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1: No contexto da poesia brasileira contemporânea, há uma diversidade e multiplicidade de poetas cujo projeto estético dialoga com a tradição moderna. É o caso de Manoel de Barros. O poeta pantaneiro desenvolve, além de um estilo bastante singular, temas caros à lírica moderna. Em sua poesia, percebem-se o ludismo da linguagem; a consciência criadora no interior da poesia; o desdobramento do sujeito poético em vários outros eus; a estética do fragmentário; a linguagem do des- (da negatividade) e, fundamentalmente, a celebração insistente das nadezas, do insignificante, do ínfimo. Barros faz dessas insignificâncias o seu projeto poético, ético e político.(Fonte: Adaptado de SILVA, C. S. Manoel de Barros: Lírica, Invenção e Consciência Criadora. Revista Leituras, PUC-SP, 2010. Disponível em: https://www.pucsp.br/revistafronteiraz/numeros_anteriores/n5/download/pdf/mbarros.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.) Com base no texto apresentado, pode-se afirmar que:I - A obra de Manoel de Barros pode ser classificada como moderna, já que seus temas e estilo buscam romper com a tradição.II - Na obra de Manoel de Barros, o apreço pela erudição, expresso por outros poetas de seu tempo, parece inexistir.III - A aparente simplicidade da poesia de Manoel de Barros revela complexidade de fundo, típica da lírica contemporânea.IV - Em Manoel de Barros, não se aplica a noção de palavra-imagem, tal como observada em outros poetas contemporâneos. É correto o que se afirma em: ● a) I e III. ● b) I e II. ● c) I e IV. ● d) II e IV. ● e) II e III. Justificativa: Resposta correta: II e III.A afirmativa II está correta, pois a obra de Manoel de Barros está baseada na celebração do simples, das "nadezas" e das "insignificâncias". A afirmativa III está correta, pois, nela, revela-se a estética do fragmentário e o ludismo da linguagem como parte de um projeto poético, ético e político de estilo único. 2: Fernando Pessoa (1888-1935) produziu uma extensa obra poética, desenvolvendo uma noção de lirismo avessa a classificações redutoras. Além disso, escreveu como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos (entre outros), assumindo diferentes personas.Com base no texto, assinale a alternativa que compara corretamente o conceito de heterônimo ao de pseudônimo quando aplicados à obra pessoana. ● a) As identidades alternativas construídas por Fernando Pessoa (pseudônimos) não se distanciam da identidade temática proposta pelo escritor, comum a todas as suas obras em gêneros diversos. Portanto, não chegam a desenvolver-se como heterônimos. ● b) As personas pessoanas (heterônimos) são dotadas de “vida” e ambições literárias próprias, que podem contradizer-se entre si e não corresponder às do escritor Fernando Pessoa. Portanto, são mais do que apenas nomes diferentes (pseudônimos). ● c) Os heterônimos pessoanos são utilizados sempre que o escritor Fernando Pessoa deseja experimentar com um novo gênero literário e/ou mesclar gêneros, experimentando com eles. Por isso, são mais do que simples alterações de nome (pseudônimos). ● d) Os nomes alternativos utilizados por Fernando Pessoa (heterônimos) servem para apresentar características estilísticas inovadoras, incomuns à época de sua produção. Portanto, não podem ser confundidos com identidades distintas (pseudônimos). ● e) As personas pessoanas (pseudônimos) serviam para proteger a identidade do escritor Fernando Pessoa sempre que este deseja experimentar com novos gêneros ou temas. Portanto, não chegam a se apresentar como identidades distintas (heterônimos). Justificativa: Resposta correta: As personas pessoanas (heterônimos) são dotadas de “vida” e ambições literárias próprias, que podem contradizer-se entre si e não corresponder às do escritor Fernando Pessoa. Portanto, são mais do que apenas nomes diferentes (pseudônimos). Cada heterônimo pessoano funciona como uma pessoa distinta, ou seja, é dotado de signo, mapa astral, inclinações políticas, ideologia própria e projeto literário próprio. Por isso, utiliza-se o termo “heterônimo”, e não o termo “pseudônimo”, que se refere à alteração do nome original do escritor para proteger-lhe ou ocultar-lhe a identidade por qualquer motivo. 