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UD III, IV ETICA E CIDADANIA

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Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–1 
 
MANUAL DO 
PARTICIPANTE 
Ética e Cidadania – CBFPM 2020 
3 
UD III – Relação do policial militar com a 
sociedade 
 
 
 
 
 
 
Notas 
Objetivos 
Ao finalizar esta unidade, o participante deverá ser capaz 
de: 
1. Conhecer os conceitos de ética, moral e cidadania; 
2. Identificar nos dispositivos formais codificados as 
disposições referentes à ética e moral; 
3. Compreender as diversas aplicações da ética nas 
relações sociais; 
4. Compreender o papel social da atividade policial diante 
da formação da cidadania; 
5. Conhecer a deontologia policial-militar como discussão 
contemporânea. 
 
 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–2 
1. Cidadania 
 
Afinal, o que é Cidadania? 
Nunca se falou tanto sobre cidadania, em nossa sociedade, com 
nos últimos anos. 
Mas afinal, o que é cidadania? 
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 
"cidadania é a qualidade ou estado do cidadão", entende-se 
por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos 
de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com 
este". 
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra 
civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato 
grego na palavra politikos - aquele que habita na cidade. 
No sentido ateniense do termo, cidadania é o direito da pessoa 
em participar das decisões nos destinos da Cidade através da 
Ekklesia (reunião dos chamados de dentro para fora) na Ágora 
(praça pública, onde se agonizava para deliberar sobre 
decisões de comum acordo). Dentro desta concepção surge a 
democracia grega, onde somente 10% da população 
determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluídos os 
escravos, mulheres e artesãos). 
A mídia confunde muito entre o Direito do Cidadão e o 
Direito da Consumidor, por isso questiono o aspecto 
ideológico desta confusão intencional. 
Vejamos neste quadro sintético uma percepção pessoal sobre 
como se processa a "evolução" do Ser Humano até o Ser 
Cidadão. (Vanderlei de Barros Rosas) 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–3 
O ser humano O ser indivíduo O ser pessoa O ser cidadão 
A dimensão do 
A dimensão do A dimensão de A dimensão de 
mercado de trabalho encontrar-se no intervir na 
convívio social. 
 e consumo. mundo. realidade. 
O homem torna-se 
O ser humano O indivíduo torna- A pessoa torna-se 
torna-se indivíduo se pessoa quanto cidadão quando 
ser humano nas 
quando descobre toma consciência de intervém na 
relações de convívio 
seu papel e função si mesmo, do outro realidade em que 
social. 
social. e do mundo. vive. 
Quem estuda o Quem estuda o Quem estuda o Quem estuda o 
comportamento do comportamento do comportamento da comportamento do 
ser humano? Seria a indivíduo? Seria a pessoa? Seria a cidadão? Seria a 
Antropologia, a Filosofia, a Filosofia, a Sociologia, a 
História, ou a Sociologia ou a Sociologia ou a Filosofia ou as 
Sociologia? Psicologia? Psicologia? Ciências Políticas? 
Quem garante os 
Quem garante os Quem garante os Quem garante os 
direitos do ser 
direitos do direitos da pessoa? direitos do cidadão? 
humano? A 
consumidor? A própria pessoa A Constituição e 
Declaração 
O Código do (amor próprio ou suas leis 
Universal dos 
Consumidor. auto-estima). regulamentares. 
Direitos Humanos. 
 Como podemos 
Existe realmente Que diferença existe intervir na 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–4 
uma natureza entre o direito do O que significa realidade, 
humana? consumidor e o tornar-se pessoa no modificando as 
Teologicamente, direito do cidadão? nível psicológico e estruturas corruptas 
afirmamos que Ao consumidor social? A pessoa é o e injustas? Quando 
existe a uma deve ser dado o indivíduo que toma os direitos do 
natureza humana. direito de consciência de si cidadão lhe são 
Seguindo a corrente propriedade mesmo ("Tornar-se oferecidos, e o 
existencialista (J.P. enquanto ao cidadão Pessoa" de Karl mesmo passa a 
Sartre) negamos tal deve ser dado o Roger) exercê-lo, há 
natureza. direito de acesso modificação de 
 comportamento. 
 
 
Papel Social do policial militar 
Para BARROS, 
 
Segurança pública é direito fundamental de cada cidadão e este 
direito concretiza-se pela figura do policial, que é o responsável 
por fazer valer a aplicação da lei, garantir a ordem pública e a 
prevenção de crimes, com a finalidade de proteger a sociedade 
de um modo geral. O que parece ser de difícil compreensão 
para certos policiais é que proteger não é desrespeitar, ameaçar 
ou até mesmo agredir (física, mental ou moralmente) o cidadão, 
seja ele o de bem, que cumpre com suas obrigações na lei, ou 
mesmo o cidadão que contraria a lei, ou seja, o que comete 
crimes, pois este último tipo, também possui direitos como 
qualquer outro ser humano, não devendo ser tratado a base de 
tapas, murros ou chutes, pela autoridade que o aborda. 
Deveras, o equilíbrio das ações do policial na tentativa de 
manter sua função na segurança pública é de imprescindível 
relevância e configura um assunto que deve ser tratado com 
extrema delicadeza. Pois o seu modo errado de agir pode 
prejudicar não só o cidadão, mas também o próprio policial. O 
policial deve atentar-se para o não cometimento do “abuso de 
autoridade”, pois esta atitude também configura crime e a 
pessoa incumbida de prevenir crimes não deve justamente 
deixar que ocorra o contrário consigo mesma, ainda mais que o 
resultado, mesmo que individual, dessa ação acaba por refletir 
como um todo na sociedade. Cria um sentimento de revolta e 
indignação, somado a descrença popular com a autoridade, que 
passa a ser temida e descriminada tanto quanto o verdadeiro 
criminoso. 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–5 
É importante para o policial ter um preparo emocional e 
inclusive fazer o possível para a manutenção constante deste 
preparo, sabendo distinguir seus problemas pessoais com os 
problemas enfrentados no decorrer de sua carreira. Tão 
importante quanto o preparo emocional é o preparo técnico, 
jurídico-legal, sobretudo, ou seja, o policial deve estar ciente 
do modo correto de atuar mediante a legislação e 
principalmente lembrar que o cidadão não tem apenas 
obrigações e que o policial não está ali apenas para fazer 
garantir que estas obrigações sejam cumpridas. Deve lembrar 
também que o cidadão possui direitos e que a lei os assegura, 
conseqüentemente cabe a autoridade assegurá-los também. 
Policiar significa civilizar, sendo o policial agente da 
civilização, da virtude social, devendo agir em prol do 
cidadão e não contra ele. Aquele que pensa de outro modo 
está fadado à ignorância, a prepotência e a falta de respeito ao 
gênero humano, pois o policial que apela para a violência 
sem necessidade é justamente aquele em que menos se 
encontra indícios de profissionalismo ou uma formação ética 
solidificada. Este tipo compromete cada pessoa que o rodeia 
bem como toda a corporação a que representa. 
Vale lembrar aos policias, que estes também são cidadãos e 
que com toda certeza não gostariam, embora não se trate de 
uma questão apenas de gosto, mas sim de legalidade, de 
serem tratados sem o respeito devido ao ser humano, se 
estivessem no lugar da população. 
 
Papel do policial militar nas suas relações interpessoais, subjetivismo e o 
policial como garantidor (cuidador) da cidadania 
 
Estes três tópicos referentesà ética policial serão abordados com 
base no texto de Ricardo Balestreri, ex-Secretário Nacional de Segurança 
Pública. Leia e reflita sobre as informações contidas em cada parte do texto 
abaixo. 
 
