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RESUMO Institutionalizing Passion in World Politics: Fear and Empathy - Neta C. Crawford

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RESENHA: Crawford, Neta C. (2014) "Institutionalizing Passion in World Politics: Fear and Empathy" International Theory. 6 (3),535 - 557
Com um diálogo com a neurociência e a psicologia, a autora se propõe a analisar como as emoções surgem nos indivíduos, são enfatizadas pelas práticas comunitárias e são institucionalizadas pelas políticas estatais, por isso sendo elemento válido para a análise na política internacional. 
No primeiro tópico, Crawford explica como o medo e a empatia surgem. O medo é uma resposta neurobiológica a um estímulo externo interpretado como perigo; após esse estímulo, o organismo tende a voltar ao normal, mas sob um estresse crônico, exposição a estímulos de medo a longo termo e mesmo eventos traumáticos podem afetar a estrutura cerebral e consequentemente a percepção das emoções. Sem a habilidade de parar a resposta ao medo, a habilidade de distinguir não-ameaças diminui. E isso também ocorre em um contexto social: Se os indivíduos distinguem ameaças através do raciocínio, grupos o fazem através de um processo de discussão onde tanto indícios quanto emoções são mobilizadas e emoções podem ser consideradas indícios.
De maneira similar, a empatia também é um fenômeno biológico intimamente relacionado ao contexto social e a crenças pré-existentes. Ele surge como uma capacidade biológica cerebral, mas que depende das relações sociais para se desenvolver; um cérebro saudável pode desenvolver bons níveis de empatia, mas situações de medo e estresse tendem a reduzir a habilidade de se ter sentimentos de empatia - da mesma forma que sentimentos de empatia podem moldar as percepções de medo, posto que o cérebro é complexo e em constante transformação.
Assim, aumentar a capacidade de empatia é provavelmente um dos caminhos, se não o mais importante, para a paz e a justiça; ela é a base para a capacidade de ver o outro como merecedor do nosso respeito e a capacidade de entender quando os direitos do outro foram violados. É o fundamento da justiça no sentido de motivar nossas decisões sobre se e como ajudar alguém que está sofrendo.
No segundo tópico, a autora explora como as emoções são institucionalizadas dos indivíduos aos grupos. Não apenas as emoções são em grande parte socialmente construídas como também dependem de práticas do mundo político que expressam ou alteram o relacionamento emocional individual.
Nesse sentido, no terceiro tópico a autora demonstra como o medo é institucionalizado. Práticas como doutrina e força militar de guerra "preventiva", bem como quando líderes políticos assumem que o medo "funciona", impondo medo ao inimigo. Exemplifica com o atentado de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos: o evento traumático por certo espalhou o medo pela população, mas a resposta violenta por parte da força militar certamente instigou ainda mais o medo generalizado pela sensação de "guerra" ao terrorismo.
Por fim, a autora explora a institucionalização da empatia. Diplomacia, negociações e blocos econômicos facilitando comércio e burocratização entre Estados pode ser um exemplo de prática que estimula a empatia. Um exemplo específico que a autora dá foi o movimento global anti-apartheid e a transição negociada para democracia na África do Sul entre as décadas de 1980 e 1990; muitos se preocupavam que o domínio político da minoria branca terminaria em rebelião pela maioria negra oprimida.
Em conclusão, a autora ressalta a necessidade de se entender as emoções e o seu processo de institucionalização na compreensão da política mundial enquanto um sistema adaptativo complexo, reflexivo e acoplado, no qual as emoções não são epifenomenais, fugazes ou ad hoc em seus efeitos, mas sim uma parte constitutiva da dinâmica política global.

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