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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL Prof. Dr. Mário Sacomano Neto Turma A Análise do Setor de Cosméticos: Natura e L’Oréal SÃO CARLOS 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 3 1.1 Objetivos 8 2. L’ORÉAL 8 2.1 Histórico da Empresa 8 2.2 Estratégia Organizacional 8 2.3 Estrutura Acionária 13 2.4 Estrutura Organizacional 14 2.5 Composição dos conselhos de administração 15 2.6 Tecnologia 15 2.7 Comportamento e Cultura 17 2.8 Análise Crítica 19 3. NATURA 20 3.1 Histórico da Empresa 20 3.2. Estratégia Organizacional 22 3.3. Estrutura acionária 27 3.4. Estrutura Hierárquica 29 3.5. Composição do conselho de administração 30 3.6. Tecnologia 31 3.7. Comportamento e Cultura 33 3.8. Análise Crítica 34 4. CONCLUSÃO 35 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35 2 1. INTRODUÇÃO As indústrias de cosméticos - tecnicamente conhecidas como Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), de acordo com a ANVISA (2015) - são definidas como: organizações que se dedicam à produção de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, fabricados com substância sintéticas e naturais, de uso externo para diversas partes do corpo com o objetivo de limpar, perfumar, proteger e manter a boa aparência. E segundo o E-Commerce Brasil (2018), “o setor da beleza está entre os dez principais segmentos do varejo brasileiro”. A história do setor dos cosméticos teve início no país com a transferência da família real para o Brasil devido aos costumes trazidos como a elegância e as modas os quais passaram a ser copiados, inclusive o uso de perfumes para disfarçar os maus odores. Nesse contexto, foram abertas diversas lojas que vendiam essências, sabonetes, escovas, esponjas, adornos de toucador, vidrinhos de cheiro, espelhos, perucas, tinturas e cosméticos, como pó de arroz. Depois da Segunda Guerra Mundial uma nova noção de limpeza corporal fez com que a produção e o consumo de cosméticos e produtos de higiene crescesse. Além disso, com a difusão do rádio e, a partir dos anos 50, da televisão, as empresas passam a investir em publicidade, e as vendas de xampus, cremes, sabonetes, pastas de dentes, loções, sabões, desodorantes e perfumes explodiram, além do mais, as casas brasileiras passaram a contar com água encanada e banheiros. Nas últimas décadas os números referentes ao setor não param de crescer. Segundo o Panorama HPPC divulgado pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) em abril de 2010, a indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos teve um crescimento médio, já descontando a inflação, de 10,5% entre 1996 e 2009; o faturamento saltou de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 24,9 bilhões em 2009. Alguns dados mais atuais, mostram que essa indústria destacou um crescimento médio deflacionado composto associado a 11,4% a.a. nos últimos 20 anos, tendo passado de um faturamento "Exfactory", líquido de imposto sobre vendas, de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 42,6 bilhões em 2015. É importante mencionar que até mesmo em momentos de crise como após 2008 e 2015, esse setor ainda evoluiu mais do que a média geral, por isso, o setor pertence a categoria de “consumo não cíclico”, ou seja, o setor não acompanha, nas mesmas proporções, variações no ambiente econômico. O crescimento do setor acontece, por conta de vários fatores como: 3 • A participação crescente da mulher no mercado de trabalho; • A utilização de tecnologia de ponta com aumento da produtividade; • Os lançamentos constantes de novos produtos que atendem às necessidades do mercado; • O aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma impressão de juventude. As Figuras 1 e 2 mostram o crescimento e o consumo desses mercados em diversos países de 2003 a 2017. Figura 1: Evolução do mercado de cosméticos em alguns países. Fonte: Clube de Finanças. Figura 2: Evolução do Consumo por consumidor no mercado de cosméticos em alguns países. 4 Fonte: Clube de Finanças. A Figura 1 representa a evolução dos mercados dos principais países do setor de HPPC. Enquanto os EUA apresentaram CAGR (Compound Annual Growth Rate, ou taxa de crescimento anual composta) de 2,48% no período de 2003 a 2017, os países que mais cresceram foram: • Índia - CAGR 12,21%; • Brasil - CAGR 10,90%; • China - CAGR 10,63%. Já na Figura 2, nota-se que apesar de Brasil, China e Índia apresentarem as maiores taxas de crescimento do ranking dos oito maiores mercados de HPPC do mundo, o consumo per capita desses países é bem menor do que o dos demais países. Isso se deve a: • Em especial nos casos da China e da Índia, suas populações são muito maiores de que qualquer outro país no mundo, com mais de 1 bilhão de habitantes cada; • Nos países desenvolvidos, em geral, a renda per capita é maior do que em países em desenvolvimento e isso é refletido no consumo per capita; • Os países desenvolvidos, normalmente, encontram-se no quarto estágio da transição demográfica, ou seja, sua população está encolhendo, enquanto a economia continua crescendo (CLUBE DE FINANÇAS, 2017). É importante mencionar que a biodiversidade brasileira e o clima quente favorecem tanto o desenvolvimento de novos produtos, quanto a aceitação no mercado, além dos hábitos de higiene e cuidados estéticos. Em relação ao mercado mundial, dados do Euromonitor (2009) mostram que o Brasil ocupa a terceira posição em venda de cosméticos, já os dados de 2015 mostram que o país perdeu uma colocação ocupando, assim, a quarta posição. É o primeiro mercado em desodorantes; segundo em produtos infantis, produtos masculinos, higiene oral, proteção solar, perfumaria e banho; terceiro em produtos para cabelos e cosmético cores; sexto em pele e oitavo em depilatórios. Existem no Brasil 1.659 empresas atuando no mercado de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, sendo 14 empresas de grande porte Devido a esses fatores, a competição entre as empresas de cosméticos cresceu nos últimos tempos, sendo esse setor movido a recursos e lançamentos de novos produtos e na renovação de suas fórmulas, e por seguir tendências sazonais de modas e costumes. (ALMEIDA, 2006). Por esse mercado ser dinâmico, são utilizadas novas maneiras de se reinventar com utilização de outras áreas como marketing e tecnologia, com o objetivo de 5 pensar uma nova forma de negócio de dentro para fora e unindo departamentos. O objetivo de uma estratégia competitiva para uma empresa de cosméticos é tentar fazer com que a empresa tenha uma sustentação e ainda ocupe uma posição razoável no mercado. Podemos citar como principais estratégias competitivas adotadas por esse setor: • A inovação tecnológica em busca de diversificação dos produtos; • A segmentação de mercado em busca de melhores resultados; • A biotecnologia e a sustentabilidade, em busca de inovação e conexão com o mundo atual. A Análise de Porter é uma das melhores formas de analisar a competição entre as empresas de um setor.A Figura 3 mostra essa análise para o setor analisado. Figura 3: Análise de Porter para HPPC no Brasil. Fonte: Adaptado de Clube de Finanças. Consideram-se 5 forças competitivas: 1. Ameaça de produtos substitutos; 2. Ameaça de novos entrantes; 3. Poder de barganha dos fornecedores; 4. Poder de barganha dos consumidores; 5. Rivalidade entre concorrentes. São atribuídas notas de 1 a 5 para cada um dos fatores, quanto maior a nota, mais notável é a força na dinâmica do mercado. Note que a maior nota do setor é alcançada pela força competitiva 4, o que mostra que a característica de diversificação dos produtos do setor 6 acaba por dar um alto poder de barganha para o consumidor já que os consumidores possuem diversos produtos de diferentes marcas para escolher. O segundo elemento com maior nota (nota 3) é a rivalidade entre competidores e ameaça de produtos substitutos. Analisando o primeiro