Treze reflexões sobre polícia e direitos humanos 
Durante muitos anos, o tema Direitos Humanos foi considerado 
antagônico ao de segurança pública. Produto do autoritarismo vigente no 
país, entre 1964 e 1984, e da sociedade e polícia, como se a última não 
fizesse parte da primeira. 
Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos 
progressistas da sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como 
necessariamente afeta à repressão antidemocrática, à truculência, ao 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–6 
conservadorismo. Direitos Humanos como militância, na outra ponta, 
passaram a ser vistos como ideologicamente filiados à esquerda, durante 
toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, nos países do socialismo 
real, eram vistos como uma arma retórica e organizacional do capitalismo). 
No Brasil, em momento posterior da história, a partir da rearticulação 
democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha de defensores de bandidos e 
da impunidade. Evidentemente, ambas visões estão fortemente equivocadas 
e prejudicadas pelo preconceito. 
Estamos há mais de uma década construindo uma nova democracia e 
essa paralisia de paradigmas das partes (uma vez que assim ainda são vistas 
e assim se consideram) representa um forte impedimento à parceria para a 
edificação de uma sociedade mais civilizada. 
Aproximar a polícia das ONGs que atuam com Direitos Humanos e 
vice-versa é tarefa impostergável para que possamos viver, a médio prazo, 
em uma nação que respire cultura de cidadania. Para que isso ocorra, é 
necessário que nós, lideranças do campo dos Direitos Humanos, 
desarmemos as minas ideológicas das quais nos cercamos, em um primeiro 
momento, justificável, para nos defendermos da polícia, e que agora nos 
impedem de aproximar-nos. O mesmo vale para a polícia. 
Podemos aprender muito uns com os outros, ao atuarmos como 
agentes defensores da mesma democracia. 
Nesse contexto, a partir de quase uma década de parceria no campo 
da educação para os Direitos Humanos junto a policiais e das coisas que vi e 
aprendi com a polícia, é que gostaria de tecer as singelas treze considerações 
a seguir: 
Cidadania, dimensão primeira 
1ª - O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve 
nutrir sua razão de ser. Irmana-se, assim, a todos os membros da 
comunidade em direitos e deveres. Sua condição de cidadania é, portanto, 
condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão fundada sobre 
suposta dualidade ou antagonismo entre uma sociedade civil e outra 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–7 
sociedade policial. Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se 
trata da polícia militar, que é um serviço público realizado na perspectiva de 
uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são derivados. 
Portanto não há, igualmente, uma sociedade civil e outra sociedade militar. 
A lógica da Guerra Fria, aliada aos anos de chumbo, no Brasil, é que se 
encarregou de solidificar esses equívocos, tentando transformar a polícia, de 
um serviço à cidadania, em ferramenta para enfrentamento do inimigo 
interno. Mesmo após o encerramento desses anos de paranoia, sequelas 
ideológicas persistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a 
elucidação da real função policial. 
 
Policial: cidadão qualificado 
2ª - O agente de segurança pública é, contudo, um cidadão 
qualificado emblematiza o Estado, em seu contato mais imediato com a 
população. Sendo a autoridade mais comumente encontrada tem, portanto, a 
missão de ser uma espécie de porta voz popular do conjunto de autoridades 
das diversas áreas do poder. Além disso, porta a singular permissão para o 
uso da força e das armas, no âmbito da lei, o que lhe confere natural e 
destacada autoridade para a construção social ou para sua devastação. O 
impacto sobre a vida de indivíduos e comunidades, exercido por esse 
cidadão qualificado é, pois, sempre um impacto extremado e 
simbolicamente referencial para o bem ou para o mal-estar da sociedade. 
 
Policial: pedagogo da cidadania 
3ª - Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como 
em outras profissões de suporte público, antecede as próprias 
especificidades de sua especialidade. 
Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obrigam a 
repensar o agente educacional de forma mais includente. No passado, esse 
papel estava reservado unicamente aos pais, professores e especialistas em 
educação. Hoje, é preciso incluir com primazia no rol pedagógico também 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–8 
outras profissões irrecusavelmente formadoras de opinião: médicos, 
advogados, jornalistas e policiais, por exemplo. 
O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais 
abrangentes, é um pleno e legítimo educador. Essa dimensão é inabdicável e 
reveste de profunda nobreza a função policial, quando conscientemente 
explicitada através de comportamentos e atitudes. 
 
A importância da autoestima pessoal e institucional 
4ª - O reconhecimento dessa dimensão pedagógica é, seguramente, o 
caminho mais rápido e eficaz para a reconquista da abalada autoestima 
policial. Note-se que os vínculos de respeito e solidariedade só podem 
constituir-se sobre uma boa base de autoestima. A experiência primária do 
querer-se bem é fundamental para possibilitar o conhecimento de como 
chegar a querer bem o outro. Não podemos viver para fora o que não 
vivemos para dentro. 
Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial se sinta 
motivado e orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável a partir de um 
patamar de sentido existencial. Se a função policial for esvaziada desse 
sentido, transformando o homem e a mulher que a exercem em meros 
cumpridores de ordens sem um significado pessoalmente assumido como 
ideário, o resultado será uma autoimagem denegrida e uma baixa 
autoestima. 
Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada policial é permitir a 
ressignificação da importância social da polícia, com a consequente 
consciência da nobreza e da dignidade dessa missão. A elevação dos padrões 
de autoestima pode ser o caminho mais seguro para uma boa prestação de 
serviços. Só respeita o outro aquele que se dá respeito a si mesmo. 
 
 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–9 
Polícia e superego social 
5ª - Essa dimensão pedagógica, evidentemente não se confunde com 
dimensão demagógica e, portanto, não exime a polícia de sua função técnica 
de intervir preventivamente no cotidiano e repressivamente em momentos de 
crise, uma vez que democracia nenhuma se sustenta sem a contenção do 
crime, sempre fundado sobre uma moralidade mal constituída e hedonista, 
resultante de uma complexidade causal que vai do social ao psicológico. 
Assim como nas famílias é preciso, em ocasiões extremas, que o 
adulto sustente, sem vacilar, limites que possam balizar moralmente a 
conduta de crianças e jovens, também em nível macro é necessário que 
alguma instituição se encarregue da contenção da sociopatia. 
A polícia é, portanto, uma espécie de superego social indispensável 
em culturas urbanas, complexas e de interesses conflitantes, contendora do 
óbvio caos a que estaríamos expostos na absurda hipótese de sua 
inexistência. Possivelmente por isso não se conheça nenhuma sociedadecontemporânea que não tenha assentamento, entre outros, no poder da 
polícia. Zelar, pois, diligentemente, pela segurança pública, pelo direito do 
cidadão de ir e vir, de não ser molestado, de não ser saqueado, de ter 
respeitada sua integridade física e moral, é dever da polícia, um 
compromisso com o rol mais básico dos direitos humanos que devem ser 
garantidos à imensa maioria de cidadãos honestos e trabalhadores. Para isso 
é que a polícia recebe desses mesmos cidadãos a unção para o uso da força, 
quando necessário. 
Rigor versus violência 
6ª - O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com 
truculência. 
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, 
pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo 
antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos. 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–10 
Policial versus criminoso: metodologias antagônicas 
7ª - Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial oferece uma 
visualização pedagógica, ao antagonizar-se aos procedimentos do crime. 
Em termos de inconsciente coletivo, o policial exerce função 
educativa arquetípica: deve ser o mocinho, com procedimentos e atitudes 
coerentes com a firmeza moralmente reta, oposta radicalmente aos desvios 
perversos do outro arquétipo que se lhe contrapõe: o bandido. 
Ao olhar para uns e outros, é preciso que a sociedade perceba 
claramente as diferenças metodológicas ou a confusão arquetípica 
intensificará sua crise de moralidade, incrementando a ciranda da violência. 
Isso significa que a violência policial é geradora de mais violência da qual, 
mui comumente, o próprio policial torna-se a vítima. 
Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis, vingativo 
contra os antissociais, hediondo com os hediondos. Apenas estaria com isso, 
liberando, licenciando a sociedade para fazer o mesmo, a partir de seu 
patamar de visibilidade moral. Não se ensina a respeitar desrespeitando, não 
se pode educar para preservar a vida matando, não importa quem seja. O 
policial jamais pode esquecer que também o observa o inconsciente coletivo. 
 
A visibilidade moral da polícia: importância do exemplo 
8ª - Essa dimensão testemunhal, exemplar, pedagógica, que o policial 
carrega irrecusavelmente é, possivelmente, mais marcante na vida da 
população do que a própria intervenção do educador por ofício, o professor. 
Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do momento em que normalmente 
o policial encontra o cidadão. À polícia recorre-se, como regra, em horas de 
fragilidade emocional, que deixam os indivíduos ou a comunidade 
fortemente abertos ao impacto psicológico e moral da ação realizada. 
 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–11 
Por essa razão é que uma intervenção incorreta funda marcas 
traumáticas, por anos ou até pela vida inteira, assim como a ação do “bom 
policial” será sempre lembrada com satisfação e conforto. 
Curiosamente, um significativo número de policiais não consegue 
perceber com clareza a enorme importância que têm para a sociedade, talvez 
por não haverem refletido suficientemente a respeito dessa peculiaridade do 
impacto emocional do seu agir sobre a clientela. Justamente aí reside a 
maior força pedagógica da polícia, a grande chave para a redescoberta de 
seu valor e o resgate de sua autoestima. 
É essa mesma visibilidade moral da polícia o mais forte argumento 
para convencê-la de sua responsabilidade paternal (ainda que não 
paternalista) sobre a comunidade. Zelar pela ordem pública é, assim, acima 
de tudo, dar exemplo de conduta fortemente baseada em princípios. Não há 
exceção quando tratamos de princípios, mesmo quando está em questão a 
prisão, guarda e condução de malfeitores. Se o policial é capaz de transigir 
nos seus princípios de civilidade, quando no contato com os sociopatas, 
abona a violência, contamina-se com o que nega, conspurca a normalidade, 
confunde o imaginário popular e rebaixa-se à igualdade de procedimentos 
com aqueles que combate. 
Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do ponto de vista da 
defesa do bandido, mas da defesa da dignidade do policial. 
A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, não importa com 
que fins seja cometida e não se restringe a áreas isoladas, mas, fatalmente, 
acaba por dominar-lhe toda a conduta. O violento se dá uma perigosa 
permissão de exercício de pulsões negativas, que vazam gravemente sua 
censura moral e que, inevitavelmente, vão alastrando-se em todas as 
direções de sua vida, de maneira incontrolável. 
 
