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S
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 A
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A
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E
Código Logístico
57264
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6405-2
9 788538 764052
Este livro tem como objetivo introduzir a discussão histórica acerca 
dos processos de independência nas Américas espanhola, portuguesa e 
anglo-saxônica. Para isso, abordaremos alguns aspectos que a historio-
grafia do assunto trouxe nas últimas décadas.
Esta obra lança bases importantes para que o leitor tenha condições de 
pensar criticamente sobre uma série de fatos decisivos nos processos 
apresentados e seja capaz inclusive de compará-los devidamente, algo 
fundamental para o exercício do historiador.
História da América 
independente e 
contemporânea
IESDE BRASIL S/A
2018
Tiago Rattes de Andrade
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A571h Andrade, Tiago Rattes de
História da América independente e contemporânea / Tiago 
Rattes de Andrade. - [2. ed.] - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 
2018.
102 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6405-2
1. América Latina - História. I. Título.
18-51261 
CDD: 980
CDU: 94(8)
© 2018 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos 
direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Trifonov_Evgeniy/vectorplusb/iStockPhoto
Tiago Rattes de Andrade
Graduado em História, Mestre em Ciências Sociais e Doutor em História pela Universidade 
Federal de Juiz de Fora (UFJF). Atuou como professor da educação básica nas redes municipal, 
estadual e federal em Minas Gerais, onde também atuou na educação online, tanto no ensino supe-
rior como na pós-graduação. Atualmente dedica-se ao ramo editorial. Realiza pesquisas no campo 
da educação e também da História do Brasil, em especial na História Política.
Sumário
Apresentação 7
1 Independências: um debate no plural 9
1.1 A historiografia e a noção de colonização 9
1.2 Novos e velhos olhares sobre independência 13
1.3 América: unidade e construção 15
2 Antecedentes históricos dos processos de independência das Américas 19
2.1 A colonização da América ibérica 19
2.2 A colonização da América Anglo-saxônica 22
2.3 Possibilidades comparativas 25
3 Formação política e econômica: duas Américas em construção 29
3.1 Modelos de exploração colonial  29
3.2 Duas Américas distintas? 33
3.3 Elites locais e economia 35
4 Transformações locais e a circulação de ideias “perigosas” 41
4.1 Novo mundo, novas sociedades 41
4.2 Os limites do mundo colonial 44
4.3 A circulação de ideias 46
5 Cenários das independências 51
5.1 América ibérica 51
5.2 Caribe 53
5.3 América Anglo-saxônica 56
6 A consolidação dos processos de independência 61
6.1 América portuguesa  61
6.2 América espanhola 63
6.3 América Anglo-saxônica 67
7 Portas abertas para a contemporaneidade: o pós-independência 73
7.1 O Novo Mundo se consolida 73
7.2 As relações pós-coloniais 74
7.3 Dinâmica de novas sociedades 76
8 América hoje: rastros de uma história de mudanças 83
8.1 EUA e seu papel global: vocação ou supremacismo? 83
8.2 América Latina: eterna promessa? 87
8.3 Novas perspectivas de abordagem e a contribuição da História 89
Gabarito 93
Referências 99
Apresentação
Este livro tem como objetivo introduzir a discussão histórica acerca dos processos de inde-
pendência nas Américas espanhola, portuguesa e anglo-saxônica. Para isso, abordaremos alguns 
aspectos que a historiografia do assunto trouxe nas últimas décadas. 
Esta obra lança bases importantes para que o leitor tenha condições de pensar criticamente 
sobre uma série de fatos decisivos nos processos apresentados e seja capaz inclusive de compará-los 
devidamente, algo fundamental para o exercício do historiador.
Para esclarecer esse tema específico da historiografia, esta obra foi subdividida didaticamen-
te em oito capítulos. 
O Capítulo 1 compreende os aspectos historiográficos que envolvem o conceito de indepen-
dência e de colonização, apresentando as mudanças de concepção sobre o tema ao longo dos anos e 
sua importância para a atividade do historiador, como docente e pesquisador. O Capítulo 2 discorre 
sobre elementos históricos que antecedem o processo estudado e que permitem construir relações 
de causa e nexo, ampliando a capacidade crítica sobre visões consagradas e novas. No Capítulo 3 
são abordadas as relações entre o modelo de colonização e a formação de um modelo de economia 
e de sociedade política no continente, compreendendo como essas diferentes perspectivas afetam 
as análises da historiografia. O Capítulo 4 elucida como se deu o processo de transformação local 
para entender a construção dos processos de ruptura colonial na América.
No Capítulo 5, são enfocados os fatos históricos e as especificidades decisivas que ajudaram 
a constituir os cenários de independência nas diferentes Américas, além de fatos relevantes para a 
constituição do processo histórico. Por sua vez, o Capítulo 6 analisa o processo histórico que envol-
ve as independências, abordando as guerras de ruptura, os conflitos políticos e outras dimensões re-
levantes, inclusive identificando de que modo isso afetou a economia do continente. No Capítulo 7, 
são identificados os fatos históricos decisivos para a consolidação das independências e suas es-
pecificidades em cada região, relacionando esses processos às transformações imediatas e aos vín-
culos decisivos para essas nações se alocarem no cenário internacional. Por fim, o Capítulo 8, 
ao tratar de aspectos da atualidade, permite o estabelecimento de relações claras e objetivas entre os 
processos de independência, por meio das análises historiográficas e características das sociedades 
estudadas hoje.
Boa leitura!
1
Independências: um debate no plural
Este capítulo tem como objetivo introduzir a discussão histórica acerca dos processos de inde-
pendência nas Américas espanhola, portuguesa e anglo-saxônica. Para isso, abordaremos alguns as-
pectos debatidos pela historiografia nas últimas décadas e aprofundaremos dois deles: a dimensão de 
colônia e o caráter das rupturas que as independências propiciaram ou não ao continente americano.
Com caráter historiográfico, este capítulo visa a discutir bases importantes para que o leitor 
tenha condições de pensar criticamente sobre uma série de fatos decisivos nos processos que aqui 
serão abordados. Isso inclui pensar as correlações políticas e sociais, o desenvolvimento econômico 
e peculiar de cada região, bem como a formação das elites locais. Com base nisso, esperamos que o 
leitor seja capaz de fazer comparações entre os conceitos que serão estudados.
1.1 A historiografia e a noção de colonização
É inevitável que nos debrucemos sobre o ofício de historiador antes de discutirmos a respei-
to de um processo histórico. Embora não tenhamos a intenção de dedicar um tempo muito extenso 
a isso, é importante percorrer pontos significativos da historiografia.
Na primeira metade do século XX, em especial, podemos notar um grande movimento de 
buscas explicativas para a formação social, política e econômica das nações do continente ameri-
cano. Cada uma das regiões resguarda suas especificidades1, o que não nos impede, por sua vez, de 
tratarmos de maneira geral esse fenômeno da formação social, política e econômica das nações do 
continente americano.
Ao longo do século XX, tornou-se visível o desenvolvimento de uma historiografia cada vez mais 
complexa acerca do tema do processo de construção e independência das nações do Novo Mundo.
No Brasil, esse movimento historiográfico encontra reflexos, por exemplo, na Geração de 
1930, que inclui nomes como Sérgio Buarque de Holanda, CaioPrado Júnior. e Gilberto Freire. 
Esses autores foram pioneiros no processo de construção de explicações modernas sobre o sentido 
da modernização de nosso país. Eles trouxeram algo em comum: a construção de grandes sínteses 
explicativas sobre o Brasil.
Nesse sentido, ao longo das últimas décadas, as mudanças de perspectivas da historiografia nos 
ajudam a entender melhor alguns processos históricos. Quando nos referimos a mudanças paradigmá-
ticas da historiografia, estamos abordando em especial o deslocamento central de análise das grandes 
sínteses e dos modelos que enfatizam também aspectos do cotidiano, da cultura e da sociedade.
1 Quando tratamos das especificidades das regiões abordadas, estamos falando de processos históricos singulares 
que tem efeito prático na forma como esses países se desenvolveram. Cada uma das regiões vivenciou processos de 
colonização com diferentes perfis, por isso é necessário que estejamos atentos a essas diferenças.
História da América independente e contemporânea10
Quando a ênfase nas grandes sínteses predomina, é natural que muitos pormenores acabem 
esquecidos, o que interfere na efetiva compreensão do processo histórico. Não se trata de abando-
nar as contribuições clássicas ao debate (ao longo das próximas seções, será recorrente esse tipo de 
contribuição). De certa forma, estamos buscando oferecer a possibilidade de olhar de forma mais 
específica para processos tão significativos, muitas vezes esquecidos, como o cotidiano e as rela-
ções sociais de caráter mais específico.
As elites políticas constituem grandes alianças entre si. Mas não podemos esquecer tam-
bém das pequenas tramas de poder que se desenham nas relações locais e regionais, da formação 
de redes clientelares, entre outros. Não nos dedicaremos, nesta obra, a esmiuçar todos os elemen-
tos que podem servir como explicação desses processos, o que não nos impede, porém, de apontar 
sua relevância.
Dito isso, é interessante nos atermos a um dos desafios historiográficos mais significativos 
ao abordarmos a formação das nações do Novo Mundo: a discussão entre rupturas e continuida-
des. Essa noção está pautada no entendimento sobre as independências e suas análises. Em parte, 
essa percepção se deu em duas dimensões: a marxista e a weberiana.
No caso do pensamento marxista, predominante na primeira metade do século XX, é no-
tável que a continuidade ganhou força, e as análises tenderam a ver a América em um processo 
de capitalismo internacional. Para essa visão em que predomina a continuidade, a América Latina 
está inserida na lógica da acumulação e exploração de riquezas por parte do mundo europeu. Nesse 
sentido, a América Anglo-saxônica escapou desse processo exploratório devido a brechas geradas 
por uma eventual colônia de povoamento.
