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1 Disciplina: Família, Sociedade, Instituição e Psicopedagogia Autores: Esp. Paula Maria Ferreira de Faria Revisão Conteúdos: M.e Maria Tereza Costa / M.e Romário Keiti Pizzatto Fugita Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Paula Maria Ferreira de Faria Família, Sociedade, Instituição e Psicopedagogia 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA FARIA, Paula Maria Ferreira de. Família, Sociedade, Instituição e Psicopedagogia / Paula Maria Ferreira de Faria – Curitiba, 2016. 42 p. Revisão de Conteúdos: Maria Tereza Costa / Romário Keiti Pizzatto Fugita Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Família, Sociedade, Instituição e Psicopedagogia – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-5475-018-3 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais, e grupos de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da Disciplina Nesta disciplina, intitulada de Família, Sociedade, Instituição e Psicopedagogia, serão abordados muitos temas que envolvem a atuação do psicopedagogo. Inicialmente, será enfatizada a importância da família e como ela funciona de um ponto de vista sistêmico, com as relações ambientais que apresenta em cada um de seus integrantes. Na sequência, será mostrado os dois tipos de atuação do psicopedagogo, o institucional e o clínico, com detalhes que caracterizam cada um, sendo que no fim, se reitera que não há atuação clínica sem a institucional e nem institucional sem a clínica, pois, para o psicopedagogo o conhecimento e o embasamento para uma atuação muito se assemelha à outra. 6 Aula 01 - Família, Sociedade, Instituição e a Psicopedagogia Apresentação da Aula Nesta aula será apresentado o modelo de abordagem sistêmico em comparação com o ecológico, com exemplos dinâmicos, inclusive aplicado ao conceito científico, em que há duas visões bem diferentes do conhecimento: o vertical e o horizontal. Para embasar essa conceituação, muitos estudos de Capra (1998) são apresentados, com isso fica perceptível o pensamento sistêmico, que analisa o todo não somente como o conjunto de todas as partes, mas suas relações entre si. 1. INTRODUÇÃO À DISCIPLINA A aprendizagem ocorre por meio de um processo de interação do sujeito com o meio e seus pares. É na relação consigo mesmo e com o outro, dentro de um determinado contexto, que o processo de construção do conhecimento se realiza. Esse já é, em si mesmo, um pensamento sistêmico. Compreendendo a realidade da educação de uma forma integrada e dinâmica, exercita-se a prática sistêmica dentro da realidade da aprendizagem. Como cita Moraes (2004, p. 242): “Temos uma realidade educacional que é sistêmica e, ao mesmo tempo, verdadeiramente complexa, o que exige um tratamento compatível com a sua natureza”. Importante A Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo, não apenas como um produto final, acabado, a qual volta-se para o ser que aprende como uma pessoa integral, em seus aspectos biopsicossocioafetivos, visando o seu desenvolvimento de forma plena e autônoma. 7 Dessa maneira, a Psicopedagogia considera as relações estabelecidas pelo aprendiz, pois a forma como elas se dão e configuram esse ser, revelam como o sujeito aprende, qual a sua modalidade e/ou estilo de aprendizagem, bem como revelam alguns dos seus pontos fortes e suas dificuldades. Nesse sentido é fundamental que o psicopedagogo tenha familiaridade com os conceitos e princípios sistêmicos, visto que esses embasam sua prática diária junto ao sujeito que aprende, quer seja no âmbito clínico, institucional ou em uma empresa. Por esse motivo, é fundamental que o psicopedagogo conheça, compreenda e se aproxime de uma compreensão sistêmica da realidade, para que mantenha claro o foco e o objetivo de seu trabalho: o ser humano integral, como é cada um ou deveria ser, inserido em redes de relação. Dentro dessa perspectiva, o sujeito que aprende e cada ser humano, não são considerados um ser fragmentado, isolado, mas sim uma pessoa em constante formação e transformação, ou seja, uma pessoa que no contato com o outro modifica esse outro e também é modificada pela força dessa relação. Portanto, a aprendizagem tem que ser vista como um processo total, no qual interfere em (e reciprocamente recebe interferências) todas as instâncias com as quais o aprendiz interage. É importante pontuar que ignorar isso é negar a própria natureza relacional e integradora do ser humano. Por exemplo, se o psicopedagogo não tiver essa compreensão da aprendizagem e do sujeito que aprende, não será possível auxiliá-lo em seu caminho rumo à superação de suas dificuldades e conquista do conhecimento. Como afirma Parolin (2005, p.44), [...] a aprendizagem acontece em um movimento de construção e reconstrução de nós mesmos, do outro, da realidade que nos circunda e do próprio conhecimento. Tentar trabalhar em uma dessas instâncias isoladamente é ineficaz, pois só iria dividir o que é indivisível. Com esse objetivo, essa disciplina vai inserir o aluno no contexto geral da teoria sistêmica e seus princípios mais relevantes. A partir dessas informações, você poderá buscar a compreensão de como o pensamento sistêmico se aplica no contexto da Psicopedagogia, à família, à instituição (clínica, escola, hospital, empresa, etc.) e à sociedade como um todo. 8 Importante O objetivo é que o aluno se familiarize com os principais conceitos sistêmicos e aprenda a desenvolver uma visão e também um pensamento sistêmico, considerando a si mesmo e ao sujeito que aprende como seres em constante troca, numa rede relacional contínua. Sendo assim, agora que é possível traçar um panorama geral sobre os temas que serão abordados, proceder-se-á então para a origem do pensamento sistêmico. 1.1. Origens e contexto sócio-histórico do pensamento sistêmico A parte sem o todo não é parte, O todo sem a parte não é todo; Mas se a parte se fez todo sendo parte, Não se diga que é parte sendo todo. (Gregório de Matos) Tempos atrás, alguns cientistascomeçaram a perceber que as explicações que a física, a química, a biologia e as ciências, como um todo, forneciam para os fenômenos da realidade, não os explicavam a aprendizagem de forma completa. O paradigma cartesiano, adotado pela ciência, utilizava-se do princípio analítico para reduzir o objeto estudado, a partes cada vez menores, porém essa “dissecação” muitas vezes deparava-se num amontoado de minúsculas partes que não podia mais ser reduzida, e tampouco explicava satisfatoriamente o funcionamento do objeto. Bertalanffy (1975), biólogo austríaco, percebeu que, a despeito da constante e cada vez maior divisão dos conteúdos científicos em unidades cada vez mais isoladas e distantes, havia pontos de convergência entre as diversas áreas da ciência, que podiam conduzi-las a uma integração para o estudo e a abordagem dos seres vivos. Para isso, ele desenvolveu a Teoria Geral dos Sistemas, onde, contrariamente à prática científica de reduzir e isolar os elementos para estudá- los, descreve os sistemas como conjuntos de elementos que interagem entre si. Bertalanffy (1975) percebeu que havia diversos princípios comuns às diversas 9 áreas da ciência. Por exemplo: Muitas vezes, o mesmo princípio já descoberto