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Resenha do Texto: PRADO JÚNIOR, Caio. Introdução e “Sentido da Colonização”. In: Formação do Brasil Contemporâneo, São Paulo: Brasiliense, 1942, p. 9-13; 19-32. O Brasil Segundo Seus Grandes Intérpretes O historiador e reconhecido intérprete do Brasil, Caio Prado Jr., dá início a sua obra “Formação do Brasil Contemporâneo” retomando ao início do século XIX e o identificando como um momento importante na história brasileira. Tal distinção é realizada na medida em que o autor reconhece o período como condensação dos elementos característicos da nacionalidade brasileira que se desenvolviam desde o princípio da colonização, e momento de esgotamento das possibilidades da obra colonizadora portuguesa. Assim, a construção dos fundamentos da nacionalidade se dá em condições peculiares. O autor destaca, principalmente, o povoamento de um “território semideserto” e a organização de uma práxi humana que divergia do hábito indígena, assim como dos costumes portugueses – considerando as diferentes escalas do processo e os métodos de violência e persuasão empreendidos. Ao reconhecer a estruturação de tais fundamentos na experiência colonial, ela não fica restrita ao passado e é reconhecida a existência dos seus traços ainda na contemporaneidade do autor. Á título de exemplo, Caio Prado demonstra algumas bases da estrutura econômica e social que ainda carregam tal herança colonial: a) a configuração do trabalho livre ainda não constituía uma realidade comum ao território nacional; b) no campo social, ainda persistia a conservação das relações de classe. Nesse sentido, a partir de tais identificações, o autor constata que a evolução de uma situação colonial para a nacional ainda não havia sido realizada em pleno século XX; e que tais caracterizações não consistiam em meros anacronismos, mas fundamentos enraizados que se perpetuaram ao longo da experiência brasileira1. Em seguida, no capítulo “Sentido da Colonização”, Caio Prado busca analisar a essência da colonização do Brasil. Para tal feito, o autor retoma o grande quadro histórico do contexto europeu afim de dar conta da completude do processo ao qual se refere e 1 Embora o autor esteja publicando em meados do século XX, a introdução de tal obra nos faz refletir o quanto as suas ideias ainda são atuais e comprovadas pela realidade. Em pleno século XXI, a perpetuação de questões como o racismo e o empreendimento de mão de obra em condições análogas à escravidão, por exemplo, demonstram o quanto os fundamentos da estrutura brasileira são coloniais. identificar o sentido em que se direcionou o curso da formação do país. Ao retomar as transformações dos meios de transporte marítimos, analisa os impactos no desenvolvimento do comércio continental europeu e como se deu o estabelecimento de uma nova ordem mundial a partir do estabelecimento da dominação ultramarina da civilização europeia. Em detrimento dos obsoletos destaques da ordem comercial terrestre como a Alemanha e Itália, por exemplo, tal mudança de ordem trouxe ao cenário internacional o destaque dos países ibéricos e das nações inglesa, francesa e holandesa nas empreitadas marítimas; e é dentro dessa mudança de quadro mundial que se dá o descobrimento e colonização da América. Ao explorar os objetivos europeus diante das navegações exploratórias, o autor identifica a caracterização da formação das colônias conforme as variadas motivações. Nesse sentido, esclarece que, inicialmente, não ocorria a ideia de povoar a América, mas explorá-la substancialmente afim de interesses comerciais e na busca de rotas para o Oriente. No entanto, ao se tratar de um território primitivo, a sua ocupação exigiu moldes mais complexos para que fosse possível alcançar as finalidades mercantis, constituindo a principal causa para o povoamento local inicialmente, ou seja, uma questão de necessidade. Segundo o autor, as flutuações na rentabilidade das atividades exploratórias de recursos naturais subordinam durante muito tempo a ocupação desses territórios americanos, até que se desenvolveu a agricultura enquanto base econômica estável. Ao longo do tempo, as intenções de povoamento e o deslocamento europeu tomaram variadas motivações e se tornaram mais complexas, trazendo novos elementos fundamentais para a análise da formação social e econômica desses espaços. Ao alcançar a discussão central do capítulo, Caio Prado busca diferenciar os rumos da colonização das colônias localizadas em região de clima temperado e as colônias tropicais. As colônias localizadas nas zonas temperadas, denominadas colônias de povoamento, foram alvo de uma ocupação motivada para além de interesses comerciais, mas enquanto refúgio das lutas político-religiosas que varriam a Europa e, no caso da Inglaterra, mudanças na dinâmica econômica. Além disso, destaca como a variável climática influenciava sobremaneira na localização desses indivíduos que chegavam a América, tendo em vista que havia uma predileção por tais colônias. Por outro lado, as colônias tropicais possuíram uma ocupação qualificada essencialmente por um acentuado caráter mercantil. Embora, a princípio, houvesse uma resistência devido as condições naturais diversas do costume europeu2, o clima também caracterizava um estimulo na medida em que possibilitava a exploração de mercadorias tropicais consideradas raras na Europa. De acordo com Caio Prado, tal caráter econômico/explorador traz consigo a exploração agrária como característica fundante de tais colônias e, mais tarde, denota a adoção de um regime de escravidão extensiva. Em termos de conclusão, o autor confere uma especial atenção na análise do sentido da colonização tropical, identificando a construção de um rumo essencialmente empresarial, comercial e de estruturação complexa. Ao configurar uma composição exploratória e sobretudo subordinada ao mercado internacional, constituirá uma categoria fundamental para explicar as bases da formação histórica dos trópicos americanos. Assim, de maneira geral, a construção analítica de Caio Prado Jr. ao longo deste capítulo desperta o leitor para detalhes históricos importantes que indicam a construção da evolução brasileira em um sentido que carrega consigo não apenas uma herança colonial pretérita, mas estruturante em termos sociais, políticos e econômicos. 2 Vale destacar a observação do autor ao evidenciar que não se tratava de uma questão meramente de diferença de temperatura, mas também envolvia uma questão moral e de adequação comportamental exigidas pelo clima tropical.
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