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HISTÓRIA DO BRASIL: DOS TEMPOS DO ILUMINISMO À INDEPENDÊNCIA
W
alfrido S. de Oliveira Jr. / Tiago Rattes de AndradeFundação Biblioteca NacionalISBN 978-85-387-6310-9
9 788538 763109
IESDE BRASIL S/A
2017
História do Brasil: dos tempos 
do Iluminismo à Independência
Walfrido S. de Oliveira Jr.
Tiago Rattes de Andrade
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: AMÉRICO, Pedro. O grito do Ipiranga. 1888. 1 óleo sobre 
tela: color: 415 x 760 cm. Museu Paulista, São Paulo, Brasil.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
O47h Oliveira Jr., Walfrido S. de
História do Brasil : dos tempos do Iluminismo à Independên-
cia / Walfrido S. de Oliveira Jr., Tiago Rattes de Andrade. - 1. 
ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 
120 p. : il. ; 21 cm. 
ISBN 978-85-387-6310-9
1. Brasil - História. I. Andrade, Tiago Rattes de. II. Título.
17-40825 CDD: 981CDU: 94(81)
© 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos 
autores e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Quando escrevemos um livro de História, temos em mente que exis-
tem vários caminhos a seguir e, ao traçar o nosso, temos a esperança de que 
tenhamos escolhido o melhor. No campo de inúmeras possibilidades para 
abordarmos as temáticas que compõem este livro levamos muito em consi-
deração a relação que ele deve ter com você, leitor e aluno de História.
A todo o momento nos preocupamos em apresentar neste livro 
um texto de caráter objetivo e didático, no intuito de tornar a tarefa de 
compreender esse processo histórico tão complexo em algo prazeroso. 
Apesar disso, não abrimos mão de mostrar a você uma série de aborda-
gens que podem fazer a diferença em sua formação. 
Não há evento histórico simples, sabemos. Mas cabe a nós, histo-
riadores, oferecermos ao público em geral a chance de compreender da 
melhor maneira possível esse evento. E esta será uma tarefa fundamental 
em sua vida profissional e acadêmica. 
Quando falamos de qualquer coisa que se relacione ao Iluminismo, 
estamos tratando de algo que envolve um imaginário considerável na so-
ciedade ocidental. Alguns séculos depois de as revoluções que tomaram 
conta da Europa no século XVIII se estenderem em ações e transforma-
ções pelo século XIX, a chama de muitos daqueles ideais permanece viva 
e ainda capaz de incendiar o debate político de nosso tempo. 
No capítulo 1 desta obra, abordamos o conceito de Iluminismo em 
suas críticas à sociedade vigente no século XVIII. No capítulo 2, essas 
tensões são exploradas, partindo das ações do Marquês de Pombal na 
administração do reino português, suas ações em favor do absolutismo 
e enfrentamentos com a Igreja. A abordagem do capítulo 3 já está centra-
lizada na Colônia e em suas tensões internas. As relações entre senhores 
e escravos foram rapidamente abordadas por não constituírem o ponto 
central de nosso tema, mas não poderiam ficar de fora desse quadro. No 
capítulo 4, a narrativa retorna para as tensões europeias, que tiveram seu 
auge na Revolução Francesa e nas Guerras Napoleônicas. No capítulo 
5, abordamos os acontecimentos que acabaram por trazer Dom João VI 
e sua corte para os trópicos. Ao longo do capítulo 6 aprofundamos os 
impactos da transferência da corte portuguesa para o Brasil, mas dessa vez 
focando no impacto direto que a cidade do Rio de Janeiro sofreu. O capítulo 
7 pretende construir uma análise das características da elite político-econô-
mica que se formou no Brasil nesse período. Por fim, o capítulo 8 trata do 
processo da Independência em si. Nessa empreitada, tratamos de elementos 
antecedentes importantes, como as preocupações da elite brasileira com os 
riscos de recolonização, materializados na exigência do retorno de Dom João 
VI para Portugal.
Dito isto, esperamos que o trabalho aqui apresentado seja capaz de au-
xiliar a sua formação e despertar ainda mais seu interesse acerca de um even-
to tão decisivo na história.
Bons estudos!
Os autores
Sobre os autores
Walfrido S. de Oliveira Jr.
Graduado e mestre em História pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR), professor do ensino básico e ensino superior, autor de 
material de EAD, assessor pedagógico vinculado ao trabalho editorial de 
livros didáticos.
Tiago Rattes de Andrade 
Graduado em História, Mestre em Ciências Sociais e Doutor em 
História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atuou como 
professor da educação básica nas redes municipal, estadual e federal em 
Minas Gerais, onde também atuou na educação online, tanto no ensino 
superior como na pós-graduação. Atualmente dedica-se ao ramo edito-
rial. Realiza pesquisas no campo da educação e também da História do 
Brasil, em especial na História Política.
6 História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
SumárioSumário
1 O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo 9
1.1 O conceito de Iluminismo 10
1.2 O Iluminismo em Portugal 12
1.3 Iluminismo na América portuguesa 16
2 Administração colonial: tensão entre portugueses e brasileiros 25
2.1 Período pombalino: despotismo esclarecido 26
2.2 O controle sobre o comércio e os impostos 28
2.3 Portugal e Brasil pós-Pombal 31
3 Revoltas coloniais: contextos e propostas 39
3.1 Tensões internas: senhores e escravos 40
3.2 Diferenças de interesses entre a metrópole e as elites locais 43
3.3 Revoltas separatistas 46
4 Napoleão e a expansão do Iluminismo 53
4.1 O papel de Napoleão na Revolução Francesa 54
4.2 A invasão napoleônica na Península Ibérica 56
4.3 Movimentos pela independência na América espanhola 58
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência 7
SumárioSumário
5 Uma corte nos trópicos 67
5.1 Razões que levaram Dom João VI a partir com a corte 68
5.2 O processo político da retirada da corte de Portugal 70
5.3 O impacto da transferência da corte para as instituições brasileiras 72
6 As transformações do Rio de Janeiro: a nova capital 79
6.1 Transformações econômicas e seus impactos 80
6.2 As mudanças culturais e sociais 82
6.3 O cotidiano da cidade pós-Dom João VI 84
7 Elites e povo: laços e distanciamentos 93
7.1 As raízes da formação de nossas elites 94
7.2 Aspectos sociais e culturais da elite brasileira 97
7.3 A pluralidade da elite brasileira no século XIX 99
8 O processo de Independência 107
8.1 Antecedentes do processo de emancipação 108
8.2 O papel das elites internas: radicais e moderados 109
8.3 Uma nova nação que surge 112
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência 9
1
O Iluminismo: do velho 
mundo ao novo mundo
Ao abordarmos a temática do Iluminismo, nos vemos diante de um conceito cons-
truído com base em alguns pressupostos que já se tornaram clássicos, a concepção 
de que foi um movimento intelectual e de ação política que visava a uma crítica mais 
acentuada ao absolutismo, ao clero e à nobreza. Mas, se nos distanciarmos do ambiente 
francês e visitarmos outras sociedades, percebemos que há entendimentos diferentes 
tanto na origem das críticas quanto no ritmo das transformações pretendidas.
Para compreendermos melhor essas questões, dividimos o capítulo em três subte-
mas: 1) o conceito de Iluminismo; 2) o Iluminismo em Portugal; e 3) o Iluminismo na 
América portuguesa.
Walfrido S. de Oliveira Jr.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência10
1.1 O conceito de Iluminismo
Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros. A liber-
dade é um presente do céu, e cada indivíduo da mesma espécie tem o direito de 
gozar dela logo que goze da razão. Toda autoridade (que não a paterna) vem 
duma outra origem, que não é a da natureza. Examinando-a bem, sempre se fará 
remontar a uma dessas duas fontes: ou a força e violência daquele que dela seapoderou; ou o consentimento daqueles que lhe são submetidos, por um contra-
to celebrado ou suposto entre eles e a quem deferiram a autoridade. (DIDEROT; 
D’ALEMBERT, 2006, p. 37)
O texto de Diderot1 que introduz este capítulo já aponta para várias das características 
basilares2 do Iluminismo3. Podemos indicar uma crítica à monarquia, principalmente pelo 
seu caráter absolutista4, que concentrava decisões nas mãos dos monarcas. Quando Diderot 
escreve “Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros”, posiciona-
-se de modo contrário à ideia de que o rei é ungido por Deus, ou seja, que a presença real é 
uma escolha divina.
Ao negar tal pressuposto legitimador da 
monarquia, afirma que as relações políticas 
são humanas, são escolhas ou imposições 
que surgem do próprio jogo político estabe-
lecido na sociedade. A autoridade política, 
portanto, é uma resultante da imposição da 
“força e violência daquele que dela se apo-
derou”, ou por “consentimento” (DIDEROT; 
D’ALEMBERT, 2006, p. 37).
Outra crítica desferida por Diderot se 
concentra no papel da nobreza, que, naque-
le período (século XVIII), mantinha uma sé-
rie de privilégios, como o de não pagar im-
postos, receber pensões da Coroa e ocupar 
os principais cargos públicos. Para tanto, 
Diderot prega a igualdade com a seguinte 
frase “A liberdade é um presente do céu, e 
cada indivíduo da mesma espécie tem o di-
reito de gozar dela logo que goze da razão” 
1 Denis Diderot, filósofo e escritor iluminista (França, 1713-1784).
2 Basilar: que serve de base; básico, fundamental.
3 O Iluminismo foi um movimento intelectual do século XVII cuja ação intelectual visava criticar as 
bases intelectuais do “Antigo Regime” e colocar no centro das discussões a ciência, a razão e a liber-
dade de expressão.
