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5 A Bioética Principialista Savio Gonçalves dos Santos Introdução Apresentar a Bioética Principialista, ou biomédica/Principialista, é, em verdade, tratar do que boa parte do mundo acadêmico entende por bioética. Entretanto, como vimos, a bioética não pode ser resumida ao modelo Principialista, primeiro por conta de sua limitação prática, e segundo por força da pluralidade e diversidade dos países onde a bioética deve agir. Sem dúvida o referencial Principialista é importante para a bioética, bem como para o surgimento de outros modelos específicos, que se apropriam da crítica ao principialismo. O termo principialismo advém da necessidade encontrada por pesquisadores, especificamente os norte americanos, em estabelecer valores próprios para a bioética, que embasassem as práticas desta área. A origem dessa criação se deu por conta das pesquisas com seres humanos, e a não existência de referenciais que fundamentassem as práticas biomédicas com pessoas. Especificamente, foram três casos de excessos em pesquisas que levaram à criação de uma comissão para analisar tais situações. O primeiro foi o caso do Hospital Israelita de Nova Iorque, em 1963, onde células cancerosas vivas foram injetadas em idosos doentes, sem qualquer consentimento – não que isso resolveria o problema –, apenas com a finalidade de se estudar o avanço da doença em pacientes mais velhos. O segundo caso foi o do hospital em Willowbrook, Nova Iorque, onde crianças deficientes mentais tiveram injetadas em seus corpos hepatite viral. O caso Willowbrook, como ficou conhecido, será estudado no capítulo 6, junto com o caso Tuskegee, quando formos abordar a bioética aplicada. O terceiro, e último caso, foi o Tuskegee Study, no Estado de Alabama, onde desde os anos 1940, quatrocentos negros sifilíticos foram sujeitos de pesquisa, sendo deixados sem tratamento para que se pesquisasse a evolução natural da doença. Esse caso só foi descoberto em 1972, após denúncias, mesmo tendo a Penicilina desenvolvida em 1945. E somente em 1996, o governo dos Estados Unidos pediu desculpas pelo ocorrido às famílias (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2005, p. 56). A partir dos casos citados acima, o Congresso dos Estados Unidos criou, em 1974, a Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos da Pesquisa Biomédica e Comportamental, com o objetivo de “levar a cabo uma pesquisa e um estudo completo que identificassem os princípios éticos básicos que deveriam nortear a experimentação com seres humanos nas ciências do comportamento e na biomedicina” (ibidem). Inúmeros especialistas foram convidados a participar da Comissão, com o intuito de estabelecer os princípios – de maneira prática – que se tornariam referenciais para a pesquisa com seres humanos. Após quatro anos de trabalho, um relatório foi emitido pela Comissão; esse relatório ficou conhecido como Relatório de Belmont. No Relatório de Belmont, a Comissão apontava “três princípios éticos mais globais que deveriam promover as bases sobre as quais formular, criticar e interpretar algumas regras específicas” (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2005, p. 57). Segundo a análise realizada, a escolha desses três princípios, mesmo sabendo da relevância de outros, deu-se por conta de que esses estavam Profundamenta enraizados nas tradições morais da civilização ocidental, implicados em muitos códigos e normas a respeito da experimentação humana que tinham sido publicadas anteriormente e, além disso, refletiam as decisões dos membros da comissão que trabalhavam em questões particulares de pesquisa com fetos, crianças, prisioneiros e assim por diante (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2005, p. 57). O Relatório de Belmont, a partir daí, foi tomado como referencial, pois, a partir dos três princípios fundamentais – respeito pelas pessoas (autonomia); beneficência; e justiça – a comunidade internacional passou a referenciar a ética na pesquisa, a partir de uma abordagem metodológica, estabelecidos como procedimentos básicos. Sobre esses procedimentos, bem como os princípios, as reflexões começaram a se apresentar, sendo a mais conhecida delas a realizada por Tom Beauchamp e James Childress, publicada e 1979, com o título Principles of Biomedical Ethics (Princípios de Ética Biomédica). Posteriormente ao lançamento da obra, bem como a partir de suas reedições e atualizações, o modelo principialista ganhou adeptos e antagonistas. O grupo dos adeptos é o maior deles, pois a Bioética Principialista passou a ser adotada como referencial na maioria dos países – inclusive o Brasil, como se verá nos documentos aqui utilizados nos capítulos 7 e 8. Quanto aos críticos, o principialismo sofreu – e ainda sofre – inúmeras contraposições, sejam elas da epistemologia do Norte ou do Sul. Neste capítulo, nós teremos a oportunidade de aprofundar os estudos sobre o modelo principialista, a partir da contribuição dada por Beauchamp e Childress, além de compreender, de maneira breve, as principais críticas recebidas por esse modelo bioético. Objetivos A proposta de um modelo universal de bioética, para além