Assim, a América Latina é apenas a continuidade do processo colonial. Todas as suas insti-
tuições são um arremedo para dar prosseguimento a esse processo. Esse tipo de percepção é muito 
forte nas obras de Caio Prado Júnior (2011).
Na outra ponta das análises, o pensamento weberiano teve grande influência entre historia-
dores ao abordar conceitos como o patrimonialismo2. Nesse caso, especificamente, nossas institui-
ções pós-independência não apresentariam mudanças significativas, já que estaríamos relegados 
a reproduzir a lógica da confusão entre público e privado. Nesse sentido, podemos destacar obras 
como a de Holanda (1995) e a de Faoro (1987), que são essenciais para entendermos os conceitos 
de continuidade e de herança ibérica.
Outro viés de interpretação recorrente entre weberianos é o das “ideias fora do lugar”. Diante 
disso, o liberalismo no Brasil não seria puro, assim como o da Europa. Por isso, nosso sistema po-
lítico e econômico acabaria por reproduzir a lógica colonial e não permitir que o país adentrasse a 
modernidade do capitalismo.
2 O conceito de patrimonialismo ganhou uma grande força no pensamento social brasileiro principalmente pela difu-
são de autores como Holanda (1995). Basicamente, esse conceito diz que a tradição em nações ibéricas era a de “con-
fusão” entre aquilo que é público e privado, tendo em vista o perfil de monarquias estabelecidas na região. Dessa forma, 
tornava-se algo natural que governantes passassem a tratar os negócios públicos sem a rigidez moral necessária. A 
consequência imediata de tal prática seria a consolidação de toda uma cultura política onde o público acaba sempre 
submetido ao privado. Isso explicaria, entre outras coisas, por que numa nação como o Brasil as relações assimétricas 
de poder tenderiam sempre a se gravar.
Independências: um debate no plural 11
Essas análises têm possibilidades valiosas e serão retomadas ao longo desta obra porque têm 
um grau de importância significativo. Não se trata de descartá-las, até porque podem ser utilizadas 
em pesquisas e aulas, por isso são chamadas de clássicas. Queremos evidenciar a necessidade de 
transcendermos essas visões, que versam exclusivamente sobre as continuidades.
Então, apostamos na importância de pensarmos nas rupturas, pois assim poderemos veri-
ficar com maior complexidade e precisão os processos históricos em sua vasta dinâmica. O que 
mudou? Quais nações nasceram? Quem são os homens e mulheres que agora passam a governar 
essas novas nações que emergem de movimentos políticos tão importantes? Por que tantas dife-
renças nessas Américas unidas e ao mesmo tempo tão distantes? Como podemos observar alguns 
fatos tão abordados nos últimos tempos para extrair deles informações que possam ser relevantes 
para um novo olhar?
Já que temos como objetivo compreender o processo das independências no Novo Mundo, 
façamos uma imersão em torno de algumas questões historiográficas. Os fatos serão importantes 
na busca que faremos ao longo desta obra para oferecer a você, leitor, uma perspectiva ao má-
ximo esmiuçada sobre os processos políticos, econômicos, sociais e culturais que determinam e 
derivam dessas independências. Não podemos deixar de lado uma constatação: em toda seleção 
de fatos que consideremos decisivos para interpretar a história haverá de alguma forma uma 
posição metodológica.
Durante décadas, em especial após 1980, a moderna historiografia objetiva explicar o fenô-
meno dos processos de colonização nas Américas espanhola, portuguesa e anglo-saxônica. Esse 
empreendimento visa a dar respostas a velhos dilemas, como o do desenvolvimento x subdesenvol-
vimento, que sempre ganham espaço nos debates acerca dessas sociedades, inclusive na atualidade.
Por muito tempo, buscamos entender as características dessas sociedades, seu sentido, sua 
vocação, considerando a forma como foram colonizadas e, em consequência, a ruptura de seus 
pactos coloniais, com objetivo de compreender o mundo em que vivemos.
Ao longo da segunda metade do século XX, uma série de mudanças na historiografia acon-
teceram. Isso nos abre um campo de possibilidades e, ao mesmo tempo, aumenta a necessidade de 
se tomar o devido cuidado ao construirmos esse debate de referenciais. Não pretendemos esgotar 
o assunto nesta seção, mas apontaremos debates significativos para melhor entender os processos 
de independência dessas Américas.
Assim é o conceito de colonização, que historicamente é o eixo explicativo de boa parte dos 
êxitos e fracassos do Novo Mundo. Esses debates historiográficos nos permitem colocar a ideia de 
colonização como algo central para entendermos esses aspectos na atualidade?
Durante muito tempo, os processos de independência na América foram pensados de forma 
monolítica3 pelos historiadores, o que ajudou a construir uma visão de senso comum muito forte 
na maior parte das pessoas.
Geralmente, entendemos que os processos de emancipação política das Américas espanhola 
e portuguesa são menos significativos e disruptivos se comparados ao da América Anglo-saxônica. 
3 Nesse sentido, refere-se a uma forma rígida ou homogênea de pensamento.
História da América independente e contemporânea12
Para alguns pensadores,isso aconteceu pelo fato de o nosso modelo latino-americano de coloni-
zação supostamente nos colocar em uma situação de constante exploração, a ponto de se tornar 
praticamente inviável a construção de instituições e governos que fugissem da total exploração e 
dependência. Isso é verificado, por exemplo, na tese de Caio Prado Júnior (2011), que aponta o 
“sentido da colonização” na América portuguesa.
Se objetivamos fornecer riquezas para a metrópole e nunca as acumular, é mais do que natu-
ral que seja esse o destino decisivo da realidade pós-independência. Já a América Anglo-saxônica 
viveria em uma situação oposta, pois ao longo de seu processo de colonização conseguiria fugir da 
lógica da exploração e constituir a de povoamento.
Antes de avançar, é importante pontuarmos que não se trata de “jogar fora” as análises de 
obras clássicas, que recebem essa denominação por serem relevantes, terem inovado e contribuído 
com a historiografia. Parte de nosso trabalho é provocar ao máximo o debate para avançar em 
busca de explicações mais complexas.
A historiadora Annick Lempérière (2004) contribui ao explicar sobre os limites do paradig-
ma colonial ao debruçar-se sobre a realidade da colonização espanhola na América. Suas reflexões 
nos fornecem subsídios sobre esses processos em sua totalidade. Para ela,
[La] “Historia colonial” de América Latina, desde hace muchas décadas, no re-
mite a otra cosa que al periodo de estudio que abarca los siglos anteriores a la in-
dependencia: la “época colonial” y, corolariamente, a una subparte de la materia 
académica “Historia de América Latina”. La fórmula, en sí misma, se ha vuelto 
neutral, gris, no polémica. “Colonial” es una señal de identidad específica para 
los historiadores que estudian los siglos XVI a XVIII. Normalmente se podría 
prescindir de repetir sucesiva y reiterativamente las alusiones a lo “colonial” a 
lo largo de los estudios claramente ubicados dentro del “periodo colonial”. Sin 
embargo, no sucede así. Al estudiar la sociedad, los sistemas de trabajo, la eco-
nomía, la fiscalidad entre el siglo XVI y el XIX, la mayoría de los historiadores 
siente la necesidad de añadir el calificativo “colonial” a cualquier descripción. 
Se habla de “régimen colonial”, pero, ¿qué quiere decir “colonial” en este caso? 
¿Qué sentido añade al análisis del sistema político, si de eso se trata? Si significa 
que las instituciones son distintas de las de la península, ¿“colonial” es suficiente 
para calificarlas?4 (LEMPÉRIÈRE, 2004, p. 2)
O centro do debate é em relação à noção de colonização como conceito global, que pode ser 
utilizado para entendermos melhor a construção dessas nações, em específico, para entender os 
processos de independências. Por isso, pensar criticamente acerca da noção de colonização pode 
nos apontar detalhes, brechas, fissuras, rupturas e demais questões que envolvem um processo 
histórico tão complexo como o aqui estudado.
4 “A ‘História colonial’ da América Latina há muitas décadas não remete a outra coisa a não ser o período de estudo 
que abarca os séculos anteriores à independência, à ‘época colonial’ e a uma subdivisão da disciplina acadêmica História 
da América Latina. A fórmula, fechada em si, transformou-se em neutra, cinza, sem polêmica. ‘Colonial’ é um traço de 
identidade específica para os historiadores que se debruçam sobre os séculos XVI a XVIII. Normalmente, poderia não ser 
necessário repetir reiteradamente as alusões ao ‘colonial’ ao longo dos estudos claramente localizados dentro do ‘perío-
do colonial’ – o que não ocorre, no entanto, dessa forma. Ao estudar a sociedade, os sistemas de trabalho, a economia, 
a fiscalização entre o século XVI e o XIX, a maioria dos historiadores sente a necessidade de adicionar o adjetivo ‘colonial’ 
a qualquer descrição. Fala-se de ‘regime colonial’, mas o que quer dizer ‘colonial’ nesse caso? Que sentido agrega à análise 
do sistema político, se é disso que se trata? Se significa que as instituições são distintas daquelas da península, ‘colonial’ 
é suficiente para qualificá-las?” (LEMPÉRIÈRE, 2004, p. 2, tradução nossa).
Independências: um debate no plural 13
Então, ao usar o texto de Lempérière, não pretendemos abandonar o conceito de colonial, 
mas problematizá-lo para que possamos estabelecer conexões a fim de tornar o debate sobre as 
independências mais complexo.
