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Unidade 2 Responsáveis, ações protetivas e contratos internacionais Wellington Bueno © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Imagens Adaptadas de Shutterstock. Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. Conteúdo em websites Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros. Sumário Unidade 2 Responsáveis, ações protetivas e contratos internacionais....................... 5 Seção 1 Órgãos intervenientes e estrutura de comércio exterior brasileiro .............................................................................. 7 Seção 2 Defesa comercial ...............................................................................20 Seção 3 Contratos internacionais .................................................................36 Unidade 2 Wellington Bueno Cleverson Neves Responsáveis, ações protetivas e contratos internacionais Convite ao estudo Olá, aluno! Nesta unidade, conheceremos a estrutura do comércio exterior no Brasil e, para isso, faremos uma análise das principais atribui- ções dos órgãos intervenientes do comércio exterior no país. Uma questão importante que analisaremos é o resultado da chamada reforma ministe- rial, relacionado à área de comércio exterior. Com o início do governo de Jair Bolsonaro, em 2019, foi promovida uma reformulação em praticamente todos os ministérios. De forma mais específica, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços foi extinto, e em seu lugar foi criada a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, subordinada ao Ministério da Economia. Essa reestruturação fez com que diversas secretarias fossem realocadas na recém-criada secretaria, concentrando as decisões sobre o comércio inter- nacional brasileiro no Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais e no Ministro da Economia. Dessa forma, na Seção 2.1, entenderemos a estrutura do comércio exterior brasileiro, quando veremos que a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais foi subdividida em três secretarias: a Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior, de caráter mais normativo e de apoio aos ministros da CAMEX; a Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais, com atribuições mais específicas, relacionadas às questões nacionais de comércio e financiamento internacional; e a Secretaria de Comércio Exterior, de caráter mais normativo às operações de comércio exterior, apoio aos exportadores, defesa do comércio e adoção de medidas antidumping. Aliás, a Defesa Comercial é um assunto que será estudado na Seção 2.2, enquanto que os contratos internacio- nais serão detalhados na Seção 2.3. Neste contexto, esta unidade é um convite para a análise e compreensão da estrutura do comércio exterior em uso no Brasil atualmente, sendo relevante para que você possa entender como o governo federal se estruturou para apoiar e orientar as ações das empresas exportadoras no Brasil. Bons estudos! 7 Seção 1 Órgãos intervenientes e estrutura de comércio exterior brasileiro Diálogo aberto Nesta seção, verificaremos como a estrutura do comércio exterior brasi- leira, por meio dos órgãos intervenientes, atua no sentido de promover e facilitar o comércio internacional para as empresas nacionais. Essa é uma questão muito importante, uma vez que a política desenvolvida pelo Governo Federal impacta diretamente na possibilidade e na viabilidade de as empresas nacionais atuarem no comércio internacional. Políticas mais restri- tivas, impostos elevados e muita burocracia fazem com que muitas empresas não se interessem pelo mercado externo; por outro lado, uma política menos restritiva, com impostos menores e com o mínimo de burocracia fazem com que o mercado externo se torne uma possibilidade real para as empresas, principalmente, as pequenas e médias. É necessário que o governo federal demonstre para o mercado e para as empresas envolvidas que as regras do comércio exterior não diferem de acordo com o tempo de operação destas no mercado internacional. Via seus órgãos estruturantes e ligados à Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, ele necessita fornecer melhores práticas internacio- nais, criando mecanismos internos de ajustes que permitam que muitas empresas (que já operam ou que pretendem ingressar no mercado externo com competitivi- dade) sintam-se amparadas. É notório ressaltar que, neste tipo de operação inter- nacional, o custo com a logística é que pondera o maior percentual de gastos nas operações, somando as taxas e tarifas dos portos e aeroportos. Com o objetivo de entendermos melhor essa situação, analisaremos o caso da Distribuidora, uma empresa que atua há doze anos no mercado nacional com produtos naturais e da linha fit. A empresa possui clientes em quinze estados e uma rede de atendimento que conta com três centros de distri- buição, além de oito escritórios regionais de vendas. Sua estrutura logística envolve a utilização de frota própria nos grandes centros urbanos e transpor- tadoras terceirizadas para atender as diversas outras regiões. Os produtos são adquiridos de indústrias nacionais, por meio de contratos de fornecimento, o que garante a disponibilidade dos produtos e preços mais competitivos. A Distribuidora está interessada em iniciar suas operações comerciais junto ao mercado externo. A possibilidade de importar diversos produtos que ainda não são comercializados no país fez com que o diretor comercial procedesse 8 uma análise sobre os ganhos que os novos produtos trariam, uma vez que a estrutura já existente seria suficiente para atender a essa nova demanda. Outro aspecto é a possibilidade de que a empresa venha a exportar os produtos que já comercializa no mercado interno para diversos países. Isso se deve ao fato de que muitos de seus fornecedores são indústrias de pequeno porte, com capacidade produtiva ociosa, e que gostariam de ver seus produtos exportados, contudo, não possuem condições de operar no mercado internacional. Como assistente do diretor comercial, você ficou responsável pela análise da estrutura de comércio exterior disponibilizada pelo governo federal para elucidar o seguinte questionamento: como a atual estrutura de comércio exterior do governo federal, por meio de diversos órgãos intervenientes, pode auxiliar a empresa em suas novas demandas? Para responder a esses questionamentos, é necessário estudar a mudança que ocorreu na estrutura do comércio exterior brasileiro pelo atual governo federal, buscando analisar como esse novo organograma está atuando no sentido de melhorar o comércio internacional do país, identificando as principais atribuições de cada secretaria e subsecretaria. Agora é com você! Bons estudos! Não pode faltar Nosso estudo se inicia pela análise da atual estrutura do comércio exterior brasileiro, passando pela identificação das atribuições de cada secretaria e/ou subsecretaria. O atual governo federal promoveu uma grande reestruturação nos órgãos intervenientes do comércio internacional brasileiro e, com isso, diversos departamentos deixaram de existir, sendo substituídospor outras entidades públicas. Cabe ressaltar que, em muitos casos, não houve mudança apenas no nome do departamento ou da secretaria, já que existiram diversas alterações nas atribuições de cada órgão. Assimile A estrutura do comércio exterior do Brasil organiza, de forma hierárquica, os órgãos que, direta ou indiretamente, estão ligados às atividades que cercam o comércio internacional. Por isso, todas as empresas que atuam (ou pretendem atuar) no mercado global precisam entendê-la. Parte da estrutura de comércio internacional está, atualmente, alocada de maneira mais específica na Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, conforme relacionado a seguir (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019a): 9 • Ministério da Economia. – Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (SECINT). – Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (SE-CAMEX, antiga CAMEX). – Subsecretaria de Estratégia Comercial. – Subsecretaria de Investimentos Estrangeiros. – Subsecretaria de Financiamento ao Comércio Exterior. – Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais (SAIN). – Subsecretaria de Instituições Internacionais de Desenvolvimento. – Subsecretaria de Finanças Internacionais e Cooperação Econômica. – Subsecretaria de Financiamento ao Desenvolvimento e Mercados Internacionais. – Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). – Subsecretaria de Inteligência e Estatística de Comércio Exterior (SITEC, antigo DEAEX). – Subsecretaria de Operações de Comércio Exterior (SUEXT, antigo DECEX). – Subsecretaria de Facilitação de Comércio Exterior (SUFAC, antigo DECOE). – Subsecretaria de Negociações Internacionais (SEINT, antigo DEINT). – Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público (SDCOM, antigo DECOM). Atenção A restruturação implementada pelo governo Bolsonaro mudou sobre- maneira o arranjo do comércio exterior do Brasil, com isso, muito da literatura acadêmica sobre o assunto está sendo atualizada. 