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COISAS DO DIREITO @coisasdodireitobsb @gustavo_fernandes_sales DIREITO ADMINISTRATIVO: Serviços Públicos Aula-resumo para concursos públicos 1 1. Serviços públicos 1.1. Conceito O conceito de serviço público sofreu transformações consideráveis ao longo do tempo, o que revela uma certa dificuldade inicial da doutrina em atribuir à expressão definição precisa. Antes, os cursos e manuais de Direito Administrativo costumam discorrer sobre essa evolução. As primeiras noções de serviço público surgiram na França, com a Escola de Serviço Público, em especial sob a argúcia de Leon Duguit, e costumavam abarcar todas as atividades executadas pelo Estado (DI PIETRO, 2019, p. 129). Com isso, definia-se o próprio Direito Administrativo e delimitava-se a competência da jurisdição administrativa em face das competências da Justiça comum. Posteriormente, abandonaram-se as noções amplas. Os estudiosos passaram a perceber que o serviço público era apenas uma dentre as atividades executadas pelo Estado, ou melhor, pela Administração Pública, com exclusão das funções legislativa e jurisdicional (DI PIETRO, 2019, p. 132). Atualmente, para definir serviço público, a doutrina costuma combinar três elementos (DI PIETRO, 2019, p. 133): 1. Material: atividade que tem por objetivo a satisfação de necessidades coletivas. 2. Subjetivo (orgânico): presença do Estado, embora os particulares possam fazê-lo por delegação.1 3. Formal: exercício sob o regime jurídico de direito público. Esses três elementos, inicialmente, não eram delineados dessa forma. No que tange ao critério subjetivo ou orgânico, falava-se apenas em Estado, embora se percebesse que paulatinamente a execução das atividades passavam a ser delegadas a particulares; no aspecto formal, o regime que era exclusivamente público passou a receber o influxo de normas privadas. Diante dessas constatações, falou-se até em “crise na noção de serviço público” (DI PIETRO, 2019, p. 134). Nada obstante, e apesar do reconhecimento de que o conceito adequado depende da legislação positiva de cada país, Di Pietro parte desses três elementos para conceituar serviço público como “toda atividade material que a lei atribui ao Estado para a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcialmente público” (2019, p. 136).2 Quanto ao elemento subjetivo, tem-se que a criação de um serviço público depende de lei, e a sua prestação pode ser feita pelo Estado diretamente, por meio de seus órgãos, ou indiretamente, por intermédio de concessão ou permissão. Essa delegação não descaracteriza o serviço como público, porquanto o Estado sempre continuará a regulamentá-lo, alterá-lo e controlá-lo (CARVALHO FILHO, 2019, p. 340). Sob o aspecto formal, a lei definirá o regime jurídico do serviço público, geralmente de direito público (agentes estatutários, bens públicos, responsabilidade objetiva, contratos administrativos), e, por vezes, de direito comum, derrogado por normas publicistas. Incluir-se-iam nesse segundo caso os serviços comerciais e industriais prestados pelo Estado (DI PIETRO, 2019, p. 137). 1 CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. 2 José dos Santos Carvalho Filho, por sua vez, define serviço público como “toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegatários, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade” (2019, p. 339). 2 O elemento material diz respeito à correspondência do serviço público a uma atividade administrativa, de interesse público, podendo ser mantido até mesmo se estiver dando prejuízo. Por fim, anote-se que, recentemente, a Lei 13.460/17 definiu serviço público como “atividade administrativa ou de prestação direta ou indireta de bens ou serviços à população, exercida por órgão ou entidade da administração pública” (art. 2o, II). 1.2. Fundamento constitucional No art. 175, a CF estabelece que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”. Esse artigo foi regulamentado por diversas leis, sendo a principal delas a Lei n. 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos. 1.3. Princípios A Lei 8.987/95 estabelece em seu art. 6º, § 1o, que “serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”. Vejamos o conceito de alguns desses princípios: Eficiência: deve o Estado prestar seus serviços com a maior eficiência possível, de forma que “a execução seja mais proveitosa com menor dispêndio” (CARVALHO FILHO, 2019, p. 353); Atualidade: “compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço” (art. 6º, § 2o). Alguns autores falam em adaptabilidade (CARVALHO, 2019, p. 649); Generalidade: “os serviços públicos devem ser prestados com a maior amplitude possível, vale dizer, deve beneficiar o maior número possível de indivíduos” (CARVALHO FILHO, 2019, p. 349). Alguns falam em universalidade (CARVALHO, 2019, p. 649). Carvalho Filho cita que uma das facetas deste princípio é a igualdade dos usuários, a exigir “serem eles [os serviços] prestados sem discriminação entre os beneficiários, quando tenham estes as mesmas condições técnicas e jurídicas para a fruição” (2019, p. 349); Cortesia: bom trato com os usuários do serviço; Modicidade das tarifas: “os serviços devem ser remunerados a preços módicos, devendo o Poder Público avaliar o poder aquisitivo do usuário para que, por dificuldades financeiras, não seja ele alijado do universo de beneficiários do serviço” (CARVALHO FILHO, 2019, p. 354); Continuidade: os serviços públicos não devem sofrer interrupção. Alguns autores dalam em permanência (CARVALHO, 2019, p. 650). Em relação à política tarifária nas concessões de serviço público, o art. 9º da Lei 8.987/95 dispõe que a tarifa do serviço público concedido será fixada pelo preço da proposta vencedora da licitação e preservada pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no contrato. Recentemente, a Lei 13.673/2018 incluiu o § 5º no art. 9º, prescrevendo que “a concessionária deverá divulgar em seu sítio eletrônico, de forma clara e de fácil compreensão pelos usuários, tabela com o valor das tarifas praticadas e a evolução das revisões ou reajustes realizados nos últimos cinco anos.” 3 E o art. 11 possibilita ao poder concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17.3 A respeito da possibilidade de suspensão do serviço público, dispõe o art. 6º, § 3o, Lei 8.987/95 que “não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade”. A hipótese de interrupção por motivos de ordem técnica não enseja