifica não é a verdade. Encontroda filosofia com a razão, que se pretende contínua, perfeita e acabada. A filosofia aproxima-se do pensar como a morada da verdade. É uma filosofia linear. Enquanto houver tensão não haverá a verdade.
Empédocles: sua filosofia é marcada pela união de influências heraclitianas e de Parmênides. Era um médico e o exercício da medicina foi essencial para a sua filosofia. Os sistemas que se equilibram influenciaram seu pensamento. Para ele o mundo não é uma tensão como pretende Heráclito, nem uma unidade como pretende Parmênides. O ser seria um movimento de separação e composição. É um conciliador dos pensamentos de Heráclito e Parmênides. Tudo é uma composição dentre os quatro elementos: água, fogo, terra e ar. O pensamento e as emoções também seriam a junção destes quatro elementos. Encontro da natureza com a razão como característica dos pré-socráticos.
Zenão: é considerado o pai da dialética. Conhecido pelas suas aporias, que são formulações argumentativas aparentemente sem solução. Caracteriza-se pela arte de mostrar a verdade pela contradição, então a lógica é o espelho do ser, mas a dialética é o caminho para alcançá-la. O que Zenão quer com isso é dizer que dentro desse processo para chegar a verdades superiores eu preciso caminhar pela dialética. Então a verdade é sempre um diálogo com os contrários. Eu não posso afastar a contradição do processo de construir a verdade.
AULA 03: SÓCRATES E PLATÃO
Nesta videoaula, falaremos sobre Sócrates e Platão, dois dos maiores pilares da filosofia grega. 
Conheça a história de cada um deles, bem como os principais aspectos do pensamento filosófico que lhes é peculiar: Sócrates e a sua maiêutica, no seu embate com os sofistas: o "conhece-te a ti mesmo" e as virtudes socráticas; Platão e sua teoria das formas/ideias, com "A República" e o seu conceito de justiça.
Sócrates e Platão: Grécia governada por Péricles. Período da Guerra do Peloponeso. Momento do início da decadência do Império Grego. A cultura, a educação, são a base dessa comunidade. A educação era o desenvolvimento das virtudes. A ginástica, a música, a retórica, faziam parte da educação. A educação revelava o contato do homem com as ideias, com o autoconhecimento. 
Sócrates era integralmente dedicado à filosofia. Não há nenhum escrito de autoria dele. Suas ideias foram consideradas subversivas e por isso foi condenado à morte. Filosofia voltada ao autoconhecimento. Trata-se de uma filosofia crítica. Inaugura a antropologia filosófica. Seu método filosófico é a maiêutica, que significa o parto das ideias. Ele entende que o homem precisa encontrar a resposta nele mesmo. Conhece-te a ti mesmo não é uma fase socrática, mas é central de seu pensamento. Maiêutica era o modo através do qual ele tentava trazer o homem para a sua consciência, conhecer a natureza da sua existência. A filosofia é uma forma de fazer as questões certas; é uma filosofia das perguntas. Sua intenção não é encontrar respostas para tudo, mas sim o exercício da pergunta. Sua preocupação não é em responder, mas sim em perguntar, o que o diferencia dos filósofos pré-socráticos. Então esta maiêutica, ou este parto das ideias é o que até hoje é considerado o cerne da filosofia, que é a pergunta. A filosofia é o amor ao conhecimento. Ele muda o tom da abordagem das questões, sempre colocando em dúvida o que se tem por certo, o que se tem por conhecido. É um filósofo por excelência. Colocação do homem como centro da questão, porque o homem é o ser que questiona. Sócrates vai encontrar nas respostas as virtudes. As virtudes seriam os bens maiores. A bondade, a beleza e a justiça são características voltadas ao conhecimento. 
Sócrates e os sofistas travaram uma discussão importante. O sofista era um retórico. Sócrates não exercia a retórica com a mesma intenção, ele era muito mais crítico. A diferença básica é que a arte da argumentação passou a ser criticada por Sócrates quando ela não estava a serviço das virtudes e a serviço do logos. A virtude para ele seria exercer essa argumentação em favor do logos, de estar mais próximo do conhecimento e da verdade. Para os sofistas bastava o convencimento da maioria. O problema é a serviço do que está a argumentação.
Lógica e dialética: existe uma tradição que tendeu a fazer uma separação entre lógica e dialética, como se uma estivesse em contraposição à outra. Como se a lógica fosse um exercício da comprovação racional inquestionável e a dialética fosse um fenômeno aberto. Não é bem isso. Todos os historiadores da filosofia são unânimes em afirmar que a dialética é a mãe do pensamento filosófico, e a lógica seria uma filha da dialética. A dialética é o procedimento argumentativo através do qual pessoas se lançam em argumentações, em disputas argumentativas. A dialética é a mãe de toda a forma de conhecimento racional. 
Platão: é o primeiro discípulo, em termos de importância histórica, que tenta sistematizar o pensamento socrático. Tenta organizar o conjunto de elementos deixados por Sócrates. Das histórias de Platão é que se conhece Sócrates. Ele funda a Academia de Platão, dedicada a encontrar os meios de educar o homem grego. Sua intenção maior é a educação do homem grego. Preocupação da formação do caráter e da alma. É conhecido como filósofo idealista. A teoria das ideias parte da ideia de que o homem tem acesso a diferentes formas de apreensão da realidade, de apreensão do mundo. A primeira forma seria a mais rudimentar, que seria o conhecimento sensível, os órgãos do sentido, como a visão, o tato, o olfato. A partir deste o homem chegaria à opinião, baseada no que se captou com os sentidos. A ideia entre aparência e essência volta com grande força. Clara diferença entre essência e aparência. É nesta distinção em que se funda o mito da caverna. O conhecimento que os sentidos me dão é um conhecimento precário, que não me dá de forma estável o sentido da verdade do mundo, ao passo que a matemática nos dá um conhecimento mais completo da estrutura do real. O mundo das formas seria o mundo da perfeição. Para Platão no mundo das essências existe a forma perfeita. O homem virtuoso é aquele que acessa o mundo das ideias. 
Os livros de Platão - “A República” e “As Leis” - são livros voltados a pensar o homem. Pouco fala sobre política. O homem ideal platônico é um homem virtuoso. 
A importância de Sócrates e Platão para o Direito se situa no campo da nova forma de pensar as relações entre a legalidade e a legitimidade. Aquele poder não era fruto do pensamento das virtudes. Inaugura a noção de legitimidade dentro do exercício do poder. 
AULA 04: ARISTÓTELES
Entenda a herança platônica e a originalidade do pensamento de Aristóteles, sem dúvida um dos maiores filósofos de todos os tempos. Com uma boa compreensão sobre sua história de vida, poderemos analisar o seu pensamento ético e focar as influências da filosofia aristotélica na teoria do direito, destacando o quão atual ainda se mostra o seu pensamento.
É o pensamento mais importante do Ocidente. Torna-se aos 17 anos o grande aluno da Academia de Platão. É o mentor, consultor, de Alexandre, o Grande. Ele foi muito mais estudado no Oriente do que no Ocidente. No mundo Ocidental passa a ser estudado de forma mais sistemática com São Tomás de Aquino, muito embora com Santo Agostinho já houvesse um estudo filosófico de matriz grega, muito mais ligado às ideias de Platão, tanto que era considerado neoplatônico. 
Duas obras importantes: a “Retórica” e a obra de ética, muito importante para o Direito, que é a “Ética a Nicômaco” (nome tanto do seu pai quanto de seu filho). 
Por ter sido aluno de Platão acaba por sofrer influência deste. Alguns estudiosos consideram os pensamentos de Aristóteles como um prolongamento dos pensamentos platônicos. 
Aristóteles retoma o princípio racional – a racionalidade humana como a base da filosofia, e o homem como essa razão manifestada. 