4 No absolutismo o monarca tem poder absoluto, ou seja, todas as decisões e poderes do Estado estão 
em suas mãos.
Figura 1 – LOO, Louis-Michel van. Retrato de 
Denis Diderot. 1767. 1 óleo sobre tela: color.; 81 
x 65 cm. Museu do Louvre, Paris.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
1
11
(DIDEROT; D’ALEMBERT, 2006). Essa sentença pode ser entendida como uma precursora 
da famosa expressão “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito 
de fraternidade”, contida na Declaração Universal dos Direitos Humanos5.
O conceito de igualdade para o século XVIII era altamente revolucionário, pois des-
qualificava toda distinção social e jurídica que sustentava a nobreza. Sem tais distinções, 
essa classe se tornaria “igual” às demais e, portanto, não teria os principais instrumen-
tos que lhe permitiam monopolizar os cargos públicos e influenciar o rei. Como afirma 
Hobsbawm,
As 400 mil pessoas aproximadamente que, entre os 23 milhões de franceses, 
formavam a nobreza, a inquestionável “primeira linha” da nação, embora 
não tão absolutamente a salvo da intromissão das linhas menores como na 
Prússia e outros lugares, estavam bastante seguras. Elas gozavam de conside-
ráveis privilégios, inclusive de isenção de vários impostos (mas não de tantos 
quanto o clero, mais bem organizado), e do direito de receber tributos feudais. 
(HOBSBAWM, 1996, p. 40)
Ao expormos essas críticas à nobreza e ao absolutismo, podemos acrescentar as críti-
cas direcionadas ao poder da Igreja Católica, que exercia certo controle sobre a produção e 
circulação das ideias. As preocupações dos membros da Igreja com os iluministas se dava 
também pela centralidade que queriam manter sobre essa produção de conhecimento, com 
a manutenção de certos dogmas. Temiam, além disso, a crítica às estruturas hierárquicas vi-
gentes, em que a Igreja se situava em posição de destaque. Os estudos científicos poderiam 
pôr em risco o monopólio que a Igreja queria ter sobre as explicações da origem da vida, 
visto que os iluministas incentivavam o uso da razão e o declínio da fé como metodologia 
de explicação dos fenômenos.
Sendo assim, as principais características do Iluminismo francês no século XVIII podem 
ser resumidas nas críticas à nobreza, ao absolutismo e ao clericalismo6. Defendia a igualdade 
jurídica dos cidadãos (esse conceito de cidadão foi, geralmente, restrito ao longo do século 
XIX e ampliado durante o século XX), a ampliação dos direitos políticos, a expansão da ra-
zão e da ciência.
Mas será que esses princípios nortearam as discussões iluministas em todas as nações 
onde os livros e ideias do Iluminismo foram divulgados?
Vamos observar essas questões estudando o Iluminismo em Portugal e na América 
portuguesa.
5 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi criada no século XX, após a Segunda Guerra Mundial. 
No entanto, anteriormente a ela, com a Revolução Francesa, foi criada a Declaração dos Direitos do Ho-
mem e do Cidadão, cuja influência foi decisiva para a construção da moderna cidadania.
6 Clericalismo: influência temporal da Igreja e do clero.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência12
1.2 O Iluminismo em Portugal
Considerando o desejo de “modificar o que existe”, esse texto pombalino mostra 
que o “governo” adotou medidas com os objetivos de: a) fomentar uma boa ca-
ligrafia, capacitando pessoas para trabalharem nas “contadorias do real erário, 
[...] outras repartições públicas”; b) desenvolver as “artes fabris ou ofícios mecâ-
nicos, [...]”; c) proteger e animar as “artes liberais”, de que eram exemplos, entre 
outros tantos, os “suntuosos e bem delineados edifícios de Lisboa” [...]; d) pro-
mover o cultivo da “filosofia ou das belas-artes, que servem de base a todas as 
ciências”; e) incitar o desenvolvimento das “ciências maiores”, consubstanciado 
na reforma dos Estatutos da Universidade de Coimbra; f) garantir o crescimento 
do comércio interno e externo tornando-o “mais feliz e opulento do que foi na-
quele século dos senhores reis D. Manuel e D. João III”; g) assegurar a harmonia 
entre os “diferentes estados e entre as ordens, classes e grêmios” [...]; h) garantir 
“o estado de opulência dos vassalos” de D. José I. (SANTOS, 2011, p. 80)
As ideias iluministas também circularam em Portugal durante a segunda metade do 
século XVIII. As palavras dos filósofos franceses eram lidas e/ou ouvidas em Lisboa, Porto e 
outras cidades e vilas, apesar das proibições e das tentativas de controle exercidas por parte 
da Igreja e da Coroa.
No entanto, tal como em outros reinos europeus do período, as reformas da Ilustração 
foram pensadas e executadas por ministros de-
signados pelos reis absolutistas – uma contradi-
ção, se levarmos em consideração toda a crítica 
iluminista feita às monarquias absolutistas, mas 
uma realidade vivida por reformadores atrelados 
fielmente aos seus monarcas.
Em Portugal, a figura que se destacou naque-
le momento foi a de Sebastião José de Carvalho e 
Melo, Conde de Oeiras (em 1759), posteriormente 
conhecido pelo título de Marquês de Pombal (em 
1769). Seu governo é considerado um marco para 
a História político-administrativa, tanto do reino 
quanto para as colônias. Mas o julgamento histó-
rico de seus compatriotas não é unânime, como 
veremos adiante.
A ascensão de Sebastião José de Carvalho e 
Melo à condição de ministro e real condutor da 
administração em Portugal se deu sob o reinado 
de D. José I de Portugal (1714-1777, reinado de 31 
de julho de 1750 a 24 de fevereiro de 1777).
Figura 2 – AMARAL, Miguel António do. 
Retrato de D. José I de Portugal. 1773. 1 óleo 
sobre tela: color. Museu Hermitage, São 
Petesburgo.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
1
13
É muito divulgada uma possível situação que contribuiu para a ascensão do futuro mar-
quês. Quando do terremoto que devastou Lisboa, em 1755, o rei, atônito, teria perguntado 
a seu Ministro dos Assuntos Exteriores e da Guerra(desde 1750): “O que fazer?” Sebastião 
José de Carvalho e Melo teria respondido: “Enterre os mortos, feche os portos e cuide dos 
vivos” (BOTO, 2010, p. 284).
Mas como podemos caracterizar o Iluminismo português, conhecido como “as luzes 
pombalinas”?
Podemos afirmar que as ações que marcaram a administração podem ser identificadas 
como pertencentes ao “espírito das luzes”, mas também seriam percebidas como a antítese 
das propostas dos filósofos franceses. Vamos exemplificar.
Como administrador, Carvalho e Melo tomou decisões no sentido de incentivar as ma-
nufaturas portuguesas, porque percebeu que o reino estava enfraquecido perante a econo-
mia europeia, na medida em que as importações de manufaturados era uma das causas da 
perda de recursos do reino.
Por outro lado, reforçou a política da concessão de monopólios, tanto no reino quanto 
nas colônias. As práticas monopolistas eram largamente utilizadas, pois, na percepção dos 
soberanos e seus administradores, resolviam os problemas ligados ao abastecimento das 
populações com alimentos e outras mercadorias e facilitavam a cobrança dos impostos. Mas 
essas práticas mercantilistas7 estavam muito distantes das propostas do liberalismo econô-
mico, uma das vertentes da filosofia das luzes.
Nesse projeto monopolista foi fundada, em 1756, a Companhia para a Agricultura das 
Vinhas do Alto Douro, estabelecendo a primeira região demarcada de produção vinícola no 
mundo, mas que, segundo José Eduardo Franco, provocou:
O primeiro grande massacre popular de carácter físico [...] em 1757, quando o 
povo da cidade do Porto se revoltou contra a decisão governamental de instituir 
uma Companhia monopolista para gerir o comércio do vinho do Porto, chaman-
do a si o direito de negócio deste produto pertencente tradicionalmente aos pe-
quenos e médios comerciantes. Aquilo que Camilo chama a criação pombalina 
das “companhias violentas” causou insatisfação da parte dos grupos de interesse 
atingidos. Para esmagar a revolta do Porto, Pombal mandou o exército contra 
o povo insubmisso para abafar o motim. Foram presas centenas de populares, 
mandando depois enforcar publicamente quarenta e cinco homens e mulheres. 
(FRANCO, 2009, p. 299)
Por outro lado, o Ministro fez outras tantas reformas consideradas mais moderniza-
doras. Entre elas, dentro do espírito iluminista, podemos citar a abolição da escravidão em 
Portugal, cuja pretensão era impactar a mentalidade lusa, com uma ação de combate ao 
arcaísmo da escravidão, e ampliar o trabalho livre e assalariado.
7 Mercantilismo: política econômica dos Estados modernos e absolutistas, cujas características princi-
pais são o controle sobre o comércio, a criação de monopólios comerciais e a busca por uma balança 
comercial favorável.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência14
Outras reformas de muito impacto se deram no campo da educação e da religião, as 
quais estavam intimamente ligadas, pois a Ordem Jesuíta atuava em todas as esferas da 
educação, tanto em Portugal quanto na América portuguesa.