ponto, como visto, esse mercado exige investimento elevado em pesquisa e desenvolvimento (P&D), por isso, a competição entre os investidores não é uma característica marcante. Além disso, como já mencionado, esse setor tem como característica a segmentação, assim, devido a elevada quantidade de produtos, as empresas criaram sub setores e segmentos e cada empresa se destaca em algum, ou alguns dessas separações. Por isso, para organizações de grande porte é mais vantajoso investir em novos produtos ou em nova organização dentro da empresa do que em arranjar uma competição com os concorrentes. No entanto, é válido ressaltar que existe uma concorrência extra preço, mediante: diferenciação do produto, propaganda, serviços especiais, nesse setor que gera alto lucro para as empresas que investem nessa opção. O fato de os produtos desses segmentos exigirem determinadas precauções quanto à higiene no transporte, armazenagem, rotulação, além de rapidez no transporte faz com que se torne essencial comentar sobre as legislações e regras que existem nessa área para suprir essas exigências, fiscalizadas pela Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Vigilância Sanitária Municipal. Essas regras estão documentadas no Diário Oficial e em outros veículos federais. Assim, vale a pena ressaltar três pontos básicos de regulamentação e regras do setor de cosméticos que englobam o que foi mencionado: • Autorização de funcionamento - “Autorização da ANVISA” é a AFE (Autorização de Funcionamento de Empresa), é necessário pois o setor produz algo delicado. Caso, os produtos não passem por controles rígidos de qualidade, podem oferecer riscos à saúde. • Alvará Sanitário - Normas de higiene e saúde das instalações da sua empresa, dos veículos, embalagens, armazenamento e transporte, caso não avaliada pode gerar impactos ambientais. • Especificações dos rótulos - Esses devem apresentar as seguintes informações: 1. Nome do produto, do fabricante, do estabelecimento em que é fabricado e o endereço; 2. O número de registro e a sigla do órgão subordinado à ANVISA que faz a fiscalização; 3. O número do lote com a data de fabricação e validade; 4. Peso, volume ou quantidade de unidades; 7 http://portal.anvisa.gov.br/registros-e-autorizacoes/farmacias-e-drogarias/autorizacao-de-funcionamento/certificado-de-afe 5. Finalidade, uso e aplicação; 6. O modo de preparo; 7. Precauções, cuidados e esclarecimentos; 8. Nome do responsável técnico, número de inscrição e sigla da autarquia profissional responsável. A partir do panorama analisado, inicia-se agora a análise das duas empresas escolhidas para o aprofundamento do trabalho: L’Oréal e Natura. 1.1 Objetivos O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento sobre o setor de cosméticos e as principais estratégias de duas instituições desse ramo: L’Oréal e Natura, além de elaborar e analisar de maneira crítica como é a performance dessas organizações para se manterem líderes no mercado. 2. L’ORÉAL 2.1 Histórico da Empresa A L’Oréal é uma empresa multinacional francesa concentrada no mercado de cosméticos e de produtos de higiene com sede oficial em Clichy na França. A empresa foi fundada em 1909 por Eugène Schueller com o nome Société Française de Teintures Inoffensives pour Cheveux e, desde o início, possuía grande afinidade e destaque no mercado francês, com pesquisa e inovação no ramo de beleza. A partir de 1920, a companhia começou a explorar além do mercado francês e adotou uma postura estratégica de grande expansão mundial, conquistando espaço nos mercados não explorados. Em 1959 a L’Oréal chegou ao Brasil. Atualmente a empresa possui operação em 130 países e no ano de 2013 apresentou um faturamento de €2,95 bilhões. O portfólio da empresa é extenso e tem produtos especializados para cabelo (colorações e xampus), protetores solares, produtos para a pele e perfumes. Desde a criação da organização, a área de P&D e de novas tecnologias de produção no ramo de cosméticos é destaque. Desde 2005, o grupo L’Oréal, que já incentivava estudos e pesquisas científicas, passou a adotar no Brasil uma postura de investimento em projetos de responsabilidade social, ética e educação. Atualmente, a L’Oréal é a líder mundial de cosméticos. 8 2.2 Estratégia Organizacional A L’Oréal é a empresa líder mundial no setor de cosméticos e o seu portfólio é variado. A comercialização de seus produtos é realizada por meio de uma distribuição em massa para estabelecimentos, vendas à distância e distribuição seletiva para salões de cabeleireiro e farmácias. Dados de 2019 mostram que as vendas líquidas da L’Oréal são divididas geograficamente pela seguinte distribuição: 32,3% na Ásia, 25,3% na América do Norte, 19,4% na Europa Ocidental, 8,3% na França, 6,4% na Europa Oriental, 6,0% na América Latina e 2,3% na África e Oriente Médio. Na Tabela 1 é apresentada a variação das vendas líquidas da L’Oréal entre os anos de 2018 e 2019. Tabela 1: Vendas líquidas entre 2018 e 2019 Fonte: Adaptado de Market Screener A dominância do Grupo L’Oréal no setor de cosméticos é notável. Com uma capitalização quase 6 vezes maior que o segundo colocado, é possível afirmar que a curto e médio prazo o grupo não possui nenhuma ameaça competitiva que venha a afetar o seu desempenho operacional e financeiro global. No entanto, localmente o grupo pode sofrer concorrência de outras marcas que apresentaram um crescimento mais acelerado. A Tabela 2 apresenta a variação e capitalização de diversas companhias no setor desde janeiro de 2020. Tabela 2: Variação e Capitalização de Companhias no Setor de Cosméticos e Perfumes em 2020 9 Fonte: Adaptado de Market Screener Quanto à distribuição de seus produtos vendidos, temos a seguinte divisão em macro categorias: 35% das vendas são de produtos para a pele, 26,3% são de produtos de maquiagem, 14,9% são de produtos para os cabelos, 10,1% são de produtos para coloração, 9,3% são de fragrâncias, e 4,4% de outros produtos. Os produtos podem também ser divididos em 4 famílias/setores: • Cosméticos de consumo: L'Oréal Paris, Garnier, Maybelline New York, NYX Professional Makeup, Essie Niely, Dark and Lovely, Mixa, MG e marcas Carol's Daughter; • Cosméticos de luxo: Lancôme,Yves Saint Laurent, Giorgio Armani, Kiehl's, Urban Decay, IT Cosmetics Shu Uemura, Biotherm, Helena Rubinstein, Yue Sai, Clarisonic, Atelier Cologne Ralph Lauren, Viktor & Rolf, Diesel, Cacharel e Maison Margiela marcas; • Produtos profissionais: marcas L'Oréal Professionnel, Redken, Matrix, Kérastase, Pureology, Decléor Shu Uemura Art of Hair, Carita, Mizani e Baxter; • Cosméticos ativos: marcas La Roche-Posay, Vichy, CeraVe, SkinCeuticals, Roger & Gallet e Sanoflore. Na Tabela 3 é apresentada a variação do faturamento líquido da L’Oréal em cada um destes setores nos anos de 2018 e 2019. Tabela 3: Faturamento líquido da L’Oréal em 2018 e 2019 por família de produtos Fonte: Adaptado de Market Screener 10 A grande variedade de marcas associadas a cada setor de produtos fornecidos pela L’Oréal é um reflexo direto de um de seus principais objetivos estratégicos, que consiste em cobrir todos os segmentos de mercado dentro da indústria de cosméticos, visando assim atender as diferentes necessidades dos clientes. Cada uma das subsidiárias do grupo L'Oréal apresenta diferentes elementos estratégicos no que diz respeito a competição, posicionamento da marca, alcance e desempenho (lucros), sempre alinhados à visão do Grupo de que “a beleza é acessível a todas as mulheres e homens do mundo”. Para se adaptar às tendências de globalização bem como impulsionar sua estratégia de universalização, em 2013 a L’Oréal segmentou o seu mercado mundial em oito novas grandes regiões: América do Norte, América Latina de língua hispânica, Brasil, Norte da Ásia, Sul da Ásia e Pacífico, África/Oriente Médio, Europa Oriental e Europa Ocidental. Destaca-se aqui o Brasil, como o único país a representar