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1. Leis Ordinárias e Complementares A Constituição traz as normas fundamentais, o direcionamento do processo legislativo, sendo necessárias as normas infraconstitucionais para exteriorizar a vontade da Constituição. O nosso processo legislativo é bicameral, ou seja, passa pelas duas Casas. As leis ordinárias e complementares são normas primárias, extraídas diretamente da Constituição (fundamento de validade), seu processo legislativo previsto nela, não havendo hierarquia entre elas. As diferenças entre ambas as espécies de lei são de ordem material e formal. A diferença quanto à matéria refere-se a assuntos que, segundo a Constituição, devem ser tratados por lei complementar, não havendo outra espécie normativa que pode versar sobre o tema. Exemplos: Art. 22, parágrafo único, Art. 7º, I, e Art. 93, caput A competência da lei ordinária é residual, se a matéria não está reservada a espécie normativa específica, ela poderá ser tratada por lei ordinária. A Constituição, ao referir-se à lei ordinária, chama-a somente por “lei”. Ex.: Art. 5º, XII e XXXII. A diferença quanto à forma refere-se ao quórum de aprovação. A lei complementar deve ser aprovada pela maioria absoluta, qualificada, segundo o art. 69, XXXII, enquanto a lei ordinária é aprovada mediante a maioria simples ou relativa, na forma do art. 47 da CRFB/88. Destaque-se que, embora a lei ordinária não possa versar sobre matéria reservada a lei complementar sob pena de inconstitucionalidade, é permitido que lei complementar verse sobre matéria de lei ordinária, até porque seu quórum é maior que o necessário para a lei ordinária. Inclusive, esta última poderá, futuramente, ser alterada ou revogada por lei ordinária, pois não versa sobre matéria de lei complementar, é materialmente ordinária. Se a lei é materialmente e formalmente complementar, só poderá ser alterada por outra lei complementar. Com exceção da votação, o processo legislativo de lei ordinária e complementar é o mesmo. A fase introdutória refere-se à iniciativa, à deflagração do processo legislativo. Segue-se a ela a – –fase constitutiva, onde há a deliberação parlamentar atos de discussão, emendas e votação e –a deliberação executiva atos de sanção e veto. Por fim, na fase complementar (denominada também de fase de integração de eficácia) realizam-se a promulgação e a publicação. 1.1. Fase Introdutória/Iniciativa A iniciativa pode ser extraparlamentar, quando quem apresenta o PL não pertence ao Congresso Nacional, como o Presidente da República e o povo, ou parlamentar, quando o processo legislativo é deflagrado por aqueles que integram esse poder, como deputados, senadores e comissões. A iniciativa é privativa ou reservada quando o processo legislativo só pode ser deflagrado por determinadas autoridades ou órgãos sob pena de configurar um vício formal de iniciativa. No art. 61, §1º da CRFB/88 estão os projetos de iniciativa reservada do Presidente da República, sendo que tais matérias seguem o princípio da simetria. Ou seja, a iniciativa que no âmbito federal foi reservada ao Presidente da República, no plano dos Estados será dos Governadores e, no plano municipal, dos Prefeitos. Destaque-se que a sanção do Presidente da República não convalida o vício de iniciativa do projeto de lei. Além disso, o art. 93, caput, versa sobre a iniciativa reservada do STF para propor Lei complementar acerca do Estatuto da Magistratura. Quando a Constituição não estabelece matéria reservada a autoridade ou a órgão específico temos a iniciativa concorrente ou geral, sendo um exemplo o caput do art. 61. Inclui- se aqui a iniciativa popular. Não há iniciativa conjunta, obrigando os entes a proporem juntos um projeto de lei. O art. 61, §2º da CRFB/88 c/c a Lei 9.709/98 trata dos requisitos da iniciativa popular que, por serem muito rigorosos, dificultam sua apresentação. O Projeto de Lei popular é entregue à Câmara dos Deputados, deve ater-se a uma única matéria e não pode ser rejeitado nas casas legislativas por vício de forma. O processo legislativo se inicia normalmente no âmbito da Câmara dos Deputados, especialmente por conta do art. 64, caput da Constituição. Consequentemente, via de regra o Senado será a casa revisora. No entanto, se o PL for apresentado por um senador, o Senado Federal será a casa iniciadora e a Câmara dos Deputados a revisora. –1.2. Fase Constitutiva Deliberação Parlamentar As casas legislativas são divididas em várias comissões, cada uma com suas funções específicas. