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Introdução à Ética: Origens e Conceitos

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Prévia do material em texto

Atualizado e revisado por:
MARCIO RODRIGUES
Professor autor/conteudista:
EMERSON DA ROCHA
É vedada, terminantemente, a cópia do material didático sob qualquer 
forma, o seu fornecimento para fotocópia ou gravação, para alunos 
ou terceiros, bem como o seu fornecimento para divulgação em 
locais públicos, telessalas ou qualquer outra forma de divulgação 
pública, sob pena de responsabilização civil e criminal.
 
SUMÁRIO
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1 . Origens do termo ética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2 . Os valores e a existência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3 . O pensamento platônico: a supremacia da razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4 . A ética na obra Ética a Nicômaco, de Aristóteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5 . A ética helenística: epicuristas e estoicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6 . A ética moderna e o pragmatismo de Maquiavel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
7 . O pensamento de Nietzsche . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
7.1 Sócrates e Platão: os primeiros niilistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74
8 . A liberdade em Sartre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
9 . Os valores no século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
 
Pág. 4 de 94
INTRODUÇÃO
Caro aluno,
Este nosso trabalho pretende introduzi-lo no estudo da ética. Muitas vezes, em nosso dia a dia, 
deparamo-nos com situações diversas nas quais somos impulsionados a tomar decisões. Também 
assistimos notícias diversas que nos fazem tomar uma posição (crítica ou não) a respeito de 
determinados assuntos. Falando desta maneira, parece que nosso estudo se pautará em problemas 
metafísicos, o que não é verdade. Uma rápida observação da realidade nos permite estabelecer 
uma relação entre a ética e as ações presentes em nosso cotidiano. Em outras palavras, a ética 
está intimamente relacionada às nossas ações.
No entanto, devemos procurar as origens dessa palavra para verificar uma confusão que 
comumente se apresenta no campo da ética e no campo da moral. Afinal, ética e moral são a mesma 
coisa? Como veremos em nosso estudo, os dois termos possuem referências próprias, mas que o 
seu entendimento caminha junto, isto é, são quase sinônimas.
Na literatura disponível a respeito deste assunto é possível perceber variadas interpretações a 
respeito de ética e moral. Umas falam em senso ético e senso moral, outras mais particularmente 
em moral e ética somente. Desta forma, o que nos interessa neste estudo é evidenciar como a 
noção deste conceito foi se alterando no curso da história da humanidade.
Veremos, na história da filosofia, que o problema filosófico da ética foi concebido por vários 
pensadores, desde os gregos clássicos antigos até os contemporâneos mais recentes. Aristóteles, 
por exemplo, introduziu a concepção eudaimônica, associando-a às ações humanas, cujo objetivo 
final era a felicidade. Os medievais reinterpretaram as concepções antigas e as transformaram 
em um caminho até Deus, portanto, o fim último das ações humanas deveria ser sempre Deus. Os 
modernos, tentando dar uma visão mais universal do assunto, postularam a racionalidade como 
forma suprema de se encarar as ações cotidianas. Na contemporaneidade, por sua vez, a ética 
parece pulverizar-se num contexto conturbado de individualização e hedonismo.
Dessa forma, o homem contemporâneo necessita de um norte, isto é, de uma direção segura 
para motivar suas ações e, desta maneira, conseguir “sobreviver” comunitariamente num mundo 
que o empurra para o individualismo. Mas como fazer? Que caminhos seguir? O que é certo e o que 
é errado no mundo atual? Enfim, estas e muitas outras dúvidas serão levantadas durante nosso 
 
Pág. 5 de 94
estudo. Esperamos que estas linhas gerais possam indicar quais horizontes são menos prejudiciais 
ao homem e seu futuro.
Assim, nosso caminho será pautado a partir das principais formulações constantes na tradição 
filosófica e na bibliografia existente sobre o tema, tais como: objeto da ética, essência, obrigatoriedade 
e responsabilidade moral, determinismo e liberdade, entre outras, até mesmo as doutrinas éticas 
fundamentais.
Não queremos elaborar um tratado sobre ética e moral, mas apenas levantar questões que 
contribuam para o avanço e ampliação da discussão a respeito do tema. Portanto, caro aluno, não 
espere encontrar respostas prontas ou um manual de ética com indicações fáceis e práticas. Você 
verá que todo este conteúdo encontra-se na vivência diária do homem desde que se propôs a viver 
em comunidade.
Boa leitura e bom estudo!
1. ORIGENS DO TERMO ÉTICA
Figura 1 – Nuvem de termos
Fonte: https://4.bp.blogspot.com/-zAwbuA0v8oM/WQPHCkoIJXI/AAAAAAAABnw/7i77f9Q5
oc819l5TsRc36KiwmTC2WC_EgCLcB/s1600/diferencas-entre-etica-e-moral-3.jpg.
Em nossos dias, diariamente, estamos assistindo na televisão ou lendo em jornais e revistas 
notícias sobre escândalos políticos ou mesmo notícias sobre celebridades que têm determinadas 
ações “estranhas” ao que padrão socialmente aceito. Também assistimos a propagandas com 
pedidos de doações para entidades que ajudam pessoas, seja crianças ou velhinhos, animais ou 
plantas, e muitos outros movimentos, associações ou ONGs que você mesmo pode enumerar. Vemos 
cenas de fome, guerras, mortes e as comparamos com cenas de luxo, esbanjamento e abundância.
 
Pág. 6 de 94
Sentimos piedade de alguém que nos pede algo na rua, mas também sentimos repulsa quando 
algo que deveria ser destinado à coletividade é desviado para outros fins. Da mesma forma, somos 
sempre impelidos a tomar uma posição, a fazer um julgamento diante destas e de outras situações 
que se apresentam em nosso dia a dia. Nosso julgamento baseia-se na ideia de bom, justo ou correto 
e seu inverso. Ora, numa breve observação, percebemos que este julgamento vai nos impulsionar 
a uma ação (protestar ou ajudar). Enquanto comunidade, a ação pode ser individual ou coletiva. 
Estamos, portanto, diante de uma situação que envolve a moral.
Aristóteles, em sua obra Política, assume um papel de estudioso das origens das sociedades e 
como o homem passa a ser “por natureza, um animal gregário”, diferentemente dos outros animais. 
Diz ele:
Como costumamos dizer, a natureza nada faz sem um propósito e o homem é o único 
entre os animais que tem o dom da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar a 
dor e o prazer, e outros animais a possuem [...], mas a fala tem a finalidade de indicar 
o conveniente e o nocivo e, portanto, também o justo e oinjusto; característica 
específica do homem em comparação com os outros animais, é que somente ele tem 
o sentimento de bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais, 
e é a comunidade de seres com tal sentimento que constitui a família e a cidade. 
(ARISTÓTELES p. 1985, p. 15).
Saiba Mais
Para a leitura complementar, recomendamos os livros:
ARISTÓTELES. Política. Tradução, introdução e comentários de Mário da Gama Kary. Brasília: Editora 
UnB, 1997.
Ou
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Ora, como “animal gregário” vivendo em comunidade, o homem passa a agir no mundo de acordo 
com valores apreendidos de seus antepassados e, desta forma, sua ação se dá a partir desses 
pressupostos que chamaremos aqui de valores morais. Esses valores podem ser classificados 
e hierarquizados a partir de suas noções de “justo” ou “injusto” ou ainda “bem” e “mal”. Esta 
classificação só pode ser feita por seres racionais, participantes de um grupo ou comunidades e que 
estejam inseridos num determinado tempo histórico. Simplificando: o ser humano é um ser moral 
 
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que avalia e classifica sua conduta e suas ações a partir de valores morais construídos dentro de 
um determinado tempo histórico.
Assim, diante daquelas situações propostas inicialmente sobre os escândalos políticos ou 
doações a entidades assistenciais, somos levados a formular juízos morais a respeito das ações 
nossas e dos outros. Cada vez que fazemos isso, estamos elaborando uma reflexão a respeito da 
nossa própria conduta e da conduta alheia, isto é, dos outros. Portanto, se pudermos sintetizar, 
diríamos que moral é um verbo que se conjuga no singular.
Mas nos propomos a formular um raciocínio a respeito de ética e moral. O que vem a ser ética? 
O que vem a ser moral? O que são atitudes éticas e morais? A ética surge da moral ou a moral é 
que dá condições para que a ética exista? Estas breves indagações motivam nossa busca pela 
origem do termo.
Ao consultar o Dicionário de Filosofia de autoria de Nicola Abbagnano, temos duas definições 
para iniciar nosso estudo. Diz ele:
Em geral (ética) é a ciência da conduta. Existem duas concepções fundamentais 
dessa ciência: primeira, a que a considera como ciência do fim para o qual a conduta 
dos homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo tanto o 
fim quanto os meios da natureza do homem; segunda, a que a considera como a 
ciência do móvel da conduta humana e procura determinar tal móvel com vistas a 
dirigir ou disciplinar essa conduta. (ABBAGNANO, 2012, p. 442).
Saiba Mais
Para uma leitura mais apurada e reflexiva a respeito do termo ética, recomenda-se consultar o 
Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano (p. 442-451). Caso queira, também poderá consultar 
este dicionário de filosofia online, de forma mais resumida, no link http://www.filosofia.com.br/vi_dic.
php?pg=7&palvr=E.
Também no dicionário de filosofia que acabamos de citar é possível encontrar uma definição 
breve do termo moral. Diz ele:
Moral. Este adjetivo tem, em primeiro lugar, os dois significados correspondentes 
aos do substantivo moral: primeiro atinente à doutrina ética; segundo, atinente à 
conduta e, portanto, suscetível de avaliação moral, especialmente de avaliação moral 
positiva. (ABBAGNANO, 2012, p. 795).
 