uma região, sendo uma área de negócios independente da América Latina. Com enfoque na L'Oréal Brasil, sendo a sexta maior subsidiária do grupo ela possui um papel estratégico por conta de seu tamanho, além da diversidade cultural e étnica e da valorização da beleza por parte do público brasileiro. Desde o início das operações em 1959, a empresa teve um papel determinante em impulsionar a indústria de beleza do país, sempre com a inserção de produtos inovadores. Com um portfólio de 26 marcas diversificadas e complementares, a L'Oréal Brasil cumpre o compromisso do grupo em propor soluções diferentes de beleza para homens e mulheres. De acordo com ROSSETTO & ROSSETTO (2005), a perspectiva da dependência de recursos reconhece os efeitos do ambiente (interno e externo) nos resultados das estratégias competitivas adotadas pela organização. Assim abrange tanto o papel da gerência em captar recursos vitais, quanto nas habilidades de negociação e relacionamentos interorganizacionais, na tentativa de tornar as características do ambiente compatíveis com os interesses da organização. Dessa forma, analisando os principais aspectos estratégicos da L’Oréal relacionados com a dependência de recursos destacam-se: • Elevados investimentos financeiros no setor de Pesquisa & Inovação para fornecer um fluxo constante de produtos inovadores às marcas do grupo; • Priorização de suprimentos locais (embalagens, matérias-primas, serviços terceirizados) obtidos de forma sustentável para reduzir o impacto de suas atividade e produtos ao meio ambiente; 11 Gestão responsável de matérias-primas, selecionando-as a partir de critérios de sustentabilidade como adesão à biodiversidade, segurança de usuários e disponibilidade a longo prazo; • Utilização de matérias-primas diversas obtidas a partir de processos de comércio justo, como óleo de gergelim, aloe vera e óleo de argan; • Parcerias institucionais como a “Cosmetics Europe” com papel fundamental no apoio e desenvolvimento da aceitação científica e política ao uso de métodos alternativos para testes; • Parcerias acadêmicas como a ECOPA (Plataforma de Consenso Europeu para Alternativas) com o compromisso de oferecer serviços de alto valor agregado a governos e agências, bem como consultoria econômica especializada em países que passam por mudanças econômicas; • Parcerias no setor privado como a CeeTox, empresa que ajuda a identificar novos candidatos a medicamentos, substâncias, cosméticos e produtos de consumo com menor risco e toxicidade, levando produtos mais seguros ao mercado. É assim notável que as estratégias adotadas pela L’Oréal são extremamente eficazes, mantendo-a consolidada como líder mundial no setor de cosméticos, sem nenhuma concorrência potencial para o futuro próximo. Além disso, sua abordagem de “ecodesign” com a utilização de recursos sustentáveis é bem estabelecida a partir da cooperação com fornecedores e parceiros. A matriz SWOT é utilizada pelas organizações para determinar os pontos mais importantes do planejamento estratégico. Estas informações são analisadas e a partir disto, buscam soluções para problemas no mercado que estão inseridos. No Quadro 1 apresenta-se a matriz SWOT da L’Oréal Brasil, com os principais pontos de análise. Quadro 1: Matriz SWOT da L’Oréal Brasil. 12 Fonte: Berlese et al. (2017) 2.3 Estrutura Acionária A L’Oréal segue o modelo de sociedade anônima (S.A.) e apresenta o quadro de acionistas elencados na Tabela 4. Tabela 4: Quadro de acionistas da L’Oréal Fonte: Adaptado de Market Screener Analisando a Tabela 4 observa-se que o principal acionista da L’Oréal é um grupo de investimento da família Bettencourt Meyers, o qual é gerido principalmente por Françoise Bettencourt-Meyers, a atual diretora da L’Oréal, correspondendo a aproximadamente ⅓ das 13 ações da empresa. Isso mostra como a empresa ainda é influenciada pela família fundadora da companhia, a qual ainda ocupa cargos estratégicos da L’Oréal e é a principal acionista. Este fator pode indicar confiança para a companhia, pois a família fundadora investe no próprio empreendimento, passando segurança para o mercado de ações e investimentos. Entretanto a presença majoritária da família Bettencourt Meyers pode ter um impacto negativo na tomada de decisões, uma vez que a família pode adotar uma postura diferente do quadro de diretores ou acionistas, e assim indicar um sinal de fragilidade e insegurança na L’Oréal. Por isso, o quadro estratégico e a tomada de decisões da companhia devem estar completamente alinhados, a fim de passar confiança para o mercado. Ainda com relação ao principal acionista da L’Oréal, a família tem uma fatia de exatamente 33,2% da companhia, o que pode ser um indicativo de um acordo entre o quadro de diretores e os acionistas estipulando que o grupo Bettencourt Meyers não pode obter uma fatia maior que ⅓ das ações. Seguindo adiante na Tabela 4, verifica-se que a segunda maior acionista é a Nestlé S.A., grupo do setor agroalimentar e que é líder mundial no ramo, detentora de 23,2% das ações da L’Oréal, valor que corresponde a aproximadamente 43 bilhões de dólares. De acordo com a Nestlé, a natureza do relacionamento com a L’Oréal além de ser acionária, é relacionada com uma cooperação entre as duas empresas em joint ventures bem sucedidas (Galderma e Laboratoires Innéov) com esforço conjunto em pesquisas.Os outros nomes apresentados na Tabela 4 são de grupos de investimentos, tais como a Norges Bank Investment Group que corresponde ao setor de investimentos do banco da Noruega e a The Vanguard Group que é a maior provedora de fundos mútuos de investimento e a segunda maior provedora de fundos na bolsa de valores. 2.4 Estrutura Organizacional O grupo L’Oréal apresenta um organograma dividido em três níveis hierárquicos. No primeiro nível temos o conselho que conta com o Presidente e CEO Jean-Paul Agon, o atual Vice-Presidente Paul Bulcke e um grupo seleto de diretores. No segundo nível encontram-se os principais cargos de gestão e administração da organização e no terceiro nível encontram-se os cargos associados. A Figura 4 apresenta o organograma completo com os respectivos funcionários. Figura 4: Organograma geral de L’Oréal 14 Fonte: Adaptado de The Official Board 2.5 Composição dos conselhos de administração Como foi citado anteriormente, a empresa foi fundada por Eugène Schueller, pai de Liliane Bettencourt (1922-2017) que até 2017 foi a principal acionista da L’Oréal e que era mãe de Françoise Bettencourt Meyers, diretora da L’Oréal desde 1997. Na Tabela 5 é apresentado o quadro de diretores da L’Oréal em 2020. O comitê executivo é formado por um número maior de pessoas, aqui estão elencados apenas os principais diretores. Tabela 5: Quadro de diretores Fonte: Adaptado de Market Screener Observa-se na Tabela 5 que, apesar de muitos diretores na empresa, a família Bettencourt-Meyers está presente em 3 cargos de chefia da L’Oréal. Assim, percebe-se que 15 apesar da abertura do quadro de diretores, a empresa sempre esteve sob posse da família fundadora. Uma mudança em breve irá ocorrer com o cargo de diretoria da L’Oréal, com a mudança do atual CEO da L’Oréal (Jean-Paul Agon), que será sucedido por Nicolas Hieronimus que é atualmente o presidente de divisões seletivas. Essa troca de gestão irá ocorrer em 1° de maio de 2021. 