Muitas vezes, ao olharmos as sociedades coloniais, principalmente as da América espanhola 
e portuguesa, tendemos a enxergar um mundo colonial restrito à exploração e com instituições 
vazias de poder e de significado. O mundo colonial passa a ser visto exclusivamente como apêndice 
e reprodução. Isso acaba por influenciar demasiadamente o nosso olhar para os atores históricos. 
Não queremos abandonar o conceito de colonial, mas pensá-lo com mais nuances, para que seja 
possível entendermos melhor o que estaria por vir nas independências.
1.2 Novos e velhos olhares sobre independência
Precisamos compreender de forma efetiva como a historiografia tem debatido conceitual-
mente as independências das Américas, com o objetivo de constituir um marco importante para 
nossas próximas análises. Isso significa entendermos de forma mais profunda as implicações so-
ciais, políticas e econômicas que efetivamente se concretizaram desde a segunda metade do século 
XVIII e ao longo de todo XIX.
Com isso, é natural que façamos ressalvas a respeito das peculiaridades de cada região, mas, 
em um primeiro momento, faremos um debate sintético sobre o assunto.
As independências da América espanhola e portuguesa, como vimos, sempre foram asso-
ciadas muito mais a processos de continuidade do que de ruptura, em oposição ao processo de 
Independência das Treze Colônias5, que deu origem aos Estados Unidos da América, por exemplo. 
É comum que boa parte das análises sobre esses processos tenda a reproduzir que nenhum tipo de 
ruptura se instituiu e que nem mesmo as ideias de liberdade se concretizaram efetivamente.
Os movimentos de independência hispano-americanos nunca haviam sido ple-
namente associados à ideia de revolução até muito recentemente, apesar de o 
termo aparecer com grande frequência na historiografia tradicional sobre as 
independências no continente. No conjunto das américas, a problemática da 
revolução no contexto das independências sempre pareceu reservada ao caso 
clássico da “Revolução Americana” – a das Treze Colônias, em fins do século 
XVIII – e ao caso-limite do Haiti, no qual a articulação entre revolução, inde-
pendência e abolição imprimiu características sobremodo radicais ao processo. 
(GOUVÊA, 1997, p. 275)
No caso específico da América espanhola, em que se verifica algumas lutas específicas, 
como as capitaneadas por Simón Bolívar e José Martí6, é recorrente nos depararmos com estudos 
5 O processo de Independência das Treze Colônias é também chamado por alguns historiadores de Revolução Ameri-
cana, por seu caráter de rupturas e de guerra, fatores que serão abordados em outros capítulos.
6 Simón Bolívar foi um entusiasta da ideia de união política das ex-colônias espanholas como Bolívia, a Colômbia, 
Equador, Panamá, Peru e Venezuela, processo também conhecido como Integração Continental. Muitas vezes, a crítica 
a seu papel histórico se dá pelo fato de ele ser de origem aristocrática. Para saber mais a respeito de Simon Bolívar, ver 
Arana (2015). José Martí, por sua vez, teve uma atuação política direta mais restrita a Cuba, onde militou desde a ado-
lescência pela independência desse território no século XIX. Teve um fim diferente de Bolívar, já que foi atingido por tiros 
de soldados espanhóis durante o conflito da independência. Para saber mais sobre José Martí, acesse sua biografia. 
Disponível em: <http://www.josemarti.cu/biografia>. Acesso em: 30 jan. 2018.
História da América independente e contemporânea14
que tratem esses personagens como “caudilhos”7 ou simplesmente agentes da continuidade das 
elites coloniais.
Essas análises muitas vezes padecem de um anacronismoperigoso. É preciso pensar os per-
sonagens históricos dentro do contexto de suas ideias, isto é, entender as possibilidades e limita-
ções de ação.
[...] assim é também necessário pensar de forma contextualizada os concei-
tos. Assunto muito raramente considerado por historiadores brasileiros, exceto 
poucas e honrosas exceções (PRADO, 1985), as independências latino-ameri-
canas construíram até muito recentemente um território marcado pela presença 
de uma historiografia bastante convencional e pouquíssimo explicativa. Em 
termos gerais se pode dizer que desde fins do século XIX foi sendo cunhada 
uma historiografia de corte sobremodo liberal e nacionalista em cujo conteúdo 
era utilizado o termo revolução apenas como sinônimo de guerras de indepen-
dência e, consequentemente, apenas enfatizando o simples caráter de ruptu-
ra institucional do mundo colonial hispano-americano. Essa historiografia se 
prendia de modo muito particular ao relato dos eventos de natureza mais local, 
então tomados e analisados a partir de um ponto de vista “nacional”. Era uma 
produção sem grandes conexões com as transformações mais globais, o que 
fazia com que o conceito de revolução não aparecesse problematizado e muito 
menos explicado. (GOUVÊA, 1997, p. 276)
Atualmente, ao tratarmos dos processos de independência, é necessário que avancemos 
além da ideia de mera ruptura institucional ou simplesmente do simulacro8. É decisivo entender 
esses processos dentro de suas peculiaridades e, por sua vez, todos os seus efeitos.
Ao abordarmos um tema tão relevante, é fundamental que nos habituemos a perguntar: 
seria plausível que um processo de mudança institucional tão grandioso pudesse simplesmente se 
resumir a continuidades? Na atualidade, em que estamos tão atentos a detalhes e complexidades, 
sintetizarmos de forma pouco cuidadosa esse processo de independência? Cremos que não.
Por isso, insistimos: devemos estar atentos às especificidades dos processos de construção 
das independências das Américas para entendermos de que forma a realidade colonial imprime 
particularidades e promove novas formas de vivência e organização.
É necessário identificarmos que algumas visões do senso comum se confundem com visões 
da historiografia tradicional sobre o tema que estamos abordando.
Durante décadas, a historiografia acabou por reafirmar visões deterministas e explicações 
pautadas exclusivamente por fatores econômicos e culturais. Por exemplo: se os Estados Unidos da 
7 O caudilhismo pode ser definido como um fenômeno “caracterizado pela divisão do poder entre chefes de tendên-
cia local: os caudilhos. Estes líderes, geralmente de origem militar, oriundos, em sua grande maioria, da desmobilização 
dos exércitos que combateram nas guerras de independência, de 1810 em diante, provinham, em certos casos, de estra-
tos sociais inferiores ou de grupos étnicos discriminados (mestiços, índios, mulatos, negros). Para grande parte deles, o 
Caudilhismo, com sua organização paramilitar, constituiu um canal de mobilidade vertical” (OLIVIERI, 1998, p. 156, grifos 
do original).
8 Quando falamos de uma “mera ruptura institucional” estamos nos referindo à ideia muitas vezes propagada de que 
com as independências, em especial na América Latina, tivemos uma continuidade plena das relações sociais e econô-
micas, o que faria desses processos apenas uma mudança formal na relação de dominação entre metrópole e colônia. 
No caso do simulacro é comum também que nos deparemos com análises que tendem a apontar que, nas Américas, 
inclusive na anglo-saxônica, teríamos modelos políticos e econômicos que simplesmente reproduziriam o que já existia 
na Europa, sem qualquer tipo de peculiaridade.
Independências: um debate no plural 15
América se tornaram uma nação rica e desenvolvida – diante do senso comum e influenciado por um 
tipo de corrente historiográfica –, significaria que em algum momento essa nação teve uma variável 
econômica favorável (como é o caso da tese da colônia de exploração × colônia de povoamento). Por 
outro viés, a elite política dos EUA seria mais dinâmica e com maior vocação para o desenvolvimento.
Logo, insistimos que uma análise não deve estar estruturada exclusivamente em uma variável, 
que pode ser perigosa e incapaz de efetuar a explicação que precisamos. Por isso, precisamos levar em 
conta a ideia de múltiplas matrizes, considerando características específicas a cada contexto histórico.
1.3 América: unidade e construção
Ao pensarmos o contexto das independências nas Américas, temos de explorar o imaginário 
a respeito da ideia de América.
Ao longo de séculos, as discussões historiográficas ganharam também a esfera pública e 
contribuíram para a construção do imaginário político sobre as nações do continente. Em alguns 
momentos veremos que se tentou construir uma América unida do Norte ao Sul. Em outros mo-
mentos, lutou-se pela unidade da América do Sul como estratégia de fortalecimento em relação à 
América do Norte. Por inúmeras outras vezes, assistimos relações que fugiam da unidade e tam-
bém da dicotomização. Esses movimentos relacionam-se diretamente com os desejos e interesses 
dos grupos políticos, nos diversos períodos históricos. Ao longo da obra, buscaremos apontar fatos 
históricos que foram determinantes para a compreensão desse processo.
Algumas questões são importantes. Existe uma América Latina efetivamente? Há uma uni-
dade que percorra todas as nações colonizadas por Portugal e Espanha que nos permita pensar 
de maneira homogênea? É possível pensarmos da mesma forma as nações da América Central e 
do Caribe? E no caso das nações da América Anglo-saxônica? Estados Unidos e Canadá estão tão 
próximos assim? Esses questionamentos servem como instrumento para abrirmos espaço para 
análises mais complexas sobre o tema.
O filósofo Francisco Bilbao foi o primeiro a utilizar a expressão América Latina. Ele, de algu-
ma maneira, ajudou a consolidar a ideia de um continente, de uma unidade que talvez tenha demo-
rado para ser efetivamente constituída conforme os dias atuais (SAN MARTÍN, 2013). Napoleão 
III curiosamente foi quem efetivamente popularizou a expressão ao buscar construir uma relação 
política e comercial entre a França e o México naquele momento, independentemente de qualquer 
consideração que tenhamos sobre a efetiva unidade que essas nações guardam entre si.
Os territórios de origem espanhola, embora resguardem diferenças significativas, mantêm 
ao menos uma unidade linguística e, em alguns casos, têm no passado histórias de independência 
em comum. Não pretendemos esgotar as relações entre essas nações, mas apontar como esse pro-
cesso de busca da construção de unidade política e cultural é um ponto de apoio interessante para 
estudarmos esse processo histórico.