pela física há anos era também de utilidade para os químicos, que só vieram a descobri-lo muitos anos mais tarde. Isso acontecia por conta da especialização das ciências, que não conversavam entre si, o que desperdiçava muito tempo e dinheiro em pesquisas redundantes. Assim, a Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy (1975) pretendia reunir princípios comuns a todos os sistemas em geral, servindo a todas as áreas da ciência. Como Bertalanffy (1975), e a partir de sua compreensão do organismo como uma totalidade, diversos cientistas também passaram a buscar modelos explicativos para o funcionamento do organismo dos seres vivos. Saiba Mais A questão de totalidade é um aspecto que pode ser visto na sala de aula. As disciplinas podem trabalhar conteúdos diferentes de forma separada, sem ligação de temática, ou um mesmo tema como a "água", ser apresentado em várias disciplinas e cada uma contribuindo com alguma informação sobre a água. Seguindo essa mesma compreensão da realidade, Fritjof Capra, físico austríaco contemporâneo, enunciou uma grande crise, vivida a partir do final do século XX, anunciada pela preocupação com problemas globais que afetam o meio ambiente de forma irreversível. A visão de mundo vigente até então, que assumia sua visão do universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado, a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, é confrontada pela emergência da realidade e dos avanços da própria ciência, que fizeram com que o homem se deparasse com a destruição com a qual ele próprio tem assolado o planeta, o que o forçou a rever suas próprias concepções. Segundo Capra (1998), “esses problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção”, que poderia ser solucionada com uma mudança radical nas percepções, no pensamento e nos valores humanos, como afirma o físico 10 austríaco. Esse novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística (compreendendo o mundo como um todo integrado, e não como um conjunto de partes dissociadas) e ecológica (entendendo que há uma interdependência entre todos os fenômenos, e que cada um faz também parte da natureza, enquanto indivíduos e sociedade). Capra explicita a diferença entre os termos holístico e ecológico, através de um exemplo bastante simples: Os dois termos, "holístico" e "ecológico", diferem ligeiramente em seus significados, e parece que "holístico" é um pouco menos apropriado para descrever o novo paradigma. Uma visão holística, digamos, de uma bicicleta significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social — de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi fabricada, como o seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim por diante. (CAPRA, 1998, p.20) VISÃO HOLÍSTICA X VISÃO ECOLÓGICA Fonte: http://retratodeparede.com.br/wp-content/uploads/2014/01/bicicleta-passeio.jpg http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/esportes/noticias/?p=12488 Assim, pela abrangência do termo, Capra prefere utilizar a expressão “ecológica” para descrever o paradigma que embasa o pensamento sistêmico. O grande diferencial do modelo sistêmico é a compreensão de que as propriedades essenciais de um organismo (ou sistema vivo) são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora seja possível discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Esse entendimento 11 revolucionou o pensamento científico ocidental. Até então, a premissa cartesiana (de René Descartes) admitia que um sistema sempre poderia ser completamente compreendido através da análise de cada uma de suas partes. Assim, a única forma de compreender as partes seria reduzi-las a partes ainda menores. Esse vinha sendo o fundamento da ciência até então. No entanto, o paradigma sistêmico opõe-se a esse entendimento, crendo que as propriedades das partes só podem ser compreendidas em seu contexto total. Assim, conforme explica Capra, o pensamento sistêmico não é analítico (reducionista), mas contextual. 1.2. Pressupostos Sistêmicos Numa compreensão sistêmica, entende-se os organismos vivos como sistemas, que podem ser abertos ou fechados. Um sistema aberto significa que ele está em constante comunicação com o ambiente que o envolve, trocando energia, informação ou matéria; em contrapartida, um sistema fechado se encontra em equilíbrio dinâmico, não realizando trocas, por exemplo, uma pedra ou um objeto de madeira. As trocas com o ambiente permitem que o organismo mantenha sua organização e continue funcionando. Por exemplo, o ser humano internaliza tudo o que lhe é necessário para manter-se vivo e em desenvolvimento: alimentação, conhecimento (informações), cultura, afeto. Todas essas coisas internalizadas pelo sistema contribuem para a sua autonomia, que sempre é relativa, pois o ser humano vive em constante interação e interdependência. O pensamento sistêmico entende que o todo é sempre diferente do mero conjunto de suas partes, e só pode ser compreendido considerando o seu contexto, que sempre é relacional, de interação. Como o verificado no exemplo da bicicleta mencionado há pouco. Assim, conforme explica Capra (1998), as propriedades do todo são sistêmicas, produto da interação das diversas partes; não podem ser encontradas isoladamente, mas somente no contexto de sua interação. A percepção dos organismos em uma rede de relações gerou o pensamento em rede, outro ponto fundamental da concepção sistêmica. O conhecimento, até então compreendido como uma construção vertical (havia os 12 alicerces, as bases do conhecimento, sobre os quais as diversas “camadas” eram solidificadas uma a uma), passa a ser compreendido como uma produção horizontal – “uma rede interconectada de concepções e modelos, na qual não há fundamentos” (CAPRA, 1998, p. 48). Com isso, entende-se quenão há um conhecimento “fundamental”: o importante é o conjunto de percepções e informações, que geram o conhecimento como um todo. Assim, numa compreensão sistêmica da realidade, não se utiliza muito termos como “bases”, “fundamentos” ou “alicerces”, mas sim, em critérios, características e propriedades. CONHECIMENTO Vertical Horizontal FUNDAMENTOS, ALICERCES REDE FONTE: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1531258 http://pixabay.com/pt/teia-teia-dearanha-web-aranha-37902/ A compreensão da realidade como uma rede relacional indivisível também exclui outra premissa cartesiana, a da objetividade científica (onde a descrição do conhecimento seria independente do observador e do processo de conhecimento). A visão sistêmica considera a epistemologia, ou seja, crê que é importante estudar não só qual o produto do conhecimento pronto, mas como é elaborado, como é produzido. Há ainda outros pontos importantes para o entendimento do pensamento sistêmico, tais como: Funcionalidade (a capacidade do sistema de operar) 13 Retroalimentação (a ação circular entre as partes internas e os elementos externos dos sistemas) Complexidade (o entrelace dos diversos processos e fenômenos que constituem a dinâmica do sistema) Auto-organização (capacidade do sistema de se autorregular para permanecer vivo). De qualquer forma, os conceitos até aqui apresentados delineiam os contornos principais de uma concepção sistêmica da realidade. Para finalizar, é