A principal medida adotada na reforma religiosa foi a expulsão dos jesuítas em 1759, 
tanto da metrópole quanto das colônias, confiscando os seus bens, sob a alegação de que 
a Companhia de Jesus teria sido a responsável intelectual por uma tentativa de regicídio8, 
agindo como um poder autônomo dentro do Estado português.
Com o intuito de enfraquecer e controlar o Tribunal do Santo Ofício, o marquês no-
meou o seu irmão Paulo António de Carvalho e Mendonça presidente do conselho do tribu-
nal, subordinando a atuação desse importante órgão religioso aos interesses do reino.
Trabalhou contra o estatuto da Pureza de Sangue, permitindo, e mesmo incentivando, 
o casamento entre a alta nobreza com descendentes de árabes e judeus que permaneceram 
no reino com a designação de cristãos-novos9. Inclusive, em 25 de maio de 1773, promulgou 
uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos e cristãos-novos e proibiu o uso da 
expressão cristão-novo, quer por escrito, quer oralmente, sob pena de açoitamento e degredo.
Figura 4 – LOO, Louis-Michel van; VERNET, Claude Joseph. Retrato do Marquês de Pombal. 1766. 1 
óleo sobre tela: color; 290 x 354 cm. Museu da Cidade, Lisboa.
Marquês 
de Pombal 
retratado 
mostrando a 
“sua obra” de 
restauração 
de Lisboa, 
destruída pelo 
terremoto de 
1755.
8 Tentativa, em 1758, em que foram julgados e condenados à morte por suplícios a tradicional família 
Távora, uma das mais importantes da nobreza lusitana (FRANCO, 2009, p. 298).
9 Termo utilizado em Portugal para designar descendentes dos judeus convertidos forçosamente ao 
catolicismo em 1497. Apesar de convertidos, sempre houve suspeitas de que praticavam o judaísmo 
longe dos olhos das autoridades católicas, e, devido à conversão, poderiam ser julgados pelo Tribunal 
da Inquisição.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
1
15
A reforma educacional teve de ser levada a cabo após a expulsão dos jesuítas, que pra-
ticamente monopolizavam o ensino básico. O Marquês de Pombal criou todo um sistema 
escolar, o sistema das aulas régias, que deveria ser controlado pelo Estado e possibilitar 
o acompanhamento das ações educacionais por meio de relatórios anuais. Por outro lado, 
preocupou-se com a censura aos iluministas franceses, os quais considerava perniciosos à 
moral da população. É claro que essas críticas ocorriam devido à defesa da participação dos 
cidadãos na política, aspecto que o fiel monarquista Pombal não admitia.
Em Coimbra, as ações do marquês foram mais enérgicas, criando um relatório que apon-
tava todos os vícios da presença jesuítica na universidade. Os antigos textos de Aristóteles, 
por exemplo, deveriam ser substituídos por abordagens mais racionalistas e embasadas na 
experiência, ou, como afirma Carlota Boto:
Pombal dava concretude às sugestões que lhe haviam sido feitas por parte da ge-
ração de estrangeirados com quem conviveu. O ponto de partida da reforma do 
curso de medicina era o seguinte: “a autoridade, comparada com a experiência e 
com a demonstração racional, de nada vale”. (BOTO, 2010, p. 295)
Portanto, ao observarmos esse resumo sobre a atuação de Pombal à frente do executivo 
português (1750-1777), notamos um conjunto de ações que não podem ser classificadas ape-
nas no âmbito do Iluminismo.
Ao defender o rei e propor monopólios comerciais, Pombal trabalhava com uma políti-
ca mercantilista, protegendo os interesses da Coroa portuguesa e reafirmando o absolutis-
mo e o interesse de grandes comerciantes monopolistas.
A expulsão dos jesuítas caminhava no mesmo sentido, o de fortalecer os interesses do 
Estado ante essa força “externa” e conservadora, mas nesse caso os ideais da razão, tipica-
mente identificados com o Iluminismo, aparecem. A defesa do método científico, contra o 
discurso da autoridade, foi uma das ações mais contundentes da Reforma de Coimbra.
O combate ao estatuto da Pureza de Sangue visava tanto quebrar o poder das mais 
tradicionais famílias da nobreza lusitana quanto ampliar a participação de outras famílias 
fidalgas no campo da política e da administração, pois muitas vezes esses fidalgos não ti-
nham status, mas possuíam riquezas. Uma das características da sociedade portuguesa foi 
a mediação entre os interesses da alta nobreza com os interesses da fidalguia e burguesia, 
tentando prover os que detinham títulos de nobreza com recursos financeiros e, do mes-
mo modo, munir os que detinham recursos financeiros com títulos de nobreza. O destino 
final dessa política não era a criação de uma classe burguesa empreendedora, mas, ao con-
trário, a incorporação dessa incipiente burguesia aos quadros nobiliários (FLORENTINO; 
FRAGOSO, 2001).
Podemos, portanto, afirmar que os ideais iluministas chegaram a Portugal, e isso sig-
nifica que não foram pensados nesse território, mas sim adaptados às condições locais – 
não somenteàs condições da vida social e material, mas também a partir das condições da 
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência16
vida intelectual. Assim, as políticas pombalinas foram marcadas por ações mercantilistas na 
economia, absolutistas na política e liberais na educação e organização social, refletindo as 
características próprias dessa comunidade.
As ações de Pombal também se refletiram do outro lado do Atlântico, em colônias que 
possuíam uma diversidade populacional e cultural e uma pluralidade na organização eco-
nômica estendida por um território continental.
Vejamos como foi o impacto das ações pombalinas na América portuguesa.
1.3 Iluminismo na América portuguesa
Pensar na América portuguesa10 ao longo do século XVIII significa ter em mente as 
relações próprias que se desenvolviam nesses territórios. Devemos pensar no processo de 
expansão territorial e nas relações estabelecidas com os povos nativos, as quais foram mui-
tas vezes de conflito e de resistência, mas, por outro lado, também foram utilizadas várias 
estratégias de convivência ou de assimilação.
Lembramos a convivência e as trocas culturais estabelecidas entre os luso-brasileiros 
e as nações indígenas, especialmente da família linguística tupi. Dessas trocas desenvolve-
ram-se dois dialetos, as “Línguas Gerais”, destacadamente a da bacia amazônica, que, ao 
longo do século XIX, consolidou-se como o nheengatu, e a língua dos bandeirantes paulistas.
Esses dialetos serviam de base para a comunicação entre os europeus, fossem eles jesuí-
tas, exploradores, conquistadores ou comerciantes, com as diferentes nações indígenas que 
encontravam. A Língua Geral era o idioma cotidiano de milhares de pessoas, em detrimento 
do português. Porém, em 1758 ela foi proibida, e, se algum colono a utilizasse no seu dia a 
dia, era severamente punido. Esse é mais um exemplo das ações pombalinas, que visavam 
à centralização do poder; ao proibir a Língua Geral, Pombal pretendia ampliar, entre os 
colonos e indígenas, a presença do rei, nesse caso pelo uso português. Como dito na Lei do 
Diretório dos índios, de 1758,
§ 6 – Sempre foi máxima inevitavelmente praticada em todas as nações, que 
conquistaram novos domínios, introduzir logo nos povos conquistados o seu 
próprio idioma, por ser indisputável que este é um dos meios mais eficazes para 
desterrar dos povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes e ter mos-
trado a experiência que, ao mesmo tempo que se introduz neles o uso da língua 
do príncipe que os conquistou, se lhes radica também o afeto, a veneração e a 
obediência ao mesmo príncipe. (O DIRETÓRIO, 1758)
10 Ao utilizarmos o termo América portuguesa temos por finalidade repensar as relações históricas. 
Propomos ser fiéis à formulação de pensamento que não leve a definições equivocadas. Ao identi-
ficarmos o Brasil, identificamos uma construção que está em andamento, pois a marca colonial e a 
estreita relação com Portugal não confere uma identidade de nação, território, pertencimento, como 
possuímos hoje. Apesar de o termo brasileiro já ser de uso corrente no século XVIII, enfatizamos que 
outras designações também o eram, como “português da colônia” ou “português do Brasil”, ou, ain-
da, a identificação de “reinóis” para designar o “português que era de Portugal”, em diferenciação do 
português brasileiro.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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17
Figura 5 – Plano da Redução de São Miguel Arcanjo, séc. XVII.
Fonte: BOLCATO, 2012, p. 10.
As relações entre europeus e indígenas foram, em grande parte, mediadas pelas ações 
educacionais. A educação era baseada na presença e ação dos jesuítas, que atuavam em 
duas direções, a catequese indígena e as escolas para os filhos dos europeus. Porém muitos 
afro-brasileiros também foram alvo dessa atuação, principalmente nas fazendas da própria 
Ordem, como atestam Ferreira Jr. e Bittar (1999): “Este mesmo princípio de conversão reli-
giosa ao catolicismo, a combinação de catequese com o ensino das primeiras letras, foi uti-
lizado mais tarde, nos séculos XVII e XVIII, nas próprias fazendas da Companhia de Jesus 
com os filhos dos escravos que nelas trabalhavam”.
A presença jesuítica entre os indígenas possibilitou a construção de diversas missões 
ou reduções, responsáveis por converter os nativos ao catolicismo. Tais reduções também 
evitavam que esses indígenas fossem dizimados ou transformados em mão de obra escrava 
para os fazendeiros, mineradores ou comerciantes.