Estrutura do real como uma relação de potência e ato: Platão partia do princípio de que o mundo das formas é o ato por excelência. E a vida real, abaixo do mundo das ideias, avida cotidiana, seria um conjunto de potências, possibilidades de se levar ao mundo das formas. Chega-se ao mundo das formas pelas ideias. Noção de que o mundo das aparências é precário em relação às essências. O que Aristóteles inova em relação a Platão? Ele muda apenas o ponto de partida. Para Platão o mundo das formas seria o ato por excelência e tudo o mais seriam possibilidades, reduzidas enquanto o homem não enfrenta o caminho da intuição racional. Aristóteles, embora afirmando que há um princípio racional onde as ideias são perfeitas, ele considera que aquilo que em Platão era considerado transitório, que era o mundo das aparências, para Aristóteles é o caminho para se chegar às essências. Aí é que parte dos estudiosos entendem pela ruptura entre Platão e Aristóteles, enquanto outros entendem como mero prolongamento dos pensamentos de seu antecessor. Afirma que é no mundo das aparências que eu acessarei as realidades maiores. O universal é o perfeito, é o mundo das formas acabadas. O universal está presente em cada indivíduo, e a tarefa da filosofia seria mergulhar neste mundo para encontrar o que neste mundo das aparências há de universal e este caminho é que vai me conduzir ao mundo das formas perfeitas. Isso muda completamente a filosofia platônica e torna Aristóteles o grande pai da lógica, o pai da ciência. Foi o primeiro cientista a fazer a categorização das coisas. Faz um catálogo de espécies animais, minerais. Nasce daí o germe da ciência. A estrutura do conhecimento humano está necessariamente implicada nesta sua realidade e o homem deve, se optar pelo conhecimento do caminho da verdade, seguir pelo caminho da contemplação. Para este caminho ele deve estar afinado com o mundo racional, com o mundo dos conceitos. Daí vem a noção de que o homem possui memória. A experiência sensorial seria a porta de entrada no mundo racional. Ao contrário de Platão ele valoriza esta experiência sensorial por entender que ela abre as portas à imaginação, que vai me permitir chegar ao mundo das ideias.
Mundo ético, gnosiológico: no “ética a Nicômacos”, Aristóteles fala em justiça distributiva e justiça comutativa. A justiça comutativa seria a justiça dos comércios e a distributiva seria o “dar a cada um o que é seu”, seria a arte de distribuir o direito de acordo om o mérito de cada um. Ele não propõe uma teoria do Direito. Quando fala em justiça está se referindo a comportamentos humanos, até porque o direito não era tema central no mundo grego. Admitia a possibilidade de conhecimento de um mundo ético a partir das vivências do mundo que o cercava, ao contrário de Platão. A decisão como um conjunto de habilidades do julgador de saber qual caminho optar para uma determinada hipótese. Esta é a grande herança de Aristóteles para a concepção do Direito Contemporâneo. 
Ciclo em que os conhecimentos são produzidos no homem: realidade experimentada pelos órgãos do sentido; a opinião seria o segundo nível. E quando começa a lidar com mundo das formas é que passava a conhecer o mundo perfeito, o mundo das verdades. Partindo das mesmas premissas de Platão de estágios mais rudimentares para estágios mais puros do conhecimento, Aristóteles fala de várias formas que o homem passaria, e que todas estas formas estariam ligadas através da dialética.
A dialética seria a forma de perguntar a respeito da verdade dos enunciados. Retórica como intenção de argumentar com base em provas, com a finalidade de convencer a plateia. Da retórica passaríamos para o âmbito das ciências, baseada na dialética, muito mais profunda e voltada à comprovação. O passo seguinte seria a logica, mundo das matemáticas, próximo ao mundo das ideias. O conhecimento do homem teria todos estes níveis de acesso. Importância da racionalidade prática. A realidade ética vive da forma de se buscar uma forma de melhor agir. daí surgem as ideias de Perelmam, de Habermas, de Dworking e de Alexy. A dialética seria o caminho de todo o conhecimento, o fio condutor de todos os níveis do conhecimento humano, que não são fracionados. A escolha das premissas é sempre o ato de escolher prioridades racionais. Trata-se o pensamento de Aristóteles de um pensamento atualíssimo.
AULA 05: SOCIOLOGIA GERAL
Nesta aula introdutória ao estudo da sociologia, estudaremos três pensadores de grande renome, conhecendo as suas histórias de vida, o ponto partida das suas criações teóricas e o método nelas empregado: Charles Louis de Secondat (Barão de Montesquieu, Auguste Comte e Émile Durkheim.
Montesquieu dispensa apresentações: é simplesmente quem inspirou o princípio da separação de poderes. Comte é nada menos do que o pai do positivismo. Em Durkheim, veremos a sua famosa "Teoria do Fato Social" e a solidariedade como conceito analítico. A análise sobre o legado de tais pensadores, sem dúvida, será de grande utilidade.
Barão de Montesquieu: Iluminista do Séc. XVIII – sua famosa obra “O Espirito das Leis” trata de uma análise sociológica; busca explicar como a sociedade funciona, como todas as formas de sociedade funcionam. Não se trata de uma análise jurídica ou legislativa da questão. Para ele lei é tudo que gera uma consequência social, então as leis serão para ele desde o clima, desde o território, os hábitos, a religião, a economia, até a lei no sentido clássico que conhecemos. Logo, todo o conjunto de condições ou causas que geram impactos sociais e que podem explicar os fenômenos de uma sociedade são, para ele, leis. Fala das leis humanas, das leis naturais, etc. Sua principal contribuição, que marca o início da sociologia, é a tentativa de explicar de forma cientifica a superestrutura de governo, isto é, os poderes que organizam a sociedade a partir de relações sociais atomizadas, que estão na base da sociedade. Isto faz dele um dos pais da sociologia.
As formas que Montesquieu elege para estudar, portanto, a sociedade, as estruturas, são basicamente três: as causas naturais, como leis geográficas, o clima a temperatura, a posição de determinado território: tudo isto influenciaria em determinadas práticas sociais; as causas sociais propriamente ditas, como a religião, o comércio, o comportamento; e a superestrutura de um governo. A síntese de todas estas relações causais daria o que Montesquieu chama de causas das instituições, que seria o espírito geral de uma nação. “O Espírito das Leis” é considerada a primeira obra cientificamente sociológica. Com base neste estudo Montesquieu vai propor a separação de poderes, mas não a separação tripartida hoje adotada. Em sua obra a magistratura não teria uma autonomia, como o tem o legislativo e o executivo. É um modelo bipartite com a existência de um órgão paralelo, o judiciário, com a mera função de aplicar as leis. Sua obra procura explicar os fenômenos sociais a partir de outros fenômenos. 
Já no séc. XIX teremos o pensamento de Auguste Comte. É o fundador do Positivismo, no sentido de doutrina cientifica, e não no sentido jurídico. Tentativa de explicar a sociedade e de criar uma teoria sobre a sociedade. Ao contrário de Montesquieu, a obra de Comte é mais arrojada, ela quer explicar uma tendência, ela quer dizer como a sociedade existe e porque existe dessa forma e qual o caminho desta sociedade, o destino da sociedade, não se contentando em apenas indicar causas sociais, como Montesquieu. 
Há uma divisão na obra de Comte entre os estados do espirito humano. Para ele os seres humanos nasceram no estado teológico, em que os seres humanos se relacionavam a partir de uma base divina e a partir desta base teológica se explicava tudo. Daí seguiu-se para um estágio militar, ainda místico, em que o homem descobre a sua força e descobre os efeitos do uso da força para a organização social. Mas ainda neste estágio não se deixa de fazer alguma referência à base divina, por isso ainda um estágio mítico. A racionalidade só é atingida a partir de um estágio positivo, em que o homem concebe toda a realidade social a partir da explicação causal racional, já não atribuindo à teologia a origem dos acontecimentos. Isto não ocorre deforma compartimentada, mas as fases se dão de forma distinta em cada sociedade. Ele vai encontrar este estágio em franca evolução na sociedade dele. 
Ideia de que o todo prevalece sobre as partes: estudando o todo eu conseguirei compreender as partes. Então eu preciso estudar a sociedade como um todo para compreender os fenômenos sociais e para compreender o futuro desta sociedade. Ele vive no período da revolução industrial, período de declínio do pensamento metafisico e teológico. Portanto vai empregar no estudo sociológico o pensamento racional. A racionalidade seria um dos fatos sociais que explicariam a sociedade. A sociologia estaria no centro do saber humano. A partir do momento em que a sociedade se torna racional ela também gera consequências racionais; ela pode racionalizar a economia. A partir do momento em que as corporações se organizam e estudam a economia eu posso saber que o crescimento econômico do país deriva da racionalização da conduta. Daí decorre como consequência a meritocracia. A sociologia de Comte tem por função, por meta, estudar as leis do desenvolvimento histórico. Comte não se preocupa em encontrar a essência do mundo, mas em saber como a humanidade se desenvolve no tempo. Ele faz uma relação com a anatomia, falando em anatomia do corpo social, e vai encontrar uma relação entre a racionalidade e as formas de estrutura social. Neste status positivo é que estariam os fundamentos para entender a sociedade. Ele acha que o exercício do poder social deve derivar de uma racionalidade que explique o fenômeno social. O poder será tanto mais eficaz e dará resposta a esta sociedade que chega num status positivo quanto mais puder se basear em práticas racionais. 
