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Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 Agentes Anti-Inflamatórios, Anti-Piréticos e Analgésicos HISTÓRIA 1971 – Mecanismo de ação da aspirina Bloqueio da Ciclo-oxigenase (COX) -> Inibição da síntese de prostaglandinas a partir do ácido araquidônico → Smith e Willis no mesmo ano demonstraram que a aspirina bloqueava irreversivelmente a produção de tromboxano pelas plaquetas. INFLAMAÇÃO - Sinais cardinais - Reação protetora gerada pela agressão, causando acúmulo de fluidos e leucócitos para destruir, diluir e isolar os agentes lesivos. - Pode haver perda da função: resposta maléfica – inflamação exacerbada ou crônica pode interferir seriamente na função do órgão acometido. Ex: cirrose hepática, artrite reumatoide, choque anafilático; COMPONENTES DA INFLAMAÇÃO AGUDA - Resposta Inata: inespecífica, liberação de autacóides e produzem respostas genéricas para qualquer agente, contração de arteríolas, edema, exsudação local rica em mediadores químicos. → Início: receptores Toll nos macrófagos reconhecem PAMPs ; → PAMP + Toll – sinalização intracelular gera resposta de célula dendrítica ou macrófago: produção de citocinas pró-inflamatórias, prostaglandinas e histamina; IL-1, TNF-alfa: induzem expressão de moléculas adesão pelo endotélio; Fagócitos quimioatraídos aderem células de adesão: fagocitose da bactéria mediada por complemento C3b e IgG; - Resposta Adaptativa: células competentes específicas; - Dor - Calor - Rubor - Tumor AÇÃO DOS AIEs AÇÃO DOS AINEs Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 Existem pelo menos duas formas de ciclo-oxigenases: COX-1: Constitutiva → Estômago → Rim → Plaquetas → Útero → SNC COX-2 Induzida: → Macrófagos → Linfócitos → PMN → Endotélio Constitutiva: → Rim → SNC COX-3 (COX-1b) → Variante da COX-1, produto do mesmo gene, com diferentes características proteicas; → RNAm da COX-3: SNC e coração; → Papel fisiológico pouco claro e controverso; → COX-3 pode constituir alvo de ação de paracetamol e dipirona; Dependendo do tecido a COX vai gerar uma prostaglandina diferente de acordo com a sintase Ex: Tecidos que expressam PGI sintase – PGI2 - Formada no processo inflamatório e pela liberação de IL1, IL2 e TNFα. - ↑ 20 a 40x durante o processo inflamatório - Prostaglandinas mediadoras de inflamação, dor e febre; Produção fisiológica de prostaglandinas para manutenção de funções fisiológicas; Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 ANTI-INFLAMATÓRIOS (AINES e AIES) AINES - Grupo quimicamente heterogêneo que se diferencia quanto a sua atividade → Antipirética → Analgésica → Anti-inflamatória - Ação principal: inibição da COX → Resulta em redução na síntese de prostaglandinas (e seus efeitos desejados e indesejados); - Nenhum AINE atua na modificação dos sinais da inflamação; - Três efeitos terapêuticos principais fundamentados na supressão das prostaglandinas (PGE2): Efeito Anti-Inflamatório: ↓PGE2 e prostaciclinas ↓vasodilatação e extravasamento plasmático (edema) Efeito Analgésico: ↓ sensibilização de terminações nervosas (nociceptores) → redução da dor leve/moderada Efeito Antipirético: ↓febre Reajuste do termostato hipotalâmico: redução da PGE2 que atua no hipotálamo OBS: Uso de anti-inflamatórios na cefaleia - reduz a vasodilatação cerebral via prostaglandinas; CLASSIFICAÇÃO DOS AINES u - Quanto à semelhança química; - Quanto à seletividade de isoforma COX; - Quanto à meia-vida plasmática: baixa meia-vida (cetoprofeno, paracetamol, indometacina), meia vida intermediária e meia-vida longa (piroxicam); PGE2 – Pulmão, macrófagos: vasodilatação, hiperalgesia, febre, proliferação celular. Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 EFEITOS COLATERAIS Efeitos Colaterais do TGI - Leves: dispepsia, erosões; - Moderadas: anemia ferropriva, úlceras gastrintestinais; - Graves: sangramento severo, perfuração aguda, obstrução; - Sintomas mais comuns: dor abdominal, náuseas, vômito, diarreia, anorexia, erosão de úlceras gástricas. Papel das prostaglandinas na proteção gástrica: - Produção de bicarbonato; - Produção de muco; - Redução da produção de HCl; A inibição da COX reduz a eficácia dos mecanismos de defesa da mucosa gástrica, tornando-a mais suscetível a agressão ácida ou por H.pylori. Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 Efeitos Colaterais Renais da inibição de PGs por AINES Efeitos Colaterais Relacionados à inibição da COX-1 Efeitos Colaterais Relacionados à Inibição da COX-2 Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 PRINCIPAIS AINES 1. ÁCIDO ACETILSALICÍLICO – Derivados dos Salicilatos - 1º AINE descoberto; - Efeito anti-inflamatório, analgésico e antipirético; - Mecanismo de Ação: → Ácido orgânico fraco → acetilação(inativação) irreversível de COX-1 e COX-2 → Plaquetas: COX-1 plaquetária – efeito atiplaquetário de 8-10 dias - Doses habituais: substituição da enzima inativada em 6-12h; - Efeitos Colaterais: intolerância GI, efeitos sobre o fluxo sanguíneo renal e disfunção plaquetária; - Efeitos de ação variam com a dose: → Dose Baixa: 75-325mg/dia Acetilação irreversível da COX-1: inibe formação de tromboxano A2 nas plaquetas; Efeito anti-trombótico: anti-plaquetário; Dor/febre: 325-650mg a cada 4-6h; → Dose Intermediária: 650mg-4g/dia Inibição da COX-1 e COX-2: bloqueio da produção de PG; Efeito analgésido e antipirético; Febre reumática: 1h a cada 4-6h; → Dose Elevada: 4-8g/dia Efeito anti-inflamatório: eficaz em distúrbios reumáticos; Uso limitado pela toxicidade: zumbido, perda auditiva e intolerância gástrica; - Farmacocinética: → Pico: 1h; → Ligação proteica: 80-90%; → Meia-vida terapêutica: 2-3h; → Meia-vida dose tóxica: 15-30h; 2. PROPIONATOS – Derivados do Ácido Propiônico - Efeito anti-inflamatório, analgésico e anti-pirético; - Podem alterar função plaquetária e prolongar sangramentos; - Inibidor não-seletivo da COX; - Farmacocinética Ibuprofeno: → Pico: 15-30 min; → Ligação proteica: 99% → Metabólitos conjugados de hidroxila e carboxila; → Meia-vida: 2-4h; - Dose: → Analgesia: 200-400mg a cada 4-6h; → Anti-inflamatório: 300mg a cada 6-8h OU 400-800mg 3-4x/dia; - Efeitos Colaterais: → GI (5-10%); → Trombocitopenia, agranulocitose, erupções cutâneas, cefaleia, tonturas; → Prolongamento de tempo de sangramento; - Contraindicação: → Hipersensibilidade cruzada, doença do TGI; - Ibuprofeno (Alivium, Advil); - Naproxeno; - Fenoprofeno - Cetoprofeno - Flurbiprofeno Diferente dos outros AINEs Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 → Insuficiência hepática e renal; OBS: ProfenidProtect® = cetoprofeno200mg + omeprazol20mg 3. PARACETAMOL – Derivados do paraminofenol - Não é considerado um AINE! - Efeito analgésico e antipirético: não é anti-inflamatório; - Não afeta função plaquetária; - Não aumenta tempo de coagulação; - Inibidores não seletivos da COX; - Farmacocinética: → Pico: 30-60min; → Ligação a proteínas: 20-50min; → Meia-vida: 2h; - Dose: 10-15mg a cada 4h – máximo 5 doses/24h; - Potência pode ser modulada por peróxidos; - Metabolismo do paracetamol: → Circunstâncias normais: conjugado no fígado, forma metabólitos glicuronizados ou sulfatados inativos; Parte hidroxilada formando intermediário tóxico altamente reativo; → Doses terapêuticas: intermediário tóxico reage com a glutationa formando metabólito não tóxico; → Doses tóxicas: esgotamento da glutationa hepática, intermediário tóxico reage com proteínas hepáticas; Necrose hepática e renal. 4. DERIVADOS DO ÁCIDO ACÉTICO Diclofenaco - Efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos; - Inibição seletiva reversível da COX;- Mais potente que indometacina ou naproxeno; - Se acumula no líquido sinovial; - Excreção principalmente renal; - Redução da concentração intracelular de ácido araquidônico livre nos leucócitos; - Complexo diclofenaco colestiramina (Flotac 70mg): início rápido e longa duração; - Farmacocinética: → Biodisponibilidade oral: 50%; → Concentração máxima: 2-3h; → Proteínas plasmáticas: 90% → Metabolismo hepático; → Meia-vida: 1-2h; → Excreção renal; - Tolmetina - Diclofenaco (Cataflan, Voltaren) - Naproxeno - Indomectina; - Sulindaco Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 5. FENAMATOS – Derivados do Ácido Mefenâmico Ácido Mefenâmico → Indicação: disminorréiaprimária, Síndrome pré-menstrual, Alívio sintomático deartrite reumatoide, osteoartrite e dor incluindodor muscular, traumática e dentária, cefaleias de várias etiologias, dor pós-operatória e pós-parto. 