3: O Romantismo, como tendência artística, expressou-se em diferentes gêneros literários, abarcando noções que poderiam ser entendidas como discrepantes. Entre suas características estão o trabalho com a lírica e a narrativa, o sublime e o grotesco, bem como a construção de identidades nacionais, reinventadas com o surgimento do homem da cidade.Na estrofe do poema Canção de Mim Mesmo, é possível visualizar algumas dessas características.Eu celebro o eu, num canto de mim mesmo, E aquilo que eu presumir também presumirás, Pois cada átomo que há em mim igualmente habita em ti.(Fonte: WHITMAN, W. Canção de Mim Mesmo. São Paulo: CIPP, [1855] 2013.) A partir do trecho exposto, pode-se afirmar que o poema: ● a) Apela para a coexistência do feio (grotesco) e do belo (sublime), destacando a relação entre esses opostos. ● b) Baseia-se em uma visão nacionalista e ufanista, representando a pátria, sua identidade e suas idiossincrasias. ● c) Representa o gênero narrativo, em que predomina a objetividade que é construída ao redor de um enredo. ● d) Afirma a tomada de consciência individual como pressuposto para a liberdade ao pautar-se na experiência. ● e) Integra o gênero épico, sendo mais narrativo do que lírico, ainda que traços do lirismo estejam presentes. Justificativa: Resposta correta: Afirma a tomada de consciência individual como pressuposto para a liberdade ao pautar-se na experiência. O poema de Walt Whitman é um dos representantes da lírica romântica que enfatiza a experiência individual como forma de expressão poética. No trecho, vemos como a menção ao “eu celebrado” constrói uma possibilidade de liberdade, advinda da tomada de consciência individual. Essa perspectiva surgiu com a ruptura social causada pela Revolução Francesa. 4: A lírica de Manoel de Barros, representativa da poesia contemporânea, traduz o afã de redefinir o mundo e negar a mecanização da vida por meio da própria existência, do próprio ser em relação com esse mundo. Sentido e imagem não deixam de construir significação; ocorre que a expressão artística é mais pautada nos conceitos, reflexões e ideias, e não na estética. A lírica é marcada por técnicas inovadoras, experimentos formais, liberdade, ousadia e até incompreensão. O comprometimento cultural e social ganha força, abarcando formas híbridas de existência e buscando alteridade. Diante disso, leia os fenômenos que ocorrem na lírica contemporânea:I. Verso livre.II. Técnicas inovadoras.III. Representação da pátria.IV. Busca pela alteridade.V. Rupturas temáticas.VI. Obscuridade.VII. Ousadia. É correto o que se afirma em: ● a) II, III e VII, apenas. ● b) I, II e III, apenas. ● c) I, II, IV, V, VI, VII. ● d) II, III, IV e VII, apenas. ● e) Somente a IV. Justificativa: Resposta correta: I, II, IV, V, VI, VII.A afirmativa I está correta, pois corresponde a uma tendência contemporânea, uma vez que diverge do rigor tradicional; os versos livres não perdem a musicalidade e tampouco apresentam restrições métricas.A afirmativa II está correta, pois a principal das tendências contemporâneas é a experimentação. A afirmativa IV está correta, pois corresponde a uma tendência contemporânea: o foco não está no 'eu' ou mesmo na sociedade marcadamente, mas no mundo, em outros olhares sobre a realidade e sobre outros seres. A afirmativa V está correta, pois corresponde a uma tendência contemporânea: quebra-se decoros, ao que as rupturas temáticas ganham força e representam uma nova liberdade no fazer poético. A afirmativa VI está correta, pois corresponde a uma tendência contemporânea; a lógica científica está cada vez mais distante da representação, ao que não se segue A + B, B + C, mas se vai de A a X, para voltar-se ao B ou a F e concluir noZ ou no A novamente. É dizer que a obscuridade está presente e não cabe ao autor seguir coerências explicativas, mas sim ao leitor interpretar, sentir e tentar — ou não — desvendar. A afirmativa VII está correta, pois corresponde a uma tendência contemporânea: ousa-se na temática e na forma como movimento de representar mais e de modo inovador. 