Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tecnologia Mecânica II 2o Ciclo de Mecânica 1 DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO DE FERRO-CARBONO (Fe-C) As ligas de ferro – carbono são as mais utilizadas dentre todas as ligas metálicas. O ferro é um metal abun- dante na crosta terrestre e caracteriza-se por ligar-se com outros elementos, metálicos ou não metálicos, dos quais o principal é o carbono. O diagrama ferro - carbono é funda- mental para facilitar a compreensão sobre o que ocorre com as ligas ferrosas quando submetidas a operações de trata- mento térmico, que modificam suas propriedades mecâni- cas para aplicações sob as mais variadas condições de serviço. Inicialmente, observaremos as transformações do elemento ferro quando submetido ao aquecimento ou res- friamento lentos. O ferro, como todos os metais tem uma estrutura cristalina. A disposição própria e regular dos átomos de cada metal, em forma de cristais, se chama rede cristalina ou reticulado cristalino. ALOTROPIA DO FERRO PURO *ALOTROPIA: é um fenômeno químico que consiste em poder um elemento químico cristalizar-se em mais de um sistema cristalino e ter por isso diferentes propriedades físicas. *FENÔMENO DE CRISTALIZAÇÃO: é o fenômeno em que as “células unitárias” se reúnem e forma uma rede cristalina ou retículo cristalino. *CÉLULA UNITÁRIA: é o agrupamento dos átomos metáli- cos que procuram ocupar posições definidas e ordenadas que se repetem em três dimensões formando uma figura geométrica regular. Os metais formam três importantes retículos crista- linos que são: I- RETICULADO CÚBICO DE CORPO CEN- TRADO (CCC) Contem 9 átomos Metais: Césio, Rubídio, Potássio, Sódio, Tungstênio, Mo- libdênio, Vanádio, e Ferro. (temperatura ambiente) II- RETICULADO CÚBICO DE FACE CENTRADA (CFC) Contem 14 átomos Metais: Cálcio, Chumbo, Ouro, Prata, Alumínio, Cobre, Cobalto, Níquel, e Ferro. (temperaturas elevadas) III- RETÍCULO HEXAGONAL COMPACTO (HC) (Disposição compacta) Contém 17 átomos Metais: Magnésio, Zinco , Titânio , etc... O conjunto de “células unitárias” forma os cristais. Os cristais adquirem contornos irregulares, devido aos pontos de contato de cada conjunto e desse modo passam a rece- ber o nome de “GRÃOS CRISTALINOS”. O “Graõ Cristalino” é constituídos por milhares de células unitárias. Os grãos podem ser observados melhor com auxí- lio de um microscópio metalográfico. A figura, abaixo, ilustra uma peça de aço de baixo teor de carbono, com a superfí- cie polida e atacada quimicamente ampliada muitas vezes. Grão Cristalino Os quadradinhos são as Células Unitárias. Tecnologia Mecânica II 2o Ciclo de Mecânica 2 As regiões claras e escuras, todas com contornos bem definidos como se fossem uma colmeia, são os grãos. O ferro sólido, quando aquecido ou resfriado, a- presenta diferentes estruturas em seu reticulado cristalino; conseqüentemente, suas propriedades também ficam dife- rentes. Esse fenômeno se denomina alotropia e é represen- tado pelas letras do alfabeto grego: a, b, g, d, etc. O gráfico a seguir mostra a curva característica de resfriamento ou aquecimento. do ferro puro e sua corres- pondente transformação alotrópica. No intervalo de 1538ºC e 1394ºC o ferro puro se solidifica em reticulado cúbico de corpo centrado CCC, chamado Fe d (ferro delta). A 1394ºC se realiza a reestruturação do reticulado cúbico de corpo centrado em reticulado cúbico de face centrada, permanecendo até 912ºC. O reticulado cúbico de face centrada CFC denomina-se Fe g (ferro gama) ou aus- tenita. A 912ºC o ferro puro sofre mudança na estrutura do reticulado novamente para cúbico de corpo centrado CCC, chamado Fe a ( ferro alfa) ou ferrita. Abaixo dessa temperatura, a estrutura do reticulado do ferro é cúbica de corpo centrado. O trecho abaixo de 770ºC não representa mudan- ça de estrutura do reticulado, mas o surgimento de propri- edades magnéticas do ferro; o Fea abaixo de 770ºC é magnético e acima de 770ºC não tem propriedades magné- ticas. A mudança estrutural do reticulado cristalino do ferro traz consigo a modificação de suas propriedades; assim, o Fea quase não dissolve o carbono; o Feg dissolve até 2,11% de carbono e o Fe d dissolve até 0,09% de car- bono. Essa situação ocorre devido à estrutura cúbica de face centrada do Feg apresentar uma distância maior entre os átomos do que a estrutura cúbica de corpo centrado do Fea e Fed, então é mais fácil aceitar átomos estranhos, como por exemplo, átomos de carbono. A esse fenômeno damos o nome de solubilidade no estado sólido. O ferro puro raramente é usado, comumente está ligado com o carbono. No gráfico apresentado foi vista a curva de resfriamento ou aquecimento do ferro puro com indicações das formas alotrópicas e suas respectivas tem- peraturas de transformação. Nas ligas de ferro – carbono existem também as formas alotrópicas a e g, mas as tempe- raturas de transformação oscilam em função do teor de carbono na liga. O diagrama abaixo de fase ferro – carbono, auxilia na visualização dessas oscilações importantes para o estudo dos aços e ferros fundidos. Tecnologia Mecânica II 2o Ciclo de Mecânica 3 O diagrama de fase ferro – carbono pode ser divi- dido em três partes: · de 0 a 0,008%C - ferro puro · de 0,008 a 2,11%C - aço · de 2,11 a 6,69%C - ferro fundido Fases relevantes do diagrama ferro - carbono · Ferrita (a) - solução sólida de carbono em ferro CCC , existente até a temperatura de 912ºC, caracteriza-se pela baixa solubilidade de carbono no ferro, chegando ao máxi- mo de 0,0218% a 727ºC. · Austenita (g) - solução sólida de carbono em ferro CFC, existindo entre as temperaturas de 912ºC e 1495ºC, e com solubilidade máxima de carbono no ferro de 2,11% a 1148ºC. · Ferrita (d) – solução sólida de carbono em ferro CCC, sendo estável até 1538ºC, quando o ferro se liqüefaz. A solubilidade do carbono é baixa, atingindo um máximo de 0,09% a 1495ºC. Quando não houver referência contrária, o termo ferrita, subentenderá a ferrita a . · Cementita (Fe3C) - é um carboneto de ferro de alta dureza com teor de carbono de 6,69% de carbono. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -4- Linhas relevantes do diagrama fer- ro-carbono Linha A1 – indica a ocorrência de uma parada (Arrêt) duran- te a transformação. Assim ao resfriar um aço com 0,77% C, observa-se uma “parada” na temperatura de 727ºC, ou seja, enquanto a transformação g ®a+ Fe3C não se com- pletar a temperatura permanecerá constante. Linha A2 – indica a temperatura de transformação magnéti- ca do ferro CCC a 770ºC. Linha A3 – indica a temperatura de transformação g ®a. À medida que o teor de carbono vai aumentando, a tempera- tura A3 vai diminuindo, até o limite de 727ºC, onde se en- contra com A1. Linha Acm – indica a temperatura de transformação g ® Fe3C. Inicia-se a 727ºC com 0,77% C e vai aumentando com a elevação do teor de carbono, até atingir 1148ºC a 2,11% C. Linha Solidus – indica que abaixo desta linha todo material estará no estado sólido. Linha Liquidus – indica que acima desta linha todo material estará na forma líquida. Pontos relevantes do diagrama ferro- carbono Ponto eutético - indica a presença de uma liga eutética, com 4,3% C a 1148ºC Ponto eutetóide ?indica a presença de uma liga eutetóide, com 0,77%C a 727ºC. Componentes da estrutura dos aços No ponto eutetóide se verifica uma transformação impor- tanteno estudo dos aços, ou seja um aço com 0,77%C acima de 727ºC encontra-se no estado de austenita. No ponto eutetóide a austenita se transforma em uma mistura de duas fases – ferrita e cementita - que se denomina perli- ta. A perlita tem uma estrutura finamente raiada que, seme- lhante a madrepérola, está formada de lâminas finíssimas superpostas, alternando-se uma camada de ferrita e outra de cementita, conforme a figura a seguir. Assim os aços com 0,77% C são chamados de eutetóides. Aços com menos de 0,77%C são chamados hipoeutetóides e com mais de 0,77%C são chamados hipereutetóides. Embora a perlita não seja uma fase, e sim um constituinte, é possível prever quais são as microestruturas presentes nos aços após o resfriamento lento. Os aços hipoeutetóides (até 0,77%C) apresentam em sua microestrutura ferrita e perlita conforme mostra a figura esquemática abaixo. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -5- A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço hipoeutetóide com aproximadamente 0,3%C, sub- metido ao ataque reativo de nital, ampliado 200 vezes. Os grãos escuros são de perlita e os grãos brancos são de ferrita. Os aços eutetóides (0,77%C) apresentam em sua microes- trutura somente perlita, conforme mostra a figura esquemá- tica abaixo. A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço eutetóide com 0,77%C, submetido ao ataque reativo de nital, ampliado 1000 vezes. Nota-se a estrutura lamelar; as linhas escuras representan- do a cementita e as linhas brancas a ferrita Os aços hipereutetóides (0,77% a 2,11%C) apresentam em sua microestrutura perlita e cementita, conforme mostra a figura esquemática a seguir. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -6- A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço hipereutetóide com aproximadamente 1%C, submetido ao ataque reativo de picral, ampliado 200 vezes. Nota-se que a cementita está disposta em torno dos grãos de perlita, formando uma rede. Os aços hipoeutetóides apresentarão tanto maior quanti- dade de ferrita quanto menos carbono contiverem, e os aços hipereutetóides tanto maior quantidade de cementita quanto mais se aproximarem do teor de 2,11% de carbono. A figura a seguir mostra de modo esquemático o teor de carbono e sua microestrutura correspondente. Interpretação final dos diagrama Os aços hipoeutetóides (0,4%C por exemplo) têm pouco carbono, portanto há pouca perlita e quase nenhuma ce- mentita livre. A maior parte de massa constitui-se de ferrita que é Fea , caracterizando-se pela baixa dureza, porém com alta ductilidade. O diagrama de fase apresentado a seguir, indica as fases presentes nos pontos determinados e o respectivo estado físico do aço hipoeutetóide com 0,4% C, quando submetido ao resfriamento lento. Ponto Temperaturaaproximada Estado físico Fases presentes Comentários A 1600ºC líqüido líqüida Toda a matéria líqüida. Todo o carbono dissolvido B 1480ºC líqüido líqüida Início da solidifica- ção. Forma-se o primeiro cristal sólido C 1450ºC mistura líqüida + sólida Campo bifásico. O líqüido vai trans- formando-se continuamente em austenita D 1350ºC sólido austenita Todo material solidificado. O ultimo líqüido solidificou-se E 1000ºC sólido austenita Apenas sólido presente – auste- nita - é Fe CFC com todo carbono dissolvido F 780ºC sólido austenita Início da transfor- mação da austeni- ta em ferrita. O carbono começa a liberta-se G 750ºC sólido austenita + ferrita CFC transforma- se continuamente em CCC, libertan- do carbono para formar a perlita H 727ºC sólido perlita + ferrita Completada a transformação I <727ºC sólido perlita + ferrita Material pronto para ser utilizado Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -7- Nos aços hipereutetóides ( 0,9%C por exemplo), devido ao alto teor de carbono, teremos a formação de cementita mais a perlita. O diagrama de fase apresentado a seguir mostra as fases presentes e o respectivo estado físico do aço hipereutetóide com 0,9% C ,quando submetido ao resfriamento lento. Ponto Temperaturaaproximada Estado físico Fases presentes Comentários A > 1500ºC líqüido líqüida Toda a matéria líqüida. Todo o carbono dissolvido. B 1500ºC líqüido líqüida Início da solidifica- ção. Forma-se o primeiro cristal sólido. C 1450ºC mistura líqüida + sólida Campo bifásico. O líqüido vai trans- formando-se conti- nuamente em austenita. D 1430ºC sólido austenita Todo material solidificado. O último líqüido solidificou-se. E 1000ºC sólido austenita Apenas sólido presente - austenita - é Fe CFC com todo carbono dis- solvido. F 800ºC sólido austenita Início da transfor- mação da austenita em cementita. O carbono começa a libertar-se. G 760ºC sólido austenita + cementita CFC transforma-se continuamente em CCC, libertando carbono para for- mar a cementita. H 727ºC sólido perlita + cementita Completada a transformação. I < 727ºC sólido perlita + cementita Material pronto para ser utilizado. Efeito da velocidade de resfriamento nos aços Um aço resfriado muito lentamente a partir do cam- po austenítico apresentará, em temperatura ambiente, uma ou mais das fases ferrita, perlita e cementita, dependendo de seu teor de carbono. Porém, se o resfriamento do aço a partir da região austení- tica for muito rápido impede-se a formação da perlita. Cer- tamente produz-se um rearranjo cúbico de face centrada (CFC) para cúbico de corpo centrado (CCC), porém os átomos de carbono permanecem retidos em seu núcleo. Como o resfriamento é rápido e a dimensão do reticulado cristalino a é menor que a dimensão do reticulado cristali- no g, o carbono é forçado a permanecer no reticulado crista- lino a, causando deformação e tensão, a conseqüência disso é uma estrutura dura, quebradiça, acicular denomina- da martensita, que não é prevista no diagrama ferro carbo- no. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -8- Tratamento Térmico Tratamentos térmicos são ciclos térmicos a que são submetidos os aços. São compostos por operações de aquecimento, a uma velocidade adequada, com perma- nência por tempo suficiente em temperatura de tratamento correta e velocidade de resfriamento compatível com o objetivo desejado. Os tratamentos térmicos visam alterar a estrutura natural dos aços, conferindo ou melhorando suas proprie- dades mecânicas. Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são os seguintes: · remoção de tensões internas (oriundas de resfria- mento desigual, trabalho mecânico ou outra causa); · aumento ou diminuição da dureza; · aumento da resistência mecânica; · melhora da ductilidade; · melhora da usinabilidade; · melhora da resistência ao desgaste; · melhora das propriedades de corte; · melhora da resistência à corrosão; · melhora da resistência ao calor; · modificação das propriedades elétricas e magnéti- cas. Fatores de influência nos tratamen- tos térmicos O tratamento térmico é composto por um ciclo de tempo - temperatura, e os fatores mais importantes a considerar são: aquecimento, tempo de permanência nessa temperatu- ra e resfriamento. Aquecimento, como o objetivo principal do tratamento térmico é a modificação de suas propriedades mecânicas. Verifica-se que isso sóé conseguido mediante uma altera- ção em sua estrutura. Assim sendo, o aquecimento é feito acima da zona crítica até sua completa austenitização, ou seja, a dissolução total do carboneto de ferro no ferro ga- ma. O diagrama de fase Fe-C permite visualizar as tempe- raturas mínimas de transformação alotrópica em função do teor de carbono do aço em tratamento. Na fase de aquecimento, dentro do processo de tratamento térmico, são apropriadamente consideradas a velocidade e a temperatura máxima de aquecimento. A velocidade de aquecimento deve ser adequada à com- posição e ao estado de tensões do aço. Como tendência geral, o aquecimento muito lento provoca um crescimento excessivo dos grãos de austenita, tornando o aço frágil. Por outro lado, um aquecimento muito rápido em aços ligados ou em aços com tensões internas (provo- cadas por fundição, forjamento, etc.) poderá provocar em- penamento ou mesmo aparecimento de fissuras. A temperatura de aquecimento deverá ser adequada para que ocorram as modificações estruturais desejadas. Se ela for inferior a temperatura de transformação, as modifica- ções não ocorrerão; se for demasiadamente superior ocor- rerá um crescimento indesejável dos grãos de austenita. Essa temperatura de aquecimento depende da composição química do aço e principalmente do seu teor de carbono. A figura a seguir mostra de modo esquemático o crescimen- to do grão da austenita devido a temperaturas excessivas. Na prática, o máximo que se admite é 50ºC acima de A3 para os aços hipoeutetóides. Para os aços hipereutetóides, devido à necessidade de altas temperaturas para dissolu- ção do carboneto de ferro, será inevitável o crescimento de grão de austenita. No tratamento térmico, o crescimento do grão de austenita é mais prejudicial que a presença de carboneto não dissolvido; assim, a temperatura recomen- dada é inferior à linha Acm , mais precisamente, 50ºC acima de A1. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -9- Tempo de permanência na temperatura de aquecimento – o tempo de permanência na mesma temperatura deve ser o suficiente para que as peças se austenitizem de modo uniforme em toda a secção. Se o tempo de permanência for além do necessário, pode haver indesejável crescimento dos grãos de austenita. Empiricamente, adotam-se 2 minu- tos por milímetro de espessura. Assim, para uma peça com 20mm de espessura serão necessários 40 minutos de per- manência na temperatura de aquecimento para a completa difusão dos elementos da liga na austenita. Resfriamento – Este é o fator mais importante do ponto de vista de tratamento térmico, pois a velocidade de resfria- mento determinará efetivamente a estrutura e as proprieda- des finais desejadas. Os meios de resfriamento usuais são: ambiente do forno, ar e meios líqüidos. O quadro abaixo apresenta em ordem crescente de velocidade alguns meios de resfri- amento. Meio de resfriamento Solução aquosa a 10% NaOH Solução aquosa a 10% NaCL Solução aquosa a 10% Na2CO3 Água a 0ºC Água a 18ºC Água a 25ºC Óleo 1 Óleo 2 Óleo 3 Água a 50ºC Tetracloreto de carbono Água a 75ºC Água a 100ºC Ar liqüido Ar Vácuo A próxima figura permite comprovar a importância do diagrama de resfriamento contínuo na determinação dos constituintes e suas respectivas propriedades, que resultam de quando os aços são submetidos a diferentes velocidades de resfriamento. Examinando a figura podemos concluir que: um aço esfriado muito lentamente, no forno, por exemplo (cur- va A), começa a se transformar em perlita ao atingir o ponto Ai e, ao atingir Af, é inteiramente Transformado em perli- ta. Essa perlita é de granulação grosseira e apresenta baixa dureza; logo, aços esfriados muito lentamente apresentam, em temperatura ambiente, o constituinte perlita de granula- ção grosseira e de baixa dureza. Com esfriamento mais rápido, em ar, por exemplo (curva B), o aço apresentará perlita fina, com dureza ele- vada. Com velocidade de esfriamento maior, em óleo (cur- va C), a transformação iniciada em Ci e terminada em Cf dá como constituinte perlita mais fina, com dureza maior. Com resfriamento ainda mais rápido (curva D), verifica-se que o início de transformação se dá no ponto Di. A velocidade de esfriamento agora é tal que não possibilita que a curva de esfriamento D toque na curva de fim