Emile Durkheim: pensamento bem mais próximo do prevalecente no séc. XX e é nele que vamos estabelecer algumas características muito importantes para nossa análise. Uma das características é a influência de Comte. Há um encadeamento lógico entre eles. Em suas obras está preocupado em explicar o fato social. Ele pretende estudar a sociedade a partir de um conceito novo. A base de seus pensamentos é a teoria do fato social. 
Pensamento central de sua obra: a sociedade não nasce dos indivíduos; o indivíduo é que nasce da sociedade. Há uma influência direta de Comte. Há nele uma aversão ao pensamento contratualista próprio do Iluminismo. Quando o indivíduo nasce já há uma sociedade, com fatos exteriores que o circundam e estes fatos exteriores influenciam a vida do indivíduo, suas opções e seus comportamentos. Ou seja, os fatos sociais é que conformam a vida do indivíduo. O indivíduo só se percebe na sua individualidade em momento posterior. Para Durkheim nas sociedades antigas é claramente perceptível que não há essa concepção de individualidade; os homens são parte de um todo. A individualidade só nasce da prática social. 
Solidariedade mecânica: é a relação automática própria das sociedades primitivas. Há uma consciência coletiva muito mais uniforme e as relações que pautam os indivíduos estão justamente ligadas nesta relação automática.
Solidariedade orgânica: nas sociedades modernas surge o consenso, a individualidade, a diferença. Fato social é exterior ao indivíduo, ele é geral e é coercitivo, ou seja, impele a conduta do indivíduo, por exemplo, as práticas religiosas, a economia, dirão como o indivíduo se comportará dentro da sociedade. 
AULA 06: Max Weber
Um dos fundadores da sociologia moderna, Max Weber merece um estudo atento sobre o seu pensamento. É a isso que nos propomos nesta videoaula, expondo sua história de vida e transitando pelos conceitos fundamentais por ele articulados: sociologia, ação social, tipos ideais, dominação e princípios de legitimação (racional-legal, tradicional e carismático). Entenda os objetivos da sociologia weberiana e suas características metodológicas.
	
Sociólogo alemão. Tido como o pai da sociologia moderna. Seus estudos se basearam num traço que é o estudo da ação social, traço distintivo do seu pensamento em relação a tudo que o antecedeu. Ideia de que os fenômenos sociais devem ser estudados a partir do indivíduo, ou seja, o indivíduo como fonte dos acontecimentos sociais; é a matéria prima, o ponto de partida para toda explicação do que acontece na sociedade. Ele critica o que ele considera ser a tentativa frustrada ou mesmo impossível de pautar a explicação racional de forma universal. Considera que através dos estudos sociais é possível traçar uma lei, universal, geral, sobre o que quer que seja. Então a partir daí ele critica o pensamento de Durkheim que pensava o fato social como um elemento estático. Weber entende que tudo nasce da ação social. Parte da necessidade de analisar empiricamente os fatos. É uma teoria sociológica, ou seja, propõe um método científico de estudo. O próprio conceito de sociologia que ele apresenta traz já embutida a ideia de ação social. Para ele Sociologia é a ciência que estuda a ação social, interpretando os seus nexos de causalidade. 
Podemos identificar três elementos da sociologia em Max Weber: é uma ciência compreensiva; visa interpretar a ação social para explicar causalmente os seus efeitos na sociedade. Ação social antes de tudo é uma ação humana. É a partir do exame empírico das ações individuais que toda ciência sociológica poderá explicar de forma segura a relação causal entre os fenômenos. Este é um ponto essencial. Não é toda e qualquer ação humana que é ação social. Ação social é aquela dotada de sentido, ou seja, não são as ações irracionais. 
Classifica quatro tipos de ações sociais: as ações racionais referentes a fins; referentes a valores; afetivas e tradicionais. As referentes a fins são aquelas que utilizam a noção de necessidade, ou seja, as ações na economia, por exemplo – se eu ajo de determinada forma, eu viso a determinado fim. A referente a valores são aquelas de índole ética, que se praticam no âmbito da moral, da religião. A ação afetiva são as relacionadas ao âmbito do casamento, da família, da amizade; estão muito mais relacionadas às emoções do que às relações de causalidade entre meios e fins ou mesmo de valores éticos, estão relacionadas ao âmbito da intimidade. Por fim as ações sociais tradicionais são as ações baseadas na tradição, no costume, p. ex, o respeito aos mais velhos.
Preocupação de não criar leis gerais: por entender que as gerais e a tentativa de universalizar certos fenômenos sociais poderia ter como consequência impedir um conhecimento efetivo da realidade da vida. Ao invés de entender empiricamente a base dos acontecimentos sociais, o que seria a base da sociologia, nós estaríamos partindo para teorizar e criar análises a partir de dados instrumentais criados de uma forma teórica e não efetivamente aferida e estudada. Ele também reconhece que é essencial em toda ciência empírica algum nível de instrumento teórico. 
Ao lado das ações sociais tem-se os tipos ideais. Estes são a decorrência da análise das ações sociais. As obrigações dentro do aparelho de estado deixam de ter a carga simbólica para passar a ter uma carga de análise quase impessoal, como a figura do funcionário público, do burocrata. Ao analisar diversas ações sociais, ele percebe que há um conjunto de práticas comuns encontradas, que são identificadas como os tipos ideias. São formas um pouco mais ampliadas de análise de fenômenos empíricos. Estuda um conjunto de comportamentos que é comum a determinado grupo de indivíduos e a partir daí identifica os tipos ideais, como o burocrata, as lideranças carismáticas. Se eu percebo que em todos os países de determinado continente as lideranças carismáticas assumem determinado conjunto de condutas e obtém um conjunto de efeitos semelhantes, eu posso afirmar que isto é um tipo ideal, a partir do qual eu posso estudar a sociedade. 
Características: as ações sociais e os tipos ideais são necessariamente dinâmicos, logo devem ser sempre revistos. O estudo das práticas sociais e suas consequências devem ser sempre renovados para saber se estes tipos sociais ainda são base segura para explicaros fenômenos da realidade.
Objetivo dos estudos de Max Weber: identificação dos tipos ideais; classificação desses tipos quanto a espécie de ação social; análise das afinidades e antagonismos entre os diversos tipos ideais. A conjugação dessas análises permitirá perceber determinadas causas. Se há uma afinidade entre determinada prática religiosa e determinada prática econômica, como ocorreu com o protestantismo e o capitalismo nos Estados Unidos, em que a religião valorizava a acumulação de riquezas, gerou como consequência um crescimento econômico muito mais acelerado do que na Europa; análise multicausal: todas as formas de percepção das influências entre os tipos devem ser analisadas. Todas as ações possuem uma determinada autonomia, mas elas se interpenetram. As multicausalidades é que são responsáveis por uma compreensão segura da realidade social. Toda realidade baseada em tipos ideia deve, portanto, fazer um cruzamento contínuo destas multicausalidades e somente a partir daí extrair o resultado analítico do conjunto dos tipos ideais.
Características metodológicas dos quatro tipos referidos: eles documentam uma ação social e se situam em determinado domínio social. A partir desta análise documental de cada tipo social eu analisarei os casos específicos, como ocorreu com o cruzamento do protestantismo com o capitalismo. Disso derivam duas possibilidades: análise e explicação dos acontecimentos, mas também um segundo tipo de análise, a análise desenvolvimentista. Ou seja, além de dizer como a sociedade é hoje, encontrar uma projeção do que aquela sociedade poderá se transformar, se mantidas as mesmas condições, fazendo novamente a ressalva, porém, de que essa prospectiva não tem um cunho determinista, fazendo então uma crítica a Carl Marx. 
Outro traço característico a que Weber se dedica é a força como as relações de poder causam impactos nos tipos ideais, por exemplo, na educação, na economia, na religião, na própria moral. Fenômeno da dominação. 
Conclusões: mudo do min 32 a 36.
Outro aspecto muito importante do pensamento de Max Weber diz respeito a seu estudo sobre a dominação. Ele encontra o conceito de dominação na seguinte fórmula: é a probabilidade de as ordens emitidas por um grupo encontrarem obediência em outro grupo. Ele encontra a obediência em um conjunto de elementos, que são o hábito, o costume, cálculo de meios e fins e a crença. A obediência decorreria do conjunto destes elementos, explicando as situações de dominação ao longo do convívio social. Entende que a dominação não é apenas decorrência do fato social, como entendia Emile Durkheim – a dominação pelo direito, pela religião. Para Weber a dominação é o conjunto de tipos ideais e de tipos sociais que se baseiam tanto em hábitos e costumes, quanto no cálculo meios e fins (se é valoroso ou não obedecer a determinado grupo), quanto na crença, então ela não é unívoca, ou seja, a dominação política não decorre só da política; a religiosa não decorre somente da religião, e assim por diante. A dominação então é um fator multicausal. Ao contrário do entendimento de Marx, da dominação como monopólio da força de produção, Weber entende que a dominação decorre de um conjunto de elementos. É um conjunto de tipos ideais e de ações sociais que resultam na dominação. 
