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Resenha - SALLES, Ricardo Guerra do Paraguai

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SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do
exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 
Prof. Dr. Bruno Augusto Dornelas Câmara 
Estudantes: Diego Luiz Ribeiro de Almeida; Gabriel Henrique Lopes Cruz; Josefa Elaine da Silva Santos; Maria Laura Gomes de Souza, Ravila de Melo Costa. 
A obra de Ricardo Salles, Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército (1990), aborda sobre a guerra do Paraguai — que acaba superando a Guerra de Secessão, o maior conflito nas Américas, devido ao seu saldo negativo de perda total, tanto de soldados quanto da economia e tantos outros aspectos da sociedade paraguaia — e aponta como sendo um dos muitos "fatos esquecidos" da nossa história, normalmente tratada pela historiografia oficial, e, como tal, perde interesse, ou não é tema principal daqueles que se identificam à revisão da formação histórica. Na obra é explicitado três fatores principais, a partir da visão de Eric Hobsbawm que levaram ao estopim do conflito, dentre eles, a expansão do capitalismo na década de 60 do século XIX.
O Brasil é apresentado como um agente do imperialismo britânico — que forçava um intervencionismo português na região do Rio da Prata — e muitas eram as contradições no que se refere ao papel do Brasil no conflito, dentre elas é apontado que nos estudos que dizem respeito ao país — pertencente à Tríplice Aliança, com a Argentina e Uruguai- possui ou o exército mais corajoso, ou o mais covarde, o Paraguai era governado por tiranos megalomaníacos ou políticos anti-imperialista iluminados, o Brasil libertou o país libertou ou dizimou seu povo — visto que, em determinado momento, o Paraguai convocou em torno de 95% de sua população masculina entre 10 e 60 anos para o combate e boa parte faleceu na luta, causando um desequilíbrio na sua sociedade –. A situação se torna ainda mais grave quando sabemos que até recentemente o palácio do Itamarati impediu a análise de documentos sobre o conflito, em seu poder. Há pouco, diversos autores têm se dedicado a demolir os mitos sobre o conflito da guerra do Paraguai, mas, por outro lado, têm criado outros tantos mitos sobre o conflito, inclusive a partir do retrato do Paraguai ser uma nação independente do imperialismo, como grande progresso material e social, como aponta o autor Ricardo Salles.
Além das perdas humanas, o Paraguai sofreu com perdas materiais, pois não possuía as mesmas tecnologias que a Tríplice, especialmente por parte do Brasil, mesmo que antes da Guerra, o país já viessem em um processo de concentrar recursos nacionais para a produção de um aparelho militar grandioso, incompatível com os recursos da nação. Mas essa armação militar não teve o resultado esperado e assim como os soldados, também teve perda total ao fim do conflito, contribuindo para o agravamento da fome, pobreza, terras cultiváveis abandonadas, rebanho desaparecido, recursos acumulados saqueados etc. 
A partir da leitura do texto em questão, nota-se que o Paraguai, pelas peculiaridades da formação histórica do período colonial sob a missão jesuíta, este não foi o centro das atenções do colonialismo ou dos subsequentes imperialistas, a partir daí, ajuda muito descrevê-lo como um país independente do imperialismo, até mesmo como um potencial de desenvolvimento autônomo da região.
Por outro lado, a estrutura econômica missionária, a administração centralizada exercida pela Igreja, o fraco desenvolvimento da classe dominante crioula local, latifundiários ou mercadores, fizeram com que o Estado desempenhasse um papel decisivo na organização econômica do Paraguai após a independência. É por meio dele que algumas classes dominantes, vestidas com aparatos de alto escalão, exercem seu poder econômico sobre a maioria da população organizada em comunidades. Essa parte da classe dominante de origem crioula ainda possuía vastas terras, além de se beneficiar em parte dos superávits econômicos graças à honra e aos privilégios associados aos cargos públicos. O primitivo estado nacionalista do Paraguai foi apresentado por vários autores como um legítimo defensor dos interesses nacionais no imperialismo. No entanto, o Estado herda uma estrutura centralizada da era colonial autoritária e garante uma estrutura social desigual, mas é bastante diferente de seus vizinhos, especialmente no Brasil, que tem a propriedade de escravos.