Como já mencionamos, a segunda metade do século XVIII foi marcada pela presença 
do Marquês de Pombal na administração do governo português, e suas ações se estenderam 
sobre a América portuguesa, apesar de ele nunca ter ido para as colônias. Uma das ações 
tomadas pelo marquês foi a abolição do trabalho escravo indígena, o que ocorreu em 1775 
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência18
no Estado do Grão-Pará e Maranhão11, e em 1778, no Estado do Brasil. Essa medida estava 
de acordo com o pensamento iluminista que influenciou as ações pombalinas, combatendo 
a arcaica instituição da escravidão e ampliando a presença do trabalho livre.
Figura 6 – Divisão territorial do Brasil no século XVIII.
 ESTAD O D
O MARANHÃO
ES
TA
DO
 D
O 
 B
RA
ZIL
Fonte: Wikipedia Commons (adaptado).
Outra medida já estudada foi a expulsão dos jesuítas, que criaram e administravam as 
missões. Estas existiam de norte a sul da colônia, com grande destaque para a bacia ama-
zônica. Tais reduções visavam criar núcleos de povoamento para o desenvolvimento de 
vilas, preparar a mão de obra indígena para atividades de domínio de técnicas de trabalho 
11 Podemos afirmar sem muito erro que o território do atual Brasil foi dividido em duas unidades ad-
ministrativas entre 1621 a 1774, uma designada “Brasil” e outra designada “Grão-Pará e Maranhão”. 
“A criação do Estado do Maranhão foi decretada em 13 de junho de 1621, porém, a instalação efetiva só 
aconteceu em 1626, com a posse do primeiro governador e Capitão-General Francisco Coelho de Car-
valho, que esteve neste governo por dez anos (de 03.09.1626 a 15.09.1636). A vila de São Luis, que já era 
sede da capitania do Maranhão, foi escolhida como sede da capital do Estado. O Estado do Maranhão 
e Grão Pará perdurou até 1772, quando foi anexado ao Estado do Brasil, conforme Decreto Régio de 20 
de agosto”. (OLIVEIRA, 2011, p. 11)
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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mecânicos e agrícolas, e alterar seus hábitos sociais, constituindo uma noção de família nu-
clear tal qual era orientado pela Igreja Católica na época, a “família cristã”.
Ao realizar as duas medidas, abolição da escravidão e expulsão dos jesuítas, Pombal 
objetivava modernizar a colônia e proteger as populações indígenas, colocando-as sob a ad-
ministração direta de representantes do Reino. As missões foram transformadas em vilas ou 
lugares, segundo o interesse da Coroa em ocupar o território com uma população de súditos 
portugueses, e não de indígenas controlados pelos jesuítas.
Para os indígenas, essas medidas tiveram diversos impactos, sendo que a transformação 
da escravidão em alguma forma de trabalho compulsório não alterou significativamente a 
sua condição, e essas populações das vilas foram integradas à sociedade colonial de maneira 
subalterna, como remadores, trabalhadores a serviço dos fazendeiros etc. O destino dessas 
populações também foi diverso: alguns grupos indígenas retornaram à vida na floresta, 
reinventando suas tradições, e outros foram se tornando “portugueses”, pela transformação 
de seus costumes tradicionais e pela miscigenação.
Ao realizarmos essa rápida abordagem sobre as relações entre indígenas e europeus, fi-
nalizando com as ações pombalinas, propomos uma reflexão sobre o resultado dessasações 
e seu impacto para o cotidiano das pessoas. Ou seja, de que forma as medidas iluministas do 
Marquês de Pombal repercutiram na vida dos povos indígenas, com certeza muito diferente 
do que na das populações europeias que passaram por medidas semelhantes.
Para as outras camadas da sociedade colonial, em especial para os escravizados, essas 
transformações em nada alteraram sua vida cotidiana. Já para os colonos, podemos destacar 
a criação de companhias de comércio, especialmente a Companhia Geral do Comércio do 
Grão-Pará e Maranhão (1755-1778). Segundo Cardoso,
a companhia pombalina além de dinamizar a produção regional (cacau, café, 
arroz, algum açúcar), introduziu em pouco mais de duas décadas 14.749 escra-
vos no Grão-Pará: mas, mesmo com as amplas facilidades de crédito a longo 
prazo que oferecia, a pobreza local fez com que a maior parte de tais cativos 
africanos fosse reexportada, via navegação fluvial, para o Mato Grosso e suas 
minas. A intensificação da escravidão negra no Pará, alimentando um breve pa-
rêntese agrícola numa zona de coleta, concentrou-se em Belém e seus arredores. 
(CARDOSO, 1990, p. 97)
Novamente observamos os limites das ações de Pombal, as quais pretendiam dinamizar 
as relações de produção e de comércio na região, mas que esbarram nas condições locais de 
pobreza e de um mercado consumidor pouco desenvolvido.
Se nos concentrarmos na circulação das ideias iluministas entre os colonos, podemos 
considerar que na Região das Minas (atual Minas Gerais) surgiram e cresceram cidades, com 
um dinamismo maior do que em outros centros urbanos, e assim tais ideias puderam pros-
perar com maior intensidade. Devido ao fluxo migratório dado ao longo do século XVIII, 
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência20
em virtude da facilidade de enriquecimento que a exploração do ouro mais indicava do 
que de fato proporcionava, esses núcleos populacionais permitiram o surgimento de novas 
profissões, inclusive com certo refinamento. Tendo interesse pelo que se passava na Europa, 
entraram em contato com os pensadores franceses e ingleses.
A Ilustração começava a fazer uma tímida aparição em plagas coloniais. À fal-
ta de imprensa na colônia, em Portugal é que foram publicadas algumas obras 
escritas por intelectuais nascidos no Brasil, como o poema Uruguai, de Basílio 
da Gama, violentamente antijesuitico. Muito longe de ser brilhante, o panora-
ma cultural era, no entanto, menos insignificante do que havia sido no passado, 
sobretudo se nos lembrarmos de que o surto intelectual das cidades de Minas 
Gerais sobreviveu por várias décadas à queda da produção de ouro. (CARDOSO, 
1990, p. 99-100)
Podemos afirmar, no entanto, que os intelectuais brasileiros entraram em contato com o 
Iluminismo e permaneceram com tal conhecimento muito mais no campo das ideias do que 
como norte em ações práticas.
 Ampliando seus conhecimentos
A Era das Revoluções: 1789-1848
(HOBSBAWM, 1996, p. 29-30)
[...] A grande Enciclopédia de Diderot e d’Alembert não era simplesmente 
um compêndio do pensamento político e social progressista, mas do pro-
gresso científico e tecnológico. Pois, de fato, o “iluminismo”, a convicção 
no progresso do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza e 
no controle sobre a natureza – de que estava profundamente imbuído o 
século XVIII – derivou sua força primordialmente do evidente progresso 
da produção, do comércio e da racionalidade econômica e científica que 
se acreditava estar associada a ambos. E seus maiores campeões eram 
as classes economicamente mais progressistas, as que mais diretamente 
se envolviam nos avanços tangíveis da época: os círculos mercantis e os 
financistas e proprietários economicamente iluminados, os administrado-
res sociais e econômicos de espírito científico, a classe média instruída, os 
fabricantes e os empresários. Estes homens saudaram Benjamin Franklin, 
impressor e jornalista, inventor, empresário, estadista e negociante astuto, 
como o símbolo do cidadão do futuro, o self-made-man racional e ativo. 
Na Inglaterra, onde os novos homens não tinham necessidade de encar-
nações revolucionárias transatlânticas, estes homens formavam as socie-
dades provincianas das quais nasceram tanto o avanço político e social 
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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21
quanto o científico. A Sociedade Lunar de Bir-mingham incluía entre seus 
membros o oleiro Josiah Wedgwood, o inventor da moderna máquina a 
vapor James Watt e seu sócio Matthew Boulton, o químico Priestley, o bió-
logo e gentil-homem Erasmus Darwin (pioneiro das teorias da evolução 
e avô do grande Darwin) e o grande impressor Baskerville. Estes homens 
se organizavam por toda parte em lojas de franco-maçonaria12, onde as 
distinções de classe não importavam e a ideologia do iluminismo era pro-
pagada com um desinteressado denodo13.
É significativo que os dois principais centros dessa ideologia fossem tam-
bém os da dupla revolução, a França e a Inglaterra; embora de fato as 
ideias iluministas ganhassem uma voz corrente internacional mais ampla 
em suas formulações francesas (até mesmo quando fossem simplesmente 
versões galicistas14 de formulações britânicas), um individualismo secu-
lar, racionalista e progressista dominava o pensamento “esclarecido”. 
Libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam era o seu principal 
objetivo: do tradicionalismo ignorante da Idade Média, que ainda lançava 
sua sombra pelo mundo, da superstição das igrejas (distintas da religião 
“racional” ou “natural”), da irracionalidade que dividia os homens em 
uma hierarquia de patentes mais baixas e mais altas de acordo com o nas-
cimento ou algum outro critério irrelevante. A liberdade, a igualdade e, 
em seguida, a fraternidade de todos os homens eram seus slogans. No 
devido tempo se tornaram os slogans da Revolução Francesa. O reinado 
da liberdade individual não poderia deixar de ter as consequências mais 
benéficas. Os mais extraordinários resultados podiam ser esperados – 
podiam de fato já ser observados como provenientes – de um exercício 
irrestrito do talento individual num mundo de razão. A apaixonada crença 
no progresso que professava o típico pensador do iluminismo refletia os 
aumentos visíveis no conhecimento e na técnica, na riqueza, no bem-estar 
e na civilização que podia ver em toda a sua volta e que, com certa justiça, 
atribuía ao avanço crescente de suas ideias. No começo do século15, as 
bruxas ainda eram queimadas; no final, os governos do iluminismo. [...]