discussão doutrinária. Contudo, a segunda situação (inadimplemento do usuário) é causa de controvérsias. A despeito de algumas divergências, Carvalho Filho advoga a tese de que, se o serviço é facultativo, o Poder Público pode suspender-lhe a prestação no caso de não pagamento, aexemplo do que ocorre com os serviços prestados por concessionários (essa é, aliás, a hipótese abarcada pela Lei 8.987/95, ora estudada, que dispõe sobre a prestação de serviços públicos por concessionárias e permissionárias). Por outro lado, se o serviço é compulsório, não será permitida a suspensão, uma vez que a Fazenda Pública é dotada de mecanismos privilegiados para cobrança da dívida (2019, p. 349-350). De qualquer forma, é certo que a suspensão do serviço só é admissível no caso de débitos atuais. Com relação a débitos de consumo regular de energia elétrica, em que ocorre simples mora do consumidor, a jurisprudência do STJ está sedimentada no sentido de que é lícito o corte administrativo do serviço, se houver aviso prévio da suspensão (AgRg no Ag 1.320.867/RJ, DJe 19.6.2017). Em se tratando de débitos pretéritos, isoladamente considerados, deve o concessionário valer- se dos meios ordinários de cobrança (AgRg no AREsp 569.843/PE, DJe 11.11.2015). Também o novo usuário não pode sofrer a suspensão do serviço por débito do usuário antecedente, pois não se trata de obrigação propter rem, mas de caráter pessoal, remunerada por tarifa (REsp 1.311.418/SP, DJe 15/5/2012). Em outra decisão, o STJ decidiu que a suspensão do serviço poderá atingir certos locais ou órgãos, como ginásio de esportes, piscina municipal, biblioteca, oficinas e depósito, mas não poderá alcançar serviços essenciais, como escolas, hospitais, usinas, repartições públicas (REsp 742.640/MG; REsp 460.271-SP; REsp 302.620/SP). 3 Art. 17. Considerar-se-á desclassificada a proposta que, para sua viabilização, necessite de vantagens ou subsídios que não estejam previamente autorizados em lei e à disposição de todos os concorrentes. 4 COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: FGV - 2018 - TJ-SC - Analista Jurídico. O Estado de Santa Catarina está em situação reiterada e atual de inadimplemento com a concessionária prestadora do serviço público de fornecimento de energia elétrica, no que tange ao pagamento das faturas mensais relativas a contas de luz de diversos prédios públicos. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o corte no fornecimento desse serviço essencial é legítimo, desde que seja precedido de notificação e que a interrupção não atinja unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população. Gabarito: certo. Relativamente aos casos de fraude do medidor pelo consumidor, a jurisprudência do STJ veda o corte quando o ilícito for aferido unilateralmente pela concessionária. A contrario sensu, é possível a suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do medidor cometida pelo consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa (REsp 1.310.260/RS, DJe 28.9.2017). Mais recentemente, o STJ fixou a seguinte tese sob o rito dos recursos repetitivos: “Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação” (REsp 1.412.433/RS, DJe 28.9.18). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil. De acordo com o entendimento do STJ, atendida a necessária prévia notificação, o inadimplemento do usuário permite que se efetue corte no fornecimento de serviço público essencial, ainda que tal inadimplência se refira a dívida: A) contraída por usuário pessoa jurídica de direito público que não preste serviços indispensáveis à população. B) contraída por usuário pessoa física que dependa da manutenção do serviço, de forma contínua, para sua sobrevivência. C) de valor irrisório. D) não relativa ao mês de consumo. E) decorrente de suposta irregularidade no hidrômetro ou medidor de energia elétrica apurada unilateralmente pela concessionária. Gabarito: letra “A”. 5 A greve no serviço público também é tema associado ao princípio da continuidade. A Constituição Federal veda expressamente ao militar a sindicalização e a greve (art. 142, § 3º, IV). Noutro giro, o STF declarou que “o exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública” (ARE 654.432/GO, - Info 860). Isso porque, diversamente do que ocorre com a educação e a saúde — que são essenciais para o Estado, mas têm paralelo na iniciativa privada —, não há possibilidade de exercício de segurança pública por órgão da iniciativa privada, para suprir essa atividade em caso de greve, seja da Polícia Militar, seja da Polícia Civil ou da Polícia Federal. Já o servidor público civil que não atua na área de segurança pública tem o direito fundamental à greve (CF, art. 37, VII), concretizado por meio de analogia à Lei 7.783/89, por força de decisões do STF em mandados de injunção (MI’s 670, 708 e 712). A Lei 7.783/89 traz um rol de serviços ou atividades essenciais, aqueles nos quais se deve garantir, durante a greve, “a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade” (art. 11). São eles (art. 10): I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI - compensação bancária. Ainda sobre o direito de greve, o STF decidiu que “a Administração Pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre. É permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público” (RE 693.456/RJ - Info 845). A greve, portanto, acaba mitigando, sob certo aspecto, o princípio da continuidade da prestação do serviço público, mas sempre dentro dos limites definidos na legislação para que não haja paralisação total da atividade pública. Por outro lado, não como flexibilização do princípio em estudo, mas como forma de fortalecê-lo, a Lei 8.666/93 prevê, nos casos de serviços essenciais, a ocupação provisória de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo (art. 58, V). Já a Lei 8.987/95 trata da reversão de bens no advento do termo contratual, a qual será feita com a indenização das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido (art. 36). Além dos princípios mencionados no art. 6º, § 1o, da Lei 8.987/95, a doutrina costuma referir-se aos princípios da igualdade dos usuários e da mutabilidade do regime jurídico, os quais, ao ladodo princípio da continuidade do serviço público, seriam “inerentes” ao regime jurídico dos serviços públicos (DI PIETRO, 2019, p. 140). O princípio da mutabilidade do regime jurídico autoriza que sejam feitas as alterações necessárias no regime de execução do serviço, permitindo