dos limites do campo biomédico, passa pela análise dos referenciais existentes. O modelo principialista, bem como as críticas daí oriundas, fizeram com que a bioética, enquanto uma disciplina autônoma, pudesse estabelecer suas bases e exercer sua prática fundamental: a proposição do diálogo, do debate. Dessa forma, são objetivos deste capítulo: • Apresentar o modelo principialista; • Demonstrar a contribuição dada pelos autores norte americanos; • Analisar os princípios fundamentais da Bioética Principialista; • Examinar as contraposições teórico-conceituais pelos autores do Norte e do Sul. Esquema 5.1 A proposta de Beauchamp e Childress 5.2 Autonomia 5.3 Beneficência e não maleficência 5.4 Justiça 5.5 Considerações finais Antagonista Diz-se de quem se opõe ou é contra a determinada posição ou alguém. Glossário 5.1 A proposta de Beauchamp e Childress Apesar dos avanços promovidos pelo Relatório de Belmont – ainda utilizado como referencial nos dias atuais –, a preocupação principal era voltada somente ao contexto de pesquisa com seres humanos, não abordando, assim, a atenção necessária ao campo da prática clínica, ou mesmo da assistência à saúde. Tendo em vista essa limitação, Tom Beauchamp e James Childress, em sua famosa obra Principles of Biomedical Ethics, buscaram apresentar uma sistematização dos princípios, voltando-os para a dimensão clínico-assistencial. Por conta disso, a proposta que os filósofos apresentaram passou a ser o referencial básico para a construção da ética biomédica (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2005, p. 59). Apesar de parecer uma obra inédita, que apresentava princípios específicos para a ética biomédica, para as pesquisas clínicas, para a assistência à saúde, em verdade, a sua base está no Relatório de Belmont, uma vez que Tom Beauchamp foi membro da comissão que redigiu o Relatório. Dessa forma, as bases para a construção teórica estavam estabelecidas, necessitando que os autores somente refizessem alguns aspectos teóricos. Entretanto, na redação do livro, Beauchamp e Childress acrescentaram um quarto princípio, promovendo a separação entre beneficência e não maleficência. Além disso, segundo Pessini e Barchifontaine (2005, p. 59), Beauchamp e Childress beneficiaram-se em sua obra da teoria de um grande eticista inglês do início do século XX, Sir David Ross, que escreveu, em 1930, um famoso livro intitulado The right and the good, em que se fala dos devers atuais e prima facie. Independente da origem teórica das propostas de Beauchamp e Childress, a obra desse filósofos se tornou um marco teórico não só para a bioética, como para a ética. A partir desse referencial teórico, passou a ser possível analisar um modelo ético que era prático, esquematizado, normativo e que visava uma ação prática. Foi graças aesse referencial que a bioética passou a ser conhecida, reconhecida e aplicada por profissionais de diversas áreas. O trabalho da Bioética Principialista possibilitou que houvesse a preocupação com princípios que vagavam inexplicados em códigos e referenciais técnicos, completamente distantes da vida prática em si. Oportuno observar que a partir do principialismo inúmeros outros documentos foram escritos, bem como diversas práticas profissionais – inclusive de pesquisa – foram revisadas e modificadas. Além disso, o parâmetro para o avanço da bioétida estava posto; a partir do modelo principialista é que as críticas surgiram, promovendo a transformação da bioética local e globalmente. Evidentemente que a bioética não se converteu em biomédica/principilista somente por conta da obra de Beauchamp e Childress. Há, segundo Pessinni e Barchifontaine (2005, p. 60), quatro aspectos que foram essenciais para que isso acontecesse, a saber: 1. Os primeiros bioeticistas encontraram na ética normativa de seu tempo, no estilo dos princípios, a via media entre a terra árida da méta- Prima Facie Trata-se de um conceito desenvolvido por Sir David Ross, eticista inglês, que propunha inexistir regras sem exceção. Prima Facie é uma obrigação que deve ser cumprida, a menos que conflite com outro dever de igual valor. Glossário ética, ou metafísica, e as riquezas das visões da ética teológica, geralmente inacessíveis. 2. O Relatório Belmont foi um documento fundamental que respondeu à necessidade dos responsáveis da elaboração de normas públicas, de uma declaração simples e clara, de bases éticas para regulamentar a pesquisa. 3. A nova audiência, composta por médicos e estudantes de medicina, entre outros profissionais da área de saúde, foi introduzida nos dilemas éticos da época por meio da linguagem dos princípios, que mais do que complexificar, ajudou a entender, esclarecer e chegar a acordos de procedimento em questões extremamente difíceis e polêmicas trazidas pela tecnociência. 