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Figura 2 – Moral
Fonte: jorgen mcleman / Shutterstock
A partir destas duas noções iniciais, ainda não é possível dizer o que é ética e o que é moral 
em sua essência. Todavia, elas já nos dão algumas pistas do caminho a seguir em busca de uma 
definição própria: ambas falam de “conduta humana”. É por esta trilha que iremos seguir.
Em uma rápida olhada na literatura existente sobre o tema, percebemos que este assunto não 
é novo nem consensual. Isso nos leva a perceber que a reflexão ética é uma necessidade dos 
tempos atuais. Embora ela esteja em variados campos do saber, é na filosofia que ela se encontra 
como objeto específico de estudo, seja na metaética, na ética fundamental ou mesmo na ética 
aplicada às atividades humanas. Mas por que ela é tão necessária em tempos atuais? A resposta 
é simples: a sociedade contemporânea passa por uma grave crise de valores sem precedentes na 
história da humanidade. Estamos diante de uma situação paradoxal: de um lado grandes avanços 
do individualismo e, de outro, crise de valores. Por isso sua urgência.
Em outras palavras, estamos diante de uma formidável produção de bens simbólicos e materiais 
nunca antes vista na história da humanidade. Esta produção crescente e cada vez mais veloz nos 
afeta de forma a não mais podermos pensar e refletir sobre elas. Essa dinamicidade nos aponta para 
 
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uma mudança de paradigma, isto é, percebemos que estamos passando de um mundo “natural” 
para um mundo “cultural” e tecnológico. E é justamente nesse mundo cultural que se desenvolvem 
as ações humanas denominadas éticas. O homem é um ser que cria cultura e, a partir dela, orienta 
as suas ações.
Portanto, o homem cria sua própria cultura, seu mundo particular, organizado através de normas 
também criadas que o orientam a um determinado fim que é sua autorrealização. É nesse dinamismo 
de sua existência que a ética e a moral vão se desenvolver.
O professor Henrique Lima Vaz assim se expressa ao abordar o tema da ética no mundo 
contemporâneo:
É do fundo desse paradoxo que se levanta a onda ética a espraiar-se hoje sobre o 
mundo, cobrindo todos os campos da atividade humana. Ela parece significar como 
que o sobressalto de nossa natureza espiritual em face das ameaças que parecem pôr 
em risco a própria sobrevivência das razões de viver e dos valores de vida lentamente 
e penosamente descobertos e afirmados ao longo desses três milênios de nossa 
história. (VAZ, 2015, p. 8).
Parece emergir dessa urgência a reflexão ética. E nosso trabalho aqui é rememorar as origens 
do termo para buscar respostas a estas urgências atuais. Dessa forma, buscaremos o conceito a 
partir das contribuições histórias de diversos agentes, seus contextos e suas experiências, os quais 
constituem o que chamamos de tradição filosófica. São estes grandes “modelos” de pensamento 
ético, construídos no decorrer da história, que nos possibilitarão entender como a reflexão atual 
se apresenta. Portanto, falaremos de uma ética geral e os fundamentos que dão sustentação ao 
saber ético para que você, caro aluno, posteriormente, possa contribuir também com a reflexão.
Ao avançarmos na busca de uma possível definição do termo ética, encontramos, no mundo 
atual, uma certa deterioração do termo – por isso nossa busca. Queremos voltar às origens para 
encontrar o “verdadeiro” sentido do termo e, a partir dele, resgatar sua densidade e aplicabilidade 
à realidade.
Segundo o professor Lima Vaz (2015, p. 11),
Um estudo sobre Ética que se pretenda filosófico deve dedicar-se preliminarmente a 
delinear o contorno semântico dentro do qual o termo Ética será designado e a definir 
 
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assim, em primeira aproximação, o objeto ao qual se aplicarão suas investigações 
e suas reflexões, bem como a caracterizar a natureza e a estabelecer os limites do 
tipo de conhecimento a ser praticado no estudo da Ética.
Assim, devemos nos aventurar em dois caminhos distintos a saber: um teórico e outro histórico. 
Dessa forma, será possível estabelecer um caminho histórico no qual foi se desenvolvendo o sentido 
do termo ética e, também, identificar uma literatura existente sobre o tema.
Ao voltarmos no tempo, encontramos as primeiras organizações culturais que produziram o 
alfabeto, e delas, a relação semântica entre a palavra e o que ela caracteriza no mundo. O termo 
aparece primeiramente em língua grega, caracterizada por um rico conteúdo semântico e que nos 
chega através de uma tradição filosófica e de seus grandes sistemas ou modelos explicativos do 
cosmo.
Assim, comoverificamos anteriormente, ética e moral parecem andar de mãos dadas e possuir 
um mesmo significado. Essa designação levanta dúvidas e passa a ser um problema que deve ser 
resolvido. Problema este que deve ter surgido em tempos modernos, mais especificamente com 
os estudos kantianos. Portanto, antes de Kant temos uma variante semântica a indicar um mesmo 
caminho, isto é, ética e moral indicam conduta humana tanto social quanto individual. Depois de 
Kant, o problema parece acentuar-se nos estudos hegelianos sobre o espírito objetivo e sua dialética.
De um modo geral, tomaremos os dois termos como sinônimos para iniciar nosso estudo, uma 
vez que, no contexto atual, seu uso inadequado assim o tem apresentado. Note que nossa intenção 
é demonstrar o objeto de estudo propriamente filosófico neste campo do saber, uma vez que a 
separação semântica se dará mais tarde nos estudos de ética propriamente dita e de política, no 
qual haverá uma separação entre a vida no espaço público e a vida no espaço privado.
Note que falamos que o termo ética surge primeiramente na Grécia Antiga. Seu uso foi evidenciado 
pelos escritos de Aristóteles e designa um tipo de saber (ethike pragmateia), como indicado no Livro 
II da Metafísica. Esse saber estava vinculado a um exercício da virtude, isto é, um estudo sobre os 
costumes (ethea). Com o aprofundamento das reflexões e dos estudos, este termo passou a constituir 
uma das três grandes áreas do saber antigo: a lógica, a física e a ética. Assim, percebemos que, na 
língua grega, ethike se vincula ao ethos e que significa um conjunto de normas de um grupo social 
e também ao comportamento do indivíduo nesse grupo.
 
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Figura 3 – Immanuel Kant
Fonte: Nicku / Shutterstock
Segundo o professor Lima Vaz (2015, p. 13),
Na língua filosófica grega, ethike procede do substantivo ethos, que receberá duas 
grafias distintas, designando matizes diferentes da mesma realidade: ethos (com 
eta inicial) designa o conjunto de costumes normativos da vida de um grupo social, 
ao passo que ethos (com epsilon) refere-se à constância do comportamento do 
indivíduo cuja vida é regrada pelo ethos-costume. É, pois, a realidade histórico-social 
dos costumes e sua presença no comportamento dos indivíduos que é designada 
pelas duas grafias do termo ethos.
Ora, partindo do pressuposto acima, podemos considerar a ética como uma ciência do ethos, 
isto é, a ética vai passar a designar uma casa, uma morada ou local onde se aprimoram os costumes 
através de uma práxis.
 
Pág. 12 de 94
Já o termo moral, cuja tradução foi feita a partir da língua latina, diferentemente da exposição 
contida no Dicionário de Filosofia, vem de moralis e mos e passa a ter uma tradução semelhante ao 
do ethos grego. Dessa forma, ética e moral passam por uma evolução semântica em suas traduções 
posteriores, ambas “designando fundamentalmente o mesmo objeto, a saber, seja o costume 
socialmente considerado, seja o hábito do indivíduo de agir segundo o costume estabelecido pela 
sociedade” (VAZ, 2015, p. 14).
Saiba Mais
Para uma leitura mais apurada e reflexiva a respeito do termo moral, recomenda-se consultar o 
Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano (p. 795). Caso queira também poderá consultar o 
Dicionário de Filosofia Eletrônico, de forma mais resumida, no link http://www.filosofia.com.br/vi_dic.
php?pg=7&palvr=E
Portanto, como veremos em nosso estudo, a ética e a moral passam de sinônimas a conceitos 
complexos, de simples ação individual e política à oposição entre a motivação e o agir humano, 
segundo interesses estabelecidos por uma sociedade. Em outras palavras, o termo moral passará 
a designar a práxis individual e o termo ética passará a designar a práxis social.
Saiba Mais
Para aprofundamento nesta questão, sugere-se:
TAYLOR, C. As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 1997.
Dessa forma, pode-se vislumbrar uma primeira definição de ética para nosso estudo, visto que, 
no âmbito da práxis, o termo não encontraria tamanha extensão linguística. É a partir do ethos 
que se formula um pensamento racional normativo de regulação do agir humano num contexto 
histórico-social determinado. Portanto, temos um ethos identificado na sociedade como lei (nomos) 
e um ethos situado no indivíduo identificado com a virtude (areté). É neste contexto que Aristóteles 
apresenta duas de suas importantes obras, isto é, a Ética e a Política, como partes de um saber 
prático.
Retomemos o que diz o professor Lima Vaz:
Podemos, assim, propor uma primeira definição da Ética, de acordo com o conteúdo 
semântico do termo. A Ética é um saber elaborado segundo regras ou segundo 
uma lógica peculiar, pois o primeiro uso adjetivo do termo qualifica justamente, em 
Aristóteles, uma forma fundamental de conhecimento, contraposta aos conhecimentos 
 