de transformação, de modo que a transformação em perlita apenas se inicia, interrompendo-se em seguida e, ao atingir o ponto DMi, a austenita que não se transformou passa a martensita, cuja formação termina em DMf. A estrutura resultante dessa velocidade de esfriamento é simultaneamente perlita e martensita. Com esfriamento muito rápido (curva F), em água, verifica-se que a curva de esfriamento não toca na curva de transformação, de modo que não há transformação da austenita em produto lamelar, mas simplesmente passagem a martensita, quando, no esfriamento, são atingidas as temperaturas correspondentes a Mi e Mf. Logo, os aços esfriados mais rapidamente são os mais duros. Há uma curva de esfriamento (curva E), que tangencia a curva C de início de transformação para esfriamento contínuo. Essa velocidade de esfriamento, denominada velocidade crítica de têmpera, indica que é desnecessário esfriar-se o aço mais rapidamente para que se produza estrutura martensí- tica. Pode-se definir a velocidade crítica de esfriamento (ou de têmpera) como “a menor velocidade de esfriamento que produzirá estrutura inteiramente martensítica”. Em última análise, o tratamento térmico será esco- lhido de acordo com a estrutura e as propriedades que se desejam. Assim, quando se visa obter a máxima dureza, deve-se procurar produzir a estrutura martensítica, isto é, escolher um tratamento térmico com esfriamento rápido. Quando se visa ao mínimo de dureza, é necessária a es- trutura perlítica, ou seja um resfriamento lento. Efeitos da secção da peça - A velocidade de es- friamento é afetada pela secção da peça, pois seu interior se esfria mais lentamente que a superfície. A figura abaixo mostra de modo esquemático o esfriamento do centro e o da superfície de uma peça em três meios de esfriamento diferentes. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -10- Formas de tratamento térmico do aço Recozimento – é o tratamento térmico que visa reduzir a dureza do aço, aumentar a usinabilidade, diminuir a resis- tência à tração, remover tensões de trabalhos a frio ou a quente, atingindo a microestrutura ou as propriedades de- sejadas. Existem, basicamente, 3 tipos principais de reco- zimento: · Recozimento total ou pleno. · Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico. · Esferoidização. Recozimento total ou pleno – consiste em austenitizar o aço a uma temperatura de mais ou menos 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides e de 50ºC acima de A1 para hipereutetóides. O aço deve ser mantido nesta tempe- ratura o tempo suficiente para que ocorra a solubilização do carbono e dos outros elementos de liga na austenita. Em seguida, deve-se fazer um resfriamento lento dentro do próprio forno, controlando-se a velocidade de resfriamento de aproximadamente 25ºC por hora. O diagrama de fase Fe-C apresentado abaixo mostra de modo esquemático as faixas de temperatura para o recozimento pleno. Obtém-se, no recozimento pleno, uma estrutura de perlita grosseira que é a microestrutura ideal para melhorar a usi- nabilidade dos aços de baixo e médio teor de carbono (0,2% a 0,6%C); para aços de alto carbono, é preferível a estrutura “esferoidita”; obtida pelo coalescimento. A figura abaixo indica que os constituintes estruturais que resultam do recozimento plenosão: perlita para os aços eutetóide, perlita e ferrita para os aços hipoeutetóides e perlita e cementita para os aços hipereutetóides. Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico - consiste no aquecimento do aço a uma temperatura entre 10ºC e 20ºC abaixo de A1, objetivando aliviar tensões pro- vocadas por transformações mecânicas, corte por chama, soldagem, etc. A peça deve ser mantida a essa temperatura de 1 a 2 horas e, em seguida, resfriada lentamente no próprio forno, na cal ou ao ar livre. A figura a seguir mostra esquematicamente as faixas de temperaturas utilizadas no recozimento para alívio de tensões ou subcrítico. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -11- Esferoidização - o recozimento de esferoidização aplica- se principalmente em aços de médio e alto teor de carbono, com a finalidade de melhorar a usinabilidade. O tratamento objetiva transformar a rede de lâminas de cementita, em forma globular ou esferoidal de carboneto, em aço. A figura a seguir mostra esquematicamente a microestrutura do aço, antes e após o recozimento de esferoidização. Antes Depois Para ocorrer essa transformação, o aço deve ser aquecido entre 680ºC e 750ºC. Esta temperatura deve ser mantida o tempo suficiente para homogeneizar a temperatura em toda a peça e o resfriamento deve ser lento, cerca de 10º a 20ºC por hora. A figura a seguir mostra esquematicamente as faixas de temperaturas utilizadas no recozimento de esferoidização. Normalização ? esse tratamento térmico consiste na aus- tenitização completa do aço, seguida de resfriamento em ar tranqüilo. A figura abaixo mostra no diagrama Fe-C que a faixa de temperatura para a normalização, supera a linha A3 para os aços hipoeutetóides e a linha Acm para os aços hipereutetóides. Essa temperatura situa-se entre 35ºC e 40ºC, conforme o teor de carbono do aço em consideração. O objetivo deste tratamento é obter uma microestrutura mais fina e homogênea dos cristais. A normalização é usa- da no aço, após a fundição, forjamento ou laminação, pre- parando-o para uma boa resposta à têmpera. Têmpera - é um tratamento térmico que executamos no aço com teor de carbono maior que 0,3%C, com a finalida- de de obter combinações de dureza e resistência mecânica. A estrutura que permite tais combinações é a estrutura martensítica. A têmpera é composta por um conjunto de três etapas: aquecimento, manutenção numa determinada temperatura e resfriamento. No aquecimento, o aço deve ser austenitizado em torno de 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides. Para aços hipereutetóides a temperatura é de 50ºC acima de A1, isto é, nos aços hipoeutetóides a ferrita e a perlita se transformam em austenita. Nos aços hipereutetóides a perlita se transforma em austenita e a cementita continua inalterada por ser um constituinte duro. A figura a seguir mostra no diagrama Fe-C a faixa de tem- peratura de têmpera em função da porcentagem de carbo- no no aço. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -12- A permanência do aço numa determinada temperatura deve ser suficiente para que a superfície e o centro da peça ad- quiram a mesma temperatura e ocorra a solubilidade com- pleta do carbono. Como regra, 2 minutos por milímetro de espessura do material são suficientes. O resfriamento na têmpera determina efetivamente a estru- tura martensítica, portanto ele deve ser feito em um meio que possibilite uma curva de resfriamento que passe à esquerda do cotovelo da curva em C , evitando assim a transformação da austenita em produtos normais. A figura a seguir mostra a curva de resfriamento para temperar aço 1080 ; a linha Mi indica o início, e a linha Mf, o fim da trans- formação da austenita em martensita. Revenido - é um tratamento térmico que normalmente se realiza após a têmpera com a finalidade de aliviar as ten- sões internas, diminuir a dureza excessiva e a fragilidade da martensita temperada, e, assim, aumentar a ductilidade e resistência ao choque. O revenido deve ser feito logo após a têmpera, para se evitar a perda de peças por ruptura provocada pelas tensões da têmpera. A figura a seguir mostra de modo esquemático o ciclo de têmpera e reveni- do. A temperatura do revenido varia em função do tipo de aço, dureza e característica mecânica desejada. O diagrama abaixo permite avaliar o efeito da temperatura de revenido sobre a dureza e a resistência ao choque de um aço 1045 temperado. Cada material possui uma curva característica. A temperatura de revenido também tem o objetivo de regularizar a dureza. Isso pode ser feito de duas manei- ras. Uma delas é experimental, e se revine a peça aos poucos a partir de 100ºC, medindo-se a dureza em cada faixa até que se obtenha a dureza desejada. Outra maneira é a consulta aos diagramas de revenido, onde se lê direta- mente o valor da temperatura em função da dureza deseja- da. Um exemplo de aplicação do diagrama é apresentado na figura abaixo. A manutenção numa determinada temperatura é um impor- tante fator para peças de massa elevada. Como regra, deve-se manter por 60 minutos, adicionando-se uma hora para cada polegada de espessura da peça. O esfriamento após o revenido é feito em ar livre, salvo nos casos de aços que sofrem um fenômeno chama- do fragilidade ao revenido (aços ligados ao Cr e Ni), quando revenidos nas faixas entre 260ºC e 315ºC e, também, entre 450ºC e 600ºC. É recomendado que, no caso de dúvida quanto à susceptibilidade do aço a este problema ou quan- do o revenido tiver que ser feito nestas faixas de temperatu- ra, que seja seguido de resfriamento brusco em água fria. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -13- Tratamentos Isotérmicos Esses tratamentos baseiam-se no conhecimento das curvas em C ou TTT e nos fenômenos que ocorrem durante o aquecimento e o resfriamento dos aços, possibili- tando substituir com vantagens os tratamentos térmicos convencionais. Dentre esses tratamentos, destacam-se a austêmpera e a martêmpera. Austêmpera - esse tratamento isotérmico aproveita as transformações da austenita que ocorrem a uma temperatu- ra constante. O constituinte que se origina na austêmpera é a bainita, que se caracteriza pela alta ductilidade, tenaci- dade e resistência mecânica, conhecida como “efeito mola”, portanto, com propriedades superiores à da martensita revenida. A austêmpera consiste em submeter o aço a uma seqüência de operações e transformações: · aquecimento a uma temperatura que possibilite a austenitização; como regra, seguir os parâmetros de aque- cimento da têmpera; · resfriamento num banho mantido a uma temperatura constante, geralmente entre 260ºC e 400ºC; · permanência no banho a essa temperatura para, iso- termicamente, ocorrer a transformação da austenita em bainita; · resfriamento até a temperatura ambiente, em ar livre ou banho de sal. A figura a seguir representa esquematicamente o diagrama de transformação da austêmpera. Martêmpera - esse tratamento consiste em interromper o resfriamento a partir da temperatura de austenitização, de modo a retardar o resfriamento do aço por alguns instantes em uma temperatura pouco superior à linha MI (temperatu- ra de início da transformação martensítica), resultando numa uniformização de temperatura na superfície e no centro das peças submetidas a esse tratamento. Esse pro- cedimento diminui a perda de peças por trincas e empenos, que são defeitos causados pelo resfriamento rápido da têmpera convencional.A martêmpera consiste em subme- ter o aço a uma seqüência de operações: · Aquecimento a uma temperatura de austenitização; · Resfriamento num meio fluido quente (óleo quente, banho de sal) até uma temperatura acima da transforma- ção martensítica (linha Mi ); · Manutenção nesse meio de resfriamento até a unifor- mização da temperatura entre a superfície e o núcleo da peça; · Resfriamento posterior a uma velocidade moderada (geralmente em ar) de modo a prevenir diferenças de tem- peratura entre a superfície e o núcleo das peças. Após a martêmpera, as peças são submetidas a uma operação comum de revenido, como se tivessem sido temperadas. A figura a seguir representa esquematicamen- te o diagrama de transformação da martêmpera. Têmpera superficial - Na têmpera superficial produz-se uma mudança da estrutura cristalina localizada apenas na superfície do aço, que adquire as propriedades e caracterís- ticas típicas da estrutura martensítica. Esse processo tem como objetivo aumentar consideravel- mente a resistência ao desgaste na superfície e manter a tenacidade do núcleo das peças tratadas. Devem ser empregados aços de 0,3% a 0,6% de teor de carbono. A têmpera superficial pode ser realizada por dois proces- sos: chama e indução. Têmpera por chama - o aquecimento da peça é feito por meio da incidência de uma chama oxiacetilênica na superfí- cie da peça, a uma temperatura acima da zona crítica (727ºC), atingindo uma camada predeterminada a endure- cer; em seguida é feito um resfriamento por jateamento de água. Existem dois métodos de aquecimento para têm- pera superficial : circular e linear. A figura a seguir mostra esquematicamente uma peça submetida ao método circu- lar combinado com o movimento progressivo giratório. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -14- A próxima figura mostra esquematicamente um dispositivo próprio para têmpera superficial linear. Têmpera superficial por indução - O calor para aquecer a peça até a temperatura de austenitização pode ser gerado na própria peça por indução eletromagnética.A peça a ser temperada é colocada dentro de uma bobina. Um gerador fornece a corrente elétrica de alta freqüência, que cria um campo magnético na bobina. Esse campo magnético pro- voca um fluxo de corrente elétrica na peça (princípio de indução). O aquecimento da peça é gerado pela resistên- cia do material ao fluxo da corrente elétrica. A figura a se- guir mostra o processo de têmpera superficial por indução. Alcançada a temperatura de têmpera, resfria-se rapidamen- te a peça por meio de um jato de água ou óleo. Tratamentos termoquímicos Os processos termoquímicos são aplicados nos aços com baixo teor de carbono com o objetivo de aumentar sua dureza superficial e a resistência ao desgaste, mantendo o núcleo dúctil e tenaz. Absorvendo um elemento endurecedor, o material modifica sua composição química superficial. A figura a seguir ilustra esta situação. Os tratamentos termoquímicos mais usados são: · cementação; · nitretação; · carbonitretação; · boretação. Esses tratamentos são feitos com substâncias sólidas, líquidas ou gasosas. Cementação – aplica-se a aços com até 0,30% de carbono e com baixo teor de elementos de ligas. A cementação é aplicada em peças como engrenagens, eixos, parafusos, etc., que necessitam de resistência mecâ- nica e de alta dureza na superfície e núcleo dúctil com boa tenacidade. O aço é colocado em um meio rico em carbono e aquecido a uma temperatura acima da temperatura de transformação em austenita, pois neste estado ele consegue dissolver melhor o carbono. A profundidade de penetração do car- bono depende do tempo de cementação. O diagrama abaixo mostra a influência do tempo e da tem- peratura na penetração superficial de carbono. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -15- Como o processo se dá por difusão, a camada superficial apresentará grande saturação do elemento carbono na superfície, decrescendo em direção ao núcleo como mostra a figura abaixo. As temperaturas de cementação mais elevadas favorecem a penetração reduzindo o tempo de cementação, porém, conferem uma granulação mais grosseira, o que reduz os limites de resistência a tração, torção, flexão, etc. Os valores mais usuais de temperatura de cementação oscilam de 850ºC a 950ºC. O tempo de cementação é determinado em função da es- pessura da camada cementada desejada, da temperatura e do meio cementante. Obviamente, quanto maior for o tem- po e mais alta a temperatura, mais profunda será a cama- da. A tabela abaixo relaciona o tipo de cementação com o mei- os cementantes Tipo de cementação Meios cementantes Sólida (caixa) Carvão vegetal duro Carvão coque 20% Ativadores 5 a 10% Líquida (banho em sais fundidos) Cianeto de sódio Cianeto de bário Cianato de sódio Cianato de bário Outros sais Gasosa (fornos de atmosfera) Gás metano Gás propano, etc. Os aços, depois de submetidos à cementação, devem ser temperados; geralmente não se faz o revenido, mas, se for necessário aliviar as tensões residuais da têmpera, faz-se, então o revenido com temperatura entre 160º e 200ºC. Nitretação – é um tratamento termoquímico de endureci- mento superficial semelhante à cementação, que se carac- teriza pela introdução superficial de nitrogênio no aço até uma certa profundidade, sob a ação de um ambiente nitro- genoso a uma temperatura determinada, para formar uma camada dura de nitretos. A nitretação é realizada com os seguintes objetivos: · obtenção de elevada dureza superficial, maior do que nos outros processos, exceto na boretação; · aumento da resistência ao desgaste; · aumento da resistência à fadiga; · aumento da resistência à corrosão; · melhoria de resistência superficial ao calor. A nitretação é realizada com temperatura inferior à zona crítica, de 500ºC a 560ºC, tornando as peças menos susce- tíveis a empenamentos ou distorções. Após a nitretação, não é necessário têmpera para produzir dureza na camada nitretada. A nitretação pode ser feita em meio líquido ou gasoso. O nitrogênio introduzido na superfície do aço combina-se com o ferro, formando uma camada de nitreto de ferro de eleva- da dureza. Na nitretação gasosa, o elemento nitretante é a amônia que se decompõe, parcialmente, fornecendo o nitrogênio. Nesse processo, o tempo de formação da camada é muito grande, como mostra o gráfico abaixo. Na nitretação líquida, o meio nitretante são banhos de sais fundidos, em geral cianetos e cianatos, responsáveis pelo fornecimento do nitrogênio. A nitretação líquida apresenta vantagens sobre a gasosa, pois confere ao aço camadas mais profundas em menos tempo e reduz a possibilidade de deformações. Oferece bons resultados também para os aços ao carbono. O gráfico a seguir mostra a influência do carbono e dos elementos de liga na profundidade da camada nitretada. Nota-se que a profundidade de penetração é tanto menor, quanto maior o teor de carbono. Carbonitretação – é um processo de introduzir carbono e nitrogênio no aço a partir de uma mistura gasosa apropria- da. O carbono provém de um gás rico em carbono e o ni- trogênio a partir da amônia. É um processo misto de ce- mentação a gás e nitretação a gás, e sua temperatura varia de 700ºC a 900ºC. O objetivo principal da carbonitretação é formar no aço uma camada resistente ao desgaste, de 0,07mm a 0,7mm, e é usada geralmente em peças de pe- queno porte, como componentes de máquinas de escrever, carburadores, relógios e aparelhos eletrodomésticos. Tecnologia Mecânica - II2o Ciclo de Mecânica -16- Boretação - e o processo mais recente entre os tratamen- tos superficiais nos aços carbono, aços liga, ferro fundido comum e nodular. O processo consiste no enriquecimento superficial do aço com de boro e se efetua em meio sólido de carboneto de boro a uma temperatura de 800ºC a 1050ºC. O composto formado na superfície da peça boretada é o boreto de ferro, com dureza elevadíssima, que, medida na escala Vickers, alcança 1700 kgf/mm2 a 2000 kgf/mm2 (16.680 MPa a 19.620 MPa). A alta dureza da camada boretada oferece elevada resis- tência ao desgaste e