12 A maçonaria é uma sociedade considerada discreta, e não secreta. Seus membros discutem 
filosofia e as questões da sociedade. Existem lojas maçônicas em quase todos os municípios 
brasileiros.
13 Denodo – ousadia, bravura, coragem.
14 Galicistas – referentes à França/aos franceses.
15 Hobsbawm ressalta as transformações ocorridas ao longo do século XVII, a ruptura com as 
tradições medievais que sobreviviam na sociedade europeia. Não é à toa que a Revolução Fran-
cesa é considerada como o início da Idade Contemporânea.
O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo1
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência22
 Atividades
1. Com base no texto de Diderot da abertura do capítulo, explique as razões que carac-
terizam ser esse um texto iluminista.
2. Por que podemos afirmar que a ação política e administrativa de Pombal pode ser, 
ao mesmo tempo, considerada modernizadora e conservadora?
3. O Marquês de Pombal tomou algumas medidas que envolviam os povos indígenas 
na América. Cite tais medidas, as intenções pelas quais ele as realizou e as consequ-
ências dessas ações para as populações indígenas.
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O Iluminismo: do velho mundo ao novo mundo
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
1
23
SANTOS, A. C. de A. Luzes em Portugal: do terremoto à inauguração da estátua equestre do 
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org/brazil/pt/resources_10133.htm>. Acesso em: 24 mar. 2017.
 Resolução
1. O texto se caracteriza por ser iluminista na medida em que faz um apelo a certos 
valores iluministas, como o da liberdade, que pode ser tanto a liberdade política, de 
escolha de um governante, religiosa, criticando o catolicismo como uma religião do 
estado; e de pensamento, apelando para o uso da razão.
2. Ao observarmos o conjunto das ações de Pombal, podemos identificar algumas 
ações que se enquadram no “espírito” do Iluminismo, como a reforma do ensino 
em Coimbra, a expulsão dos jesuítas, a flexibilização das leis de pureza de sangue, o 
término da escravidão em Portugal e da escravidão indígena no Brasil.
 Por outro lado, algumas medidas se caracterizam por serem bem conservadoras, 
como a extrema lealdade ao rei e as ações para o fortalecimento de sua imagem, por 
exemplo, a liderança máxima e a criação das companhias monopolistas de comércio.
3. 
a. Proibição do uso da Língua Geral, interesse de reforçar a presença lusitana na colô-
nia, e, por consequência, a figura do rei D. José I. Os povos indígenas que viviam 
administrados pela Coroa se viram obrigados a adotar cada vez mais os costumes 
portugueses, em detrimento de seus costumes ancestrais.
b. A abolição do trabalho escravo indígena. Pombal imaginava incorporar essas popula-
ções à condição de súditos da Coroa, e a condição de livre era para esse intento. Os 
indígenas que eram escravizados, ou sofriam a ameaça da escravidão, passaram, em 
sua maioria, à condição de trabalho compulsório, muito distante da condição de um 
orgulhoso súdito do rei.
c. Expulsão dos jesuítas da colônia. Essa ação pretendia tanto modernizar a educação 
na colônia quanto retirar a população indígena da tutela dos religiosos, passando esse 
papel a ser feito pela Coroa. Isso resultou na fundação de vilas, mas nem todas pros-
peraram, pois alguns povos indígenas, devido ao estranhamento dessa nova situação, 
preferiram abandoná-las e retornar à condição de seminômades.
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência 25
2
Administração colonial: 
tensão entre portugueses 
e brasileiros
Nada pode ser mais útil e necessário a um Estado do que o Comércio. Porque ele é a mais 
caudalosa e inexaurível Fonte de que emanam todos os cabedais que podem fazer um reino 
opulento, rico e respeitado sem nunca se diminuir a torrente das riquezas e prosperidades 
que dele se derivam. (Marquês de Pombal. In: FALCON, 2005, p. 32)
A administração da Coroa portuguesa visava a alguns objetivos sobre suas colô-
nias americanas1. Dentre esses propósitos, podemos destacar: a manutenção do terri-
tório, diante das ameaças internas e externas; a ampliação desses territórios, ocupando 
espaços para além do Tratado de Tordesilhas; o incentivo à agricultura de exportação 
e à agricultura de subsistência; o incentivo à busca por metais preciosos; a abertura 
de caminhos e a segurança destes; o abastecimento dos senhores e mineradores com a 
mão de obra escravizada; o monopólio da Justiça; e, não menos importante, a cobrança 
de impostos e taxas.
Esses objetivos, por assim dizer, foram realizados com maior ou menor eficiência 
ao longo dos mais de três séculos de colonização, e é certo que as populações locais 
possuíam razões para reconhecer esses esforços, mas também tinham motivos para se 
queixarem da administração lusitana. Veremos alguns aspectos dessa administração, 
focando na figura do Marquês de Pombal, desde o período anterior a sua nomeação 
até os anos que se seguiram à sua destituição como ministro.
1 Lembramos que a administração da Coroa dividiu a América portuguesa em duas partes, que, no século XVIII, 
constituíam-se no Vice-Reino do Brasil e no Estado de Grão-Pará e Maranhão.
Walfrido S. de Oliveira Jr.
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência26
2.1 Período pombalino: despotismo esclarecido
No Iluminismo português, destacou-se a presença de Sebastião José de Carvalho e 
Melo, conhecido na História como Marquês de Pombal. Tal agente político pautou suas 
ações num misto de Iluminismo e mercantilismo, o que caracteriza bem os esforços ditos 
modernizadores na Península Ibérica, em especial em Portugal e seu império ultramarino.
No campo da política internacional, as ações de Pombal refletem os mesmos dilemas 
modernizadores e conservadores. Para demonstrá-los, vamos abordar as análises de Pombal 
ante as relações comerciais que Portugal mantinha com a Inglaterra, em específico com o 
Tratado de Methuen, conhecido como o “Tratado dos Panos e Vinhos”, firmado em 1703, 
por meio do qual se estabelecia um recíproco monopólio: Portugal só adquiriria tecidos da 
Inglaterra, e a Inglaterra só adquiriria vinhos de Portugal, além de reforçar acordos militares.
No início do século XVIII, Portugal enfrentava uma crise financeira e militar, que en-
volvia disputas com a Holanda e com a Espanha, e a aliança militar com a Inglaterra era de 
fundamental importância.
Segundo as observações de Pombal, o que mais prejudicava os interesses lusos não seria 
a obrigatoriedade das compras dos tecidos ingleses, mas os efeitos de outra legislação ingle-
sa, o Atode Navegação (Navigation Acts), criado por Cromwell2 em 1651, o qual determinava 
que todos os produtos comercializados nos portos ingleses deveriam ser transportados por 
navios ingleses. Tal política se consolidou em 1654, com a vitória inglesa perante a Holanda, 
que contestara tal Ato.
Figura 1 – ABRAHAMSZ, Jan. A Batalha de Terheide. c. 1653. 1 óleo sobre tela, color.; 176 x 281,5 cm. 
Rijksmuseum, Amsterdam.
A pintura de 
Abrahamsz 
retrata uma 
batalha da guerra 
Anglo-Holandesa 
de 1653, demons-
trando o domínio 
naval inglês esta-
belecido durante 
o século XVII.
2 Oliver Cromwell (Huntingdon, 25 de abril de 1599 – Palácio de Whitehall, 3 de setembro de 1658) 
foi um líder político inglês e comandante das tropas parlamentaristas durante a Guerra Civil inglesa, 
iniciada em 1642 e finalizada com a condenação à morte de Carlos I, em 1649. Exerceu o comando 
durante o período republicano da Inglaterra entre 1649 e 1653.
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
2
27
Esse monopólio de transporte não era previsto no Tratado de Methuen, mas os ingleses 
alegavam que não poderiam desobedecer a essa legislação, por ser uma tradição no país. Tal 
desvantagem comercial foi relatada pelo futuro marquês da seguinte maneira:
O puro ganho que pode provir de qualquer Ramo do comércio não é o único 
objeto de quem nele trafica. Principal ou juntamente se deve atender à navegação 
que o mesmo comércio pode ocasionar. E com grande razão porque a navegação 
mercantil é a fonte de onde derivam as riquezas dos povos [...]. (Marquês de 
Pombal. In: FALCON, 2005, p. 18)
Notamos o teor das queixas de Pombal sobre o fato de as embarcações portuguesas não 
terem livre acesso aos portos ingleses, o que prejudicava a atividade comercial lusa. Mas o 
hábil dirigente, ainda na figura de diplomata, percebe que dessa desvantagem seria possível 
rever a presença inglesa nos portos da América portuguesa. Uma das máximas do comércio, 
segundo Pombal, era o de que se o comércio com as nações estrangeiras seria de grande 
importância, o comércio com as próprias colônias seria de importância maior (FALCON, 
2005, p. 18).
Nesse caso, a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e a de 
Pernambuco e Paraíba marca uma ação mercantilista e protecionista de Pombal, tentando 
minimizar a dependência do comércio inglês e, assim, favorecer os comerciantes lusos, que 
investiram seus capitais nessas companhias.
Por outro lado, a política externa lusitana, antes, durante e depois de Pombal, não po-
deria confrontar direta e decisivamente os interesses ingleses, pois foram várias as ocasiões 
em que os lusos necessitaram de auxílio militar de seus fortes aliados3.