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) tem um importante papel no processo legislativo, realizando o controle preventivo político de constitucionalidade. O controle é preventivo porque é feito sob projeto de lei, político pois a comissão é composta por agentes políticos e de constitucionalidade pois o seu papel é dar um parecer pela compatibilidade ou não daquele projeto com a Constituição. Na fase das emendas e alterações, o art. 63, I e II deixa claro que os projetos de lei de iniciativa privativa do Presidente não podem sofrer alterações substanciais nem aumento da despesa pública, exceto nas hipóteses do art. 166, §§3º e 4º. Essa norma também é de observância obrigatória no âmbito dos Estados e Municípios. Ao receber o projeto de lei, a Casa Iniciadora pode rejeitá-lo ou aprová-lo Se rejeitado, deve-se aplicar o art. 67 da Constituição, que indica o princípio da irrepetibilidade, ou seja, PL rejeitado só pode ser reapresentado em sessão legislativa distinta daquela em que sofreu a rejeição, salvo se houver manifestação da maioria absoluta de qualquer das Casas para reapresentação na mesma seção legislativa. A aprovação do projeto pode acontecer com ou sem alterações. Independentemente da existência de alterações, o projeto segue para a Casa Revisora Ao chegar na Casa Revisora, o projeto também pode ser rejeitado ou aprovado. Se aprovado sem alterações ou com alterações meramente redacionais, segue para a sanção ou veto do Presidente. No entanto, se a Casa revisora aprovar alterações substanciais, o projeto retorna para a Casa iniciadora conforme o art. 65 da Constituição. Ao retornar, cabe à Casa Iniciadora aprovar ou rejeitar as emendas propostas, não podendo realizar emenda da emenda. Incorporando-as ou não, o projeto segue para o Presidente da República. a. Votação da Lei Complementar Segundo o art. 69 da Constituição, a Lei Complementar é aprovada mediante aprovação da maioria absoluta, que considera a totalidade dos membros das Casas legislativas, ou seja, 257 deputados ou 41 senadores. A maioria absoluta também é o quórum necessário para instaurar a sessão Lembre-se que em nenhuma hipótese é possível a reapresentação de projeto de emenda rejeitada na mesma sessão legislativa, conforme o art. 60, §5º. b. Votação da Lei Ordinária O projeto de Lei Ordinária é aprovado, segundo o art. 47 da Constituição, por quórum de maioria simples, que considera a maioria dos presentes, desde que presente a maioria absoluta de seus membros. –1.3. Fase Constitutiva Deliberação Executiva Prestigiando o sistema de freios e contrapesos, há a atuação do Chefe do Executivo no Processo Legislativo Federal, Estadual e Municipal por meio da sanção e do veto. Estes são atos exclusivos do Chefe do Executivo, ou seja, não podem ser delegados. Na forma do art. 66 da CRFB/88, o Presidente da República tem 15 dias úteis, contados do recebimento do Projeto de Lei, para sancioná-lo ou vetá-lo, sendo que o seu silêncio importará na sanção tácita. Se sancionar o projeto, irá em seguida promulgar e publicar. Destaque-se que a sanção do Presidente não convalida vício algum no processo legislativo, incluindo o vício de iniciativa. A sanção é a aquiescência, podendo ser tácita ou expressa; enquanto o veto é a negativa e só pode ocorrer de forma expressa, pois precisa ser motivado ao Presidente doSenado em até 48 horas do veto. É importante frisar que o veto é irretratável, pois geraria insegurança jurídica, e pode ocorrer de forma total ou parcial, abrangendo texto integral, conforme o art. 66 da Constituição. O veto pode ser material ou político quando o Presidente entender que o projeto de lei é contrário ao interesse público. Já o veto formal ou jurídico recai sobre PL inconstitucional, o Presidente realiza controle preventivo político de constitucionalidade. Após o veto do presidente, dá-se prazo de 30 dias para realização de sessão conjunta aberta (EC 76/2013) com o fim de derrubada do veto pela maioria absoluta do número de deputados e senadores. Se derrubado, o Presidente terá 48 horas para promulgar a lei, se não o fizer o Presidente do Senado Federal receberá novo prazo de 48 horas para fazê-lo e, não promulgando, o Vice-Presidente do Senado deverá promulgá-la imediatamente. A ordem de deliberação sobre os vetos será estabelecida pelo Senado Federal, estando incluído em seu dever de agenda, não sendo necessário seguir a ordem cronológica. O STF decidiu que o veto do Chefe do Poder Executivo não pode ser considerado ato do Poder Público para efeito de ser objeto de ADPF, de acordo com o art. 1º, caput, da Lei 9.882/99. 