Esta dominação também se legitima por vários fatores: por um discurso racional legal, ou seja, manda aquele que está legitimado a mandar; por um aspecto tradicional – tradicionalmente determinado grupo sempre mandou; ou mesmo carismático – determinado grupo ou pessoa que impele a uma ação social de obediência. Não necessariamente a dominação é baseada apenas em um destes elementos, posto que a dominação é um fenômeno multicausal. 
Resumindo: ênfase na ação individual como ponto de partida do estudo da Sociologia; oposição à criação de padrões teóricos explicativos totalizantes; estudo das relações dinâmicas dos poderes que permitem a prevalência de dada ação; estudo da dominação; abertura da multicausalidade; estudo das relações presente-passado.
Influências para o Direito: Weber talvez seja o primeiro sociólogo do Direito – ênfase de que o fenômeno jurídico não é de base contratualista, já perceptível em Durkheim, mas sim como decorrência do conjunto de práticas sociais. Para Weber: Direito baseado numa estrutura de meios e fins, passa a ser um direito normativo. Outra característica é a coercitividade. O pensamento de Kelsen é baseado neste pensamento de Weber. 
AULA 07: DESCARTES E KANT
Expondo os antecedentes históricos para bem compreender o pensamento teórico de René Descartes eImmanuel Kant, traçaremos o perfil que permitirá avançar no estudo das principais teorias por eles desenvolvidas.
Descartes é considerado o pai do racionalismo moderno, emprestando seu nome ao conhecido "método cartesiano". A Kant, por sua vez, atribui-se a "paternidade" sobre o chamado "idealismo transcendental", propondo uma fusão entre o racionalismo e o empirismo. Confira, nesta videoaula, as bases do cartesianismo e do pensamento kantiano.
René Descartes: marca o início do pensamento racionalista moderno. Conhecido como filósofo e grande matemático. Tem três principais obras: “Regras para direção do espírito”, “Meditações Metafísicas” e “O discurso sobre o método”. Esta última lança as bases do pensamento cartesiano. 
Antecedentes históricos: o renascimento, o surgimento das cidades, o protestantismo, embora seja um filósofo católico, o declínio do poder da igreja enquanto direção cultural, social e política. Também é marcado pelo fenômeno político voltado a questionar as monarquias absolutas. Sua filosofia tem como pressuposto a centralidade do homem, a laicização do mundo, o mundo desdivinizado.
Racionalismo cartesiano: sua filosofia sempre andou passo a passo com a geometria. Ascensão da razão calculadora. O poder de calcular, de prever fenômenos, de quantificar lançaram raízes dentro da cultura. A razão como centro da explicação dos fenômenos. “Penso, logo existo”, trecho do livro “o discurso do método”, em que ele explica a forma de se chegar a um conhecimento racional seguro. Esta lógica deriva da dúvida fundamental, da dúvida radical. Para Descartes, todo conhecimento só surge quando sou capaz de levar às últimas consequências a capacidade humana de duvidar. Quando eu duvido de tudo chego à conclusão de que eu penso, porque o ato de duvidar já é ele uma manifestação do pensamento. Descartes dirá, portanto, que a base de fundamentação da razão é a dúvida. Duvido, logo penso. Penso, logo existo. Disso decorre a divisão entre sujeito e objeto: o sujeito que pensa está desgarrado do mundo. O mundo me dá a experiência sensorial, mas é na dúvida, logo num processo meramente mental, que sou capaz de descobrir formas seguras de raciocinar. Então a experiência do homem com o mundo é um mero instrumento. A base da ciência moderna é exatamente a cisão entre o sujeito e o objeto: o sujeito que pensa e o objeto pensado. Dessa dúvida metódica de que tratou Descartes é que surge a base da ciência moderna, que até hoje se mantém de algum modo em andamento, que é a ideia do sujeito que analisa, que critica, que cria conclusões a respeito do que analisado. 
O pensar para Descartes era a única forma de encontrar conclusões racionais sobre o mundo. Ele abriu o caminho para uma nova análise do conjunto das coisas do mundo. Em contraposição a ele surgiram os empiristas, que eram aqueles que propunham que na simples observação eu obteria a verdade sobre as coisas. Para Descartes só nas críticas é que eu chego à pureza do pensamento. Para os empiristas, observação; enquanto para Descartes, reflexão. Ambos, porém, pensamentos racionais, antropocêntricos.
Descartes e Kant admitem a existência de Deus. Defendem, porém, fazer um divórcio entre as coisas humanas e as coisas divinas. Entendem possível haver um reino das coisas humanas.
Immanuel Kant: fecha o ciclo do pensamento racional moderno. Pai do Criticismo, ou do idealismo transcendental, que tem como sentido fazer uma fusão entre o racionalismo deDescartes e o empirismo dos ingleses, de Jhon Locke. Suas principais obras são “Crítica da razão pura”, “Crítica da razão prática”, “Fundamentação da metafísica dos costumes” e “Paz perpétua”. 
Na “Crítica da razão pura” fala das possibilidades e dos limites da razão. Na “Crítica da razão prática” já trata da legalidade moral, da lei moral, de como o mundo moral pode estabelecer as condições dos pensamentos, das condutas. Na “Fundamentação da metafísica dos costumes” faz uma abertura das ideias da obra “Crítica da razão prática”. “Paz perpétua” já é um livro de política, sendo para alguns a base do Direito Internacional moderno.
Ao contrário de Descartes, Kant já nasce no auge do movimento Iluminista, quando estava em franca evolução a Revolução Francesa. É contemporâneo a Rousseau.
Criticismo: a dúvida metódica, embora seja um fator importante para considerar a capacidade racional humana, ela não pode chegar a conclusões absolutas a respeito do que é o pensamento e a existência, exatamente porque a existência e o pensamento já são limitados, pois o homem como centro da existência e do pensamento é limitado no tempo e no espaço. Ele conhece as realidades que o circundam, o que já leva à conclusão de que nem tudo é capaz de ser apreendido de forma indubitável, de gerar um conhecimento absoluto. Para Kant a única forma de validar o conhecimento seria respeitar os limites do próprio conhecimento. O conhecimento se valida quando é submetido a regras críticas, a partir das quais eu posso compreender os seus próprios limites, que são os limites temporais, os limites espaciais. São o que ele chama de a priori de razão. A liberdade para ele está relacionada intrinsecamente ao conhecimento dos limites. Limites da razão e da ação. O homem está naturalmente limitado pela sua própria natureza. Está também limitado pelo convívio. O homem é capaz de reconhecer deveres, nisto está sua racionalidade prática, o que o distingue das outras espécies, e a razão é livre para reconhecer os seus limites. A própria ideia da liberdade já pressupõe a existência de limites. Liberdade dentro das condições que o pensamento me permite acessá-la. O pensamento de Kant é crítico por revelar as limitações do próprio homem, da existência humana.
	Lei moral: age de modo que a tua conduta sirva como a lei universal e que estabeleça o homem como um fim em sim mesmo e não como um meio para o fim. A ideia de liberdade é necessariamente vinculada à noção de dever. O homem deve agir de modo tal que a ação dele não destrua o próprio homem, não perca a noção de convívio, pois o homem é um ser social. Estabelece, pois, uma ponte entre a liberdade e o dever. 
	Conclusões: Descartes funda o racionalismo, posteriormente concluído por Kant, fazendo uma cisão com o pensamento medieval católico. Descartes lança as bases do modelo científico moderno, com o método científico e a crítica baseada na capacidade da dúvida, ou seja, a capacidade do conhecimento está na capacidade de duvidar, base do pensamento de Descartes. Para Kant esta base ainda não está plenamente segura justamente porque a última crítica não vai me dar uma resposta definitiva do que é o homem e do que é o pensamento. Na verdade, o homem é limitado pelo o que ele conhece por último. Isto é uma evidência da limitação da racionalidade humana. É como se Descartes estivesse preocupado com o conteúdo da razão, e Kant com a forma da razão, a forma como a razão se manifesta. 
