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CAPÍTULo 1A carga elétrica Capítulo 112 1. Um pouco de história da eletricidade 2. O próton, o elétron e a carga elétrica A Eletricidade é uma das partes da Física que mais nos fascina e nos atrai para o seu estudo. Em nosso dia a dia nos deparamos a todo momento com aparelhos cujo funcionamento depende da eletricidade: lâmpada, geladeira, televisor, liquidi- fi cador, chuveiro elétrico, etc. A natureza também nos empolga com os seus fenô- menos elétricos: raios e relâmpagos. tudo isso sem entrar nos detalhes de estrutura da matéria. O desenvolvimento tecnológico depende do avanço do conhecimento sobre a Eletricidade. A simples curiosidade de “saber como funciona” qualquer um desses eletrodo- mésticos já seria sufi ciente para mergulharmos nos estudos da Eletricidade. Mas a curiosidade do homem vai muito além e chega ao campo investigativo das pesquisas científi cas. Eis que, lá no fundo desse baú, lhe aguarda a carga elétrica, a grande protagonista dos nossos estudos da eletricidade. 1. Um pouco de história da eletricidade A eletricidade foi descoberta na Grécia antiga (séc. VI a.C.). Conta-nos a história que o fi lósofo tales de Mileto observou o seguinte fenômeno: ao atritar uma pedra de âmbar (fi g. 1) na pele de um animal, provavelmente uma ovelha, e depois apro- ximá-la de objetos leves, tais como pena de passarinho e pedacinhos de palha, estes eram atraídos pelo âmbar. tales descobrira a eletricidade estática. A história também nos conta que os gregos já haviam observado um fenômeno magnético: uma pedra de magnetita (um ímã natural) era capaz de atrair pedaci- nhos de ferro. No entanto, apesar de as duas descobertas terem ocorrido num passado tão lon- gínquo, seus estudos pouco avançaram durante muitos séculos. Embora os chineses tenham construído a bússola no século I a.C., não a usaram para quase nada, pois as grandes navegações ocorreram somente no fi nal do século XV. No século XVI, um médico inglês, Willian Gilbert, fez alguns estudos sobre o magnetismo e a eletricidade e concluiu que: • as atrações de um ímã e de uma pedra de âmbar são de naturezas distintas; • não somente o âmbar, mas diversas substâncias se eletrizavam ao serem fric- cionadas: o vidro, a lã, a ebonite, o couro, etc. Esses materiais foram chamados materiais elétricos, uma menção à pedra de âmbar, que em grego se diz elektron; • uma bússola se orienta devido ao magnetismo da terra. Figura 1. O ‰mbar, um material resinoso, era usado antigamente para fabricar vários objetos. M It S U H IK O I M A M O r I/ M IN D E N p IC t U r E S /L A t IN S t O C K A carga elétrica 13 O francês Charles Du Fay, por volta de 1700, descobriu experimental- mente que corpos friccionados (eletrizados) podem atrair ou também re- pelir outros corpos eletrizados. Du Fay realizou os seguintes experimentos: 1. Friccionou dois pedaços de vidro com seda, eletrizando-os. A seguir, aproximou um do outro e estes se repeliram (fi g. 2). 2. Friccionou dois corpos de âmbar com lã, eletrizando-os. A seguir, apro- ximou-os e verifi cou que eles se repeliram (fi g. 3). 3. Finalmente aproximou um pedaço de vidro eletrizado do âmbar, tam- bém eletrizado; verifi cou que estes se atraíram (fi g. 4). A conclusão foi a seguinte: há dois tipos de eletricidade; uma delas é inerente ao vidro, e a outra é inerente ao âmbar, pois esses dois materiais se atraíram. Du Fay denominou as cargas elétricas do vidro de eletricida- de vítrea e as cargas elétricas do âmbar e outras resinas de eletricidade resinosa. Mais tarde Benjamin Franklin simplifi cou a nomenclatura e chamou a eletricidade vítrea de positiva e a resinosa de negativa. Desde então se estabeleceu um dos princípios fundamentais da eletricidade: • Corpos eletrizados com cargas positivas se repelem. • Corpos eletrizados com cargas negativas se repelem. • Corpos eletrizados com cargas de sinais contrários se atraem. No entanto, as experiências com a eletricidade estática não tiveram ne- nhuma aplicação prática fora dos laboratórios científi cos do