10 A Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais tem como principais funções e competências (BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019b): • Dirigir, superintender e coordenar as demais secretarias sob sua responsabilidade. • Prestar apoio administrativo, com ações necessárias para a execução das atividades da Camex e de suas subsecretarias. • Expedir atos normativos. • Supervisionar as políticas de comércio exterior; regulamentar e executar os programas e as atividades relativos ao comércio exterior; aplicar os mecanismos de defesa comercial; participar de negocia- ções internacionais; formular diretrizes; coordenar, acompanhar e avaliar os financiamentos externos entre organismos multilaterais e agências governamentais. • Coordenar as atividades de créditos para a exportação (no âmbito do Ministério). • Coordenar a atuação de conformidade, integridade e gestão de riscos do Seguro de Crédito à Exportação. • Apoiar e articular os programas e os projetos de cooperação com organismos internacionais. Representar o Ministério internacionalmente nas ações de natureza econômico-comerciais e econômico-financeiros multilaterais, plurilaterais, regionais e bilaterais. Reflita Um processo de decisão colegiado, geralmente, é visto como uma situação na qual as decisões são tomadas por diversas pessoas com responsabilidade sobre determinado assunto, obviamente que esta forma de decidir possui vantagens e desvantagens. Por outro lado, delegar a responsabilidade de decisão apenas ao Secretário Especial também possui argumentos favoráveis e desfavoráveis. Quais seriam as vantagens e desvantagens dessa centrali- zação decisória? Reflita sobre o assunto! Atualmente, a Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (antiga CAMEX), possui as seguintes atribuições e competências (BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019b): 11 Adotar, no âmbito de sua competência, medidas administrativas necessá- rias à execução das atividades relacionadas ao Seguro de Crédito à Exportação, incluída a contratação de instituição habilitada para a execução de serviços a ele relacionados, inclusive, análise, acompanhamento, gestão das operações de prestação de garantia e de recuperação de créditos sinistrados. • Adotar, na condição de mandatária da União, providências para cobrança judicial e extrajudicial, no exterior, incluída a contratação de instituição habilitada ou de advogado de comprovada reputação ilibada, no país ou no exterior, dos créditos da União decorrentes de: a. Indenizações pagas, no âmbito do Seguro de Crédito à Exportação, com recursos públicos; e b. Financiamentos não pagos contratados com recursos do Programa de Financiamento às Exportações e do extinto Fundo de Financiamento à Exportação, esgotadas as possibili- dades de recuperação do crédito pelo agente financeiro. • Autorizar a garantia da cobertura dos riscos comerciais e dos riscos políticos e extraordinários assumidos pela União, em decorrência do Seguro de Crédito à Exportação. • Autorizar o pagamento de indenizações, no âmbito do Seguro de Crédito à Exportação, com recursos públicos, após os procedimentos de regulação de sinistros. • Na implementação da política de comércio exterior, observará: os compromissos internacionais firmados pelo país; o papel do comércio exterior como instrumento para a promoção do crescimento da produtividade da economia nacional; as políticas de atração de inves- timento estrangeiro direto, de promoção de investimento brasileiro no exterior e de transferência de tecnologia, que complementam a política de comércio exterior; e as competências atribuídas aos membros da Camex no âmbito da promoção comercial e da condução de negociações comerciais e de investimentos de natureza bilateral, regional e multilateral. • Formular, adotar, implementar e coordenar as políticas e as atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, aos investimentos estrangeiros diretos, aos investimentos brasileiros no exterior e ao financiamento às exportações, com vistas a promover o aumento da produtividade da economia brasileira e da competitividade internacional do país. 12 Exemplificando Em novembro de 2019, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior decidiu zerar as alíquotas do Imposto de Importação que incidiam sobre vários bens de capital (máquinas e equipamentos), bens de informática e de telecomunicação (CAMEX..., 2019). A Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais (SAIN) é respon- sável pelas questões envolvendo o relacionamento econômico do Brasil com outros países, blocos econômicos e diversos organismos internacionais (BRASIL, 2019a). O principal objetivo da SAIN é a assessoria técnica em assuntos de economia internacional, de forma que os interesses brasileiros sejam defendidos. Ela é integrada por três subsecretarias, as quais, juntas, possuem as seguintes atribuições (BRASIL, 2019a): • Participar das discussões, e das negociações econômicas e finan- ceiras internacionais. • Avaliar e definir o posicionamento brasileiro quanto às políticas, às diretrizes e às iniciativas de organismos multilaterais de desen- volvimento, de organizações econômicas e de instituições finan- ceiras internacionais. • Coordenar a participação do Ministério da Economia em inicia- tivas de financiamento e negociações econômicas internacionais relacionadas ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e mudança de clima. • Participar de negociações e iniciativas de cooperação internacional para o desenvolvimento. • Coordenar o relacionamento institucional, representando o Brasil nas diretorias executivas não residentes, assembleias de governadores e outras instâncias de governança de organismos financeiros interna- cionais, nos quais o Ministério da Economia esteja envolvido. • Formular, planejar e coordenar políticas e ações para a negociação de projetos do setor público vinculados a fontes externas. • Avaliar projetos do setor público, vinculados a fontes externas, medianteinformações prestadas por mutuários, no âmbito da COFIEX. • Atuar como secretaria executiva da COFIEX. • Realizar o planejamento orçamentário, coordenando o processo de pagamento a organismos financeiros internacionais, conforme diretrizes do Ministro da Economia. 13 • Coordenar as integralizações de cotas de capital no âmbito do Ministério da Economia. • Coordenar o processo de apreciação de propostas orçamentárias das contribuições a organismos internacionais. • Atuar como secretaria executiva da Comissão Interministerial de Participação em Organismos Internacionais (CIPOI). • Assessorar o Ministro da Economia em diálogos e negociações inter- nacionais, bilaterais ou multilaterais. • Avaliar cenários e riscos da economia internacional, subsi- diando o posicionamento do Ministério da Economia em atuações internacionais. Exemplificando Em dezembro de 2019, o Secretário de Assuntos Econômicos Inter- nacionais brasileiro alertou que o país deveria pagar 126 milhões de dólares à Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, referentes ao orçamento regular e aos compromissos com missões de paz e tribu- nais vinculados à ONU; caso não acertasse esse valor, o Brasil perderia, pela primeira vez, o direito a voto na ONU (BRASIL..., 2019). Ainda conforme a legislação vigente (BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019c), dentre as atribuições da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), estão: • Formular propostas de ações de comércio exterior, estabelecendo as normas necessárias para a sua implementação. • Propor medidas de políticas fiscal e cambial, de financiamento, recuperação de créditos para a exportação, seguros, transportes e fretes e promoção comercial. • Planejar, orientar e supervisionar a execução de políticas de operacio- nalização de comércio exterior, estabelecendo as normas necessárias para a sua implementação. • Propor diretrizes de articulação para utilização do instru- mento aduaneiro, propondo regimes de origem preferenciais e não preferenciais. • Participar de negociações internacionais: comércio de bens e serviços; investimentos; compras governamentais; regime de origem; barreiras 14 técnicas; e solução de controvérsias, nos âmbitos multilateral, plurila- teral, regional e bilateral. • Implementar os mecanismos de defesa comercial. • Regulamentar os procedimentos relativos às investigações de defesa comercial e às avaliações de interesse público. • Investigar e aplicar medidas antidumping, compensatórias e de salvaguarda. • Decidir sobre: – Abertura de investigação sobre práticas elisivas. – Prorrogação de prazos de investigação e sobre o seu encerramento. – Abertura de avaliação de interesse público. • Decidir sobre a aceitação de compromissos de preço previstos em acordos multilaterais, regionais ou bilaterais na área de defesa comercial. • Apoiar o exportador submetido a investigações de defesa comercial no exterior. • Orientar o setor produtivo sobre barreiras à exportação. • Participar de articulações para superar barreiras à expor- tação brasileira. • Participar da gestão do Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). • Formular e divulgar a política de informações sobre o comércio exterior. • Elaborar e divulgar as estatísticas sobre comércio exterior, inclusive, sobre a Balança Comercial brasileira. • Promover iniciativas de promoção do comércio exterior. • Participar de articulações para desenvolver o comércio exterior. • Propor e expedir atos normativos sobre medidas de aperfeiçoamento, simplificação e facilitação de comércio exterior. • Conceder regime aduaneiro especial de drawback, nas modalidades de suspensão e isenção, respeitadas as competências da Secretaria Especial da Receita Federal. • Estabelecer os critérios de gestão das cotas tarifárias e não tarifárias de importação e exportação. 