Apesar disso, compreende-se que o Paraguai da primeira metade do século XIX não era um país totalmente adaptado às regras do livre comércio, o que facilitava a entrada da Inglaterra nos antigos territórios coloniais da Península Ibérica. Isso se deve ao seu caráter histórico e não a uma opção de contra-ataque ao imperialismo que invade a região. Ainda há muita especulação sobre o papel do imperialismo britânico, apresentado como um impasse por trás das ações da Tríplice Aliança, e primeiro muitas simplificações. Embora esteja claro que a Inglaterra considera as atividades monopolistas do Paraguai prejudiciais ao comércio, é claro que seus interesses primários não estão concentrados neste setor secundário do setor da platina. A visão da guerra no Paraguai era que a necessidade do imperialismo britânico para garantir o livre comércio, por um lado, superestimava o nacionalismo do Paraguai e a ganância britânica e, por outro lado, subestimar os interesses do Reino Unido. 
O subtítulo intitulado A versão da intervenção imperialista, inicia com a versão das causas do conflito por Leon Pomer, que segundo Pomer, após as independências dos países hispano-americanos o Paraguai seguiu caminhos diferentes. Com uma visão antiimperialista surgiram algumas manufaturas e a quase inexistência de importações dificultaram o contato com os países vizinhos. O Paraguai, por estar em uma área periférica não possuía uma terra produtiva, o que gerou a quase inexistência de Crioulos, que na verdade participavam de funções administrativas, ao contrário de outras regiões da América. E, apesar da região não ser marcada pela exploração, não foram excluídos dessa forma de organização econômica. 
Pomer nos mostra que havia um atrito entre a forma que a igreja atuava nas regiões da colônia, principalmente pelo poder sobre os indígenas, conflito que se eleva ao processo de independência paraguaia, o qual não foi bem visto pela classe dominante da colônia. Poderíamos citar um desenvolvimento autônomo paraguaio, porém, como citam os historiadores, foi a elite que encabeçou o processo de independência tomou do aparelho estatal como uma propriedade privada, dominada pela igreja e famílias da elite. No entanto, as comunidades historicamente remanescentes, como os Guarani, pediam respeito às suas culturas, modo de vida e economia, mesmo que sempre subordinados à igreja. Com Solano López o estado se modernizou em exportações e importações, construindo ferrovias e linhas de navegação. As áreas rurais indígenas foram apropriadas e geridas de modo privado por governantes do alto escalão Paraguaio. 
Assim, o País buscava seu alto desenvolvimento e, ao passo que cortava suas relações coloniais, ameaçava a presença imperialista e a influência britânica em assuntos internos. Dessa forma, em contraposição a outros países sul americanos, o Paraguai desenvolvia uma política externa e isolacionista, que mantinha o cobiçado Rio Paraguai fora dos alcance dos ingleses, os quais ficavam de fora da zona de expansão comercial. Logo, a origem da guerra teria surgido pela pressão que a Inglaterra exercia sobre países como Brasil e Argentina, para que estes pressionassem o Paraguai a abrir o país às demais nações, ou seja, ao império britânico. Para Pomer, os interesses econômicos se sobressaíram na guerra, especialmente, e sendo o mais favorecido, o capitalismo inglês, que tinha o Brasil como seu principal interlocutor no cenário mundial.
Em O império às vésperas da Guerra do Paraguai, o autor cita que o último grande acontecimento do apogeu do império foi a Guerra do Paraguai, já que na segunda metade da década de 50 o Brasil estava em uma situação privilegiadacom relação ao mercado internacional, a expansão cafeeira, ainda a base do trabalho escravo, foi o principal contribuinte para esta situação, tendo como principal parceiro a Inglaterra. O fim do tráfico negreiro em 1850 estabilizou esta relação entre os paśes, mesmo que a elite escravista se opusesse a este fato. Na demografia do país também ocorrem diversas alterações, as cidades tomavam formas e as funções administrativas públicas e surgiam, as quais formavam uma nova camada social. Outro ponto a se destacar é a paz social, advinda do fim das revoltas dos anos anteriores. Nas diversas regiões eram aceitas as instituições, práticas e símbolos pela classe dominante, fato que se refletia na solidez do império com sua política moderadora. O desenvolvimento cultural foi outra característica a se desenvolver, escolas e teatros surgiram, a elite era grande e a literatura produzia uma imagem de sociedade que não apenas ressalta a cultura européia. Para falar em escravismo, pode-se dizer, a partir das palavras do autor, que estes conseguiram criar uma civilização que possuía traços culturais que lhes conferiam uma identidade própria, se formos relacionar ao mundo que os cercava.