a adaptação necessária ao interesse público, que pode variar ao longo do tempo e em razão de circunstâncias indeterminadas. Por isso, não se admite o direito adquirido à manutenção de um regime jurídico. Exemplos práticos disso são a possibilidade de rescisão e alteração unilaterais dos contratos administrativos e a permissão para que o legislador 6 modifique o estatuto dos servidores públicos, com aplicação inclusive para os que já estão ocupando cargos e empregos públicos. Já a igualdade dos usuários impede tratamento discriminatório em relação às pessoas que usufruem dos serviços públicos sem justificativa razoável. Exemplo harmônico com as regras e princípios constitucionais é encontrado no art. 13 da Lei 8.987/95, segundo o qual as tarifas poderão ser diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários. Assim, eventual isenção de tarifa para idosos ou tarifas reduzidas para usuários com menor poder aquisitivo se mostrariam lícitas (DI PIETRO, 2019, p. 142). 1.4. Classificação dos serviços públicos 1. Segundo Di Pietro (2019, p. 142), os serviços públicos podem ser: a) Próprios: aqueles que o Estado executa diretamente ou indiretamente, por meio de concessionários e permissionários; b) Impróprios: também atendem a necessidades coletivas, mas não são executados nem mesmo indiretamente pelo Estado, e sim por particulares, mediante simples autorização, regulamentação e fiscalização do Estado. Esses “serviços públicos impróprios” não seriam autênticos serviços públicos, ao menos no sentido jurídico; seriam atividades particulares que só tem em comum com o serviço público o fato de atender ao interesse geral (DI PIETRO, 2019, p. 143). A autora cita que Hely Lopes Meirelles dá sentido diverso a serviço público próprio e impróprio. Sob esta segunda visão, os serviços próprios seriam aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do Poder Público (segurança, polícia, saúde pública) e que só podem ser prestados pelo Estado diretamente. Os impróprios seriam os que satisfazem a interesses comuns de seus membros, cabendo delegação de sua prestação a concessionários, permissionários ou autorizatários (2019, p. 143). A classificação de Hely Lopes Meirelles é, também, compartilhada por José dos Santos Carvalho Filho, com outra nomenclatura. Veja que o autor reputa como serviços delegáveis os que, por sua natureza ou por imposição legal, podem ser executados tanto pelo Estado quanto por particulares, como os de transporte coletivo, energia elétrica e telefonia; e como serviços indelegáveis os que só podem ser prestados pelos órgãos e agentes estatais, como os de defesa nacional, segurança interna, fiscalização de atividades e serviços assistenciais (2019, p. 341). 2. Quanto ao objeto, os serviços públicos podem ser administrativos, executados pela Administração para o atendimento de suas necessidades internas ou como forma de preparar outros serviços que serão prestados ao público, como os da imprensa oficial; comerciais ou industriais, que buscam atender às necessidades coletivas de ordem econômica, como os de transportes, telecomunicações e energia elétrica; e sociais, que objetivam atender aos direitos fundamentais sociais e geralmente convivem com a iniciativa privada, como ocorre com os serviços de educação, saúde, cultura e previdência (DI PIETRO, 2019, p. 143-4). 7 COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os serviços públicos sociais admitem a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária delegação pelo poder público sob regime de concessão ou permissão. Gabarito: certo. José dos Santos Carvalho Filho adota classificação parecida, porém bipartida. Para ele, os serviços públicos podem ser administrativos, aqueles executados para compor melhor a organização administrativa, como o que implanta centro de pesquisa ou edita a imprensa oficial, ou de utilidade pública, que são proporcionados para fruição geral pelos indivíduos, como ensino, energia elétrica etc. (2019, p. 342). 3. Os serviços públicos também podem ser classificados de acordo com a maneira como concorrem para a satisfação do interesse geral. Sob este critério, seriam divididos em (DI PIETRO, 2019, p. 144): a) Serviços singulares (uti singuli): têm por finalidade a satisfação individual e direta das necessidades dos cidadãos (energia, luz, gás, transportes, ensino, saúde etc.). São serviços de fruição individual, sendo possível mensurar o quanto cada usuário dele usufruiu, e são remunerados por taxa ou preço público (do qual a tarifa é uma das modalidades). Os serviços que são prestados pelo Estado quando investido de seu ius imperii e que, por isso, não podem ser transferidos ao particular são remunerados por taxa (ex.: taxa judiciária e taxa de incêndio) (CARVALHO FILHO, 2019, p. 350-1). Esses serviços remunerados por taxa são obrigatórios, como a prevenção de incêndio e a coleta de lixo (CARVALHO FILHO, 2019, p. 355); ainda que o usuário não utilize o serviço, a sua remuneração é obrigatória, desde que o serviço esteja posto à sua disposição. Como visto, os serviços de coleta, remoção e tratamento de lixo são considerados uti singuli pelo STF, nos termos da súmula vinculante 19: “A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal”; Já os serviços que possibilitam a obtenção de lucros e podem ser delegados a particulares ou prestados pelo próprio Estado despido de sua potestade são remunerados por preço público (tarifas de transportes, energia elétrica, uso de linhas telefônicas e de consumo de água) (CARVALHO FILHO, 2019, p. 350-1). Esses serviços são facultativos e a remuneração só é devida se houver a utilização efetiva do serviço (CARVALHO FILHO, 2019, p. 357). Houve muitas controvérsias quanto à figura do pedágio, se teria natureza jurídica de taxa ou de preço público. O STF pacificou a questão na ADI 800, julgada em 11.06.2014, da seguinte forma: “O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita.” Os fundamentos da decisão foram os seguintes: a) não há compulsoridade/obrigatoriedade no uso das rodovias. Nesse sentido, a decisão se adequa ao disposto na Súmula 545-STF: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm 8 sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”; b) a cobrança tem por base a efetiva utilização do serviço, não se mostrando viável se a base for a oferta potencial do serviço, como ocorre com as taxas; e c) a referência ao pedágio no art. 150, V, da CF, que trata das limitações ao poder de