Pág. 13 de 94
teórico e poiético. O objetivo da Ética é uma realidade que se apresenta à experiência 
com a mesma evidência inquestionável com que se apresenta os seres da natureza. 
Realidade humana por excelência, histórica, social e individual e que, com profunda 
intuição das suas características originais, os gregos designaram com o nome de 
ethos. A Ética, portanto, nominalmente definida, é a ciência do ethos. (VAZ, 2015, p. 17).
A partir dessa afirmação podemos concluir que, após as reflexões dos gregos antigos, temos 
um objeto de estudo denominado ethos. Este objeto constitui-se num problema filosófico, cuja 
reflexão e sistematização do conhecimento, a tradição vinculou-o à ética e à moral.
Assim, a ética nasce entre os gregos antigos como um saber vinculado a uma tradição cultural 
que recebe atualizações simbólicas à medida que vai se exercendo na práxis, de maneira “normativa, 
indicativa e prescritiva do agir humano”. Portanto, o saber ético é um saber que se vive na prática, 
que é pensado na experiência e no hábito dos homens durante a sua construção histórica.
2. OS VALORES E A EXISTÊNCIA
Vimos anteriormente que nossas ações no mundo partem de um julgamento moral, isto é, da 
nossa definição particular do que é bom, justo ou correto. Dessa forma, fazendo julgamentos e ações, 
agimos no mundo a partir de certos “valores” apreendidos de gerações anteriores. Nos entanto, 
estes valores não são fechados em si, quer dizer, o que aprendemos de nossos antepassados não 
permanece rigidamente no tempo. Os conhecimentos de certos valores apreendidos passam por 
“mudanças” durante o tempo histórico.
Assim, em determinado tempo histórico, o homem transforma os valores recebidos anteriormente 
em algo mais prático para sua conduta, atualizando-os. Em outras palavras, elegemos sempre 
nossas prioridades valorativas que nos impulsionam para a ação. Dessa forma, os “códigos morais” 
vão se “atualizando” de acordo com o tempo histórico.
Esses valores ou códigos morais podem apresentar certa hierarquia para um indivíduo ou 
grupo conforme suas noções de bem e de mal ou de justo e injusto, em um determinado momento 
histórico. Simplificando, o ser humano é o único animal que consegue valorar suas ações e avaliá-
las segundo critérios racionais.
 
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Figura 4 – Existência
Fonte: Sonpichit Salangsing / Shutterstock
Como verificamos na história, as comunidades humanas constituídas e organizadas apresentam 
variações tanto no espaço quanto no tempo. Assim, os valores também podem apresentar-se de 
formas diversificadas em comunidades distintas, o que resultará em códigos morais diferentes.
Daí surgem questionamentos do tipo como devo agir? Que atitudes devo praticar? Que valores 
devo seguir? E uma infinidade de outras perguntas que se apresentam ao sujeito pensante. Também 
observamos que nessas comunidades os sujeitos fazem escolhas para suas ações. Assim, escolhem, 
numa hierarquia de valores, comportamentos que são mais dignos ou mais “valiosos” em relação 
a outros comportamentos menos dignos e menos “valiosos” sob o ponto devista do grupo. São 
comportamentos passíveis de louvor e admiração ou o seu inverso, condenação ou censura. Em 
ambos, há o processo avaliativo do sujeito, isto é, o seu julgamento moral.
Comecemos, pois, pelo nascimento destas ideias lá no mundo antigo, mais especificamente 
na Grécia. Foi lá que surgiu um tipo de pensamento chamado filosófico e que transformou toda a 
civilização ocidental. Mas, antes deles, habitava naquelas terras um tipo de conhecimento religioso 
que dava sentido à vida daquelas pessoas. Esse conhecimento baseava-se em histórias, às vezes 
mirabolantes e fantasiosas, que ensinavam determinadas regras de conduta, ou virtudes, aos seus 
ouvintes. São os famosos mitos. Portanto, falar de mitologia é falar do próprio povo grego que 
imaginava seus deuses a partir de suas próprias características psicológicas e emocionais.
 
Pág. 15 de 94
O agir humano mesclava-se com o agir divino e, desta forma, propunha modelos de comportamento 
que deveriam ser seguidos por todos. Esses modelos pautavam-se na ética e na moral, valores 
construídos socialmente durante anos por uma tradição e estabelecidos como meios para se 
chegar a um fim, isto é, para se ter uma vida feliz ou uma vida boa. Contudo, esses valores tinham 
como pressupostos escolhas individuais que diziam respeito à própria existência e ao sentido que 
a vida lhes dava. A busca por um sentido para a vida é que levou os gregos a formular histórias de 
deuses poderosos que habitavam o Olimpo e que davam razões para as três perguntas basilares 
da humanidade: quem sou eu? Onde estou? Para onde vou?
A partir destas três razões, os gregos formularam outras que estão relacionadas aos valores, 
isto é, às escolhas que podemos fazer para se chegar a um fim, a uma vida boa. Dessa forma, esses 
valores passam a ser instrumentos ou critério existenciais. Em outras palavras, quando falamos a 
respeito do valor da vida humana, estamos falando de algo que é próprio do ser humano, o pensar. 
Também é próprio do homem deliberar sobre sua própria existência e, dessa forma, as suas ações 
são resultados de escolhas feitas. A partir dessas escolhas é que o homem pode encontrar caminhos 
que lhe possibilitem viver bem consigo mesmo e em comunidade.
Assim, como estamos falando de escolhas e estas envolvem valores, comecemos estudando a 
composição dos mitos na Grécia Antiga, mais especificamente, para nosso estudo, vamos entender 
o mito de Prometeu e Epimeteu. Este mito passa a compor uma questão central para nosso estudo: 
a ética.
O mito de Prometeu e Epimeteu, relatado pelo filósofo Platão em um de seus diálogos intitulado 
Protágoras, fala da natureza humana e de suas limitações e da necessidade de criar valores para 
“completar” o que a natureza não pôde oferecer. Desse modo, percebemos que o mito é um símbolo 
com muitos significados, uma vez que se apresenta em forma de história que fascina. Também 
é possível reconhecer no mito algo relacionado à nossa própria história e aí a relação fascinante 
estabelecida entre o indivíduo que conta a história e a própria história.
Saiba Mais
O Mito de Prometeu e Epimeteu aparece numa palestra do Prof. Clóvis de Barros Filho que está 
disponível no link https://youtu.be/mi3wv5dgNJo (acesso em 30 jul. 2017). Este mito também pode 
ser encontrado nos versos do poeta Hesíodo, intitulado Teogonia.
 
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 Comecemos, então, pelo mito. Narra a história platônica que num diálogo entre Protágoras e 
Sócrates. Havia uma discussão sobre a virtude e se esta é possível ser ensinada, isto é, transmitida a 
outros homens através da educação. Num primeiro momento, a discussão paira sobre a impossibilidade 
de tal empreendimento. No entanto, enquanto os argumentos são colocados na discussão, surge 
a ideia de que a virtude pode sim ser ensinada. Então Sócrates pede a Protágoras que conte aos 
presentes, devido à sua grande experiência, como isto seria possível.
Protágoras então se dispõe a argumentar sobre o assunto, mas prefere contar um mito, como 
forma de se fazer entender melhor. Ao narrar o mito, Protágoras assim se expressa:
Houve um tempo em que só havia deuses, sem que ainda existissem criaturas 
mortais. Quando chegou o momento determinado pelo Destino, para que estas 
fossem criadas, os deuses as plasmaram nas entranhas da terra, utilizando-se de 
uma mistura de ferro e de fogo, acrescida dos elementos que ao fogo e à terra se 
associam. Ao chegar o tempo certo de tirá-los para a luz, incumbiram Prometeu e 
Epimeteu de provê-los do necessário e de conferir-lhes a qualidades adequadas a 
cada um. (PLATÃO, 2002, p. 64).
Figura 5 – Deuses
Fonte: intueri / Shutterstock
No relato então aparece a figura do homem sendo criada pelos deuses. Seres mortais que 
estariam à serviço dos desígnios dos deuses, ou, nas palavras de um antigo professor de filosofia, 
“[...] os deuses criaram os seres mortais para acabar com o tédio que a vida sem as guerras havia 
trazido”. Em outras palavras, para a mitologia, os mortais são resultado de uma “brincadeira” dos 
deuses.
 
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Saiba Mais
Para se aprofundar no assunto, recomendamos a seguinte leitura:
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. 6. ed. São Paulo: Iluminuras, 2006.
Continuemos com a narrativa:
Epimeteu, porém, pediu a Prometeu que deixasse a seu cargo a distribuição. Depois 
de concluída, disse ele, farás a revisão final. Tendo alcançado o seu assentimento, 
passou a executar o plano. Nessa tarefa, a alguns ele atribuiu força sem velocidade, 
dotando de velocidade os animais mais fracos; a outros deu armas; para os que 
deixara com natureza desarmada, imaginou diferentes meios de preservação: os 
que vestiu com pequeno corpo, dotou de asas, para fugirem, ou os proveu de algum 
refúgio subterrâneo; os corpulentos encontravam salvação nas próprias dimensões. 
Destarte agiu com todos, aplicando sempre o critério de compensação. Tomou essas 
precauções para evitar que alguma espécie viesse a desaparecer. (PLATÃO, 2002, 
p. 64).
Desse relato, percebemos que as coisas e os animais criados pelos deuses exerciam uma função 
específica na terra, também recém-criada. Ao incumbir a dois semideuses esta tarefa, Zeus coloca 
“ordem” no mundo, isto é, procede a um ordenamento no cosmo. Porém, para o homem moderno, 
cuja racionalidade o eleva a um status divino, passa a ser um tanto assustador ser criado por deuses 
e também ser fruto de uma “brincadeira” divina.
A narrativa prossegue:
Depois de haver providenciado para que não se destruíssem reciprocamente, excogitou 
os meios de protegê-los contra as estações de Zeus, dotando-os de pelos abundantes 
e pele grossa, suficientes para defendê-los do frio ou adequados para tornar mais 
suportável o calor, ao mesmo tempo que servissem a cada um de cama natural, 
quando sentissem necessidade de deitar-se. Alguns dotou de cascos nos pés; outros 
de garras, e outros ainda de peles calosas e desprovidas de sangue. De seguida, 
determinou para todos eles alimentos variados, de acordo com a constituição de cada 
um; a este ervas do solo, a outros frutas das árvores; a terceiros, raízes, e a alguns, 
ainda, até mesmo outros animais como alimento, limitando, porém, a capacidade 
 