Portanto, o Brasil estabilizado avançou nos seus objetivos, que contava com a presença maciça no Rio da Prata, essa expansão visava interesses políticos que giravam em torno da não criação de um estado unificado ao Sul. Entre os principais interesses a essa região estava o livre acesso a navegação e ao Mato Grosso, que garantiriam ao império sua hegemonia no continente, protegendo seus interesses econômicos e a garantia de igualdade a parâmetros europeus. O avanço do Brasil a terras uruguaias foi entendida como uma ameaça ao estado paraguaio e as forças da região, que entendiam ser o próximo alvo das tropas brasileiras. Naquele momento o Brasil subestimava o poderio das tropas paraguaias, ao contrário de López, o fato é que a guerra não parecia iminente para ambas as partes. No entanto, percebemos hoje que mesmo o heroísmo do povo guarani não foi suficiente, tendo em vista que o autor afirma que o Paraguai jamais esteve próximo da vitória. Porém, percebemos que a busca pela hegemonia por parte do Brasil trouxe condições desastrosas, ambas as partes ficaram extenuadas em condições jamais vistas no continente. 
	No capítulo IV, intitulado A guerra do Paraguai e o Brasil: a formação de um exército nacional e o fim do Império, o autor começa ressaltando que a Guerra do Paraguai foi um fator importante para a transição do escravismo ao capitalismo, tendo em vista as mudanças que o país passou neste período. No contexto político, houve o fortalecimento dos grandes proprietários do Oeste paulista, a fundação do Partido Republicano, o surgimento do movimento abolicionista e a crescente oposição da população escrava do cativeiro. Esses movimentos contribuíram para deram margem para a abolição da escravidão e a proclamação da república.
Os militares tiveram grande influência nesses acontecimentos e a guerra do Paraguai contribuiu fortemente para a formação do Exército. No entanto, sua influência junto ao exército teve diferentes significados para as classes sociais. Ao passo que o Império se viu obrigado a mobilizar o conjunto da sociedade, os setores do exército alimentaram esperanças de grupos sociais que se encontravam em condições desfavoráveis.
No subtítulo “A organização militar antes da guerra do Paraguai”, o autor indica que o Império contou com a participação da Guarda Nacional para resolver os conflitos na região platina. Devido ao fato de os interesses do Império coincidirem com os dos estancieiros do Rio Grande do Sul, no que se refere aos países limítrofes, as forças ali atuantes pertenciam à organização militar local. Sendo assim, o exército existia em pequeno número ou mesmo estava estruturado a partir da Guarda Nacional. Esta também relacionava- se diretamente com a estrutura social escravista. Tendo em vista que os corpos eram subordinados às autoridades locais, que muitas vezes obedeciam aos proprietários e senhores, só poderia atuar na Guarda Nacional quem possuísse renda superior a 200 mil réis, podendo ainda indicar um substituto para atuar em seu lugar. Sendo assim, o exército nacional profissional complementava a ação da Guarda Nacional.
Já no subtítulo “A organização de um exército nacional”, Salles ressalta que o Paraguai possuía um exército organizado e um poder hegemônico. Nesse contexto, fez- se necessária a organização de um exército nacional no Brasil, tendo em vista que a tropilha do Rio Grande não daria conta de vencer este inimigo. O governo imperial, agora, iniciava uma campanha de recrutamento para a formação desse exército nacional. A escalada de cerca de 100 000 homens, certamente contou com as várias camadas da sociedade. Devido ao esforço de mobilização de pessoas para a guerra, foi colocada em dúvida até mesmo o papel dos setores livres da população. Salles também reforça que existem estudos que discutem até mesmo o caráter forçado de recrutamento para a guerra. No entanto, ele sugere que isso não foi algo exclusivo do Brasil, mas de muitos outros países. A coerção também teria sido fortemente usada como estratégia de recrutamento, esta estaria encoberta sob o véu do patriotismo. Ele também chama atenção para o fato de que após a guerra, o Brasil teria mudado no que se refere ao contexto social, pois o Império teria buscado força para a guerra até mesmo nas camadas mais baixas da sociedade, as quais não faziam parte da classe dominante.
