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ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA FIBROMIALGIA: UMA REVISÃO ATUALIZADA Marcos Maciel Soares e Silva – NOVAFAPIA Marcelo Sousa Maia – NOVAFAPI Náyra de Batista - FACID Ana Vannise de Melo Gomes - NOVAFAPI INTRODUÇÃO A patologia hoje conhecida como fibromialgia (FM) não é nova (BATES, 1998). Esta síndrome reumática representa desde a antiguidade, um importante segmento da fenomenologia dolorosa do ser humano, através das queixas de dor profunda, exaustão e distúrbios do sono (HELFENSTEIN M; FELDMAN D, 2002). Sendo atualmente uma síndrome de grande incidência, representada por 5 a 8% da população geral e responsável por 25% das consultas nos ambulatórios de reumatologia. Nos ambulatórios de ortopedia as queixas dolorosas músculo-esqueléticas representam 26% dos casos novos atendidos, onde 55 a 88% preenchem critérios de fibromialgia (SILVA, 1997). A fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa músculo-esquelética crônica, não inflamatória, de etiopatogenia desconhecida, caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada à palpação de determinados pontos dolorosos (tender points); associado à fadiga crônica, distúrbio do sono e humor, e outras manifestações (SETTE, 2002). A definição atual da síndrome é decorrente da aplicação dos critérios de classificação desenvolvidos pelo Colégio Americano de Reumatologia e descritos por WOLFE, et al (1990). Eles utilizam duas variáveis: 1) dor generalizada crônica (com mais de três meses de duração) e 2) dor à palpação em pelo menos 11 de 18 locais específicos do corpo (os pontos dolorosos). Estes últimos devem ser submetidos, segundo SADOVSKY (1999), a uma pressão digital de 4Kgf para serem considerados como pontos dolorosos na fibromialgia. A dor é considerada generalizada quando há dor no lado direito e esquerdo do corpo, abaixo e acima da crista ilíaca. Deve estar presente também dor axial, na região cervical, na parte anterior do tórax ou na região lombar (CHAITOW, 2002). É considerada uma síndrome porque é identificada mais pelo número de sintomas do que por uma má função específica. O paciente não necessariamente deverá apresentar todos os sintomas, porém outros de origem disfuncionais podem estar presentes (WOLFE, F, 1990). Essa patologia é mais comumente dividida em duas categorias: primária e secundária. O indivíduo com fibromialgia primária não tem nenhuma outra patologia concomitante. A fibromialgia associada a qualquer outra doença como artrite reumatóide é considerada como fibromialgia secundária (BATES, 1998). Sua patogenia, ainda não está bem esclarecida, vários estudos levam a evidencias de que, alguns fatores interagem para o aparecimento da SFM, como: predisposição genética, disfunção neuroendócrina, doença de Lyme, Epstein-Barr, infecção pelo parvovirus, HIV, hepatite C, condições externas de estresse e/ou trauma físico, distúrbio de ansiedade/depressão, estado psicológico alterado que caracteriza sua personalidade como indivíduos perfecsionista, descondicionamento físico e distúrbio do sono (CHAITOW. L, 2002); estes fatores provocariam uma disfunção no sistema nervoso central em regular ou modular a resposta dolorosa em nível medular e cerebral, com aumento de estímulos nociceptivos e neurovasculares, oriundos do sistema músculo-esqueletico (GONÇALVES DIAS, 2003). Inúmeros tratamentos têm sido propostos visando a remissão do quadro clínico. O objetivo desses tratamentos é a eliminação dos “tender points", restauração da amplitude de movimento e força muscular normal, eliminação da dor, controle das anormalidades do humor, melhora da função do organismo e reintegração psicossocial, necessário uma educação para o indivíduo prevenir e lidar com as recorrências e também bloquear os fatores precipitantes e/ou perpetuantes (SOUZA, FORGIONE e ALVES, 2000). Mas, ainda há muitas divergências nos resultados de diferentes estudos, sugerindo uma análise crítica dos mesmos e uma maior preocupação com as metodologias empregadas (SOUZA, FORGIONE e ALVES, 2000). Devemos ter cuidado em diferenciar os tender points da Fibromialgia dos trigger points (pontos gatilhos) presentes na Síndrome Dolorosa Miofascial. A palpação dos primeiros produz dor localizada não irradiada, portanto não ocorre dor em locais proximais ou distais às áreas examinadas, não havendo enduração ou contratura nítida dos pontos. Os trigger points, por sua vez, apresentam, caracteristicamente, dor referida e sua irradiação pode ser