2.6 Tecnologia A utilização de tecnologia pelo grupo L’Oréal pode ser dividida em quatro categorias fundamentais: sistemas de informação e tecnologia; digital; pesquisa e inovação; operações. Para lidar com a realidade de um mundo em rápida mudança, a L’Oréal conta com o departamento de Sistemas de Informação, tendo equipes presentes em todos os setores da empresa. As equipes têm como objetivo criar soluções de TI para garantir o desempenho dos vários setores do grupo, desenvolvendo projetos para as marcas, fábricas e centros de P&I, e assim melhorar a excelência operacional da empresa e auxiliar na introdução de novas tecnologias. Atuam como facilitadores de inovação dando suporte para a revolução digital. No centro das mudanças na indústria de beleza e cosméticos está a revolução digital. Definindo novas prioridades e oportunidades, o grupo é forçado a rever as estratégias e investimentos para dar lugar de destaque à utilização dos recursos digitais. É essencial para a L’Oréal reforçar a especialização digital, contratando profissionais capacitados para trabalhar com e-commerce, comunicação e marketing digital. O atendimento ao cliente e distribuição de produtos e serviços devem acompanhar as novas tendências, tendo o departamento de TI como suporte e impulsionador das mudanças. Motivadas por uma visão comum de inventar e aperfeiçoar cosméticos inovadores, contribuindo para o bem estar dos consumidores no mundo todo, as equipes de Pesquisa e Inovação (P&I) combinam características como expertise e sensibilidade, criatividade e visão de mercado, para, através de uma comunidade multicultural com mais de 30 especializações, superar continuamente as fronteiras da ciência e colocar o produto desejado nas mãos dos clientes. Os centros de P&I da L’Oréal são divididos em 4 áreas principais: • Pesquisa avançada: atua no desenvolvimento de conhecimento nas áreas científicas (biologia, biotecnologia, química, física) para obter ativos eficazes e sustentáveis, abastecendo as divisões do Grupo com novos produtos. Além de criar modelos de avaliação de segurança e desempenho; 16 • Pesquisa aplicada: atua na criação das fórmulas dos ativos desenvolvidos pela pesquisa avançada, além de levar à criação de novas propriedades cosméticas e melhorar as existentes. Junto à equipe de pesquisa avançada, avaliam os ingredientes e tecnologias sugeridos pelo Grupo, a fim de passar a tarefa adiante para a equipe de desenvolvimento; • Desenvolvimento: trabalha com as novas fórmulas e garante que serão oferecidos os produtos com melhor desempenho para as marcas, visando a segurança dos consumidores e do meio ambiente. Fornecem constantemente produtos inovadores com recomendações de uso baseadas nas regulações do país sede da subsidiária L’Oréal; • Funções de Suporte: realizam avaliações analíticas, de segurança e eficiência global de matérias-primas e fórmulas. Além disso cuidam dos assuntos regulatórios, das patentes (proteção industrial das descobertas), da gestão de recursos e realizam pesquisas com consumidores. Por fim, o departamento de operações da L’Oréal combina tecnologia e inovação para desenvolver, fabricar e fornecer não simplesmente produtos de beleza, mas soluções eficientes, responsáveis e adequadas aos clientes. O departamento conta com cerca de 18 mil funcionários (quase ⅓ de todos os funcionários do grupo) com uma ampla gama de habilidades e conhecimento, distribuídos entre escritórios centrais, fábricas e centros de distribuição, totalizando 40 fábricas e 150 sites de logística em todo o mundo. O grupo organiza as operações em zonas geográficas, favorecendo a colaboração entre as equipes de pesquisa e marketing e acelerando a comercialização de inovações locais. A partir de 2018, a L’Oréal Brasil deu início aos preparativos para a digitalização de todas as operações, começando com a Fábrica da L’Oréal Brasil, localizada em São Paulo, a introdução do conceito de Indústria 4.0 na companhia. Antonio Grandini, Diretor da Fábrica de São Paulo disse na época que esperava que a área de operação não apenas acompanhasse todas as mudanças da sociedade e dos negócios da L’Oréal, mas que fosse um motor para essas mudanças. Desde então, o investimento em tecnologia se tornou uma das prioridades na L’Oréal Brasil, otimizando a rotina dos trabalhadores, aumentando a agilidade produtiva e atendendo às demandas de consumidores conectados. De acordo com Jean-Paul Agon, CEO global, o objetivo é transformar a L’Oréal em uma beauty tech, investindo cada vez mais na transformação digital do Grupo. 17 2.7 Comportamento e Cultura Em uma organização, ao discutir-se sobre a questão de cultura organizacional, um dos principais medidores para os interessados na empresa é o que a organização busca atingir, qual é o papel dela no mundo e quais os principais valores defendidos por ela. Isso geralmente é chamado de missão, visão e valor (MVV) da organização e possui um papel vital, pois serve para planejar os negócios da empresa de maneira melhor emais assertiva. Estes três fatores servem principalmente para mostrar aos consumidores, colaboradores e parceiros (ou seja, os stakeholders) a direção estratégica que a organização busca seguir. A L’Oréal defende como missão oferecer a todas as pessoas do mundo o melhor da inovação no setor de cosméticos, em termos de segurança, qualidade e eficácia. De acordo com o Grupo, sua principal meta é atender à infinita diversidade de necessidades e desejos de beleza ao redor do mundo. O que mais se encaixaria como visão da L’Oréal é o papel de atuação da empresa e quais seus objetivos para o mundo. De acordo com o Grupo sua atuação está focada em moldar o futuro da beleza, usando como principais recursos o poder da ciência e da tecnologia, buscando causar o menor impacto ambiental possível. Também buscam impulsionar a inovação social, trazendo a melhor oportunidade e segurança para seus funcionários, e construir um local de trabalho inclusivo, garantindo um ambiente diversificado, assim como as pessoas que utilizam seus produtos. Um dos principais pontos defendidos pela L’Oréal e que deve ser destacado aqui é a proteção ambiental do planeta defendida pela empresa, que busca combater as mudanças climáticas ao respeitar a biodiversidade e preservar os recursos naturais. Pode-se observar o alinhamento do Grupo com a visão apresentada quando em 2017 a L’Oréal foi nomeada a empresa mais sustentável do mundo naquele ano. Com relação aos valores defendidos pelo Grupo, estes estão incluídos nos princípios éticos que moldam a cultura da empresa, e fundamentam a própria reputação dela. Eles são: Respeito, pois tudo que fazem tem um impacto na vida de muitas pessoas; Integridade, visto que é um dos princípios mais importantes para manter a confiança de todos os interessados na empresa e para alcançar bons relacionamentos; Transparência, pois de acordo com a L’Oréal, “devemos sempre ser verdadeiros, sinceros e capazes de justificar as nossas ações e decisões”; e Coragem, pois questões éticas são difíceis, mas devem ser tratadas com toda a seriedade. Neste contexto, pode-se notar que a L'Oréal, principalmente em sua organização no Brasil, busca o cuidado com pessoas, não apenas com os clientes, mas sim uma verdadeira 18 transformação na vida dos seus colaboradores. Algumas atitudes foram evidenciadas, entre elas o aumento do número de mulheres em altos cargos e a capacitação de pessoas com deficiência (PCDs). A L'Oréal também é líder no quesito igualdade de gênero, uma vez que mulheres compõem a maioria do quadro de funcionários da empresa, e mais do que isso são maioria (54%) dos cargos chave. Segundo o próprio site da organização: “A Equileap classificou a L'Oréal como a principal empresa com equilíbrio de gêneros na Europa em 2018. Entre outras distinções, as Nações Unidas concederam à L'Oréal o Prêmio de Liderança pela Igualdade de Gênero e o Grupo está incluído no Bloomberg 2018, Índice de Igualdade de Gênero, que destaca empresas que assumiram fortes compromissos com a causa”. Um exemplo prático dessa postura estratégica está na parceria com a Unesco: “Para Mulheres na ciência”, que premia 7 pesquisadoras com bolsas de R$ 50 mil, atuando desde 2006. Com relação aos PCDs, a organização entende que tais pessoas agregam experiências e ideias únicas às mesas de discussão, fortalecendo a missão de ser referência em beleza em todos os setores do mercado de cosméticos. Até o final de 2018, a L’Oréal Brasil empregou 1.177 pessoas portadoras de deficiência. Observa-se internamente que a L’Oréal define a sua missão como o principal objetivo não somente para os stakeholders, mas também para os seus funcionários. Por isso ao ingressar na empresa o comportamento adotado é de ensinar aos colaboradores como influenciar as formas e definições da beleza no mundo. De acordo com a própria empresa, isso é alcançado ao dar espaço para seus funcionários terem liberdade de pensar e agir além do seu trabalho, encorajando principalmente diferentes pontos de vista, de forma a alcançar o diferencial defendido pela visão da empresa. 