importante lembrar que pensar de forma sistêmica é pensar de maneira global, compreendendo que “toda ação individual é também influenciada pelos pensamentos, pelos sentimentos e ações do outro”. (MORAES, 2004, p. 83). Resumindo, toda ação é uma “interação”. Atividade de Aprendizagem Discuta com seus colegas e elabore a visão holística e a visão ecológica do processo de ensino-aprendizagem. Resumo da Aula Na aula de hoje, foram apresentados a origem e os principais conceitos da teoria sistêmica, onde foi possível compreender que os conceitos e princípios sistêmicos embasam a prática diária do psicopedagogo, seja ele em clínica, instituição ou então empresa. É importante lembrar que a aprendizagem deve ser vista como um processo total e que interfere em todas as instâncias em que o aprendiz interage. Na sequência foram verificados os termos de Capra (1998) sobre o paradigma sistêmico, crendo que as propriedades das partes só podem ser compreendidas em seu contexto total. Alguns pontos importantes para o entendimento do pensamento sistêmico foram trabalhados na aula, a funcionalidade, a retroalimentação, a complexidade, e a auto-organização. Enfim, é importante frisar que pensar de forma sistêmica é pensar de maneira global. 14 Aula 2 - Família, Sociedade, Instituição e a Psicopedagogia Apresentação da Aula Nesta aula será abordada a família, entendendo-a enquanto um sistema interacional, que integra e vai além de seus membros isoladamente. Assim, partindo da premissa (já abordada anteriormente) de Von Bertalanffy (1975), de que cada organismo é um sistema, será compreendida a família como um sistema aberto, em constante troca entre seus membros e também recebendo (e realizando) interferências do meio externo a ela (a escola dos filhos, a empresa dos pais, o clube que frequentam, a igreja, as características daquele bairro, etc.). Além disso, nesta aula será verificado sobre a relação e as contribuições da família, instituição e sociedade dentro do processo pedagógico perpassando pelos seguintes contextos: a família na concepção sistêmica, a família enquanto sistema e seus subsistemas, desenvolvimento e ciclo vital, comunicação familiar e aspectos funcionais/disfuncionais, correlação com a Psicopedagogia (clínica e institucional). 2. FAMÍLIA NA CONCEPÇÃO SISTÊMICA Saiba Mais A família é, portanto, assim como qualquer outro grupo social, “um sistema constituído por múltiplos microssistemas em relação dinâmica”, ou seja, “a família é um sistema entre sistemas” (ANDOLFI, 1977, p. 16). Numa compreensão sistêmica, Andolfi (1977) considera a família sob três aspectos: A família como um sistema em constante transformação, que se adapta às diferentes exigências dos diversos estágios de desenvolvimento, com o objetivo de assegurar a continuidade e crescimento psicossocial dos membros que a compõem; 15 A família como sistema ativo, autorregulado pelas regras que ela mesma elabora e modifica para sua própria convivência e harmonia, visando sua estabilidade; A família como sistema aberto em interação com outros sistemas, agindo sobre, e recebendo a ação dos outros sistemas de seu ambiente (igreja, trabalho, clube, escola, cultura do bairro, etc.), num equilíbrio dinâmico. Importante É possível compreender que a família é um sistema ativo em constante transformação. A mudança na função de um dos membros da família acarreta modificação nas funções dos demais membros, caracterizando o desenvolvimento individual daquele membro e também a reorganização contínua do sistema familiar, em seu ciclo de vida (ANDOLFI, ANGELO, MENGHI E NICOLO-CORIGLIANO, 1984). Assim, como uma pedra lançada ao lago que agita o mesmo e provoca sucessivas ondas, obrigando todo o sistema (lago) a se adaptar à nova situação, até que possa novamente encontrar o equilíbrio. Da mesma maneira acontece na família, quando a mãe, por exemplo, muda a sua forma de responder a seus filhos. No entanto, essa mudança afetará todo o sistema (“o que aconteceu com a mãe?”, “ela está brava?”, “acho melhor a gente pegar mais leve”, etc.), levando-os a uma consequente modificação. Importante Logo, quando se fala em família, é necessário entender que a referência deve ser relacionada a um grupo de pessoas que possui uma organização própria e um conjunto particular de normas, padrões de condutas, valores, e que compartilham coisas cotidianas, afetos, sentimentos e emoções, dando suporte umas às outras e também se esforçando em manter a sua diferenciação, o seu jeito único de ser no mundo (PAROLIN, 2005, p. 48). 16 Ou seja, não é possível deixar passar, que embora o estudo seja voltado para o núcleo familiar, cada pessoa pertencente a ele, é uma pessoa única e possui suas características peculiares, assim como suas habilidades e limitações. É válido pontuar, que ao falar em ciclo de vida familiar, refere-se aos estágios previsíveis de desenvolvimento que ela percorre através do tempo. Contudo, é importante salientar que “o ciclo de vida individual acontece dentro do ciclo de vida familiar, que é o contexto primário do desenvolvimento humano” (CARTER E MCGOLDRICK, 1995, p.8). Embora diferentes autores apresentem distintas divisões das etapas do ciclo de vida familiar, nesse momento serão abordadas as etapas retratadas por Betty Carter e Monica McGoldrick. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA O livro As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar de Monica McGoldrick e Betty Carter (1995), apresentam ideias e conceitos importantes que baseiam muitos dos estudos vistos nesta aula, inclusive com a definição dos estágios do ciclo de vida familiar. 2.1. Os Estágios do Ciclo de Vida Familiar I. Jovem solteiro. II. Novo casal. III. Famílias com filhos pequenos. IV. Famílias com adolescentes. V. Lançando os filhos e seguindo em frente (ninho vazio). VI. Famílias no estágio tardio da vida. Para que a família seja capaz de se adaptar às modificações que atualmente enfrenta com o decorrer do tempo (ou de circunstâncias adversas), ela utiliza-se da sua própria estrutura. Segundo o terapeuta argentino Salvador Minuchin (1990, p. 57), “a estrutura familiar é o conjunto invisível de exigências 17 funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da famíliainteragem”. Além desses estágios padrão, também há variações no ciclo de vida familiar, como divórcio, recasamento, doenças crônicas, doenças terminais e morte. Ademais, as variações referentes à cultura, etnia, padrão sociofinanceiro e crença religiosa também precisam ser consideradas, bem como as geradas por outros eventos modificadores (como a inserção em outra cultura causada pela mudança para outro país). Saiba Mais A família opera conforme padrões transacionais (padrões de ação), que regulam os comportamentos de seus membros. Para que a família subsista enquanto sistema, é necessário que possua um variado repertório de padrões, que possa acessá-los e também modificá-los quando necessário. Segundo Minuchin (1990), o sistema familiar se diferencia dos demais e executa suas funções através de subsistemas. Cada membro dela é um subsistema. Os subsistemas podem ser compostos por geração, sexo, interesse ou função – como os subsistemas: “irmãos” e “filhos homens”, por exemplo: Cada membro da