4. O sucesso do modelo principialista é devido à sua adoção pelos clínicos. Os princípios deram a eles um vocábulo, categorias lógicas para percepções e sentimentos morais não verbalizados anteriormente, bem como meios para resolver os dilemas morais em determinado caso, no processo de compreensão das razões e da tomada de decisão. Dos quatro pontos apresentados, ressaltamos o quarto. Para a história da bioética, o trabalho dos clínicos – e mesmo os bioeticistas – com o principialismo foi fundamental. Não há como negar que a bioética é conhecida, majoritariamente, por força do que o referencial principialista promoveu. Assim, faz-se necessário que busquemos analisar, de forma cuidadosa, os princípios referenciais da Bioética Principialista. 5.2 Autonomia A proposição de um princípio específico para a garantia da liberdade – cumpre observar que há autores que entendem a autonomia como parte da liberdade – e independência da pessoa, comumente conhecido como autonomia, quer resgatar a origem grega do termo, onde a ideia central era propor o autogoverno; a capacidade da pessoa em tomar decisões diante de tudo o que lhe diz respeito. Entretanto, para o desenvolvimento dessa capacidade, a pessoa requer uma série de garantias de outros aspectos, tais como: 1) opções para a escolha: não há como se falar em escolha autônoma sem que hajam aspectos variados a serem optados; 2) consciência: a garantia da autonomia requer que a pessoa tenha consciência plena do que está fazendo. Isso significa que o conhecimento e as informações precisam ser suficientes, para que a pessoa seja capaz de escolher; 3) informações claras e acessíveis: tudo o que a pessoa precisa saber antes de exercer sua escolha precisa ser esclarecido. O conjunto das informações, explicações, esclarecimentos precisam ser repassados de forma clara e completa; 4) liberdade: a pessoa que se encontra no papel de escolher e decidir não pode ser coagida ou obrigada. A escolha deve ser livre e independente, sem influências diretas de terceiros. É preciso que haja a liberdade inclusive de pensamento. Uma consideração importante acerca do princípio da autonomia, reside no fato de que esse não deve ser confundida com o princípio do respeito à autonomia de outra pessoa. O primeiro, reforçamos, diz respeito a capacidade da pessoa de deliberar, com base em referenciais pessoais, sobre tudo aquilo que diz respeito à sua própria vida. Já o respeito pela autonomia se apoia mais na dinâmica da tolerância, da compreensão ao diferentes, desde que isso não signifiquem ameaças e agressões aos outros. O respeito pela autonomia da pessoa conjuga-se com o princípio da dignidade da natureza humana, aceitando que o ser humano é um fim em si mesmo, não somente um meio de satisfação de interesses de terceiros, comerciais, industriais, ou dos próprios profissionais e serviços de saúde. Respeitar a pessoa autônoma pressupõe a aceitação do pluralismo ético- social, característico de nosso tempo (MUÑOZ; FORTES, 1998, p.58). O desenvolvimento da reflexão acerca do princípio da autonomia é perpassado por uma limitação específica: não há como se falar em autonomia plena. Essa condição, inclusive, pode colocar em xeque a própria estruturação da sociedade, uma vez que a normatização, a existência de regras, promove uma limitação necessária. Importante observar que não se trata aqui da confusão conceitual existente entre liberdade e libertinagem; liberdade não é fazer o que se quer, pois isso é libertinagem, e libertinagem, por sua vez, não cabe na proposta de sociedade, de coletividade. O simples fato de pertencermos a um conjunto social, de sermos seres coletivos, nos impede que consigamos ir além das regras comuns. Dessa forma, a autonomia plena, é apenas um desejo, uma utopia. Mesmo considerada necessária e fundamental para a bioética, a autonomia não faz parte da vida do humano desde o seu nascimento. O ser humano adquire a autonomia ao longo de sua vida, a medida que se desenvolve e avança em suas fases formativas. Se considerarmos, a título de exemplo, um recém-nascido, é possível observar a total dependência dos seus genitores; e mesmo nos anos posteriores, a autonomia não é alcançada de maneira rápida e plena. Em outros casos, como de pessoas com deficiência, ou em estados de transtornos diversos, acometidos por efeito de drogas lícitas ou ilícitas, ou mesmo porque perderam a sanidade, a autonomia também é limitada, requerendo a intervenção de uma pessoa responsável. Identificar a capacidade de ação autônoma das pessoas requer de nós, profissionais em geral – especialmente os da área da saúde –, um exercício de compeensão e, de certa forma, complacência em reconhecer o direito do outro. Essa ação de idenficação da autonomia é conhecida como julgamento de competência. É esse julgamento que permite saber os limites da autonomia e, principalmente, zelar pelo sua efetivação. Entretanto, o julgamento de competência não pode ser realizado de maneira geral. Ele deve acontecer a cada situação em particular, inclusive com pessoas em que fique demonstrado a incapacidade de discernimento. Assim, “[...] todos os pacientes devem ser julgados capazes até prova de sua incompetência, de que sua autonomia está reduzida” (MUÑOZ; FORTES, 1998, p.59). A absolutização da autonomia pode apresentar, como defendem alguns bioeticistas, a justificação para o surgimento de um individualismo extremo. Individualismo que acaba por Utopia Um termo criado por Thomas More, filósofo inglês do século XVI, comumente usado para se referir a realidades ou