2.8 Análise Crítica Ao observar o legado que a L’Oréal construiu como empresa no setor de higiene pessoal e de cosméticos, pode-se concluir que ela apresenta uma estrutura sólida e concisa com os seus stakeholders que mantém a confiança pela qualidade, segurança e rentabilidade dos seus produtos. Isso pode ser verificado uma vez que a L’Oréal é a empresa mais valiosa no setor de cosméticos e perfumes conforme apresentado na Tabela 2. Analisando sob a perspectiva tecnológica da empresa, conclui-se que não apresenta discrepância do que é apresentado pela organização, visto que desde a sua fundação com Eugène Schueller, sempre foi preservado que a L’Oréal seria uma empresa especialista no ramo de beleza investindo na pesquisa e inovação. 19 Aprofundando mais a análise, um fator preocupante que deve ser observado quando estudamos o crescimento das organizações, é o impacto externo que esta causou para alcançar melhores resultados. Como a L’Oréal é uma empresa vinculada diretamente ao setor de química e derivados, o impacto ambiental é um fator relevante para analisar a que custo a organização se desenvolveu. A empresa francesa surpreende e mostra que o desenvolvimento tecnológico e econômico que obtêm está diretamente relacionado com a redução nos impactos ambientais, tais como a filial americana da L’Oréal que se tornou em 2017 a empresa global com melhor desempenho em sustentabilidade, assim como a filial chinesa da empresa que em 2015 atingiu pegada neutra de carbono. Para reforçar o interesse da L’Oréal no desenvolvimento tecnológico e sustentável, o departamento de pesquisa e inovação da empresa busca parceria com instituições acadêmicas para realizar a avaliação de seus produtos de maneira segura sem o uso de animais, de tal forma que possa baratear os seus testes e chamar a atenção de mais uma parcela de consumidores que ficam interessados pela causa da companhia. Ao analisar a estrutura organizacional da empresa, o desenvolvimento tecnológico e a competitividade no mercado mostram que a L’Oréal não apresenta problemas a curto prazo com atendimento da demanda ou falta de tecnologia, visto que a empresa se encontra isolada no setor de cosméticos e perfumes como a empresa mais lucrativa, não tendo necessidade de recorrer a estratégias corporativas para alcançar a competitividade do mercado. Entretanto, um fato interessante que deve ser analisado nas Tabelas 1 e 2 é a fatia de lucros da L’Oréal ser de aproximadamente ⅓ no território asiático, e observa-se que empresas como Proya Cosmetics Co. e Yujiahui Co., empresas chinesas, alcançaram lucros de aproximadamente 100% em menos de um ano, servindo de alerta para a L’Oréal que pode existir uma competitividade dentro do território, ainda mais se tratando da China, em que há maior incentivo do governo local para o consumo de produtos nacionais. Umfator conflitante observado na L’Oréal é algumas polêmicas em que a empresa acaba se envolvendo com relação a estereótipos e preconceitos com modelos muçulmanas ou trans, as quais acabam ofendendo uma parcela do seu mercado consumidor, passando uma imagem negativa para a empresa, por ter uma estratégia de marketing bastante conservadora e que se contrapõe ao defendido pela empresa de “beleza para todos”. 20 3. NATURA 3.1 Histórico da Empresa A Natura é uma organização empresarial, de origem brasileira, que atua no setor de cosméticos desde a década de 1969 com a fabricação de produtos cosméticos, tais como hidratantes corporais, sabonetes e perfumaria. Um dos seus principais diferenciais no seu mercado de atuação consiste no uso de ativos da biodiversidade brasileira, em especial da Amazônia, e de refis para compor seu portfólio de produtos. Atualmente, a organização integra a holding Natura & Co, juntamente com as empresas Aesop, The Body Shop e AVON. A Natura foi fundada, em 1969, por Luiz Seabra e Jean-Pierre Berjeaut. Os primeiros anos de atividade da organização deu-se uma pequena loja na cidade de São Paulo, na Rua Oscar Freire. Quando da sua abertura, a pequena empresa chamava-se Indústria e Comércio de Cosméticos Berjeaut, somente após alguns meses seu nome foi alterado para nome que se conhece hoje, Natura. O primeiro grande crescimento da organização ocorreu durante a década 1970 com a entrada do empresário Guilherme Leal à companhia e a adoção da modalidade de vendas diretas pela organização por intermédio das “consultoras de beleza” Natura, que culminou no fechamento de sua loja física em São Paulo. Em 1980 ocorre a expansão para diferentes regiões do Brasil, alcançando os números de 200 colaboradores e 2.000 consultoras. Em 1982, mais um empresário, Pedro Passos, entra na companhia. A partir das estratégias adotadas pelos quatros empresários (Luiz Seabra, Jean-Pierre Berjeaut, Guilherme Leal e Pedro Passos), donos da companhia, a organização começou a traçar os primeiros caminhos que culminaram no grande crescimento e a internacionalização da marca Natura durante a década de 1980 e 1990, dando origem a Natura dos dias atuais. Hoje a Natura tem operações na Argentina, Chile, Colômbia, Estados Unidos, França, México e Peru. Foi também neste período, mais precisamente na década de 1990, que a organização reformulou as suas crenças e valores para incorporar o conceito de sustentabilidade como uma das suas diretrizes mais importantes. Uma das grandes estratégias mercadológicas adotada pela organização, e bem sucedida, ocorreu em 2000 com o lançamento da Linha Ekos, que incorpora ingredientes bioativos oriundos da biodiversidade brasileira à fabricação de seus produtos, tais como óleos essenciais de maracujá, pitanga, andiroba, cumaru, castanha, priprioca, breu branco, copaíba entre outros. Além disso, em 2001 foi inaugurado o Espaço Natura, considerado um grande centro integrado de logística, produção, pesquisa e desenvolvimento de seus produtos 21 cosméticos. No ano de 2004, a companhia torna-se uma sociedade anônima com abertura de capital na BOVESPA (atual B3) ofertando ações da organização na bolsa de valores. Em 2015 inaugura a sua primeira loja em Paris. No ano de 2006, a Natura decidiu não realizar testes de toxicidade de seus produtos e de ingredientes em animais. Já em 2007, tem início à política da organização para reduzir a emissão de carbono em todas as etapas do seu processo produtivo, desde a extração da matéria-prima a entrega do produto ao consumidor, através do Programa Carbono Neutro. Com o intuito de fomentar a educação pública no país e promover o acesso à educação às suas consultoras, que hoje somam mais de 1 milhão, foi criado o Instituto Natura em 2010. Em 2014 a marca Natura ganha o selo corp-B e em 2019 é vez da marca The Body Shop a receber o certificado B. Em 2016, a Natura dá início a um plano estratégico de retorno de suas lojas físicas pelo Brasil, especialmente com foco em grandes centros comerciais como Shopping Centers de cidades com mais de 200 mil habitantes, através de franquias e lojas próprias, que atualmente já totalizam 490 unidades espalhadas em todo território nacional. E em 2016 é inaugurado a sua primeira loja física em Nova York. Em 2020, a Natura & CO começar a negociar ações na bolsa de valores de Nova York. No que se refere aos principais processos de aquisição realizados pela organização durante os seus 50 anos de existência, têm-se seguintes aquisições: • Em 1999, aquisição da empresa Flora Medicinal (empresa brasileira de fitoterápicos) • Em 2013, ocorre a compra da Aesop (origem australiana); • Em 2017, é adquirida da L’Oréal a empresa The Body Shop (origem britânica); • Em 2019, têm início o processo de aquisição da AVON com a sua finalização em 2020. Com o término do processo de aquisição da AVON a Natura & CO irá tornar-se a 4° maior grupo empresarial de cosmético do mundo. 