 
 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–12 
Ética corporativa versus ética cidadã 
9ª - Essa consciência da autoimportância obriga o policial a abdicar 
de qualquer lógica corporativista. 
Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual participa, 
coisas essas desejáveis, não se podem confundir, em momento algum, com 
acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira identidade 
policial exige do sujeito um permanente zelo pela limpeza da instituição da 
qual participa. 
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o primeiro 
interessado no expurgo dos maus profissionais, dos corruptos, dos 
torturadores, dos psicopatas. Sabe que o lugar deles não é polícia, pois, além 
do dano social que causam, prejudicam o equilíbrio psicológico de todo o 
conjunto da corporação e inundam os meios de comunicação social com um 
marketing que denigre o esforço heroico de todos aqueles outros que 
cumprem corretamente sua espinhosa missão. Por esse motivo, não está 
disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço. 
Aqui, se antagoniza a ética da corporação (que na verdade é a 
negação de qualquer possibilidade ética) com a ética da cidadania (aquela 
voltada à missão da polícia junto a seu cliente, o cidadão). 
O acobertamento de práticas espúrias demonstra, ao contrário do que 
muitas vezes parece, o mais absoluto desprezo pelas instituições policiais. 
Quem acoberta o espúrio permite que ele enxovalhe a imagem do conjunto 
da instituição e mostra, dessa forma, não ter qualquer respeito pelo ambiente 
do qual faz parte. 
 
Critérios de seleção, permanência e acompanhamento 
10ª - Essa preocupação deve crescer à medida em que tenhamos clara 
a preferência da psicopatia pelas profissões de poder. Política profissional, 
Forças Armadas, Comunicação Social, Direito, Medicina, Magistério e 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–13 
Polícia são algumas das profissões de encantada predileção para os 
psicopatas, sempre em busca do exercício livre e sem culpas de seu poder 
sobre outrem. 
Profissões magníficas, de grande amplitude social, que agregam 
heróis e mesmo santos, são as mesmas que atraem a escória, pelo alcance 
que têm, pelo poder que representam. 
A permissão para o uso da força, das armas, do direito a decidir sobre 
a vida e a morte, exercem irresistível atração à perversidade, ao delírio 
onipotente, à loucura articulada. 
Os processos de seleção de policiais devem tornar-se cada vez mais 
rígidos no bloqueio à entrada desse tipo de gente. Igualmente, é nefasta a 
falta de um maior acompanhamento psicológico aos policiais já na ativa. A 
polícia é chamada a cuidar dos piores dramas da população e nisso reside 
um componente desequilibrador. Quem cuida da polícia? 
Os governos, de maneira geral, estruturam pobremente os serviços de 
atendimento psicológico aos policiais e aproveitam muito mal os policiais 
diplomados nasáreas de saúde mental. 
Evidentemente, se os critérios de seleção e permanência devem 
tornar-se cada vez mais exigentes, espera-se que o Estado cuide também de 
retribuir com salários cada vez mais dignos. De qualquer forma, o zelo pelo 
respeito e a decência dos quadros policiais não cabe apenas ao Estado, mas 
aos próprios policiais, os maiores interessados em participarem de 
instituições livres de vícios, valorizadas socialmente e detentoras de 
credibilidade histórica. 
 
Direitos humanos dos policiais —humilhação versus hierarquia 
11ª - O equilíbrio psicológico, tão indispensável na ação da polícia, 
passa também pela saúde emocional da própria instituição. Mesmo que isso 
não se justifique, sabemos que policiais maltratados internamente tendem a 
descontar sua agressividade sobre o cidadão. 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–14 
Evidentemente, polícia não funciona sem hierarquia. Há, contudo, 
clara distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e perversidade. 
Em muitas academias de polícia (é claro que não em todas) os policiais 
parecem ainda ser adestrados para alguma suposta guerra de guerrilhas, 
sendo submetidos a toda ordem de maus-tratos (beber sangue no pescoço da 
galinha, ficar em pé sobre formigueiro, ser afogado na lama por superior 
hierárquico, comer fezes, são só alguns dos recentes exemplos que tenho 
colecionado a partir da narrativa de amigos policiais, em diversas partes do 
Brasil). 
Por uma contaminação da ideologia militar (diga-se de passagem, 
presente não apenas nas PMs mas também em muitas polícias civis), os 
futuros policiais são, muitas vezes, submetidos a violento estresse 
psicológico, a fim de atiçar a raiva contra o inimigo (será, nesse caso, o 
cidadão?). 
Essa permissividade na violação interna dos Direitos Humanos dos 
policiais pode dar guarida à ação de personalidades sádicas e depravadas, 
que usam sua autoridade superior como cobertura para o exercício de suas 
doenças. 
Além disso, como os policiais não vão lutar na extinta guerra do 
Vietnã, mas atuar nas ruas das cidades, esse tipo de “formação” 
(deformadora) representa uma perda de tempo, geradora apenas de 
brutalidade, atraso técnico e incompetência. 
A verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei e na 
lógica, longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo doentios. 
O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da 
humilhação e do medo. Não pode haver respeito unilateral, como não pode 
haver respeito sem admiração. Não podemos respeitar aqueles a quem 
odiamos. 
A hierarquia é fundamental para o bom funcionamento da polícia, 
mas ela só pode ser verdadeiramente alcançada através do exercício da 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–15 
liderança dos superiores, o que pressupõe práticas bilaterais de respeito, 
competência e seguimento de regras lógicas e suprapessoais. 
 
Direitos humanos dos policiais — humilhação versus hierarquia 
12ª - No extremo oposto, a debilidade hierárquica é também um mal. 
Pode passar uma imagem de descaso e desordem no serviço público, além 
de enredar na malha confusa da burocracia toda a prática policial. 
A falta de uma lei orgânica nacional para a polícia civil, por 
exemplo, pode propiciar um desvio fragmentador dessa instituição, 
amparando uma tendência de definição de conduta, em alguns casos, pela 
mera junção, em colcha de retalhos, do conjunto das práticas de suas 
delegacias. 
Enquanto um melhor direcionamento não ocorre em plano nacional, 
é fundamental que os estados e instituições da polícia civil direcionem 
estrategicamente o processo de maneira a unificar sob regras claras a 
conduta do conjunto de seus agentes, transcendendo a mera predisposição 
dos delegados localmente responsáveis (e superando, assim, a ordem 
fragmentada, baseada na personificação). Além do conjunto da sociedade, a 
própria polícia civil será altamente beneficiada, uma vez que regras 
objetivas para todos (incluídas aí as condutas internas) só podem dar maior 
segurança e credibilidade aos que precisam executar tão importante e ao 
mesmo tempo tão intrincado e difícil trabalho. 
 
A formação dos policiais 
13ª - A superação desses desvios poderia dar-se, ao menos em parte, 
pelo estabelecimento de um núcleo comum, de conteúdos e metodologias na 
formação de ambas as polícias, que privilegiasse a formação do juízo moral, 
as ciências humanísticas e a tecnologia como contraponto de eficácia à 
incompetência da força bruta. 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–16 
Aqui, deve-se ressaltar a importância das academias de polícia civil, 
das escolas formativas de oficiais e soldados e dos institutos superiores de 
ensino e pesquisa, como bases para a construção da Polícia Cidadã, seja 
através de suas intervenções junto aos policiais ingressantes, seja na 
qualificação daqueles que se encontram há mais tempo na ativa. Um bom 
currículo e professores habilitados não apenas nos conhecimentos técnicos, 
mas igualmente nas artes didáticas e no relacionamento interpessoal, são 
fundamentais para a geração de policiais que atuem com base na lei e na 
ordem hierárquica, mas também na autonomia moral e intelectual. Do 
policial contemporâneo, mesmo o de mais simples escalão, se exigirá, cada 
vez mais, discernimento de valores éticos e condução rápida de processos de 
raciocínio na tomada de decisões. 
 