Se pensarmos na história contemporânea, veremos que ao longo da segunda metade do sé-
culo XX era recorrente que movimentos culturais evocassem a unidade latino-americana – um de-
safio complexo, porque a relação entre as colônias espanholas e portuguesas sempre foi cercada de 
inúmeros detalhes e desafios.
História da América independente e contemporânea16
Não é demais relembrarmos que Portugal e Espanha guardam entre si inúmeras diferenças 
culturais e políticas, ainda que sejam nações vizinhas com pontos de interseção significativos em 
sua história. Outro aspecto importante é que essas nações, por serem pioneiras no processo de 
expansão marítima, acabariam por protagonizar disputas políticas e econômicas no Novo Mundo. 
Até mesmo viveriam durante um tempo sob o mesmo reinado, no período da União Ibérica.
O contexto político dos países da América Latina no século XX acabou por propiciar possibili-
dades de reflexão muito incentivadas pela conjuntura das décadas de 1960 e 1970. Naquele momento, 
boa parte das nações como Brasil, Argentina, Uruguai, Peru, Equador e Venezuela viviam contextos 
de ditadura e luta política intensa. Em muitas dessas nações, os movimentos políticos de oposição er-
guiam-se coma bandeira da ruptura política. Era um período de efervescência em todos os campos.
A possibilidade de pensarmos essas emancipações como revoluções aparece nessa época.
No polo oposto, a década de 1950 assistiria ao aparecimento de uma nova ten-
dência historiográfica na qual a ideia de revolução se apresentava mais pronun-
ciada. “Revolução” surgia aqui, porém, não tanto como um conceito explicativo 
dos processos que configuravam as independências hispano-americanas, mas 
como a expressão de uma causalidade externa. Tratava-se de um período mui-
to marcado pelo ambiente da Guerra Fria, em que se observava o esforço dos 
Estados Unidos e dos principais países da Europa Ocidental para organizar a 
OTna, concretizando uma oposição conjunta aos avanços alcançados pelo bloco 
comunista no contexto mundial do pós-guerra. (GOUVÊA, 1997, p. 277)
Se pensarmos no contexto da chamada América Anglo-saxônica, teremos uma visão similar 
de unidade forjada ainda que sem resguardar as devidas diferenças. Basta pensarmos que existem 
diferenças relevantes que separam os EUA e Canadá9, por exemplo. Ainda assim, essa percepção 
de uma América do “Norte” constituiu parte importante em um imaginário político e cultural. Em 
consequência, deixamos de pensar objetivamente os processos históricos que envolvem o Canadá 
como nação peculiar.
No decorrer deste livro, será possível notar que procuramos dar conta da diversidade de 
análises acerca da construção dessas Américas, apontando os elementos que as aproximam em suas 
constituições históricas, mas também os que as afastam.
Não é demais frisar que o posicionamento geográfico do continente, as relações construídas 
com o Velho Mundo, as afinidades e divergências, tudo isso de alguma forma colocou a América 
em uma espécie de unidade forçada, inclusive quando pensarmos nas políticas de influência dos 
EUA em determinados períodos.
Quando falamos em invenção, estamos falando de História. Alguns historiadores dirão que 
nada mais inventado do que as tradições10. Porém, elas são parte constitutiva dos imaginários que, 
por sua vez, têm efeito prático na vida das pessoas, na maneira como se identificam, por exemplo. 
Nada mais decisivo para a política do que a identidade que as sociedades constituem.
9 Embora EUA e Canadá tenham características similares em seu processo de colonização, é possível notarmos que 
no Canadá houve a consolidação de um modelo de sociedade menos pautada na lógica de mercado. Outra diferença 
muito relevante entre ambos países é que a dimensão de nação predestinada a conduzir o mundo nunca se repetiu no 
Canadá, algo notável ainda mais quando consideramos o envolvimento de ambas as nações em conflitos bélicos.
10 Sobre as tradições como invenção, ver Hobsbawm e Ranger (1997).
Independências: um debate no plural 17
Assim, é importante destacarmos que distinguir as especificidades das Américas chamadas 
de latinas também é um elemento consideravelmente decisivo para avançarmos nesse processo de 
compreensão das independências. Um breve exercício de comparação pode ser de grande valia: 
ao pensarmos na independência brasileira, especificamente, podemos perceber um caso essen-
cialmente singular. Mantivemos um território continental, portanto um Império, adotamos um 
regime monárquico, algo praticamente inédito nas Américas.
Esse perfil se deve, em parte, pelo desejo de as elites manterem o modelo escravista no 
país. A unidade territorial sacramentada por um governo centralizado, como o monárquico, 
seria a ferramenta mais eficaz para evitar o esvaziamento das senzalas. Mas essa ação, em prol 
da mão de obra escrava e em detrimento da atividade econômica, era possível sem que outros 
fatores determinassem um grau de unidade política entre as diversas elites do Brasil? Alguns 
historiadores já discutem a respeito disso, por exemplo, com a tese de que a unidade de pensa-
mento de nossos “bons homens” veio do Iluminismo, peculiar da Faculdade de Coimbra, onde a 
maioria desses homens estudou11.
Então, o processo de invenção é consequência de fatores que ao se tocarem constituem as pe-
culiaridades tão importantes para nossa análise. Não há mais espaço na historiografia para estudos 
que deixem de fora esses pormenores.
Considerações finais
Pensar os processos de independência das Américas exige alguns exercícios por parte de 
historiadores. O primeiro deles está em refletir sobre o que foi produzido em termos de conheci-
mentos historiográficos ao longo das últimas décadas. Identificar essa produção e entender o efeito 
que ela produziu, não só no mundo da historiografia, mas no senso comum, é parte importante do 
nosso trabalho.
Quando tratamos sobre processos de independência, versamos a respeito de um assunto 
que é responsável pela construção de imaginários sobre nossas sociedades, vida cultural e política.
Ao longo de muito tempo, os processos de independência nas Américas eram pensados em 
bloco, em que poucas peculiaridades eram usadas como fatores de distinção. Na atualidade, sabe-
mos que não é mais possível pensarmos assim. Levantar as características amplas de um número 
considerável de atores, pensar a respeito das rupturas, permanências e as peculiaridades de cada 
contexto é o caminho central.
Devemos evitar interpretar o Novo Mundo de forma teleológica12. Muitas vezes, ao olhar-
mos para a fartura dos EUA ao longo do século XX, é comum procurarmos uma explicação ime-
diata no passado. Contudo, essa busca por vezes nos tira do rumo de uma análise objetiva. Ao 
vermos os EUA como uma nação desenvolvida, procuramos em sua independência uma ação que 
11 Sobre esta unidade de pensamento advinda da grade curricular de Coimbra, ver Carvalho (2013).
12 O conceito de teleologia, em linhas gerais, diz respeito ao fenômeno de interpretação histórica de um determinado 
fato totalmente influenciado pelos que o sucedem. Ou seja, muitas vezes os historiadores contaminam suas análises e 
visões ao levar em consideração acontecimentos de um período posterior. Em vez de pensar a história como conjunto, 
processo, acaba-se por dar ênfase à consequência em si.
História da América independente e contemporânea18
explique essa consequência e acabamos esquecendo peculiaridades que permearam esse processo 
de independência. Isso também acontece na América portuguesa e espanhola.
Se trouxermos para o contexto brasileiro as dificuldades, a desigualdade, os momentos de 
autoritarismo e ditadura, é quase inevitável que ao olharmos nossa independência busquemos per-
guntar: “o que aconteceu de errado?”. Obviamente, há relação, mas devemos evitar a teleologia 
para que possamos extrair desses processos novas perguntas e respostas, para que seja levado em 
consideração o maior número de possibilidades.
O modelo de independência do Brasil influenciou o desenvolvimento social e econômico 
do país ao longo dos últimos anos. Isso não significa que todo processo esteja relacionado apenas 
a continuidades. O mesmo exercício deve ser feito ao observar a história dos EUA: devemos per-
ceber além das rupturas.
Por fim, entender essa aventura das independências e seus pormenores envolve principal-
mente nossa capacidade de trazer para o cotidiano, seja nas pesquisas, seja nas salas de aula, essas 
mudanças de paradigmas interpretativos para que a história cumpra sua função de desvelar um 
incrível mundo de conhecimentos infindáveis.
Atividades
1. Ao pensarmos os processos de independência nas Américas, um fator fundamental é que 
nos debrucemos sobre a historiografia produzida no continente, decisiva para essa inter-
pretação. No Brasil, em especial, podemos destacar a chamada Geração de 1930. Entre esses 
historiadores, tivemos a difusão significativa do conceito de patrimonialismo. Aponte as 
principais características desse conceito.
2. Ao tratarmos dos processos de independência nas Américas, alguns historiadores dão desta-
que à necessidade de pensarmos o conceito de colônia. Aponte qual é a problematização em 
torno desse conceito e como elepode ajudar na compreensão dos processos de independência.
3. O contexto político nas Américas no século XX acabou por se tornar importante para en-
tendermos como as independências no continente foram pensadas pelos historiadores. Um 
desses efeitos é o uso da expressão revolução para interpretar esses processos históricos. 
Explique esse fenômeno e seu efeito na historiografia.
4. Ao longo das últimas décadas, muitos historiadores dedicaram-se a pensar de forma mais 
ampla e complexa os processos de independência nas Américas. Destaque os principais ele-
mentos que compõem esse novo olhar da historiografia e o que ele oferece de importante 
para a compreensão dos processos citados.