As dificuldades nas relações com os ingleses marcaram a política externa da Coroa 
portuguesa durante séculos, e mesmo a figura do Marquês de Pombal, tido por boa parte da 
historiografia lusitana como um líder “nacionalista”4 não conseguiu romper com essa de-
pendência. Sua administração foi caracterizada no espectro do despotismo esclarecido, cuja 
característica principal seria a de unir práticas do liberalismo iluminista com os interesses 
administrativos da Coroa, numa política eclética que envolvia liberalismo e mercantilismo.
O Tratado de Methuen ficou conhecido na historiografia de Portugal como uma política 
mercantil danosa aos interesses locais, pois não incentivou a criação de manufaturas no país, 
apesar dos esforços da Coroa para o seu surgimento. Tal afirmação, apesar de correta em 
certa medida, não leva em conta a dinâmica do desenvolvimento das manufaturas inglesas. 
3 Os dois reinos possuíam um tratado militar desde 1386, conhecido como “Tratado de Windsor”. 
Podemos citar como início desse tratado e seus futuros reflexos os seguintes acontecimentos:
a) Batalha de Aljubarrota, em 14 de agosto de 1385, entre portugueses com aliados ingleses, comanda-
das por D. João Mestre de Avis, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela.
b) Expulsão dos holandeses do Brasil de Angola, em 1648, que contou com a mediação inglesa para o 
tratado de paz.
c) A aliança como um fator de intimidação sobre a Espanha, tanto no continente europeu quanto na 
América.
d) Por fim, o apoio à vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808.
4 Termo anacrônico para o século XVIII, mas que transmite o espírito de suas ações.
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência28
Devido ao sistema de putting-out5, podia-se produzir tecidos a preços competitivos e, após a 
criação das fábricas, da divisão do trabalho e do desenvolvimento de máquinas, a produção 
foi dinamizada e derrubaram-se os preços mais do que qualquer oficina artesanal portugue-
sa poderia conseguir.
Já na constituição da identidade histórica brasileira, tal acordo, além das alegações lu-
sas, também incluía o “roubo” das “nossas” riquezas naturais, pois os portugueses salda-
vam os deficits comerciais que realizavam com a Inglaterra com o ouro extraído do Brasil. 
Essas afirmações são anacrônicas, pois o território brasileiro no século XVIII não era autôno-
mo, e sim uma colônia portuguesa, portanto Portugal não roubava nossas riquezas, mas se 
apropriava, por meio da cobrança de impostos, de suas riquezas coloniais.
Uma parte muito importante da administração das colônias foi o sistema de cobrança 
de impostos. A cobrança de impostos nunca é uma prática que agrada à população de ma-
neira geral, sempre foi um tema controverso, pois quem paga afirma que se cobra exorbitan-
temente, e o governo que recebe alega que faltam recursos para suas ações essenciais. Isso 
não seria diferente na América portuguesa na virada do século XVIII para o século XIX. Esse 
tema foi, com certeza, uxm dos pontos que mais gerou tensões na sociedade colonial.
Vamos aprofundar essa questão.
2.2 O controle sobre o comércio e os impostos
Há uma tese muito conhecida na historiografia nacional, desenvolvida por Caio Prado 
Júnior, denominada “O sentido da colonização”. Nela o autor propõe uma análise marxista6 
do modo de produção, mas muito mais refinada do que encontramos em outros autores. 
Caio Prado propõe entender a empresa colonial americana como um apêndice das ativida-
des comerciais europeias, ou, como ele próprio afirma:
O comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primiti-
vo e vazio que é a América; e inversamente, o prestígio do Oriente, onde não fal-
tava objeto para atividades mercantis. [...] mas ocupar com povoamento efetivo, 
isso só surgiu como contingência, necessidade imposta por circunstâncias novas 
e imprevistas. (PRADO JÚNIOR, 1996, p. 23-24)
5 O sistema denominado de putting-out consistia na ação de um comerciante cujo interesse era contro-
lar a atividade dos artesãos, para conseguir uma produção constante e direcioná-la ao mercado. Foi 
uma prática que retirou dos produtores diretos o controle sobre a origem da matéria-prima e sobre 
o destino da produção. Tal sistema dinamizou a produção artesanal, que era totalmente controlada 
pelo artesão. O final desse processo se dará com a construção das fábricas, divisão do trabalho fabril 
e invenção das máquinas.
6 Marx, Karl Heinrich (Trier, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) foi um cientista social, 
historiador e revolucionário alemão. Seu pensamento foi de grande impacto na intelectualidade mun-
dial. Para aprofundar seu conhecimento sobre o tema, indicamos a leitura do Dicionário do pensamento 
marxista, organizado por Thomas Bottomore (Editora Zahar). Disponível em: <http://sociologial.do-
miniotemporario.com/doc/DICIONARIO_DO_PENSAMENTO_MARXISTA_TOM_BOTTOMORE.
pdf>. Acesso em: 12 mar. 2017.
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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As contingências do comércio com o Oriente impulsionaramos europeus, em especial 
os portugueses, a tomarem efetivamente posse de sua colônia americana, e isso só se tor-
naria viável com a inserção desse território no fluxo comercial internacional. Que produtos 
poderia a colônia oferecer? E que produtos seriam comercializados para ela?
Essa famosa tese enfatiza as relações comerciais entre colônia e metrópole, tendo como 
base os conceitos de dependência e complementaridade. Isto é, as colônias só teriam sentido 
se mantivessem uma relação de dependência econômica com suas metrópoles, necessitando 
delas para obter as mercadorias essenciais à sobrevivência de sua população e fornecendo a 
elas mercadorias que pudessem ser comercializadas nos mercados internacionais.
Para atingir esse fim, o controle do comércio exercido pela metrópole era fundamental. 
Por isso, houve uma política, ao longo dos anos de colonização, que visava estabelecer esse 
controle, não uma política única, imutável, mas que, devido às vicissitudes e contingências, 
tentava manter o “sentido da colonização”. Quem poderia comercializar, quais produtos 
poderiam ser comercializados e quais portos poderiam exercer o comércio eram preocupa-
ções que nortearam essas políticas envolvendo a colônia.
Pelas características geográficas e climáticas da colônia, os produtos tropicais foram logo 
percebidos como tendo um apelo de mercado para Portugal revendê-los no comércio euro-
peu. E é claro que os metais preciosos também eram bem-vindos para esse fluxo comercial.
Quanto às intenções de controle, a Coroa estabeleceu as companhias de comércio e o 
sistema de frotas, em 1649, que visava controlar todo o comércio entre a colônia e a metró-
pole (também o combate à pirataria motivou o sistema). O sistema de frotas regulava as 
datas em que as frotas sairiam dos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro, e as datas que 
retornariam de Lisboa para esses locais.
Mas essas tentativas não obtiveram o sucesso esperado, sendo várias vezes superadas 
pelas mais diversas razões. Entre elas, podemos citar: a pressão dos ingleses pelo comércio 
direto; a incapacidade dos comerciantes lusitanos sozinhos conseguirem abastecer todas 
as necessidades coloniais, e dependerem de comerciantes de outros reinos para esse fim; 
e, principalmente, o dinamismo que os comerciantes lusos estabelecidos na colônia impri-
miam nas relações diretas com os portos portugueses na Ásia e, principalmente, na África, 
fugindo, assim, do controle comercial da metrópole, que, por incapacidade de realizar tal 
comércio, permitia aos seus súditos essa “liberdade”.
O comércio atlântico ligando Recife, Salvador e Rio de Janeiro aos portos de Ajudá (no 
atual Benin) e Benguela (em Angola) foi intenso e direto (não passava por Portugal) duran-
te todo o período colonial. Esse comércio traficava “ouro contrabandeado, óleo de baleia, 
açúcar, aguardente, tabaco, farinha de mandioca, arroz e outros produtos, recebendo em 
troca, sobretudo, escravos [...]” (CARDOSO, 1990, p. 91). Assim, não estava de acordo com o 
“sentido da colonização” proposto por Caio Prado7.
7 Uma polêmica muito marcante foi essa discussão estabelecida pelos defensores da tese de Caio 
Prado identificados com a Universidade de São Paulo (USP) e o professor Ciro Flamarion Cardoso, da 
Universidade Federal Fluminense, que apontava as dinâmicas do mercado interno no período colonial 
e as dificuldades da Coroa portuguesa em estabelecer um controle rigoroso sobre o comércio e outros 
aspectos da vida social na colônia. 
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência30
Figura 2 – Forte de São João Batista de Ajudá. 1886. 1 gravura, p/b.
Essa gravura, de 
autoria desconhecida, 
mostra o antigo e, 
em parte, abandona-
do, forte de São João 
Batista de Ajudá, uma 
feitoria portuguesa 
em Ouidah, antigo 
Daomé, atual Benin. 
Esse entreposto era 
fundamental para o 
comércio lusitano de 
escravos na chamada 
Costa da Mina. Foi 
uma possessão portu-
guesa até 1961.
A proposta de Caio Prado não está errada em seu sentido teórico, realmente as inten-
ções da Coroa residiam em controlar as atividades produtivas e comerciais de sua colônia, 
bem de acordo com o espírito do mercantilismo, mas esse controle não foi possível de ser 
realizado, abrindo uma série de “brechas”, tanto para os circuitos internos de produção e 
circulação quanto para os circuitos externos de comércio. As várias tentativas para se esta-
belecer esse controle são indícios de sua estrutural ineficiência.