condições que ainda não foram alcançadas. Normalmente a utopia é confundida com sonhos, o que não necessariamente está correto. A utopia denota mais desejos que temos. Glossário levar a comportamentos egoístas, inclusive de rejeição ao outro e aos problemas comuns. A autonomia, de forma alguma, significaindividualismo, pois o homem vive em sociedade e a própria ética é um dos mecanismos de regulação das relações entre os seres humanos que visa garantir a coesão social e harmonizar interesses individuais e coletivos. A socialização do homem, desde a infância, lhe dá condicionantes morais, mas uma sociedade livre estimula que as autonomias individuais sejam desenvolvidas, que se possa escolher entre as diversas morais existentes em cada momento histórico vivido (MUÑOZ; FORTES, 1998, p.60). Essa realidade apresenta o que chamamos de limite da autonomia. Ela não deve ser concebida como um valor absoluto, para além dos limites do respeito à liberdade e à dignidade humana. Em verdade, o dito popular “minha liberdade termina onde começa a do outro” resume bem a questão. Como não há hierarquia entre os princípios – inclusive os presentes na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 –, a autonomia não está acima de outros princípios, nem pode ser colocada como melhor ou mais relevante. Isso se evidencia quando há a existência de dano a terceiros ou mesmo à saúde pública (ibidem). Nos casos em que envolvem pacientes, de maneira específica, podem ocorrer conflitos entre as autonomias do profissional da saúde e dos atendidos. Nesses casos, como não há uma absolutização da autonomia, o profissional pode se opor às vontades do paciente – amparado pela cláusula de consciência –, da mesma forma que o paciente pode se recusar a realizar os procedimentos determinados pelos profissionais de saúde – fundado no direito à recusa de tratamento. Entretanto, quanto o caso for de risco de morte, ou apresentar perigo real à vida, a supressão da automia do paciente deixa de ser crime. “Em outras palavras, a nossa legislação garante ao cidadão o direito à vida, mas não sobre a vida; ele tem plena autonomia para viver, mas não para morrer” (MUÑOZ; FORTES, 1998, p.61). Por tais aspectos, garantir o consentimento, livre e esclarecido, dos participantes de pesquisas, ou de pacientes envolvidos em qualquer tratamento de saúde, é fundamental. A pessoa tem o direito de consentir e recusar toda e qualquer proposta. Entretanto, esse consentimento – que normalmente é dado pelo participante através da assinatura em um documento – só pode ser reconhecido se contiver quatro elementos: informação, competência, entendimento e voluntariedade, além dos aspectos já mencionados anteriormente. Cumpre ressaltar que esse documento precisa ser renovado quando mudanças expressivas ocorrerem, especialmente nos casos que envolvam a saúde. Chamamos a atenção para o casos que envolvem a saúde, pois em sua maioria há a violação da autonomia da pessoa. Normalmente, quando se dá entrada na internação de um hospital, por exemplo, há a assinatura do “termo de responsabilidade”. A sensação que se tem é de que o hospital está cumprindo com o respeito a autonomia do paciente; mas, na verdade, o que se tem, por primeiro, é uma isenção de responsabilidade por parte do hospital pela maioria das intercorrências e, em segundo, esse mesmo termo se coloca como imutável. Essa Cláusula de Consciência Amparada pela Constituição Federal, em seu Artigo 5º, a clausula de consciência isenta da pena quem, por motivo de consciência ou crença, praticar algum ato previsto como crime, desde que não viole direitos fundamentais individuais. Glossário condição de permanência do termo, mesmo se considerando a realidade mutável dos hospitais e das internações, ou no estado de saúde dos pacientes, viola a autonomia e o direito a liberdade do paciente. Uma observação final acerca da obtenção de termo de consentimento – no qual se garante o consentimento –, da-se quanto se envolve menores, de maneira específica. Nesses casos, a legislação brasileira – como se verá nos capítulos 7 e 8 – requer que seja elaborado um termo de consentimento para os responsáveis, bem como um termo de assentimento para os menores, o que garante a eles a manutenção da autonomia e da liberdade de escolha. Nesses casos, não é incomum encontrarmos situações em que os responsáveis autorizam e o menor, não. Nesse caso, cabe o bom senso aos que estão obtendo o consentimento e o assentimento. Se, por acaso, ocorrer o contrário, permanece a vontade dos responsáveis pelo menor, a menos que ele seja emancipado; o que não requeriria o termo para responsáveis, apenas para o emancipado. A garantia efetiva da autonomia permite, para além do respeito à dignidade humana e os direitos humanos, a ação não paternalista. O risco que se corre pela limitação da liberdade e do respeito aos pacientes e participantes de pesquisas, não é apenas uma questão de ordem ético-moral, mas envolve predispostos jurídicos, onde os profissionais podem ser, inclusive, responsabilizados criminalmente. Autonomia, portanto, é uma questão de equidade, igualdade e justiça 5.3 Beneficência e não maleficência Os princípios da