Conclusão 
 
A polícia, como instituição de serviço à cidadania em uma de suas 
demandas mais básicas - segurança pública - tem tudo para ser altamente 
respeitada e valorizada. 
Para tanto, precisa resgatar a consciência da importância de seu papel 
social e, por conseguinte, a autoestima. 
Esse caminho passa pela superação das sequelas deixadas pelo 
período ditatorial: velhos ranços psicopáticos, às vezes ainda abancados no 
poder, contaminação anacrônica pela ideologia militar da Guerra Fria, 
crença de que a competência se alcança pela truculência e não pela técnica, 
maus-tratos internos a policiais de escalões inferiores, corporativismo no 
acobertamento de práticas incompatíveis com a nobreza da missão policial. 
O processo de modernização democrática já está instaurado e conta 
com a parceria de organizações como a Anistia Internacional (que, dentro e 
fora do Brasil, aliás, mantém um notável quadro de policiais a ela filiados). 
Dessa forma, o velho paradigma antagonista da segurança pública e dos 
Direitos Humanos precisa ser substituído por um novo, que exige 
 
CBFPM 2020 – Relação do policial militar com a sociedade NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 17–17 
desacomodação de ambos os campos: Segurança Pública com Direitos 
Humanos. 
O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o potencial 
de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos, revertendo o 
quadro de descrédito social e qualificando-se como um personagem central 
da democracia. As organizações não governamentais que ainda não 
descobriram a força e a importância do policial como agente de 
transformação, devem abrir-se, urgentemente, a isso, sob pena de, aferradas 
a velhos paradigmas, perderem o concurso da ação impactante desse ator 
social. 
Direitos Humanos, cada vez mais, também é coisa de polícia! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–1 
 
MANUAL DO 
PARTICIPANTE 
Ética e Cidadania – CBFPM 2020 
4 
UD IV – Ética profissional 
 
 
 
 
 
 
Notas 
Objetivos 
Ao finalizar esta unidade, o participante deverá ser capaz 
de:1. Conhecer os conceitos de ética, moral e cidadania; 
2. Identificar nos dispositivos formais codificados as 
disposições referentes à ética e moral; 
3. Compreender as diversas aplicações da ética nas 
relações sociais; 
4. Compreender o papel social da atividade policial diante 
da formação da cidadania; 
5. Conhecer a deontologia policial-militar como discussão 
contemporânea. 
 
 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–2 
1. Ética profissional 
 
A ética profissional é um ramo da ética prática, a qual, de forma 
geral envolve todas as profissões, algumas havendo códigos de ética ou 
deontológicos específicos, como no caso da Psicologia e da Medicina, 
por exemplo. 
A Brigada Militar, como se nota no capítulo anterior, não possui 
um código específico para o comportamento ético. Existem regras na 
legislação constitucional, além de um regulamento disciplinar, que 
trazem preceitos éticos, mas não há um estatuto ético específico. 
Quanto à ética profissional cabe citar o conceito, dentro de um 
estudo jurídico, segundo Bittar (2002): 
Por sua vez, a ética profissional se destaca de dentro da ética 
aplicada como um ramo específico relacionado aos 
mandamentos basilares das relações laborais. 
É como especialização de conhecimentos aplicados que a 
ética profissional se vincula às ideias de utilidade, 
prestatividade, lucratividade, categoria laboral, engajamento 
em modos de produção ou prestação de serviços, exercício 
de atividades regularmente desenvolvidas de acordo com 
finalidades sociais. (BITTAR, 2002, p. 363) 
O mesmo autor prossegue analisando o objetivo da ética 
profissional, principalmente no concernente a diferença que existe entre 
regramentos legais, imposições de leis e preceitos éticos: 
Isso porque, na atualidade, a ética tem-se reduzido e 
simplificado de modo extremado a uma tecnologia ética. 
Talvez, na esperança de imediatizar o dever ético na 
consciência do profissional, talvez, dentro de uma onda 
positivista, tenha-se partido para uma tentativa de tornar 
concretos os princípios e deveres éticos, produzindo-se os 
códigos de ética ou códigos de dever, específicos para cada 
profissão. Ora, a consequência direta desse tipo de 
raciocínio é: a) a transformação das prescrições éticas em 
mandamentos legais; b) a retificação excessiva dos campos 
conceituais da ética; c) a compartimentação da ética em 
tantas partes quantas profissões existentes; d) a juridicização 
dos mandamentos éticos (BITTAR, 2002, p. 367). 
 
 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–3 
Torna-se necessário explorar este entendimento nas aulas 
introdutórias de ética para policiais militares, após conhecerem os 
preceitos éticos, valores e compromisso de sua instituição, pois muito 
mais que imposições, deveres devem ultrapassar o externo e serem 
internalizados, pois estes vão além de uma prestação de serviço social, 
mas sim de uma vida diferenciada na defesa da ordem social. 
Dentro da ética profissional pode-se também refletir o papel social 
das atividades laborativas, a fim de se enquadrar em bons resultados e 
comportamentos relevantes para o desempenho profissional. Diante disso, 
tem-se a liberdade de exaltar recente trabalho realizado pelos 
pesquisadores Rosana Soibelmann Glock e José Roberto Goldim, (2003), 
na PUC/RS, abaixo transcrito: 
Conceituação: O que é Ética Profissional? 
É extremamente importante saber diferenciar a ética da 
moral e do Direito. Estas três áreas de conhecimento se 
distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo 
sobreposições. 
Tanto a moral como o Direito baseiam-se em regras que 
visam estabelecer uma certa previsibilidade para as ações 
humanas. Ambas, porém, se diferenciam. 
A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, 
como uma forma de garantir o seu bem-viver. A moral 
independe das fronteiras geográficas e garante uma 
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas 
utilizam este mesmo referencial moral comum. 
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade 
delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base 
territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica 
onde uma determinada população ou seus delegados vivem. 
Alguns autores afirmam que o Direito é um subconjunto da 
moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda 
a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações 
demonstram a existência de conflitos entre a moral e o 
Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos 
morais impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. 
Este é um exemplo de que a moral e o Direito, apesar de 
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter 
perspectivas discordantes. 
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou 
incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um 
dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as 
regras propostas pela moral e pelo Direito. Ela é diferente 
de ambos - moral e Direito - pois não estabelece regras. Esta 
reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética. 
Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão? 
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma 
profissão deve iniciar bem antes da prática profissional. 
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–4 
muitas vezes, já deve ser permeada por esta reflexão. A 
escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o 
conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. 
Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem 
conhecer o conjunto de deveres que está prestes ao assumir 
tornando-se parte daquela categoria que escolheu. 
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das 
competências e habilidades referentes à prática específica 
numa determinada área, deve incluir a reflexão, desde antes 
do início dos estágios práticos. Ao completar a formação em 
nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua 
adesão e comprometimento com a categoria profissional 
onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral 
da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um 
conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais 
adequadas para o seu exercício. 
Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de 
estudar ou paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade 
profissional sem completar os estudos ou em área que nunca 
estudou, aprendendo na prática. Isto não exime você da 
responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade! O fato 
de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu 
livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como emprego 
por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade 
remunerada onde não pretende seguir carreira, não isenta da 
responsabilidade de pertencer, mesmo que temporariamente, 
a uma classe, e há deveres a cumprir. 
Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar 
de almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de 
programador de computadores, certamente estará pensando 
sobre seu futuro em outra profissão, mas deve sempre 
refletir sobre sua prática atual. 
Ética Profissional: Como é esta reflexão? 
Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se 
um hábito incorporado ao dia-a-dia. 
Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se 
perguntar sobre os deveres assumidos ao aceitar o trabalho 
como auxiliar de almoxarifado, como está cumprindo suas 
responsabilidades, o que esperam dela na atividade, o que 
ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não há 
outra pessoa olhando ou conferindo. 
Podeperguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? 
Estou agindo adequadamente? Realizo corretamente minha 
atividade? 
É fundamental ter sempre em mente que há uma série de 
atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as 
profissões, mas que são comuns a todas as atividades que 
uma pessoa pode exercer. 
Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em 
equipe, mesmo quando a atividade é exercida solitariamente 
em uma sala, ela faz parte de um conjunto maior de 
atividades que dependem do bom desempenho desta. 
Uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar restrito apenas às 
tarefas que foram dadas a você, mas contribuir para o 
engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja 
temporário. 
Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer 
ruas e juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que 
você vê que está prestes a cair na rua, podendo futuramente 
entupir uma saída de escoamento e causando uma 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–5 
acumulação de água quando chover. Você pode atender 
num balcão de informações respondendo estritamente o que 
lhe foi perguntado, de forma fria, e estará cumprindo seu 
dever, mas se você mostrar-se mais disponível, talvez sorrir, 
ser agradável, a maioria das pessoas que você atende 
também serão assim com você, e seu dia será muito melhor. 
Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se 
espera, desde que você esteja aberto e receptivo, e que você 
se preocupe em ser um pouco melhor a cada dia, seja qual 
for sua atividade profissional. E, se não surgir, outro 
trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando do 
que você faz e sem perder, nunca, a dimensão de que é 
preciso sempre continuar melhorando, aprendendo, 
experimentando novas soluções, criando novas formas de 
exercer as atividades, aberto a mudanças, nem que seja 
mudar, às vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer 
uma grande diferença na sua realização profissional e 
pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexão 
incorporada a seu viver. 
E isto é parte do que se chama empregabilidade: a 
capacidade que você pode ter de ser um profissional que 
qualquer patrão desejaria ter entre seus empregados, um 
colaborador. Isto é ser um profissional eticamente bom. 
Ética Profissional e relações sociais: 
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de 
escoamento de água da chuva, o auxiliar de almoxarifado 
que verifica se não há umidade no local destinado para 
colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere 
as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, 
a atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma 
senhora idosa após ir ao banheiro, o contador que impede 
uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço de 
uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais 
indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo 
de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem 
o que não é visto, ao fazerem aquilo que, alguém 
descobrindo, não saberá quem fez, mas que estão 
preocupados, mais do que com os deveres profissionais, 
com as PESSOAS. 
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de 
proteger os profissionais, a categoria como um todo e as 
pessoas que dependem daquele profissional, mas há muitos 
aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do 
comprometimento do profissional em ser eticamente 
correto, aquele que, independente de receber elogios, faz A 
COISA CERTA. 
Ética Profissional: Pontos para sua reflexão: 
É imprescindível estar sempre bem informado, 
acompanhando não apenas as mudanças nos conhecimentos 
técnicos da sua área profissional, mas também nos aspectos 
legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos 
processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais 
acontecem por desconhecimento, negligência. 
Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às 
pessoas, confidencialidade, privacidade, tolerância, 
flexibilidade, fidelidade, envolvimento, afetividade, 
correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com 
as pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que 
é depositada em você... Comportamento eticamente 
adequado e sucesso continuado são indissociáveis! 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–6 