1.4. Fase Complementar É formada pelos atos finais do processo legislativo, a promulgação e a publicação. A promulgação é o instrumento que declara a existência da lei, reconhece a norma como válida e ordena sua execução, não sendo ato exclusivo do Chefe do Executivo. Após a promulgação a lei pode ser objeto de controle repressivo de constitucionalidade. Publicar significa dar conhecimento a todos sobre a existência da nova lei. 2. Processo Legislativo Sumário Está contido no art. 64 da Constituição e é um processo legislativo mais rápido, só podendo ser deflagrado pelo Presidente da República nos projetos de sua iniciativa (não quer dizer processo de sua iniciativa exclusiva). A Câmara terá até 45 dias para deliberar sobre o projeto, indo para o Senado, ele terá até 45 dias para apreciá-lo e, se feitas emendas, a Câmara dos Deputados deve, em até 10 dias, analisar as alterações. Se esses prazos não forem cumpridos, a pauta da respectiva Casa ficará trancada até a deliberação. Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados. § 1º O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa. § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação. § 3º A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior. Art. 64. § 4º Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código. Esses prazos não se aplicam a projeto de Código, pois é uma legislação mais complexa e extensa, nem correm durante os recessos, períodos extraídos do art. 57 da CRFB/88. 3. Jurisprudência do STF sobre Processo Legislativo Por força do princípio da simetria (Art. 25), os Estados-membros devem aplicar as regras básicas do processo legislativo federal em suas constituições, dentre elas, as decorrentes das normas de reserva de iniciativa das leis. No entanto, diferentemente da União, é possível que o Estado estabeleça a iniciativa popular para apresentação de proposta de emenda à Constituição do Estado. O constituinte estadual não pode estabelecer hipóteses nas quais seja vedada a apresentação de projeto de lei pelo Chefe do Executivo sem que isso represente ofensa à harmonia entre os Poderes. A iniciativa de projeto de lei sobre matéria tributária não é reservada ao Chefe do Executivo, mas sim concorrente. O art. 61, §1, II, b, diz que é privativa do Presidente da República a iniciativa de matéria tributária dos Territórios. O art. 61, §1º, II, c não se refere a isenção de pagamento de taxa de concurso público, pois não é matéria relativa a servidores públicos, mas sim anterior ao status de servidor, ou seja, não é de iniciativa reservada do Chefe do Executivo. Tratando-se de projeto de lei de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo, não pode o Poder Legislativo estabelecer prazo para o exercício dessa prerrogativa. No entanto, não havendo aumento de despesa, o Poder Legislativo pode emendar projeto de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo, exceto se a alteração não tiver relação com o objeto do projeto ou diga respeito a matéria de iniciativa privativa dessa autoridade. Viola a cláusula de reserva de iniciativa do Chefe do Poder Executivo (Art. 61, §1º, II, a, CF) a concessão de gratificação a policiais militares integrantes de assessoria militar junto ao Tribunal de Contas estadual, pois esses servidores continuam pertencendo ao Poder Executivo. Art. 61. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre: c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; Há vício de inconstitucionalidade formal na norma jurídica decorrente de emenda parlamentar em projeto de lei de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo se dela resultar aumento de despesa. É competência privativa do Chefe do Executivo, segundo o art. 61, §1º, II, c, CRFB/88, a iniciativa de projeto de lei que cria atribuições para a Secretaria de Estado da Educação, Cultura e dos Desportos, para a Secretaria de Estado de Defesa Social e Segurança Pública e para a Polícia Civil. A iniciativa de norma acerca da greve dos servidores públicos é reservada ao chefe do Poder Executivo, pois concerne à relação jurídica entre a administração pública e os servidores. Se no plano federal a derrubada do veto do Presidente depende da maioria absoluta dos membros da Congresso Nacional em sessão conjunta, no plano dos Estados também é necessário este quórum, não outro. 