resistência à corrosão. Essa camada é resultado do tempo de boretação que varia de 1 a 8 horas. O diagrama a seguir permite verificar a profundidade da camada boretada em função do tempo e da temperatura. O aço boretado é usualmente temperado e revenido. Processos Metalúrgicos Fundição É o processo de fabricação de peças metálicas que consiste es- sencialmente em encher com metal líquido a cavidade de um mol- de com formato e medidas correspondentes aos da peça a ser fabricada. A fundição é um processo de fabricação inicial, porque permite a obtenção de peças com formas praticamente definitivas, com mí- nimas limitações de tamanho, formato e complexidade, e também é o processo pelo qual se fabricam os lingotes. É a partir do lingo- te que se realizam os processos de conformação mecânica para a obtenção de chapas, placas, perfis etc. Sempre que se fala em fundição, as pessoas logo pensam em ferro. Mas esse processo não se restringe só ao ferro, não. Ele pode ser empregado com os mais variados tipos de ligas metálicas, desde que elas apresentem as propriedades adequadas a esse processo, como por exemplo, temperatura de fusão e fluidez. Temperatura de fusão é a temperatura em que o metal passa do estado sólido para o estado líquido. Fluidez é a capacidade de uma substância de escoar com maior ou menor facilidade. Por exemplo, a água tem mais fluidez que o óleo porque escorre com mais facilidade. A fundição começou a ser usada pelo homem mais ou menos uns 3000 a.C. Fundiu-se primeiro o cobre, depois o bronze, e, mais recentemente, o ferro, por causa da dificuldade em alcançar as temperaturas necessárias para a realização do processo. A arte cerâmica contribuiu bastante para isso, pois gerou as técnicas básicas para a execução dos moldes e para o uso controlado do calor já que forneceu os materiais refratários para a construção de fornos e cadinhos. Sem dúvida, as descobertas da Revolução Industrial, como os fornos Cubilô os fornos elétricos, e a mecanização do processo, muito contribuíram para o desenvolvimento da fundição do ferro e, conseqüentemente, do aço. A maioria dos equipamentos de fundi- ção foi concebida basicamente nesse período, quando surgiram também os vários métodos de fundição centrífuga. Ao século XX coube a tarefa de aperfeiçoar tudo isso. Para entender melhor a importância disso, basta lembrar que a produção de máquinas em geral e de máquinas-ferramenta, má- quinas operatrizes e agrícolas é impensável sem a fundição. Estudando este módulo sobre processos de fabricação mecânica, você vai perceber que esses utilizam sempre produtos semi- acabados, ou seja, chapas, barras, perfis, tubos, fios e arames, como matéria-prima. Quer dizer, existem várias etapas de fabrica- ção que devem ser realizadas antes que o material metálico se transforme em uma peça. Por outro lado, a fundição parte diretamente do metal líquido e, no mínimo, economiza etapas dentro do processo de fabricação. Vamos, então, ver mais algumas vantagens desse processo. a) As peças fundidas podem apresentar formas externas e internas desde as mais simples até as bem complicadas, com formatos impossíveis de serem obtidos por outros processos. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -17- b) As peças fundidas podem apresentar dimensões limita- das somente pelas restrições das instalações onde são produzidas. Isso quer dizer que é possível produzir peças de poucos gramas de peso e com espessura de parede de apenas alguns milímetros ou pesando muitas toneladas. c) A fundição permite um alto grau de automatização e, com isso, a produção rápida e em série de grandes quantidades de peças. d) As peças fundidas podem ser produzidas dentro de padrões variados de acabamento (mais liso ou mais áspero) e tolerância dimensional (entre ± 0,2 mm e ± 6 mm) em função do processo de fundição usado. Por causa disso, há uma grande economia em operações de usinagem. Tolerância dimensional é a faixa dentro da qual uma medida qualquer pode variar. Por exemplo, o desenho especifica uma medida de 10 mm, com uma tolerância dimensional de ± 1. Isso quer dizer que essa medida pode variar entre 9 e 11 mm. e) A peça fundida possibilita grande economia de peso, porque permite a obtenção de paredes com espessuras quase ilimitadas. Essas vantagens demonstram a grande diversidade de peças que podem ser produzidas por esse processo e que os outros não conseguem alcançar. Para você ter uma idéia, um automóvel não poderia sair do lugar se não fosse o motor. Nele, a maioria das peças é feita por meio de processos de fundição. Fundição passo-a-passo A matéria-prima metálica para a produção de peças fundidas é constituída pelas ligas metálicas ferrosas (ligas de ferro e carbo- no) e não-ferrosas (ligas de cobre, alumínio, zinco e magnésio). O processo de fabricação dessas peças por meio de fundição pode ser resumido nas seguintes operações: 1. Confecção do modelo – Essa etapa consiste em cons- truir um modelo com o formato aproximado da peça a ser fundida. Esse modelo vai servir para a construção do molde e suas dimen- sões devem prever a contração do metal quando ele se solidificar bem como um eventual sobremetal para posterior usinagem da peça. Ele é feito de madeira, alumínio, aço, resina plástica e até isopor. 2. Confecção do molde – O molde é o dispositivo no qual o metal fundido é colocado para que se obtenha a peça desejada. Ele é feito de material refratário composto de areia e aglomerante. Esse material é moldado sobre o modelo que, após retirado, deixa uma cavidade com o formato da peça a ser fundida. 3. Confecção dos machos – Macho é um dispositivo, feito também de areia, que tem a finalidade de formar os vazios, furos e reentrâncias da peça. Eles são colocados nos moldes antes que eles sejam fechados para receber o metal líquido. 4. Fusão – Etapa em que acontece a fusão do metal. 5. Vazamento – O vazamento é o enchimento do molde com metal líquido. 6. Desmoldagem - Após determinado período de tempo em que a peça se solidifica dentro do molde, e que depende do tipo de peça, do tipo de molde e do metal (ou liga metálica), ela é retirada do molde (desmoldagem) manualmente ou por processos mecâni- cos. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -18- 7. Rebarbação – A rebarbação é a retirada dos canais de alimentação, massalotes e rebarbas que se formam durante a fundição. Ela é realizada quando a peça atinge temperaturas pró- ximas às do ambiente. Canais de alimentação são as vias, ou condutos, por onde o metal líquido passe para chegar ao molde. Massalote é uma espécie de reserva de metal que preenche os espaços que vão se formando à medida que a peça vai solidifican- do e se contraindo. 8. Limpeza - A limpeza é necessária porque a peça apre- senta uma série de incrustações da areia usada na confecção do molde. Geralmente ela é feita por meio de jatos abrasivos. Essa seqüência de etapas é a que normalmente é seguida no processo de fundição por gravidade em areia, que é o mais utiliza- do. Um exemplobem comum de produto fabricado por esse pro- cesso é o bloco dos motores de automóveis e caminhões. O processo de fundição por gravidade com moldagem em areia apresenta variações. As principais são: · fundição com moldagem em areia aglomerada com argila; · fundição com moldagem em areia aglomerada com resinas. A fundição por gravidade usa também moldes cerâmicos. Esse processo recebe o nome de fundição de precisão. Existe ainda um outro processo de fundição por gravidade que usa moldes metálicos. Quando são usados moldes metálicos, não são necessárias as etapas de confecção do modelo e dos moldes, por nós descritas. Outro processo que usa molde metálico é o processo de fundição sob pressão. Esses outros processos, você vai estu- dar com mais detalhes nas próximas aulas. Pelas informações desta parte da lição, você já percebeu a impor- tância da fundição para a mecânica. É uma etapa fundamental de todo o processo de produção e dele depende muito a qualidade que o produto terá ao chegar ao consumidor. Características e defeitos nos produtos fundidos Quando um novo produto é criado, ou quando se quer aperfeiçoar algo que já existe, o departamento de engenharia geralmente tem alguns critérios que ajudam a escolher o tipo de processo de fabri- cação para as peças projetadas. No caso da fundição, vários fatores podem ser considerados: · formato e complexidade da peça · tamanho da peça · quantidade de peças a serem produzidas · matéria-prima metálica que será usada Além disso, as peças fundidas apresentam características que estão estreitamente ligadas ao processo de fabricação como por exemplo: · acréscimo de sobremetal, ou seja, a camada extra de metal que será desbastada por processo de usinagem · furos pequenos e detalhes complexos não são feitos na peça porque dificultam o processo de fundição, embora apareçam no desenho. Esses detalhes são depois executados também por meio de usinagem. · arredondamento de cantos e engrossamento das paredes da peça para evitar defeitos como trincas e melhorar o preenchimento com o metal líquido. Como em todo o processo, às vezes, alguma coisa “sai errado” e aparecem os defeitos. Alguns defeitos comuns das peças fundidas são: · inclusão da areia do molde nas paredes internas ou externas da peça. Isso causa problemas de usinagem: os grãos de areia são abrasivos e, por isso, estragam a ferramenta. Além disso, causam