tributar, não teria o efeito de atribuir natureza jurídica tributária a essa cobrança, mas apenas de vedar a instituição de tributos para limitação ao tráfego de pessoas e bens, demonstrando tratar-se a ressalva de outra espécie jurídica. Importa anotar, ainda, que os tribunais superiores têm admitido a cobrança de tarifa mínima, tanto no serviço de abastecimento de águaquanto no de telefonia. Nesse sentido, a Súmula 356-STJ: “É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa.” Ademais, conforme dispõe a Súmula 407-STJ, “é legítima a cobrança da tarifa de água fixada de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo”. COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto. O fornecimento de água não poderá gerar cobrança vinculada de tarifa mínima, sendo imperiosa a correspondência com o efetivo consumo. Gabarito: errado. Nas mesma prova, foi considerada certa a seguinte assertiva: “O fornecimento de água poderá gerar cobrança distinta de acordo com as categorias de usuários e faixas de consumo.” Por fim, por não se tratar de tributo e por não se falar em defeito na prestação do serviço, não incidem as regras do Código Tributário Nacional nem do Código de Defesa do Consumidor no que toca à prescrição da pretensão à repetição de indébito de tarifas. Aplica-se o prazo de 10 anos do Código Civil. Nesse sentido, a Súmula 412-STJ: “A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.” b) Serviços coletivos (uti universi): são prestados à comunidade, mas usufruídos apenas indiretamente pelos indivíduos, vale dizer, são destinados a grupamentos indeterminados de indivíduos. São exemplos os serviços diplomáticos, de defesa do país, de iluminação pública, de saneamento e de pavimentação de ruas. São serviços de fruição geral e não podem ser remunerados pela cobrança de taxa, mas somente por impostos. Exatamente por isso, a súmula vinculante 41 dispõe que “o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa”, por não ser usufruído uti singuli e não se enquadrar no disposto no art. 145, II, da CF. COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RS - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Remoção. Os serviços públicos uti universi são serviços prestados a usuários determinados, sendo possível mensurar a sua utilização por cada um deles. Gabarito: errado. 9 4. Uma quarta classificação especifica os serviços públicos em originários (congênitos), aqueles que correspondem a uma atividade essencial do Estado, sendo-lhes próprios e privativos, e derivados (adquiridos), que dizem respeito a uma atividade facultativa do Estado, por serem passíveis de execução particular (DI PIETRO, 2019, p. 145). 5. Fala-se, ainda, quanto à competência, em serviços privativos, que são atribuídos a apenas uma das esferas da Federação, como a emissão de moeda, o serviço postal e a polícia marítima e aérea, privativos da União (CF, art. 21, VII, X e XXII), a distribuição de gás canalizado, privativo dos Estados (CF, art. 25, § 2º), e a arrecadação de tributos municipais e o transporte coletivo intramunicipal, privativos dos Municípios (CF, art. 30, III e V); e em serviços comuns, que podem ser prestados por pessoas de mais de uma esfera federativa, como a saúde pública (CF, art. 23, II) e a promoção de programas de construção de moradias (CF, art. 23, IX) (CARVALHO FILHO, 2019, p. 344-5). 6. Há, por fim, a seguinte classificação (DI PIETRO, 2019, p. 145): a) Serviços públicos exclusivos: só podem ser executados pelo Estado, como o serviço postal e o correio aéreo nacional (CF, art. 21, X), o serviço de gás canalizado (CF, art. 25, § 2º), os serviços de telecomunicações (CF, art. 21, XI) e os serviços de transportes, energia elétrica, radiodifusão e outros (CF, art. 21, XII); b) Serviços públicos não exclusivos: podem ser executados pelo Estado ou por particular, mediante autorização do Poder Público, como os de saúde, previdência social e assistência social. Di Pietro entende que esses serviços não exclusivos, quando prestados pelo Estado, são próprios, mas, quando executados por particulares, são impróprios. É importante ressaltar que classificações existem aos montes e eventualmente podem se chocar, a depender da concepção dada por cada autor. Nesse contexto é que serviços que Di Pietro considera exclusivos (como transportes e energia elétrica) são, sob outro aspecto, considerados delegáveis por José dos Santos Carvalho Filho (2019, p. 341). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo - Constituição e Justiça. Ao abordar o conceito de serviço público, diferentes classificações ou categorizações são apresentadas pela doutrina, a depender do prisma de análise, entre as quais se insere a divisão entre serviços públicos exclusivos e não exclusivos do Estado, sendo que os não exclusivos são aqueles que podem ser executados pelos particulares mediante autorização do poder público, como, por exemplo, os concernentes à saúde e educação. Gabarito: certo. 1.5. Formas de prestação dos serviços públicos Nos termos do art. 175 da CF, o Estado pode prestar o serviço público diretamente ou por meio de concessão ou permissão, sempre através de licitação. Já o art. 21, em seus incisos XI e XII, faz referência a serviços que podem ser explorados diretamente ou por meio de autorização, concessão ou permissão, como os de telecomunicações; de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; de energia elétrica e de aproveitamento energético dos cursos de água; de navegação aérea, aeroespacial; de transporte ferroviário e aquaviário entre portos 10 brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; e de portos marítimos, fluviais e lacustres. O tema é repleto de divergências doutrinárias. Uma parcela da doutrina afirma que a titularidade dos serviços sempre pertencerá ao Estado; o que ele pode transferir é a execução dos serviços, por conveniência, sem abdicar do controle sobre eles (por todos: CARVALHO FILHO, 2019, p. 362). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: VUNESP - 2019 - TJ-RS - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Remoção. O serviço público é de titularidade do Estado, podendo a sua prestação ser transferida à iniciativa privada e realizada em regime de competição. Gabarito: certo. Outros entendem que é possível, sim, a transferência da titularidade e da execução dos serviços públicos a terceiros (por todos: DI PIETRO, 2019, p. 521). Em verdade, essa doutrina afirma que os serviços públicos podem ser objeto de: a) outorga (ou, nas palavras de Di Pietro, descentralização por serviços, funcional ou técnica): quando o Poder Público cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui tanto a execução, quanto a titularidade de determinado serviço público (autarquias e empresas estatais); ou b) delegação (ou, para Di Pietro, descentralização por colaboração): quando, por meio de contrato ou ato administrativo unilateral (e não por lei), ocorre a transferência tão somente da execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, de forma que o Poder Público conserva a titularidade do serviço (casos de concessão, permissão ou autorização do serviço público). É, também, possível a gestão associada de serviços públicos por consórcios públicos e a realização de parcerias com o terceiro setor, o que será objeto de estudo de capítulos próprios. COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: CESPE - 2018 - SEFAZ-RS - Técnico Tributário da Receita Estadual - Prova 2. A prestação de serviço público por meio de parceria da administração pública com entidades do terceiro setor é permitida. Gabarito: certo. Abstraída a controvérsia, o que nos interessa no presente momento é diferenciar a execução direta da execução indireta do serviço público, não sem uma nova divergência. Para Di Pietro, quando a Constituição fala em execução direta, estáabrangendo a execução pela Administração Pública direta (órgãos sem personalidade jurídica) e pela Administração Pública indireta (entidades com personalidade jurídica própria, como as autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas) (2019, p. 146). A execução indireta, portanto, ocorreria por meio da descentralização por colaboração (concessão e permissão do serviço público). 11 Por outro lado, José dos Santos Carvalho Filho leciona que a execução direta faz referência somente às situações em que a pessoa federativa (União, Estados, DF e Municípios), através de seus órgãos, prestam o serviço público (Administração Direta). Por outro lado, haverá execução indireta quando os serviços são prestados por entidades diversas das pessoas federativas, seja por meio de delegação legal (para autarquias, fundações públicas e empresas estatais), seja por meio de delegação negocial (para particulares em colaboração com o Estado, por concessão ou permissão de serviço público) (2019, p. 362-6). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Na Prova: CESPE - 2019 - CGE - CE - Conhecimentos Básicos, a banca pediu ao candidato que assinalasse a opção que apresentava exemplo de prestação direta de serviço público. A alternativa tida como correta apontava a coleta seletiva de lixo. Entre as erradas, situava-se o serviço postal. Disso se infere que a banca adotou a posição defendida por José dos Santos Carvalho Filho, no sentido de que serviço prestado por empresas públicas, como a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, é de execução indireta. 1.6. Terceirização no serviço público federal A terceirização é tradicionalmente entendida como a contratação, por uma sociedade empresária (Direito do Trabalho) ou pela Administração Pública (Direito Administrativo), do trabalho de terceiros para a execução de atividade-meio, podendo assumir forma de empreitada, fornecimento, locação de serviços. Cuida-se da execução da execução indireta previsto no art. 6º, VIII, e no art. 10 da Lei 8.666/93 (DI PIETRO, 2019, p. 388). Relembremos que, no âmbito das relações de trabalho, a Lei 13.429/17 passou a permitir a terceirização da atividade-fim. Na órbita do setor público, o marco legislativo referente à contratação terceirizada de serviços ocorreu por meio do art. 10, § 7º, do Decreto-Lei 200/67, que autorizava a transferência de atividades meramente executivas para a iniciativa privada. A omissão acerca do que seriam as tarefas meramente executivas foi suprida com a promulgação da Lei 5.645/70, que enquadrou apenas as atividades de transporte, conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza, entre outras de mesma natureza como objeto possível de contratação indireta (art. 3º, parágrafo único). Disso resultou a ideia de que teria havido autorização para a Administração Pública terceirizar apenas atividades- meio, e não suas atividades finalísticas. Posteriormente, revogado o dispositivo mencionado da Lei 5.645/70, a Administração Pública editou o Decreto 2.271/97, que definiu as atividades de execução que poderiam ser objeto de contratação indireta e vedou a possibilidade de intermediação de mão de obra no seio da Administração Pública. Dispunha o referido ato normativo que, no âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto de execução indireta as atividades materiais acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de competência legal do órgão ou entidade (art. 1º, caput). Pelo § 1º do art. 1º, as atividades de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática, copeiragem, recepção, reprografia, telecomunicações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações seriam, de preferência, objeto de execução indireta. Contudo, não poderiam 12 ser objeto de execução indireta as atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário ou quando se tratasse de cargo extinto, total ou parcialmente, no âmbito do quadro geral de pessoal (art. 1º, § 2º). Em 2018, foi editado o Decreto 9.507/18, com entrada em vigor no dia 22 de janeiro de 2019. O texto revogou o Decreto 2.271/97 e foi editado semanas após o Supremo Tribunal Federal julgar constitucional a terceirização em todas as atividades. Rememore-se que, no RE 958.252, j. em 30.8.18, o STF superou o entendimento da Súmula 331 do TST no ponto em que proibia a terceirização de atividades-fim. Destacou a Corte: “(...) A terceirização apresenta os seguintes benefícios: (i) aprimoramento de tarefas pelo aprendizado especializado; (ii) economias de escala e de escopo; (iii) redução da complexidade organizacional; (iv) redução de problemas de cálculo e atribuição, facilitando a provisão de incentivos mais fortes a empregados; (v) precificação mais precisa de custos e maior transparência; (vi) estímulo à competição de fornecedores externos; (vii) maior facilidade de adaptação a necessidades de modificações estruturais; (viii) eliminação de problemas de possíveis excessos de produção; (ix) maior eficiência pelo fim de subsídios cruzados entre departamentos com desempenhos diferentes; (x) redução dos custos iniciais de