2. Deontologia 
 
A Deontologia, atualmente, é muito estudada nas carreiras policiais 
militares. Ela é abordada, inclusive, em virtude do aumento da sensação de 
insegurança e a constante discussão da necessidade de uma polícia militar 
preventiva com formação militar, sua eficácia e eficiência no meio social. 
Esta discussão que hoje ocorre em várias PMs brasileiras já vem sendo 
incentivada há anos na Brigada Militar, conforme evidencia a abordagem 
conceitual do tenente-coronel da reserva remunerada Pedro Joel Silva da 
Silva: 
O termo “deontologia, foi criado pelo Filósofo inglês Jeremy 
Bentham, em 1834. Deriva do grego deon [o que é obrigatório] 
e de logos [teoria, ciência], conforme Japiassu e Marcondes. 
Tanto pela época em que foi criado – um momento histórico de 
exacerbação do liberalismo político e econômico, quanto pelo 
objetivo de seu autor, o termo refletia o que Bentham 
compreendia como o obrigar-se [ato moral] utilitarista. Era, 
portanto, uma concepção coerente com a prática política e 
econômica inglesa e, mais tarde, norte-americana. 
Deontologia (do grego δέον, dever + λόγος, tratado) refere-se 
ao ramo da ética cujo objeto de estudo são os fundamentos do 
dever e as normas morais. É conhecida também sob o nome de 
"Teoria do Dever". É um dos dois ramos principais da Ética 
Normativa, juntamente com a axiologia. 
Pode-se falar, também, de uma deontologia aplicada, caso em 
que já não se está diante de uma ética normativa, mas sim 
descritiva e inclusive prescritiva. Tal é o caso da chamada 
"Deontologia Profissional". A deontologia em Kant 
fundamenta-se em dois conceitos que lhe dão sustentação: a 
razão prática e a liberdade. Agir por dever é o modo de conferir 
à ação o valor moral, por sua vez a perfeição moral só pode ser 
atingida por uma vontade livre. O imperativo categórico no 
domínio da moralidade é a forma racional do dever-ser, 
determinando a vontade submetida à obrigação. O predicado 
"obrigatório" da perspectiva deontológica, designa na visão 
moral o "respeito de si". 
 
Nas palavras de Japiassu e Marcondes (2007), deontologia é “o 
código moral das regras e procedimentos próprios a determinada categoria 
profissional” (p. 67). 
 
SIGNIFICADOS PRÁTICOS 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–7 
Deontologia é, portanto, o elenco de determinações objetivas, 
instruções operacionais e de cunho prático, que os membros de 
um grupo profissional devem seguir, no exercício de suas 
atividades, para garantir a uniformidade, em todos os seus 
aspectos e lugar, do trabalho e ação do grupo, como se fosse a 
ação de um único indivíduo. Isso, geralmente, se traduz num 
código que detalha minuciosamente o modo de proceder e o 
comportamento pessoal, em cada momento, em cada relação de 
trabalho do profissional com o comprador, seu patrão final na 
sociedade. Assim, o código deontológico, por derivar da razão 
utilitarista tida por Bentham como característica do homem, 
precisa partir da definição das habilidades, atividades e modos 
de execução do trabalho que devem ser empregados pelos 
profissionais nos mais diferentes momentos de sua atuação. 
O RECORTE PROFISSIONALISTA SOBRE O SER E O 
AGIR HUMANOS 
No sentido de “ser humano” mais próximo do cotidiano, o 
homem se distinguena natureza por fazer a existência de modo 
calculado: pensa para agir e pensa sobre o agir para aperfeiçoar 
este mesmo agir. Isto, historicamente, transforma-se em 
trabalho. Especialmente, nas sociedades atuais o pensar 
[teorizar] é trabalhar assim como o agir diretamente sobre a 
natureza [realizar a prática] também o é. São duas faces de uma 
mesma moeda que se constitui como parte do processo de 
hominização crescente. Esse trabalho que, no seu início 
histórico, era curiosidade experimentadora, mais tarde forjará 
ocupações que tendem à permanência, especializando 
indivíduos e grupos em suas comunidades e, progressivamente, 
gerando profissões. 
Como ocupação, uma atividade de trabalho geralmente é 
concebida e é também feita, em nível prático, por um mesmo 
indivíduo. Mais tarde, quando muitas das ocupações se 
transformam em profissões essa relação pensar-fazer vai se 
alterar e verifica-se que tanto o teórico quanto o prático também 
são especializados – um só concebe e o outro só executa e, 
entre eles, a função cerebral conectora passa a ser exercida por 
um terceiro indivíduo que coordena e busca a adequação entre o 
concebido e o processamento da matéria-prima para chegar ao 
produto final. 
Com isso, ainda que tratado rapidamente, pode-se perceber que 
o recorte profissionalista é um fenômeno recente, 
estabelecendo-se com o capitalismo econômico e exigindo uma 
produção cada vez mais qualificada de “idealizadores de 
produtos” o que exigia um espaço próprio para prepará-los 
dentro de uma certa perspectiva concebedora. É nesse 
momento, que as profissões escolarizadas nas universidades, 
voltadas principalmente para a engenharia, vão ser 
sistematizadas e, no seu rastro, todas as modernas ciências 
sociais aplicadas, como a Administração, Economia, Serviço 
Social, Biblioteconomia, etc., surgindo especialmente na 
Inglaterra e nos Estados Unidos as primeiras e ainda hoje mais 
importantes associações profissionais. Aliás, no processo de 
transformação de certas ocupações em profissões modernas – 
ocorrido, inicialmente, em parte para defender-se 
economicamente do capitalismo liberal e em parte emulando o 
modelo, ou modernizando as antigas corporações de ofício – se 
viu que a força dessas associações foi que levou à criação nas 
universidades de espaço acadêmico para vários currículos. Esse 
ingresso no interior da universidade, instituição de mais de 800 
anos de existência no ocidente, viria a funcionar como um 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–8 
elemento importante para o credenciamento social dessas 
novíssimas profissões. 
 