4. Lei Delegada O art. 68 da Constituição trata da Lei Delegada, que é uma espécie normativa em desuso no ordenamento jurídico nacional, tendo natureza jurídica de ato normativo primário, extraída diretamente da Constituição. É um exemplo de possibilidade de delegação de poder político. Pode ser objeto de controle de constitucionalidade, tanto em sua via difusa quanto concentrada. O Presidente solicita ao Congresso a delegação, que analisará o pedido de forma discricionária, não havendo direito público subjetivo de ter essa autorização concedida. No §1º desse mesmo artigo estão dispostos os limites materiais dessa delegação, como as matérias constantes nos artigos 49, 51 e 52 da Constituição, não podendo versar sobre matéria reservada a LC. Art. 61. § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. A delegação será feita por meio de resolução do Congresso Nacional, onde estarão definidos os limites dessa delegação. Mesmo após autorizado a criar a lei delegada, o Presidente pode optar por não fazê-lo. 4.1. Modalidades de Delegação A delegação atípica ou imprópria é extraída do artigo 68, §3º da CRFB/88, dispondo que o projeto de lei será submetido a análise do Congresso e só haverá a criação da lei se este autorizar, não podendo fazer alterações. Caso negado, o PL será arquivado. Já a delegação típica ou própria é aquela em que o Congresso Nacional editaa resolução autorizando o Presidente a criar a lei delegada nos limites da delegação sem precisar submeter o projeto ao crivo do Congresso. 4.2. Controle da Delegação O art. 49, V da CRFB/88 traz o controle repressivo político de constitucionalidade, que permite que o Congresso Nacional suste, por meio de decreto legislativo, os atos normativos Art. 68. § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: –I organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; –II nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; –III planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. Art. 68. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. Art. 68. § 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. do Presidente que ultrapassem a delegação legislativa concedida. Essa atuação do Congresso terá efeitos ex nunc , mas nada impede que a lei seja objeto de controle judicial. O p oder regulamentar do Presidente está contido no Art. 84, IV. 5. Resoluções e Decretos Legislativos Via de regra, os decretos legislativos são bicamerais, ou seja, elaborados pelo Congresso Nacional, com ambas as Casas atuando em conjunto nas deliberações acerca das matérias do art. 49 da CF. Por sua vez, as resoluções são unicamerais, versando sobre os assuntos do art. 51, competências privativas da Câmara dos Deputados, e do art. 52, competências do Senado., ambos da Constituição. A resolução do art. 68, §2º é uma resolução bicameral. Em nome da harmonia e separação entre os poderes, as resoluções e decretos legislativos não se submetem a sanção ou veto do Presidente da República, já que tratam de matérias que a Constituição reservou ao legislador. 6. Medida Provisória É a espécie legislativa editada de forma monocrática pelo Chefe do Poder Executivo, surgindo com a Constituição de 1988 como substituta do Decreto-Lei, que tinha poucos limites e, não havendo deliberação pelo Congresso, tornava-se parte permanente do ordenamento. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: –V sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: –IV sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; Art. 68. §2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. Na forma do art. 62, ela pode ser criada pelo Presidente da República em situação de relevância e urgência, já nasce produzindo seus efeitos e depois é submetida ao crivo das Casas do Congresso Nacional, que decidem se ela seguirá no ordenamento como lei ordinária. A medida provisória é uma norma primária, extraída diretamente da Constituição, podendo ser objeto de controle de constitucionalidade concentrado e difuso. Não é lei, mas tem força de lei ordinária, não podendo versar sobre matéria de lei complementar. É uma espécie normativa precária, produz efeitos limitados, por tempo determinado. Antes