família pertence a diferentes subsistemas, onde suas funções e seu nível de poder variam. Em cada subsistema, os membros exercitam distintas habilidades interpessoais. No entanto, essas habilidades não são ilimitadas: cada um pode exercer sua função até um determinado limite, dado pelas fronteiras. As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa e como, e servem para proteger a diferenciação do sistema. Vídeo No vídeo da TV Cultura, a psicóloga Roseli Sayão apresenta indicações para a família de ferramentas importantes para recuperar alguns limites e ordens que precisam ser respeitadas dentro do ambiente familiar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aYxo_97FWeM 18 Para que a família funcione apropriadamente, é preciso que as fronteiras sejam claras e bem definidas, evitando desvios de funções e trocas de papéis, mas por outro lado, a família precisa ser permeável, ao permitir sua adaptação ou reestruturação, conforme as necessidades. Quando as fronteiras são excessivamente rígidas, não admitindo qualquer mudança ou negociação, há o desligamento; no outro extremo, quando as fronteiras são difusas e não há diferenciação de papéis e funções, ocorre o emaranhamento. Assim, quanto ao padrão de interação, é possível definir as fronteiras como desligadas, nítidas ou emaranhadas. As famílias que operam nos dois polos extremos podem, possivelmente, desenvolver patologias. Para Minuchin (1990), a clareza dos limites da estrutura familiar é mais importante, até mesmo do que a composição de seus subsistemas. Para Refletir Será que as diferentes estruturas familiares, que estão mais presentes na atualidade, influenciam nas interações da família? Pai ou mãe solteiros, casais homossexuais, relacionamentos abertos, o que isso afeta os aspectos da família vistos anteriormente? E para a criança, enquanto pessoa em aprendizagem, que cuidados precisam ser tomados para uma educação de qualidade? Cabe lembrar que nos dias atuais, a família recebe uma formação diferenciada da considerada “tradicional”, onde é possível não ter a figura materna ou a paterna, pois o mundo vive também o homossexualismo. Atualmente, em muitas escolas, comemora-se o dia da Família, para que todos os alunos sejam representados pelos seus membros. Dessa maneira, a escola vence alguns obstáculos que os alunos podem sofrer ou questionar. Toda família enfrenta situações de tensão. Assim sendo, o critério para a saúde não se trata da presença ou ausência de problemas. O importante, para avaliar a funcionalidade da família, é perceber como ela opera, como consegue funcionar e se adaptar às mudanças e circunstâncias da vida, de forma a manter uma continuidade é promover o crescimento psicossocial de cada um de seus membros (FÉRES-CARNEIRO, 1996, p. 17). 19 Um fator crucial para a interação e manutenção da saúde entre os membros da família, é a comunicação. Ela não somente informa, mas também transmite um comportamento. Nas comunicações funcionais, onde há entendimento entre os comunicantes, há congruência entre o nível de transmissão de informação e de comportamento. O oposto ocorre com a comunicação disfuncional, onde não há qualidade e nem entendimento. Para o funcionamento da família é muito importante que a comunicação seja realizada de maneira unificada, ou seja, com o diálogo direto e aberto entre os membros, pois caso aconteça algum problema de compreensão das falas, existe a possibilidade de conversar e rever os pontos necessários. Utilizando os critérios já pontuados no texto, Satir (1967, citado por FÉRES-CARNEIRO, 1996) define as famílias funcionais e disfuncionais. Também outros autores se dedicaram ao estabelecimento de padrões para a funcionalidade ou disfuncionalidade da mesma. Para isso, apresenta-se alguns desses critérios no quadro abaixo: 2.2. A Família como Sistema em Constante Transformação Nesse momento, é possível visualizar a família adaptando-se às mudanças de seu ciclo vital (esse tema será melhor explicado adiante) e as demandas do ambiente em que se insere, visando sua continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros. É possível ver a seguir alguns itens que diferem as famílias: FAMÍLIAS FUNCIONAIS FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS Manifestam-se com clareza sobre o que pensam e sentem. Esquivam-se a falar, ou manifestam-se de forma vaga e obscura sobre o que pensam e sentem. Compreendem as diferenças como oportunidade de aprendizagem e crescimento. Compreendem as diferenças como uma ameaça ou sinal de conflito. Lidam com as pessoas e situações como elas de fato são. Lidam com as pessoas e situações como gostaria que elas fossem. Assumem a responsabilidade sobre o que pensam, sentem e fazem. Culpam os outros pelo que pensam, sentem e fazem. Os conflitos podem ser expressos e discutidos. Os conflitos são escondidos, silenciados ou negados. Fonte: Elaborado pelo Autor (2016). 20 Vale ressaltar que a família contemporânea em muito difere da família de há poucos anos atrás, do tempo dos avós. Com a mudança do papel da mulher na família, agora trabalhando fora e assumindo dupla jornada, os filhos recebem os cuidados de tios, avós, babás e escolas em tempo integral. O advento da tecnologia da informação acelerou nossa percepção do tempo e mesmo dos brinquedos infantis que hoje exigem a presença da tecnologia, da inovação, do moderno. Portanto, surgiram novos arranjos familiares, com o divórcio e o recasamento, além dos casais homoafetivos e famílias monoparentais. Apesar de tantas transformações, a família permanece sendo o agende fundamental para a manutenção da subjetividade, a formação e o desenvolvimento de sujeitos conscientes e autônomos (CERVENY, 2007, p. 34). Vocabulário Casais Homoafetivos - São casais formados por pessoas do mesmo sexo. Famílias Monoparentais - Famílias que, por algum motivo, tem um único provedor, formado somente pela mãe ou então, somente pelo pai. Como abordado nesta aula, a Psicopedagogia dedica-se ao ser que aprende, ser este que é um ser de múltiplas e constantes relações. Por isso, é fundamental o psicopedagogo considerar, em sua prática, o contexto familiar em que o aprendiz está inserido. Parolin (2005, p. 34) traz uma contribuição interessante quando diz que “faz parte das nossas investigações, como psicopedagogos, conhecer e desvelar qual é a posição do aprendiz em sua família, em sua escola e em seu contexto social”. Ou seja, a análise da interação entre os membros da família diz muito sobre como circula o conhecimento e como se dá a aprendizagem naquele contexto. O olhar do psicopedagogo, seja no âmbito clínico ou institucional, precisa contemplar as relações e articulações que ocorrem entre a família e a aprendizagem. 