É nesse conjunto de atos modernizadores e pragmáticos, 
provocados por um liberalismo utilitarista que produz, a partir 
da expressão econômica, a urbanização da cidade e a criação do 
processamento industrial da riqueza, que se vê o surgimento da 
noção de dever profissional. 
MODERNIDADE E ATRIBUIÇÃO DE DEVER 
O mundo moderno – saído ou brotando junto a uma renovação 
profunda da arquitetura do estado europeu, em que tanto o 
trabalhador que concebe o produto, quanto aquele que o faz e, 
igualmente, quem coordena e, além de tudo isso, a convivência 
com a noção iluminista e revolucionária de cidadania – vem a 
exigir uma noção mediadora entre a produção e o seu consumo. 
A ideia, ainda hoje em desenvolvimento, que então passa a se 
constituir, é que o patrão não é outro senão aquele que compra 
o que foi produzido. Serviço ou produto só valem a pena – 
como bens econômicos – ser realizados se houver quem queira 
comprá-los seja tanto pelas suas qualidades intrínsecas quanto 
por outros fatores complementares como embalagem, 
durabilidade, atendimento ao comprador, prazos respeitados, 
etc. 
Nesse sentido, pela conjugação política e econômica, a auto-
atribuição de dever [obrigar-se] foi uma consequência 
inescapável, não apenas à sobrevivência dos produtores de 
quaisquer bens mas também dos produtores de quaisquer 
serviços. Essa visão de realidade alcança também todas as 
categorias profissionais cuja ação é a da venda de trabalho 
intelectual, voltado à solução de problemas não apenas para os 
setores de indústria e comércio, mas também para a sociedade, 
como o é o trabalho de advogados, médicos, bibliotecários, 
engenheiros, etc. 
Essa atribuição de dever é, no caso das profissões 
universitárias, uma auto-atribuição que assimila inteiramente o 
significado que o termo que Bentham – deontologia – veio a 
ter. 
 
 
3. Ética profissional 
 
A ética profissional é um ramo da ética prática, a qual, de forma 
geral envolve todas as profissões, algumas havendo códigos de ética ou 
deontológicos específicos, como no caso da Psicologia e da Medicina, 
por exemplo. 
A Brigada Militar, como se nota no capítulo anterior, não possui 
um código específico para o comportamento ético. Existem regras na 
 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–9 
legislação constitucional, além de um regulamento disciplinar, que 
trazem preceitos éticos, mas não há um estatuto ético específico. 
Quanto à ética profissional cabe citar o conceito, dentro de um 
estudo jurídico, segundo Bittar (2002): 
Por sua vez, a ética profissional se destaca de dentro da ética 
aplicada como um ramo específico relacionado aos 
mandamentos basilares das relações laborais. 
É como especialização de conhecimentos aplicados que a 
ética profissional se vincula às ideias de utilidade, 
prestatividade, lucratividade, categoria laboral, engajamento 
em modos de produção ou prestação de serviços, exercício 
de atividades regularmente desenvolvidas de acordo com 
finalidades sociais. (BITTAR, 2002, p. 363) 
O mesmo autor prossegue analisando o objetivo da ética 
profissional, principalmente no concernente a diferença que existe entre 
regramentos legais, imposições de leis e preceitos éticos: 
Isso porque, na atualidade, a ética tem-se reduzido e 
simplificado de modo extremado a uma tecnologia ética. 
Talvez, na esperança de imediatizar o dever ético na 
consciência do profissional, talvez, dentro de uma onda 
positivista, tenha-se partido para uma tentativa de tornar 
concretos os princípios e deveres éticos, produzindo-se os 
códigos de ética ou códigos de dever, específicos para cada 
profissão. Ora, a consequência direta desse tipo de 
raciocínio é: a) a transformação das prescrições éticas em 
mandamentos legais; b) a retificação excessiva dos campos 
conceituais da ética; c) a compartimentação da ética em 
tantas partes quantas profissões existentes; d) a juridicização 
dos mandamentos éticos (BITTAR, 2002, p. 367). 
 
Torna-se necessário explorar este entendimento nas aulas 
introdutórias de ética para policiais militares, após conhecerem os 
preceitos éticos, valores e compromisso de sua instituição, pois muito 
mais que imposições, deveres devem ultrapassar o externo e serem 
internalizados, pois estes vão além de uma prestação de serviço social, 
mas sim de uma vida diferenciada na defesa da ordem social. 
Dentro da ética profissional pode-se também refletir o papel social 
das atividades laborativas, a fim de se enquadrar em bons resultados e 
comportamentos relevantes para o desempenho profissional. Diante disso, 
tem-se a liberdade de exaltar recente trabalho realizado pelos 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–10 
pesquisadores Rosana Soibelmann Glock e José Roberto Goldim, na 
PUC/RS, abaixo transcrito: 
Conceituação: O que é Ética Profissional? 
É extremamente importante saber diferenciar a ética da 
moral e do Direito. Estas três áreas de conhecimento se 
distinguem, porém têmgrandes vínculos e até mesmo 
sobreposições. 
Tanto a moral como o Direito baseiam-se em regras que 
visam estabelecer uma certa previsibilidade para as ações 
humanas. Ambas, porém, se diferenciam. 
A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, 
como uma forma de garantir o seu bem-viver. A moral 
independe das fronteiras geográficas e garante uma 
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas 
utilizam este mesmo referencial moral comum. 
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade 
delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base 
territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica 
onde uma determinada população ou seus delegados vivem. 
Alguns autores afirmam que o Direito é um subconjunto da 
moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda 
a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações 
demonstram a existência de conflitos entre a moral e o 
Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos 
morais impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. 
Este é um exemplo de que a moral e o Direito, apesar de 
referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter 
perspectivas discordantes. 
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou 
incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. Um 
dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as 
regras propostas pela moral e pelo Direito. Ela é diferente 
de ambos - moral e Direito - pois não estabelece regras. Esta 
reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética. 
Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão? 
Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma 
profissão deve iniciar bem antes da prática profissional. 
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência 
muitas vezes, já deve ser permeada por esta reflexão. A 
escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o 
conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. 
Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem 
conhecer o conjunto de deveres que está prestes ao assumir 
tornando-se parte daquela categoria que escolheu. 
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das 
competências e habilidades referentes à prática específica 
numa determinada área, deve incluir a reflexão, desde antes 
do início dos estágios práticos. Ao completar a formação em 
nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua 
adesão e comprometimento com a categoria profissional 
onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral 
da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um 
conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais 
adequadas para o seu exercício. 
Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de 
estudar ou paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade 
profissional sem completar os estudos ou em área que nunca 
estudou, aprendendo na prática. Isto não exime você da 
 
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responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade! O fato 
de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu 
livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como emprego 
por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade 
remunerada onde não pretende seguir carreira, não isenta da 
responsabilidade de pertencer, mesmo que temporariamente, 
a uma classe, e há deveres a cumprir. 
Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar 
de almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de 
programador de computadores, certamente estará pensando 
sobre seu futuro em outra profissão, mas deve sempre 
refletir sobre sua prática atual. 
Ética Profissional: Como é esta reflexão? 
Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se 
um hábito incorporado ao dia-a-dia. 
Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se 
perguntar sobre os deveres assumidos ao aceitar o trabalho 
como auxiliar de almoxarifado, como está cumprindo suas 
responsabilidades, o que esperam dela na atividade, o que 
ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não há 
outra pessoa olhando ou conferindo. 
Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? 
Estou agindo adequadamente? Realizo corretamente minha 
atividade? 
É fundamental ter sempre em mente que há uma série de 
atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as 
profissões, mas que são comuns a todas as atividades que 
uma pessoa pode exercer. 
Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em 
equipe, mesmo quando a atividade é exercida solitariamente 
em uma sala, ela faz parte de um conjunto maior de 
atividades que dependem do bom desempenho desta. 
Uma postura pró-ativa, ou seja, não ficar restrito apenas às 
tarefas que foram dadas a você, mas contribuir para o 
engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja 
temporário. 
Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer 
ruas e juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que 
você vê que está prestes a cair na rua, podendo futuramente 
entupir uma saída de escoamento e causando uma 
acumulação de água quando chover. Você pode atender 
num balcão de informações respondendo estritamente o que 
lhe foi perguntado, de forma fria, e estará cumprindo seu 
dever, mas se você mostrar-se mais disponível, talvez sorrir, 
ser agradável, a maioria das pessoas que você atende 
também serão assim com você, e seu dia será muito melhor. 
Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se 
espera, desde que você esteja aberto e receptivo, e que você 
se preocupe em ser um pouco melhor a cada dia, seja qual 
for sua atividade profissional. E, se não surgir, outro 
trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando do 
que você faz e sem perder, nunca, a dimensão de que é 
preciso sempre continuar melhorando, aprendendo, 
experimentando novas soluções, criando novas formas de 
exercer as atividades, aberto a mudanças, nem que seja 
mudar, às vezes, pequenos detalhes, mas que podem fazer 
uma grande diferença na sua realização profissional e 
pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexão 
incorporada a seu viver. 
E isto é parte do que se chama empregabilidade: a 
 