século XVIII. O grande impulso da Eletricidade surgiu no fi nal desse século, em 1800, com a invenção da pilha (fi g. 5) por Alessandro Volta, um pesquisador italiano. Conta a história que ele teria tido a ideia da pilha ao colocar um disco de zinco sobre a própria língua e outro de cobre embaixo dela. Com um fi o uniu os dois discos e sentiu um formigamento na língua. Alessandro Volta verifi cou que dois metais diferentes separados por salmoura (água salgada) tinham o mesmo efeito que a sua saliva. Ele em- pilhou discos alternados de zinco e cobre, separados por papel embebido em salmoura, adicionou aos terminais de sua pilha dois fi os e percebeu que, ao encostar as duas pontinhas, saía uma faísca. Concluiu então que a eletricidade corria nos fi os e chamou o fenômeno de corrente elétrica. 2. o próton, o elétron e a carga elétrica A matéria é constituída por átomos, e estes, por sua vez, são cons- tituídos por três outros tipos de partículas: os elétrons, os prótons e os nêutrons. O modelo de átomo atual é constituído por um núcleo compacto, onde estão os prótons e os nêutrons, e uma região externa envolvente, a eletrosfera, onde se movem os elétrons (fi g. 6). Não sabemos exatamente como é o movimento de um elétron; a fi gura 6 é apenas ilustrativa. Sa- bemos também que alguns elétrons estão mais próximos do núcleo e que outros estão mais afastados. No modelo de Bohr, do átomo de hidrogênio, o elétron tem órbita circular. Figura 5. Modelo da pilha de Alessandro Volta. Figura 6. Modelo de um átomo. Z A p t A LA M Y /O t H E r I M A G E S LU IZ A U G U S t O r IB E Ir O elétron Legenda nêutron próton vidro vidro Figura 2. Vidros friccionados com seda. âmbar Figura 3. Âmbares friccionados com lã. âmbar vidro Figura 4. Vidro e âmbar eletrizados. âmbar Capítulo 114 Sabe-se atualmente que a quantidade de elétrons da eletrosfera é igual à quanti- dade de prótons no núcleo, também chamada número atômico. O átomo de uma substância X é diferente do átomo de outra substância Y, sendo que cada um deles tem o seu próprio número atômico. Assim, pelo número atômico reconhecemos a substância. Observe o exemplo a seguir: Um átomo de sódio possui 11 elétrons na eletrosfera e 11 prótons no seu núcleo (fig. 7). O número atômico do elemento químico sódio é 11. O átomo de magnésio possui 12 prótons e 12 elétrons; seu número atômico é 12 (fig. 8). Exemplo elétron Legenda nêutron próton Figura 7. Átomo de sódio: número atômico 11. Figura 8. Átomo de magnésio: número atômico 12. Nesse modelo atômico, chama-nos a atenção o elétron orbitando em torno do nú- cleo. Evidentemente há uma força centrípeta mantendo o elétron em órbita. A origem dessa força não poderia ser gravitacional, pois as massas dessas partículas são muito pequenas; a massa do próton é da ordem de 10–27 kg e a do elétron 10–30 kg. Se aplicás- semos a Lei da Gravitação Universal de Newton, obteríamos um valor incompatível com o da força centrípeta necessária para manter o elétron em órbita. Assim, resta uma segunda hipótese: a força que mantém o elétron em órbita tem outra natureza, é uma força elétrica. Experimentos mostraram que a força elétrica se manifesta entre prótons e elétrons (fig. 9), mas não entre os nêutrons: • Prótons se repelem. • Elétrons se repelem. • Próton e elétron se atraem. Dizemos, então, que prótons e elétrons são partículas dotadas de carga elétrica. Suas cargas têm sinais contrários e, por mera convenção, estabeleceu-se que a carga do próton seria a positiva e a do elétron, a negativa. Sabemos usar a carga elétrica, sabemos onde encontrá-la, mas não sabemos ainda o que é a carga elétrica. Aceitamos o seguinte: o próton e o elétron possuem massa e carga elétrica; usamos frases redundantes como: “se existe uma força elétrica entre dois corpos, é porque eles possuemcarga elétrica”, ou então, “entre dois corpos que possuem carga elétrica, há uma força elétrica”. Essa linguagem é aceita pelos físicos, pois é a que temos até o momento. Veremos durante o curso que o entendimento de um fenômeno elétrico vai muito além da noção