3.2. Estratégia Organizacional A Natura &Co é um grupo constituído por quatro empresas de cosméticos interdependentes (Natura, Avon, The Body Shop e Aesop), que possui uma ampla quantidade de produtos de beleza e emprega mais de 6000 colaboradores. A Tabela 6 indica o número de colaboradores por país nos anos 2017, 2018 e 2019. Por meio desta tabela é possível verificar que entre 2017-2018 houve um crescimento global de 5,1% no número de colaboradores, enquanto entre 2018 -2019 o crescimento foi de apenas 2,8%. 22 Tabela 6: Colaboradores por país Fonte: Adaptado do relatório 2019 da Natura. Além disso, nota-se pela Tabela 6 que no ano de 2019 a distribuição percentual de colaboradores entre os listados países foram: • 74,6% no Brasil; • 10,5% na Argentina; • 3,3% no Chile; • 2,0% no México; • 3,3% no Peru; • 5,9% na Colômbia; • 0,2% na França; • 0,2% nos EUA. Em relação às vendas por marca, a Tabela 7 apresenta o faturamento com as vendas por cada empresa constituinte da holding entre 2018 e 2019. Através da Tabela 7 verifica-se que no ano de 2019 as vendas da Natura corresponderam a 63%, enquanto The Body Shop apresenta 28,6% e Aesop 9%. Como entre 2018 e 2019 a AVON ainda não fazia parte da holding os seus dados de vendas não foram contabilizados. Ademais, é possível verificar pela Tabela 7 que houve crescimento de todas as marcas (ao considerar as três divisões da Natura conjuntamente), porém a Natura fora da América Latina, apresentou uma leve queda no faturamento das vendas entre 2018-2019. Tabela 7: Venda por marca da Natura &Co. 23 PAÍS 2017 2018 2019 Brasil 4765 4958 5085 Argentina 651 690 716 Chile 189 224 225 México 189 122 133 Peru 219 228 224 Colômbia 362 378 402 França 19 21 16 Estados Unidos - 14 19 Total 6311 6635 6820 2018 2019 Variação Fonte: Adaptado de Market Screener. No tocante às vendas por regiões onde a holding realizações operações, constata-se pela Tabela 8 que ocorreu crescimento em todas as regiões do globo exceto na América do Sul, sem considerar o Brasil.Com a aquisição da AVON no final de 2019 a Natura expandiu a sua atuação para mais de 100 país e aumentou significativamente o número de colaboradores, conforme pode ser visualizado na Figura 5. A partir da Figura 6 constata-se que as suas maiores operações atualmente estão na América Latina e na Europa. Tabela 8: Vendas por Região Fonte: Adaptado de Market Screener. Figura 5: Números de colaboradores ao redor do planeta após a aquisição da AVON. 24 Milhões de R$ Milhões de R$ Natura Brasil 6,022 6,261 +3,96% The Body Shop 3,886 4,129 +6,26% Natura LATAM 2,416 2,742 +13,53% Aesop 1,064 1,303 +22,46% Natura (Outras regiões) 9,45 9,09 -3,85% 2018 Milhões de R$ 2019 Milhões de R$ Variação Brasil 6,083 6,324 +3,97% Reino Unido 1,877 2,115 +12,67% Outros da América do Sul 2,451 2,016 -17,77% América do Norte 919,83 1,751 +90,36 Outros da Europa 787,77 794,58 1,51% Ásia 666,15 782,94 17,53% Oceania 616,93 660,80 7,11% Fonte: Relatório anual, 2019. De acordo com o relatório anual da Natura & CO, fecharam o ano de 2019 com os seguintes resultados: • mais de 6,3 milhões de consultoras e revendedoras; • mais de 3 mil lojas próprias e franqueadas (inclusa Natura, Aesop e The Body Shop); • mais de 40 mil colaboradores e associados; • mais de 200 milhões de consumidores ao redor do mundo; • 1,8 milhões de hectares de florestas conservadas a partir dos seus projetos de sustentabilidades; • US$ 10 bilhões de receita bruta combinada; • mais de US$ 1 bilhão doados a causa das mulheres. A Figura 6 apresenta a receita líquida da Natura no ano de 2019. É possível verificar na Figura 6 que grande parte da receita da empresa Natura provém da América Latina, principalmente do Brasil, enquanto nos países fora da América Latina apresenta somente 0,1% da receita. 25 Figura 6: Receita líquida da Natura em 2019. Fonte: Relatório Natura 2019. Em relação a receita líquida para as empresas componentes da holding Natura & Co em 2019, todas apresentaram crescimento em comparação ao ano de 2019, sendo a marca Natura a que obteve a maior receita líquida, conforme ilustra a Figura 7. Alves et al. realizaram uma a análise do ambiente interno e externo da Natura através da ferramenta SWOT e suas considerações encontram-se no Quadro 2. Figura 7: Receita líquida em 2018 e 2019 pelas marcas Natura, The Body Shop e Aesop. Fonte: Relatório Natura & Co, 2019. 26 Quadro 2: Matriz SWOT da empresa Natura Fonte: Alves et al. Nota-se pelo Quadro 2 que a sustentabilidade da empresa é uma das suas principais características, sendo destacada tanto nas “oportunidades” quanto nas “forças”. Além disso, o pilar da sustentabilidade é umas das principais estratégias utilizadas pela empresa, já que desde a fundação este é o objetivo dos produtos (matérias primas naturais), como nas últimas décadas este apelo aos produtos ambientalmente correto cresce grandemente, a ganha um ambiente socialmente a favor de suas políticas. Quanto às fraquezas e ameaças, são comuns a muitas empresas, como concorrentes, economia e propaganda, mas uma das ameaças que é inerente à forma que a Natura foi concebida é quanto às matérias primas naturais, que podem sofrer empecilhos com leis ambientais para a extração de tais matérias. 27 3.3. Estrutura acionária A Tabela 9 apresenta a composição acionária em relação ao mercado brasileiro, em 16 de novembro de 2020, obtida a partir no site da B3, enquanto a Tabela 10 mostra o número de ações em circulação por categorias, tais como pessoas físicas, jurídicas e instituições. Tabela 9: Composição acionário das ações NTCO3 na B3. Fonte: B3. Tabela 10: Ações em circulação no mercado brasileiro. Fonte: B3. 28 NOME %ON %PN %TOTAL Dynamo Administração de Recursos Ltda. 3,48 0,00 3,48 Kairós Fundo de Investimento em Ações – Investimento no Exterior 0,38 0,00 0,38 Sirius Iii Multimercado Fundo de Investimento Crédito Privado Investimento No Exterior 0,36 0,00 0,36 Rm Futura Multimercado Fundo de Investimento Crédito Privado Investimento No Exterior 0,10 0,00 0,10 Passos Participações S. A 0,00 0,00 0,00 Fia Veredas Investimento no Exterior 1,64 0,00 1,64 Dynamo Internacional Gestão de Recursos Ltda. 1,81 0,00 1,81 Vinicius Pinotti 0,46 0,00 0,46 Gustavo Dalla Colletta de Mattos 0,32 0,00 0,32 Maria Heli Dalla Colletta de Mattos 1,77 0,00 1,77 Fabriciues Pinotti 0,46 0,00 0,46 Fábio Dalla Colletta de Mattos 0,32 0,00 0,32 Norma Regina Pinotti 2,76 0,00 2,76 Ricardo Pedroso Leal 3,30 0,00 3,30 Felipe Pedroso Leal 3,30 0,00 3,30 Antônio Luiz da Cunha Seabra 14,48 0,00 14,48 Guilherme Peirão Leal 7,23 0,00 7,23 Pedro Luiz Barreiros Passos 1,91 0,00 1,91 Lucia Helena Rios Seabra 0,00 0,00 0,00 Outros 55,91 0,00 55,91 Ações Tesouraria 0,02 0,00 0,02 Total 100,00 0,00 100,00 27/08/2020 Tipos De Investidores/Ações Quantidade Porcentual Pessoas Físicas 43.620 - Pessoas Jurídicas 318 - Investidores Institucionais 1.468 - Quantidade de Ações Ordinárias 841.083.922 61,17 Total de Ações 841.083.922 61,17 No mercado brasileiro a maior parte das ações estão com o fundador da empresa Antonio Seabra, com aproximadamente 14, 4 %. Na segunda posição encontra-se Guilherme Peirão Leal (atualmente co-presidente), antigo sócio da empresa desde 1979, com 7,3 %. Também se destacam a presença da Dynamo, empresa de gestão de recursos de renda variável no Brasil e no exterior, e do fundo de investimento de investimento de ações Veredas, FIA Veredas, administrado pela instituição financeira BTG Pactuais serviços financeiros. Ao observar tal composição acionária, é possível verificar que grande parte das ações se concentram com os co-presidentes e uma boa parte encontra-se com fundos de investimentos/instituições financeiras. Com isso, supõem-se que a empresa tenderá a promover estratégias que visem um alto crescimento nos próximos anos a fim de aumentar a competitividade da organização no mercado global, bem como alavancando os lucros, satisfazendo assim as necessidades dos seus acionistas. Exemplo disso, foi a aquisição da AVON que promoveu um salto no valor de operação das ações na B3 de ~ R$ 31,00 em novembro de 2019 para ~ R$ 50,00, aproximadamente 61% do seu valor, em fevereiro de 2020, conforme ilustra a Figura 8. Figura 8: Cotações em reais das ações NTCO3 na B3 entre 2016 e 2020. Fonte: Investing.com A Tabela 11 apresenta a composição acionária da Natura, ações NTCO, na bolsa de valores de Nova York (NYSE) e a Figura 9 ilustra a cotação das ações da Holding durante o seu primeiro ano no mercado americano. 