	Kant lança as bases para o discurso filosófico e moral da modernidade. Ele influencia o positivismo jurídico na medida em que o Direito é marcado como uma forma, não se confundindo com a moral. O Direito é uma forma de regulamento da conduta humana que independe do que eu penso, se é justo ou injusto. O Direito é exterior, e ele vale justamente por conta disso. Ele é a heterolimitação das liberdades. Possibilidade do homem, a partir do Direito, de limitar as liberdades, mas como limitação exterior, enquanto a moral é interior. Traz assim grande inspiração para o positivismo jurídico. Outra influência dele é no campo do Direito Penal. Os neokantianos reformulam o causalismo penal, caminhando para o finalismo, justamente baseado na ideia kantiana de que a razão e a consciência humana possuem um conjunto de elemento de autolimitação. O homem, por ser um ser moral, já tem a capacidade de agir ou de se omitir, razão pela qual a punição pelo direito penal pode incidir, inclusive nos casos em que não haja um comportamento físico. A ideia da culpabilidade, para o finalismo, ganha uma explicação mais firme a partir do pensamento dos neokantianos. Outra influência kantiana é no campo dos direitos humanos, talvez a influência mais importante. A partir da sua lei moral, ele faz um conjunto de explicações, em seu livro “Paz perpétua”, da necessidade de estabelecimento de uma ordem jurídica internacional que permita o convívio entre as diversas comunidades humanas, base do pensamento do Direito Internacional.
AULA 08: HEIDEGGER E GADAMER
Trataremos, nesta videoaula, de dois grandes filósofos do século XX que foram um divisor de águas dentro da ciência da interpretação do direito, a "Hermenêutica Jurídica": Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer.
Conheça a história de cada um deles para bem compreender as suas construções teóricas: Heidegger, marcado por uma pretensa relação com o nazismo, com sua obra-prima "Ser e Tempo"; Gadamer e sua hermenêutica filosófica, que na obra "Verdade e Método" dedica-se, inclusive, à hermenêutica jurídica.
	Heidegger e Gadamer são dois grandes filósofos do séc. XX. O pensamento de ambos é um divisor de águas dentro do que se chama hermenêutica jurídica. A ciência da interpretação de textos jurídicos, ou ciência da interpretação do Direito ganhou um novo enfoque a partir da influência destes dois filósofos. 
	Heidegger: sua filosofia reflete a preocupação com o enraizamento do homem, como o homem encontrar o seu lugar no mundo e no tempo. Como ele era claramente afeito a esta exploração da vida e do seu lugar, do lugar onde nasceu, ele foi visto como um dos pensadores do nazismo, o que é inverídico. Ele foi reitor de uma universidade no período do nazismo. Toda sua produção filosófica se deu durante o tempo em que ficou recluso, justamente pelo fato de ter sido reitor de universidade durante o período nazista. Tem como principal obra “Ser e tempo”. 
	Gadamer: é claramente um discípulo do pensamento heideggeriano. Em seu livro “verdade e método” ele propõe uma virada completa na estrutura da compreensão, tanto nas ciências naturais quanto nas ciências humanas, e como ênfase ele dedica uma parte do livro ao problema da interpretação jurídica.
	Heidegger foi discípulo de Hesserl, que é considerado o pai da fenomenologia. fenomenologia é uma base filosófica que se assenta na noção de que o homem já se encontra no mundo, ele já se percebe no mundo. Então toda a possibilidade de conhecer, de julgar, deve partir deste princípio fenomenológico. O fenômeno é exatamente o testemunho da presença, é o fato de eu me perceber no mundo. O mundo já existe quando eu me percebo nele. Há uma relação entre ser e mundo que é uma relação necessária, e isto tem uma implicação direta na construção da ciência. Também foi contemporâneo à Sartre e sua teoria existencialista. Mas Heidegger nunca aderiu ao existencialismo.
Em breves linhas o existencialismo é uma filosofia que parte da ideia da existência, ou seja, da constatação da existência, mas entende que tudo o que o homem tem é a existência. É a grande liberdade humana. Nas palavras de Sartre, “o homem está condenado à liberdade”. Heidegger compreende que há limites para a filosofia, mas entende que o que a filosofia não resolve parte da religião, da fé. Considerava que o mundo da existência não é autoevidente e excludente de uma realidade que lhe é superior.
	O ponto de partida de Heidegger é o tempo. Ele vai afirmar que tudo que o homem experimenta começa com o tempo. O primeiro sentido da existência do homem é justamente esta percepção de temporalidade, e o aconteceré a própria vida do homem. Tudo começa com a consciência da presença. A consciência da presença é a existência vista de dentro. Eu me percebo presente no mundo, e esta percepção da presença se dá antes de qualquer racionalidade. Para ele é impossível intuir o mundo das ideias, como entendia Platão, por entender que esta intuição já é um passo posterior à constatação da presença, a constatação do existir no mundo. 
	A linguagem não é um veículo estéril, ela está impregnada com a própria existência do homem. A construção de qualquer filosofia ou edifício teórico jamais poderia se esquecer, como a filosofia do Iluminismo o fez, da existência como o ponto zero da linguagem. A existência anterior à linguagem. O homem só pode compartilhar a percepção da existência com a linguagem. A linguagem é o limite da existência. É a forma como o homem encontrou para traduzir o contato com o ser. O grande passo da filosofia heideggeriana no que se refere à filosofia da linguagem e, de certo modo, à hermenêutica, vai ser esta constatação. Heidegger não é um filósofo da hermenêutica. Ele se dedicou muito ao estudo fenomenológico e à metafísica. Por ter esta característica, legou à interpretação uma nova base metodológica. Entendimento de que eu não sou capaz de me distanciar do mundo para descrevê-lo, porque eu já me percebo nele, e a linguagem é a forma de traduzir esta percepção, com todas as limitações que o símbolo tem em relação à própria experiência viva da existência. 
	O legado de Heidegger ganha em Gadamer um outro grau de possibilidade. Gadamer, em sua obra “Verdade e método”, se preocupa com a experiência do texto, em como eu experimento um texto. Se preocupa com o encontro do homem com o texto: o homem é capaz de traduzir um texto, de dizer o que um texto diz? As palavras têm este dom de traduzir o significado do mundo ou elas são apenas sinais? A palavra deixa de ser um veículo que transporta a verdade para ser um sinal. Humberto Eco fala muito sobre esta herança heideggeriana. A palavra é um símbolo que estará no lugar da experiência.
Para Heidegger o texto é símbolo que substitui uma experiência, é um registro em linguagem de uma experiência. Importância para a hermenêutica jurídica: antes deste tipo de exploração do fenômeno da linguagem era comum se ter que a linguagem nada mais era do que um instrumento. A linguagem era usada para traduzir o meu pensamento. A partir da virada heideggeriana e a partir de Gadamer, o que se pensa é que o texto, a linguagem, na verdade constrói o sentido de quem viveu aquela experiência e traduziu aquela experiência em texto, mas ela não transporta um sentido, e o único ponto de contato entre os homens sobre as experiências vivenciadas se dá através da linguagem. Este contato tem as limitações próprias da linguagem; a linguagem é incapaz de recompor a minha experiência, ela não é capaz de dar o sentido exato da experiência que tive. O sentimento do mundo é único em cada sujeito. Os textos, dirá Gadamer, devem ser lidos a partir desta compreensão, considerando que eles são registros de experiências, através de símbolos, que são as palavras. Então ele vai fazer uma crítica ferrenha ao Emilio Bert, defensor da hermenêutica jurídica tradicional, de interpretação literal, teleológica, histórica. Gadamer diz que esta tentativa já revela um distanciamento que é impossível de ter com o texto, porque ao ler um texto eu trocarei com o seu conjunto de sentido a minha experiência e eu darei àquele símbolo do texto a experiência que é por mim vivida. Mas este texto também revela alguma margem de sentido, por ser cunhado na linguagem que, enquanto símbolo que eu compartilho com os meus contemporâneos, a linguagem também serve para gravar a tradição. Por isto sou capaz de ler um texto escrito no ano de 1500 e entender, exatamente pelo fenômeno da tradição. 
O próprio nome hermenêutica vem do deus grego Hermes, que era um deus mensageiro. A hermenêutica se assume em Gadamer como a forma através da qual eu entro em contrato com algo que está registrado, e este algo que está registado não é a experiência vivida, mas sim o registro desta experiência vivida. Então a leitura dos textos nada mais é do que atualizar para o momento de hoje a experiência vivida no passado. 
Ao ler um texto eu devo estar aberto a todas as possibilidades históricas que me chegaram através destas mensagens registradas na linguagem. A linguagem é meu objeto de trabalho não como instrumento para decodificar o sentido de uma existência; a linguagem é o meio através do qual eu dialogo com a tradição. Esta virada será fundamental no constitucionalismo e na filosofia. A partir de então passou-se a entende o texto jurídico como um elemento de construção de sentido. A hermenêutica que propunha encontrar a vontade da lei, ou a vontade do legislador, cede espaço à construção de um sentido, a um diálogo com a tradição e com o problema do presente, que é encontrar um sentido para a realidade. Então toda a vez que o Direito de algum modo procura encontrar uma validade, um fundamento para as decisões atuais, em um sistema prévio de fundamentos e de valores e de conjunto axiológico, ele nada mais está fazendo do que atualizando para o presente toda a mensagem que a partir dos textos de algum modo pode dialogar com o problema presente e atualizar o problema presente de modo que ele possua alguma vinculação com o fundamento normativo que dá a base de fundamentação do discurso jurídico. 