21 A psicopedagoga argentinaAlícia Fernández (1991) diz, inclusive, que a forma como o sujeito aprende é produto das experiências de aprendizagem dele, em interação com seu grupo familiar. Assim, entender a dinâmica familiar do sujeito que aprende, a forma como lida com seus progressos e suas adversidades, compreender quais os papéis e funções que ele assume em sua família, conhecer os padrões interacionais e as fronteiras que o delimitam e compreender em que momento do ciclo de vida está inserido, revela para você, enquanto profissional, evidências importantes de como esse sujeito funciona, como compreende o mundo, como interage com ele e como aprende. O olhar do psicopedagogo, seja no âmbito clínico ou institucional, precisa contemplar as relações e articulações que ocorrem entre a família e a aprendizagem. Atividade de Aprendizagem Observando as alterações dos modelos familiares, muito frequentes na atualidade, que consequências podem ser percebidas nos integrantes infanto-juvenis dessa família, e que cuidado o psicopedagogo precisa tomar ao lidar com esse paciente ou essa situação? Resumo da Aula Na aula de hoje você, aluno (a), pôde ver que a família é um sistema, um sistema interacional, que integra e vai além de seus membros isoladamente. Foi possível compreender ainda que a família é um sistema ativo em constante transformação. A mudança nas funções de um dos membros da família acarreta modificações nas funções de todos os demais membros, caracterizando o desenvolvimento individual daquele integrante, e também a reorganização contínua do sistema familiar, em seu ciclo de vida. 22 Por essa razão, é preciso que o psicopedagogo tenha clareza ao trabalhar com o aprendiz considerando, em suas práticas, as mudanças e transformações que ele, o aluno passa e compreender seu contexto familiar para atendê-lo em suas necessidades. Aula 3 - A relação e as contribuições da família, instituição e sociedade dentro do processo psicopedagógico Apresentação da Aula Até a aula anterior foi estudado como o indivíduo é um sistema que se relaciona com outros sistemas por toda a sua vida, dos quais depende e para os quais ele também é fundamental. Nesta aula será apresentada a abordagem psicopedagógica institucional e como ela repercute na sociedade, mostrando que a função do psicopedagogo pode ser não somente a lida com o aluno com necessidades educacionais especiais, mas também incentivar as pessoas e renovar nelas o desejo pelo aprendizado. 3. A RELAÇÃO E AS CONTRIBUIÇÕES DA FAMÍLIA, INSTITUIÇÃO E SOCIEDADE DENTRO DO PROCESSO PSICOPEDAGÓGICO Quando se refere a questões de instituições é preciso considerar a pessoa como um ser contextualizado. É ter uma postura de respeito frente ao outro, reconhecendo e valorizando o percurso que ele traçou até ali, e isso é muito importante ao se relacionar com os professores que, muitas vezes, se sentem desvalorizados, cansados e alguns até frustrados. Assim, é de muita importância para o psicopedagogo pensar no tato e na sensibilidade que é preciso ter ao lidar, não somente com o aprendiz, mas com todas as pessoas que estão envolvidas no processo de aprendizagem, em especial aqueles com que o profissional está preocupado. 23 Para Refletir A família é um sistema aberto, composto por diversos subsistemas como já visto, e que possui algumas propriedades fundamentais, no intuito de manter a sua continuidade. Dadas essas características, reflita sobre a dualidade das ideias de continuidade da família, quando há o desenvolvimento de seus integrantes para a formação de núcleos familiares novos, o que isso pode impactar nos outros membros da família? Nesta aula será explorado um pouco mais sobre outros sistemas, onde o indivíduo também está incluído e interage com o meio e que, na realidade, compõem a sociedade da maneira como ela é conhecida, instituições como sistema com o qual o ser que aprende interage. Antes de introduzir o estudo da instituição, é necessário lembrar que, ao falar da psicopedagogia dentro da instituição, não se refere a outra psicopedagogia, mas sim à mesma atuando num outro contexto e, por isso, apresentando particularidades que são próprias àquela instituição, “o que não impede de relacionar seu conteúdo aos indivíduos, aos grupos, à comunidade e à cultura que fazem parte do contexto de uma instituição” (BARBOSA, 2001, p. 104). Para Refletir A Psicopedagogia então está focada em como o sujeito aprende, buscando otimizar seu processo de aprendizagem; assim, é possível perguntar: Nós aprendemos somente na escola? Onde mais aprendizagem pode acontecer? E de que maneira? Enfatiza se que, assim como há aprendizagem em outros contextos, a psicopedagogia se estende também a eles. Assim, o objetivo da psicopedagogia é atuar dentro da instituição sem restringir-se ao ambiente escolar, ou seja, abordar o meio empresarial, as ONGs (Organizações não Governamentais), o terceiro setor e assim por diante. O conhecimento é uma produção que se dá simultaneamente com o processo de vida: enquanto se vive, o aprendizado é uma constante. Mesmo as 24 pessoas que nunca frequentaram uma instituição de ensino regular, formal, possuem uma vasta gama de conhecimentos que lhes permite compreender a realidade, relacionar-se com o outro, trabalhar e exercer uma vida produtiva e autônoma. Aprende-se na escola, com a família, observando o exemplo e a história de vida de outras pessoas logo ao ouvir, tentar, acertar e errar. O ser humano realiza diariamente esse movimento, em casa, no serviço, com os amigos ou mesmo sozinho, lendo um livro, por exemplo. Assim, o conhecimento se processa onde o sujeito está inserido: na escola, na empresa, na igreja, no clube, no hospital. Toda a instituição é formada por um grupo de pessoas e dessa forma pode ser compreendida como um grupo que aprende, sendo campo de interesse, portanto, da psicopedagogia institucional. Importante As instituições funcionam também como sistemas. Assim como o sistema da família, o sistema institucional também atua com uma “personalidade” própria, um jeito de ser que não é o jeito de cada membro isoladamente, mas que caracteriza a instituição como um todo. Voltando-nos às instituições, Bleger (1998) chama essa personalidade de sincretismo, o qual torna cada grupo particular, diferenciado dos demais. É o jeito de funcionar da instituição, que acontece somente ali, naquele lugar e com a presença daquele grupo de pessoas. A despeito disso, é importante lembrar que, dentro da instituição, cada um traz a sua própria bagagem de vida, sua visão de mundo, sua forma de aprender, de pensar e de compreender. “É o resultado de todas as interações realizadas na vida, até ali. É como se cada um carregasse dentro de si um grupo interno” (BARBOSA, 2006 p. 78). Isso porque tudo o que uma pessoa é reflete nas suas ações e atitudes, com contribuições de cada pessoa com quem ela conviveu, de cada lugar onde habitou, e assim por diante. Assim, por exemplo, há o caso de um aprendiz de 9 anos de idade e que ainda não se encontrava alfabetizado. A medida que o 25 pedagogo o conhece, ele pôde descobrir no aprendiz, um pouco da mãe que trabalha fora o dia inteiro (de quem ele copia a expressão “tempo é dinheiro”), do pai que desvaloriza a educação formal (e diz para o aprendiz que “hoje em dia nem quem tem estudo ganha bem”), da madrinha que veio de outra região do país para morar com a família e cuidar dele (de quem ele curiosamente pegou o sotaque). Ao continuar acompanhando, será perceptível quantos outros elementos são características desse aprendiz que ele “herdou” das relações que estabelece com as outras pessoas, situações e contextos. É a isso que Laura Monte Serrat Barbosa (2006) se refere quando menciona o “grupo interno”: a essa infinidade dereferências