6. DERIVADOS DO ÁCIDO ENÓLICO - Meloxicam: menos sintomas TGI e complicações que piroxicam, diclofenaco e naproxeno; → Ação maior em COX-2; → Farmacocinética: Pico: 5-10h; Ligação proteica: 99%; Meia-vida: 15-20h; - Piroxicam: inibidor não seletivo da COX; → Altas concentrações: inibe também a produção de radicais de oxigênio e a função dos linfócitos. - Piroxicam (Feldene) - Meloxicam Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 → Farmacocinética: Pico: 3-5h; Ligação proteica: 99%; 7. DIPIRONA – Derivados Pirazolônicos não narcóticos (Dipirona, Fenilbutazona e Apazona) - Inibidor não expecífico da COX-1 e COX-2 (fraco); - Analgésico e antipirético mais utilizado no Brasil; - Efeitos adversos sobre granulopoese: agranulocitose; - COX-3, principalmenteno córtex cerebral, pode ser inibida seletivamente; - Pode representar o mecanismo primário da ação analgésica; - Dipirona e seu principal metabólito (4-N- Metilaminoantipirina) apresentam mecanismo de ação central e periférico combinados; - Efeitos colaterais: hipotensão e choque anafilático; 8. NIMESULIDA - Inibidor de prostaglandinas; - Boa tolerabilidade gástrica e renal; - Potência inibitória de COX-2 4-20x maior que COX-1; - Inibe infiltração de polimorfonucleados e formação de edema; - Poucos efeitos colaterais: uso pediátrico; - Não usar em crianças <1 ano; - Posologia pediátrica: 1 gota/kg; - Adulto: 1cp, 2-3x/dia; - Scaflam®; - Gagnopyrol - Novalgina - Anador - Baralgin Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 9. INIBIDORES ESPECÍFICOS DE COX-2 - “Coxibes”: etoricoxibe, celecoxibe; - Criados a fim de solucionar os efeitos adversos dos AINEs; - Mecanismo de ação: atuam na ciclogenase, inibindo especificamente COX-2, inibição menos significante de COX-1; - Receituário C1: branco, de controle especial em duas vias; - Celecoxibe (Celebra®) - Menor toxicidade do TGI; - Interações medicamentosas: → Fluconazol e fluvastatina (inibem CYP2C9); → Aumenta níveis de lítio e varfarina; AIEs (GLICOCORTICOIDES/CORTICOSTEROIDES) - Classificados de acordo com sua ação preponderante: - Mineralocorticoides: atuam no equilíbrio eletrolítico; - Glicocorticoides: regulação do metabolismo de carboidratos, efeito anti-inflamatório e imunossupressor; → Essenciais à manutenção da vida; → Reduzem manifestações inflamatórias iniciais e tardias, como cicatrização e reparação, além da resposta proliferativa desencadeada em quadros crônicos. GLICOCORTICOIDES Mecanismos de Ação: - Derivados do colesterol, atravessam livremente a MP: dentro da célula, ligam receptores de glicocorticoides e migram para o núcleo; - No DNA: complexo glicocorticoide:receptor afeta a expressão gênica; - Inibição da transcrição de proteínas inflamatórias: interleucinas, interferon e TNF-alfa; - Inibição da Fosfolipase A2: reduz produção de prostaglandinas e tromboxanos; - Inibição da produção de bradicinina; Ação Farmacológica: Anti-inflamatórios e imunossupressores; Classificados quanto ao tempo de duração: - Ação curta: → Hidrocortisona (Corizol ®); → Cortisona: primeiro fármaco, pouco utilizado; - Ação intermediária: → Prednisona (Meticorten®); Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 → Prednisolona (Prelone®); → Metilprednisolona (Depo-medrol®); → Triancinolona (Omcilon-A®) – usado em aftas: reduz a dor mas retarda cicatrização; - Ação prolongada: → Dexametasona (Decadron®); → Betametasona (Diprospan®/Celestone®); Farmacocinética - Boa absorção VO (acetato); - Via parenteral (siccinato, hemissuccinato ou fosfato); - Via intramuscular ou intra-articular (acetato – absorção lenta); - Biodisponibilidade: 80-90% alfa-globulina e albumina, corticosteroid-binding-globulin; - Distribuição: livremente no espaço intra e extracelular (lipofílicos); Efeitos Colaterais Efeitos Colaterais – Uso a longo prazo - Retardo do crescimento (crianças); - Osteosporose (balanço de cálcio negativo); - Aumento do apetite; - HAS; - Glaucoma; - Aumento do risco de infecções: reduz cicatrização; - Distúrbios emocionais: euforia, depressão; - Distribuição centrípeta da gordura corporal; - Aumento do risco de DM; - Hipopotassemia; - Edema periférico; Farmacologia Mariana Scheffer Sucolotti ATM 23 Principais Indicações: - Transplante de órgãos; - Reações alérgicas; - Anemia hemolítica; - Lúpus eritematoso; - Edema cerebral; - DPOC; - Síndrome da angústia respiratória do lactente: a maturação dos pulmões do feto é regulada pela secreção fetal de cortisol. O tratamento da mãe com grandes doses de glicocorticoides reduz a incidência da síndrome do desconforto respiratório em prematuros; → Parto antecipado antes de 34 semanas: Betametasona via IM, 12mg, + 12mg em 18-24h; → Betametasona – menor ligação a proteínas e atravessa melhor a barreira placentária;
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