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de reprodução daqueles, ao mesmo tempo em que deixava prolíficas suas vítimas, 
para assegurar a conservação da espécie. (PLATÃO, 2002, p. 65).
Note que, pela narrativa feita por Protágoras, os deuses são seres bons que tudo proveem às 
suas criaturas. O relato apresenta como as coisas e os animais apareceram sobre a terra e como 
desenvolvem, cada um à sua maneira, os métodos de subsistência, próprio de cada espécie. Até 
este ponto tudo parece perfeito. Cada um tem os meios necessários para manter a vida na terra, 
reproduzir-se e perpetuar a espécie. No entanto, na tentativa de ser justo com todos, Epimeteu 
distribuiu todos os dons entre as plantas e os animais. Quando Prometeu volta para verificarcomo 
foi o trabalho de Epimeteu, nota que falta algo: dons para os homens. Não havia mais nada para 
prover às criaturas, uma vez que Epimeteu tinha distribuído tudo.
Sabendo disso, e temendo a ira de Zeus, Prometeu roubou o fogo do palácio de Atena e o entregou 
aos homens para que pudessem gerir a própria existência, caso contrário, seriam criaturas débeis 
e sem defesas diante das hostilidades da natureza.
Vejamos como isso aconteceu no relato mítico:
Como, porém, Epimeteu carecia de reflexão, despendeu, sem o perceber, todas as 
qualidades de que dispunha, e, tendo ficado em ser beneficiada a geração dos homens, 
viu-se, por fim, sem saber o que fazer com ela. Encontrando-se nessa perplexidade, 
chegou Prometeu para inspecionar a divisão e verificou que os animais se achavam 
regularmente providos de tudo; somente o homem se encontrava nu, sem calçados, 
nem coberturas, sem armas, e isso quando estava iminente o dia determinado para 
que o homem fosse levado da terra para a luz. Não sabendo Prometeu que meios 
excogitasse para assegurar ao homem a salvação, roubou de Hefesto e de Atena a 
sabedoria das artes juntamente com o fogo [...]. Assim foi dotado o homem com o 
conhecimento necessário para a vida, mas ficou sem possuir a sabedoria política 
(PLATÃO, 2002, p. 65).
Portanto, partindo desse relato fica claro que a existência do homem foi obra de uma “brincadeira” 
divina. Mas, se observarmos bem, a narrativa possibilita entender que muitas coisas passam a fazer 
sentido a partir da “sabedoria” humana, isto é, da inteligência que o homem foi dotado para lidar 
com as circunstâncias de sua vida. Uma delas tem a ver com a criação de valores que possibilitam 
uma existência comum e também um objetivo comum, que é a busca pela felicidade. Sartre, mais à 
 
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frente no período contemporâneo vai falar que o homem é “um ser faltado”, isto é, apesar de todas 
as suas características, ainda lhe falta algo e é este algo que ele almeja alcançar para lhe completar.
Figura 6 – Existência humana
Fonte: agsandrew / Shutterstock
Na narrativa mítica percebemos que a criatura dispende de alguns dons, mas lhe faltam outros. 
Por isso, necessita constantemente atualizar-se para melhor viver e, desta forma, encontrar o que 
tanto almeja, a felicidade.
Também podemos fazer outras reflexões a respeito desse mito. Por exemplo, o professor Luc 
Ferry apresenta duas maneiras atuais de associação à narrativa mítica. A primeira associada às 
modernas discussões ambientais, uma vez que Epimeteu dotou todo um ecossistema com as 
qualidades necessárias para manutenção de cada espécie. A segunda é associada às técnicas, 
com as quais os homens passam a produzir bens e serviços para sua própria subsistência. Dessa 
forma, o dom de criar, que era atributo essencialmente divino, foi entregue aos homens para que 
pudesse conviver harmonicamente com as outras criaturas. Assim, passa-se a ideia de um cosmo 
todo harmônico e organizado.
De fato, segundo o relato, é graças aos dons recebidos que o homem passa a diferenciar-se 
dos demais animais pela possibilidade de fabricar objetos e produzir cultura, isto é, produzir bens 
imateriais que dão sentido à sua existência. Entretanto, se compararmos o homem aos demais 
 
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animais, perceberemos que não temos todas as características adaptativas dadas a eles. Por 
exemplo, não temos um couro peludo para manter o calor corporal diante do frio; também não somos 
adaptados à fuga, à defesa ou à caça; não somos velozes (como a lebre), não temos armaduras (como 
a tartaruga), não temos coloração protetora (como o tigre); não temos asas (como os pássaros), 
enfim, não temos bicos, garras ou acuidade visual. No entanto, o que nos falta naturalmente pode-se 
criar artificialmente pela inteligência. Isso significa que somos seres culturais e que modificamos 
o “estado de natureza”.
Dessa maneira, boa parte do comportamento animal está vinculada a reflexos e instintos, 
portanto,condutas inatas. Agora, em alguns outros animais há a presença de algo a mais, isto é, 
algumas reações mais reflexivas. Esta possibilidade dá ao homem o poder de criar uma linguagem 
simbólica, ponto este que nos diferencia dos demais animais. Portanto, através da linguagem, o homem 
cria cultura e, a partir dela, desenvolve modelos explicativos da realidade e de comportamentos. 
Esses modelos visam uma ação individual ou comunitária e são chamados de comportamentos 
éticos, baseados em valores criados a partir das circunstâncias em que o homem vive.
E, como vimos no início deste nosso estudo, o homem cria, através de hábitos e costumes, 
uma série de normas que possibilitam a vida em comunidade e estas normas são a base deste 
nosso estudo, ou seja, a ética. Note que, muitas vezes, esses valores não se encontram escritos 
em nenhum lugar, mas são vivenciados pelos homens de maneira inconsciente.
Portanto, para que haja valores e, por consequências, atitudes e comportamentos éticos, é 
necessário primeiramente que haja um sujeito consciente de si e dos outros; também é preciso que 
haja vontade, isto é, uma capacidade de orientar os desejos e impulsos em conformidade com as 
normas; também é preciso que haja responsabilidade, ou seja, reconhecer-se como autor dos atos 
cujos efeitos e consequências recaem sobre si e sobre os demais, e por fim, é preciso liberdade 
também, dando a si mesmo a possibilidade de autodeterminar-se diante das regras de conduta. Em 
outras palavras, o homem passa a ser um “animal político” que age em conjunto com outros homens, 
controlando seus impulsos e paixões e submetendo-se racionalmente às regras estabelecidas de 
forma autônoma, ou seja, sendo um sujeito ativo e virtuoso no trato social.
Em resumo, se olharmos do ponto de ético, isto é, dos valores criados e aceitos por todos, veremos 
como uma cultura e uma sociedade definem para si e para os outros os conceitos que julgam ser 
bom ou mal, vício ou virtude e, desta maneira, aqueles valores que consideram virtuosos na medida 
que melhor exprimem os seus sentimentos, a sua conduta e as suas ações. Dessa forma, a virtude 
 
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passa a compreender não só uma coisa boa, mas algo excelente, isto é, uma maneira perfeita de 
ser, sentir e agir. Dessa forma, a ética passa a constituir não somente uma ação no tempo, mas 
visa transformar-se e adaptar-se para responder da melhor forma possível às exigências dos novos 
tempos, das novas sociedades e da cultura, pois somos seres históricos e também culturais que 
agem no tempo.
Na realidade, os problemas éticos emanam exatamente das muitas possibilidades de viver 
a existência que compõem a natureza humana. Em outras palavras, as condições de existência 
para os homens são infinitas e, consequentemente, lhes trarão inúmeras crises existenciais. Dito 
de outro modo, você já percebeu que parte considerável do sofrimento humano tem uma ligação 
maior com as múltiplas possibilidades de escolha do que propriamente com as consequências de 
cada uma delas? Quem nunca sofreu por ter que escolher um caminho na vida e, por conseguinte, 
deixar de lado inúmeros outros? Por exemplo, escolher uma profissão implica deixar de lado outras. 
O mesmo ocorre na escolha dos parceiros nos relacionamentos, das cidades onde iremos viver, 
entre outras. Alguns psicólogos chegam a afirmar que existe uma energia que é gasta em cada 
uma das escolhas e que, em alguns casos, há uma estafa deliberativa. Ou seja, escolher o tempo 
todo cansa e estressa.
O pensamento ético grego leva em consideração essas questões, a ideia de lugar natural, ou seja, 
a convicção de que cada homem tem o seu lugar no cosmos e que esse cosmos funciona dentro de 
uma ordem. Com isso, cada um que não se encontre dentro dessa ordem estaria prejudicando todo 
o funcionamento cósmico. Dito de outro modo, encontre o seu “lugar natural” no universo e seja 
feliz. Perceba que o espaço de cada um é dado pela natureza;sendo assim, não há possibilidade 
de ir contra ela, uma vez que estaria bem acima das suas forças e possibilidades. Disso decorre a 
noção de ordem cósmica. Manter essa ordem, ou seja, que cada um ocupe o seu lugar natural, é 
fundamental para garantir a felicidade de todos os homens.
 
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Figura 7 – Pensamento grego
Fonte: Renata Sedmakova / Shutterstock
Para entender o pensamento ético dos gregos, é de fundamental importância ter claras essas 
noções de lugar natural e ordem cósmica.
Como você percebeu, o valor nasce justamente da necessidade que os homens têm de escolher 
a melhor forma de vida. Ou seja, trata-se de uma ferramenta que permite a eles conduzir a própria 
existência. Neste curso, estamos estudando a história dos valores ocidentais, e a nossa forma de 
pensar tem parte considerável dos seus fundamentos no pensamento grego antigo, cristão, europeu 
moderno e contemporâneo.
No que diz respeito ao pensamento grego, começaremos com Platão e sua visão racional-dual 
do cosmo, passaremos pelo pensamento aristotélico, em especial a obra Ética a Nicômaco. Num 
segundo momento, estudaremos pontos relevantes do pensamento cristão. Finalmente, entraremos 
em Nietzsche e Sartre. Na realidade, a ideia destas aulas será a de apontar caminhos do pensamento 
 
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ético. Evidentemente, muitos autores ficarão de fora, uma vez que não é possível, no tempo da 
disciplina, apresentar com profundidade todos aqueles que escreveram a respeito do tema. Mesmo 
assim, o nosso curso dará linhas mestras para uma melhor compreensão dos fundamentos daquilo 
que chamamos ética. Veja como o curso está estruturado:
Figura 8 – Delimitação do problema ético
Fonte: Elaborado pelo autor
Acredito que este quadro ajudará a ter um olhar completo da delimitação feita do problema ético.
 