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 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–12 
capacidade que você pode ter de ser um profissional que 
qualquer patrão desejaria ter entre seus empregados, um 
colaborador. Isto é ser um profissional eticamente bom. 
Ética Profissional e relações sociais: 
O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de 
escoamento de água da chuva, o auxiliar de almoxarifado 
que verifica se não há umidade no local destinado para 
colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere 
as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, 
a atendente do asilo que se preocupa com a limpeza de uma 
senhora idosa após ir ao banheiro, o contador que impede 
uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço de 
uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais 
indicado para a construção de uma ponte, todos estão agindo 
de forma eticamente correta em suas profissões, ao fazerem 
o que não é visto, ao fazerem aquilo que, alguém 
descobrindo, não saberá quem fez, mas que estão 
preocupados, mais do que com os deveres profissionais, 
com as PESSOAS. 
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de 
proteger os profissionais, a categoria como um todo e as 
pessoas que dependem daquele profissional, mas há muitos 
aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do 
comprometimento do profissional em ser eticamente 
correto, aquele que, independente de receber elogios, faz A 
COISA CERTA. 
Ética Profissional: Pontos para sua reflexão: 
É imprescindível estar sempre bem informado, 
acompanhando não apenas asmudanças nos conhecimentos 
técnicos da sua área profissional, mas também nos aspectos 
legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos 
processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais 
acontecem por desconhecimento, negligência. 
Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às 
pessoas, confidencialidade, privacidade, tolerância, 
flexibilidade, fidelidade, envolvimento, afetividade, 
correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com 
as pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que 
é depositada em você... Comportamento eticamente 
adequado e sucesso continuado são indissociáveis! 
 
 

4. Deontologia policial 
 
A atividade policial, como diferenciada em seu poder exercido 
perante os demais órgãos estatais e a comunidade em geral, exige um 
regramento ético diferenciado, valores e virtudes inerentes a estes seres que 
são os guardiões da sociedade. Diante dessa diferenciação cabe citar o 
recente trabalho realizado pelos sociólogos Arthur Trindade e Maria Stela 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–13 
Grossi Porto, coordenadores do Núcleo de Pesquisa Violência e Segurança 
da Universidade de Brasília, onde comparam o Código Deontológico da 
Polícia Militar de Brasília e Polícia do Canadá, evidenciando a conceituação 
de uma deontologia policial: 
 
 
O conceito de deontologia refere-se à ideia de controlar as 
atividades de determinados profissionais através da 
autoimposição de deveres. Toda profissão impõe deveres e 
responsabilidades a quem a exerce. A deontologia é, 
etimologicamente, a ciência dos deveres. Portanto, a 
deontologia coloca-se como uma estratégia de propor e de 
transmitir uma ética, cujo objetivo é fazer com que os 
integrantes de uma profissão predisponham-se a aderir a um 
sistema de valores que associe eficácia e respeito pelas pessoas 
e pelas liberdades fundamentais, dentro e fora do exercício de 
sua profissão. Diferencia-se do direito no sentido de que as 
normas que propõe são internas. Muitas das regras previstas nos 
Códigos de Deontologia se sobrepõem às normas de conduta 
profissional e às regras jurídicas, resultando, portanto, num 
sistema complexo de controle profissional (Bandeira e Costa, 
2003). 
No que diz respeito às polícias, os códigos de deontologia 
estabelecem as regras e as obrigações essenciais ao trabalho dos 
policiais, inscrevendo-se num quadro jurídico de referência que 
define com precisão a natureza das modalidades da ação 
policial. Em outras palavras: os códigos de deontologia 
determinam os princípios e valores que devem nortear as 
atitudes e o comportamento que os policiais devem assumir 
dentro da corporação e na sua relação com o público. 
Convém lembrar que, na maioria dos países em que o código de 
deontologia foi criado, objetivou-se modificar as concepções 
tradicionais da prática policial, sobretudo em relação à 
discricionariedade atribuída à prática profissional. Em relação 
ao código, é interessante fazer um paralelo entre os policiais e 
os profissionais liberais. Foram estes últimos – médicos, 
jornalistas e advogados – que sentiram a necessidade de 
estabelecer regras de deontologia para “delimitar” 
(circunscrever) suas práticas profissionais. Estes profissionais, 
embora respeitassem os regulamentos e as regras estabelecidas 
para o exercício da profissão, ao exercê-la livremente, tinham 
como respaldo apenas a confiança de seus pacientes e clientes. 
Não estavam submetidos a nenhum poder ou estrutura 
hierárquica como os policiais. No entanto, sentiram a 
necessidade de criar alguns limites suplementares a sua prática 
profissional. O policial, ao contrário dos profissionais liberais, 
desempenha suas funções demarcado por uma rígida estrutura 
hierárquica, embora nem sempre essa estrutura seja 
considerada, principalmente nas situações de patrulhamento de 
rua. 
Apesar das diferenças quanto à estrutura hierárquica, podemos 
notar algumas semelhanças no exercício de tais profissões. Se 
compararmos os dois grupos, observa-se, frequentemente, que o 
cliente de um profissional liberal se encontra numa situação de 
dependência frente a este; é o caso do paciente com seu 
 
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cirurgião, por exemplo. Este no momento da cirurgia, é o único 
mestre do ato, da decisão a ser tomada, pois apenas seus 
conhecimentos técnicos podem conduzi-lo. Em caso de 
situações extremas, contará apenas com sua ética profissional. 
Se deslocarmos essa problemática para a função do policial, 
constataremos que este, na sua prática cotidiana, agirá 
frequentemente fora da estrutura hierárquica, dispondo de 
grande autonomia de ação. Nessa prática, os policiais não 
necessariamente regem suas ações pelo regulamento, leis ou 
normas de conduta. Guiam-se, no geral, pelo que denominam 
como „sua própria experiência‟. A existência dessa margem de 
iniciativa da ação do policial constitui-se exatamente no espaço 
que deve ser ocupado pela deontologia. 
 
Portanto, instituir um código de deontologia significa 
reconhecer, concomitantemente, a responsabilidade e a 
autonomia do policial. 
Entretanto, pouco se sabe sobre as diferentes dinâmicas sociais, 
políticas institucionais para a implantação dos códigos de 
deontologia policial. 
A partir de 1980, constatou-se o crescimento dos estudos sobre 
as polícias, constituindo-se no que Kant de Lima, Misse e 
Miranda (2000) denominaram de sociologia da organização 
policial contemporânea. Apesar dos esforços, pouco se avançou 
na compreensão dos mecanismos de controle da atividade 
policial, de seus instrumentos de controle e avaliação, bem 
como das dificuldades políticas, culturais e institucionais para 
sua implantação. 
Sem uma clara diferenciação entre violência policial e uso da 
força legal não é possível estabelecer mecanismos destinados 
ao controle e supervisão das atividades policiais. Até que ponto 
e sob que circunstâncias é legítimo ou admissível o uso da 
força? Qual é a linha demarcatória entre força legítima e 
violência policial? Estas questões têm sido debatidas pela 
literatura especializada (Klockars, 1996; Muniz et alii, 1997; 
Mesquita Neto, 1999; Costa, 2003; Costa e Medeiros 2002; 
Porto, 2000; Adorno, 2002). Os estudos destacam que essa 
linha demarcatória não é fixa. O limite entre força legítima e 
violência varia em função da forma como cada sociedade 
interpreta a noção de violência e representa a função policial. 
No contexto brasileiro, além de insistir na necessidade de 
incrementar a educação e o treinamento, os depoimentos 
ressaltam a dificuldade em traduzir para a atividade prática os 
princípios mais teóricos disponíveis, seja em manuais de 
procedimentos operacionais, seja através da cultura oral. 
Em Ottawa, a ênfase repousa, sobretudo, na possibilidade de o 
policial justificar seus atos, apoiado em leis ou códigos. A ação 
que pode ser assim justificada não é percebida como violência 
policial. 
 