da EC 32/2001, o artigo 62 consistia apenas em seu caput e parágrafo único, havia muita incerteza jurídica acerca dos limites que a medida provisória deveria respeitar. Além disso, o STF (Súmula 651 e Súmula Vinculante 54) entendia que era possível a reedição da MP desde que antes do fim do seu prazo de eficácia de 30 dias. Como consequência, haviam 72 MPs em vigor, que não enfrentavam muitas limitações materiais e podiam ser reeditadas constantemente. Com o advento da Emenda Constitucional 32, as medidas provisórias em vigor deixaram de sê- lo e passaram a vigorar por prazo indeterminado, tendo eficácia até que sejam votadas ou que outra MP as revogue. Inclusive aquelas que versam sobre matérias hoje vedadas a essa espécie normativa. 6.1. Limites Materiais da Medida Provisória O art. 62, §1º traz os principais limites materiais explícitos, trazendo matérias gerais que abrem um leque de vários outros temas vedados a emenda. O Presidente é proibido pela Constituição de tratar monocraticamente do dinheiro público, excepcionado o caso do art. 167, §3º, abrindo crédito extraordinário por meio de medida provisória em situação de calamidade ou guerra. Art. 2º da EC 32. As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso Nacional. Art. 62. §2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. O imposto instituído ou majorado por meio de MP deve respeitar o princípio da anterioridade tributária, que inclusive foi definido como cláusula pétrea pelo STF. Existem outras limitações materiais explícitas, como as contidas no art. 25, §2º, da CRFB/ 88 (se a MP for criada no âmbito dos Estados ela não pode versar sobre gás canalizado), no art. 73 do ADCT, relativo ao Fundo Social de Emergência, e no art. 246 da CRFB/88, que veda a edição de MP para regulamentar artigo da Constituição que foi alterado por emenda promulgada durante esse período de 1995 a 2001. Em nome da separação e harmonia entre os Poderes, criaram-se os limites implícitos, estabelecendo que a Medida Provisória não poderia versar sobre as matérias dos artigos 49, 51 e 52 da Constituição, que tratam de competências privativas e exclusivas, respectivamente, do Congresso, da Câmara e do Senado. Na ADI 4.717, o STF decidiu que é inconstitucional a redução, por meio de medidas provisórias, de espaços territoriais especialmente protegidos, como as áreas ambientais, pois prejudica o meio ambiente. É legítima a disciplina de matéria de natureza tributária por meio de medida provisória, pois o que não está proibido pelos limites materiais expressos e implícitos é permitido. 6.2. Medida Provisória nos Estados e Municípios É possível a edição de medida provisória no âmbito dos Estados e dos Municípios desde que haja previsão – – na respectiva legislação Constituição Estadual ou Lei Orgânica sendo uma espécie normativa facultativa. Havendo tal previsão, seguirá os aspectos da simetria do modelo federal, como os limites do art. 62. O art. 25, §2º da CF estabelece que a matéria “gás canalizado” é de competência do Estado mas é vedada a edição de medida provisória a seu respeito. A Lei Orgânica do Município só pode instituir a Medida Provisória se o Estado estabelecer essa espécie normativa (Art. 11 do ADCT), segundo o art. 29, caput, da CRFB/88. É inconstitucional a medida provisória que, alterando lei, suprime condenação em honorários advocatícios, por sucumbência, nas ações entre o FGTS e titulares de contas vinculadas, bem como naquelas em que figurem os respectivos representantes ou substitutos processuais (ADI 2.736). É vedada a edição de medida provisória sobre processo civil. A maioria dos artigos alterados permitiu a abertura do mercado nacional, internacionalização e globalização. 6.3. Medida Provisória e Controle de Constitucionalidade No controle difuso, a análise sobre a compatibilidade entre a Lei e a CF é feita de forma incidental, no bojo da fundamentação. Ou seja, se a Medida Provisória, no decorrer do processo, for convertida em lei, não haverá nenhum óbice ao regular prosseguimentodo feito. Diferentemente ocorre em sede de controle concentrado, onde o objeto da ação é a própria Medida Provisória, então a mudança de status jurídico da MP pode gerar impacto para o regular prosseguimento do feito. Se, no curso do feito, a MP for convertida em lei sem alterações ou com alterações não- substanciais, não haverá prejuízo ao regular prosseguimento do feito, devendo