beneficência e da não maleficência – se analisados em separado –, ou o princípio da beneficência e não maleficência – se admitido como um só, como defendem alguns bioeticistas – buscam, por primeiro, a proposição de que os envolvidos com os processos de pesquisa, pacientes, são, antes de tudo, pessoas. Por mais que hajam definições diferentes em áreas do conhecimento – seja o indivíduo biológico para a Biologia, um ser comportamental para a Psicologia, ou mesmo um indivíduo para o Direito –, a condição humana não se limita às posições conceituais assumidas. Ser pessoa requer que sejam reconhecidas todas as dimensões do humano, bem como todo humano precisa ter suas dimensões reconhecidas. Pessoa, em sua etimologia, entende-se como personalidade. Tal definição enfrenta problemas, e esses problemas advêm do fato de que a grande discussão travada nos diversos campos do conhecimento humano define pessoa de modos variados. Para se ter ideia, a tradição escolástica apresenta a pessoa como substância individual de natureza racional. Kant a define como um valor absoluto que determina a sua própria razão. No pensamento cristão, pessoa é o ser humano racional e livre, sujeito moral e espiritual, consciente do bem e do mal, e responsável pelos seus atos; o que complica a análise a partir do pensamento iluminista, visto que em sua maioria, as definições são propostas a partir da capacidade individual e não do coletivo. Mas é o mesmo Kant quem sintetizou a definição de pessoa, estabelecendo que os seres racionais são chamados de pessoas porque a sua natureza os diferencia como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que não pode ser usado somente como meio e, portanto, limita nesse sentido todo capricho e é um objeto de respeito (KANT, 1965, p. 51). A partir dessa proposição kantiana, a dignidade passa a ser estabelecida como um valor integral, imensurável, insubstituível, inegociável. Por isso a compreensão da completude humana, ou do humano completo, precisa o motor da relação profissionais da saúde e paciente/usuário, pesquisadores e sujeitos de pesquisa. Não se pode resumir as pessoas (e mesmo os animais não humanos – a prontuários, números, códigos, doentes – ou doenças, como vemos em muitos hospitais. Não se trata de intervir para a supressão de sintomas, de consequências; não se age no prontuário; não se medica um sintoma; não se relaciona com um número. Temos pessoas, somos pessoas, que precisam ser respeitadas em suas dores, crenças, sonhos, medos, valores; não há como separar o humano, a pessoa humana. Respeito à dignidade da vida humana é um ponto fundamental de sustentação da beneficência e da não maleficência. A beneficência, entendida comumente como praticar o bem, é uma disposição própria do sujeito benevolente. Parece uma condição distante, mas a maioria dos eticistas do século XVIII e XIX acreditava “que existe no homem, de forma prioritária, um princípio natural de benevolência ou da procura e realização do bem dos outros e que, do mesmo modo,temos propensão a cuidar da nossa própria vida, saúde e bens particulares” (KIPPER; CLOTET, 1998, p. 42). Dessa forma, é possível admitir que a benevolência tem as seguintes características: 1) é uma disposição emotiva que tenta fazer bem aos outros; 2) é uma qualidade boa do caráter das pessoas, uma virtude; 3) é uma disposição para agir de forma correta; 4) de forma geral, todos os seres humanos normais a possuem (KIPPER; CLOTET, 1998, p. 42-43). Se voltarmos a atenção para o século XX, especificamente nas três primeiras décadas, encontraremos a obra de William David Ross, que desenvolveu uma ética normativa conhecida como ética dos deveres num primeiro momento (Prima facie duties). Dentro de sua teoria, Ross estabelece que há deveres que são independentes dos outros; são eles: a fidelidade, reparação, gratidão, justiça, beneficência, aperfeiçoamento pessoal e não- maleficência. Ross ainda menciona o fato de que o dever beneficência exprime o caráter de dever, não alcançado por benevolência. Cumpre observar que esse dever num primeiro momento é condicional, não absoluto, evidente e incontestável (KIPPER; CLOTET, 1998, p. 42). Isso significa admitir que tanto a beneficência, quanto a não maleficência são deveres independentes e condicionais. De maneira prática, o princípio da beneficência se preocupa com a promoção da saúde, a prevenção da doença, avalia os bens e os males, focando na evidenciação dos primeiros. Dentro dessa lógica, os benefícios sempre devem superar os riscos. Os profissionais da saúde, de maneira direta, devem buscar o bem dos usuários e dos pacientes, de forma que “todo ato terapêutico, toda decisão, tem como único alvo proporcionar um auxílio eficaz a uma pessoa enferma em perigo” (BERNARD, 1990, p. 71); ou, como define Francis Bacon (1937, p. 40), “a disposição ou esforço ativo para promover a felicidade e bem-estar daqueles que nos rodeiam”. Podemos ainda, numa disposição normativa, observar o que propõe o Relatório Belmont: as pessoas devem ser tratadas de maneira ética, respeitando as suas decisões, prevenindo o dano e garantindo seu bem-estar. Em segundo, buscar maximizar os benefícios para as pessoas (NCPHSBBR, 1979, p. 4). O dever de não causar danos – assim como o de promover o bem –, colocados como referenciais fundamentais no Juramento de Hipócrates desde o século V a.C., ainda permanece como um referencial. Entretanto, o entendimento pode parecer, por vezes, semelhante à beneficência. Ocorre que o princípio da não maleficência é uma obrigação de não causar dano, enquanto a beneficência tem como determinação prevenir os danos. Por conta disso, o princípio da não maleficência pode acabar sendo interpretato de forma errada. Em muitos casos, especialmente nos de saúde, há ações que podem ser entendidas como promoção do dano, mas têm objetivos maiores, ou querem atingir benefícios a longo prazo. É por isso que os princípios da beneficência e da não maleficência devem ser trabalhados, analisados e aplicados sempre juntos (KIPPER; CLOTET, 1998, p. 47-48). Em verdade, a ação eficiente diante de uma questão bioética deve sempre se pautar pela análise de todos os princípios, e a consideração da dignidade da pessoa humana como pano de fundo. Isso é o mínimo que se espera de quem pretende promover o bem para outras pessoas. É preciso que haja o embasamento teórico necessário, a prática baseada em teorias, mas a capacidade de análise e discernimento, o que nos permite escolher o melhor caminho, ou o caminho do bem, deve ser a dinâmica defendida. É a ética quem possibilita essa prática dos profissionais de maneira adequada, para além dos interesses pessoais e a supressão dos direitos e a dignidade das pessoas. 5.4 Justiça O princípio da justiça talvez seja, por força de sua amplitude, o mais complexo dos quatro. Não que a autonomia não seja complexa, mas ela não se equipara, no que diz respeito a sua composição, ao que a justiça pretende. Como ponto de partida, tomemos o que nos diz o Relatório de Belmont sobre o princípio. O primeiro questionamento que o relatório coloca é quanto aos designios dos benefícios de uma pesquisa, a quem eles devem ser destinados; e quem deve suportar esses encargos. Pois, uma injustiça acontece quando um benefício é negado a quem merece, sem razão aparente; ou quando uma culpa é atribuída a alguém de maneira indevida. O Relatório de Belmont ainda faz uma segunda ponderação sobre a concepção do princípio da justiça: iguais devem ser tratados de maneira igual, de maneira que (1) para cada pessoa uma parcela igual, (2) para cada pessoa de acordo com a necessidade individual, (3) para cada pessoa de acordo com o esforço individual, (4) para cada pessoa de acordo com a contribuição da sociedade e (5) a cada pessoa de acordo com o mérito (NCPHSBBR, 1979, p. 5). Por mais que possam parecer extremos os parâmetros do Relatório de Belmont, faz-se necessário observar que até poucos anos atrás, a discussão acerca da justiça não fazia parte do contexto da saúde, muito menos da pesquisa científica. Inúmeros são os exemplos de como a ação humana pode ser perpassada pelos extremos, sendo, em muito, voltada para a mera satisfação pessoal, sem que haja uma preocupação com o outro. Justamente por tais condições é que a lei se fez presente, tendo em vista a organização da sociedade e, em tese, a promoção e garantia da justiça. Para que possamos compreender melhor o que é, e como deve ser colocado em prática o princípio da justiça, primeiro precisamos identificar suas bases conceituais. Quando se fala em promoção da justiça, a abastração parece confundir e impossibilitar que isso aconteça. Porém, ao se buscar agir por um viés justo, visamos promover o aumento do bem-estar das pessoas, respeitar a liberdade delas e promover a virtude – entendendo virtude como a busca pelo aprimoramento. Entretanto, a justiça ainda precisa enfrentar a ganância, que é um defeito moral que lança as pessoas à indiferença. Esse comportamento acaba por descontruir qualquer possibilidade de vida social. A justiça é um caminho que promove a civilidade, dando sentido à vida social e significando a existência de todos. Um modo incomum, mas extremamente eficaz, para se averiguar se uma sociedade é justa, é observar como ela distribui aquilo que tem de mais valioso – “renda e riqueza, deveres e direitos, poderes e oportunidades, vargos e honrarias” (SANDEL, 2012, p. 28). Para Michael O Juramento de Hipócrates é um conjunto de normatizações e práticas, redigidos por Hipócrates – considerado o pai da medicina ocidental – no século V a.C. Foi a partir desse juramento que se elaborou o juramento dos médicos, solenemente professado em suas formaturas. Glossário Sandel, filósofo norte americano, pondera que uma sociedade que se diz justa é aquela que dá a cada um o que lhe é devido (ibidem), em uma comparação ao que Aristóteles afirmava sobre a justiça. Não que isso seja algo fácil de se realizar, pois dentro das sociedades onde vigora a democracia, as divergências é que dão o ritmo da vida coletiva. Com o intuito de facilitar a nossa compreensão acerca da justiça, vamos dividir a definição em três abordagens específicas, com base no que sustenta Michael Sandel: 1) justiça significa maximizar a utilidade ou o bem-estar; 2) justiça significa respeitar a liberdade de escolha das pessoas; e 3) justiça requer a