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3. O PENSAMENTO PLATÔNICO: A SUPREMACIA DA RAZÃO
Como vimos na leitura anterior, os conceitos éticos e morais foram se transformando em diferentes 
épocas e sociedades como forma de melhor responder aos problemas criados pelas relações 
entre os homens. Vimos também que existe uma relação entre os conceitos morais e a realidade 
socialmente construída e que está sujeita às mudanças ou atualizações das escolhas humanas. Em 
outras palavras, quando a vida social muda, provoca uma crise nos valores existentes que exigem 
uma reflexão e um novo aprofundamento, visando encontrar soluções para este problema. Estas 
reflexões trazem atualizações das práticas que substituem as anteriores.
Vimos também que, na Grécia Antiga, o mito lentamente vai sendo substituído por um pensamento 
mais racional e, desta forma, perde um pouco a sua importância. No pensamento racional, a 
justificação para certas ações e comportamentos do homem passam pelo crivo do debate e da 
discussão, formulando novas concepções de mundo, de ações e comportamentos.
Este é o caso que passamos a analisar a partir das contribuições feitas por Platão (427-347 a.C.). 
Para efeito de recordação, Platão pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses, portanto, 
fazia parte de um grupo seleto de pessoas que tinham acesso aos mais variados bens e serviços. 
Assim, teve contato com Sócrates, do qual foi discípulo e a quem tinha esmerada consideração por 
achá-lo o mais justo e sábio dentre os homens de seu tempo. Também é fundador da Academia, 
sua escola filosófica, que muito contribuiu para o avanço do conhecimento humano sobre os mais 
variados assuntos, seja em pesquisas científicas, filosóficas ou políticas. Suas ideias transformaram 
toda uma cultura e todo o ocidente.
Como sabemos, a maior parte do que nos chega dos estudos platônicos vincula-se ao pensamento 
de seu mestre e predecessor Sócrates, tanto que seus famosos escritos em forma de diálogos são 
feitos a partir da fala de Sócrates. A literatura existente chega a falar que “toda filosofia ocidental são 
notas de rodapé a Platão”. Portanto, para entendermos bem o pensamento platônico, é necessário 
retomar alguns pontos de seu mestre Sócrates.
Vejamos o que diz o professor Lima Vaz (2015, p. 94) sobre isso:
Numa perspectiva de história das ideias éticas devemos, sem dúvida, dar primazia 
ao Sócrates platônico, pois foi este que Aristóteles reconheceu como iniciador da 
Ética, título recebido por Diógenes Laércio e confirmado por Hegel, e é deste que 
procede a grande corrente da Ética ocidental.
 
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Também sabemos que Sócrates foi o iniciador de um período que a tradição filosófica identificou 
como antropológico. Desta forma, diferentemente de seus antecessores, os pré-socráticos, a 
centralização do processo de conhecimento está no homem, e não mais na physis. Assim, um 
estudo mais específico sobre a ética e a moral nasce quando o homem passa a fazer perguntas 
para além das simples questões de costumes e hábitos. Ele busca compreender aquilo que se 
identificou como caráter, como consciência moral individual. Sócrates, portanto, ao indagar sobre 
tudo leva o homem antigo a questionar tudo também e a chegar a uma conclusão: interpretamos 
o mundo a partir daquilo que aprendemos com nossos antepassados.
Ainda segundo Lima Vaz (2015, p. 94-95),
O ensinamento ético de Sócrates, transmitido sobretudo pelos primeiros Diálogos 
de Platão, conhecidos justamente por “socráticos” (eles constituem a único modelo 
completo que nos resta dos chamados sokratikoi logoi), apresenta duas características 
fundamentais, uma metodológica e outra temática. A primeira, presente na forma 
dialógica, estilizada magistralmente por Platão, mostra-nos a formação da doutrina 
socrática sendo conduzida por meio de uma permanente inquisição (zetesisi), 
avançando por perguntas e respostas, tendo por alvo a forma lógica que Aristóteles 
denominará definição (horismos), mas detendo-se diante das aporias ou encruzilhadas 
do discurso que a discussão faz surgir. A segunda, na qual se manifesta propriamente 
a originalidade do ensinamento socrático, é formada pelos temas específicos que 
a tradição reconhecerá como aqueles que compõem para a história a figura do 
Sócrates moralista e de sua doutrina.
 
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Figura 9 – Sócrates
Fonte: markara / Shutterstock
Dessa forma, o Sócrates apresentado pelo professor Lima Vaz é, de certa maneira, o indagador 
e o sophos. O primeiro visando obter respostas mais específicas sobre a realidade e as coisas e o 
segundo aquele que está em constante busca pela sabedoria. Desse modo, como vimos anteriormente, 
Sócrates concluir que aquilo que os gregos pensavam a respeito dos valores estava vinculado a um 
aprendizado sobre as virtudes, geralmente transmitidas pelos mitos, como vimos anteriormente. 
Portanto, os sentimentos, as ações, os comportamentos, as condutas são apreendidas socialmente 
e são modelados historicamente. Há uma “recompensa” para quem os segue ou há uma “punição” 
para quem os desrespeita. Em outras palavras, como sabemos que uma conduta é boa ou má? 
Como julgamos uma ação virtuosa ou viciosa? Por que se valoriza a justiça e se combate a injustiça?
Dessa forma, percebemos nos escritos socráticos apresentados por Platão três grandes temas 
relacionados à ética socrática. São eles: as reflexões sobre o homem interior que terá origem na 
famosa frase conhece-te a ti mesmo, a verdadeira sabedoria e a virtude. Dessa triangulação, o 
professor Lima Vaz faz a seguinte afirmação:
O cuidado do homem interior exige, antes de mais nada, o conhecimento de si mesmo, 
ou seja, o exercício de uma razão voltada prioritariamente para o próprio homem e 
para as “coisas humanas”. [...] Sem essa catarse preliminar, destinada a desfazer a 
falsa imagem que cada um constrói de si mesmo ou a evidenciar a própria ignorância 
 
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a respeito do que mais importa para a vida que é saber como devemos agir, a busca 
da definição da virtude não poderia ter lugar. (VAZ, 2015, p. 96).
Note que, assim como Sócrates, nós também estamos fazendoperguntas e buscamos respostas 
às nossas insatisfações. No entanto, temos de buscar as essências, aquilo que é próprio de algo, 
aquilo que nos dá a possibilidade de conhecer algo. É o que estamos fazendo em nosso estudo, 
buscando a essência da ética e da moral. E nosso ponto de partida para a busca de respostas está 
no homem e seu comportamento, isto é, para que haja ações éticas e morais é preciso haver antes 
uma consciência e um sujeito ético. Dessa forma, quem sabe o que é bem não pode agir de forma 
contrária, e sim, agir virtuosamente. Esse tipo de conhecimento levou a ideias “[...] aparentemente 
paradoxais: o homem sábio é necessariamente bom, e o homem malvado é necessariamente 
ignorante, o sábio nunca faz o mal voluntariamente e somente o homem virtuoso é verdadeiramente 
feliz” (VAZ, 2015, p. 96-97).
Retomando nosso estudo sobre Platão, fica fácil agora entender de onde partem suas ideias. 
Platão, discípulo de Sócrates, também usa um método dialético para refletir e entender o seu 
tempo. Nesse sentido, ao falar de ética, Platão parte de sua ideia política, isto é, é na cidade (polis) 
que se desenvolvem as ações morais. Desse ponto avança-se para sua teoria das ideias. Esse 
movimento dualista que concebe o mundo a partir de dois polos distintos: o mundo sensível e o 
mundo inteligível, onde encontra-se a Ideia do Bem; também abarca a sua doutrina sobre a alma, 
isto é, aquele princípio que anima e move o homem em direção a algo.
Em Platão, a razão deve conduzir a alma, mediante a contemplação do mundo das ideias, a uma 
ação virtuosa. Essa contemplação conduz a uma libertação dos aspectos sensíveis e ilusórios para 
o que realmente é importante, isto é, as Ideias eternas ou mais especificamente a Ideia do Bem. 
Portanto, a estrutura do pensamento de Platão destaca-se pela valorização da razão em detrimento 
das paixões (sentimentos).
Ora, partindo desta ideia, é possível perceber que, a todo instante, Platão tenta convencer seus 
interlocutores de que é melhor agir pela razão do que pelas paixões. Em outras palavras, a vida 
harmônica, cósmica e ajustada, para ele, é aquela que se vive pela racionalidade.
Retomemos o que diz Lima Vaz a este respeito,
A ideia diretriz do pensamento ético de Platão, na qual se entrecruzam a significação 
ética e a significação metafísica, é a ideia de ordem (taxis). É ela que permite a 
 