previsível e anatomicamente mapeada, seguindo um padrão estereotipado, segundo descrições de SIMMONS, (1988), sendo considerado como especificidade e sensibilidade para a Síndrome Dolorosa Miofascial. A abordagem de tratamento mais difundida para a fibromialgia envolve o uso de vários agentes farmacológicos (CHAITOW, 2002). Analgésicos utilizados em indivíduos com fibromialgia têm por objetivo interromper o ciclo “dor - espasmo muscular”. Já foram testados o acetaminofem, o propoxifeno, a codeína e combinações dessas drogas. Porém, não houve resultados benéficos, pois entre outras razões, não são encontrados espasmos musculares (ATRA, POLLAK e MARTINEZ, 1993). A fisioterapia como um outro método de tratamento não deve ser somente um meio de alívio da dor, mas também de restauração da função e de estilos de vida funcionais, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos com fibromialgia. É importante que o indivíduo seja um elemento ativo em seu tratamento e que metas mútuas sejam estabelecidas entre o fisioterapeuta e o indivíduo logo no início do tratamento (CHAITOW, 2002). Outro recurso terapêutico é a acupuntura, que de forma geral, apresenta excelentes resultados no tratamento da dor. Um dos principais especialistas no uso da acupuntura para alívio da dor, Baldry (1993) afirma que a acupuntura é o tratamento escolhido para lidar com a síndrome da dor miofascial ou com problemas de ponto-gatilho. O autor declara que a dor da fibromialgia - parecia ser causada por alguma substância nociva ainda não identificada na circulação, dando origem à hiperatividade neural dos pontos sensíveis e dos pontos-gatilhos – tem um curso prolongado e por meio da acupuntura suprimir esta hiperatividade neural por períodos curtos (BALDRY, 1993). Os exercícios físicos, de forma geral, são considerados benéficos para os indivíduos com fibromialgia, não são constatadas evidências que explicam os mecanismos pelos quais os exercícios atuam no sentido de aliviar o sintoma primário desta síndrome, ou seja, a dor (MARQUES et al. 2002). OBJETIVOS Geral: • Revisar na literatura cientifica recursos fisioterapêuticos utilizados no tratamento da fibromialgia; Específicos: • Eleger os melhores recursos eletrotermofotobiologicos para o tratamento da fibromialgia; • Comparar a eficácia de formas de terapias manuais no tratamento da fibromialgia. METODOLOGIA A presente pesquisa foi elaborada a partir de uma revisão bibliográfica durante o ano de 2006, embasada em livros nacionais, periódicos, revistas científicas, monografias, jornais e artigos coletados em bibliotecas virtuais (Medline, Lilacs, Scielo, Biblioteca Cochrane). Utilizou-se como palavras-chave: Fibromialgia, fisioterapia, eletroterapia, terapia manual, doenças reumáticas e reabilitação. Foram selecionados artigos e materiais de interesse para o estudo, ou seja, aqueles que faziam referência sobre fibromialgia e tratamento fisioterapêutico. Para a elaboração dos resultados e discussões foram pesquisadas formas de tratamento como: alongamento muscular, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), exercícios aeróbico, fototerapia, massagem terapêutica, recursos biohídricos, laser, ultra-som, bem como outros recursos eletrofototerapêuticos. Para o enriquecimento do estudo, foram comparadas algumas formas de terapias manuais para o tratamento da fibromialgia, como a osteopatia, mobilização miofascial, mobilização de articulaçõesperiféricas. RESULTADOS/DISCUSSÕES Pode observar, que todos os recursos utilizados apresentam suas evidencias cientificas no tratamento da fibromialgia. A seguir serão mostrados alguns recursos que apresentam suas evidencias terapêuticas comprovadas pela literatura cientifica. À medida que o alongamento muscular promove a melhora da dor, tornando o indivíduo mais apto para realizar as atividades de vida diária, ainda permanece a sensibilidade dolorosa nos tender points (MARQUES, MENDONÇA, COSSERMELLI, 1994). Em estudo realizado por GASHU, et al. (2001), foi comprovada a eficácia da TENS e de exercícios de alongamento na diminuição da dor, na sensibilidade dolorosa dos tender points e na melhora da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia. MARTIN, et al. (1996) ressaltam a importância do exercício físico aeróbico no controle dos sintomas da Fibromialgia, sem no entanto, apresentar efeitos adversos. De acordo com WINGERS, STILES, VOGEL (1996), a longo prazo os pacientes com fibromialgia apresentam maior aderência aos programas de exercícios aeróbicos do que a