Essa discussão desdobra-se melhor no próximo subtítulo “O exército e os escravos”, onde ele analisa a hipótese de os escravizados terem combatido na guerra do Paraguai, porém, ressalta que se torna bastante difícil saber o número exato destes. Alguns autores têm perspectivas diferentes sobre o tema, mas Salles explica que os mesmos podem ter participado no intuito de receber a carta de alforria, assim os senhores também recebiam uma contribuição por mandar os escravos para a guerra, mas esta não teria um valor muito alto, favorecendo para que os senhores mandassem os escravos mais convalescidos, que não valeriam muito no mercado. Os documentos da época, mesmo passíveis de erros, demonstram que a quantidade de escravos combatentes na guerra foi muito baixa em relação aos demais combatentes, embora que certas vezes os escravos poderiam ter participado da guerra no lugar de seus senhores. Mesmo as províncias do Rio Grande do Sul e da Bahia, que enviaram, respectivamente, os maiores contingentes para a guerra, estes não eram em sua maioria escravos.
Um fato marcante é que após a guerra, a população escrava passou a protagonizar mais fugas e rebeliões, como também reivindicar direitos de cidadania. De fato, isso acontecia desde o início da escravização no Brasil, mas ganhou mais força nesse período. Nota-se então, um indicativo de mudança social, salienta o autor.
No último tópico deste capítulo, “O exército e as camadas livres”, Salles comenta que na época era muito comum que os negros livres fossem confundidos com escravizados, visto que já neste período o tráfico negreiro havia sido proibido e haviam mais negros livres do que escravizados. Havia, assim, um preconceito, onde inferia-se que todos os negros eram escravos e os brancos eram livres. Além do mais, havia um grande contingente livre de pessoas negras que poderiam ser escaladas para participar da guerra e não eram necessariamente escravos. Muitos destes foram mobilizados como os chamados Voluntários da Pátria, que foi uma nova instituição criada durante a guerra. Outros foram mobilizados compulsoriamente.
Em Os voluntários da Pátria, o autor discute as variadas formas praticadas pelo governo imperial de voluntariar soldados das massas populares nas fileiras do exército tradicional. Em janeiro de 1865 o governo emite decreto que cria o “corpo de voluntários da pátria”, instância que oferece benefícios àqueles que se apresentassem como voluntários. O art. 2º do decreto reitera o recebimento de 300 réis diáriosmais uma gratificação de 300$000 a todo aquele que se alistar, e também o art. 9º garante o direito a cargos públicos aos alistados por voluntariedade.
De fato, é nítida a intenção do governo central em incentivar a participação das camadas populares nos esforços que estavam sendo efetivados sobre a guerra. Também é curioso pensar que este movimento de criação de uma “nova linha” de organização militar, num momento onde já haviam corpos militares já consolidados e bastante tradicionais, como os da guarda nacional e os do batalhão do exército regular, é fruto do reconhecimento do “governo imperial de recorrer às energias populares”. É um momento de quebra de parâmetros até então estabelecidos: tornar-se soldado deixava de ser entendido como humilhação ou castigo, e passaria a ser compreendido como ato de patriotismo e de dever com seu país. Mas o voluntariado não atendeu muito bem as demandas necessárias, de modo que a guarda nacional foi chamada a prestar concurso para voluntários, gerando confusão generalizada entre os da guarda nacional já destacados e preparados para atuar no exterior, e os recém voluntários da pátria.
Deste modo o quadro geral permaneceu bastante desequilibrado, há ponto de que no momento dos conflitos, apenas a cavalaria do Rio Grande do Sul mantivera a designação de corpos da guarda nacional, fazendo com que mais de 75% de todo o efetivo de combate pertencesse aos voluntários da pátria. Durante o processo de saída dos decretos, havia também as seções dedicadas ao dispenso de certas categorias profissionais: funcionários públicos, advogados, médicos, etc. Mas entre os de categoria permitida, como os oficiais da reserva, policiais, membros da guarda nacional, simples cidadãos e escravos, quantos foram os que responderam ao chamado dos conflitos? Segundo o autor, tudo indica que logo após os primeiros decretos, houve uma pequena de voluntariamente que principalmente nos setores estudantis e nas camadas da população urbana. O general Queiroz Duarte cita discurso do ministro da guerra, em 1866, onde calcula em torno de 10.000 o número de voluntários que responderam ao chamado do decreto. Buscar por recursos humanos, movimento produzido naturalmente devido à eclosão dos conflitos, fez com que o governo imperial criasse métodos diferentes dos usuais recrutamentos que eram usados com as camadas populares anteriormente. Era necessário uma nova roupagem para incentivar e dar um lugar de prestígio aos contingentes de voluntários da pátria.