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unificação, sob a égide da teoria das Ideias, da Ética, da Política e da Cosmologia, 
assegurando a justa medida da arete ao indivíduo e à cidade e guiando o demiurgo 
na construção de um cosmos harmonioso. A ideia da ordem [...] será, portanto, uma 
relação análoga que Platão irá estabelecer entre as partes da alma e suas virtudes, 
entre alma e a cidade e entre alma e o mundo. (VAZ, 2015, p. 98).
Essa forma de pensar tomou conta do pensamento ocidental de tal forma que, quando nos 
referimos à ação de alguém que foi correta, boa ou justa, dizemos que essa pessoa foi “racional”. 
Dessa forma, agir impulsionado pelos sentimentos, na visão do pensamento platônico, seria nocivo 
aos seres humanos e causaria desordem e desarmonia no cosmos. Por isso, a vida que vale a pena 
ser vivida, em Platão, é aquela que é conduzida pela razão. Sendo assim, a felicidade dos seres 
humanos passa pelo uso contínuo dela.
Ao observar nosso cotidiano, percebemos que constantemente somos chamados a fazer 
escolhas que contrariam as nossas paixões. Mas, impulsionados por aquilo que chamamos de 
“racionalidade”, decidimos tomá-las. Por exemplo, quando o nosso despertador nos acorda pela 
manhã, somos tentados a ficar na cama para dormir um pouco mais, ou seja, o corpo implora pelo 
sono, mas a racionalidade obriga-nos a levantar. Essa decisão é só o primeiro patamar de uma série 
de outras que virão no decorrer do dia.
Em Platão, o tema das paixões é abordado sob diversos aspectos, mas, sobretudo, na sua teoria 
do conhecimento. Segundo ele, a realidade é dualista, ou seja, possui duas dimensões: a primeira, 
o mundo sensível e da aparência; a segunda, o mundo inteligível da razão e do real. Sendo assim, 
os seres humanos passam toda a sua vida em uma dialética ascendente e descendente, ou seja, 
eles devem elevar-se ao mundo da razão e descer ao mundo sensível a fim de ajudar aqueles que 
não conseguiram subir. Tudo isso parece muito maluco, mas, na prática e na história, teve um efeito 
tremendo. Ou seja, a tese de Platão a respeito da prioridade que a razão (mundo inteligível) tem sobre 
os sentimentos (mundo sensível) ganhou força em parte considerável do pensamento ocidental.
 
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Figura 10 – Platão
Fonte: vangelis aragiannis / Shutterstock
Em muitos casos, como no de Platão, os sentimentos foram sempre colocados em oposição 
à razão. Ou seja, há uma disputa entre razão e sentimentos pelo domínio das ações humanas. Por 
outro lado, relendo a literatura existente sobre Platão, é possível perceber que essa oposição razão-
paixão foi, aos poucos, sendo transposta por uma outra oposição: aquela associada ao corpo e 
alma. Novamente a sua teoria das ideias foi colocada em prática. Agora o corpo será o local das 
paixões, do erro, do engano e, finalmente, com o cristianismo, do pecado e do mal, e a alma será o 
local da razão que poderá contemplar as Ideias eternas. Em outras palavras, o corpo vai aos poucos 
perdendo espaço para a razão no agir humano e, na maioria das vezes, atuar impulsionado por ele 
significa entrar numa zona perigosa para o homem e para a comunidade.
Gostaria de usar como exemplo a letra de uma música dos compositores Arnaldo Antunes e 
Alice Ruiz, intitulada Socorro.
Saiba Mais
No YouTube há um vídeo da música Socorro. Acesse: https://youtu.be/VDz879eNKNA.
 
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Acredito que a letra dessa música traduz em boa parte essa concepção de sentimento e 
racionalidade. Essa oposição entre corpo e alma em Platão será considerada por Nietzsche uma 
profunda e profana negação da vida. Dito de outro modo, de acordo com este autor, aqueles que 
se opõem aos instintos estão em rota de colisão com a vida.
Então, o que seria uma vida boa para Platão? Como já aludimos, é aquela conduzida pela razão. 
Mas qual é a relação existente entre razão e felicidade? De acordo com o filósofo, o comportamento 
racional é o comportamento virtuoso, diferentemente da vida que é conduzida pelas paixões, a vida 
viciada. É por esse motivo que ele salientou a importância da razão para a vida. Dessa forma, Platão 
introduz uma visão dualista do mundo de modo a influenciar todo o pensamento ocidental. Nossa 
vida, nosso pensamento, nossa visão de mundo parte deste princípio, tanto que o percebemos em 
estudos e tratados posteriores relacionados ao idealismo/realismo, ao racionalismo/empirismo, à 
salvação/danação, ao amor/ódio e assim por diante.
O pensamento dualista ganha ainda mais força com o cristianismo, como veremos mais adiante. 
Na realidade, certas correntes cristãs acusam a filosofia de interpretar erroneamente algumas de 
suas teses. Em outras palavras, na essência dessa religião não estaria o dualismo. Mesmo assim, 
essa é a imagem que se tem do mundo cristão: o cristianismo dualiza o mundo entre Deus, o ser 
perfeito, eterno e imutável que existe, sempre existiu e sempre existirá, em comparação à sua 
criatura, imperfeita, finita e sujeita às vicissitudes da vida.
Portanto, assim como Sócrates, que busca um conhecimento essencial do homem como meio 
de conceber uma moral universal, encontrando na sua alma racional o fundamento das normas 
e costumes, Platão amplia esta visão para um racionalismo ético aprofundado pela sua doutrina 
dualista.
Dessa forma, o corpo, por ser sede das paixões e dos desejos, tende a desviar o homem do seu 
caminho contemplativo da Ideia do Bem. Desse raciocínio resulta a ideia de que o indivíduo não 
consegue chegar à contemplação das Ideias eternas sozinho. Agindo racionalmente, o indivíduo 
só alcança seu objetivo vivendoem sociedade e, portanto, na polis. Ora, um indivíduo que age na 
polis visando o bem, sendo um bom cidadão, é também um ser virtuoso.
Outro ponto evidenciado por Platão em suas reflexões e que está intimamente associado às 
ações éticas encontra-se numa conciliação entre liberdade e necessidade. A primeira tendo seu 
vínculo com a virtude e a segunda vinculando-se à razão. Ora, se observarmos bem, na literatura 
existente, não há uma teoria da liberdade propriamente dita nos escritos platônicos, como acontece 
 
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na literatura moderna, mas é a partir desta experiência que Platão irá desenvolver todo um saber 
ético, uma vez que é na polis que o cidadão exerce a sua liberdade, expressando-se e participando 
da vida democrática.
Novamente o professor Lima Vaz nos ajuda a compreender o passado:
Mostrando-se, pois a liberdade historicamente como constitutiva da práxis do homem 
grego, sua transposição ao plano da reflexão ética segundo a versão socrática faz 
surgir necessariamente o problema da compatibilidade lógica a se estabelecer entre 
essas duas proposições: ninguém é virtuoso sem ser livre e ninguém é virtuoso sem 
ser sábio. Como o virtuoso, ou o homem bom e justo, sendo sábio, pode ser livre? Não 
é excessivo dizer que toda a ética antiga irá girar em torno dessa questão, enraizada 
profundamente no âmago da tradição cultural dos gregos, e que receberá na Ética 
platônica uma primeira e, sob certo aspecto, definitiva resposta. (VAZ, 2015, p. 99).
As palavras do professor Lima Vaz nos indicam um caminho a seguir em busca da resposta ao 
problema colocado pelos antigos. Contudo, não encontraremos na literatura platônica referências 
pontuais a este respeito. Devemos, portanto, buscar na teoria platônica como um todo a resposta. 
Por isso o conhecimento de Sócrates e da doutrina platônica se faz importante. Para efeito de 
aprofundamento dessa ideia de liberdade e necessidade ou sabedoria que dão ordem a um pensamento 
ético, prático e voltado para o exercício da cidadania, devemos consultar a discussão, no livro A 
República, o diálogo sobre justiça. Este é considerado o documento de fundação da ética ocidental.
 
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Figura 11 – Escola de Atenas
Fonte: IR Stone / Shutterstock
Dessa forma, Platão busca uma definição daquilo que se concebe como justiça e isto passa a 
ser um valor central na tradição ética antiga. É nesse ponto que Platão desenvolve a ideia de ordem 
na cidade e no indivíduo que resulta num conhecimento do Bem. Partindo da experiência do uno 
e do múltiplo, é possível chegar a um ordenamento do todo e, desta forma, evidenciar o lugar da 
justiça e da prática individual e social
Recorrendo às reflexões do professor Lima Vaz, encontramos a seguinte afirmativa:
Sendo a práxis virtuosa ou a práxis segundo o bem, o objeto próprio do saber ético e, 
por conseguinte, da Ética que é seu sucedâneo em termos de razão demonstrativa, 
temos aí uma antropologia da práxis individual e política, uma teleologia da práxis 
como ontologia do Bem e uma epistemologia da ciência do Bem, primeira antecipação 
do que será a ciência prática de Aristóteles. Por outro lado, se aceitarmos que a práxis 
virtuosa é, por excelência, uma práxis livre, a filosofia da práxis na perspectiva ética que 
assegure sua estrutura e seus fundamentos segundo a razão, será necessariamente 
uma filosofia da liberdade tal como nos aparece, não obstante certos lugares comuns 
historiográficos, a ética platônica na República. (VAZ, 2015, p. 102).
 