apenas o autor apresentar uma petição informando que ajuizou a ação em face de uma medida provisória e que agora ela é a Lei Ordinária nº X. Já se, no curso da ADI, a medida provisória for rejeitada ou convertida em lei com alterações substanciais, a ação perderá o objeto e será extinta sem resolução de mérito. É possível que a medida provisória seja declarada inconstitucional por não respeitar os requisitos de relevância e urgência. O Supremo entende que esses requisitos não são indeterminados, a relevância está associada à matéria e a urgência à situação prática que levou a edição dessa MP. No entanto, por respeito ao princípio da separação dos Poderes, o controle judicial desses requisitos só deve ser feito em casos excepcionais, em que sua ausência seja evidente. A Lei Ordinária de Conversão não convalida vícios de origem da Medida Provisória. Por vezes ocorre o contrabando legislativo no processo de conversão da MP em Lei, quando o Congresso Nacional usurpa a competência legislativa, incluindo matérias que não tem nenhuma relação com a medida provisória de origem. Isso foi vedado pelo STF no julgamento da ADI 5.127, mas manteve as leis anteriores que passaram por esse contrabando em nome da segurança jurídica. 6.4. Procedimento de Conversão Quando o Presidente edita a MP, há a designação de uma comissão mista de deputados e senadores na forma do art. 62, §5º c/c §9º. O parecer tratará da compatibilidade da medida provisória para com a Constituição, sendo um exemplo de controle político repressivo de constitucionalidade. Produzido esse parecer, ele é entregue à Câmara dos Deputados, conforme disposto no art. 62, §8º da CRFB/88. A medida provisória nasce para produzir até 60 dias de efeitos jurídicos, segundo o art. 62, §§ 3º, 4º e 7. Se nesse prazo não houver a deliberação definitiva das duas Casas a respeito da MP, haverá uma prorrogação automática por até 60 dias. Destaque-se que o prazo ficará suspenso durante o recesso. O §6º do artigo 62 da Constituição instituiu a hipótese de trancamento de pauta, que é o regime de urgência da medida provisória, um modo de pressionar os legisladores a apreciarem mais rapidamente a MP. O Supremo, no MS 27.931, entendeu que o trancamento de pauta não se aplica a propostas de emenda à Constituição, projetos de lei complementar, decretos e resoluções legislativas e inclusive leis ordinárias que veiculem temas excluídos do âmbito de incidência das MPs. Sendo assim, só haverá trancamento em relação a projeto de leis ordinárias que veiculem temas que a medida provisória pode tratar. A rejeição da medida provisória pode ser expressa ou por decurso do prazo, deixando de produzir, a partir de então, efeitos jurídicos. Segundo prevê o art. 62, §3 c/c §11 da CF, compete ao Congresso Nacional produzir, no prazo de 60 dias, um decreto legislativo regulando os efeitos das relações jurídicas que foram atingidas pela MP, sendo essa a única forma da rejeição operar efeitos ex tunc. Havendo a aprovação da medida provisória sem alterações, não há sanção ou veto do Presidente da República, a lei ordinária será promulgada no âmbito do próprio Congresso. No entanto, segundo o §12 do art. 62, se a MP for aprovada com alterações substanciais, o processo de conversão será submetido a sanção ou veto do Presidente. Art. 62. §11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. Destaque-se que, havendo medidas provisórias em vigor na data da convocação da sessão – –extraordinária Art. 57, §6º , serão elas automaticamente incluídas na pauta. Não se permite a reedição da medida provisória que foi rejeitada expressamente ou perdeu sua eficácia por decurso do prazo naquela sessão legislativa. A medida provisória não pode ser “retirada” à apreciação do Congresso Nacional pelo Presidente da República, visto que possui força de lei. No entanto, é possível, assim como em qualquer outro ato legislativo, a sua ab-rogação por diploma de igual ou superior hierarquia. Sendo assim, MP posterior versando sobre o mesmo tema suspende os seus efeitos e o processo de conversão da anterior. Se aprovada, a MP revoga a medida anterior que estava suspensa. Se for rejeitada ou caducar, a MP anterior, que ficou suspensa por ela, volta a produzir os seus efeitos e vigorará pelo tempo que lhe reste para apreciação. Art. 62. §10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
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