que cada um carrega dentro de si, como se fosse um verdadeiro grupo. O psicopedagogo dentro da sua realidade institucional precisa estar atento à estrutura e ao funcionamento da mesma, para visualizar o contexto ecológico de seu cliente (o aprendiz). Entender como os diferentes sistemas se relacionam e se entrelaçam é fundamental para compreender como se dá a aprendizagem naquele contexto, ou qual a origem da dificuldade em aprender ali. O psicopedagogo não precisa e não deve restringir-se à instituição escolar, pois há desvios e dificuldades no processo de aprendizagem em qualquer instituição, e quando o psicopedagogo não é chamado a intervir diretamente sobre um problema já identificado, há a oportunidade de exercer um trabalho de caráter preventivo, minimizando a ocorrência de maiores dificuldades nessa instituição. Sabendo que é papel do psicopedagogo atender as dificuldades e otimizar o processo de aprendizagem, de forma que, dentro de uma instituição, cabe à psicopedagogia, inicialmente, compreender as diversas relações humanas que se dão ali, considerando que a instituição é, por si mesma, uma rede de relações entre sistemas (considerando cada integrante da instituição como um sistema). Logo, quando se atua em um hospital, por exemplo, cabe ao psicopedagogo levar em conta a crise no ciclo vital do indivíduo (situação de perda, doença) e a mudança de ambiente (afastamento da família e demais atividades, devido ao internamento). Considerando, sobretudo, o bem-estar de seu cliente, o psicopedagogo deve auxiliá-lo na compreensão e no enfrentamento desse momento crítico (ajudando inclusive a tomar consciência das características da própria doença, quando necessário), minimizando consequências emocionais negativas e 26 valorizando a motivação e a manutenção do vínculo com o processo de aprendizagem, visando o desenvolvimento global do sujeito que aprende. Essa, em geral, não é uma tarefa fácil, principalmente quando se refere a crianças. Ao realizar atividades psicopedagógicas junto a um hospital infantil pode- se considerar que o lado emocional do profissional é bastante exigido. É possível encontrar crianças internadas a um tempo significativo que, a despeito das dificuldades, continuam acompanhando o ano letivo, estudando no próprio hospital, recebendo o auxílio não somente dos conteúdos específicos do currículo, mas também sendo amparadas para manter o interesse e a motivação para o aprendizado, ainda que numa situação adversa. Na situação de atendimento a um hospital, o psicopedagogo pode e deve apoiar o aprendiz junto aos conteúdos curriculares, mas, além disso, ele precisa contribuir para a aprendizagem da nova situação que está vivenciando: aprender sobre sua própria condição, suas limitações e possibilidades, auxiliar a família a também compreender com clareza a situação que estão vivenciando. Junto à equipe de saúde (enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, assistentes sociais e até mesmo as auxiliares que diariamente entregam as refeições e cuidam da limpeza de cada quarto), cabe contribuir para o entendimento da dinâmica daquela pessoa, de seu histórico de vida e seu contexto familiar. Em toda situação nova ocorre aprendizagem e, nesse sentido, o hospital se torna um lugar de inúmeras experiências novas e desafiadoras, às quais o psicopedagogo pode contribuir. No contexto empresarial o psicopedagogo pode contribuir para a melhoria das relações entre os funcionários, otimizando processos de treinamento e fomentando a criatividade e a gestão de novas ideias que corroborem para a melhoria do ambiente da empresa. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para conhecer mais sobre a atuação deste profissional no campo institucional, recomenda-se a leitura do artigo Psicopedagogia Institucional Aplicada (2013), do Portal Educação. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/53279/psico pedagogia-institucional-aplicada 27 Ainda assim é possível que o profissional tenha o foco voltado para auxiliar na elaboração, no desenvolvimento e na avaliação de projetos e, obviamente, contribuir quando surgirem entraves que dificultem ou imobilizem a empresa, “engessando-a”. Tudo aquilo que promova, ou, por outro lado, impeça o processo de crescimento e de aprendizagem interessa a atuação da psicopedagogia. No contexto empresarial, por exemplo, uma liderança muito rígida que não permita a expressão de ideias e sugestões, pode inibir os colaboradores, de forma a, até mesmo, prejudicar todo o desempenho do grupo. Assim, aprender a lidar com opiniões distintas (no caso deste líder) e aprender a expressar-se de forma positiva (para os colaboradores) deve ser um grande projeto, onde o psicopedagogo terá uma atuação desafiadora e estimulante. A escola é também uma instituição, no entanto se diferencia das demais por participar, assim como a família, do processo de desenvolvimento como uma matriz de formação (POLITY, 2004). A família, como já mencionado na aula passada, também é a instituição que insere o sujeito na sociedade, apresentando-o à convivência social. Como cita Parolin (2005), aprender é integrar-se ao contexto social, enriquecendo-o com sua presença e suas contribuições. Assim, toda instituição pode ser foco de trabalho psicopedagógico, pois em todo novo ambiente em que o sujeito se insere, precisa se adaptar para poder integrá-lo, ao mesmo tempo em que contribui com suas próprias experiências e conhecimentos, gerando crescimento para todos. Dentro de uma empresa, por exemplo, quando um colaborador é admitido, precisa integrar-se à equipe já existente, adaptando-se às novas tarefas que deve executar. O psicopedagogo, nesse caso, pode auxiliar na aquisição dessa nova aprendizagem, facilitando o processo de integração do colaborador à empresa. Dentro de qualquer instituição, seja ela a escola, um hospital, empresa, etc., a presença da família continua se fazendo notar, através das ‘marcas’ que imprime no indivíduo que se encontra nos mais diversos contextos. Lembrando a citação que já foi abordada anteriormente, da psicopedagoga Laura Monte Serrat Barbosa (2006), o indivíduo carrega um grupo dentro de si, em qualquer lugar ou situação, ele vai manifestar as suas impressões, seus valores, suas experiências, seu modo de compreender a vida – e em cada um desses detalhes, é possível 28 ver a ‘assinatura’ de sua família, as impressões que seu sistema familiar deixou nele. O olhar sistêmico traz uma importante contribuição à prática Psicopedagógica, pois ajuda a compreender o ser humano em seus contextos (familiar, escolar, organizacional, hospitalar, etc.). Nessa compreensão, pode-se entender a família como um subsistema inserido nos demais sistemas, agindo em cooperação e reciprocidade com os mesmos. A família e a instituição devem permanecer atentas e conectadas; no caso da instituição escolar, por exemplo, assim como a família depende da escola para a mediação e instrução formal a seus filhos, também a escola não pode cumprir o seu papel sem os alunos (LUCHESE, 2009). Assim, família e escola assumem sistemas que atuam (ou deveriam atuar) em parceria, assumindo tarefas complementares. Conforme cita Parolin (2005, p. 34), “faz parte das nossas investigações, como