29 Tabela 11: Composição acionária da Natura nos EUA. Fonte: Market Screener Figura 9: Cotações em dólar das ações NTCO na Bolsa de NY em 2020. Fonte: Investing.com No mercado americano os maiores investidores estão ligados ao setor financeiro (todas as empresas apresentadas na Tabela 11). Com este fato, é possível concluir que, assim como na análise anterior, a estratégia de investimento nesta empresa é movida majoritariamente para atender os anseios dos membros dos fundos de investimentos. Além disso, existem projeções indicando a continuidade do crescimento da empresa e o aumento da geração lucro para os seus acionistas no longo prazo. 3.4. Estrutura HierárquicaA estrutura hierárquica da Natura é subdivida em três níveis. No nível superior tem-se o presidente da Natura, Roberto Marques e outros três co-presidentes Antonio Seabra 30 Nome Ações (%) Dynamo Internacional Gestão de Recursos Ltda. 1,99 Renaissance Technologiess LLC 0,62 Dynamo Administração de Recursos Ltda. 0,56 Morgan Stanley Uruguay Ltda. 0,36 Dimensional Fund Advisors LP 0,35 Millennium Management LLC 0,36 JPMogan Securities LLC 0,23 Merrill Lynch International 0,15 Goldman Sachs & Co, LLC 0,14 Jane Street Capital LLC 0,078 (fundador da Natura), Pedro Passos (cofundador) e Guilherme Leal (antigo sócio da empresa. A estrutura em mais detalhes pode ser conferida abaixo pela Figura 10. Figura 10: Estrutura hierárquica da Natura. Fonte: Adaptado de The Official Board. 3.5. Composição do conselho de administração Os membros que compõem o conselho de administração estão apresentados na Tabela 12. O seu atual diretor executivo é Roberto Oliveira Marques, que também é diretor da Avon Products, da Grocery Manufacturers Association e do Pacto Global. Na Natura &Co há quatro co-presidentes: Antonio Luiz da Cunha Seabra (fundador da Natura), Pedro Luiz Barreiros Passos (cofundador da Natura), Guilherme Peirão Leal (sócio da Natura desde 1979) e Roberto Oliveira (atual diretor executivo). 31 Tabela 12: Quadro de membros do conselho de administração. Fonte: Market Screener. Ao verificar os diretores independentes nota-se a presença de diretores que também dirigem outras companhias externas. Carla Schmitzberger dirige também a Alpargatas, Fábio Colletti Barbosa a Hering e o Itaú Unibanco, Gilberto Mifano a TOTVS e a Cielo; e por fim Ian Bickley que também é diretor da Crocs. 3.6. Tecnologia A tecnologia e a inovação sempre fizeram parte do DNA da Natura, resultado disso foi a criação em 2003 da Natura Campus, uma rede de inovação em ciência, tecnologia e inovação que conta atualmente com mais de 50 projetos de parcerias colaborativas, nacionais e internacionais, com institutos de pesquisas, universidades e empresas. Atualmente, a Natura conta com três centros de pesquisa no Brasil: o Centro de Inovação (Cajamar-SP), o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento (Benevides-PA) e o Núcleo de Inovação Natura Amazônia - NINA (Manaus-AM). O seu principal centro de pesquisa é o de Cajamar-SP, sendo considerado o maior e mais avançado centro de pesquisa em tecnologia cosmética da América do Sul. Segundo a empresa, o centro de inovação, em Cajamar, possui um sistema adaptável, que utiliza da tecnologia plug and play, que permitem diferentes configurações de sistemas. Tal tecnologia permite plugar e desplugar instalações que normalmente são fixas, como água, esgoto e eletricidade. Neste centro também há plantas piloto, que facilita o processo de implementação industrial. A empresa atualmente desenvolve cerca de dois mil protótipos em paralelo e lança cerca de 250 novos produtos ao ano. O laboratório de pesquisa e desenvolvimento, em Benevides-PA, tem como objetivo principal a inovação a partir do uso sustentável da diversidade brasileira, neste laboratório há 32 NOME IDADE CARGO POSSE Roberto Oliveira Marques 53 Diretor executivo e Copresidente - Antonio Luiz da Cunha Seabra 77 Copresidente - Pedro Luiz Barretos Passos 69 Copresidente - Guilherme Peirão Leal 69 Copresidente - Joselena Peressinoto Romero 53 Diretor 2020 José Antônio de Almeida Filippo 59 Diretor 2020 Carla Schmitzberger - Diretor independente - Fábio Colletti Barbosa 66 Diretor independente - Gilberto Mifano 68 Diretor independente - Ia Martin Bickley 55 Diretor independente - equipamentos em escala piloto e semi-industrial para processamento de frutos, extração e modificação dos óleos. Por sua vez, o NINA, em Manaus-AM, possui uma equipe fixa de pesquisadores e tem como objetivo promover a “articulação de redes de pesquisa integradas por instituições científicas na região norte do Brasil” (Dentre as instituições há a FAPEAM, UFAM, INPA, Embrapa e CBA). Em relações às suas mais recentes tecnologias empregadas em seus cosméticos tem-se a tecnologia de Nutrição Prebiótica nas formulações da linha de produtos Tododia e do creme facial Chronos Acqua Biohidratante, além da tecnologia pro-teia, tecnologia biomimética, desenvolvida em conjunto com a startup alemã Amsilk, que está presente na linha de cabelos Lumina. A tecnologia pro-teia, de acordo com a Natura, consiste em “uma fórmula cosmética inteligente, capaz de atuar em todas as camadas dos fios de cabelo: do nível mais profundo (no interior dos fios) até sua superfície, regenerando de dentro para fora”. No tocante as outras marcas pertencentes à Natura & Co (The Body Shop, Aesop e Avon) possuem estruturas próprias de pesquisa e inovação. The Body Shop, Aesop e Avon possuem centros de pesquisa principalmente em seus países de origem, Inglaterra, Austrália e EUA, respectivamente. Com o intuito de estimular a ciência e a tecnologia em temas estratégicos para o Brasil como a biodiversidade e a sustentabilidade foi criado o prêmio CAPES/Natura Campus de Excelência em Pesquisa, que premia e reconhece desde 2018 vários pesquisadores brasileiros. Em 2020, os temas propostos foram "Ciências moleculares e bioinformática com aplicações em tecnologias cosméticas" e "Amazônia: a ciência de dados contribuindo para conservação socioambiental e uso sustentável dos recursos naturais”. A Natura também investe na tecnologia de suas plataformas digitais. Através de sua plataforma há a gestão e o acompanhamento das vendas digitais. Os seus investimentos nesta área concentram, principalmente, em realidade aumentada, internet das coisas, bots, machine learning, inteligência artificial e big data a fim de buscar melhor qualidade interna da empresa e o atendimento ao cliente. O processo de logística é outro setor onde a tecnologia e automatização se destaca. Os primeiros investimentos na área deram-se em 1999, principalmente na área de automatização, e continuam até hoje. Seu processo logístico é conhecido pela sua sustentabilidade, com baixa emissão de carbono, e inovação na área, sendo adotado como exemplo em outros países. A empresa conta com dois centros de distribuição no Estado de