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Ora, se levarmos em conta que todo caminho ético traçado por Platão se inicia na liberdade e na 
razão, produto de suas reflexões dualistas, chegamos a uma resposta à nossa indagação primeira 
do problema de conciliar estas duas noções. A necessidade do Bem emerge do discurso reflexivo 
da razão e esta pressupõe uma liberdade dentro de um ordenamento, portanto, temos aqui diante 
de nós uma ética platônica da liberdade que se constrói de forma dialética, na práxis, através da 
razão em vista do Bem maior.
Esses passos serão aprofundados, refutados ou ampliados pelo seu discípulos e seguidor 
Aristóteles, como veremos mais adiante.
4. A ÉTICA NA OBRA ÉTICA A NICÔMACO, DE ARISTÓTELES
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, também desenvolve um pensamento reflexivo sobre 
ética. Nascido em Estagira, na Macedônica, foi sem dúvida um dos mais expressivos filósofos da 
Grécia Antiga ao lado de seu mestre Platão. Na literatura há menção de que suas obras ultrapassam 
uma centena de livros sobre os mais variados temas. Entretanto, o que nos chega são apenas 47 
obras contendo suas reflexões sobre temas tão importantes para a vida humana, inclusive a ética. 
Sua produção legou ao mundo ocidental um saber organizado, sistemático e lógico.
Diferentemente de seu mestre, Aristóteles desenvolve uma ética racionalista, isto é, uma reflexão 
sobre as ações humanas mais próximas de um indivíduo concreto, sem a noção dualista anterior. 
Muitos o consideram o iniciador do estudo sobre ética, justificando tal argumento pelo fato de esta 
se constituir como uma ciência, isto é, como um campo do saber.
Entretanto, como discípulo de Platão, absorve muito dos seus ensinamentos para formular o 
seu próprio. A riqueza e a profundidade do pensamento platônico é herdada e compartilhada pelo 
estagirita, tanto que temas e problemas levantados por aquele será, de maneira totalmente original, 
aprofundada por este. Seu pensamento inaugura uma “nova tradição”, isto é, uma nova maneira de 
se pensar e conceber o cosmos, todo ordenado e classificado, constituindo um saber, uma ciência.
No campo do saber, Aristóteles trouxe importantes contribuições, tanto que as suas obras foram 
divididas em dois grandes grupos: de um lado há os escritos exotéricos e de outro os esotéricos. O 
primeiro destinado ao grande público e os segundos somente aos estudantes e professores do Liceu.
Entretanto, o que nos interessa para nosso estudo sobre ética é um texto intitulado Ética a 
Nicômaco, no qual o estagirita apresenta um caminho para se atingir o bem último que é a felicidade 
 
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(eudaimonia). O estudo da literatura existente sobre este tema apresenta dois textos de autoria de 
Aristóteles a respeito da Ética. O primeiro seria destinado a Nicômaco (composta por dez livros) e 
o segundo a Eudemo (composta por sete livros).
Vejamos o que o professor Adolfo Vázquez (2002, p. 272) diz sobre isso:
Aristóteles se opõe ao dualismo ontológico de Platão. Para ele, a ideia não existe 
separada dos indivíduos concretos, que são o único existente real; a ideia existe 
somente nos seres individuais. Mas, no ser individual, é preciso distinguir o que é 
atualmente e o que tende a ser (ou seja, o ato e a potência [...]). A mudança universal é 
passagem incessante da potência ao ato. Existe somente um ser que é ato puro, sem 
potência: Deus. Também o homem deve realizar com seu esforço o que é potência, 
para realizar-se como ser humano. O homem é, portanto, atividade, passagem da 
potência ao ato. Mas qual é o fim desta atividade? Para onde tende? Com esta 
pergunta já se entra no terreno da moral.
No texto acima percebemos que existe muitos fins, mas a pergunta que fixa é: qual é o fim último 
do homem? Aristóteles responde de maneira direta: todos os homens tendem para a felicidade 
(eudaimonia). Ora, se o fim último de cada ser humano é a felicidade, como ele faz para alcançá-la? 
Nesse ponto temos muitas fontes da felicidade (prazer, riqueza, bens materiais etc.), mas, segundo 
o estagirita, aquela que mais nos aproxima das essências é a da contemplação, isto é, uma vida 
teórica guiada pela razão. Em outras palavras, como a vida não se realiza de modo intermitente, 
isto é, às vezes sim e outras não, então só se pode atingir a felicidade através de certos modos de 
agir que ele classificou como virtudes. Ora, as virtudes não são inatas, mas podem ser apreendidas 
conformeo relato aristotélico em Ética a Nicômaco, que podemos acompanhar a seguir:
Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira, por via de regra, 
gera-se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo; enquanto a 
virtude moral é adquirida em resultado do hábito, doente ter-se formado o seu nome 
[...]. Por tudo isso, evidencia-se também que nenhuma das virtudes morais surge 
em nós por natureza; com efeito, nada do que existe naturalmente pode formar um 
hábito contrário à sua natureza. (ARISTÓTELES, 1989, p. 67).
 
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Figura 12 – Sócrates
Fonte: Giannis Papanikos / Shutterstock
Assim, segundo Lima Vaz, a ética aristotélica distingue-se da platônica pelo seu método e pelo 
seu objeto. Enquanto Platão abarcara o uno em sua teoria das ideias, Aristóteles prefere fazer uso 
de um sistema mais adequado ao uso das ciências, isto é, preferia um método mais apropriado 
a cada ciência que pudesse enriquecer o conhecimento sobre as mesmas, classificando-as e 
organizando-as. É desse modo que o autor da Metafísica irá produzir, separar e classificar os tipos 
de conhecimento em três grandes áreas, chamadas ciências, a saber: teoréticas (theoretikai), 
práticas (praktikai) e produtivas (poietikai). A ética, juntamente com a política, encontra respaldo 
nas ciências práticas.
Já que o fim último para o qual todos tendemos é a felicidade, cabe ao homem buscá-la através 
do uso da razão. Dessa forma, uma vez que o homem encontra no plano contemplativo teórico as 
essências das coisas, ou a essência da felicidade, ele pode realizá-la de modo consciente. Ora, 
essa dedicação só é possível para o cidadão, tendo o homem comum (aquele que não tem como 
dedicar-se a uma vida contemplativa) que agir corretamente na sociedade apenas pelo hábito. Ora, 
agir corretamente segundo este pensador é exercer hábitos virtuosos e, portanto, mostrar que a 
instrução teórica serve para influenciar a ação humana.
Vejamos o que Aristóteles fala sobre a virtude em sua obra Ética a Nicômaco:
 
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As ações virtuosas devem ser aprazíveis em si mesmas. Mas são, além disso, boas e 
nobres, e possuem no mais alto grau cada um destes atributos, porquanto o homem 
bom sabe aquilatá-los bem; sua capacidade de julgar é tal como a descrevemos. A 
felicidade é, pois, a melhor, mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses 
atributos não se acham separados como na inscrição de Delos: das coisas a mais 
nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; mas a mais doce é alcançar o que amamos. 
(ARISTÓTELES, 1989, p. 58).
Como vimos em nosso estudo até aqui, a Ética a Nicômaco é a primeira obra do Ocidente sobre 
ética. Ela nasce das aulas que o filósofo ministrou no Liceu, ou seja, são anotações de aulas. Essa 
obra não deve ser interpretada como uma composição de grandes princípios gerais a respeito da 
vida. Nela, existe uma preocupação com a existência material dos seres humanos, uma vez que a 
existência da ética somente terá algum sentido se a finalidade for a de melhorar a vida dos próprios 
homens.
Nesse sentido, Aristóteles nos apresenta a sua ideia sobre virtude no seu texto Ética a Nicômaco, 
como podemos ler:
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente 
numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio 
racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre 
dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão 
muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a 
virtude encontra e escolhe o meio-termo. E assim, no que toca à sua substância e à 
definição que lhe estabelece a essência, a virtude é uma mediania; com referência 
ao sumo bem e ao mais justo, é, porém, um extremo. (ARISTÓTELES, 1989, p. 73).
Ora, retomemos à ideia inicial apresentada por Aristóteles: todas as coisas têm uma finalidade, 
ou seja, algo para o qual todas “as coisas tendem” (o bem). O mesmo ocorre com a vida do homem, 
ou seja, ela está estabelecida dentro de uma ordem cósmica e com uma finalidade dentro dela. 
Essa ordem é a mesma estabelecida pelas narrativas míticas da vitória de Zeus sobre os titãs.
Também se faz necessário entender o conceito de vida boa em Aristóteles, ou seja, de eudaimonia. 
A tradução dessa palavra é confusa e, no decorrer da história do pensamento, causou inúmeras 
controvérsias. A eudaimonia seria uma vida soberana, ou seja, perfeitamente de acordo com a 
sua finalidade. Dito de outro modo, a vida boa é aquela na qual o ser humano encontra o bem 
 
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supremo. Mas o que seria o bem supremo? É o modelo de vida que vale por ela mesma, ou seja, 
que não é instrumental. Em outras palavras, a vida que vale a pena, para Aristóteles, é aquela em 
que o homem não encontre fora dela o sentido para vivê-la. Por exemplo, a vida de estudante que 
se prepara para o vestibular é uma vida eudaimônica? Respondo: não. Pois, nesse caso, a vida de 
estudos não é uma finalidade em si mesma, uma vez que a finalidade dessa ação está na meta, 
que é a aprovação no vestibular.
As ações da vida, de acordo com Aristóteles, não podem ser instrumentais. Dito de outra maneira, 
as ações que não têm as suas finalidades nelas mesmas não fazem a vida valer a pena, portanto, 
não são eudaimônicas.
Figura 13 – Ações da vida
Fonte: LuckyImages / Shutterstock
Voltando ao exemplo do estudante que se prepara para o vestibular. A existência dele somente 
valerá a pena caso não coloque o motivo do seu estudo numa situação posterior, ou seja, o estudo 
precisa valer pelo estudo.
Vejamos como Aristóteles desenvolve o conceito de eudaimonia em sua obra Ética a Nicômaco:
Já que, evidentemente, os fins são vários e nós escolhemos alguns dentre eles 
(como riqueza, as flautas e os instrumentos em geral), segue-se que nem todos os 
 