Visto que o controle sobre o comércio não foi tão eficiente quanto previsto pela Coroa, 
os esforços maiores se deram na cobrança de impostos. Se não era possível impedir o comér-
cio direto entre Brasil e Angola, pelo menos ele deveria ser taxado. A Coroa via a possibili-
dade de essas taxas e impostos poderem minimizar as perdas com sua ineficiência em tentar 
estabelecer monopólios. Na colônia, havia tributos tanto para o comércio interno quanto 
para o externo; nas estradas reais, existiam os postos de cobranças ou “registros” e, nos por-
tos, a alfândega cumpria esse papel.
Com a descoberta e exploração do ouro, na virada do século XVII para o XVIII, Portugal 
intensificou as suas ações na tentativa de controlar a extração e, principalmente, a cobrança 
do imposto.
Em 1702, foi instituída a Intendência das Minas, órgão diretamente ligado à Coroa e que 
tinha por objetivo recolher o imposto do Quinto, isto é, uma taxação de 20% sobre o ouro 
extraído. Em 1734, esse tributo foi substituído pela capitação, que cobrava imposto de todos 
os moradores, fossem eles mineradores, comerciantes, homens livres e pobres ou escravi-
zados. Desse modo, o sistema de capitação beneficiou em muito os grandes mineradores, 
penalizando a sociedade em geral. Em 1850, o Marquês de Pombal terminou com a capita-
ção e retornou com o Quinto, além de criar a Casa de Fundição, por onde obrigatoriamente 
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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deveria passar todo o ouro extraído, que era transformado em barras, e ali mesmo cobrado 
o imposto da quinta parte. Também foi estabelecido um mínimo de imposto de 100 arrobas 
anuais, o que corresponde a 1.500 kg (TEIXEIRA; TOTONI, 1989, p. 32-33).
Como a margem de 100 arrobas não estava sendo paga, em 1765 foi instituída a derra-
ma, que deveria cobrar os deficits dos anos anteriores. A pressão sobre os mineradores era 
grande, os quais alegavam um declínio da produção para não pagarem a taxa anual de 100 
arrobas. Mas a Coroa e suas autoridades desconfiavam de contrabando, que efetivamente 
acontecia em grande escala.
Os mineradores estavam devendo muito imposto para a Coroa e tentavam garantir seus 
lucros usando fraudes. Esses senhores de minas enviavam seu ouro em pó aos ourives, para 
que fizessem barras, falsificando os lingotes oficiais, ou mesmo para a produção de joias, a 
fim de alegarem que eram antigas peças de família. Por isso a profissão de ourives foi muito 
controlada na colônia, chegando mesmo a ser proibida na região das minas e, em 1766, em 
toda a colônia.
O século XVIII chegava a seu fim, e a conjuntura colonial passava por transformações. 
Em Portugal, Pombal foi destituído de sua função ministerial após a morte do rei José I, em 
1777. A presença econômica do Brasil pesava muito favoravelmente para a Coroa, no que se 
costumou chamar de inversão colonial.
Vamos analisar melhor esse contexto de fim de século.
2.3 Portugal e Brasil pós-Pombal
Ao fim do século XVIII, Portugal resignara-se em sua condição de reino periférico, eco-
nomicamente atrasado e culturalmente isolado, mas essa situação não pesava tanto, pois 
Lisboa ainda era a capital de um grande império, que se estendia pela América, África e 
Ásia.
Apesar de sua economia não ser dinâmica, a Coroa arrecadava das colônias mais re-
cursos do que necessitava para se manter. Os impostos eram cobrados em Portugale suas 
colônias, que pagavam pela produção, circulação e consumo. Como já vimos, a opção por 
arrecadar via tributos foi a solução encontrada pela Coroa na medida em que não conseguia 
monopolizar o comércio.
As reexportações de açúcar e algodão provenientes do Brasil auxiliaram a equilibrar a 
balança de comércio exterior. Com a Inglaterra, de quem Portugal adquiria tecidos e vários 
outros manufaturados, as exportações de vinho e azeite de oliva não eram suficientes para 
saldar as dívidas, e o ouro das minas também já estavam em declínio desde a metade do sé-
culo. Mas a expansão das exportações de açúcar e, principalmente algodão, para as nascen-
tes fábricas inglesas melhoraram a situação alfandegária, gerando superavits para Portugal.
Notamos, assim, uma estreita relação entre a Coroa lusitana e a inglesa, que se conso-
lidava no campo militar. Portugal teria grandes dificuldades em manter suas colônias, e 
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência32
também seu território europeu, sem o auxílio militar inglês. Leslie Bethell firma que a Coroa 
britânica era “o avalista da independência de Portugal e da integridade territorial do impé-
rio português” (BETHELL, 2001, p. 187).
À época, as ações do Marquês de Pombal foram marcadas pelo liberalismo e pelo con-
servadorismo, numa tentativa de resolver as questões próprias da Coroa portuguesa. Seu 
sucessor, Martinho de Melo e Castro (ministro de 1770 a 1795) também trabalhou com essa 
perspectiva, e o mesmo se pode dizer de Rodrigo de Souza Coutinho, futuro Conde de 
Linhares (ministro de 1796 a 1801).
As tentativas de modernizar a economia em Portugal, com a criação e o apoio à manufa-
tura, a modernização da agricultura e da educação, a melhoria do comércio com as colônias 
para reverter deficits comerciais e equilibrar os gastos do governo envolvido em conflitos 
territoriais, são até hoje alvo de discussão na historiografia lusa, em relação a sua eficácia 
ou não.
Outro fator que gerou uma melhoria na economia colonial foi de ordem geopolítica, 
resultado da neutralidade de Portugal no período das Guerras Napoleônicas, o qual não 
sofreu bloqueios navais, como os que a Espanha enfrentou. Sendo assim, o comércio da me-
trópole lusitana transcorreu sem muitos percalços e em vantagem em relação aos produtos 
coloniais espanhóis.
Quando voltamos nosso olhar para o Brasil, vemos as ações da Coroa com o intuito de 
aumentar o controle, por meio de ações administrativas mais severas e centralizadas, como 
a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, e a reintegração do Estado 
do Grão-Pará e Maranhão à administração do Vice-Reino do Brasil, em 1774. Mesmo pos-
suindo um vice-rei na colônia, os governadores de província, principalmente os do Norte, 
respondiam diretamente a Lisboa, numa política claramente centralizadora.
No campo comercial, o Brasil desfrutava de relativa liberdade, que ficou mais acentua-
da com a abolição do sistema de frotas, em 1766 – o qual previa as datas de saída dos barcos 
comerciais rumo à Lisboa –, e com o término das atividades das Companhias de Comércio 
do Grão-Pará e Maranhão, em 1778, e de Pernambuco e Paraíba, em 1779.
No que concerne à produção, foi incentivada a agricultura de exportação, mas proibi-
das as atividades manufatureiras, em especial as tecelagens, para que as exportações lusi-
tanas tivessem mercado assegurado. Apesar dos esforços e controle, a produção das minas 
entrou em irremediável decadência após 1750, fato que foi aos poucos sendo admitido, mas 
que não impedia a Coroa de tentar cobrar o imposto atrasado. Por outro lado, no litoral, a 
produção para exportação estava vivendo uma melhoria.
O cultivo de açúcar, que havia enfrentado uma crise após a expulsão dos holandeses do 
Brasil no século XVII, mas que nunca havia deixado de ser lucrativo e exportado em grandes 
quantidades, passa a contar com um cenário externo mais favorável e com uma recuperação 
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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nos preços. Várias colônias francesas enfrentavam problemas em sua produção, devido aos 
reflexos da Revolução Francesa.
O algodão, que era plantado sobretudo no Norte, também foi cultivado no Nordeste e 
no Rio de Janeiro, tornando-se a segunda maior cultura de exportação. Não podemos esque-
cer que o fumo plantado na Bahia era exportado, principalmente para comércio escravista 
na África. Além desses, outros produtos agrícolas de exportação podem ser mencionados, 
como o cacau, no Pará, o arroz, no Maranhão, o trigo, no Rio Grande do Sul, e o “apareci-
mento” do café no Rio de Janeiro, que exportou quantidades significativas já na década de 
1790 (BETHELL, 2001, p. 191).
Esse crescimento das exportações brasileiras refletiu positivamente nas reexportações 
portuguesas, e Lisboa novamente passou a se mostrar como um porto dinâmico no fim 
do século XVIII. No período entre 1791 a 1807, o comércio português registrou seguidos 
superavits (BETHELL, 2001, p. 191); nesse contexto, o açúcar e o algodão brasileiros eram 
responsáveis por 80% dos produtos exportados pelas colônias portuguesas e por 60% das 
reexportações de Portugal (BETHELL, 2001, p. 191 e 192).
Figura 3 – BATES, Richard. Largo do Paço. 1808. 1 gravura, color. Biblioteca do Congresso, 
Washington.
O Paço 
Imperial, 
construído no 
século XVIII, 
servia como 
residência dos 
governadores e, 
posteriormente, 
dos vice-reis e 
do Imperador 
D. João VI.
Desse modo, podemos observar que a metrópole se tornava dependente de sua princi-
pal colônia, no que afirmamos ser a “inversão colonial”. Em termos populacionais, o Brasil 
possuía (excluindo-se os indígenas não administrados) cerca de dois milhões de habitantes, 
mas esse número, devido à dispersão da população e às dificuldades de registro, pode ser 
bem maior. Sendo assim, pelo potencial econômico, demográfico e territorial de sua colônia, 
Portugal passava a ser eclipsado por ela, e já se falava em rever essa relação, com a transfor-
mação do Brasil em Reino Unido e uma possível transferência da corte para o Rio de Janeiro. 