defeitos na superfície da peça usinada. · defeitos de composição da liga metálica que causam o apare- cimento de partículas duras indesejáveis no material. Isso também causa desgaste da ferramenta de usinagem. · rechupe, ou seja, falta de material devido ao processo de solidi- ficação, causado por projeto de massalote malfeito. · porosidade, ou seja, a existência de “buraquinhos” dentro de peça. Eles se originam quando os gases que existem dentro do metal líquido não são eliminados durante o processo de vazamento e solidificação. Isso causa fragilidade e defeitos superficiais na peça usinada. O molde: uma peça fundamental Qualidade, hoje em dia, é muito mais que uma palavra. É uma atitude indispensável em relação aos processos de produção, se quisermos vencer a competição com os concorrentes; o que não é nada fácil. A qualidade da peça fundida está diretamente ligada à qualidade do molde. Peças fundidas de qualidade não podem ser produzidas sem moldes. Por isso, os autores usam tanto o material quanto o método pelo qual o molde é fabricado como critério para classificar os processos de fundição. Portanto, é possível classificar os pro- cessos de fundição em dois grupos: 1. Fundição em moldes de areia 2. Fundição em moldes metálicos Nesta aula, não nos preocuparemos com a fundição em moldes metálicos. Vamos estudar apenas a moldagem em areia. Como já dissemos, esse processo de fundição, particularmente a moldagem em areia verde é o mais simples e mais usado nas empresas do ramo. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -19- A preparação do molde, neste caso, consiste em compactar mecâ- nica ou manualmente uma mistura refratária plástica chamada areia de fundição, sobre um modelo montado em uma caixa de moldar. Esse processo segue as seguintes etapas: 1. A caixa de moldar é colocada sobre uma placa de madei- ra ou no chão. O modelo, coberto com talco ou grafite para evitar aderência da areia, é então colocado no fundo da caixa. A areia é compactada sobre o modelo manualmente ou com o auxílio de marteletes pneumáticos. 2. Essa caixa, chamada de caixa-fundo, é virada de modo que o modelo fique para cima. 3. Outra caixa de moldar, chamada de caixa-tampa, é então posta sobre a primeira caixa. Em seu interior são colocados o massalote e o canal de descida. Enche-se a caixa com areia que é socada até que a caixa fique completamente cheia. 4. O canal de descida e o massalote são retirados e as caixas são separadas. 5. Abre-se o copo de vazamento na caixa-tampa. 6. Abre-se o canal de distribuição e anal de entrada na caixa-fundo e retira-se o modelo. 7. Coloca-se a caixa de cima sobre a caixa de baixo. Para prender uma na outra, usam-se presilhas ou grampos. Depois disso, o metal é vazado e após a solidificação e o resfria- mento, a peça é desmoldada, com o canal e o massalote retirados. Obtém-se, assim, a peça fundida, que depois é limpa e rebarbada. A seqüência da preparação do molde que descrevemos é manual. Nos casos de produção de grandes quantidades, usa-se o proces- so mecanizado com a ajuda de máquinas de moldar conhecidas como automáticas ou semi-automáticas que permitem a produção maciça de moldes em reduzido intervalo de tempo. Para que um produto fundido tenha a qualidade que se espera dele, os moldes devem apresentar as seguintes características essenciais: a) resistência suficiente para suportar a pressão do metal líquido. b) resistência à ação erosiva do metal que escoa rapida- mente durante o vazamento. c) mínima geração de gás durante o processo de vazamen- to e solidificação, a fim de impedir a contaminação do metal e o rompimento do molde. d) permeabilidade suficiente para que os gases gerados possam sair durante o vazamento do metal. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -20- e) refratariedade que permita suportar as altas temperaturas de fusão dos metais e que facilite a desmoldagem da peça. f) possibilidade de contração da peça, que acontece duran- te a solidificação. Areia de fundição é sempre verde?! Bem, para início de conversa, a fundição em moldes de areia verde não tem nada a ver com a cor verde. O processo tem esse nome somente porque a mistura com a qual o molde é feito mantém sua umidade original, quer dizer, não passa por um processo de seca- gem. A matéria-prima para esse tipo de moldagem é composta basica- mente por um agregado granular refratário chamado de areia-base que pode ser sílica, cromita ou zirconita, mais argila (como aglome- rante) e água. Tanto metais ferrosos quanto não-ferrosos podem ser fundidos nesse tipo de molde. Os moldes são preparados, o metal é vazado por gravidade, e as peças são desmoldadas durante rápidos ciclos de produção. Após a utilização, praticamente toda a areia (98%) pode ser reutilizada. Esse processo de moldagem é facilmente mecanizável, sendo realizado por meio de máquinas automáticas. Como qualquer outro processo, apresenta vantagens e desvanta- gens que estão listadas a seguir: Vantagens Desvantagens 1. A moldagem por areia verde é o mais barato dentre todos os métodos de produção de moldes. 2. Há menos distorção de formato do que nos méto- dos que usam areia seca, porque não há necessidade de aquecimento. 3. Ascaixas de molda- gem estão prontas para a reutilização em um mínimo espaço de tempo. 4. Boa estabilidade dimensional. 5. Menor possibilidade de surgimento de trincas. 1. O controle da areia é mais crítico do que nos outros proces- sos que também usam areia. 2. Maior erosão quando as peças fundidas são de maior tamanho. 3. O acabamen- to da superfície piora nas peças de maior peso. 4. A estabilida- de dimensional é me- nor nas peças de maior tamanho. Foram as desvantagens que obrigaram os fundidores a procurar outros tipos de materiais aglomerantes que pudessem ser mistura- dos com a areia. Isso levou à utilização das resinas sintéticas que permitiram o aparecimento de processos de modelagem como “shell molding”, caixa quente e por cura a frio. O molde fica mais resistente O uso das resinas foi um grande aperfeiçoamento na utilização de areia para a produção de moldes de fundição. A areia não precisa mais ser compactada porque o aglomerante, que é como uma espécie de cola, tem a função de manter juntos os grãos de areia. E isso é feito de dois modos: a quente ou a frio. Um dos processos, que usa calor para provocar a reação química entre o aglomerante e os grãos da areia, é aquele chamado de “shell molding”, que em português quer dizer moldagem de casca. Ele é realizado da seguinte maneira: 1. Os modelos, feitos de metal para resistir ao calor e ao desgaste, são fixados em placas, juntamente com os sistemas de canais e os alimentadores. 2. A placa é presa na máquina e aquecida por meio de bicos de gás até atingir a temperatura de trabalho (entre 200 e 250ºC). 3. A placa é então girada contra um reservatório contendo uma mistura de areia/resina de modo que o modelo fique envolto por essa mistura. 4. O calor funde a resina que envolve os grãos de areia e essa mistura, após algum tempo (±15 segundos), forma uma casca (“shell”) com a espessura necessária (entre 10 e 15 mm) sobre o modelo. 5. A “cura” da casca, ou seja, o endurecimento da resina se completa quando a placa é colocada em uma estufa em temperatu- ras entre 350 e 450ºC. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -21- 6. Após 2 ou 3 minutos, a casca é extraída do modelo por meio de pinos extratores. Por causa da característica do processo, a casca corresponde a uma metade do molde. Para obter o molde inteiro, é necessário colar duas metades. Esse processo de moldagem permite que os moldes e machos sejam estocados para uso posterior. Além disso, ele fornece um bom acabamento para a superfície da peça, alta estabilidade di- mensional para o molde, possibilidade de trabalhar com tolerâncias mais estreitas, facilidade de liberação de gases durante a solidifi- cação. É totalmente mecanizado e automatizado e é adequado para peças pequenas e de formatos complexos. A fundição das peças é feita por gravidade. A maior desvantagem desse processo é o custo mais elevado em relação à moldagem em areia verde. Mas existe outra maneira de se obter o endurecimento, ou cura, da resina sem a utilização de calor. É o processo de cura a frio no qual a resina empregada se encontra em estado líquido. Para que a reação química seja desencadeada, adiciona-se um catalisador à mistura de resina com areia limpa e seca. Essa mistura é feita, por meio de equipamentos, na hora da molda- gem e deve ser empregada imediatamente porque a reação quími- ca de cura começa a se desenvolver assim que a mistura está pronta. O processo é o seguinte: 1. Os modelos, que podem ser feitos de madeira, são fixa- dos em caixas. 2. A mistura areia/resina/catalisador é feita e continuamente despejada e socada dentro da caixa, de modo a garantir sua com- pactação. 3. A reação de cura inicia-se imediatamente após a molda- gem e se completa algumas horas depois. 4. O modelo é retirado girando-se a caixa 180º. 5. O molde é então pintado com tintas especiais para fundi- ção. Estas têm duas funções: aumentar a resistência do molde às tensões geradas pela ação do metal líquido, e dar um melhor aca- bamento para a superfície da peça fundida. 