No que diz respeito ao quadro geral da guerra, três pontos precisam ser levados em conta já nos anos de 1866, dois anos após o início dos conflitos: em primeiro lugar tempo uma mudança significativa no quadro de soldados da linha frente contra os de voluntários da pátria, uma diminuição significativa em relação aos alistamentos, caindo de 31,35% para 15,15%; o segundo aspecto diz respeito ao contingente total de soldados, composta de forma esmagadora agora por recrutados – os voluntários somam-se apenas 16,54%; e por último o irônico aumento, absoluto e proporcional, do número de voluntários da pátria mobilizados, de 10.240 para 24.136. Os treinamentos das tropas, se é que pode ser definido desta forma, permanecia ainda de forma bastante rudimentar, e a viagem das províncias para a corte, e de lá ao Sul do país, era realizado em condições precárias demais, atrasando o sistema de abastecimento de tropas nas regiões de conflito.
Nos primeiros meses de conflito, as tropas mal contavam com o básico de suprimentos, seja de roupas, alimentos ou armamentos adequados. Há relatos de soldados que enfrentaram as invasões do Rio Grande do Sul praticamente nus, usando simples peças de couro e utilizando lanças como armas. Nesse contexto não é de se espantar, como também falam os relatos, que batalhões inteiros, fossem reduzidos a pouquíssimos soldados em questão de semanas. Gangrena, frio, falta de aclimatação adequada e doenças alimentares vigoravam como principais causas de mortalidade. Estes primeiros conflitos de fato produziram enormes baixas militares. A utilização do esquema de lutar Caudilhesca, tornava o controle sobre um contingente deveras numeroso impossível, isto ao menos até a chegada de Caxias, o militar de maior prestígio em todo o império – a partir daí a atenção sobre os aspectos organizacionais do exército passaram a ser levados mais em conta.
É curioso perceber o protagonismo dos personagens históricos que tentavam, neste momento, mudar de vida por meio do reconhecimento de seus feitos em batalha, isto no caso de indivíduos de baixo estrato social, ou mesmo por provar a honra familiar e adquirir mais renome individual, no caso daqueles que possuíam alguma gota de prestígio no sangue. Nos primeiros meses do conflito, o grosso de todo o contingente brasileiro era composto por gaúchos, que formavam o corpus da cavalaria. Esse estilo de guerrear por meio de caudilhos caracterizava muito as tropas brasileiras, ou seja a improvisação das provisões de guerra – vivia-se literalmente nos terrenos das batalhas. Outro curioso aspecto é a diversidade de uniformes existentes, o que produzia não um problema visual quando da ocorrência da reunião de todas as tropas, mas sim representava a ausência de vestuário adequado para as condições do relevo e do clima enfrentados. Tal fato é sempre lembrado: em meio a invasão do Rio Grande do Sul, soldados brasileiros chegaram a combater praticamente nus e armados com lanças, tal era a situação das tropas. Os acampamentos eram montados ao relento, e precárias eram as barracas, o que faz com que ainda que houvesse poucas referências à fome e epidemias, o número de baixas decorrente do frio ou de doenças como disenteria e diarreia, fossem bastante numerosas.
O autor também oferece apontamentos sobre O cotidiano da tropa em campanha. Enquanto realizavam o cerco à Humaitá, as tropas ainda um padrão caudilhesco, o que influía diretamente na dimensão anímica dos soldados. As tropas gaúchas já eram acostumadas com este modo de operação, a despeito daqueles considerados como “baianos”, ou seja, quaisquer que fosse oriundo de outra província. No palco de operações, as condições eram precárias, mas ainda não haviam referências à pestes ou epidemias. Quando saía em marcha, o exército era seguido por uma multidão de vendedores, mulheres, crianças e afins. Estas mulheres eram, em sua maioria, prostitutas buscando lucrar com o estado de guerra. Mas também eram esposas e mães, preocupadas com seus parentes. 