Pois, como afirmou Robert Southey, “Um galho tão pesado, não pode ficar preso por tanto 
tempo a um tronco podre” (In: BETHELL, 2001, p. 192).
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência34
 Ampliando seus conhecimentos
A costa dos escravos
(ALBUQUERQUE; BRAGA FILHO, 2006)
Antes de os portugueses começarem a comercializar no Golfo do Benim 
não havia grandes reinos africanos em regiões florestais. A exuberante flo-
resta tropical dificultava a penetração comercial nessas terras. O reino do 
Benim foi uma exceção. Nos últimos anos do século XV, uma expedição 
portuguesa foi à capital do reino e lá se deparou com uma grande cidade 
com ruas largas e compridas e muitas casas. Mas, não há dúvidas de que 
a expansão desse reino foi acelerada com a sua incorporação ao comércio 
negreiro nos séculos XVI e XVII.
No Benim o controle comercial era do rei que comprava e vendia sal, peixe 
seco, noz de cola, couros, tecidos e cobre. Cientes de que o monopólio 
sobre o comércio garantia ao rei do Benim uma considerável força polí-
tica, os portugueses tentaram convertê-lo ao catolicismo. Era uma forma 
de aproximar aquele reino africano do lusitano. Mas, ao rei do Benim não 
interessava ter compromissos exclusivamente com Portugal, já que outros 
europeus também cobiçavam integrar-se ao esquema comercial do lugar. 
Franceses, ingleses e holandeses também lhes propuseram acordos mer-
cantis. A atitude do rei do Benim deixa claro que os termos desses acordos 
comerciais não dependiam apenas da habilidade dos europeus, também 
estavam a mercê dos interesses dos diferentes povos africanos.
Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de escravos sem 
levar em consideraçãoa combinação de interesses entre europeus e africa-
nos. É bem verdade que as nações europeias tentaram manter o controle 
sobre as regiões produtoras de escravos, mas o tráfico africano era um 
negócio complexo e envolvia a participação e cooperação de uma cadeia 
extensa de participantes especializados, que incluía chefes políticos, gran-
des e pequenos comerciantes africanos. Há estimativas de que 75 por 
cento das pessoas vendidas nas Américas foram vítimas de guerras entre 
povos africanos.
A avidez por escravos reorganizou de tal maneira o mapa político afri-
cano que alguns reinos experimentaram o apogeu nos séculos XVII e 
XVIII graças ao tráfico negreiro. Foi o caso dos reinos de Daomé, Sadra, 
Achanti e Oió. Até o século XVI, Oió era apenas uma cidade-estado ioru-
bana que tinha na agricultura e na tecelagem as suas principais atividades. 
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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Dedicava-se especialmente à fabricação de tecidos, os famosos panos-da-
-costa que viriam a ser tão apreciados pelos negros na Bahia. Mas as ativi-
dades agrícolas e artesanais perderam importância diante do tráfico. No 
final do século XVI, as cidades iorubanas participavam tão ativamente 
desse comércio que a região do golfo de Benim passou a ser conhecida 
como Costa dos Escravos.
Formou-se ali um mercado bastante competitivo. Entre os vendedores de 
escravos, principalmente os iorubás e daomeanos competiam pelas mer-
cadorias europeias. Entre os compradores, a concorrência não era menos 
acirrada. Nos portos da Costa dos Escravos, ingleses, holandeses, france-
ses, portugueses e brasileiros abarrotavam os navios de gente destinada 
a ser “exportada” para as Américas. De fato, nenhuma grande nação 
europeia ficou fora deste que era o negócio internacional mais rentável 
da época. Os africanos escravizados, moradores de pequenas aldeias cada 
vez mais distantes do litoral, eram vítimas de assaltos e guerras.
Presas pelo pescoço umas às outras, essas pessoas eram levadas para os 
mercados onde aguardavam os compradores, às vezes por meses. Eram 
então trocadas, no século XVIII, principalmente pelo fumo de rolo produ-
zido na Bahia, produto muito procurado naquela região e que garantia 
a primazia dos brasileiros. Mas o sucesso comercial não impediu que o 
reino iorubá corresse risco. Com a expansão do reino vizinho, o Daomé, 
vários territórios subordinados a Oió passaram a ser saqueados e a ter os 
seus habitantes escravizados. Desse modo, de implacáveis caçadores de 
escravos, os iorubás foram transformados eles mesmos em cativos, princi-
palmente a partir do final do século XVIII.
O reino do Daomé foi fortemente centralizado e se desenvolveu a par-
tir de 1700 com o próprio tráfico atlântico. Como era imprescindível a 
um reino tão intimamente dependente do comércio de escravos, ali se 
concentrava um poderoso exército armado de mosquetes, encarregado 
de ampliar as fronteiras e capturar escravos, inclusive, no final do século 
XVIII, entre as populações sob o domínio do reino de Oió. O tráfico era 
tão fundamental para o reino de Daomé que em 1750, 1795 e 1805 foram 
enviados embaixadores daomeanos à Bahia com a incumbência de firmar 
acordos de monopólio comercial para o envio de cativos. Como veremos 
no próximo capítulo, os negócios entre as elites do Daomé e os proprie-
tários baianos garantiram a regularidade do tráfico de escravos para o 
Brasil. Nesta mesma época, os portugueses já negociavam com os povos 
da África centro–ocidental, e com eles estabeleceram vínculos políticos e 
religiosos mais estreitos e negócios bem lucrativos [...].
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros2
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência36
 Atividades
1. Estudamos neste capítulo aspectos da relação entre Inglaterra e Portugal. Aponta-
mos que essa relação quase sempre pendia favoravelmente para os interesses britâ-
nicos, mesmo num período de protecionismo como o pombalino. Identifique uma 
razão comercial e uma razão militar para que Portugal não conseguisse superar a 
dependência que tinha da Inglaterra.
2. Explique a tese de Caio Prado Júnior apresentada como “o sentido da colonização” 
e as possíveis críticas que podemos fazer a ela.
3. Com base no texto A costa dos escravos, de Albuquerque Braga Filho, podemos afir-
mar que os europeus controlavam o comércio de escravos e outras mercadorias na 
costa atlântica? Justifique a sua resposta.
 Referências
ALBUQUERQUE, W. R. de; FRAGA FILHO, W. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de 
Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. Disponível em: <http://acbantu.
org.br/img/Pdfs/livro03.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2017.
BETHELL, L. A independência do Brasil. In: BETHELL, L. (Org.) História da América Latina: da inde-
pendência até 1870. São Paulo: Edusp, 2001.
CARDOSO, C. F. A crise do colonialismo luso na Amércia portuguesa. In: LINHARES, M. Y. (Org.). 
História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
COSTA E SILVA, A. da. O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX. Revista de Estudos Avançados. São 
Paulo, v. 8, n. 21, p. 21-42, 1994. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40141994000200003>. 
Acesso em> 2 jan. 2017.
FALCON, F. J. C. O império luso-brasileiro e a questão da dependência inglesa – um estudo de caso: a 
política mercantilista durante a Época Pombalina, e a sombra do Tratado de Methuen. Revista Nova 
Economia, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, maio/ago., p. 11-34, 2005. Disponível em: <http://revistas.face.
ufmg.br/index.php/novaeconomia/article/viewFile/449/446>. Acesso em: 28 dez. 2016.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1996.
TEIXEIRA, F., M. P.; TOTONI, M. E. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Ática, 
1989.
 Resolução
1. Uma razão comercial foi o Tratado de Methuen, que proporcionava aos ingleses co-
mercializarem seus tecidos diretamente em Portugal. Além disso, devido às altera-
ções sociais e econômicas vivenciadas na Inglaterra após a Revolução Gloriosa, a 
industrialização estava num estado bem mais avançado em Portugal, e, como conse-
quência, os preços dos tecidos ingleses eram mais baixos do que conseguiam atingir 
as manufaturas lusitanas.
Administração colonial: 
tensão entre portugueses e brasileiros
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência
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 A razão militar é que Portugal necessitava da Inglaterra como aliada, pois o reino 
peninsular não conseguia manter todos os seus interesses e territórios. A simples 
demonstração dessa aliança evitou uma série de conflitos bélicos para Portugal, que 
lhe custariam territórios e recursos.
2. Caio Prado Júnior nos apresenta a tese de que o Brasil é um capítulo da História 
do mercantilismo dos séculos XVI e XVII, e, sendo assim, nossa colonização se deu 
como planejamento do mercantilismo português, isto é: com o objetivo de fornecer 
produtos tropicais e consumir produtos metropolitanos.
 Podemos criticar Caio Prado por não dar a devida importância aos circuitos internos 
de produção, circulação e acumulação, nem ao comércio direto que comerciantes 
luso-brasileiros realizavam principalmente com os portos africanos.
3. Não. No texto fica clara a presença das lideranças africanas nesse processo. A África 
nunca foi um continente desprovido de cultura e os reinos africanos, durante a Idade 
Moderna, dialogaram com as Coroas europeias nas relações comerciais, religiosas e 
militares. Não podemos pensar nos africanos inertes frente a essas atividades: vários 
reinos ou grupos armados se fortaleceram nesse comércio, mas com consequências 
desastrosas para a sociedade e para a economia das populações africanas.
História do Brasil: dos tempos do Iluminismo à Independência 39
3
Revoltas coloniais: 
contextos e propostas
O espírito de rebelião é quase uma segunda natureza das gentes de Minas. A própria

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