exata do conceito de carga elétrica. Figura 9. IL U St r A ç õ ES : ZA pt – F – F elétron elétron + F + F próton próton – F + F elétron próton A carga elétrica 15 Quantidade de eletricidade ou carga elétrica Diversos experimentos mostram que o próton e o elétron possuem a mesma quan- tidade de eletricidade. Essa quantidade é denominada carga elementar e se indica por e. De modo geral, as quantidades de eletricidade são indicadas pelas letras Q ou q. Assim, temos: Carga do próton: q p = +e Carga do elétron: q e = – e Qualquer quantidade de eletricidade será sempre um múltiplo da carga elementar: Q = ± n ∙ e sendo n um número natural. podemos ter: Q = +2e ou Q = −5e ou Q = 3,0 ∙ 1012e e nunca teremos: Q = −1,78e ou Q = +2,3e Essa propriedade do número inteiro mostra que a carga elétrica é uma grandeza quantizada. O nêutron não possui carga elétrica. Assim ele não exerce força elétrica sobre o próton nem sobre o elétron. A carga elétrica elementar No Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de carga elétrica é o coulomb, cujo símbolo é C (maiúsculo). trata-se de uma homenagem ao físico Charles Augustin de Coulomb (1736-1806). A unidade de carga elétrica não é uma unidade de base do SI; ela é derivada de outra unidade, como estudaremos no capítulo 2. Através de experimentos foi possível determinar o valor da carga elementar: e = 1,602 ∙ 10−19 C Consequentemente: Carga elétrica do próton: q p = +e = +1,602 ∙ 10−19 C Carga elétrica do elétron: q e = −e = −1,602 ∙ 10−19 C Observação: é muito comum, na resolução de exercícios, trabalhar-se com apenas dois algarismos significativos e escrever-se apenas: e = 1,6 ∙ 10–19 C. A massa do elétron e do próton tanto o próton como o elétron possuem massa. Observe, na tabela 1, que a massa do próton é quase 2 000 vezes maior que a do elétron. Massa do próton 1,673 ∙ 10−27 kg Massa do elétron 9,109 ∙ 10−31 kg Tabela 1. obsErvAção Os termos quantidade de eletricidade e carga elétrica são sinônimos. Não se deve usar o termo quantidade de carga elétrica. obsErvAção Em 1923, o cientista Robert Millikan recebeu o prêmio Nobel de Física por determinar experimentalmente que a carga elétrica era sempre um múltiplo de um determinado valor e = 1,6 · 10−19 C. Mais tarde, esse valor veio a ser chamado carga elementar. O experimento de Millikan será visto no capítulo 14. Capítulo 116 2. Nas figuras que se seguem, os corpos estão car- regados com cargas elétricas. Alguns têm carga positiva, e outros, carga negativa. As setas indi- cam o sentido da força elétrica sobre cada um dos outros corpos. Conhecido o sinal da carga elétrica de A, identifique o sinal da carga elétrica de cada um dos outros corpos, analisando quadro a qua- dro. Indique também o sentido da força elétrica entre C e D, desenhando uma seta. A + B D A + B C C D 4. Quantos elétrons são necessários para se obter uma quantidade de eletricidade igual a –1,0 C? É dada a carga elétrica elementar: e = 1,6 ∙ 10–19 C. Resolução: Como estudamos na teoria, as quantidades de eletricidade são sempre um múltiplo inteiro do valor da carga elementar: Q = −n ∙ e −1,0 = −n ∙ (1,6 ∙ 10−19) n = 1,0 1,6 · 10–19 = 1,0 · 1019 1,6 = 10 · 1018 1,6 ⇒ ⇒ n ≅ 6,3 · 1018 Conclusão: para se obter uma carga elétrica de –1,0 C são necessários 6,3 quintilhões de elétrons. O resultado do exercício nos mostra que a quantidade de eletricidade de −1,0 C é muito grande. Isso é uma consequência da definição do coulomb, feita indiretamente através da corrente elétrica, como estudaremos no próximo capítulo. 