busca da virtude permanentemente e a manutenção da preocupação com o bem comum. Entretanto, Sandel salienta que o modelo eficaz é o terceiro. Primeiro pelo fato de que a abordagem utilitarista propõe uma espécie de cálculo da justiça, e não a trata como princípio. Em segundo, ela promove o nivelamento dos bens humanos, não considerando as diferentes necessidades; a equidade. Já o entendimento que sustenta a justiça como liberdade, abre espaço para que os desejos das pessoas não tenham limites, inclusive quando levados para a vidapública. Para que consigamos alcançar uma sociedade justa, é preciso que raciocinemos “juntos sobre o significado da vida boa e criemos uma cultura pública que aceite as divergências que inevitavelmente ocorrerão” (SANDEL, 2012, p. 322). Há um caminho para a construção de um modelo de justiça que seja aplicável ao cotidiano, nas práticas em saúde, mas acima de tudo, que possa cumprir com sua finalidade. Para tanto, há quatro ações que precisam ser permanentes: 1) Cidadania, sacrifício e serviço: se uma sociedade justa requer um forte sentimento de comunidade, ela precisa encontrar uma forma de incutir nos cidadãos uma preocupação com o todo, uma dedicação ao bem comum. [A sociedade] [...] precisa encontrar meios de se afastar das noções da vida boa puramente egoístas e cultivar a virtude cívica, [...] a solidariedade e o sentimento de responsabilidade mútua que uma sociedade justa requer. 2) Os limites morais do mercado: Já que a comercialização das práticas sociais pode corromper ou degradar as normas que as definem, precisamos perguntar quais são as normas não dependentes do mercado que desejamos proteger da interferência do mercado. [...] A menos que desejemos deixar que o mercado reescreva as normas que governam as instituições sociais, precisamos de um debate público sobre os limites morais dos mercados. 3) Desigualdade, solidariedade e virtude cívica: deterioram-se os serviços públicos, porque aqueles que não mais precisam deles não têm tanto interesse em apoiá-los com impostos. As instituições públicas como escolas, parques, pátios recreativos e centros comunitários deixam de ser locais onde os cidadãos de diferentes classes econômicas se encontram. Instituições que antes reuniam as pessoas e desempenhavam o papel de escolas informais da virtude cívica estão cada vez mais raras e afastadas. O esvaziamento do domínio público dificulta o cultivo do hábito da solidariedade e do senso de comunidade dos quais depende a cidadania democrática. Uma política do bem comum teria como um dos seus principais objetivos a reconstrução da infraestrutura da vida cívica. 4) Uma política de comprometimento moral: precisamos de uma vida cívica mais sadia e engajada do que essa à qual estamos habituados. Um comprometimento público maior com nossas divergências morais proporcionaria uma base para o respeito mútuo mais forte, e não mais fraca. Uma política de engajamento moral não é apenas um ideal mais inspirador do que política de esquiva do debate. Ela é também uma base mais promissora para uma sociedade mais justa (SANDEL, 2012, p. 325-330). O caminho que se delineou pode ser facilmente aplicado no campo da saúde e da gestão do sistema de saúde. Aquilo que se observou com a consideração desses princípios, pode-se, de forma permanente, aplicar nas áreas mencionadas. Em verdade, por mais que sejam questionáveis, as propostas de uma política da justiça são fundamentais para um modelo de sociedade desigual e com tantos problemas de efetivação dos direitos humanos, como o caso do Brasil. 5.5 Considerações finais A criação de princípios para nortear a bioética foi um feito importante. Isso possibilitou que se criasse, pela primeira vez na história da ética e da bioética, um referencial inteiramente prático e normativo, que passaria a ser o parâmetro para nortear as ações e reflexões bioéticas mundo afora. Essa vertente ficou conhecida como Bioética Principialista e acabou, por força de sua prática, sendo difundida como modelo de bioética. Entretanto, não são raros os autores que apresentam aspectos contraditórios a esse modelo, uma vez que ele não consegue suprir as necessidades específicas dos países em geral. Fato curioso é que não só especialistas dos países do Sul teceram críticas, mas houveram pensadores do Norte que também o fizeram. Os principais aspectos questionáveis por parte dos pensadores do Norte podem ser resumidos em: “sequestro semântico; a questão do protocolo; regras morais versus ideais morais; de cada princípio; a situação de fronteira” (GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016, p. 444). Por sequestro semântico, os autores colocam que houve uma utilização equivocada do termo “princípio”. Para eles, um princípio deve ser capaz de apresentar uma teoria da qual se origina, além de existir confronto de entendimento entre eles. Além disso, não há a existência de protocolo para que o modelo principialista possa ser aplicado de forma prática. O terceiro ponto crítico se dá no fato de que os princípios oscilam entre regras morais – que devem ser seguidas – e ideais morais – onde não há a obrigatoriedade de seguir –, o que impossibilita sua