entrada no mercado, facilitando o surgimento de novos concorrentes; (xi) superação de eventuais limitações de acesso a tecnologias ou matérias-primas; (xii) menor alavancagem operacional, diminuindo a exposição da companhia a riscos e oscilações de balanço, pela redução de seus custos fixos; (xiii) maior flexibilidade para adaptação ao mercado; (xiv) não comprometimento de recursos que poderiam ser utilizados em setores estratégicos; (xv) diminuição da possibilidade de falhas de um setor se comunicarem a outros; e (xvi) melhor adaptação a diferentes requerimentos de administração, know-how e estrutura, para setores e atividades distintas. (...)” Em conclusão, asseverou que a prática da terceirização já era válida no direito brasileiro mesmo no período anterior à edição das Leis nº. 13.429/2017 e 13.467/2017, independentemente dos setores em que adotada ou da natureza das atividades contratadas com terceira pessoa, reputando-se inconstitucional a Súmula 331 do TST, por violação aos princípios da livre iniciativa (artigos 1º, IV, e 170 da CRFB) e da liberdade contratual (art. 5º, II, da CRFB). Fixou-se, por fim, a seguinte tese: “É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante”. Na mesma ocasião, ao julgar a ADPF 324, o STF fixou a seguinte tese: “1. É lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim, não se configurando relação de emprego entre a contratante e o empregado da contratada. 2. Na terceirização, compete à contratante: i) verificar a idoneidade e a capacidade econômica da terceirizada; e ii) responder subsidiariamente pelo descumprimento das normas trabalhistas, bem como por obrigações previdenciárias, na forma do art. 31 da Lei 8.212/1993”. Assim, impulsionado pelas definições do STF, o Governo Federal editou o Decreto 9.507/18, que regulamentou o § 7º do art. 10 do Decreto-Lei 200/1967. Referido decreto “dispõe sobre a execução indireta, mediante contratação, de serviços da administração pública federal direta, autárquica e fundacional e das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União” (art. 1º). Ponto fulcral para fins de concursos públicos está disposto no art. 3º, segundo o qual não serão objeto de execução indireta na administração pública federal direta, autárquica e fundacional, os serviços: I - que envolvam a tomada de decisão ou posicionamento institucional nas áreas de 13 planejamento, coordenação, supervisão e controle;II - que sejam considerados estratégicos para o órgão ou a entidade, cuja terceirização possa colocar em risco o controle de processos e de conhecimentos e tecnologias; III - que estejam relacionados ao poder de polícia, de regulação, de outorga de serviços públicos e de aplicação de sanção; e IV - que sejam inerentes às categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou da entidade, exceto disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo extinto, total ou parcialmente, no âmbito do quadro geral de pessoal. O § 1º do art. 3º dispõe que os serviços auxiliares, instrumentais ou acessórios de que tratam os incisos do caput poderão ser executados de forma indireta, vedada a transferência de responsabilidade para a realização de atos administrativos ou a tomada de decisão para o contratado, enquanto o § 2º estabelece que os serviços auxiliares, instrumentais ou acessórios de fiscalização e consentimento relacionados ao exercício do poder de polícia não serão objeto de execução indireta. Para as empresas públicas e sociedades de economia mista controladas pela União, as vedações são distintas. Nos termos do art. 4º, nessas empresas, não serão objeto de execução indireta os serviços que demandem a utilização, pela contratada, de profissionais com atribuições inerentes às dos cargos integrantes de seus Planos de Cargos e Salários, exceto se contrariar os princípios administrativos da eficiência, da economicidade e da razoabilidade, tais como na ocorrência de, ao menos, uma das seguintes hipóteses: I - caráter temporário do serviço; II - incremento temporário do volume de serviços; III - atualização de tecnologia ou especialização de serviço, quando for mais atual e segura, que reduzem o custo ou for menos prejudicial ao meio ambiente; ou IV - impossibilidade de competir no mercado concorrencial em que se insere. Há, ainda, vedações de caráter geral. Consoante dispõe o art. 5º, é vedada a contratação, por órgão ou entidade de que trata o art. 1º, de pessoa jurídica na qual haja administrador ou sócio com poder de direção que tenham relação de parentesco com: I - detentor de cargo em comissão ou função de confiança que atue na área responsável pela demanda ou pela contratação; ou II - autoridade hierarquicamente superior no âmbito de cada órgão ou entidade. Ademais, dispõe o Decreto que, para a execução indireta de serviços, no âmbito dos órgãos e das entidades de que trata o art. 1º, as contratações deverão ser precedidas de planejamento e o objeto será definido de forma precisa no instrumento convocatório, no projeto básico ou no termo de referência e no contrato como exclusivamente de prestação de serviços (art. 6º). Anotem-se as vedações nos instrumentos convocatórios (art. 7º) e as cláusulas contratuais obrigatórias (art. 8º). São vedadas disposições que permitam: I - a indexação de preços por índices gerais, nas hipóteses de alocação de mão de obra; II - a caracterização do objeto como fornecimento de mão de obra; III - a previsão de reembolso de salários pela contratante; e IV - a pessoalidade e a subordinação direta dos empregados da contratada aos gestores da contratante. Por outro lado, os contratos conterão cláusulas que (art. 8º): I - exijam da contratada declaração de responsabilidade exclusiva sobre a quitação dos encargos trabalhistas e sociais decorrentes do contrato; II - exijam a indicação de preposto da contratada para representá-la na execução do contrato; III - estabeleçam que o pagamento mensal pela contratante ocorrerá após a comprovação do pagamento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS pela contratada relativas aos empregados que tenham participado da execução dos serviços contratados; IV - estabeleçam a possibilidade de rescisão do contrato por ato unilateral e escrito do contratante e a aplicação das penalidades cabíveis, na hipótese de não pagamento dos salários e das verbas trabalhistas, e pelo não recolhimento das contribuições sociais, previdenciárias e para com o FGTS; V - prevejam, com vistas à garantia do cumprimento