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Resenha - Guerra do Paraguai

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SALLES, Ricardo. A Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do Exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
O autor também oferece apontamentos sobre O cotidiano da tropa em campanha. Enquanto realizavam o cerco à Humaitá, as tropas ainda um padrão caudilhesco, o que influía diretamente na dimensão anímica dos soldados. As tropas gaúchas já eram acostumadas com este modo de operação, a despeito daqueles considerados como “baianos”, ou seja, quaisquer que fosse oriundo de outra província. No palco de operações, as condições eram precárias, mas ainda não haviam referências à pestes ou epidemias. Quando saía em marcha, o exército era seguido por uma multidão de vendedores, mulheres, crianças e afins. Estas mulheres eram, em sua maioria, prostitutas buscando lucrar com o estado de guerra. Mas também eram esposas e mães, preocupadas com seus parentes. 
De fato, o cerco à Humaitá representou o local com maior número de mortes, juntamente com a batalha de Tuiuti. Não o combate em si, mas a inadequação com o estilo de guerra caudilho e as péssimas condições do terreno foram os principais responsáveis pelas baixas. Com a longa duração do cerco, Argentina e Uruguai abandonam os esforços de guerra no local, ficando à cargo do Brasil a manutenção das tentativas. Nesse contexto, as doenças e epidemias não tardaram a marcar as tropas com baixas. A chegada de Caxias marca a reorganização das tropas, adotando estratégias mais eficientes e melhorando as condições de combate. Foram constantes os requerimentos para envio de novas tropas, com o intuito de substituir as mortes por doenças e demais causas. Salles concluí o capítulo destacando como a campanha da Guerra do Paraguai foi responsável pelo surgimento de uma poderosa máquina administrativa. Máquina esta incompatível com as bases do Estado Imperial.
No capítulo final, intitulado O Exército Imperial em campanha: nacional e escravista (II), Salles continua abordando as questões políticas e estratégicas envolvendo as implicações da Guerra do Paraguai e suas relações com o fim do império. Destaca, a inicialmente, as contradições existentes entre a base escravista do Império e a formação de um exército nacional. A resolução para tal se deu a partir da exaltação da bravura. Nas batalhas, o porte e defesa da bandeira nacional era imprescindível. Do mesmo modo, abdicava-se do uso de estratagemas e camuflagem, sendo preferidas as batalhas abertas. Estas características, contudo, estavam presentes em todas as tropas Aliadas e também no exército paraguaio. As forças armadas brasileiras diferiam na “modernidade da organização e dos recursos empregados” (p. 134), especialmente na figura de Caxias. Por outro lado, a soldadesca brasileira não estava isenta de cometer atos ímpios, como saques e assassinatos. Alguns autores da época, como Thompson e Versen, associam tais atos de barbaridade à composição racial do exército brasileiro, opinião que estava em desacordo com a visão brasileira acerca das tropas. De acordo com Salles, as observações de Caxias acerca da configuração étnica do exercido será de grande valia adiante. 
Nesse sentido, um dos fatores de mais importância no contexto social do interior do exército foram as “promoções e condecorações”. Os soldados rasos que obtinham feitos valorosos e se destacavam em combate ficavam ávidos por honrarias extras. Quando o soldado fazia parte dos grupos médios da sociedade – ou seja, pequenos comerciantes, artesãos etc – a estrutura hierárquica do exército não sofria grandes alterações. Contudo, se o soldado condecorado fosse oriundo das classes subalternas, ou até mesmo escravizado, a base do exército poderia ser subvertida. Portanto, os oficiais do alto escalão relutavam em conceder as honrarias. 
O exército que se pretendia moderno convivia com a mentalidade escravocrata transposta da sociedade imperial. A contradição asseverada por Salles no início do capítulo foi resolvida deste modo, sendo possível para o governo imperial e o alto escalão militar “mobilizar um exército nacional moderno e assegurar a manutenção dos privilégios hierárquicos” (p. 143). Para a manutenção da ordem social no interior do exército, os castigos também eram de extrema importância. Dessa forma, era natural que o exército, fruto dos anseios e necessidades do Império, buscasse repetir a hegemonia e centralização do Estado Imperial. Entretanto, ao contrário do que pretendiam as classes dominantes e o alto escalão do exército, a conduta adotada não surtiu o efeito desejado, mas permitiu o surgimento dos meios de subversão à ordem escravista. 
Por fim, na Conclusão, Salles destaca a importância do exército – instituição nascida em meio à crise do sistema imperial – na formação histórica do Brasil. Após a Guerra do Paraguai, especialmente a partir do estabelecimento das camadas médias na hierarquia militar, as forças armadas estiveram envolvidas em grande medida com a política nacional. Todavia, da mesma forma que participava dos anseios políticos, o exército também assimilava as contradições da sociedade imperial e as heranças coloniais, o que fica evidente quando analisamos a pouca inserção das classes subalternizadas e dos escravizados que adentravam a instituição militar. 
Concluímos, a partir do que foi exposto, que o livro de Ricardo Salles apresenta de forma primorosa como se deu o surgimento da instituição militar no seio da Guerra do Paraguai, acompanhando também o fim do período imperial e do sistema escravista. É de grande importância, dessa forma, entender como se deram as bases das forças armadas, tão presentes não só na formação da república, como também ao longo de toda a história política do Brasil.

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