2
Antecedentes históricos dos processos 
de independência das Américas
Pensar o processo de independência das Américas exige a compreensão das correntes 
historiográficas, seus movimentos, construções e a forma como essas ideias influenciam nossa 
visão sobre a história. É extremamente significativo analisar os aspectos históricos em si, ou 
seja, os elementos de caráter factuais relacionados a esse evento. Explorar ao máximo os antece-
dentes históricos torna essa tarefa mais precisa. Este capítulo se dedica a oferecer um panorama 
sobre o assunto.
2.1 A colonização da América ibérica
Esta seção tem por objetivo apresentar elementos históricos que possam ser pensados como 
determinantes na análise historiográfica predominante, principalmente aquela desenvolvida ao 
longo da segunda metade do século XX. Dessa maneira, ofereceremos subsídios a uma reflexão 
profunda sobre os aspectos que antecedem o processo de independência das Américas.
Para entendermos a relevância do Mundo Ibérico1, constituído por Portugal e Espanha, no 
que costumamos corriqueiramente chamar de Expansão Ultramarina da Europa, dois elementos 
são significativos: o processo pioneiro de centralização política e o acúmulo de conhecimento 
técnico sobre navegações.
Portugal e Espanha, embora resguardem peculiaridades, passaram por processos de centra-
lização monárquica e formação de seus estados mais cedo que outras nações do Velho Continente. 
Por isso, tanto Portugal quanto Espanha passaram a ter desde cedo uma série de estruturas polí-
ticas e administrativas que tiveram impacto recorrente nas Grandes. Nisso, é possível incluirmos 
as contribuições da Escola de Sagres2 na navegação, consolidando-se como elemento central de 
estudos tecnológicos de navegação da época. Esse dado nos ajuda a considerar a importância que 
as nações iriam assumir ao protagonizar um evento tão grandioso como esse.
Nas últimas décadas, alguns historiadores, como Boris Fausto, sinalizam a importância do 
gosto pela aventura (FAUSTO, 1995, p. 23) para a nação como portuguesa para que se lançassem 
ao mar em busca de novos territórios e rotas comerciais. Seria impossível compreender esse pio-
neirismo das nações da Península Ibérica apenas pela sede de comércio. Essa propensão à aventura, 
vale pontuar, diz respeito ao interesse dos portugueses pelo desconhecido, pelo desbravamento. 
1 A unidade apontada aqui ao tratarmos esses países diferentes como parte de um mundo com caráter unificado vem 
da ideia de que muitas de suas características comuns acabaram por fazer dessas nações pioneiras e fundamentais no 
processo de expansão ultramarina.
2 A Escola de Sagres não foi exatamente uma escola no sentido em que estamos habituados. Ela foi um importante 
espaço de compartilhamento de descobertas e técnicas da época, permitindo o intercâmbio entre navegadores e cien-
tistas. A existência desse espaço acelerou o protagonismo da Península Ibérica no processo de navegações.
História da América independente e contemporânea20
Diferentemente de outros povos, desde sempre estavam dispostos a enfrentar as fronteiras. Parte 
disso se deve às questões geográficas do país, que, diante de sua dimensão territorial, precisaria 
sempre enfrentar desafios para crescer e se desenvolver.
Dois marcos temporais – a chegada dos espanhóis às Antilhas, em 1492, e a dos portugueses 
ao Brasil, em 1500 – são fundamentais para a análise. Em um curto intervalo de tempo, modifica-
ções significativas no panorama mundial estavam acontecendo.
Esse preâmbulo sobre as nações da Península Ibérica tem como objetivo, antes de tudo, res-
saltar como essas duas nações passaram a ter um papel decisivo na lógica de colonização e expan-
são, tornando-se fundamentais na compreensão dos interesses políticos e econômicos no mundo.
Este novo equilíbrio firma-se desde princípios do século XV. Dele derivará, 
não só todo um novo sistema de relações internas do continente como, nas 
suas consequências mais afastadas, a expansão europeia ultramarina. O pri-
meiro passo estava dado, e a Europa deixará de viver recolhida sobre si mesma 
para enfrentar o Oceano. O papel de pioneiro nesta nova etapa caberá aos por-
tugueses, os melhores situados, geograficamente, no extremo dessa península 
que avança pelo mar. Enquanto os holandeses, ingleses, normandos e bretões 
se ocupam na vida comercial recém-aberta, e que bordeja e envolve pelo mar 
o ocidente europeu, os portugueses vão mais longe, procurando empresas em 
que não encontrassem concorrentes mais antigos já instalados, e para o que 
contavam com vantagens geográficas apreciáveis: buscarão a costa ocidental 
da África, traficando aí com os mouros que dominavam as populações indíge-
nas. Nesta avançada pelo oceano descobrirão as Ilhas (Cabo Verde, Madeira, 
Açores), e continuarão perlongando o continente negro para o sul. (PRADO 
JÚNIOR, 1981, p. 12-13).
Dito isso, é importante levar em consideração os dois modelos coloniais adotados. A metá-
fora mais significativa sobre esse assunto é de um autor clássico, Sérgio Buarque de Holanda (1995, 
p. 92). Em uma das seções da obra Raízes do Brasil, o autor se dedica a pensar na fundação das 
cidades nas colônias portuguesas e espanholas. Ele identifica um tipo de padrão oriundo de uma 
série de características culturais, sociais e políticas. De um lado, os espanhóis haviam adotado uma 
postura de “ladrilhadores”3; do outro, os portugueses agiriam como “semeadores”.
De acordo com a metáfora, em um primeiro momento, os portugueses tinham uma visão 
mais transitória acerca do território explorado, preocupando-se pouco com grandes transforma-
ções e impactos sobre a nova colônia. Uma prova disso é a configuração das cidades que atual-
mente chamamos de históricas, como Ouro Preto, em Minas Gerais. A intervenção na natureza era 
mínima. Mantiveram-se as ladeiras, as curvas e os acidentes geográficos, mesmo sendo empecilhos 
para a dinâmica do cotidiano. Contudo, há uma intensidade significativa na “semeadura”. Era ne-
cessário retirar riquezas, independentemente do futuro que se desenharia.
O perfil semeador dos portugueses explica uma série de outros fenômenos sobre a coloni-
zação e o modelo de sociedade instalado em nosso país. Em comparação às colônias espanholas, 
o Brasil demorou muito para ter instituições culturais e educacionais, por exemplo.
3 Ladrilhador deriva de ladrilho. Embora não esteja em uso atualmente, a palavra refere-se a piso, azulejo ou cerâmica. 
Remete, portanto, à ideia de intervenção, obra, transformação.
Antecedentes históricos dos processos de independência das Américas 21
A ordem que aceita não é a que compõem os homens com trabalho, mas a que 
fazem com desleixo e certa liberdade; a ordem do semeador, não a do ladrilha-
dor. É também a ordem em que estão postas as coisas divinas e naturais pois 
que, já o dizia Antônio Vieira, se as estrelas estão em ordem, “he ordem que 
faz influência, não he ordem que faça lavor. Não fez Deus o Céu em xadrez de 
estrelas [...]”. (HOLANDA, 1995, p. 116)
Já os espanhóis adotaram postura similar ao ladrilhador. A intervenção deles no território 
teve como características mudanças mais drásticas, como a transformação do relevo, construção 
de grandes espaços como as plazas e os prédios públicos. Até mesmo a organização política das 
colôniasespanholas refletiu a lógica de território como extensão do reino espanhol.
Essa distinção é peça-chave para a compreensão dos processos de independência: a estra-
tégia de manutenção territorial da América portuguesa em forma de um grande e vasto império, 
fator decisivo para manter a escravidão.
Embora as colonizações promovidas por Portugal e Espanha nas Américas guardem seme-
lhanças no seu processo inicial, algumas distinções apontam caminhos diversos na formação des-
sas sociedades até a independência. Ao tratarmos dessas duas realidades, podemos apontar como 
elementos significativos: o perfil da colonização, as características da sociedade que emerge e o 
caráter das elites locais em ascensão.
No caso brasileiro, o modelo de exploração usado foram as capitanias – baseadas na 
concessão para pessoas de confiança da Coroa. Isso teve efeito significativo na formação social 
e econômica do Brasil, desde cedo já consolidando uma noção muito típica de acumulação 
de terras, culminando no latifúndio como base latente de desigualdade no país. O modelo de 
capitanias também acabará por consolidar o poder familiar como relevante. Nesse caso, algu-
mas visões da historiografia foram consolidadas ao longo das últimas décadas, ajudando no 
entendimento sobre o processo de construção de nossa sociedade, inclusive sob o ponto de 
vista econômico.
São recorrentes questionamentos sobre por que há enorme distinção social entre a América 
espanhola e a portuguesa. Essa resposta talvez se encontre em alguns novos trabalhos historio-
gráficos. Eles apontam que o “atraso” talvez não seja um fruto do “acaso” ou da simples ação dos 
agentes externos.
Este quadro geral sugere um perfil de crescente enriquecimento da elite mer-
cantil, e de contínua pauperização das camadas subalternas livres. Entretanto, o 
manejo das taxas de/pobreza e de riqueza durante a primeira metade do século 
XIX mostrou certa invariância na parcela detida pelos ricos e pelos pobres. 
Na verdade, o acesso dos pobres a recursos produtivos em si mesmos baratos 
– terras, alimentos e mão-de-obra – impediu a débâcle social, garantindo a es-
tabilidade do sistema em meio a altos níveis de concentração. A elite mercantil, 
por sua vez, viu-se marcada por aquilo que chamamos ideal aristocrático, que 
consistia em transformar a acumulação gerada na circulação de bens em terras, 
homens e sobrados. (FRAGOSO; FLORENTINO, 2001, p. 21)
Ou seja, a acumulação existia em alguma medida, mas era convertida em bens que garanti-
riam a manutenção de toda essa conjuntura. O arcaísmo era efetivamente uma concepção que nos 
diferenciou quanto a projeto de nação.