psicopedagogos, conhecer e desvelar qual é a posição do aprendiz em sua família, em sua escola e em seu contexto social”, ou seja, pesquisar e compreender a realidade integral vivida pelo aprendiz. Para realizar essa investigação, a Psicopedagogia se utiliza de seu caráter multidisciplinar, buscando outras áreas do conhecimento que contemplem ou possam melhor explicar a natureza e o funcionamento da facilidade e da dificuldade de aprendizagem; por exemplo, a linguística ajuda a explicar o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, já os conhecimentosneurológicos ajudam a identificar disfunções que podem dificultar o processo de aprendizagem e uma aproximação com a psicologia facilita o entendimento de como funciona e repercute no sujeito o seu próprio sistema familiar. Importante A Psicopedagogia pode assumir, no âmbito escolar, o caráter preventivo e também de intervenção. No aspecto preventivo, o psicopedagogo pode identificar possíveis desvios no processo de aprendizagem, favorecer a integração dos indivíduos com e na escola e promover orientações metodológicas, conforme as características individuais e do grupo. 29 Numa intervenção propriamente dita, a Psicopedagogia pode contribuir na elaboração de planos e projetos, trazendo à reflexão o papel da escola frente à própria aprendizagem e suas dificuldades, considerando as necessidades e especificidades de cada aprendiz. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA É recomendada a leitura do artigo: Psicopedagogia e ensino superior: o múltiplo e as possibilidades de aprender e ensinar (2010), da pesquisadora Paula Amaral Faria. Neste artigo é possível verificar as relações presentes na psicopedagogia quando aplicada ao ensino superior. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141 5-69542010000100008 Ao participar da rotina escolar, o psicopedagogo pode interagir com a comunidade esclarecendo dúvidas, desfazendo mitos da família, acompanhando a relação professor-aluno e acompanhando o desenvolvimento do aprendiz em seu processo de aprendizagem. Importante Aproximar-se da escola para compreender seu funcionamento é importante. No entanto, o mais importante é entender como a família daquele aprendiz, com suas nuances, se relaciona com aquela escola. O que interessa para a psicopedagogia é a forma como o sujeito estabelece relação com a escola e vice-versa. Resumo da Aula Dentro de qualquer instituição em que esteja inserida, a psicopedagogia contribui, a partir de uma visão ecológica e contextualizada do ser que aprende, para que a aprendizagem de fato ocorra, mas não somente isso: mais do que construir a aprendizagem, ela tem compromisso em restaurar o prazer de aprender, em fazer com que o aprendiz se interesse e sinta alegria em buscar o conhecimento. 30 Assim, cabe ao profissional auxiliar o aprendiz a reconhecer o seu estilo de aprendizagem, identificar seus pontos fortes e vulneráveis, relacionar as diferentes áreas do conhecimento entre si e com sua própria história de vida. Aula 4 - Família, Sociedade, Instituição e a Psicopedagogia Apresentação da Aula Esta aula apresentará a importância da atuação do psicopedagogo, nos diversos contextos: familiar, institucional e social. Com a possibilidade de intervenção nos processos pedagógicos quando existe uma queixa, da família, professor ou do próprio aluno, e prevenção de dificuldades com atuação psicopedagógica voltada para evitar os problemas de aprendizagem. Importante É importante lembrar que o trabalho do psicopedagogo se inicia a partir de uma queixa: um sintoma que aflora, onde o psicopedagogo é convidado a “resolver o problema”. O sintoma é a expressão de que algo não vai bem. Ou seja, é a manifestação de uma situação patológica (SAMPAIO, 2011). Independentemente da ordem do sintoma, que não é o foco nesse momento, vale dedicar uma atenção à posição que o psicopedagogo assume frente a ele. Um detalhe para se pensar é: nem sempre o psicopedagogo precisa ter a explicação dada pela instituição como certeza absoluta. Como explica Barbosa (2001, p. 137), “a observação do sintoma exige um pensamento sistêmico”, em que “o sintoma será visto como o emergente do funcionamento da instituição como um todo”. 31 Para Refletir A família é um sistema, aberto, composto por diversos elementos. Portanto, ele é a parte manifesta, aparente, de um todo que é bem mais complexo do que o revelado. Dessa maneira, para ficar mais clara essa situação, pense um pouco no iceberg. O que é possível visualizar? No topo do iceberg com certeza é possível significá-lo como a queixa para o psicopedagogo; e o que está embaixo são as questões que o profissional precisa investigar para alcançá-las. Após a sua compreensão do sintoma, é preciso levar em conta a complexidade tanto do sujeito como do ambiente através da contextualização, bem como a complexidade da relação entre eles, para que se tenha uma visão mais clara e fidedigna da real natureza da dificuldade de aprendizagem que ali está revelada. Independentemente do local onde o psicopedagogo seja convidado a atuar, é necessário lembrar que o aprendiz é um sujeito inteiro em seus aspectos biológicos, cognitivos, afetivos e sociais (BARBOSA, 2002). Ele não é só o problema e/ou dificuldade. Fonte: Elaborado pelo DI (2016). Quando Barbosa (2002), considerada referência no meio psicopedagógico, cita os aspectos biológicos, cognitivos, afetivos e sociais, torna-se relevante pontuar que a considerações desses aspectos significa contemplar as dimensões integrantes de cada sujeito existente; e que independentemente da situação 32 social, tanto dele como de sua família, elas devem ser analisadas presença de cada uma nas atitudes do aprendiz, ou seja, daquele que tem a possibilidade de chegar na clínica e/ou esteja sob a observação psicopedagógica institucional. Para Refletir Muitas vezes se presencia situações em que os colegas se manifestam referindo a seus pacientes/alunos como “o hiperativo”, “a Asperger”, “o disléxico da turma da manhã”. O que você pensa sobre isso dentro da sua formação e futura atuação como psicopedagogo? Como futuros psicopedagogos e profissionais, não é possível pensar ou reduzir o sujeito somente a isso, às condições que afligem o paciente/aluno, pois dessa maneira, é como se naquela figura, o profissional observasse somente para uma bolinha no alto do topo do iceberg. No entanto, é preciso considerar que o aprendiz é muito mais que isso, e por essa razão esse aspecto não pode ser o discurso do psicopedagogo. Mas é importante exercitar o pensamento e a visão e se acostumar a pensar diferente daquilo que muitas vezes você foi acostumado a enxergar, dentro de uma visão linear. Na verdade, não adianta tentar aplicar o discurso somente na hora em que estiver atendendo na clínica, ou no momento de atuação na instituição; é preciso, primeiramente, olhar imparcialmente, para que se possa entender e realmente ver o aluno, o paciente, como uma pessoa total em suas dimensões. A atuação do psicopedagogo dentro da instituição escolar é a mais comum de se imaginar, por ser o ambiente onde esse profissional se encontra com mais frequência. Dentro da escola, o aprendiz é chamado a assumir o papel de aluno, devendo atingir uma série de objetivos, elencados