5. Num experimento de laboratório, um físico esti- mou que a quantidade de eletricidade depositada num corpo foi de –3,2 ∙ 10–13 C durante um inter- valo de tempo de 1,0 minuto. Estime a ordem de grandeza da quantidade de elétrons que serão depositados nesse corpo se o processo continuar nas mesmas condições por 10 minutos. É dada a carga elementar: e = 1,6 ∙ 10–19 C. Exercícios de Aplicação 3. Analise cada proposição a seguir e verifique se é verdadeira ou falsa. I. Se duas cargas elétricas se repelem, elas são positivas. II. Se duas cargas elétricas se atraem, elas têm sinais opostos. III. O módulo da carga elétrica do elétron é igual ao da carga do próton. É verdadeiro apenas o que se disse em: a) II d) I e III b) II e III e) I, II e III c) I e II 1. Dispomos de três corpos carregados com cargas elétricas: A, B e C. Sabemos que no corpo A a carga elétrica é positiva. Experimentos suces- sivos nos levaram a observar que: A repele B; B atrai C. a) Qual é o sinal da carga elétrica de B? b) Qual é o sinal da carga elétrica de C? c) Se A e C forem colocados próximos um do outro, a força elétrica será de atração ou de repulsão? Resolução: a) Como A repele B, concluímos que suas cargas elétricas possuem o mesmo sinal. Tendo o corpo A carga elétrica positiva, concluímos que B também terá carga elétrica positiva (fig. a). F B F A ++ Figura a. b) O corpo B atraiu o corpo C. Logo, suas cargas elétricas têm sinais opostos. Como a carga elétrica de B é positiva, concluímos que a carga elétrica de C é negativa (fig. b). F C F B + – Figura b. c) Se colocarmos o corpo A próximo do corpo C, a força elétrica será de atração, pois eles têm cargas elétricas opostas (fig. c). C F F A + – Figura c. 6. Sendo a carga elementar e = 1,6 ∙ 10−19 C, deter- mine o número de elétrons recebidos por um corpo carregado com a carga Q = −64 mC. IL U St r A ç õ ES : ZA pt A carga elétrica 17 Exercícios de reforço 9. Num experimento em que foram usadas quatro partículas: A, B, C e D, todas eletrizadas, verifi- cou-se que: • a força elétrica entre A e B era de repulsão; • a força elétrica entre C e D era de repulsão; • a força elétrica entre A e C era de atração. A respeito do sinal das cargas elétricas dessas quatro partículas, podemos afirmar que: a) todas elas têm o mesmo sinal; b) todas elas são negativas; c) A e B têm o mesmo sinal, C e D têm o mesmo sinal, B e D têm sinais contrários; d) C tem carga elétrica positiva e A tem carga elétrica negativa; e) A e B têm cargas elétricas positivas e C e D têm cargas elétricas negativas. 10. Segundo a teoria atômica atual, o átomo possui número de prótons igual ao número de elétrons. No entanto, átomos de elementos distintos têm números atômicos diferentes. Os elementos quí- micos X e Y têm respectivamente número atômico n e m. Se uma molécula for constituída por um átomo do elemento X e outro do Y, então: a) a molécula terá (m + n) elétrons e (m + n) prótons e sua carga elétrica será nula. b) a molécula terá (m – n) elétrons e (m – n) prótons e sua carga elétrica será nula. c) os átomos X e Y têm carga elétrica nula, mas a molécula formada necessariamente terá carga elétrica positiva. d) a molécula terá (m + n) elétrons e (m + n) prótons e sua carga elétrica será igual a (m + n) ∙ e, sendo, portanto, diferente de zero. e) a molécula terá (m – n) elétrons e (m + n) prótons e sua carga elétrica será igual a 2m ∙ e, sendo, portanto, positiva. 11. Na figura se representa o átomo de hidrogênio com apenas um elétron girando em torno do núcleo. Segundo o modelo de Bohr, a órbita deste elétron é circular. Seu núcleo não possui nêutron. e – Z A p t Analise as afirmativas e verifique se são corretas ou incorretas. I. O núcleo é constituído apenas por um próton. II. A carga elétrica total do átomo de hidrogênio é nula. III. Entre o núcleo e o elétron há uma força elé- trica de atração que mantém o elétron em órbita. Sãocorretas apenas as afirmativas: a) I e II b) I, II e III c) II e III d) II e) III Resolução: A carga elétrica do corpo é Q = −64 mC = = −64 ∙ 10–3 C e pode ser escrita na forma Q = −n ∙ e. Sendo e = 1,6 ∙ 10−19 C, temos: −64 ∙ 10−3 = n ∙ (−1,6 ∙ 10−19) n = 64 · 10–3 1,6 · 10–19 n = 40 ∙ 1016 ⇒ n = 4,0 ∙ 1017 elétrons 7. Determine o número de elétrons que devem ser retirados de um corpo neutro para que adquira uma carga elétrica Q = 1,28 · 10−6 C. É dada a carga elementar e = 1,6 ∙ 10−19 C. 8. Um condutor metálico neutro recebe 2 · 1016 elé- trons. Sendo a carga elementar e = 1,6 ∙ 10−19 C, determine a carga elétrica total adquirida pelo condutor. 1
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