15 • Examinar, apurar e propor penalidades à prática de ilícitos no comércio exterior. • Exercer a presidência e desempenhar as atividades de Secretaria do Comitê Nacional de Facilitação do Comércio (CONFAC), órgão integrante da CAMEX. • Elaborar e divulgar (quando necessário) relatórios de inteligência de comércio exterior. • Formular propostas de políticas e programas de comércio exterior, estabelecendo as normas necessárias à sua implementação. • Elaborar estratégias de inserção internacional da República Federativa do Brasil em temas relacionados ao comércio exterior. • Administrar, controlar, desenvolver e normatizar o Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, Intangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no Patrimônio (Siscoserv). Exemplificando Em julho de 2019, o Secretário de Comércio Exterior assinou uma Portaria que determinava: a forma como deveria ser feita a emissão de documentos de exportação pelo módulo LPCO (Licenças, Permis- sões, Certificados e Outros Documentos) do Portal Único do Comércio Exterior, bem como do Tratamento Administrativo do Documento de Exportação emitido por meio do LPCO (BRASIL, 2019d). Com a reestruturação promovida pelo atual governo federal, alguns departamentos de comércio exterior estão, agora, ligados à SECEX: • Departamento de Inteligência e Estatística de Comércio Exterior (antigo DEAEX). • Departamento de Operações e Facilitação de Comércio Exterior (antigo DECEX). • Departamento de Negociações Internacionais. • Departamento de Defesa Comercial e Interesse Público. Agora você já conheceu a atual estrutura do comércio exterior no Brasil, aprendeu sobre a reestruturação implementada pelo governo federal e compreendeu as principais atribuições de cada subsecretaria que integra a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (SECINT). 16 Sem medo de errar Nossa situação-problema analisa a possibilidade de a empresa Distribuidora iniciar suas operações no mercado internacional. A empresa distribui produtos no mercado interno, onde já possui uma excelente estru- tura comercial. Contudo, para atuar no mercado externo, é preciso conhecer a estrutura do comércio exterior do país e estabelecer estratégias bem definidas de atuação. A intenção inicial da empresa é verificar a disponibilidade de produtos para importação, uma vez que ela já possui logística para fazer a distribuição dos produtos. Outra situação é a possibilidade de exportar produtos fabricados por indústrias nacionais que não possuem condições ou interesse de operarem no comércio internacional. Como assistente do diretor comercial, você deve analisar a atual estru- tura do comércio exterior disponibilizada pelo governo federal, buscando conhecer por meio de diversos órgãos intervenientes, o que pode auxiliar a Distribuidora nas operações internacionais. Para resolver o problema da Distribuidora, você deve analisar separada- mente cada operação do comércio internacional, da importação e da expor- tação. No caso da importação, há uma série de normas estabelecidas pelos órgãos intervenientes para que os produtos importados possam ser comer- cializados. Deve-se analisar, ainda, os padrões e as normas de embalagem, as informações nos rótulos, as condições de armazenagem, o transporte e os prazos de validade, considerando que, dependendo do modal de trans- porte escolhido, se houver atrasos, alguns produtos podem chegar no país de destino já vencidos e, portanto, impróprios para o consumo. No caso da exportação, é necessário conhecer os costumes e as neces- sidades do país para o qual se pretende vender, verificando-se, ainda, a existência de acordos ou de tratados de comércio que facilitem os trâmites burocráticos, reduzam as alíquotas e favoreçam a defesa comercial, caso necessário. Essas informações podem ser obtidas junto aos órgãos interve- nientes do comércio exterior brasileiro. Sendo assim, tanto para a operação de exportação como de impor- tação, será necessário conhecer, adequadamente, as atribuições de cada secretaria relacionada à estrutura do comércio exterior brasileiro. Deve-se, ainda, identificar quais atribuiçõessão mais importantes para o contexto da empresa, ou seja, compra e venda de produtos alimentícios, uma vez que a estrutura é grande e possui muitas atribuições, sendo necessário saber exata- mente o que deve ser feito e a qual órgão (secretaria) deve-se recorrer em cada situação. 17 Conhecer a estrutura do comércio exterior do governo federal do Brasil confere à empresa um ganho de tempo e de recursos e, portanto, maior competitividade. O comércio internacional proporciona muitas oportuni- dades, cabendo à Distribuidora utilizar os meios disponíveis para aproveitar as melhores, respeitando as políticas, os regulamentos e as normas de comércio disponibilizados pelos órgãos intervenientes de comércio exterior. Avançando na prática Estabelecendo estratégias de comércio exterior Uma fábrica de equipamentos eletrônicos importa muitos componentes eletrônicos para o seu processo produtivo. Esses componentes são importados de diversos países, sendo que alguns deles possuem acordo de comércio com o Brasil, assim, há algumas facilidades alfandegárias, cambiais e tributárias. Contudo, alguns deles são fabricados em países que não possuem um acordo específico com o Brasil para esse tipo de produto. Como não é possível, ou viável, a substituição de componentes eletrônicos, a empresa precisa conhecer muito bem a legislação e a forma de desembaraço aduaneiro para que o processo de importação ocorra corretamente. Neste contexto, quais atribuições das atuais secretarias devem ser monito- radas pela empresa para saber se houve mudanças nas normas e nos proce- dimentos de importação? Qual secretaria deveria ser consultada para saber se um novo acordo foi estabelecido com um dos países de quem a empresa importa, ou ainda, se um acordo que estava vigente, por algum motivo, foi alterado, ou mesmo, não está mais válido? Resolução da situação-problema Uma vez que a empresa já realiza operações de comércio exterior, torna-se fundamental acompanhar as mudanças realizadas na estrutura do comércio exterior nacional, visando realizar as adequações necessárias. A mudança de diversas secretarias e de suas atribuições deve ser, constantemente, monito- rada, para que a empresa mantenha suas operações de importação funcio- nando adequadamente, evitando-se, assim, problemas de abastecimento em sua linha de produção. Para isso, é fundamental que ela se mantenha atualizada quanto às mudanças ocorridas na estrutura, verificando como foram redistribuídas as atribuições de cada secretaria. Desta forma, a fábrica de equipamentos 18 eletrônicos deve monitorar as ações das secretarias que compõem a Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, contudo, ela deve ficar mais atenta à Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), já que suas atribuições impactam mais diretamente as atividades operacionais da empresa. A SECEX estabelece e acompanha normas de comércio interna- cional, implementa medidas de defesa comercial e medidas antidumping, além de articular e participar de negociações internacionais. Faça valer a pena 1. A estrutura de comércio exterior é formada por diversos órgãos governa- mentais, os quais têm suas atividades relacionadas ao apoio governamental nas negociações internacionais, assim como a criação e implementação de normas de comércio internacional e orientação e apoio aos exportadores.. No Brasil, em 2019, a estrutura do comércio exterior foi modificada pelo governo federal. A qual dos ministérios essa estrutura está subordinada? a. Ministério da Defesa. b. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. c. Ministério da Economia. d. Ministério da Fazenda. e. Ministério da Agricultura. 2. O regime de defesa comercial no Brasil vem sendo aperfei- çoado nos últimos anos por meio de um intenso diálogo entre o governo e o setor privado. No entanto, há desafios que preocupam a indústria brasileira, principalmente no que se refere à governança e à segurança jurídica desse sistema. A preocupação central diz respeito a conflitos de interpretação entre os diversos órgãos públicos. Além disso, no período recente, o Brasil passou a ser alvo crescente de medidas de defesa comercial contra seus exportadores. (CNI, [s.d., s.p.]). Qual secretaria é responsável por tratar de assuntos relativos à defesa comer- cial no Brasil? a. Secretaria de Comércio Exterior. b. Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais. 19 c. Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior. d. Secretaria de Investimentos Estrangeiros. e. Secretaria de Financiamento ao Comércio Exterior. 3. A Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais possui diversas secretarias e subsecretarias, as quais, por sua vez, são respon- sáveis por diversas atribuições relacionadas ao comércio internacional brasileiro. Um dos assuntos relativos ao comércio exterior brasileiro é o drawback, um regime aduaneiro especial que permite a suspenção ou eliminação de tributos que incidem sobre insumos importados que serão utilizados na fabricação de bens que serão exportados. Respeitadas as competências da Secretaria Especial da Receita Federal, qual é a secretaria responsável por tratar assuntos relativos à concessão do regime especial de drawback, nas modalidades suspensão e isenção? a. Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais. b. Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior. c. Secretaria de Investimentos Estrangeiros. d. Secretaria de Financiamento ao Comércio Exterior. e. Secretaria de Comércio Exterior. 