A hermenêutica jurídica, nesta percepção a partir de Gadamer e com esta influência de Heidegger, vai dar ao Direito toda a percepção das limitações de uma compreensão meramente textual. Mais do que o texto, eu preciso conhecer e ouvir a tradição. Canotilho fala sobre isto, assim como o Lênio Streck, difusor do pensamento de Heidegger. Em sua concepção, o texto, na verdade, é um símbolo da tradição; eu preciso ouvir a tradição através do texto. É como se fosse um bastão que alguém entrega para o próximo. Além disso, eu posso construir a ideia da espiral hermenêutica, a ideia de que a construção de sentido não pode ser fruto de uma dedução. A ideia da aplicação, de aplicar o Direito, também ganha em Gadamer uma forte crítica, porque o texto se constrói no momento em que é lido, e esta construção não é apenas um ato do leitor, mas é um diálogo entre o leitor, o que se passou e o presente. Ideia da espiral hermenêutica como método dialético de construção do sentido. Interpretar passa a ser uma dialética entre o texto e o presente e não mais uma mera subsunção entre o fato e a norma, da qual eu posso extrair todo o sentido e significado possível e do qual eu posso me valer para afirmar a validade de uma decisão jurídica. Gadamer inclusive usa a expressão história efeitual para afirmar que mais importante do que encontrar o significado do texto é o encontrar o efeito daquele texto no presente. Esta mudança de postura tem um impacto decisivo no método da hermenêutica jurídica, porque ela coloca a importância não mais no significado das palavras, ou da vontade ou da intenção de quem escreveu aquelas palavras, mas o importante é o efeito que aquelas palavras têm no presente. No presente o conjunto destes efeitos dialoga com as necessidades atuais para a partir deste encontro, deste diálogo, surgir uma nova construção do sentido, e não se chegará jamais a uma construção unívoca, ou desprovida de qualquer contradição exatamente por conta disto. 
AULA 09: NIKLAS LUHMANN
Conheça a história de vida desse grande sociólogo de nosso tempo. Saiba sobre quem o influenciou em suas ideias, bem como as principais obras por ele lançadas. Compreenda a sua crítica ao pensamento sociológico e a concepção de "complexidade", com a evolução do conceito de "sistema". A positividade do direito e a sua função na sociedade são expostas, afora um confronto entre o pensamento de Luhmann e o de Habermas.
Luhmann hoje ocupa um papel central nas grandes discussões da dogmática jurídica. Apesar de ser um sociólogo, de base de natureza jurídica, por ser formado em Direito, notamoshoje sua influência dominante dentro da construção da dogmática jurídica, embora sua teoria seja de sociologia jurídica. Luhmann explora uma base de análise do problema jurídico que não é analise de como resolver um caso concreto, mas nota-se que as conclusões retiradas por ele a partir da sua análise sociológica hoje servem de base para a formação da própria dogmática jurídica. Canotilho é um exemplo dos seguidores das ideias de Luhmann, assim como o funcionalismo e as críticas ao funcionalismo sofrem influência maciça dos pensamentos de Luhmann.
Teve influência dominante do sociólogo norte-americano Talcot Parsons, estudando muito a teoria dos sistemas deste autor. Freud também teve grande influência sobre Luhmann, com suas teorias sobre a inconsciência. Roussel também teve em Luhmann um grande adepto. Merleau-Ponty, com sua tese da percepção, igualmente exerceu influência sobre Luhmann. Há ainda Arnold Gehlen, basilar na construção dos sistemas autoreferenciais e, por fim, Maturana, cujas descobertas sobre os sistemas, na biologia, serviram de base para o pensamento de Luhmann dentro da teoria dos sistemas sociais.
Ideia da complexidade: Luhmann toma isto como o seu lema. Ele tenta definir a complexidade como a totalidade de todos os acontecimentos possíveis. Segundo Luhmann o mundo biológico não segue uma sequência de causas preordenadas; ele sempre vive em trocas constantes com o meio ambiente. Todos os sistemas biológicos estão em constantes trocas com o meio ambiente e essas trocas são importantes para a vida daquele sistema. Esta evidência volta a ingressar no campo da sociologia, em substituição à ideia causalista. 
Há em Luhmann uma substituição radical da causalidade pela complexidade. Ele entende que a razão humana não pode se afastar do mundo. O homem já se vê situado dentro do mundo. O mundo é a complexidade, é a totalidade de tudo o que é possível. Todos os observadores já estão imersos nesta totalidade. O que os observadores podem, no máximo, é encontrar algumas relações seletivas, dentro desta complexidade infinita que é o mundo. O mundo é complexo à medida que as próprias ações/condutas individuais não têm um sentido unívoco. O próprio agente, ao agir, não necessariamente escolhe sempre; às vezes as causas inconscientes agem sobre ele, inclusive nos momentos em que supostamente ele estaria agindo de forma racional. Esta complexidade é que é o ponto de partida. É apenas partindo deste princípio que eu posso tentar entender a razão. A racionalidade já não é mais uma forma de acesso a um conhecimento, passando a ser apenas uma habilidade de redução da complexidade. 
Luhmann afirma que toda a complexidade do mundo se manifesta em sistemas. A ideia de sistema então evolui para a ideia de ordenamento estável interno que se equilibra com o meio exterior, ou seja, há dentro do sistema uma estrutura, uma ordem, e esta ordem se equilibra com o meio externo. O meio ambiente externo como partícipe, convivente com o sistema. Daí se segue para os sistemas abertos, que é a ideia de que os sistemas mantêm uma dependência causal com o meio exterior, uma dependência de trocas com o meio exterior. Então a ideia que Luhmann defende, ou seja, o racionalismo sistêmico por ele defendido, esta complexidade, decorre de uma ideia necessariamente que reduz a possibilidade de encontrar barreiras nítidas entre o que está dentro e o que está fora. A noção de sistema para Luhmann passa a ser a noção de mera seletividade entre possíveis ocorrências. O sistema na verdade é uma seleção de possibilidades a partir das quais o sistema se mantém.
O sistema quer existir e ele lida com a escassez e com a divergência interna. A relação formadora do sistema se baseia nestes três princípios: a existência, ou seja, o sistema luta para existir, para não se desintegrar; ele luta para não se empobrecer – a escassez; e ele luta contra as disputas internas e externas - dissenção. O sistema precisa lidar com a necessidade de se alimentar; o sistema precisa estar sempre obtendo formas de se alimentar para sobreviver. Quanto aos conflitos, Luhmann afirma que o problema se resolve pela seletividade. Como há uma complexidade enorme de situações, o sistema convive com um meio ambiente complexo que o desafia a todo o momento na sua existência, na sua escassez e na sua dissenção, o sistema precisa ser seletivo, ou seja, testar todas as possibilidades. É a partir da captação das possibilidades e da rejeição de outras que o sistema se equilibra. 
É esta compreensão que precisamos ter: conceito de sistema; complexidade; desafios ou problemas do sistema que são existência, escassez e dissenção. Seletividade como meio de resolver isto, para obter a auto regulação, ou seja, o sistema não tem nada de exterior que o regule; o sistema se auto regula. Para Luhmann estes elementos são centrais para estruturar toda a compreensão dos fenômenos sociais.
Transpondo para o âmbito da sociologia: Luhmann encontrará dentro dos fenômenos sociais características típicas desta complexidade que se observa na natureza. Valendo-se da influência de Rosserl com uma filosofia fenomenologista, baseada na ideia de que a realidade é sempre o encontro da consciência do homem com o mundo que já existe. O homem não é capaz de compreender o mundo porque ele já está no mundo. Então se o homem tem esta limitação de base, a forma de encarar o mundo é sempre uma forma participativa, ou seja, ele nunca pode se distanciar do mundo para tentar entendê-lo. Ele abarca a complexidade do mundo reduzindo-a. essa redução da complexidade, dirá Luhmann, é a base fundamental de qualquer sociologia que se queira devidamente adequada à nossa condição existencial. Criticando Max Weber e os demais sociólogos que o antecederam, ele vai afirmar que é em vão a tentativa de buscar cadeias causais dos acontecimentos. O homem está num sistema complexo. A própria possibilidade de encarar o mundo como um sistema já é uma redução da complexidade do mundo. Então o mundo é até maior do que o sistema. O sistema é a forma como nós conseguimos lidar com a racionalidade, identificando estas variáveis. Todos os sistemas têm esta característica da seletividade contínua com a intenção de permanecer vivo.