São Paulo: o centro de distribuição em São Paulo, capital, em Itapevi, no interior. Em grande parte dos seus 33 centros de distribuição espalhados pelo Brasil os processos de recebimento de pedidos dos representantes de vendas e produtos das fábricas, armazenamento e expedição de produtos são controlados através de softwares de gestão de armazéns, que tem a função de armazenar e endereçar os produtos em estoque automaticamente. A sua gestão de Supply Chain resultou em elevada eficiência logística, propiciando a rapidez na entrega dos produtos aos seus representantes de venda em até 48 horas e uma malha de entrega em 100% dos CEP brasileiros, além de redução de custos logísticos. Sendo assim, infere-se que as inovações tecnológicas e o modelo multicanal direcionarão a empresa em seu desenvolvimento nos próximos anos. 3.7. Comportamentoe Cultura A Natura, desde sua fundação, tem como motivação a utilização de produtos naturais na composição de seus cosméticos. Atualmente, com a ascensão ainda maior dos meios de comunicação, para além dos jornais, revistas, rádio e televisão, através da internet, há o crescimento acentuado da propaganda, que se mescla com pautas em vigor na atualidade com a finalidade de se destacar e aumentar a presença no mercado consumidor de cosméticos. Em seu relatório anual referente às estratégias e resultados alcançados no ano de 2019 a Natura & Co afirma que o seu propósito é “nutrir a beleza e as relações para uma melhor maneira de viver e fazer negócios”, e sua aspiração é ousar “inovar para promover impacto econômico, social e ambiental positivo”. Em relação às suas crenças, são mencionadas as seguintes afirmativas: • “Temos paixão por sermos agentes de mudança”; • “Construímos relações a partir da transparência, colaboração e diversidade”; • “Somos comprometidos com a integridade e nos responsabilizamos por nossos atos’; • “Temos a coragem para desafiar o status quo e ir além”; • “Honramos e respeitamos a natureza interdependente das coisas”. A empresa, que possui como um dos seus pilares a sustentabilidade, possui destaque tanto nacionalmente quanto internacionalmente nos seguintes pontos: não utilização de animais em seus testes durante o desenvolvimento dos produtos, por ser 100% carbono neutro, pela utilização de embalagens ecológicas, uso de produtos refis e pelo uso sustentável de matéria prima natural. Além disso, possui o selo UEBT para a marca Ekos, que atesta uso de ingredientes de origem sustentável e relação ética com comunidades, também possui o selo da B-Corp, pelos benefícios socioambientais. 34 Há também investimentos para além da sustentabilidade, que gira em torno da empresa, com iniciativas como o investimento em projetos musicais, que ao todo já foram mais de 360 projetos até o momento. Há também o investimento em educação, pelos lucros da linha “Natura Crer Para Viver”, que possui como compromisso a alfabetização, o ensino médio em tempo integral e articulações com agendas prioritárias da educação. 3.8. Análise Crítica Tendo em vista o histórico de desenvolvimento da empresa, percebe-se diante dos dados apresentados anteriormente que houve uma grande ascensão na última década, exemplo disto foram as aquisições das empresas estrangeiras, a britânica The Body Shop (2017) e a australiana Aesop (2013), além da AVON em 2020, que juntas deram origem a holding Natura & Co (2018). Pode-se observar que houve um sucesso nesse passo adiante dado pela empresa, a internacionalização, pois, após dois anos de ter adquirida The Body Shop, iniciou-se o processo de aquisição da americana Avon Products. Ao observar a marca Natura em particular, é possível verificar que ela ainda possui uma participação pequena nas vendas de cosméticos no mercado fora da América Latina. Sendo assim, este é um ponto que a empresa poderá desenvolver estratégias de expansão internacional para essa marca em particular, promovendo a difusão em outras regiões estratégicas como a América do Norte e a Europa. Acredita que o primeiro passo rumo a essa maior projeção internacional foi dado pela aquisição da AVON, elevando consideravelmente o número de países que a holding Natura & Co realiza operações, mais de 100 países em 2020. Em relação a distribuição de ações, é possível perceber que os maiores acionistas (depois do conselho da empresa) são fundos de investimentos e alguns, em particular, são especificamente focados em lucros de médio e longo prazo. Com isso, acredita-se que haverá uma projeção boa de crescimento e receita nos próximos anos. Para o comércio nacional, o primeiro ponto é o desenvolvimento e inovação principalmente das marcas Natura e Avon, pois estes possuem uma participação maior em relação às outras duas marcas. Outro ponto a se observar, em particular para a marca Natura, é a inovação no marketing quanto à sustentabilidade, pois essa tende a ser um ponto crescente futuramente. Um outro meio de ampliação das vendas é a popularização das outras duas marcas, porém isto pode ser inviável a curto prazo. Como a Natura & Co se tornou o quarto maior grupo empresarial de cosméticos do mundo, uma possível estratégia para a diversificação seria adquirir empresas de outros países e setores para aumentar a sua 35 competitividade e participação de mercado, visando uma maior internacionalização de suas marcas. 4. CONCLUSÃO O trabalho apresentou um levantamento sobre o setor de cosméticos. Inicialmente, foi mostrado um panorama geral do setor trazendo um histórico da sua expansão no Brasil e dados que comprovem tal fato, além de pontos, como as estratégias competitivas gerais e algumas legislações importantes para o setor. Foram estudados o caso de duas grandes empresas: L’Oréal e Natura quanto aos aspectos de estratégias organizacionais, estrutura acionária e organizacional, composição dos conselhos administrativos, tecnologia, assim como, o comportamento e a cultura. A partir dos dados coletados, interpretados e analisados, pode-se concluir que a L’Oréal é empresa líder no setor de cosméticos mantendo-se consolidada no mercado mundial, isso acontece devido as suas estratégicas extremamente eficazes voltadas a grande variedade de marcas, expansão de seus serviços para novos locais, elevados investimentos financeiros no setor de Pesquisa & Inovação, além da sua abordagem “ecodesign” que chama atenção da sociedade devido a expansão da sustentabilidade. Assim, a empresa coloca em prática e cresce fortalecida pela sua visão: “a beleza é acessível a todas as mulheres e homens do mundo”. Em contrapartida, a Natura é uma empresa que começou a crescer no mercado principalmente nos últimos anos, devido, por exemplo, a novos investimentos como a compra de outras marcas, como a Avon. Esses investimentos fizeram com que a empresa crescesse no mercado e se tornasse, no último ano, a quarta maior empresa no setor. Além disso, assim como a L’Oréal, a empresa vem investimento em novos mercados como o mercado asiático e na inovação no marketing quanto à sustentabilidade. Nesse ponto, é válido comentar que a L’Oréal é uma empresa mais conservadora quanto ao marketing o que a diferencia da Natura. Em síntese, pode-se dizer que as empresas analisadas se enquadram como as estratégias competitivas gerais comentadas no início do trabalho quanto a inovação tecnológica, a segmentação dos serviços e o investimento em biotecnologia e sustentabilidade. No entanto, o resultado dessas estratégias é diferente nas duas empresas devido ao fato, por exemplo, da L’Oréal estar mais consolidada no mercado mundial que a Natura. 36 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, A. Branding, abordagem multiplataforma e meio ambiente: o que a estratégia da Natura pode ensinar. 2019. Disponível em: <https://rockcontent.com/br/blog/estrategia-da-natura/>. Acesso em: 20 nov. 2020. ALVES, R.A.; MARTINS,C.M.; PAULISTA, P.H. 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