6. O molde é aquecido com maçarico ou é levado para uma estufa para a secagem da tinta. Com esse processo, os fundidores obtêm moldes mais rígidos para serem usados para a produção de peças grandes e de formatos complicados com bom acabamento de superfície. O vazamento do metal é feito por gravidade. A cura a frio é um processo de moldagem mais caro quando com- parado aos outros processos que usam areia. Além disso, os cata- lisadores são compostos de substâncias ácidas e corrosivas, que exigem muito cuidado na manipulação porque são muito tóxicas. O que é um molde permanente Os processos de fundição por molde permanente usam moldes metálicos para a produção das peças fundidas. Por esses proces- sos realiza-se a fundição por gravidade ou por pressão. Usar um molde permanente significa que não é necessário pro- duzir um novo molde a cada peça que se vai fundir. A vida útil de um molde metálico permite a fundição de até 100 mil peças. Um número tão impressionante deveria possibilitar a extensão de seu uso a todos os processos de fundição. Só que não é bem assim. A utilização dos moldes metálicos está restrita aos metais com temperatura de fusão mais baixas do que o ferro e o aço. Esses metais são representados pelas ligas com chumbo, zinco, alumínio, magnésio, certos bronzes e, excepcionalmente, o ferro fundido. O motivo dessa restrição é que as altas temperaturas necessárias à fusão do aço, por exemplo, danificariam os moldes de metal. Os moldes permanentes são feitos de aço ou ferro fundido ligado, resistente ao calor e às repetidas mudanças de temperatura. Mol- des feitos de bronze podem ser usados para fundir estanho, chum- bo e zinco. Os produtos típicos da fundição em moldes permanentes são: bases de máquinas, blocos de cilindros de compressores, cabeço- tes, bielas, pistões e cabeçotes de cilindros de motores de automó- veis, coletores de admissão. Esses produtos, se comparados com peças fundidas em moldes de areia, apresentam maior uniformidade, melhor acabamento de superfície, tolerâncias dimensionais mais estreitas e melhores propriedades mecânicas. Por outro lado, além de seu emprego estar limitado a peças de tamanho pequeno e produção em grandes quantidades, os moldes permanentes nem sempre se adaptam a todas as ligas metálicas e são mais usados para a fabricação de peças de formatos mais simples, porque uma peça de formas complicadas dificulta não só o projeto do molde, mas também a extração da peça após o proces- so de fundição. Para fundir peças em moldes metálicos permanentes, pode-se vazar o metal por gravidade. Nesse caso, o molde consiste em duas ou mais partes unidas por meio de grampos para receber o metal líquido. Isso pode ser feito manualmente. A montagem dos moldes também pode ser feita por meio de dispo- sitivos mecânicos movidos por conjuntos hidráulicos, que coman- dam o ciclo de abertura e fechamento dos moldes. Tanto os moldes quanto os machos são cobertos com uma pasta adesiva rala feita de material refratário cuja função, além de prote- ger os moldes, é impedir que as peças grudem neles, facilitando a desmoldagem. Fundição sob pressão Os moldes metálicos também são usados no processo de fundição sob pressão. Este consiste em forçar o metal líquido a penetrar na cavidade do molde, chamado de matriz. A matriz, de aço-ferramenta tratado termicamente, é geralmente construída em duas partes hermeticamente fechadas no momento do vazamento do metal líquido. O metal é bombeado na cavidade da matriz sob pressão suficiente para o preenchimento total de todos os seus espaços e cavidades. A pressão é mantida até que o metal se solidifique. Então, a matriz é aberta e a peça ejetada por meio de pinosacionados hidraulicamente. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -22- Muitas matrizes são refrigeradas a água. Isso é importante para evitar superaquecimento da matriz, a fim de aumentar sua vida útil e evitar defeitos nas peças. Para realizar sua função, as matrizes têm que ter resistência sufici- ente para agüentar o desgaste imposto pela fundição sob pressão, e são capazes de suportar entre 50 mil e 1 milhão de injeções. Máquinas de fundição sob pressão A fundição sob pressão é automatizada e realizada em dois tipos de máquina: · máquina de câmara quente; · máquina de câmara fria. Em princípio, o processo de fundição sob pressão realizado na máquina de câmara quente utiliza um equipamento no qual existe um recipiente aquecido onde o metal líquido está depositado. No seu interior está um pistão hidráulico que, ao descer, força o metal líquido a entrar em um canal que leva diretamente à matriz. A pressão exercida pelo pistão faz com que todas as cavidades da matriz sejam preenchidas, formando-se assim a peça. Após a solidificação do metal, o pistão retorna à sua posição inicial, mais metal líquido entra na câmara, por meio de um orifício, e o proces- so se reinicia. Uma representação esquemática desse equipamen- to é mostrada ao lado. Essa máquina é dotada de duas mesas: uma fixa e outra móvel. Na mesa fixa ficam uma das metades da matriz e o sistema de injeção do metal. Na mesa móvel localizam-se a outra metade da matriz, o sistema de extração da peça e o sistema de abertura, fechamento e travamento da máquina. Ela é usada quando o metal líquido se funde a uma temperatura que não corrói o material do cilindro e do pistão de injeção, de modo que ambos possam ficar em contato direto com o banho de metal. Se a liga se funde a uma temperatura mais alta, o que prejudicaria o sistema de bombeamento (cilindro e pistão), usa-se a máquina de fundição sob pressão de câmara fria, empregada principalmente para fundir ligas de alumínio, magnésio e cobre. O princípio de funcionamento desse equipamento é o mesmo. A diferença é que o forno que contém o metal líquido é uma unidade independente, de modo que o sistema de injeção não fica dentro do banho de metal. Veja representação esquemática ao lado. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -23- A máquina de fundição sob pressão em câmara fria pode ser: · horizontal, na qual o pistão funciona no sentido horizontal; · vertical, na qual o sistema de injeção funciona no sentido verti- cal. Vantagens e desvantagens Como todo o processo de fabricação, a fundição sob pressão tem uma série de vantagens e desvantagens. As vantagens são: · peças de ligas como a de alumínio, fundidas sob pressão, apresentam maiores resistências do que as fundidas em areia; · peças fundidas sob pressão podem receber tratamento de superfície com um mínimo de preparo prévio da superfície; · possibilidade de produção de peças com formas mais comple- xas; · possibilidade de produção de peças com paredes mais finas e tolerâncias dimensionais mais estreitas; · alta capacidade de produção; · alta durabilidade das matrizes. As desvantagens são: · limitações no emprego do processo: ele é usado para ligas não- ferrosas, com poucas exceções; · limitação no peso das peças (raramente superiores a 5 kg.); · retenção de ar no interior das matrizes, originando peças in- completas e porosidade na peça fundida; · alto custo do equipamento e dos acessórios, o que limita seu emprego a grandes volumes de produção. A indústria automobilística utiliza uma grande quantidade de peças fundidas sob pressão: tampas de válvulas, fechaduras, carcaças de motor de arranque, maçanetas, caixas de câmbio de máquinas agrícolas. O mesmo acontece com a indústria aeronáutica, que usa peças fundidas principalmente de ligas de alumínio e magnésio. Essa variedade de produtos indica a importância desse processo de fabricação dentro do setor de indústria metal-mecânica. Por isso, estude tudo com atenção e faça os exercícios a seguir. A Fundição Fica Automática A automação não é uma coisa nova. Máquinas e processos de fabricação automáticos existem há muito tempo. A própria linha de montagem, criada pela indústria automobilística para produzir uma grande quantidade de carros a baixo preço, é do começo deste século. Embora não contasse necessariamente com máquinas automáti- cas, a linha de montagem consistia na automação do processo de fabricação em si. Cada operário tinha uma função típica bem defi- nida, capaz de ser executada de forma repetitiva durante toda a jornada de trabalho. A partir da década de 50, a automação ganhou um importante aliado: o computador. As máquinas automáticas que passaram a utilizar o computador ganharam uma característica importante chamada flexibilidade, ou seja, a capacidade do processo de fabri- cação de se adaptar facilmente às mudanças do mercado consu- midor. Imagine, no seu caso que, alguns dias após ter aceito aquele pedi- do, o comprador da mesma empresa volte e lhe diga que os planos mudaram. A empresa fez uma pesquisa de mercado e decidiu lançar três modelos de produtos diferentes. Assim, em vez daquela única peça fundida agora serão três. E, em vez de seiscentas peças iguais, serão duzentas peças de cada tipo. Perceba que, agora, seu problema mudou. Embora a quantidade total de peças a serem fabricadas não tenha mudado, sua diversi- dade aumentou. As máquinas automáticas que utilizam computador destinam-se à solução deste tipo de problema. Nas máquinas simplesmente automáticas, a mudança de um produto para outro tem que ser feita trocando-se peças e efetuando regulagens demoradas. Nas máquinas computadorizadas, por outro lado, quando se deseja fabricar outro produto, basta definir uma nova seqüência de opera- ções. E essa nova seqüência de operações, que pode ser compa- rada a uma receita de bolo, é chamada de programa. Nosso