5. Deontologia policial-militar 
Havendo um entendimento básico sobre deontologia e de que existe 
um dever ser próprio e de grande exigibilidade de condutas altruístas e 
virtuosas por parte de um policial, resta focar na atividade ostensiva 
 
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preventiva, a qual deve ser o ápice da ética profissional - deontologia e 
deontologia policial, pois além de englobar todos esses conceitos da ética 
prática, o policial militar reveste-se da ostensividade e presença constante no 
meio social, e como já disse Ricardo Balestreri, “um agente fomentador dacidadania, ou seja um exemplo de comportamento individual”. 
 
Para exemplificar a atualidade e extraterritorialidade do tema, pode-
se usar o compreendido e amplamente estudado pelas Polícias Militares de 
São Paulo e Paraná, pela das compilações abaixo: 
 
Não são necessários muitos estudos para evidenciar que os 
estilos e posturas, adotados como próprios na execução do 
policiamento ostensivo de uma organização policial-militar, 
refletem os valores aí inseridos e estimulados. Uma 
organização que, independentemente de outros aspectos, admite 
procedimentos técnicos e táticos agressivos e indiferentes aos 
direitos do cidadão, naturalmente adota um conjunto de valores 
muito discordantes daqueles de outra organização, em que a 
comunidade, além de respeitada, tem suas percepções e 
demandas priorizadas na administração da ordem pública, ou 
ainda, daquela outra, em que os esforços de policiamento 
atendem apenas às prioridades do comando, ou os interesses 
políticos subalternos, muito mais do que uma ampla dedicação 
aos princípios básicos que regem as atividades da polícia 
ostensiva. 
Assim, a Deontologia vem estabelecer as normas que presidem 
a atividade profissional sob a égide da retidão moral ou da 
honestidade, sendo o bem a preponderar e o mal a evitar no 
exercício da atividade profissional. De tal sorte, a vida 
profissional não pode conservar-se alheia à norma ética. 
Decorrente deste conceito geral, a Deontologia Policial-Militar 
é constituída pelo conjunto de valores e deveres éticos, 
traduzidos em normas de conduta, que se impõem para que o 
exercício da profissão policial-militar atinja plenamente os 
ideais de realização do bem comum, mediante a preservação da 
ordem pública. Os valores profissionais, determinantes da 
moral do policial-militar, são os seguintes: patriotismo, 
civismo, hierarquia, disciplina, profissionalismo, lealdade, 
constância ou perseverança, espírito de corpo, honra, dignidade, 
honestidade e coragem. De antemão, os deveres éticos, 
provindos dos valores e que conduzem a atividade profissional 
sob o signo da retidão moral, dentre vários, destacam-se: 
cumprir os deveres de cidadão; atuar com devotamento no 
interesse público, colocando-o acima dos interesses 
particulares; dedicar-se integral e exclusivamente ao serviço 
policial-militar, buscando com todas as energias, o êxito do 
serviço e o aprimoramento técnico-profissional e moral; 
proteger a vida, o patrimônio e o meio ambiente com 
abnegação e desprendimento pessoal, arriscando, se necessário, 
a própria vida; e assim por diante. Tudo isso, objetivando uma 
conduta ética elevada, consoante aos padrões de moralidade 
 
 Curso CBFPM 2020 – Ética profissional NOTAS DE AULA 
 Ética e Cidadania - CBFPM MP 19–16 
esperados, de sua polícia, pela sociedade. Conduta ética essa, 
firmada mediante compromissos públicos solenes, traduzidos 
em obrigações, cuja violação constituirá crime ou transgressão 
disciplinar, conforme o disposto em legislação específica ou 
própria. 
O Cap. PMSP Paulo Marino LOPES, no seu ensaio "Da 
Deontologia Policial-Militar", realça que a ética prevalecente 
nas Corporações Milicianas deve ser a do militar de polícia, 
guardião da ordem pública, incumbindo manifestar, 
particularmente, as seguintes características: 
 
a. importância dos vínculos pessoais com a instituição, 
resultando do alto nível de identificação individual com os 
objetivos institucionais, bem como a defesa dos costumes, 
experiências e tradições que lhes são próprias; 
b. estabilidade dos fatores internos de segurança, obtida pela 
aproximação permanente entre os líderes e a tropa, permitindo 
o conhecimento mútuo e compartilhado das agruras; 
c. senso de identificação comunitária, oriundo do espírito de 
sacrifício em prol da comunidade e agravado pela perspectiva 
real de perda da própria vida no cumprimento do dever. 
Com a devida vênia do ilustre autor citado, pode-se associar 
estas características acima transcritas que envolvem a ética 
policial-militar em: MISSÃO, MORAL DE TROPA 
ELEVADA e PATRIOTISMO. De tal sorte que, pelo nível 
crescente de engajamento na missão a cumprir é que se elevam, 
também, os vínculos pessoais com a instituição, traduzidos pelo 
sentimento do dever. Outrossim, nenhuma organização policial-
militar será bem sucedida se estes fatores de estabilidade 
internos forem baixos, ou seja, resultante de um moral baixo. 
Portanto, direitos privilegiando os altos escalões da hierarquia, 
rompimento do escalonamento salarial, afastamento dos oficiais 
da tropa, injustiça na apreciação dos atos e méritos dos 
subordinados, falta de atenção pelos comandantes às 
necessidades básicas dos subordinados, armamento, munição e 
equipamento insuficientes ou inadequados, insegurança pessoal 
e familiar diante das ameaças das quadrilhas, incompetência, 
boatos, falta de informações e treinamento, estímulos ao 
servilismo ou à adulação e impunidade, são alguns exemplos de 
rompimento desta estabilidade, atraindo como conseqüência 
natural, o rebaixamento do moral da tropa. Em relação à 
adulação de agentes públicos, seja dito de passagem, muito 
freqüente, José INGENIEROS além de considerá-la sempre 
desleal e interessada, acrescenta ainda: "Pertence à raça dos 
„covardes felizes‟, como os batizou Leconte de Lisle. A 
adulação é uma injustiça. Engano. O bajulador é sempre 
desprezível, mesmo quando o faz por uma espécie de 
benevolência vulgar ou pelo desejo de agradar a qualquer 
preço". Por fim, o patriotismo que é necessário ser alçado na 
devida proporção em que se elevam os sentimentos de 
identificação e solidariedade à comunidade que se deve servir, 
tornando grande aos olhos tudo o que poderia, humanamente, 
parecer pequeno e insignificante. 
Além do mais, conclui com peculiar lucidez o aludido 
miliciano, transportando à tona preceito estabelecido na 
legislação específica (Art. 16, R/200), o qual desvela a 
verdadeira pedra angular onde está alicerçada a atividade 
policial-militar, mas que infelizmente, não é levado com 
seriedade por muitos: 
 
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A Polícia Militar, convém lembrar, enquadra-se entre as 
organizações totais, nas quais os seus integrantes devem 
dedicar-se integralmente à profissão. Nesse sentido, 
transcendendo a esfera doutrinária, vem o mandamento legal do 
Decreto Federal n.º 88.777, de 30 setembro de 1983 (R-200): A 
carreira policial-militar é caracterizada por atividade continuada 
e inteiramente devotada às finalidades precípuas das Polícias 
Militares, denominada Atividade Policial-Militar. 
Apesar do policial-militar ser considerado como o "homem do 
dever", que deveria trabalhar pelo prazer profissional, pelo 
devotamento infatigável, na ânsia de servir, em conformidade 
com as posturas que são projetadas em ditosos discursos, ao 
contrário, em verdade o que são projetadas no cotidiano, como 
performances habituais? Atitudes ambíguas e contraditórias, 
tendentes a construir uma forma particular de ética segundo a 
sua própria perspectiva, deixando para trás os valores mais 
elevados. Fato, aliás, que poderá ser discutido oportunamente. 
Nesse intervalo de tempo, o Cel. PM José Francisco 
PROFÍCIO, Ex-Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado 
de São Paulo, ao falar de disciplina e legislação penal militar, 
assuntos comuns às Forças Armadas, às Polícias Militares e aos 
Corpos de Bombeiros Militares, insistiu em reafirmar as 
necessidades da inclusão de novos dispositivos disciplinares, 
mais adequados aos reclamos sociais e à própria ampliação de 
funções que o momento histórico mais recente, tem reservado 
às corporações, devendo, além daqueles já consagrados, 
regerem-se pelos seguintes

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