das obrigações trabalhistas nas contratações de serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de obra: a) que os valores destinados ao pagamento de férias, décimo terceiro salário, ausências legais e verbas rescisórias dos empregados da 14 contratada que participarem da execução dos serviços contratados serão efetuados pela contratante à contratada somente na ocorrência do fato gerador; ou b) que os valores destinados ao pagamento das férias, décimo terceiro salário e verbas rescisórias dos empregados da contratada que participarem da execução dos serviços contratados serão depositados pela contratante em conta vinculada específica, aberta em nome da contratada, e com movimentação autorizada pela contratante; VI - exijam a prestação de garantia, inclusive para pagamento de obrigações de natureza trabalhista, previdenciária e para com o FGTS, em valor correspondente a cinco por cento do valor do contrato, limitada ao equivalente a dois meses do custo da folha de pagamento dos empregados da contratada que venham a participar da execução dos serviços contratados, com prazo de validade de até noventa dias, contado da data de encerramento do contrato; e VII - prevejam a verificação pela contratante, do cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e para com o FGTS, em relação aos empregados da contratada que participarem da execução dos serviços contratados, em especial, quanto: a) ao pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal remunerado e décimo terceiro salário; b) à concessão de férias remuneradas e ao pagamento do respectivo adicional; c) à concessão do auxílio- transporte, auxílio-alimentação e auxílio-saúde, quando for devido; d) aos depósitos do FGTS; e e) ao pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados dispensados até a data da extinção do contrato. Por fim, no que tange ao direito intertemporal, dispõe o art. 16 que “os contratos celebrados até a data de entrada em vigor deste Decreto, com fundamento no Decreto nº 2.271, de 7 de julho de 1997, ou os efetuados por empresas públicas, sociedades de economia mista controladas direta ou indiretamente pela União, poderão ser prorrogados, na forma do § 2º do art. 57 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e observada, no que couber, a Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, desde que devidamente ajustados ao disposto neste Decreto”. 1.7. Usuários Os usuários do serviço público fazem jus a uma série de direitos, nos termos do ordenamento jurídico-constitucional e das regras legais. Não é à toa que que o art. 175, II, da CF incumbe à lei a tarefa de dispor sobre “os direitos dos usuários”. Também o art. 37, § 3º, da CF, com redação dada pela EC 19/98, dispõe que a lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; III - a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. A Lei 13.460/17 tratou de dar concretude ao comando constitucional, estabelecendo normas básicas para participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela administração pública (art. 1º, caput), sem afastar a aplicação das normas regulamentadoras específicas e do Código de Defesa do Consumidor, quando caracterizada relação de consumo (art. 1º, § 2º). 15 COMO ESSE ASSUNTOFOI COBRADO EM CONCURSO Prova: VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto. A participação, proteção e defesa dos direitos dos usuários dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela Administração Pública é regida por legislação especial, afastando-se as disposições do Código de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/90). Gabarito: errado. O principal ponto da lei é o estabelecimento dos direitos básicos e dos deveres dos usuários. Inicialmente, no art. 5º, dispõe que o usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes: I - urbanidade, respeito, acessibilidade e cortesia no atendimento aos usuários; II - presunção de boa-fé do usuário; III - atendimento por ordem de chegada, ressalvados casos de urgência e aqueles em que houver possibilidade de agendamento, asseguradas as prioridades legais às pessoas com deficiência, aos idosos, às gestantes, às lactantes e às pessoas acompanhadas por crianças de colo; IV - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de exigências, obrigações, restrições e sanções não previstas na legislação; V - igualdade no tratamento aos usuários, vedado qualquer tipo de discriminação; VI - cumprimento de prazos e normas procedimentais; VII - definição, publicidade e observância de horários e normas compatíveis com o bom atendimento ao usuário; VIII - adoção de medidas visando a proteção à saúde e a segurança dos usuários; IX - autenticação de documentos pelo próprio agente público, à vista dos originais apresentados pelo usuário, vedada a exigência de reconhecimento de firma, salvo em caso de dúvida de autenticidade; X - manutenção de instalações salubres, seguras, sinalizadas, acessíveis e adequadas ao serviço e ao atendimento; XI - eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou social seja superior ao risco envolvido; XII - observância dos códigos de ética ou de conduta aplicáveis às várias categorias de agentes públicos; XIII - aplicação de soluções tecnológicas que visem a simplificar processos e procedimentos de atendimento ao usuário e a propiciar melhores condições para o compartilhamento das informações; XIV - utilização de linguagem simples e compreensível, evitando o uso de siglas, jargões e estrangeirismos; e XV - vedação da exigência de nova prova sobre fato já comprovado em documentação válida apresentada. Em seguida, dispõe especificamente sobre os direitos básicos do usuário, a saber (art. 6º): I - participação no acompanhamento da prestação e na avaliação dos serviços; II - obtenção e utilização dos serviços com liberdade de escolha entre os meios oferecidos e sem discriminação; III - acesso e obtenção de informações relativas à sua pessoa constantes de registros ou bancos de dados, observado o disposto no inciso X do caput do art. 5º da Constituição Federal e na Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011; IV - proteção de suas informações pessoais, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011; V - atuação integrada e sistêmica na expedição de atestados, certidões e documentos comprobatórios de regularidade; e VI - obtenção de informações precisas e de fácil acesso nos locais de prestação do serviço, assim como sua disponibilização na