5 Código: 26861 - Enunciado: No cinema, toma-se a imagem por si: dispensa-se a palavra. A coisa é transfigurada. Porém, diferentemente de uma pintura, a imagem se move; é fluida tal qual a imagem verbal. Como em um poema, há ritmo, bem como um tempo mais breve de duração, e determinado estado de alma se expressa. Pode-se explorar símbolos, obscuridades, repetições, jogos de luz, pausas, música. Diante do exposto, leia as afirmativas a seguir quanto ao cinema poesia: I. Ritmo e imagem são significativos.II. A linearidade narrativa não é requisito.III. A palavra dá lugar à imagem.IV. Imagens do cinema ensejam mais a imaginação que imagens verbais.V. O lirismo não está necessariamente na fala das personagens. É correto o que se afirma em: ● a) I, II, III, V. ● b) Somente a II. ● c) I e III, apenas. ● d) Somente a IV. ● e) II e V, apenas. Justificativa: Resposta correta: I, II, III, V.A afirmativa I está correta, pois esses são pré-requisitos da lírica.A afirmativa II está correta, pois, tal qual na lírica, em especial a contemporânea, dispensa-se a linearidade. A afirmativa III está correta, pois o signo linguístico não é a palavra, mas a imagem conceitual (é dizer, carregada de sentido).A afirmativa V está correta, pois pode haver lirismo nas falas e diálogos, como ocorre no texto dramático, mas não é isso que define o cinema poesia. 6 Código: 26846 - Enunciado: Quando traduzimos ou produzimos versões de um poema, criamos obras inteiramente novas. Ainda que sejamos capazes de reconhecer, nessas obras, traços do poema original, sempre serão manifestações inerentemente distintas, já que um poema é produto da linguagem e particular à língua. Por isso, considera-se a poesia a forma de arte menos universal — enquanto qualquer um pode apreciar uma pintura ou uma sinfonia, nem todos terão acesso ao poema original. Há relações de interdependência entre os diversos elementos que o compõem e, delas, o lirismo não pode se esquivar.Considerando as características definidoras do texto lírico, assinale a alternativa que avalia corretamente a frase: "Traduções e versões de poemas são obras inteiramente novas." ● a) A afirmativa é verdadeira, pois o texto lírico tem como característica principal a objetividade, diferenciando-o do gênero narrativo, cujo escopo é mais fácil de traduzir. ● b) A afirmativa é verdadeira, pois o texto lírico apresenta unicidade entre sentido, forma e sonoridade, o que o torna dependente da língua e do modo em que se constrói. ● c) A afirmativa é falsa, pois o texto lírico sempre se manifesta na voz de personagens interpretados por atores em um palco, significando que sempre haverá influência do ator. ● d) A afirmativa é falsa, pois o texto lírico constrói a significação da palavra a partir da postura dos narradores e da narração, facilitando processos de tradução e adaptação. ● e) A afirmativa é falsa, pois o texto lírico, segundo Platão, parte de uma estética manipulada em prol da sociedade, o que torna sua tradução/adaptação bem-vinda a cada época. Justificativa: Resposta correta: A afirmativa é verdadeira, pois o texto lírico apresenta unicidade entre sentido, forma e sonoridade, o que o torna dependente da língua e do modo em que se constrói.O texto lírico é construído a partir da relação de interdependência estabelecida entre sentido, forma e sonoridade, ou seja, trata-se de um produto específico da língua em que se constrói e qualquer tradução/versão realizada a partir dele terá de romper tal unicidade em maior ou menor grau. 7: João Cabral de Melo Neto é nosso poeta-arquiteto pernambucano, conhecido por sua elaboração formal e cerebral e por seu rigor estético. A poesia de Cabral é por vezes metalinguística, prezando pela economia verbal. O próprio autor considera o livro de poemas A educação pela pedra (1966) sua obra-prima. Dele, extraímos dois textos, “Uma educação pela pedra”, na íntegra, e o segundo e último parágrafo de “O sertanejo falando”. Leia-os: Uma educação pela pedra"Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la.Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma." O sertanejo falando"[...] Daí porque o sertanejo fala pouco: as palavras de pedra ulceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força. Daí também porque ele fala devagar: tem de pegar as palavras com cuidado, confeitá-las na língua, rebuçá-las; pois toma tempo todo esse trabalho." Percebe-se que o ritmo dos poemas é marcado por aliterações numerosas, fazendo da leitura difícil. Os encontros consonantais de “R” funcionam como entraves, pedras no caminho da fala. O ritmo, portanto, acompanha o sentido e as imagens. Fala-se em uma educação que nos parece peculiar: lições, cartilha, do que vem de fora para dentro, da dificuldade em falar, pedras na boca, na garganta, na alma. A noção de ritmo está dada. Agora, levando em consideração as tendências modernistas, em especial a fragmentação do “eu”, elabore uma análise da subjetividade suprimida no poema e indique o que, no texto, indica tal supressão. Expectativa de resposta: Os textos poéticos em questão seguem a ordem inversa do que se espera de um poema subjetivista, sentimental ou romântico: de fora (mundo) para dentro (eu). A prerrogativa da poesia é justamente possibilitar a expressão pessoal e emotiva, mas, nesse caso, João Cabral dá preferência a expressar-se de modo mais racional e tecnicista. Embora o texto preze pela racionalidade, não deixa de conter elementos fundamentais da poesia: imagens e ritmo fortes. A crítica social — evidenciada pelo enfoque regional do poema — já é um indicador de que o poeta percebe seu entorno e procura representá-lo, confeccionando cuidadosamente e em um só tempo o poema e a crítica. A dureza de vida está para a dureza do poema. Porém, não se trata de um lamento individual: a ausência do pronome “eu”, bem como a ausência de sentimentalismo no texto, revelam que essa crítica é uma análise de indivíduos e seus traços, seus contextos, quase que de modo impessoal. A impessoalidade e a suposta distância são estilísticas. O que importa é lançar luz sobre a questão, e Cabral sensibiliza o leitor a ponto de provocar empatia por aqueles que nascem com a “pedra entranhada na alma” e vivem na dureza. Da mesma forma que o poema parece vir de fora, de uma análise externa filtrada pela percepção do poeta, e não tão somente de seu “eu”, a subjetividade (alma) encontra um obstáculo: a pedra. É como se nem ele pudesse imergir-se em si, já que uma pedra atravanca seu caminho. Essa pedra são os outros, é a dureza da realidade. A subjetividade do poeta e de quem ele retrata é suprimida pela pedra — pelo que ela representa. 8: Leia a estrofe selecionada do poema-síntese de Romancero Gitano, o Romance Sonâmbulo, do poeta granadino Federico García Lorca. Já sobem os dois compadres até às altas varandas. Deixando um rastro de sangue. Deixando um rastro de lágrimas. Tremiam pelos telhados pequenos faróis de lata. Mil pandeiros de cristal feriam a madrugada.(Fonte: Tradução de Afonso Felixde Souza, extraída de sua Antologia Poética, da Editora Leitura S. A., Rio de Janeiro, 1966.) Defina o conceito de imagem poética, com base nos versos “Mil pandeiros de cristal/ feriam a madrugada”, da última estrofe. Expectativa de resposta: Ao contrário da prosa, o texto poético é espontâneo no sentido de que não se manifesta por meio de conceitos, mas de imagens. Além de que não necessariamente obedece a uma linearidade lógica ou racional, a uma ordem conceitual. A imagem poética reflete o caos da realidade e é plural em significados. A poesia subverte a lógica e, a partir disso, criam-se outras possibilidades de ser, mais possibilidades de ser — como em “as pedras são plumas”, ilustração de Octávio Paz. Nos versos “Mil pandeiros de cristal/ feriam a madrugada”, também podemos ver, claramente, a subversão da lógica objetiva, que nos leva a questionar imagens cotidianas. Será possível ferir a madrugada? Como mil pandeiros o farão? Resta claro que não se trata de conceitos literais, mas de uma imagem criada por meio de palavras, com diferentes sentidos significativos e interpretações: a imagem poética.
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