tratamentos de controle do estresse. A fototerapia com intensidade de luz de 4750 lux, aplicada sobre toda extensão do corpo em sessões diárias de em média três horas cada, durante 4 semanas, não mostrou ser eficaz na melhora dos sintomas de dor, humor e sono em pacientes com Fibromialgia, que referem piora sazonal dos sintomas (PEARL et al., 1996). Uma pesquisa do Touch Research Institute, University of Miami Medical School, indicou benefícios de formas apropriadas de massagem no tratamento da Fibromialgia (SUNSHINE et al., 199625 apud CHAITOW, 2002). A água aquecida, é por si só relaxante. É um meio muito usado para relaxar a musculatura dos pacientes com Fibromialgia. Brosseau et al. (2003), fisiatras, da Universidade de Ottawa, Canadá, fizeram uma revisão para a Cochrane Database, da medicina baseada em evidências para verificar o valor do laser de baixo nível, na ação contra a dor, na fibromialgia em geral. O Ultra-som está sendo empregado como uma forma de calor profundo, e vários autores citam seu efeito benéfico na redução da dor. A sua ação é limitada, clinicamente, e, sob o ponto de vista tecnológico, é limitada também no tratamento de tecidos musculares onde é necessária uma ação profunda (mais de 5cm). Sabe-se que o Ultra-som alcança no máximo essa profundidade, incluindo a pele que já tem 2 cm. A medicina osteopática tem conduzido muitos estudos envolvendo a Fibromialgia. Doutores do Chicago College of Osteopathic Medicine verificaram os efeitos da terapia de manipulação osteopática avaliando a intensidade da sensação de dor nos pontos sensíveis, no momento do diagnóstico, em 18 pacientes que se adequaram a todos os critérios para a Fibromialgia. Cada um foi submetido a 6 seções de tratamento que foram realizadas ao longo de um período de um ano. CONCLUSÃO O tratamento da Fibromialgia ainda está longe de ser o ideal. A sua etiologia continua desconhecida e a terapêutica se baseia no controle dos sintomas e sinais. Como problema importante no tratamento, surge a dificuldade encontrada em medir o quanto a terapêutica está sendo eficaz, já que não existem alterações objetivas que possam servir de parâmetro na evolução dos pacientes, e o sintoma dor é fundamentalmente subjetivo. Contudo pode se observar e que são muitos os recursos terapêuticos citados na literatura que possibilitam um tratamento fisioterapêutico, proporcionando desta maneira uma melhor qualidade vida ao paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • ATRA, E.; POLLAK, D.F.; MARTINEZ, J.E. – Fibromialgia: etiopatogenia e terapêutica. Rev. Bras. de Reumatologia, 1993. • BATES, A; HANSON, N. Exercícios aquáticos terapêuticos. 1ª ed. São Paulo: Manole, 1998. • CHAITOW, L. Síndrome da fibromialgia: um guia para tratamento. 1ª ed. brasileira, São Paulo: Editora Manole, 2002. • GASHU, B. M.; MARQUES, A. P.; FERREIRA, E. A. G.; MATSUTANI, L. A. – Eficácia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e dos exercícios de alongamento no alívio da dor e na melhora da qualidade de vida de pacientes com Fibromialgia. Rev. Bras. Fisioter. 2001. • GONÇALVES DIAS, et al. Melhora da qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos tratados com hidroterapia. Rev.Fisioterapia Brasil, 2003. • HELFENSTEIN M; FELDMAN D. Síndrome da Fibromialgia: Características Clinicas e Associações com outras síndromes disfuncionais. Rev. Bras. Reumatol, 2002. • MARTINEZ, J. E.; et al. - Aspectos psicológicos em mulheres com fibromialgia. Revista Brasileira de Reumatologia,1992. • MARQUES, A.P.; MENDONÇA, L.L.F.; COSSERMELLI, W. – Alongamento muscular em pacientes com fibromialgia a partir de um trabalho de reeducação postural global (RPG). Rev. Bras. Reumatol, 1994. • MOLDOFSKY, H. – The effects of bright light treatment on the symptoms of fibromyalgia. J. Rheumatol, 1996. • PEARL, S.J.; LUE, F.; MACLEAN, A.W; HESLEGRAVE, R.J.; REYNOLDS W.J.; POLLAK, D. F. Fibromialgia. Revista da Clínica Médica (ARS CVRANDI), abril. 1993. WOLFE, F; CATHEY, M.A.; KLEINHEKSEL, S.M. – Fibrositis (fibromyalgia) in rheumatoid arthritis. J. Rheumatol, 1984. • SILVA, L.C; ABREU, A.C; PELEGRINO, P.S; COELHO, O.S. O Valor da contagem de pontos dolorosos no diagnóstico clínico da fibromialgia. Rev. Bras. Reumatol, v.37,1997. • WIGERS, S.H.; STILES, T.C.; VOGEL, P.A. – Effects of aerobic exercise versus stress management treatment in fibromyalgia. A 4.5 year prospective study. Scand. J. Rheumatol, 1996. E-mail Relator: marcelosousamaia@yahoo.com.br
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