20 Seção 2 Defesa comercial Diálogo aberto Ao estudar os termos da defesa comercial em um país, é importante notar que cada nação cria, dentro de sua estrutura governamental, órgãos inter- venientes que utilizam elementos que possam impactar, direta ou indire- tamente, as empresas nacionais a participarem do comércio internacional. Esses órgãos intervenientes são necessários para proteger as empresas de práticas comerciais que podem causar danos ao comércio interno e externo. Entretanto, há governos que direcionam suas políticas para a criação de diversos incentivos que geram um ambiente de alto protecionismo, culmi- nando em dificuldades às empresas estrangeiras para que comercializem com países que adotam tais práticas, visto que essas condições especiais dadas às empresas nacionais oneram muito as empresas estrangeiras que comer- cializam determinados produtos com os países que adotam estes tipos de medidas restritivas, bem como os subsídios dados internamente para manter a competitividade das empresas nacionais. Para entendermos mais sobre esses conceitos, nesta seção, vamos analisar o caso da Indústria X, que produz componentes para motores de refrigeração. Sua principal demanda é gerada por empresas nacionais que fabricam geladeira, ar condicionado, expositores e balcões refrigerados para supermercados, padarias e comércios em geral. A Indústria X atende clientes em todo o território nacional e há 12 anos é considerada como uma marca que vende produtos de excelente quali- dade. Contudo, nos últimos dois anos, a empresa tem apresentado baixas renta- bilidades, já que os volumes de produção e vendas (componentes para motores de refrigeração) estão cada vez menores, mesmo observando alguns aumentos na demanda pelos equipamentos de refrigeração. Nesse contexto, você foi escolhido e encarregado pelo diretor comercial da Indústria X a elaborar um relatório com análises sobre os motivos que levaram à situação atual da empresa. Para elaborar seu diagnóstico, você visitou diversos clientes em vários estados do Brasil, o que o possibilitou identificar que muitas fábricas de equipamentos para refrigeração estavam substituindo os componentes nacionais por um modelo concorrente impor- tado, muito mais barato e com nível de qualidade muito próximo ao fabricado pela Indústria X. Para poder elaborar um relatório bem detalhado, você realizou uma comparação de preços e verificou que os componentes fabricados pela21 Indústria X são vendidos, em média, por R$ 123,00, dependendo da região do país, do custo com transporte e dos impostos incidentes. O componente importado está sendo vendido, em média, por R$ 86,00, sendo que o prazo de entrega e as condições de pagamento são semelhantes em ambos os casos. Outra informação relevante é a de que, em seu país de origem, o compo- nente importado custa, em média, o equivalente em dólares a R$ 112,00. A partir dessas informações você deve responder: o que está acontecendo nesse mercado? Se necessário, quais medidas podem ser tomadas para regular novamente esse mercado? A quem a empresa deve recorrer e o que ela deve fazer para defender sua competitividade? Para resolver essa situação-problema, você deve analisar quais práticas comerciais podem estar sendo aplicadas, buscando, ainda, identificar quais medidas de proteção podem ser solicitadas e se existe algum meio de reesta- belecer a competitividade da Indústria X. Bons estudos! Não pode faltar Nesta seção, vamos estudar as questões que envolvem a defesa comercial de um país. Esse termo é aplicado quando empresas se sentem prejudicadas no mercado nacional devido à concorrência com produtos importados que apresentam preços mais acessíveis no ambiente interno. Nesse sentido, a empresa prejudicada deverá apresentar fatos e argumentos que comprovem que a concorrência com o produto importado está acontecendo de maneira ilegal ou em condições desleais. Assimile A defesa comercial é uma questão muito importante quando se trata de comércio internacional. As empresas nacionais podem tanto causar como sofrer ações danosas ao comprar ou vender produtos no mercado externo. Nesse contexto, a estrutura de defesa comercial é composta por órgãos intervenientes do governo federal que atuam no apoio ao exportador, assim como na proteção contra importações que possam causar danos à indústria nacional. O principal objetivo da defesa nacional é garantir a competitividade das empresas brasileiras frente ao mercado internacional. Uma vez comprovada a concorrência em condições desleais, os órgãos oficiais de comércio exterior brasileiro podem (e devem) adotar medidas de proteção da indústria nacional. Geralmente são consideradas como práticas desleais o dumping 22 e o subsídio. Vamos definir e entender melhor essas práticas na sequência do estudo. Com a reformulação da estrutura governamental promovida pelo governo Bolsonaro, a Secretaria do Comércio Exterior (SECEX) passou a ser subordinada à Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (SECINT), ficando para a SECEX a responsabilidade da Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público (SDCOM), que era o antigo Departamento de Defesa Comercial (DECOM). O SDCOM ficou responsável por defender o mercado interno de práticas desleais de comércio internacional, formulando pareceres com o objetivo de aplicar medidas compensatórias (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019b), não obstante cabe detalhar que, após essas alterações, o processo de investigação e aplicação de uma medida antidumping passou a envolver quatro autoridades principais, conforme Figura 2.1: Figura 2.1 | Autoridades envolvidas na investigação de dumping COMITÊ-EXECUTIVO DE GESTÃO (GECEX) • Fixa direitos antidumping, provisórios e definitivos. • Decide sobre a suspensão da exigibilidade dos direitos provisórios. • Homologa compromisso de preços. SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (SECEX) • Decide sobre a abertura de investigações e revisões relativas à aplicação de medidas antidumping. • Decide sobre a prorrogação do prazo da investigação e o seu encerramento sem a aplicação de medidas. SUBSECRETARIA DE DEFESA COMERCIAL E INTERESSE PÚBLICO (SDCOM) • Examina a procedência e o mérito de petições de abertura de investigações e revisões antidumping. • Propõe a abertura e conduz investigações originais e revisões de final de período • Propõe a aplicação de medidas antidumping provisórias e definitivas. • Examina a conveniência e o mérito de propostas de compromissos de preço. • Propõe a suspensão ou a alteração de aplicação de medidas antidumping em razão de interesse público. SECRETARIA ESPECIAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (RFB) • Realiza a cobrança do direito antidumping, provisório ou definitivo. Fonte: adaptada de Ministério da Economia (2019b). 23 Fica, portanto, evidente que, caso uma empresa brasileira entenda que as condições de comércio exterior estejam desiguais ao ponto de prejudicar suas relações de comércio, antes de solicitar medidas antidumping, é necessário e importante que seja observada a existência de três elementos: • Dumping. • Dano. • Nexo causal. Para melhor compreensão dos elementos fundamentais no tocante à aplicação de uma medida antidumping, é necessário que sejam observados os três elementos apresentados na Figura 2.2: Figura 2.2 | Elementos que caracterizam condições desiguais de comércio internacional Fonte: adaptada de Pierobon et al. (2019). Assim, não basta a existência da prática de dumping para que seja imposta uma medida antidumping às importações de determinado produto, já que se faz necessário demonstrar que as importações a preços de dumping contri- buíram significativamente para o dano sofrido pela indústria doméstica. Ou seja, deve ser demonstrado que há dano e que há nexo de causalidade entre as importações a preço de dumping e o dano à indústria doméstica. 24 Dumping é o termo utilizado para se referir a uma prática comercial que pode ser muito prejudicial à indústria de um país (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019b). Essa prática comercial se estabelece quando uma ou mais empresas passam a comercializar (exportar) seus produtos ou serviços em um determinado país ou região com preços muito abaixo do preço que são praticados em seu próprio país ou em outras regiões comerciais, conforme representação feita na Figura 2.3: Figura 2.3 | Dumping Fonte: FIESP (2013, p. 10). Com o tempo, o dumping acaba por prejudicar, e até mesmo eliminar, as empresas concorrentes no país importador, deixando o mercado deste subordinado aos exportadores, que, a partir desse ponto, passam a praticar preços muito mais altos, uma vez que, agora, dominam o mercado. A prática de dumping é uma forma de se adquirir quotas de mercado, e, muitas vezes, inclui, não somente a prática de preços menores, mas também outras carac- terísticas de comercialização, como condições para determinados volumes de vendas, prazos de entrega e prazos de pagamento. Esse conjunto de condi- ções comerciais torna a concorrência muito difícil para as empresas locais. 25 Reflita As operações internacionais de uma empresa levam-na a patamares muito maiores no volume de produção e vendas. Sabe-se que maiores níveis de produção e venda geralmente trazem maiores lucros, ou seja, melhores resultados financeiros. Obviamente que a estrutura que uma empresa, seja ela importadora ou exportadora, precisa manter para ter condições de operar no mercado externo é muito maior do que a de uma empresa que opera apenas no mercado interno. Agora, será que mesmo essa estrutura, voltada ao mercado internacional, seria suficiente para que a empresa se defendesse, sozinha, de todos os problemas que podem surgir nesse cenário? Ou ainda, será que uma única empresa teria condições de impor medidas antidumping para se proteger de preços diferenciados que são praticados por grandes potên- cias internacionais, dificultando seus negócios? Reflita sobre o assunto! Depois que a prática de dumping foi descoberta, é necessário, antes que sejam tomadas medidas antidumping, comprovar o dano e o nexo causal. Mas, em que consiste o dano à indústria doméstica? Segundo Pierobon et al. (2019), nos termos do art. 29 do Decreto nº 8.058, de 2013, o conceito de dano é entendido no sentido material ou de ameaça de dano material à indús- tria doméstica já estabelecida, ou ainda como atraso material na implantação da indústria doméstica, conformeexemplificado na Figura 2.4: Figura 2.4 | Dano à indústria doméstica Fonte: adaptada de Pierobon et al. (2019). Avançando no entendimento dessas situações, é importante que enten- damos também no que consiste o nexo causal entre a prática de dumping 26 e o dano à indústria doméstica. Pois