Buscar

Annales e a Nova História

Prévia do material em texto

Annales e a Nova História
(Anotações de estudos sobre a historiografia francesa) 
A escola dos annales surgiu como a Revolução Francesa da historiografia, e certamente representa uma das maiores e mais duradouras influências para a historiografia ocidental fundada por March Bloch, medievalista e Lucien Febvre, um especialista no século XVI.
Bloch e Febvre tiveram carreiras acadêmicas semelhantes. Bloch frequentou a Ècole Normale, onde seu pai era professor e ministrava história antiga. Teve especialização a Île de France, onde publicou um estudo em 1913 que se aprofundou tanto a ponto de pôr em questão sua própria noção de espaço e região. Esse estudo já mostrava o pensamento de Bloch através de uma perspectiva de história problema.
Febre foi admitido na Escola Normal superior em 1897 declarado Admirador da obra de Michelangelo e influenciado por Jean Jaurés, através da obra “História socialista da Revolution Francesa”. A influência de Jaurés pode ser vista na tese de doutorado de Febvre onde estuda a região Franche-Comté (foi uma das 26 regiões administrativas da França entre 1986 e 2015. Atualmente integra a região Borgonha-Franco-Condado) no final do século XVI, época que foi governada por Felipe II da Espanha a tese foi uma contribuição tanto a história sociocultural quanto a história política.
A interdisciplinaridade era pensamento de Bloch e Febvre. O interesse de Febvre pela geografia foi tão grande que chegou a publicar um estudo sobre o assunto com título de La terre et l'evolution. Bloch não tinha interesse pela geografia, seu compromisso foi com a sociologia.
Em 1920 ocorreu o encontro dos dois, em Estrasburgo, que após a Primeira Guerra Mundial era uma nova Universidade, pois havia sido desanexada Alemanha, o que tornou um ambiente favorável para transformações intelectuais e facilitando o intercâmbio de ideias. Bloch foi nomeado maître de conféreces e Febvre professor, logo se tornaram amigos.
Após a Primeira Guerra Mundial, Febvre teve o desejo de criar uma revista internacional dedicada à história econômica. Após enfrentar a grande dificuldade, Febvre não levou o desejo adiante e abandonou o projeto da revista. Bloch Ressurge com a ideia de criar uma revista de história, e em 15 de janeiro de 1929 o primeiro número da revista foi publicado trazendo Bloch e Febvre como editores.
Annales d'historie économique foi o nome dado a revista. O primeiro número trazia uma mensagem dos autores onde lamentavam os problemas existentes entre historiadores e cientistas sociais, e que a revista já havia sido planejada muito tempo antes segundo os autores a revista não veio para ser simplesmente uma revista histórica, ela veio para exercer uma transformação no campo da história social e econômica.
Em seus primeiros números a revista teve uma característica econômica predominante, historiadores como Pirene que escreveu sobre a educação dos mercadores medievais e Eli Heckscher, autor do estudo sobre o mercantilismo, foram os principais nomes e responsáveis pelos primeiros artigos publicados na revista. A intencionalidade foi marca da revista, o comitê editorial incluía também o geógrafo Demangeon e Halbwachs um sociólogo e um economista.
Nos anos que prolongaram a década de 30 o grupo de Estrasburgo se separou. Em 1933 Febvre assumiu uma catedral no grande Cóllege de France, Bloch em 1936 assumiu a cadeira de história econômica da Sorbonne. Febvre também fora designado para a presidência do comitê organizador da enciclopédia francesa. Essas transferências para as principais instituições francesas foram um sinal claro da força intelectual e do sucesso da revista e do Movimento dos Annales.
O avanço intelectual dos annales foi freado com a Segunda Guerra Mundial. Bloch apesar dos 53 anos, se alistou no exército francês. Após a derrota francesa, Bloch retornou aos trabalhos acadêmicos até a sua captura pelos alemães, foi fuzilado em 1944. Apesar da captura e seus anos presos Bloch ainda encontrou tempo para escrever dois livros, o mais importante foi L'Étrange défaite, era o relato de uma testemunha ocular do colapso francês e ao mesmo tempo a tentativa de compreender através da Ótica de um historiador.
Febvre continuou na edição da revista. Durante a guerra, passou todo tempo em casa escrevendo artigos e livros sobre a Renascença Francesa e a Reforma.
Depois da guerra, febre foi convidado para ajudar na reorganização da ecole pratique des hautes études. Tornou-se também o delegado francês na UNESCO, participou da organização da coleção sobre a história cultural e científica da humanidade. Mas a mais importante conquista de Febvre foi criar a organização pela qual a história dos Annales poderia desenvolver-se, a VI seção da École Pratique des hautes études, em 1947.
Nomeou amigos e discípulos para Cargos da organização. Braudel o ajudou na administração do centro de pesquisas históricas e foi seu sucessor no comando dos Annales. Febvre morreu em 1956, Braudel assumiu seu lugar na direção dos Annales.
A partir de Braudel inicia-se uma nova jornada dentro da escola dos Annales que ficou conhecida como a segunda geração, liderada por Braudel e vários outros historiadores.

Continue navegando