História da América independente e contemporânea22
2.2 A colonização da América Anglo-saxônica
Ao nos debruçarmos sobre o processo de colonização do território que convencionamos 
chamar de América Anglo-saxônica, composta por Estados Unidos e Canadá, é importante enten-
dermos as características econômicas, sociais e culturais da Inglaterra no período dos séculos XV 
e XVI. Embora a nação tenha se lançado aos mares após portugueses e espanhóis, ela não tardou a 
buscar as riquezas do outro lado do Atlântico.
A Inglaterra, entretanto, não ficou apenas concentrada no roubo dos navios ibé-
ricos e nos saques da costa. Ainda no fim do século XV, encarregara John Cabot 
de explorar a América do Norte. A marca do desconhecido é evidente na carta 
que Henrique VII entrega ao italiano. O rei concede o que ninguém sabe o que 
é, a américa, entregando a Cabot quaisquer ilhas, quaisquer nativos, quaisquer 
castelos que o navegante encontrasse... A América é um mundo de incertezas, 
terra do desconhecido, mas capaz de atrair expedições em busca de riquezas. 
De concreto, Cabot encontraria bacalhau no atual Canadá. [...] A américa cada 
vez mais passa a ser vista como um lugar de muitos recursos e de possibilidades 
econômicas. Comerciantes e aventureiros, a Coroa inglesa e pessoas comuns 
nas ilhas britânicas agitam-se com essas notícias. A ideia da exploração vai se 
tornando uma necessidade aos súditos dos Tudor. (KARNAL et al., 2007, p. 32)
A Inglaterra guarda peculiaridades decisivas para entendermos a ação colonizadora e sua de-
cisão de lançar-se ao mar. A primeira delas relaciona-se aos séculos anteriores ao início da expansão 
marítima. Nesse contexto, os ingleses estavam dedicados a transformações políticas muito sérias. 
Desde o século XII, o processo de mudanças políticas era muito significativo. A Inglaterra foi uma 
nação pioneira na construção de mecanismos de controle do poder real por meio de uma Carta 
Magna. Isso explica o engendramento da noção de justiça nessa nação. A ética religiosa que se de-
senvolveu no país após a reforma protestante, com aspectos do calvinismo, ajuda a explicar o perfil 
de ação política da Inglaterra nas navegações. O tema da religiosidade será abordado com mais preci-
são em outro momento. Embora seja recorrente pensarmos diretamente no papel das elites políticas 
e econômicas, é necessário retrocedermos para entender como algumas das ideias se formaram.
Assim como os principais temas e modos de discurso da vida política espanhola 
foram forjados sob pressões múltiplas de uma grande conjuntura histórica, tam-
bém o pensamento político inglês adquiriu padrões arquetípicos num momento 
análogo de organização e reorientação nacional. Por isso ao explicar os temas 
característicos de Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), para 
citar os dois nomes mais destacados, devemos estar atentos à influência condi-
cionante de pelo menos quatro revoluções: a científica, a religiosa, a comercial e 
a política. (MORSE, 1988, p. 60)
A citação anterior nos ajuda a entender que um grande diferencial entre a Inglaterra e as 
nações ibéricas reside nas diferentes formas como essas nações formaram em seus estados um de-
terminado tipo de pensamento político, determinante para moldar a cultura política de seus habi-
tantes. Isso é decisivo para a compreensão da mentalidade daqueles que migraram para a América 
em busca de um sonho específico.
É necessário refletirmos sobre as razões tradicionalmente apontadas como diferenciais para 
a compreensão da colonização inglesa na América. Durante muito tempo, a historiografia falou so-
bre “negligência salutar” para diferenciar os processos de colonização entre as Treze Colônias e as 
Antecedentes históricos dos processos de independência das Américas 23
colônias portuguesas e espanholas. Esse conceito não só ocupou alguns trabalhos historiográficos 
como teve eco significativo nos livros didáticos de História, tornando essa expressão praticamente 
de senso comum quando tratamos da história dos EUA.
De acordo com essa perspectiva, a maior capacidade de acumulação de riquezas nas Treze 
Colônias – e, em consequência, um maior desenvolvimento econômico – aconteceu diante do 
fraco controle do território colonial pela metrópole inglesa. Nesse período, a Inglaterra enfrentou 
uma série de dificuldades para manter um grau de controle similar ao exercido por Portugal e 
Espanha. Se observarmos do ponto de vista comparativo, o modelo ibérico, em um primeiro mo-
mento, constituiu instituições muito mais rígidas do que as inglesas. Ainda assim, esse processo 
histórico vai além desses elementos.
A constituição de um pensamento e de uma cultura política peculiar foi decisiva no perfil da 
colonização inglesa nas Treze Colônias. Antes de pensarmos na suposta “negligência”, é necessário 
entendermos: o perfil de estado que foi constituído na Inglaterra teve reflexos inevitáveis nas Treze 
Colônias. O perfil constitucional da Inglaterra influenciou a ideia de autogoverno4, ou seja, um go-
verno cujo os interesses do indivíduo e sua autonomia tivessem grau de relevância – o carro-chefe 
da administração das Treze Colônias.
Nesse caso, ideais de liberdade tiveram muito mais efeito do que a incapacidade de a 
Inglaterra ser metrópole diante das dificuldades de manter o pacto colonial e exercer fiscalização 
rígida dos fluxos demercadoria e recursos. Do ponto de vista cultural, o fenômeno do calvinismo 
ajudou a consolidar um modelo de elite política e econômica razoavelmente dinâmica. No caso da 
colonização inglesa, um tipo específico de calvinismo – o puritanismo dos peregrinos – foi decisi-
vo para a consolidação do desenvolvimento econômico das Treze Colônias.
O puritanismo diz respeito a uma visão extremamente radical do ideal protestante calvinis-
ta, no qual preceitos morais eram exacerbados. Isso teve impacto significativo na vida das pessoas, 
incluindo a forma de se comportar em relação ao trabalho.
A exortação do apóstolo a “se segurar” no chamado recebido é interpretada 
aqui, portanto, como dever de conquistar na luta do dia a dia a certeza subjeti-
va da própria eleição e justificação. Em lugar dos pecadores humildes a quem 
Lutero promete a graça quando em fé penitente recorrem a Deus, disciplinam-
-se dessa forma aqueles “santos” autoconfiantes com os quais toparemos outra 
vez na figura dos comerciantes puritanos da época heroica do capitalismo, rijos 
como aço, e em alguns exemplares isolados do presente. E, de outro lado, distin-
gue-se o trabalho profissional sem descanso como o meio mais saliente para se 
conseguir essa autoconfiança. (WEBER, 2009, p. 70, grifos do original)
No caso das palavras de Weber, devemos entender o apóstolo no calvinismo como o indiví-
duo comum e imbuído de uma missão espiritual de grande responsabilidade. A ele, não há espaço 
para o lamento e dor, apenas para a redenção que, diferentemente da do pecador, nasce do trabalho 
e da obstinação. Esses elementos ultrapassam a moral e chegam à ética. Essa percepção de missão 
como elemento decisivo, inclusive para a salvação, é o que constituirá a ética desses calvinistas. 
Assim, por meio desse rigor, constituirão sua força.
4 Nesse contexto, estamos tratando de uma dimensão de autogoverno do século XVII.
História da América independente e contemporânea24
A ética dos calvinistas que migraram para as Treze Colônias é parte fundamental da compreen-
são desse processo. Não se trata, porém, de abandonar outras matrizes explicativas. Apenas as menta-
lidades não são suficientes para compreendermos o fenômeno colocado, mas são decisivas e precisam 
ser lembradas. O fundamento determinante do puritanismo, portanto, é o ascetismo, assim definido:
Em grego, a palavra áskesis quer dizer “exercício físico”. Ascese, ascetismo ou 
ascética é o controle austero e disciplinado do próprio corpo através da evitação 
metódica do sono, da comida, da bebida, da fala, da gratificação sexual e de 
outros tantos prazeres deste mundo. [...] [Há] dois tipos principais de ascese: a 
ascese do monge, que se pratica “fora do mundo”, chamada “extramundana”, e a 
ascese do protestante puritano, que é “intramundana” e faz do trabalho diário e 
metódico um dever religioso, a melhor forma de cumprir, “no meio do mundo”, 
a vontade de Deus. É por isso que [...] as formas puritanas de protestantismo 
recebem o rótulo de “protestantismo ascético”. (WEBER, 2009, p. 219)
Os colonos que migraram para a América tiveram como missão fazer da terra o “paraíso” 
por meio de uma ética incansável de trabalho – sustentada pela certeza de predestinação a fazer da 
América uma nova terra livre dos “pecados” que haviam tomado conta da Inglaterra. O pecado da 
Inglaterra estava essencialmente em abrir mão do ideal de governo justo. De alguma maneira, era 
como se a Coroa tentasse “roubar” o paraíso, a terra prometida desses colonos.
Figura 1 – Mapa das Treze Colônias. A figura dá uma dimensão da diversidade e magnitude territorial, fa-
tores que ajudarão a compreender a independência dessas colônias, assim como seus desdobramentos, 
como a Guerra da Secessão.
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Antecedentes históricos dos processos de independência das Américas 25
Ao longo do território das Treze Colônias, instalou-se uma série de companhias comer-
ciais submetidas à Coroa inglesa. Elas tiveram como responsabilidade a exploração do território, 
incluindo aí seu desbravamento. A atividade comercial foi decisiva para a constituição de uma 
elite local voltada a um projeto de desenvolvimento amplo, embora uma cisão permanecesse clara: 
a divergência entre os colonos do Norte e Sul em relação à abolição da escravatura.