internet, especialmente sobre: a) horário de funcionamento das unidades administrativas; b) serviços prestados pelo órgão ou entidade, sua localização exata e a indicação do setor responsável pelo atendimento ao público; c) acesso ao agente público ou ao órgão encarregado de receber manifestações; d) situação da tramitação dos processos administrativos em que figure como interessado; e e) valor das taxas e tarifas cobradas pela prestação dos serviços, contendo informações para a compreensão exata da extensão do serviço prestado. O usuário também tem direito de acesso à Carta de Serviços ao Usuário, que deve ser obrigatoriamente divulgada pelos órgãos e entidades abrangidos pela Lei (art. 7º). Esse documento tem por objetivo informar o usuário sobre os serviços prestados pelo órgão ou entidade, as formas de acesso 16 a esses serviços e seus compromissos e padrões de qualidade de atendimento ao público (art. 7º, § 1º), e deverá trazer informações claras e precisas em relação a cada um dos serviços prestados, apresentando, no mínimo, informações relacionadas a (art. 7º, § 2º): I - serviços oferecidos; II - requisitos, documentos, formas e informações necessárias para acessar o serviço; III - principais etapas para processamento do serviço; IV - previsão do prazo máximo para a prestação do serviço; V - forma de prestação do serviço; e VI - locais e formas para o usuário apresentar eventual manifestação sobre a prestação do serviço. A Carta também deverá detalhar os compromissos e padrões de qualidade do atendimento relativos, no mínimo, aos seguintes aspectos (art. 7º, § 3º): I - prioridades de atendimento; II - previsão de tempo de espera para atendimento; III - mecanismos de comunicação com os usuários; IV - procedimentos para receber e responder as manifestações dos usuários; e V - mecanismos de consulta, por parte dos usuários, acerca do andamento do serviço solicitado e de eventual manifestação. Ademais, dispõe a lei que regulamento específico de cada Poder e esfera de Governo disporá sobre a operacionalização da Carta de Serviços ao Usuário (art. 7º, § 5º). Quanto aos deveres do usuário, o art. 8º enumera os seguintes: I - utilizar adequadamente os serviços, procedendo com urbanidade e boa-fé; II - prestar as informações pertinentes ao serviço prestado quando solicitadas; III - colaborar para a adequada prestação do serviço; e IV - preservar as condições dos bens públicos por meio dos quais lhe são prestados os serviços de que trata esta Lei. A Lei ainda determina a criação de ouvidorias (arts. 13 a 17) e assegura aos usuários a apresentação de manifestações a esses órgãos acerca da prestação de serviços públicos (art. 9º), contendo a identificação do requerente, vedadas, porém, quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da apresentação de manifestações perante a ouvidoria (art. 10, § 2º). Caso não haja ouvidoria, o usuário poderá apresentar manifestações diretamente ao órgão ou entidade responsável pela execução do serviço e ao órgão ou entidade a que se subordinem ou se vinculem (art. 10, § 3º). Ademais, em nenhuma hipótese, será recusado o recebimento de manifestações formuladas nos termos da Lei, sob pena de responsabilidade do agente público (art. 11). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: CESPE - 2018 - PGM - Manaus - AM - Procurador do Município. São exigências para apresentar manifestações à ouvidoria de órgãos públicos a utilização de meio eletrônico e a indicação dos motivos determinantes. Gabarito: errado. Ainda, a Lei institui a criação de conselhos de usuários, para permitir a participação desses no acompanhamento da prestação e na avaliação dos serviços públicos (art. 18). Esses órgãos consultivos serão dotados das seguintes atribuições: I - acompanhar a prestação dos serviços; II - participar na avaliação dos serviços; III - propor melhorias na prestação dos serviços; IV - contribuir na definição de diretrizes para o adequado atendimento ao usuário; e V - acompanhar e avaliar a atuação do ouvidor (art. 18, parágrafo único). Ademais, o conselho de usuários poderá ser consultado quanto à indicação do ouvidor (art. 20). A escolha dos representantes será feita em processo aberto ao público e diferenciado por tipo de usuário a ser representado (art. 19, parágrafo único) e a participação do usuário no conselho será considerada serviço relevante e sem remuneração (art. 21). Por fim, os órgãos e entidades públicos abrangidos pela Lei deverão avaliar os serviços prestados, nos seguintes aspectos: I - satisfação do usuário com o serviço prestado; II - qualidade do17 atendimento prestado ao usuário; III - cumprimento dos compromissos e prazos definidos para a prestação dos serviços; IV - quantidade de manifestações de usuários; e V - medidas adotadas pela administração pública para melhoria e aperfeiçoamento da prestação do serviço (art. 23). Essa avalição será realizada por pesquisa de satisfação feita, no mínimo, a cada um ano, ou por qualquer outro meio que garanta significância estatística aos resultados (art. 23, § 1º). O resultado da avaliação deverá ser integralmente publicado no sítio do órgão ou entidade, incluindo o ranking das entidades com maior incidência de reclamação dos usuários na periodicidade a que se refere o § 1º (no mínimo, a cada um ano), e servirá de subsídio para reorientar e ajustar os serviços prestados, em especial quanto ao cumprimento dos compromissos e dos padrões de qualidade de atendimento divulgados na Carta de Serviços ao Usuário (art. 23, § 2º). COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público. Cada Poder e cada esfera de governo devem estabelecer regulamento específico dispondo sobre a avaliação da efetividade e dos níveis de satisfação dos usuários dos serviços públicos por eles prestados, devendo a quantidade de manifestações dos usuários ser um dos parâmetros considerado nessa avaliação. Gabarito: certo. COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO Prova: VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto. A participação, proteção e defesa dos direitos dos usuários dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela Administração Pública compreende a realização de avaliação continuada dos serviços públicos, por meio de pesquisa de satisfação, em periodicidade mínima semestral, a fim de integralizar ranking das entidades com maior incidência de reclamação dos usuários. Gabarito: errado.
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