De fato, o cerco à Humaitá representou o local com maior número de mortes, juntamente com a batalha de Tuiuti. Não o combate em si, mas a inadequação com o estilo de guerra caudilho e as péssimas condições do terreno foram os principais responsáveis pelas baixas. Com a longa duração do cerco, Argentina e Uruguai abandonam os esforços de guerra no local, ficando à cargo do Brasil a manutenção das tentativas. Nesse contexto, as doenças e epidemias não tardaram a marcar as tropas com baixas. A chegada de Caxias marca a reorganização das tropas, adotando estratégias mais eficientes e melhorando as condições de combate. Foram constantes os requerimentos para envio de novas tropas, com o intuito de substituir as mortes por doenças e demais causas. Salles concluí o capítulo destacando como a campanha da Guerra do Paraguai foi responsável pelo surgimento de uma poderosa máquina administrativa. Máquina esta incompatível com as bases do Estado Imperial.
No capítulo final, intitulado O Exército Imperial em campanha: nacional e escravista (II), Salles continua abordando as questões políticas e estratégicas envolvendo as implicações da Guerra do Paraguai e suas relações com o fim do império. Destaca, a inicialmente, as contradições existentes entre a base escravista do Império e a formação de um exército nacional. A resolução para tal se deu a partir da exaltação da bravura. Nas batalhas, o porte e defesa da bandeira nacional era imprescindível. Do mesmo modo, abdicava-se do uso de estratagemas e camuflagem, sendo preferidas as batalhas abertas.Estas características, contudo, estavam presentes em todas as tropas Aliadas e também no exército paraguaio. As forças armadas brasileiras diferiam na “modernidade da organização e dos recursos empregados” (p. 134), especialmente na figura de Caxias. Por outro lado, a soldadesca brasileira não estava isenta de cometer atos ímpios, como saques e assassinatos. Alguns autores da época, como Thompson e Versen, associam tais atos de barbaridade à composição racial do exército brasileiro, opinião que estava em desacordo com a visão brasileira acerca das tropas. De acordo com Salles, as observações de Caxias acerca da configuração étnica do exercido será de grande valia adiante. 
Nesse sentido, um dos fatores de mais importância no contexto social do interior do exército foram as “promoções e condecorações”. Os soldados rasos que obtinham feitos valorosos e se destacavam em combate ficavam ávidos por honrarias extras. Quando o soldado fazia parte dos grupos médios da sociedade – ou seja, pequenos comerciantes, artesãos etc – a estrutura hierárquica do exército não sofria grandes alterações. Contudo, se o soldado condecorado fosse oriundo das classes subalternas, ou até mesmo escravizado, a base do exército poderia ser subvertida. Portanto, os oficiais do alto escalão relutavam em conceder as honrarias. 
O exército que se pretendia moderno convivia com a mentalidade escravocrata transposta da sociedade imperial. A contradição asseverada por Salles no início do capítulo foi resolvida deste modo, sendo possível para o governo imperial e o alto escalão militar “mobilizar um exército nacional moderno e assegurar a manutenção dos privilégios hierárquicos” (p. 143). Para a manutenção da ordem social no interior do exército, os castigos também eram de extrema importância. Dessa forma, era natural que o exército, fruto dos anseios e necessidades do Império, buscasse repetir a hegemonia e centralização do Estado Imperial. Entretanto, ao contrário do que pretendiam as classes dominantes e o alto escalão do exército, a conduta adotada não surtiu o efeito desejado, mas permitiu o surgimento dos meios de subversão à ordem escravista. 
Por fim, na Conclusão, Salles destaca a importância do exército – instituição nascida em meio à crise do sistema imperial – na formação histórica do Brasil. Após a Guerra do Paraguai, especialmente a partir do estabelecimento das camadas médias na hierarquia militar, as forças armadas estiveram envolvidas em grande medida com a política nacional. Todavia, da mesma forma que participava dos anseios políticos, o exército também assimilava as contradições da sociedade imperial e as heranças coloniais, o que fica evidente quando analisamos a pouca inserção das classes subalternizadas e dos escravizados que adentravam a instituição militar. 
Concluímos, a partir do que foi exposto, que o livro de Ricardo Salles apresenta de forma primorosa como se deu o surgimento da instituição militar no seio da Guerra do Paraguai, acompanhando também o fim do período imperial e do sistema escravista. É de grande importância, dessa forma, entender como se deram as bases das forças armadas, tão presentes não só na formação da república, como também ao longo de toda a história política do Brasil.

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