Dentro dos sistemas sociais temos a realidade do Direito. O desafio do Direito é o desafio da partilha do mundo. Luhmann dirá que o Direito é por excelência um exemplo típico de sistema auto referencial. O Direito claramente tem demonstrado que a sua sobrevivência depende e é necessariamente influenciada pelo meio circundante. A evolução do Direito, quando cruzamos a barreira do Direito Medieval e entramos no âmbito do Direito Moderno, no sentido de um direito construído, fundado no discurso da legalidade, e não mais como um Direito dado, como era o Direito Medieval, baseado na revelação, então essa ideia já mostra que não há uma interioridade do Direito. O Direito é um conjunto de ações que se reuniram e tomam a forma de um determinado sistema. Logo o Direito Moderno é um sistema baseado neste conjunto de relações voltados à sua construção. E o Direito está no mundo, onde há política, economia, religião, educação, etc., e ele é necessariamente o fruto de tudo isto. A redução da complexidade que o Iluminismo tentou foi baseada na concepção de que a lei poderia encontrar conceitos que refletissem todos os melhores interesses em jogo. Isto seria a base do normativismo que mais adiante se transformou em Positivismo. Outra solução que também o Iluminismo deu através do Jusnaturalismo partia da ideia de que a razão era capaz de revelar quais os direitos que são imanentes e fundamentais. O que Luhmann critica é justamente a ideia de que existem direitos preordenados. Para ele a ordenação do mundo nunca é exterior ao mundo; ela sempre é a variável decorrente das inúmeras trocas que existem na coletividade. Num passo seguinte, o Direito passou a ser uma fonte de interpretação das normas. O jurista deixou de ser aquele que meramente aplicava as normas para ser aquele que buscava encontrar o sentido da norma. Aíreside mais uma crítica de Luhmann. Ele vai afirmar que esta impossibilidade é a mesma impossibilidade de abarcar a complexidade de qualquer sistema social. A complexidade do mundo está também presente no Direito. Então esta tentativa do Jusnaturalismo e do Positivismo/Normativismo de trazerem a redução da complexidade de todas as possibilidades na norma, segundo Luhmann, era impossível porque o mundo é complexo. Não haveria a possibilidade de encontrar um sentido do mundo. A própria tentativa de superar esta visão, seja do Positivismo ou do Jusnaturalismo, foi recebida pela Sociologia como a parte mais interessante do fenômeno analítico do Direito. A Sociologia teria então passado a se debruçar sobre as possibilidades normativas e as possibilidades de criação do Direito a partir da influência do meio social. Luhmann propõe uma radicalização deste fenômeno. Para ele não há como interpretar e dar sentido a um conjunto de práticas ou normas, quaisquer que sejam estas normas. Sempre haverá um déficit entre a realidade e o sistema. A realidade, em sua complexidade extrema, impede que seja reduzida, como o Direito tentou, a conjuntos normativos. Mas há um porém: apesar da impossibilidade de redução, Luhmann afirma ter visto algo que os outros teóricos do Direito não viram, na tentativa de dar uma resposta que o Iluminismo não deu, enquanto complexidade do sistema jurídico. Eles não viram a importância da positividade do Direito. Para Luhmann, o Direito positivo é um fenômeno moderno, que demonstra exatamente como os sistemas sociais se criam e se recriam e se regulam. Então o Direito que era imutável se transformou para o Direito criado, pela positividade, pela positivação das normas. Para Luhmann, dentro do seu radical relativismo conceitual, a complexidade do real me impede de afirmar em termos objetivos e imutáveis a existência de direitos fundamentais, de hierarquia de valores. Então a noção de ordem, de fundamento, sentido, hierarquia, para Luhmann, não responde à complexidade do mundo. O que ele afirma é que estas noções de ordem, de hierarquia, de estrutura, tal como são apropriadas pelo discurso jurídico, elas de algum modo revelam uma tentativa malograda de encontrar uma resposta para o problema do Direito que é o problema das inúmeras possibilidades de solução de um caso.
Luhmann vai propor a seguinte base teórica: tudo o que o Direito tem hoje, que é a sua herança desde que passou a se conformar à Modernidade, é a positividade. O Direito como uma criação normativa. E essa positividade é o que permite a seletividade. É o que fará com que o sistema jurídico se mantenha auto regulado. Não serão normas fundamentais, não serão estruturas hierárquicas, não serão ordem jurídicas que dirão o que o Direito será. E nem serão estes modelos que darão a melhor resposta. Luhmann dirá que a situação concreta de um litígio revela um conjunto de seletividades, ou seja, existe entre os contendores, entre as disputas jurídicas, uma disputa sobre possibilidades normativas, decisórias, para aquele caso concreto, e há entre estas possibilidades um parâmetro normativo, que é o que foi selecionado pelo sistema. A diferença é que nós tratamos este sistema jurídico e nós respondemos a esta demanda como se aquilo fosse a forma que legitimada está na sociedade e que deve ser a base e o parâmetro para resolução de qualquer disputa. E Luhmann dirá que não, pois a realidade é muito mais complexa: nenhum caso é repetível. Ainda os casos repetitivos guardam em si o problema da complexidade. Então não é porque eu encontrei um sentido, um fundamento jurídico, que eu sou capaz de assimilar aquele caso seletivamente para manter o meu sistema auto regulado. Eu só sou capaz de assimilar enquanto elemento integrante do sistema jurídico a partir da concepção da objetivação do procedimento, ou seja, o jurista, mais do que tudo, deveria ser o guardião do procedimento. Não é à toa que Luhmann intitulou um de seus livros mais importantes sobre Direito como “Legitimação pelo procedimento”. A guarda do procedimento através do qual as hipóteses são selecionadas e enriquecem meu sistema jurídico é o que há de mais importante para manter vivo este sistema complexo que o Direito é. As influências da economia, da política, da tecnologia, enfim tudo o que circunda este sistema do Direito, que é um sistema de seleção de posições normativas para resolver disputas entre cidadãos. O máximo que este sistema tem de estável (se é que podemos falar de estabilidade dentro da teoria da complexidade de Luhmann) é a positividade do Direito. Então o jurista precisa se ocupar de manter hígido, incólume este procedimento. Isto significa dar a este sistema uma possibilidade de assimilar todas as opções seletivas que possam estar à sua disposição e que possam responder de forma mais eficaz aquele caso concreto. Isto não seria necessariamente um decisionismo. Luhmann reconhece o papel do pensamento kelseniano da Teoria Pura do Direito como um modelo teórico ótimo para se aplicar ao Direito. O reconhecimento das fontes de produção do Direito como sendo um mecanismo capaz de manter a higidez deste sistema jurídico. É como se estivéssemos voltando: aquilo que foi tão criticado durante tanto tempo e ainda o é, aquela ideia da impossibilidade de o juiz criar normas a partir da interpretação de um caso concreto e do encontro das melhores soluções para aquele caso, o que o jurista pode contribuir da melhor forma é mantendo hígido este sistema de produção de normas, de modo que este sistema possa assimilar todo o frescor das outras possibilidades que porventura o permita se manter de modo a que ele exista, que ele combata a escassez de opções para resolver e que ele pacifique, ou seja, que ele assimile as disputas internas e externas como todos os outros sistemas sociais fazem.
A relação de Luhmann com Habermas é baseada num diálogo entre duas opções procedimentalistas. Existe o procedimentalismo luhmanniano e a ação comunicativa de Habermas. Habermas vai dizer, como Luhmann, que a complexidade do mundo impede de estabelecer um conjunto de uma moralidade uniforme, e mesmo uma ideia de conjunto de direitos fundamentais que são intangíveis e que prevalecem sobre outro conjunto de elementos que possam agregar na solução dos casos. A proposta de Habermas para a complexidade do mundo é a ação comunicativa. Ele entende que ao lado deste sistema do qual resultam as disputas e os litígios há um desejo e uma necessidade ainda não cumpridos, que foi o desejo do Iluminismo, de ordenação do mundo através da razão. A racionalidade que Habermas defende é a racionalidade comunicativa. Ele defende na sua teoria das condições ideais de diálogo, um conjunto de instâncias democráticas que permitam um maior número de falantes se manifestar, e disso decorreria o enriquecimento do sistema. Se eu permito que o sistema seja permeável às falas do maior número possível, este sistema vai responder àquela necessidade de equilíbrio que é próprio da juridicidade. Luhmann, ao contrário, defende que esta abertura, esta ética do discurso da ação comunicativa, ela de algum modo é abstrata e não responde de forma concreta o desafio de manter a estabilidade de um sistema. Quem são os falantes? Qual o peso dos falantes? Qual a relação destes falantes com o sistema? Em que medidas eu sou capaz de selecionar as melhores falas deste sistema? Esta é a crítica de Luhmann a Habermas. Luhmann vai dizer, portanto, que manter o procedimento através da higidez das suas formas permitiria sim selecionar as hipóteses a partir de filtros, que seriam as fontes do Direito, os filtros legitimadores daquela produção normativa e este constante trocar de seleções, ou seja, a seletividade dentro de um procedimento, atenderia muito mais a este ideal democrático que Habermas defende do que propriamente a abertura dialógica que Habermas propõe ao falar da sua teoria da ação comunicativa.