bem, o nexo de causalidade consiste na demonstração de que, por meio dos efeitos do dumping, as importações (objeto de dumping) contribuíram significativamente para o dano experi- mentado pela indústria doméstica. Contudo, durante a análise do nexo causal, é necessário separar e distinguir os efeitos das importações (objeto de dumping) e os efeitos de possíveis outras causas de dano à indústria domés- tica, conforme exposto na Figura 2.5: Figura 2.5 | Prática demonstrativa do nexo de causalidade Análise posi�va da causalidade Exame de não atribuição • É preciso demonstrar que existe nexo causal entre as importações a preços de dumping e o dano verificado na indústria domés�ca. • São examinados elementos de prova apresentados e outros fatores que possam, simultaneamente, estar causando dano à indústria domés�ca, incluindo a análise dos fatores elencados no art. 32, §4º do Decreto nº 8.058, de 2013. Fonte: adaptada de Pierobon et al. (2019). É nesse cenário que medidas antidumping são adotadas, buscando neutralizar os efeitos danosos à indústria nacional. Uma medida antidum- ping muito comum é o estabelecimento e a aplicação de alíquotas tarifárias específicas, como forma de regular o mercado e restabelecer o livre comércio, evitando-se, assim, o abuso de poder econômico. Exemplificando Para um melhor entendimento sobre a questão do dumping, vamos analisar o resumo de uma ação antidumping? Temos, então, o caso do cimento Portland Comum (processo 10768.024387/90-85), que levou 8 meses para ser concluído (FERREIRA, [s.d.]). Nesse processo, a indústria fabricante de cimento do Rio Grande 27 do Sul solicitou a investigação sobre a possibilidade de dumping na exportação do cimento argentino e uruguaio ao Brasil, pois as empresas brasileiras estavam se sentindo prejudicadas pelo baixo preço das concorrentes argentinas e uruguaias (FERREIRA, [s.d.]). No dia 14 de junho de 1991, foi celebrado um Compromisso de Preços entre as empresas exportadoras e a indústria de cimento nacional (FERREIRA, [s.d.]). Nesse acordo, os preços do cimento exportado ao Brasil não poderiam ser inferiores ao preço do produto que era praticado em seu país de origem (FERREIRA, [s.d.]). No Brasil, a aplicação dos direitos antidumping (compensações por danos comprovados em casos de dumping) é realizada por meio do envolvimento de quatro etapas e autoridades, conforme já descrito anteriormente, ou seja, fica a cargo da Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público dar seguimentos nas investigações, tendo como amparo legal órgãos como o Comitê-Executivo de Gestão (GECEX), a Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público (SDCOM) e a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) para as devidas providências e execuções operacionais. Exemplificando Uma questão que deve ficar clara é a de que todos os países precisam, em determinado momento, comprar ou vender algum produto. Esta é uma premissa básica do comércio internacional. Assim, o Brasil compra e vende diversos produtos para diversos países. Ocorre que nem sempre a indústria brasileira respeita as regras do comércio internacional, como é o caso do frango brasileiro, que, em 2019, teve medidas antidumping estabelecidas pelo governo da China, nosso segundo maior comprador desse produto. A medida elevou de 17,8% para 32,4% as tarifas de importação para o frango brasileiro na China (ESTADÃO, 2019). Esta medida antidumping foi aplicada pela China às empresas brasileiras que estavam exportando o produto com preços inferiores aos praticados no Brasil. No entanto, um grupo de 14 empresas ficou isento desta medida, uma vez que elas estavam praticando preços considerados como normais de mercado (ESTADÃO, 2019). Como vimos, o dumping é uma prática que prejudica a livre comerciali- zação internacional de bens. Mas será que existem outras práticas que inter- ferem nas transações comerciais internacionais? Sim! As barreiras comer- ciais ou barreiras alfandegárias são aplicações de regras em conformidade às leis, aos regulamentos, às políticas, às medidas ou às práticas impostas 28 pelo governo que, de certo modo, ocasionam restrições ao comércio exterior. Para proteger a indústria nacional da concorrência internacional, muitos governos utilizavam a prática de impor limites às importações de determi- nados produtos. Para regular tal ação, a comunidade internacional criou algumas regras com o objetivo de impedir que excessos fossem cometidos por alguns governos. Em 1947, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) foi criado, e, em 1994, foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC), com o intuito de evitar o uso de barreiras para favorecer economicamente o mercado interno. Nesse contexto podemos definir duas categorias mais comuns de barreiras comerciais: as tarifárias e as não tarifá- rias. Vamos a elas? As barreiras tarifárias são aquelas que aplicam/ampliam tarifas de impor- tações e taxas diversas às mercadorias importadas. Já as barreiras não tarifárias estão relacionadas a restrições quantitativas, licenciamentos de importação, procedimentos alfandegários, valoração aduaneira arbitrária ou valores fictícios, medidas antidumping, medidas compensatórias, subsídios, medidas de salvaguarda e medidas sanitárias e fitossanitárias. Dentre as barreiras não tarifárias encontram-se as barreiras técnicas, que, ao longo do tempo, tornaram-se uma imposição de muitos países. Por isso, é fundamental que as empresas que atuam internacionalmente busquem informações sobre a regulamentação vigente em cada país. Com fins prote- cionistas, as barreiras técnicas podem trazer exigências maiores, além de qualquer outra barreira não tarifária. Por exemplo, ao exportar alimentos industrializados para o Japão, além do cumprimento das normas sanitárias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), referentes à produção, abate e comercialização, o produtor brasileiro tem que cumprir regras técnicas pré-definidas pelo país importador (JETRO, 2010). Como forma de ilustrar isso, o Japão baniu o Tertiary Butylhydroquinone (TBHQ), um antioxidante usado como conservante em produtos industrializados, permitido pela normatização de alimentos da ONU. Ou seja, a regulamen- tação japonesa é mais rígida do que o padrão internacional, podendo ser vista como uma barreira técnica ao comércio (FLIPPER, 2018). Assimile No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o órgão responsável pela gestão das políticas públicas de estímulo à agropecuária e ao agronegócio, que também regula e norma- tiza serviços vinculados ao setor, podendo até impor barreiras técnicas à comercialização, desde que sejam observados problemas de origem fitossanitária, ambiental ou laboral, utilizando-se, para isso, de infor- mações técnicas e científicas a sua disposição (MAPA, 2019). Já o Insti- 29 tuto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Economia, que tem por responsabilidade adotar mecanismos que, por meio de programas de metrologia, qualidade e tecnologias inovadoras, visam a dar maior qualidade aos produtos e serviços produzidos pelas empresas brasileiras, tornando-as mais competitivas no contexto nacional e internacional, bem como a aplicar tais mecanismos na condução de defesa comercial, na forma de barreira não tarifária e/ou barreira técnica (INMETRO, 2020). Como dito anteriormente, além das barreiras tarifárias e não tarifárias, o subsídio também é considerado uma prática que impacta o comércio inter- nacional. Vamos conhecer mais sobre esse assunto? Um subsídio ocorre quando há a concessão de umbenefício, por exemplo, quando há formas de sustentação de renda ou de preços no país exportador, as quais contribuem para o aumento das exportações ou mesmo para a redução das importações. Uma outra forma de ocorrência de subsídios é a existência de contribuição financeira no mercado interno, por parte do governo do país exportador. O subsídio é considerado específico quando concedido a uma única empresa, a um grupo de empresas, a um ramo de atividade ou ainda a uma determinada região específica. O subsídio específico é monitorado pela estrutura de defesa comercial do país importador para que as regras de concorrência sejam respeitadas. Já o subsídio objetivo ocorre quando as condições comerciais são imparciais, devidamente estipuladas em lei, regula- mento ou ato normativo, sem que ocorra favorecimento de uma empresa ou de um grupo de empresas. Nesse caso, o subsídio é concedido de maneira horizontal, desde que sejam atendidos alguns critérios, como número de funcionários ou tamanho da empresa, por exemplo. Atenção Cabe ressaltar que a aplicação de tributos ou mesmo a alteração de alíquotas de impostos não são ações consideradas como subsídio. Uma questão importante a ser analisada diz respeito aos tipos de subsí- dios, os quais podem ser considerados proibidos, acionáveis e não acioná- veis. Vamos a eles? Os subsídios proibidos são aqueles vinculados ao desempenho do expor- tador, caracterizando ganhos com exportações, reais ou previstos; e aqueles de uso preferencial de produtos domésticos em detrimento de produtos 30 importados de modo exclusivo ou a partir de determinadas condições. Já os subsídios não acionáveis são aqueles que não estão sujeitos a medidas compensatórias, uma vez que não podem ser considerados como específicos. Esse caso normalmente se aplica à atividade de pesquisa ou à assistência a uma região desfavorecida, ou ainda, à promoção de operações de adaptação ou implantação de novas exigência ambientais que levarão ao aumento de gastos nas empresas. Por sua vez, os acionáveis são todos os subsídios específicos que não são proibidos. Cabe ressaltar que, para fins de medidas compensatórias, os subsídios proibidos também são acionáveis. Quando um subsídio acionável é comprovado, o montante