amigo o computador Atualmente é quase impossível pensar em automação industrial sem se lembrar do nosso amigo computador. Ele está presente em praticamente todos os processos de fabricação. Na fundição não podia ser diferente. Sua utilização aqui começa já bem antes do vazamento do metal no molde. No projeto de uma peça a ser fundida já se utiliza o computador para analisar a capacidade dessa peça de suportar esforços sem se deformar ou romper, de suportar as variações de temperatura, de permitir o fluxo adequado de líquidos e gases, enfim, de cumprir sua futura função com eficiência. E, veja bem, toda essa análise é feita sem ter que se construir uma peça real. A fabricação só será aprovada quando estas análises concluírem que a peça funcionará adequadamente. Ainda na fase de projeto, outros aspectos, como por exemplo, a geometria da peça, são consideradas a fim de facilitar sua extração do molde. Outro ponto a ser analisado é a localização adequada dos canais de vazamento e distribuição do metal de modo que se propicie um enchimento correto do molde. As sobremedidas tam- bém são consideradas na fabricação do modelo, para que a peça, ao contrair durante o resfriamento, chegue ao seu tamanho correto. Todas essas tarefas são agilizadas com o auxílio do computador. Uma vez obtidos os desenhos finais da peça e do seu modelo de fundição, a fase seguinte é a de construção deste modelo. Construindo o modelo No processo convencional de construção do modelo, sua precisão dimensional e acabamento da superfície dependem quase que exclusivamente da habilidade de um profissional chamado modela- dor de fundição. Eles são verdadeiros artistas que esculpem, nor- malmente em madeira, as formas por vezes complexas da futura peça fundida.Muitas vezes, devido à sua geometria complicada, tais modelos precisam ser confeccionados por meio da montagem ou colagem de várias peças. É um trabalho delicado e demorado. Novamente a automação se faz presente para facilitar o trabalho. A partir do desenho do modelo realizado com o auxílio do computa- dor, produz-se um programa, ou seja, uma seqüência de opera- ções na forma de códigos. Este programa controla os movimentos da ferramenta de uma máquina operatriz computadorizada. A ferramenta, por sua vez, “esculpe” a geometria do modelo na ma- deira, metal, plástico, isopor ou outro material. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -24- O ser humano só aparece novamente para dar o acabamento final da superfície do modelo, eliminando as marcas deixadas pela ferramenta. A habilidade, visão e tato humanos necessários à realização desta tarefa ainda não conseguiram ser incorporados com sucesso em máquinas automáticas. Pronto e acabado o mo- delo, passa-se à construção do molde. A hora e a vez do molde A fabricação automatizada de moldes utiliza-se de máquinas de moldagem. Este tipo de máquina tem por objetivo aumentar a produção e a qualidade dos moldes e já existe há bastante tempo. No entanto, a operação das máquinas foi-se automatizando com o tempo, primei- ramente com o auxílio de mecanismos, depois com o uso de com- ponentes elétricos, principalmente os relês, e finalmente, utilizando- se de computadores. Ao homem restaram apenas as tarefas de supervisão e manutenção do equipamento, além da realização de uma ou outra tarefa operacional, como a colocação de grampos e parafusos para fechar o molde, cuja automação é inviável do ponto de vista técnico ou econômico. Essas máquinas apresentam as seguintes funções: · Receber as caixas dos moldes; · Preencher caixas com areia de moldagem; · Compactar a areia contra as paredes das caixas e contra o modelo; · Posicionar os machos; · Confeccionar os canais de vazamento; · Fechar a caixa. As mesmas técnicas utilizadas pelo homem na moldagem manual foram transferidas para essas máquinas. Assim, se o ser humano utiliza-se de vibradores manuais para facilitar a acomodação da areia na caixa do molde, a máquina também se utiliza da vibração com o mesmo propósito. Se o homem soca a areia utilizando fer- ramentas manuais, a máquina também o faz, porém agora com o uso de prensas pneumáticas ou hidráulicas. Dessa forma, para cada etapa de seu trabalho manual, o homem encontrou um mecanismo, de complexidade maior ou menor, des- tinado a substituí-lo. Em seguida, controlou esses vários mecanismos por meio de um computador que envia ordens para motores elétricos e pistões pneumáticos e fica sabendo o que se passa na máquina pelos componentes elétricos e eletrônicos: os sensores. Assim, podemos pensar no computador como o cérebro da máqui- na, os motores e pistões como seus braços, os sensores como seus olhos e ouvidos. E finalmente o programa, aquela seqüência de instruções semelhante a uma receita de bolo, lembra-se? Pois bem, o programa pode ser comparado, grosso modo, à inteligência da máquina. O vazamento Preparado o molde, este é levado por uma esteira transportadora à estação de vazamento. Esta estação é composta por cadinhos que são alimentados por metal líquido a partir de um forno de fusão. Esta etapa do processo de fundição traz, em relação à automação, uma justificativa adicional àquelas já vistas: a segurança industrial. O calor existente neste setor faz com que o trabalho dos operado- res seja bastante fatigante. Além disso, a repetição monótona da mesma operação e a presença de metais fundidos em elevadas temperaturas são convites aos acidentes de trabalho. Assim, as máquinas automáticas encontram aqui um campo de aplicação bastante promissor, tanto do ponto de vista econômico como de proteção à saúde do trabalhador. Dentre essas máquinas automáticas merecem destaque os robôs industriais, máquinas computadorizadas que, em alguns modelos, assemelham-se à anatomia de um braço humano. Os robôs podem realizar uma grande diversidade de tarefas, dentre elas o vazamen- to de metal líquido nos moldes. Finalmente, após o tempo de resfriamento, os moldes são abertos e as peças retiradas. Nesta etapa, a automação completa é difícil, principalmente se as peças são muito grandes ou se o número de tipos diferentes de peças é elevado. O objetivo básico desta etapa é separar as caixas, as peças fundidas e as areias do molde e dos machos. As caixas dos moldes retornarão à primeira fase do processo. Os canais de vazamento e distribuição deverão ser retirados das peças fundidas. Se as peças forem pequenas, esta etapa pode contar com a utilização de operações de tamboreamento. O pro- cesso que normalmente não é automático, consiste na colocação das peças a serem rebarbadas dentro de um recipiente rotativo: o tambor. Quando este tambor gira, as peças em seu interior cho- cam-se contra suas paredes e umas contra as outras. As rebarbas então, são retiradas pelo impacto e pelo atrito resultantes. Tecnologia Mecânica - II 2o Ciclo de Mecânica -25- Sem os canais, a peça ainda pode apresentar rebarbas que preju- dicam seu funcionamento e causam má impressão visual. Nesta fase, a utilização de robôs industriais tem-se mostrado bastante adequada. Com a utilização de ferramentas abrasivas rotativas, estas máquinas, obedecendo à seqüência de instruções – os pro- gramas – podem se adaptar à uma grande variedade de geometri- as de peças e rebarbar seus contornos com precisão e rapidez. Automação da fundição sob pressão O processo de fundição sob pressão apresenta, como você já viu em aulas anteriores, uma característica importante: utiliza uma máquina específica – a injetora – capaz de transformar diretamente a matéria-prima (metal líquido) em produto acabado. A automatização dessas injetoras pode ser feita sem o auxílio do computador, utilizando-se apenas componentes elétricos ou eletrôni- cos para controlar seus movimentos. Mas, as injetoras modernas não dispensam o computador. Esse computador recebe um nome dife- rente: CLP, abreviação de Controlador Lógico Programável. Nome bonito, hein?! Mas não se assuste. Ele não passa de um computador com uma tarefa bem definida: controlar máquinas. A partir de um programa, ou seja, aquela seqüência de ações que é colocada em sua memória, o CLP deve mandar “ordens” (sinais elétricos) para os motores elétricos e válvulas hidráulicas e pneu- máticas da máquina. Estas válvulas acionam os pistões que posi- cionam o bico do injetor no ponto desejado, fecham e abrem o molde e realizam, juntamente com os motores, os demais movi- mentos da máquina. Para completar a brincadeira, existem os sensores. Os sensores são dispositivos elétricos ou eletrônicos que informam ao CLP se a ordem enviada por ele foi cumprida adequadamente ou não. Caso seja necessário, o CLP toma providências para corrigir o desvio entre o que foi programado e o que realmente ocorreu. Além dos movimentos, o CLP também controla a pressão de injeção do metal, a força de fechamento do molde, a pressão e a vazão do óleo lubrificante, garantindo, assim, uma grande independência da operação da máquina em relação ao homem. Nas injetoras de câmara quente automáticas, o operador deve, periodicamente, abastecer o cadinho da máquina com lingotes de metal. Em muitos casos, mesmo esta tarefa é realizada automati- camente por meio de sistemas de alimentação que detectam o nível de metal no cadinho e o abastecem, caso seja necessário, com lingotes transportados a partir de um local de armazenamento. Nas injetoras de câmara fria, o metal líquido é abastecido em quan-
Compartilhar