AULA 10: Michel Foucault
Filósofo? Historiador? Sociólogo? Nesta videoaula, abordaremos Michel Foucault como sociólogo, dada a sua grande influêncianesse campo, analisando suas principais obras e o traço comum que as caracteriza, estudando, inclusive, sua "microfísica do poder", com destaque para a política e o direito.
Foucault foi filósofo, historiador, sociólogo. Logo sua pesquisa é marcada pela interdisciplinariedade. Sua influência fundamental no pensamento filosófico e sociológico deriva justamente desta sua multidisciplinariedade. Ele pesquisou várias coisas sobre várias perspectivas. 
Obras em destaque: “Vigiar e Punir”, Genealogia da moral”, “história da loucura”, “A ordem do discurso”, “Em defesa da sociedade”, “Microfísica do poder”, “As palavras e as coisas”. 
A síntese do pensamento de Foucault é uma metodologia que é avessa à construção linear do conhecimento. Foucault entende que a pesquisa que deve ser feita para analisar os fenômenos não deve ser uma pesquisa de explicação linear, deve ser muito mais uma pesquisa tal como um geneticista ou um arqueólogo fazem. Parte do princípio de que não há uma explicação sobre a origem dos fenômenos; nada pode ser explicado a partir de um ponto zero. Isto seria um mito metafísico e por isso ele critica o pensamento de Platão. No estudo dos fenômenos sociais o importante será a pesquisa da sua fonte de surgimento, mas não porque vai explicar a sua essência e sim porque dará uma pista desta manifestação. Quando ele fala do surgimento da loucura, o estudo que vai propor não é para explicar a essência da loucura, mas sim para explicar como as manifestações da psiquiatria, do surgimento das práticas psiquiátricas levou à criação de um determinado tipo de diagnóstico chamado loucura e como este diagnóstico participa da prática médica, em que medida eu posso compreender a loucura entendendo a origem da psiquiatria, fazendo arqueologia. 
Nota-se uma diferença brutal do pensamento de Foucault para o pensamento sociológico do séc. XIX. Foucault compreende a sociologia como uma disciplina arqueológica, como uma disciplina genealógica. Dessa genealogia e da arqueologia é que vão surgir todas as suas conclusões das coisas acerca do que ele pesquisou, a exemplo da psiquiatria, da sexualidade, do direito, da educação, da política. 
Características desta genealogia e arqueologia de Foucault: quando Foucault fala deste tema há nisto uma explícita adesão a uma determinada forma de abordagem filosófica da questão. Ele fala muito do Nitche. A obra deste encontra em Foucault uma adesão quase que total. Para Nitche a essência da realidade seria uma disputa de poder; o homem é uma máquina que está dedicada aos embates de poder. Foucault se apropria do pensamento nitcheano e com base nele vai compreender toda a realidade a partir desta convicção de base, a partir desta convicção de que a vida nada mais é do que um conjunto de poderes e embate. A arqueologia de Foucault seria esta constatação de que todo o saber tem na sua origem, na sua formação, uma estrutura de poder, um embate de poder. Foucault e Nitche entendem que toda a construção de saber já é o resultado de um poder que ao construir aquele saber valeu-se do que mais lhe convinha. Então a história da educação, da moral, da psiquiatria, seriam manifestações destes embates de poder, e o sociólogo teria como única preocupação legítima observar estes embates de poder que criaram as práticas sociais, e não explicar a natureza destes fatos. Daí já advém uma consequência para a sociologia: o homem já não é aquele ser aristotélico capaz de participar da política. Foucault compreende a individualidade como uma construção. A noção de individuo, de sociedade, é uma resultante dos embates de poder. 
Como surge determinado saber? É preciso encontrar a história em que se originou para encontrar nas suas práticas alguma relação que me permita entender o fenômeno. 
Como estas práticas se inserem na realidade, nesta teia de disputa entre poderes? Como estes fenômenos se relacionam? Esta é a etapa genealógica. 
Após análise da genealogia se chega a uma pesquisa sobre a influência destas práticas na estrutura da realidade, na composição do real. 
Estes três momentos metodológicos seriam no fundo o que Foucault entende como sendo a base de uma verdadeira pesquisa sociológica. 
“Vigiar e Punir”: obra inicial do pensamento de Foucault. Este entende que não há neste livro uma análise sociológica típica. Ele inicia o livro fazendo uma crítica ao livro “do Delito e das penas”, de Cesare Becaria, justamente afirmando que não foi um surto de humanismo, não foi na verdade uma tomada de consciência social ou dos órgãos e mecanismos de poder que fizeram com que a justiça criminal deixasse de ser uma justiça do suplício e da violência ostensiva e passasse a ser uma justiça procedimentalista, voltada à vigilância e ao encarceramento de pessoas ao invés da eliminação do corpo. Foucault vai encontrar nisso um traço característico do fenômeno da genealogia que ele faz referência. Em primeiro lugar ele estuda arqueologicamente o surgimento da justiça na Idade Média e percebe que este surgimento é contemporâneo justamente às revoltas burguesas, baseadas numa nova elite que toma as cidades e suplanta o modo de produção feudal, daí surgindo uma demanda de modo a criar critérios seguros de adjudicação, de identificação de direitos e deveres, e execução das obrigações. Então para Foucault este fenômeno de criação do Direito não se deve nem a uma causa eminentemente burguesa, e nem a uma causa eminentemente feudal e medieval; ele é uma junção das causas. A força do aparelho de justiça como centralizador do poder de dizer o direito é resultante de forças autônomas e a princípio contraditórias. Esta é a matriz arqueológica do surgimento da justiça. A síntese desta obra já revela a intenção foucaultiana no que se refere à forma de se tratar os fenômenos sociais. Não seria, portanto, uma forma voltada às causas essenciais, mas sim um fenômeno de acompanhamento e crítica destas causas. Entender as condições de seu surgimento, qual o discurso de que estas causas se valeram para criar fenômenos e aparelhos de poder e como contar a história deste específico aparelho de poder sem cair no perigo de adotar um discurso de poder ao invés de um discurso de análise efetivamente social. A estrutura que o “vigiar e punir” traz vai dizer que o aparelho de justiça nada mais é do que a decorrência da ascensão dos mecanismos de vigilância. O indivíduo e o corpo passaram a ser vigiados desde a casa até a prisão. Então a justiça criminal nada mais é do que uma nova forma de organizar o poder sobre o corpo. A partir do momento em que o corpo passa a valer dinheiro, como força de produção, não mais é interessante a eliminação do corpo, mas sim é necessário que eu discipline o corpo, que eu o vigie. Essa é a causa de justificação do surgimento do aparelho de justiça. 
“Microfísica do poder”: é um livro de diálogos, de análises sobre algumas de suas obras. É uma obra distante do “vigiar e punir” em termos cronológicos. Foucault faz um balanço geral da sua obra, desta metodologia adotada por ele desde o início da sua carreira e reafirma suas convicções sobre a necessidade de encontrar um primado da liberdade, um primado da revolta contra os discursos de poder na análise dos acontecimentos dos fenômenos sociais. Teoria e prática em Foucault meio que se mesclam. Ele propõe que haja uma atitude do estudioso da sociologia e da filosofia frente aos discursos de poder, e a descaracterização desse discurso a partir da análise genealógica e arqueológica do seu surgimento, das causas que levaram àquele discurso de poder que justifica e legitima determinada prática social seria uma atitude metodológica, mas também uma atitude política do intelectual. Teremos, pois, em Foucault, o que se chama de intelectual engajado; não é apenas um teórico; é um pensador que toma partido das teorias que ele estuda e das pesquisas a que ele se dedica. A relação direta entre o saber e o corpo, seja o corpo individual ou o corpo social é na “microfísica do poder” uma importante característica. A possibilidade de analisar os discursos sobre este corpo

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