será calculado com base na unidade de produto subsidiado e no benefício usufruído, ou seja, por quanto tempo o subsídio for utilizado. Mas, depois de falar tanto em medida compensatória, o que ela realmente significa? Uma medida compensatória é aplicável quando se faz necessário compensar as perdas com um subsídio que foi concedido pelo país expor- tador, seja pela produção, exportação ou transporte de qualquer produto exportado que tenha causado danos à indústria local (país importador). Caso a exportação tenha se utilizado de mais de um país (por exemplo, quando um país fabrica e/ou exporta e outro país transporta), a transação será conside- rada entre o país exportador e o país importador. A aplicação de medidas compensatórias está formalizada em lei e é prevista em acordos internacionais de comércio. Nesse contexto, estabe- lecem-se os direitos compensatórios, que são oriundos da aplicação de medidas compensatórias e que podem ser aplicados por meio da cobrança de valores em dinheiro do país exportador. Além disso, uma das formas de se utilizar as medidas compensatórias é por meio da redução das tarifas da energia elétrica para uma determinada indústria (setor produtivo), reduzin- do-se, consequentemente, seus custos. Assim, todas as empresas desse setor seriam beneficiadas igualmente. Entretanto, a adoção de medidas compen- satórias está prevista nos acordos internacionais e devem seguir as normas atualmente vigentes na Organização Mundial do Comércio (OMC). Exemplificando Uma questão muito importante a ser destacada é a necessidade de que se configure o dumping e/ou o subsídio por meio de provas documen- tais. Vejamos o caso brasileiro que, em 2018, discutia o subsídio da Índia dado ao açúcar, em que o governo brasileiro pensava em abrir consultas na OMC para questionar a política indiana de apoio à exportação de açúcar, algo que, segundo a associação da indústria Única, gerava uma perda bilionária às usinas nacionais (TEIXEIRA; GOMES, 2018). Em resumo, o governo informou que, em 2017, o Brasil exportou para 31 a Índia 924 milhões de dólares em açúcar, com crescimento de 4,5% em relação ao valor embarcado em 2016. Mas, em 2018, de janeiro a novembro, as exportações foram de apenas 511 milhões de dólares, uma queda de quase 40% em relação a igual período do ano anterior (TEIXEIRA; GOMES, 2018). A alegação de ocorrência de subsídio estava fundamentada na comparação entre os preços praticados no Brasil e os preços dos produtos importados, uma vez que estes eram muito mais baratos e estavam levando a indústria nacional a menores níveis de lucratividade, com consequente redução no quadro de colaboradores. As medidas de salvaguardas são implementadas por um país quando sua indústria está sendo prejudicada por importações, sendo que tais medidas são adotadas por um período de tempo suficiente para que a indústria nacional se ajuste e volte a ser competitiva. Dessa maneira, as medidas de salvaguarda têm como objetivo o aumento temporário da proteção da produção nacional quando ela está sendo prejudicada pelas importações. Vale lembrar que as medidas de salvaguarda apenas são adotas em casos de prejuízo grave ou de ameaça de prejuízo grave; assim, é necessário que esteja havendo uma grave deterioração da indústria doméstica devido à concorrência de empresas externas, bem como se comprove que há uma ameaça de prejuízo grave (tudo isso devidamente documentado). Nesta seção, analisamos a forma como a defesa comercial é utilizada para proteger a indústria de um determinado país contra possíveis danos gerados pela exportação de outros países. Verificamos o porquê a prática de dumping é vista como um perigo à indústria local e como as medidas antidumping são aplicadas para compensar as perdas, ou mesmo para prevenir que o mercado interno venha a ser dominado por empresas estrangeiras. Tratamos ainda das medidas de salvaguarda, que são utilizadas por um determinado período de tempo, com o objetivo de permitir que a indústria doméstica se recupere e volte a ser competitiva, tanto no mercado interno, como no mercado internacional. Sem medo de errar Na situação-problema desta seção, estamos analisando o caso da Indústria X, fabricante de componentes para motores de refrigeração. A empresa está enfrentando uma redução em sua competitividade e, consequentemente, em seus lucros nos últimos dois anos devido à entrada no mercado de empresas que vendem tais componentes importados com preços menores e mais acessíveis ao consumidor interno. Nesse contexto, a empresa está obtendo 32 cada vez menos demanda e precisa adotar medidas para recuperar sua parti- cipação no mercado. A partir dessas informações, você deve responder: o que está acontecendo nesse mercado? Se necessário, quais medidas podem ser tomadas para regulá-lo novamente? A quem a empresa deve recorrer e o que ela deve fazer para defender sua competitividade? O contexto apresentado está sugerindo ocorrência da prática de dumping nesse mercado. Nesse sentido, vamos apresentar, a partir da Figura 2.6, um exemplo clássico do que é o dumping e como essa prática pode ser resol- vida. Assim, a partir da representação a seguir, podemos repensar a forma de ajudar a resolver o problema enfrentado pela Indústria X. Figura 2.6 | Exemplo de dumping US$ 100 US$ 90 Margem do dumping de US$ 10 EUA vende o produto ao Brasil por um preço mais baixo do que o negociado no mercado interno. Assim, os EUA podem eliminar os fabricantes brasileiros e dominar o mercado, impondo o preço. A indústria brasileira reclama que não pode competir com o preço do produto dos EUA para o governo. O governo brasileiro pode aumentar o imposto para corrigir a diferençaentre o preço do produto importado e do produto local. Venda Efeito Problema Solução Fonte: Maxwell (2018, [s.p.]). Como podemos analisar, o fato de o componente no país de origem custar, em média, R$ 112,00, e estar sendo vendido, no Brasil, a R$ 86,00 já é, por si só, uma evidência da prática de dumping, uma vez que a indús- tria nacional pratica o preço médio de R$ 123,00 e, portanto, não conseguirá competir com esse nível de preço praticado pelas empresas estrangeiras (R$ 123,00 contra R$ 86,00) . 33 Para resolver essa situação, a empresa Indústria X deverá protocolar sua petição, por meio de questionário preenchido e de procuração, diretamente no Sistema Eletrônico de Informações do Ministério da Economia (SEI/ME), ou poderá entregar diretamente no protocolo do Ministério da Economia, em mídia eletrônica, devendo seguir orientações sobre confidencialidade e segurança das informações no meio gravado. A documentação apresentada à SDCOM deve estar referenciada ao produto sob investigação com o número do processo de defesa comercial e do SEI (processo de avaliação de interesse público). Cabe destacar também que as planilhas e documentos utilizados como base para a denúncia e para preenchimento do questionário deverão ser guardados para uma futura consulta do SDCOM. Como dica, a Indústria X poderá obter o modelo de questionário, de procuração e de demais informações exigidas para dar início ao processo de investigação, no manual da SDCOM, disponível no sítio do Ministério da Economia. Dentre as principais medidas que podem ser aplicadas nessas circuns- tâncias de dumping, temos a solicitação de compensação financeira (uma espécie de multa que deverá ser paga pela empresa exportadora ao Brasil), e, caso um acordo de comércio não possa ser estabelecido, pode-se ainda elevar as alíquotas de importação desse produto em específico. Existe, ainda, a possibilidade de o governo brasileiro criar um subsídio visando à redução de impostos, mesmo que temporariamente, para regular esse mercado e devolver a competitividade para a indústria nacional, e, no caso específico, promover competitividade comercial para a Indústria X. Avançando na prática O uso de subsídios como defesa comercial no mercado de carnes bovinas O Frigorífico A possui diversas unidades de abate e processamento de bovinos. Essa estrutura é responsável por atender o mercado interno, e algumas dessas unidades estão devidamente preparadas para atender as demandas de exportação. Entretanto, diante de um cenário pessimista do comércio exterior, as vendas para alguns países da Europa estão difíceis, pois eles estão recebendo subsídios governamentais. Com o subsídio, a carne produzida pelos frigoríficos locais ficou menos custosa e, portanto, mais barata, o que torna o mercado de importação pouco atrativo, fato que 34 acabaria prejudicando o Frigorífico A. Nesse contexto, quais ações podem ser tomadas para identificar se essa prática (subsídio) está realmente impac- tando o Frigorífico A? Resolução da situação-problema Conceder subsídios é uma prática utilizada por muitos países para fornecer uma condição mais favorável à sua indústria doméstica. Geralmente o subsídio é concedido apenas por um período de tempo determinado e possui regras claras para sua concessão. Contudo, há casos em que tal prática compromete a competitividade das empresas estrangeiras, uma vez que o produto fabricado internamente terá um preço sempre mais baixo. Nesse contexto, a empresa exportadora (no caso, o Frigorífico A), para dar início à denúncia, poderá acessar o Sistema Eletrônico de Informações do Ministério da Economia (SEI/ME), no sítio do Ministério da Economia, e preencher questionário com base em planilhas e documentos que comprovem tal recla- mação, além de preencher procuração com seus dados. Caso queira, poderá entregar o questionário e a procuração em mídia eletrônica diretamente no protocolo do Ministério da Economia, devendo seguir orientações sobre confidencialidade e segurança das informações no meio gravado. O Frigorífico A poderá obter o modelo de questionário, de procuração e de demais informações exigidas para dar início ao processo de investigação no manual da SDCOM disponível no sítio do Ministério da Economia. Faça valer a pena 1. O mercado internacional proporciona para as empresas um aumento considerável de demanda e, consequentemente, a obtenção de melhores resultados econômicos. Contudo, algumas práticas podem ser consideradas ilegais e, por esse motivo, gerar a imposição de medidas compensatórias.. Dentre as ações ilegais vistas no comércio internacional, qual é a prática comercial de adoção de preços mais baixos no mercado internacional em relação ao mercado interno? a. Descontos. b. Subsídios. c. Antecipações. d. Dumping. e. Terceirização. 