Em síntese, o caráter do processo histórico das Treze Colônias se destaca essencialmente 
pela conjunção entre o perfil ético-religioso de seus habitantes e a relação estabelecida com uma 
colônia que, embora nem tão negligente, não detinha um projeto de colonização tão complexo e 
controlador como o dos países ibéricos.
Isso trará outro elemento decisivo: a constituição e a circulação de ideias de cunho liberal 
acontecerá de maneira mais ampla e radical na América Anglo-saxônica, diferentemente do perfil 
das ideias mais conservadoras do Iluminismo português, da Universidade de Coimbra, que circu-
laram no Brasil. Parte dessa matriz explicativa ficará mais clara na próxima seção, na qual traçare-
mos comparações possíveis e necessárias.
2.3 Possibilidades comparativas
Seria tentador insistirmos na ideia de uma comparação meramente dicotômica. Tradicio-
nalmente, a comparação costuma começar por construir um discurso de culpa depreciativa sobre 
os que nos colonizaram. Tendemos a tratar como negativa toda a tradição ibérica, raiz de nosso 
atraso, e enaltecer toda tradição inglesa, origem do sucesso dos Estados Unidos da atualidade.
Embora seja impossível nos desvencilharmos do presente em nossas análises históricas é 
importante não cairmos nos riscos da teleologia, ou seja, de induzirmos nosso olhar sobre o fenô-
meno totalmente influenciados pelos acontecimentos posteriores.
Comparar nos leva à necessidade de buscar os elementos mais complexos, ao contrário dos 
que parecem óbvios. Já nos alertaram alguns historiadores:
Por que os Estados Unidos são tão ricos e nós não? Essa pergunta já provocou 
muita reflexão. Desde o século XIX, a explicação dos norte-americanos para 
seu “sucesso” diante dos vizinhos da américa hispânica e portuguesa foi clara: 
havia um “destino manifesto”, uma vocação dada por deus a eles, um caminho 
claro de êxito em função de serem um “povo escolhido”. No Brasil sempre 
houve desconfiança sobre a ideia de um “destino manifesto” que privilegiasse 
o governo de Washington. Porém, muito curiosamente, criou-se aqui uma ex-
plicação tão fantasiosa como aquela. A riqueza deles e nossas mazelas decorre-
riam de dois modelos históricos: as colônias de povoamento e as de exploração. 
(KARNAL et al., 2007, p. 21)
Um bom começo seria, portanto, pensarmos se as narrativas explicativas construídas dizem 
o suficiente sobre esses processos históricos. A ideia de uma América ibérica pobre devido a seu 
passado colonial e uma América Anglo-saxônica rica pela mesma razão não é capaz de fornecer 
respostas adequadas.
Em 1492, os espanhóis chegaram à América e, em 1500, os portugueses chegaram ao Brasil 
e iniciaram o processo de colonização. Ao longo dessas décadas, principalmente por volta de 1530, 
História da América independente e contemporânea26
começava a ser consolidado um modelo administrativo relativamente complexo de domínio sobre 
o território. É importante não perdermos de vista que Portugal e Espanha eram até então grandes 
potências mundiais.
O século XVI foi de desenvolvimento do modelo colonial e de consolidação de ambas as na-
ções como protagonistas graças às riquezas advindas de suas possessões além-mar. Esses elementos 
econômicos são relevantes para entendermos as mudanças que se desenhavam no mundo naquele 
momento, mas não suficientes.
Do ponto de vista comparativo, é necessário pensarmos desde a conjuntura histórica que 
antecede o processo de colonização até o perfil educacional e cultural dos membros da elite, com 
o objetivo de entendermos parte de suas ações. As transformações do século XVII, tanto políticas 
quanto culturais e religiosas,deram um novo tom para o papel de nações como a Inglaterra. Os efei-
tos da reforma protestante, a consolidação de um modelo político advindo de processos históricos 
como a Revolução Gloriosa e as marcas deixadas por anos de lutas pelo controle de poder central.
Isso nos ajuda a construir uma comparação com o que vimos. Nas seções anteriores deste 
capítulo, portugueses e espanhóis destacavam-se pela centralização de seus reinos e a constituição 
de um estado forte e organizado, propiciando assim a expansão ultramarina. Ambas as nações 
foram capazes de construir estruturas coloniais relativamente complexas que davam conta do do-
mínio e da exploração de um território muito extenso. Isso sem contar a multiplicidade de atores 
envolvidos, desde europeus, indígenas, africanos, clérigos, homens livres e toda sorte de pessoas 
colocadas em um território hostil. Ainda assim, o empreendimento colonial teve sucesso. É impos-
sível acreditarmos que Portugal e Espanha não tinham virtudes civilizatórias.
Ao longo do século XVIII, Portugal buscou dar resposta aos movimentos políticos que tomavam 
conta da Europa e eram embasados no pensamento Iluminista. Esse foi o papel do Marquês de Pombal. 
Ele buscou uma série de reformas políticas e educacionais na tentativa de modernizar Portugal.
Nesse processo comparativo, não podemos nos limitar à busca de vantagens ou desvantagens 
simplesmente. Processos históricos são muito mais complexos do que uma simples dicotomização 
pode apontar. Assim, é importante, ao compararmos a trajetória histórica de diferentes nações, 
questionar as ideias de senso comum com a finalidade de aprofundarmos os fatores críticos.
A comparação nos remete à ideia de investigação e de teste. Ao colocarmos processos histó-
ricos parecidos lado a lado, podemos testar hipóteses e desafiar nossa capacidade explicativa. Por 
exemplo, se o Brasil tivesse sido colonizado por ingleses, seríamos uma nação desenvolvida como 
os Estados Unidos? Mas e se observarmos uma nação como a Jamaica? Ela recebeu colonização 
inglesa, mas conseguiu desenvolver-se da mesma maneira que as outras? E se pensarmos no Haiti, 
que teve uma fase de colonização espanhola e outra francesa, mas passa por tantos desafios? A si-
tuação do Brasil e dos demais países de colonização espanhola na atualidade reflete, por exemplo, 
a magnitude dos impérios constituídos por Portugal e Espanha outrora? Dessa questão, podemos 
trazer uma que se relaciona: todos os problemas de nosso desenvolvimento econômico, político e 
social podem ser relacionados exclusivamente ao nosso passado colonial? A mesma pergunta pode 
ser feita para os Estados Unidos: todo êxito deriva da ética protestante dos peregrinos e do autogo-
verno das Treze Colônias? Ou outros fatores foram decisivos?
Antecedentes históricos dos processos de independência das Américas 27
Ainda estamos longe de dar uma resposta definitiva para as diferenças marcantes entre as 
Américas em seus processos de colonização. Um bom caminho para a reflexão histórica pode ser 
com base em questionamentos críticos e reflexivos.
Considerações finais
O debate sobre o processo histórico que cerca as independências das Américas tornou-
-se mais complexo para os historiadores e nos desafia a pensar em novas questões, oferecendo 
novos questionamentos.
Procuramos apontar a superação de dicotomias históricas arraigadas ao senso comum, como 
a de povoamento/exploração, determinantes para outra noção binária, a de desenvolvimento/
subdesenvolvimento.
Dito isso, a reflexão de Richard Morse (1988, p. 21) nos remete à necessidade de pensarmos 
cada vez mais em projeção histórica. O autor problematiza o hábito rotineiro de discutirmos as 
civilizações das Américas coloniais sem pensarmos nas pré-histórias europeias, como ele mesmo 
chama. Entender a configuração institucional, política, cultural, filosófica dessas nações é determi-
nante para compreender as colônias em suas peculiaridades.
Ao nos debruçarmos sobre os antecedentes históricos, buscamos menos relações automa-
ticamente causais e mais possibilidades explicativas que possam nos remeter a novas perguntas.
Essas distinções não podem ser limitadas a respostas prontas, pois existem caminhos para 
entender de maneira mais complexa os processos de independência que guardam em si também 
uma série de elementos distintos e, consequentemente, de enorme complexidade, assim como os 
processos coloniais.
Atividades
1. Um dos elementos fundamentais para a compreensão do processo das grandes navegações 
europeias e, consequentemente, da colonização das Américas, é entendermos o pioneirismo 
das nações ibéricas. Aponte as razões que explicam esse pioneirismo e suas eventuais con-
sequências práticas.
2. Tradicionalmente, a historiografia brasileira costuma explicar o modelo colonial do nos-
so país por meio da transferência de riquezas direto da colônia para a metrópole. Alguns 
historiadores, porém, apontam que havia algum tipo de acúmulo “drenado” para um certo 
projeto de arcaísmo. Explique.
3. Muitas vezes, ao compararmos a colonização da América anglo-saxã com a da América 
ibérica, é recorrente falarmos da negligência salutar. Algumas diferenças político-culturais, 
porém, têm se tornado importantes para essa explicação. Aponte-as.
4. Do ponto de vista da metodologia historiográfica, como podemos apontar caminhos para 
esse processo comparativo de colonizações?
3
Formação política e econômica: 
duas Américas em construção
Neste capítulo, será traçado um panorama sobre o processo de colonização das Américas 
portuguesa, espanhola e anglo-saxã, com maior ênfase nos aspectos das estruturas administrativas 
constituídas e como elas foram determinantes para o processo de colonização. Na sequência, bus-
camos debater as características de interseção e distinção entre essas américas. Por fim, fecharemos 
com um debate acerca da atuação das elites locais e como suas características foram decisivas para 
o processo de desenvolvimento econômico da região.