observância. O quarto ponto se subdivide em quatro aspectos, pois os críticos se debruçam sobre cada princípio, observando suas limitações teóricas. O quinto e último ponto da crítica é a situação de fronteira. Nessa crítica, há uma reflexão que observa que ao postular seus princípios como universais, a Bioética Principialista não respeita as diferenças culturais e específicas de cada cultura, impossibilitando sua validação. Para se ter uma ideia, a autonomia não tem a mesma dimensão e entendimento aqui no Brasil, como se tem nos Estados Unidos; e no Japão, essa preocupação sequer existe, pois eles entendem que todo cidadão é autônomo (GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016, p. 444-447). Já no caso das críticas advindas do Sul, elas podem ser definidas como: “a) crítica em perspectiva histórica; b) princípios desproporcionais – a “super” autonomia; c) universalismo; d) a retomada conceitual e política – pilotem suas próprias cabeças” (GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016, p. 447). A crítica em perspectiva histórica apresenta um questionamento quando ao reducionismo teórico promovido pela Bioética Principialista. Para os teóricos sulistas, a proposta inicial de Potter foi limitada aos campos de pesquisa científica e assistência à saúde. O segundo ponto de análise observa que há uma supervalorização do princípio da autonomia, em detrimendo de outros aspectos ou princípios. Essa condição promoveu o avanço de práticas individualistas e egoístas, suprimindo a preocupação e a ação em prol do coletivo. O terceiro ponto debatido é a proposta de se tornar universais os quatro princípios. Para a bioética latino-americana, especificamente, a possibilidade de se postular uma “moralidade comum” impede o reconhecimento das singularidades e especificidades de culturas determinadas. Assim, para os teóricos do sul, a bioética é plural e diversa, não sendo possível, ainda, o estabelecimento de valores universais. Por fim, o último contraponto apresenta uma disposição que coloca em xeque o modelo reduzido da bioética, por conta do principialismo. Assim, os bioeticistas do sul propuseram a retomada da proposta de Potter, com a inclusão de aspectos políticos, que ficaram evidenciados na DUBDH, de 2005 (GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016, p. 447-449). Cumpre observar, por fim, que toda essa reflexão apresentada tem o intuito de fazer com que pensemos nas condições e contextos nos quais a bioética pode ser aplicada. Isso significa admitir que ela está disposta a se abrir para a construção de um diálogo permanente, sendo que suas bases permanecem em adequação, variando de acordo com o contexto cultural. O que se quer, em verdade, é abrir o espaço acadêmico para o entendimento de que o modelo principialista – apesar de conhecido mundialmente – não é a única referência que temos para a prática bioética. Resumo A elaboração de um modelo bioético que apresentasse um caminho prático, seja para a pesquisa ou para a atenção à saúde, dispertou o interesse de pesquisadores. De maneira específica, Beauchamp e Childress, filósofos norte americanos, construíram esse caminho, a partir das reflexões existentes no Relatório de Belmont. Partindo dos três princípios do Relatório, eles apresentaram uma divisão para a beneficência e não maleficência, o que deu origemao modelo Principialista, que ainda tinha em suas bases a autonomia e a justiça. A aplicação dos quatro princípios acabou sendo estabelecida como o caminho possível para a bioética global, o que gerou reações de pesquisadores mundo afora. As críticas apresentadas não tinham o intuito de desconstruir o trabalho dos americanos, mas sim, visava encontrar um modelo bioético que fosse capaz de ser efetivo, numa realidade plural e diversa. Referências BACON, Francis. Essays of goodness and goodness of nature. London: Blackie and Son, 1937. p. 40. BERNARD, Jean. De la biologie à l’éthique. Paris: Buchet/Chastel, 1990. p. 71. GARRAFA, V.; MARTORELL, L. B.; NASCIMENTO, W. F. DO. Críticas ao principialismo em bioética: Perspectivas desde o norte e desde o sul. Saúde e Sociedade, v. 25, n. 2, p. 442– 451, 2016. KANT, Immanuel. Grundlegung zur metaphysik der sitten. Hamburg: Verlag von Felix Meiner, 1965, p. 51. KIPPER, Délio José; CLOTET, Joaquim. Princípios da Beneficência e Não-maleficência. In: COSTA, S. I. F.; OSELKA, G.; GARRAFA, V. (Eds.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998. p. 302. MUÑOZ, D. R.; FORTES, P. A. C. O Princípio da Autonomia e o Consentimento Livre e Esclarecido. In: COSTA, S. I. F.; OSELKA, G.; GARRAFA, V. (Eds.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998. p. 302. PESSINI, LEO; BARCHIFONTAINE, C. DE P. Problemas atuais de Bioética. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2005. SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. 6. ed. Tradução de Heloísa Matias e Maria Alice Máximo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. 336 p. The National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research (NCPHSBBR). The Belmont Report. Washington: Government Printing Office, 1979. p. 4.
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