35 2. Imagine que a Secretaria Especial de Comércio Exterior do Brasil, por meio da Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público, decidiu iniciar uma investigação para averiguar a existência de dumping (venda de produtos a preços muito baixos), nas exportações da China para o Brasil de cilindros de laminação, de ferro ou de aço fundido em determinados padrões e seus potenciais danos à indústria doméstica. Com relação às práticas ilegais percebidas no comércio internacional, analise o excerto a seguir, completando suas lacunas. A prática de _____________ no comércio internacional é alvo de diversos processos investigativos em vários países. Em muitos casos, esses processos levam à adoção de _____________ com o objetivo de reparar os _____________ causados e de prevenir que futuras negociações ocorram dentro das normas legais de comércio. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. Atos Normativos; medidas; subsídios. b. dumping; medidas; danos. c. subsídios; medidas; Atos Normativos. d. medidas de salvaguarda; danos; subsídios. e. acordos internacionais; medidas; danos. 3. Existem diversas práticas desleais encontradas no comércio internacional. Por isso, existem instrumentos de defesa comercial que têm o propósito de coibir tais ações. Com relação às práticas desleais percebidas no comércio internacional, analise o excerto a seguir, completando suas lacunas. O _____________ consiste na demonstração de que, por meio dos efeitos do _____________, as importações contribuíram significativamente para o _____________ experimentado pela indústria doméstica. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. dano; nexo de causalidade; dumping. b. dumping; dano; nexo de causalidade. c. dumping; nexo de causalidade; dano. d. nexo de causalidade; dano; dumping. e. nexo de causalidade; dumping; dano. 36 Seção 3 Contratos internacionais Diálogo aberto Olá, aluno! Quem já alugou uma casa ou abriu uma empresa deve ter assinado algum tipo de contrato, certo? Mas, se você ainda não fez nenhuma dessas coisas, certamente já passou por situações contratuais no seu cotidiano, mesmo sem perceber. Vamos refletir? Ao comprar um pãozinho na padaria, se matricular na faculdade ou deixar seu veículo em um estacionamento, contratos estão sendo celebrados entre você e a outra parte envolvida. Essas relações contratuais também acontecem, a todo momento, com empresas que atuam no mercado internacional. Por isso, esta seção abarcará conceitos teóricos e introdutórios sobre contratos internacionais, bem como suas características elementares, peculia- ridades e conceitos práticos, além de algumas cláusulas típicas/específicas existentes, que ajudem você a efetivamente entender, na prática, como se dá o funcionamento das operações de compra e venda no mercado internacional de importação e exportação de mercadorias. Utilizaremos como estudo de caso a Empresa Y, a qual é uma distri- buidora e exportadora Ltda., atuante na compra de produtos de empresas brasileiras e exportando-os para diversos países; e a Empresa W, atuante na fabricação de suportespara copos, utilizando plásticos reciclados em seus processos produtivos. Temos, como parte da explicitação da situação-pro- blema, a posição estratégica em que os gestores da Empresa W estão vislum- brando um aumento das vendas e, consequentemente, de suas receitas. Para tal, após diversas reuniões internas, decidiram procurar os gestores da Empresa Y, para que ela pudesse, de alguma forma, operacionalizar, colocar e distribuir parte da produção de seus produtos no exterior. Logo, a Empresa Y, que atua em todo o Brasil e em diversos países, possui know-how de escoa- mento de produtos ao mercado europeu, e é sabedora que produtos susten- táveis elaborados por processo de reciclagem são muito bem valorizados internacionalmente. Não obstante, os gestores da Empresa Y, embasados por pesquisas e estudos qualitativos e quantitativos, identificaram a oportuni- dade de inserir o produto produzido pela Empresa W em uma empresa na Alemanha. Diante dessa informação, a Empresa Y reuniu-se com os gestores da Empresa W, repassaram tudo sobre tais possibilidades de expansão e, ao final da reunião, os gestores de ambas as empresas ficaram muito animados em se inserirem no comércio alemão. 37 Em suma, a situação-problema proposta para este estudo retrata o caso da Empresa W, que não possui experiência em venda e comércio internacional, e por indicação de um gestor, contratou você, que é consultor em comércio exterior, para auxiliá-la nas questões estratégicas e operacionais vislum- bradas pelas novas oportunidades. E logo na primeira reunião, os gestores da Empresa W fizeram os seguintes questionamentos: quando uma empresa nacional efetua a venda para outra, cujo objeto contratual é fazer a expor- tação definitiva a um determinado país, como é conhecida esta operação? O que nós, da Empresa W, devemos efetuar na prática (para termos resguar- dada a segurança jurídica) para seguir com a operação adequadamente? Para a resolução desta situação-problema, você, consultor, será respon- sável pela explanação de estratégias de negócios e contratos adequados para cada situação possível, respondendo, assim, às questões levantadas pelos gestores da Empresa W. Então, vamos, ao longo desta seção, estudar sobre contratos internacionais e lex mercatoria, bem como algumas peculiaridades, conceitos e características dos contratos de comércio internacional. Ao final desta jornada de estudos, você estará preparado para responder e respaldar os gestores da Empresa W na operacionalização do negócio desejado. Não pode faltar Olá, caro aluno! Você sabe o que é um contrato? Na visão jurídica, entende-se contrato como uma manifestação de vontade de sujeitos para o atendimento de interesses que convergem para o mesmo fim. No contrato de compra e venda, por exemplo, teremos um vendedor com o objetivo de transferir a propriedade de determinado bem e, para tanto, receber o valor do produto de acordo com o preço estabelecido; por outro lado, temos o comprador, que tem a premissa de adquirir um novo bem e, para isso, efetuar o pagamento do valor contratado. O contrato será o instrumento formalizador de interesses organizado com obrigações recíprocas a serem cumpridas. Em uma situação que envolve trocas, ou seja, compra e venda, é via contrato que serão estabelecidos o objeto da negociação entre as partes e o preço acordado para pagamento, além de elencar quais são as condições de pagamento e quais serão as impli- cações no caso de descumprimento das questões abarcadas contratualmente. As formas mais comuns de identificação de contratos internacionais em contraposição aos “nacionais” estão no tocante ao domicílio das partes em diferentes países, pois isso reflete no fluxo de serviços, tecnologias ou valores entre empresas e pessoas em diferentes territórios. Segundo Amendolara (2000), é necessário conter, na estrutura jurídica de um contrato de comércio 38 internacional, as seguintes informações: nome, partes, objeto, obrigações, eventos de inadimplemento, causas do inadimplemento, miscelânea, lei aplicável e jurisdição. De acordo com Silva (2013), a elaboração de contratos internacionais consiste em três fases: • A formação (a geração do contrato). • A conclusão (o aperfeiçoamento). • A execução (a consumação dele). Contudo, após a execução das fases de formação e de negociação, entra em vigor o processo de aceitação, ou seja, o consenso e a concordância entre as partes, sendo que este é o momento no qual o contrato definitivamente terá existência no mundo dos fatos jurídicos, sendo, portanto, considerado o ato conclusivo de todas as etapas que envolvem a operacionalização de um contrato internacional (SILVA, 2013). Os contratos internacionais estão ligados aos fatos ocorridos no comércio internacional, e essas circunstâncias se mostram presentes, deixando o seu processo de conclusão mais longo e podendo ser formulado em diversas fases, as quais, normalmente, são obrigatórias (SILVA, 2013). Estudaremos com mais detalhes os contratos internacionais. Entende-se que eles geram obrigações aos agentes que estão localizados em diferentes limites territoriais, logo, tal circunstância cria a necessidade de desenvolver mecanismos de controle que visem assegurar que a entrada de mercadorias provenientes de outros países seja compatível com a legislação vigente do país de destino, motivo pelo qual se fala que o contrato interna- cional traz um controle de natureza cambial, tributário e administrativo. Todas as normas que regulamentam cada uma dessas esferas de controle são caracterizadas como normas de ordem pública, o que significa dizer que elas têm sua aplicação de forma imperativa, sem que, para isso, dependam da vontade das partes, especialmente, porque não fazem parte do âmbito de autonomia privada dos agentes que negociam no mercado internacional. Podemos, então, conhecer particularidades em cada uma dessas esferas de controle. Na esfera de natureza cambial, tem-se “[...] a determinação de que as partes informem aos respectivos países o teor financeiro da negociação, pois os pagamentos são feitos, em geral, em moedas