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fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto [...]; por isso 
chamamos de absoluto e incondicional aquilo que é sempre desejável em si mesmo 
e nunca no interesse de outra coisa. Ora, esse é o conceito que preeminentemente 
fazemos da felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e nunca com vistas 
em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e todas as virtudes nós de 
fato escolhemos por si mesmos [...]; mas também os escolhemos no interesse da 
felicidade. (ARISTÓTELES, 1989, p. 55).
Retomemos agora aquela ideia apresentada anteriormente sobre o sumo bem. Convém esclarecer, 
de uma vez por todas, o que seria o sumo bem em Aristóteles. Para nosso estudo, apresentarei aqui 
alguns graus de bem, a saber: ir ao bem pelo bem, ir ao bem com ajuda, ir ao bem com coação e 
não ir ao bem. Para tal, vamos usar o exemplo do estudante.
Quando falamos ir ao bem pelo bem, referimo-nos ao sujeito que faz o bem pelo bem, ou seja, 
sem motivação exterior. Por exemplo, o aluno que estuda por acreditar que o estudo é um bem em 
si mesmo. Em outras palavras, mesmo que não existisse nenhuma utilidade dele em vestibulares, 
concursos ou mestrados acadêmicos, ainda assim, esse estudante manteria a mesma postura. Já 
quando nos referimos a ir ao bem com ajuda, estamos nos referindo ao sujeito que faz o bem com 
algum motivo. Por exemplo, o jovem que estuda para passar no vestibular. Não deixa de ser um bem, 
mas não é o bem supremo. Quando dizemos ir ao bem com coação indicamos aquele indivíduo que 
faz o bem motivado pela obrigação. Por exemplo, é o caso do jovem que estuda impulsionado pela 
coação dos pais, da escola ou da sociedade. Nesse caso, não deixa de ser um bem, mas essa vida 
está ainda mais longe da vida boa de Aristóteles. Por fim, quando nos referimos a não ir ao bem 
mesmo com coação, estamos a indicar que, nesse caso, haverá para esse sujeito a punição. Dito 
de outro modo, se, mesmo depois de toda a coação social, o indivíduo não progride no bem, nesse 
caso,ele será punido pela sociedade e, quem sabe, pela própria vida.
Ora, estes quatros exemplos de bem foram usados para elucidar e clarear o pensamento de 
Aristóteles, ou seja, jogar luz em alguns conceitos aristotélicos a fim de facilitar a sua leitura desse 
pensador.
Em resumo, para Aristóteles, uma vida perfeitamente ajustada à ordem cósmica, ou seja, dentro 
da sua finalidade, terá como resultado o bem supremo – a eudaimonia. Mas como saber qual é a 
nossa finalidade no cosmos? A resposta do pensador a essa pergunta tem a ver com o conceito 
de virtude visto em parágrafos anteriores.
 
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Em resumo, a virtude em Aristóteles não é a virtude cristã. Mas o que ela é para esse autor? É 
um talento natural atualizado, no sentido de ato e potência, na teoria aristotélica. O talento é um 
sintoma, ou seja, um indicar da vida. Qual é a diferença entre a virtude em Aristóteles e a virtude 
cristã? Esta, para os cristãos, é o uso bom que se faz dos talentos. No caso de Aristóteles, o próprio 
talento já é a virtude. Em outras palavras, para ele, a vida boa e ajustada é fazer aquilo que você 
faz bem, ao passo que, para os cristãos, o talento é um dom de Deus e, por isso, deve ser colocado 
a serviço dos outros. No caso de Aristóteles, não existe conotação moral nesse uso, ou seja, age 
moralmente bem quem usa os talentos.
Para o pensador, a virtude também será vista como a justa medida entre a falta e o excesso, daí 
a famosa frase atribuída a ele: “A virtude está no meio termo”. Vejamos de forma resumida como 
Aristóteles concebe uma ética do meio-termo baseada nas virtudes a partir do quadro abaixo do 
professor Adriano Ferreira (2011),
Quadro 1 – Ética do meio-termo baseada nas virtudes
Paixão Excesso Falta Virtude
Prazer Libertinagem Insensibilidade Temperança
Medo Covardia Temeridade Coragem
Riqueza Avareza Prodigalidade Liberalidade
Fama Vaidade Humildade Magnificência
Cólera Irascibilidade Indiferença Gentileza
Vergonha Timidez Sem-vergonhice Modéstia
Fortuna alheia Inveja Malevolência Justa apreciação
Fonte: http://diogojacarezinho01.blogspot.com.br/2012/04/curso-de-etica-pos-em-filosofiagama.html
 
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Figura 14 – Atividade racional
Fonte: ESB Professional/ Shutterstock
Aristóteles também vai colocar na atividade racional a principal finalidade da existência. Em 
outras palavras, quem pensa mais vive melhor, ou seja, vive bem quem pensa bem. Mas será que 
todos conseguem usar e desenvolver plenamente o uso da razão? Para Aristóteles, nem todos chegam 
ao pleno desenvolvimento das atividades naturais, e esse fato é natural, ou seja, a natureza não fez 
os homens iguais. Nesse caso, justificam-se as afirmações da obra A política de alguns nascerem 
para mandar, enquanto outros, para obedecer. Assim, a superioridade natural deve traduzir-se em 
superioridade política, por isso, o tema da escravidão é natural em Aristóteles. Contudo, no que 
tange à busca por uma vida eudaimônica, Aristóteles indica que o ideal de felicidade se realiza na 
polis, isto é, numa vida social e política, não podendo levar uma vida moral isoladamente. Esta, por 
sua vez, não é um fim em si mesma, mas condição para se alcançar a felicidade, que se realiza na 
prática de uma vida contemplativa.
Desse modo, o professor Vazquéz nos ajuda a entender esse pensamento:
Para Aristóteles, essa vida teórica que pressupõe necessariamente a vida em comum 
é, por um lado, acessível só a uma minoria ou elite, e de outro, implica uma estrutura 
social – como a da antiga Grécia – na qual a maior parte da população – os escravos 
– mantém-se excluída não só da vida teórica, mas da vida política. Por esta razão, a 
verdadeira vida moral é exclusiva de uma elite que pode realizá-la – isto é, consagrar-
se a procurar a felicidade na contemplação – no âmbito de uma sociedade baseada 
 
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na escravidão. Dentro desse âmbito, o homem bom (o sábio) deve ser, ao mesmo 
tempo, um bom cidadão. (VAZQUÉZ, 2002, p. 273).
Segundo Barros Filho, a igualdade é um conceito introduzido pelo cristianismo na história do 
pensamento ético. Para os gregos, a ideia de igualdade entre os homens chega a beirar o absurdo.
Gostaria de recapitular alguns aspectos do pensamento aristotélico até aqui trabalhados. Em 
primeiro lugar, o conceito de eudaimonia, que alguns traduzem como felicidade ou vida plena. 
Depois, de acordo com Aristóteles, a virtude é atualização de uma condição natural, ou seja, o ser 
humano virtuoso é aquele que age em conformidade com a sua finalidade no cosmos. Dito de outra 
maneira, a eudaimonia somente será alcançada quando esse lugar no cosmos (lugar natural) for 
encontrado. É sobre o lugar natural que passo a falar agora.
Figura 15 – Conceito de eudaimonia e acrasia
Fonte: Elaborado pelo autor
Os conceitos de lugar natural e de finalidade têm um espaço importante na compreensão do 
pensamento grego a respeito da ética e na teoria aristotélica.
De acordo com Aristóteles, toda ação deve tender para o bem supremo, ou seja, este é o fim 
último das ações humanas. Nesse caso, existe a clara convicção de que o cosmos é organizado e 
que todos os seres devem ajustar-se perfeitamente a essa ordem. Sendo assim, todos os bens que 
fazemos devem ter como finalidade o bem supremo, uma vez que participam dele. Quando leciono 
sobre esse assunto, procuro sempre usar uma figura que poderá ajudar aos alunos a compreender 
melhor o tema: o Bem com “B” maiúsculo e o bem com “b” minúsculo. Em outras palavras, o Bem 
é o resultado final da ação humana (é singular), ao passo que existem bens (plural). O próprio 
 
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Aristóteles alude a esse tema no primeiro capítulo do livro I da Ética a Nicômaco. Vejamos: “Toda 
perícia e todo processo de investigação, do mesmo modo todo procedimento prático e toda decisão, 
parecem lançar-se para um certo bem. É por isso que tem sido dito acertadamente quem o bem é 
aquilo que tudo anseia” (ARISTÓTELES, 2009, p. 17).
O que nos parece é que a visão ética de Aristóteles está fundamentada num conceito chamado 
teleologia, ou seja, a noção de que as coisas no universo seguem uma finalidade, inclusive os 
seres humanos. Aqueles que estiverem totalmente em desarmonia com a ordem cósmica estarão 
num estado de acrasia (akrasia), ou seja, numa condição de falta de autodomínio que os levará, 
consequentemente, à infelicidade.
Dessa forma, podemos verificar que, em Aristóteles, o conceito de eudaimonia refere-se à vida 
que vale por ela mesma, ou seja, a vida feliz e em conformidade com a ordem cósmica. O conceito 
de virtude remonta a uma atualização de uma qualidade atribuída pela natureza ao homem. A 
virtude, portanto, está no meio termo. Já a sua visão teleológica indica que todas as coisas têm uma 
finalidade cósmica. A felicidade (eudaimonia) é alcançada na medida em que os seres humanos 
estão ajustados à sua finalidade.
Portanto, depois de toda esta leitura, chegamos a uma conclusão um tanto desafiadora: estudar 
ética não é tão fácil como parece, uma vez que existem diversas fontes de pensamento. Dessa 
forma, poderemos perceber a evolução do conceito ou das formas de pensar a ética. Passemos 
agora ao estudo da ética no período medieval e, mais especificamente, no pensamento cristão.
 
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5. A ÉTICA HELENÍSTICA: EPICURISTAS E ESTOICOS
Figura 16 - Antal Strohmayer, O Jardim dos filósofos (1834)
Fonte: https://cdn-images-1.medium.com/max/599/1*J6PPIPUsi6FMH7mlPv_YtA.jpeg
Antes de entrarmos num estudo sobre a ética no período medieval na ética cristã, mais 
especificamente, faz-se necessário rememorar alguns conceitos a respeito de uma ética helenística, 
isto é, aquela desenvolvida no mundo antigo em meio à decadência da Grécia Clássica e início do 
Império Macedônico. E por que é necessário lembrar desse momento histórico? A resposta se mostra 
simples: são estes conceitos que retornarão no período medieval e serão relidos e reinterpretados 
pelos pensadores

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