3.1 Modelos de exploração colonial 
O Pacto Colonial consistia essencialmente em uma relação desigual: a colônia teria de ven-
der todos seus produtos exclusivamente para a metrópole, que, além de controlar os tributos, ti-
nha total controle sobre preços. Diante disso, produtos manufaturados ou produzidos em outras 
regiões só poderiam ser comprados da metrópole. Além da questão econômica, o pacto envolvia 
também o controle das demandas educacionais e culturais. Esse modelo ganhou especificidades 
em cada uma das Américas. No Brasil, ganhou força a partir de 1530, com a necessidade de explo-
ração e proteção do território.
O modelo de exploração colonial espanhol difere do modelo português. Os espanhóis che-
garam ao continente em 1492 e iniciaram ao longo das décadas posteriores a formação de um 
sistema administrativo e de exploração. Basicamente, o diferencial dos espanhóis foi a subdivisão 
em vice-reinos (Rio da Prata, Peru, Nova Granada e Nova Espanha), cada um deles administrado 
por um vice-Rei e um capitão-geral, designados por gesto de confiança da Coroa espanhola. Acima 
de todos eles estavam o Conselho Real e os Supremos das índias. Os vice-reinos, portanto, eram 
unidades administrativas que tentavam dar caráter de organização, reproduzindo a lógica de con-
tinuidade do território do reino na América.
Na América espanhola, havia instituições similares às câmaras municipais do Brasil – os 
cabildos coloniais, onde atuavam principalmente os criollos, filhos de espanhóis nascidos na co-
lônia. Já nas instâncias superiores, o exercício de poder estava restrito aos chapetones, isto é, aos 
espanhóis de nascença (SCHWARTZ; LOCKHART, 2002).
História da América independente e contemporânea30
Figura 1 – Estrutura administrativa e social das colônias espanholas na América
Conselho Real e Supremo das Índias
Vice-reinos (chapetones)
Cabildos (criollos)
Fonte: Elaborada pelo autor.
Do ponto de vista econômico, essa estrutura política e administrativa constituídaao longo 
do século XVII garantiu a transferência de recursos, como metais preciosos e outros bens primá-
rios – fundamentais para o enriquecimento da metrópole espanhola. Do ponto de vista da mão de 
obra, um elemento diferencial entre a colonização espanhola e portuguesa precisa ser apontado: 
embora na América portuguesa a mão de obra indígena1 tenha sido usada, essa modalidade teve 
muito mais abrangência nas possessões espanholas.
Se pensarmos especificamente nas colônias do Prata, onde atualmente estão situados os 
países Argentina, Paraguai e Uruguai, algumas peculiaridades do processo de colonização, que 
tiveram efeitos substanciais na formação dessas nações, merecem destaque. Essa região foi motivo 
de intensos debates e posteriores conflitos entre Portugal e Espanha desde o início do processo de 
colonização. A região, entre os séculos XVI e XVIII, produziu insumos sob o domínio espanhol.
A cidade de Assunção, no atual Paraguai, foi por muitos anos o centro comercial espanhol 
no novo continente. Isso mudou após a divisão territorial que deu origem à cidade de Buenos Aires 
e limitou o acesso ao mar nessa região. Apenas no século XVIII aconteceria a criação do vice-reino 
do Rio do Prata, abarcando as duas regiões. A colônia de Sacramento antecedeu a fundação de 
Montevidéu, onde atualmente está o Uruguai, e teve como principal peculiaridade a inserção da 
pecuária bovina já no século XVII.
Do ponto de vista cultural, é importante lembrarmos: a partir do século XVII chegaram à 
região os Jesuítas – ordem católica com enorme tradição no processo educacional, atuante na pro-
fusão da fé católica e na manutenção dos ideais cristãos entre povos já convertidos. Assim, o cris-
tianismo ganhou capilaridade nesse período pela atuação desses religiosos nas aldeias indígenas, 
por meio da catequese, e nos núcleos urbanos, por meio da educação formal.
Diante disso, instalou-se um modelo de organização política que em muito se assemelhava 
ao reino (vide o uso da unidade administrativa vice-reino), uma intensa exploração comercial 
apoiada na extração de recursos e na diversificação da economia por meio da pecuária. Do ponto 
de vista das forças de trabalho, era um modelo de exploração indígena que ainda não havia sido 
desenvolvido em nenhuma região, personificado na mita e na encomienda.
1 As duas formas de trabalho indígenas na América espanhola eram a mita e a encomienda. Na mita, especificamente, 
os índios eram sorteados para grandes jornadas de trabalho compulsório. Já na encomienda os espanhóis dominavam 
tribos inteiras em suas regiões para o trabalho.
Formação política e econômica: duas Américas em construção 31
Antes de avançarmos especificamente na História das Treze Colônias, no intuito de pontuar-
mos os elementos fundamentais para a compreensão da América independente, algumas questões 
históricas são importantes. Embora a marca da colonização inglesa seja determinante na história 
dos Estados Unidos, os primeiros territórios foram ocupados pelos espanhóis, inclusive regiões de 
grande destaque, como o Texas e a Califórnia. Além dos espanhóis, houve também a presença de 
holandeses e franceses ao longo do território. Ao fim do século XV, ainda havia disputas territoriais 
e a presença de espanhóis e franceses em algumas dessas regiões era comum. O perfil britânico da 
colonização na região só foi consolidado quando chegaram os chamados peregrinos.
A fundação da primeira Colônia Britânica, a Virgínia, efetivamente aconteceu em 1606. 
Ao longo desses primeiros anos, ficou demarcada a função de produção agrícola do território. 
Inúmeros desafios foram enfrentados pelos primeiros colonos desde a ausência de mão de obra, 
o caráter inóspito do território, a falta de infraestrutura e de recursos, o que dificultou o trabalho 
dos pioneiros. Ao longo do século XVII, novas colônias foram fundadas, consolidando o poder da 
Coroa britânica na região. Embora exista uma visão de senso comum de que o processo de coloni-
zação da região foi inteiramente diferente da América portuguesa e espanhola, cabe relembrarmos: 
também houve a divisão e concessão de terras por parte da Coroa inglesa em um modelo muito 
similar ao de capitanias hereditárias.
Muitas vezes, ao pensarmos sobre o desenvolvimento das Treze Colônias, acreditamos que 
elas tiveram uma história inteiramente diferente das colônias ibéricas. A historiografia da atualida-
de aponta que não foi bem assim:
O projeto que estava sendo montado no final do século XVI em muito se asseme-
lhava ao ibérico. O soberano absoluto concede a um nobre um pedaço de terra 
assegurando seus direitos. Pouca coisa diferenciava sir Walter de um donatário 
brasileiro do período das capitanias hereditárias. Além dessa semelhança, no-
tamos a mesma preocupação metalista no documento: a fome de ouro e prata 
que marca a era do Estado Moderno. A Coroa, impossibilitada de promover 
ela própria a colonização, delega a outros esse direito, reservando para si uma 
parte de eventuais descobertas de ouro e prata. A aventura de sir Walter, no 
entanto, fracassou. O sistema colonial que parecia esboçar-se com sua cédula 
morreu com ele. Os ataques indígenas aos colonizadores, a fome e as doen-
ças minaram a experiência inicial da Inglaterra. A ilha de Roanoke (na atual 
Carolina do Norte), sede dessas primeiras tentativas, estava deserta quando, 
em 1590, chegou uma expedição de reforço para os colonos. (KARNAL et al., 
2007, p. 34-35, grifos nossos)
Nesse primeiro momento da História das Treze Colônias, a intenção da Coroa britânica 
era bem parecida com a da Coroa portuguesa. Ou seja, havia o interesse em explorar riquezas, 
criando uma fonte de recursos para a metrópole. Ressaltamos porque muitas vezes no senso 
comum histórico é dada a impressão de que as Treze Colônias já nasceram com o objetivo de 
povoamento e liberdade.
A Figura 2 nos auxilia a entender dois princípios importantes e por que ao longo dos séculos 
XVI e XVII as Treze Colônias se diferenciaram das colônias espanholas e portuguesas.
História da América independente e contemporânea32
Figura 2 – Princípios da administração colonial inglesa
Treze Colônias
(princípio do autogoverno)
Companhias comerciais
Fonte: Elaborada pelo autor.
Para entendermos o processo colonial inglês na América é necessário compreender, em 
primeiro lugar, a estrutura de exploração baseada na criação de Companhias de Comércio, que 
surgiram no início do século XVII e tinham como objetivo organizar a exploração comercial nas 
regiões mais inóspitas do território. Para isso, usavam a propaganda como forma de atrair pes-
soas interessadas em engajar-se na exploração e busca de riquezas. Cabia também às companhias 
oferecer frentes de trabalho para imigrantes que buscavam oportunidades e não dispunham de 
capital para investimento, ou seja, os que detinham apenas força de trabalho. Muitas vezes, esses 
indivíduos eram submetidos a trabalhos servis durante alguns anos, como forma de pagar as 
despesas da viagem.
Embora esse modelo não tenha logrado êxito, foi responsável por permitir uma exploração 
ampla de riquezas em um território vasto. Porém, do ponto de vista administrativo-político, o 
destaque deve ser dado ao modelo oriundo da constituição inglesa, a qual permitia às colônias 
o autogoverno, ou self-government. Esse grau de autonomia era relativo. Contudo, não podemos 
permitir que nosso imaginário sobre os Estados Unidos da atualidade influencie na análise histó-
rica (JUNQUEIRA, 2001).
Embora fosse determinada pelos acontecimentos históricos da metrópole, essa autonomia 
gerou efetivamente um grau maior de crescimento e organização por parte dos colonos que ali-
mentavam sua riqueza pelas Companhias de Comércio.
No processo colonial dessa região, outro elemento importante é a formação do plantel es-
cravo. Diferentemente do Brasil, no qual quase todas as regiões relevantes receberam escravos em 
grandes quantidades no início da colonização, nas Treze Colônias houve nitidamente uma concen-
tração

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