distintas, com regras específicas de conversão e envio ao exterior” (CAPARROZ, 2018, p. 604). Já na esfera do controle tributário, impõe-se que a entrada de mercadorias no país de destino enseja a incidência de tributos que devem ser recolhidos para que o desembaraço aduaneiro possa se concretizar (CAPARROZ, 39 2018). E, por fim, tem-se que “[...] o controle administrativo verificará se a mercadoria importada atende, em termos de adequação à legislação local, a diversos requisitos relativos à embalagem, ao rótulo, à apresentação e tantas outras regras vinculadas à saúde pública ou ao direito do consumidor” (CAPARROZ, 2018, p. 604). Esse controle exercido pelo ente governamental sobre os contratos inter- nacionais tem como objetivo blindar as barreiras nacionais da entrada de produtos que não estejam de acordo com sua legislação, privilegiando, assim, a soberania de cada Estado sobre o seu território. Por esse motivo, toda essa normatividade exige que os profissionais que se dediquem ao comércio exterior estejam preparados para fornecer respostas às mais variadas demandas que envolvem sistemas jurídicos diferentes, já que as negociações no mercado internacional ultrapassam as fronteiras dos ordenamentos jurídicos nacionais. Considerando-se que os contratos internacionais transitam sob regimes jurídicos diversos, tornou-se necessário um instrumento que pudesse garantir uniformidade, previsibilidade e segurança jurídica aos atores empresariais globais, motivo pelo qual foi aprovada a Convenção de Viena sobre Compra e Venda Internacional de Mercadorias, no âmbito das Nações Unidas (CAPARROZ, 2018). Ao tratarmos de aspectos práticos dos contratos internacionais, estuda- remos a formação, o cumprimento e a extinção dos contratos, mas é neces- sário ponderar que, além das disposições jurídicas que constam na Convençãode Viena (aquela que trata sobre a compra e venda internacional), a fonte normativa dos contratos também é definida por meio dos usos e costumes que se praticam no mercado internacional. Assimile Toda vez que uma empresa procura efetuar negócios internacionais, é importante que se estabeleçam contratos escritos ou implícitos. Tais contratos são formados sob condições tradicionais de diversas fontes, leis locais, acordos governamentais, multilaterais e tratados internacionais. Contudo, em alguns casos, não são nem ratificados e, em outros, são parcialmente ratificados por alguns países (CONTRATOS INTERNACIONAIS, 2014). O processo de formação dos contratos internacionais de comércio é uma etapa de ajuste de vontades, devido ao fato de ele gerar consequências jurídicas 40 significativas e à eficácia vinculativa dos entendimentos, dado que é certo admitir que a formação tenha como objetivo a conclusão (SILVA, 2013). Sobre a formação dos contratos, é preciso que as propostas de negócios jurídicos internacionais sejam claras e precisas, de modo que o proponente indique as condições e os termos oferecidos, tornando-se eficaz quando o destinatário toma conhecimento de seu conteúdo, salvo no caso de retra- tação que seja anterior ou simultaneamente recebida. Contudo, apenas uma resposta expressa de concordância é capaz de vincular as partes ao cumprimento de obrigações e constituir um contrato internacional (CAPARROZ, 2018). Em contratos internacionais, caso o destinatário recebedor da proposta não se manifestar, presume-se o seu desinteresse na tratativa, ficando explícita a não concretização do contrato. Entretanto, caso o contrato de comércio internacional seja formalizado, é preciso que sejam reconhecidas as obrigações imputadas ao vendedor e as responsabilidades que recaem sobre o comprador. Nesse contexto, veremos as obrigações das partes em um contrato internacional. Segundo Caparroz (2018), são obrigações do vendedor internacional: 1. Efetuar a entrega, a transferência da propriedade e a remessa de documentos, cujo prazo, quantidades e especificações são definidos pelas vontades das partes. 2. Em caso de desconformidade na entrega da mercadoria, o vendedor é responsável e, em decorrência disso, o comprador tem a prerroga- tiva de realizar uma inspeção, no prazo de 2 (dois) anos, contados da transferência da posse da mercadoria. De acordo com Caparroz (2018), caso exista alguma irregularidade na mercadoria, o comprador tem as seguintes possibilidades: • Substituição da mercadoria. • Redução proporcional do preço. • Rescisão de contrato, quando se caracteriza uma violação essencial da mercadoria. • Exigir do vendedor uma indenização por perdas e danos. Já em relação às obrigações do comprador, não é difícil entendermos que estas se relacionam com o recebimento da mercadoria e o pagamento do preço acordado, nas condições e nos prazos estipulados pelas partes via contrato. Além disso, no caso de descumprimento das obrigações por parte do comprador, o vendedor pode lhe exigir: 41 • O pagamento do preço com prazo adicional. • A rescisão do contrato internacional. • Uma indenização por perdas e danos. Quando estudamos a execução de um contrato internacional, é preciso que nos atentemos a uma cláusula de garantia recíproca, denominada hardship, pela qual se permite a flexibilização do cumprimento das obriga- ções contratuais, quando estas se tornarem excessivamente onerosas a uma das partes, exigindo-lhe um esforço desproporcional e acarretando um desequilíbrio na relação contratual, visto que essa cláusula permite uma modificação posterior das condições contratuais anteriormente estabelecidas (CAPARROZ, 2018). Uma das possibilidades de extinção contratual é a rescisão, a qual “[...] tem como característica, liberar as partes de suas obrigações, sem prejuízo de eventuais ações de indenização, quando for possível imputar culpa a qualquer delas” (CAPARROZ, 2018, p. 608). Neste contexto, Silva (2013) retrata que é importante que seja ponderado, no tocante às relações de contratos internacionais, a lex mercatoria, pois são informações de grande relevância e, atualmente, vê-se necessária sua imple- mentação no contexto do cenário mundial. Portanto, essa abordagem tem a intenção de oportunizar tal investida como regra frequente criada para organizar as práticas e os costumes no âmbito do comércio exterior, bem como analisar a relação direta com os contratos internacionais do comércio por meio do estudo deles (SILVA, 2013). Assimile A lex mercatoria é um conjunto de regras específicas criadas para cada situação relacionada ao comércio internacional, sendo considerada um fenômeno adequado para contracenar com este novo cenário mundial globalizado (SILVA, 2013). Quando estudamos as questões que envolvem a globalização e o comércio internacional, é importante ponderar a relevância da lex mercatoria para ambos. Pode-se inferir que, por meio dela, se criou um novo direito na esfera comercial: a questão reguladora dos contratos. A criação da lex mercatoria emerge das exigências do comércio interno e internacional, como mecanismo para satisfazer as necessidades de desen- volvimento de certas atividades, cujo processo de ampliação encontrava, por vezes, obstáculos econômicos técnicos. Essa prática, de fato, consolidou-se 42 como sendo a melhor solução, tanto para garantir melhores lucros como para aperfeiçoar o intercâmbio negocial (SILVA, 2013). Avançando nos estudos, Silva (2013) pondera que é importante que se conheçam os tipos de contratos existentes, bem como os “contratos-tipo”, que são considerados como o preceito dos contratos padronizados, no que diz respeito a cada atividade do comércio. As fontes formais de contrato-tipo apresentam, dentre diversas parti- cularidades, as seguintes questões: condições gerais de compra e venda; condições gerais do Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecon); Incoterms; leis uniformes, fazendo alusão, ainda, à importância dos usos e costumes do comércio como fonte da nova lex mercatoria; e tratados inter- nacionais, em especial, os multilaterais (GATT e OMC) e os constitutivos de blocos regionais (MERCOSUL, UE, ALCA, etc.). Não obstante é impor- tante mencionar as sentenças arbitrais, bem como os trabalhos de unificação, consolidação e síntese, aos quais várias instituições internacionais (como a CIC, o UNIDROIT, a ILA, a UNCITRAL e a OEA) vêm se dedicando (AMARAL, 2004). Segundo Strenger (2003), as modalidades contratuais existentes e utili- zadas podem ser assim elencadas: • Contratos de Compra e Venda Internacional: enquanto os contratos de compra ocorrem quando o tipo de operação a ser feito é de expor- tação de mercadoria, os contratos de venda são celebrados quando se está fazendo uma importação, logo, por definição, um contrato será sempre internacional quando um dos elementos formadores dele estiver sujeito a outro ordenamento jurídico, isto é, à presença de elementos estrangeiros e à potencialidade de ser aplicado a mais de um sistema jurídico para regular determinada situação jurídica. Com base nisso, entendemos que seu principal uso ocorre no setor de comércio exterior, seja ele de compra ou venda. Esse recurso traz maior segurança aos envolvidos no processo de comércio interna- cional. O contrato internacional possui diversas cláusulas e acordos envolvidos, entre eles, são definidos a forma de pagamento, os seguros e as entidades. • Contratos de Financiamento: ocorrem, por exemplo, quando há uma aquisição de crédito concedida por uma instituição financeira às empresas e aos consumidores, dado que esses adquirentes não possuem condições financeiras de pagamento à vista. • Contratos de Joint Venture: ocorrem quando duas partes resolvem desenvolver uma ação mútua, na qual uma delas, por exemplo, tem a 43 tecnologia, e a outra, o produto, e ambas iniciam uma ação/operação mercadológica, que pode (ou não) ser do mesmo ramo, durante
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