por seus professores, num determinado período de tempo – o bimestre, ou o ano letivo. Com isso em mente, serão mostrados a seguir a alguns exemplos de intervenção psicopedagógica nas diferentes instituições, para esclarecer melhor o assunto facilitando o aprendizado, de forma que as queixas mais comuns são que os alunos: 33 Fonte: Elaborado pelo DI (2016). Imagens disponíveis em: http://www.melhoramiga.com.br/wp-content/uploads/2012/03/crianca-violenta.jpg http://www.superaprendizado.com/wp-content/uploads/2014/05/Learning-Disable-300x175.jpg http://www.sorriacomocrianca.com.br/wp-content/uploads/2012/12/Crianca-distraida-na-escola.jpg Para Refletir O que se pode considerar é que isso não é apenas uma forma de falar, uma teoria em voga ou algo parecido, mas é uma forma de compreender a realidade, e de tratar o que a escola traz através do diálogo, de maneira a auxiliá-la. Portanto, o psicopedagogo tem a oportunidade de perceber que seria possível traçar uma lista de queixas e reclamações que a escolaapontou, entretanto, o seu objetivo como profissional é ir além desse levantamento e refletir: O que fazer com essas queixas? Como frisado até o momento, é importante inicialmente situar o todo, porque muitas vezes, na prática, é difícil, pois o professor já está cansado, nervoso, pressionado por parte da própria instituição em que o psicopedagogo está atuando. Alguns profissionais sofrem muita pressão das escolas porque para a escola, o psicopedagogo tem a solução imediata para o aluno e que sanará a dificuldade dele da noite para o dia. http://www.melhoramiga.com.br/wp-content/uploads/2012/03/crianca-violenta.jpg http://www.superaprendizado.com/wp-content/uploads/2014/05/Learning-Disable-300x175.jpg http://www.sorriacomocrianca.com.br/wp-content/uploads/2012/12/Crianca-distraida-na-escola.jpg 34 Converse Com Seus Colegas Será que é isso mesmo que a escola pensa? Que o problema é do aluno e que é ele (e somente ele) que deve mudar? Quando se percebe a importância da formação continuada do profissional, sem levar em consideração a área de atuação, é possível compreender a responsabilidade depositada em cada um, pois o processo de intervenção acontece somente com a orientação psicopedagógica. Ou seja, não seria correto dizer que apenas o aluno precisa mudar diariamente, a mudança deve acontecer em ambos os lados. Dentro da perspectiva da formação continuada, veja alguns aspectos que são trabalhados: Fonte: http://www.grupoa.com.br/livros/formacao-docente/formacao-continuada-de- professores/9788536319865 Diante de todas as informações visualizadas acima, é visível a importância do espaço a ser dado ao professor, assim como voz (ou para aquele que traz a queixa) para que ele possa falar, expressar-se, sem ser criticado ou corrigido no primeiro momento. Após esse primeiro momento, há possibilidade de expressão clara do professor (mesmo que isso inclua choro ou raiva), assim como o processo de conhecer além do sintoma manifesto, os subsistemas que estão ali em relação. 35 Dessa maneira, por mais que muitas vezes, se ouçam frases como “esse não adianta mais”, “não tem jeito”, vale lembrar que, se o professor trouxe o caso até o psicopedagogo é porque, de alguma forma, ele mesmo acredita que é possível mudança no processo. Importante Quando o professor formula rótulos para determinados alunos pode ocasionar certa definição do processo cognitivo do aprendiz. No entanto, essa não é a atitude que se espera dos professores, muito pelo contrário, pois a atribuição desse profissional não é apontar ou rotular as dificuldades do aluno, mas apresentar estratégias diferenciadas para que esse determinado sujeito possa aprender de maneira satisfatória Entender o contexto das relações envolvido no ato de aprender é compreender que todos os que ali estão inseridos e se relacionando, sofrem com aquele determinado sintoma e são, de alguma forma, corresponsáveis por ele. Contudo, isso não precisa ser dito dessa maneira ao professor, que muitas vezes, pode se sentir ofendido ou até sentir-se desestimulado a buscar auxílio. Na verdade, ao refletir um pouco, desde esse primeiro momento de escuta, é preciso deixar claro a concepção na qual se embasa o trabalho (e só será possível fazer isso com convicção se realmente você acreditar nisso, como foi falado há pouco). Por esse motivo, é necessário mostrar ao professor que o aluno não é da maneira que é simplesmente “porque quer”, mas ele é produto do que escolheu, junto com o que aprendeu, das pessoas com quem conviveu e convive dentro do ambiente em que está. Por sua vez, o professor também vem de uma família, com determinada formação, ou seja, tem uma forma de enxergar o mundo. Atualmente, por força de sua profissão, está em contato com alunos vindos de uma visão e pensamento diferenciado. Por essa razão, foram tratados anteriormente os contextos que envolvem os atores do processo de ensino-aprendizagem, no qual foi possível mostrar que mesmo que somente o professor decidir investir na mudança o resultado será alcançado, inclusive numa situação em que o aluno se negue a receber qualquer tipo de auxílio. 36 A reflexão acima é para mostrar que levar esse entendimento adiante pode não ser um processo fácil, por esbarrar nas crenças e preconceitos que a pessoa carrega consigo previamente. Além disso, é necessário lidar com a frustração novamente, pois é considerado que o ser humano vai se modificando aos poucos, uma vez que não há uma solução instantânea. Inclusive, o foco do psicopedagogo como profissional não pode ser em simplesmente abafar ou eliminar o sintoma, há coisas mais profundas atrás dele, e negligenciar esses sinais é manter o problema atuante ou até torná-lo ainda maior. A dimensão afetiva é um fator bastante discutido tanto para a prática pedagógica do professor como para a aprendizagem do aluno em sala de aula ao considerar esse sujeito pela sua unicidade, pois dentro da concepção de sistema não existe um meio de separar o docente e o aprendiz das suas vivências, sejam alegres ou tristes, com problemas ou não.... Eles são os mesmos em todos os momentos. O olhar psicopedagógico, como nos diz Barbosa (2002, p. 23), deve ser “um olhar que tem a intenção de perceber um sujeito que aprende, de forma inteira, em relação com os outros sujeitos, com a cultura, com a história, com os objetos de aprendizagem e com as normas estabelecidas no contexto em que vive”. Enquanto psicopedagogos, esse trabalho de conscientização pode ser o mais lento e quem sabe, também o mais difícil, porém indispensável para a sua intervenção efetiva e duradoura. Sendo assim, a partir do momento em que se desenvolve essa consciência no professor atuante dentro da sua realidade, muitos outros problemas podem ser evitados e minimizados. A prática psicopedagógica dentro do contexto hospitalar não é diferente, é preciso ter o mesmo entendimento. No entanto, a demanda aqui é bem diversa: faz-se referência agora ao sujeito que se depara com obstáculos que impedem ou dificultam seu processo de aprendizagem, diferentemente do ambiente escolar, ao qual a criança em geral se adapta, pois, “todos devem ir para a escola”. Porém, a realidade hospitalar é o ambiente onde “ninguém gostaria de estar”. Assim, há uma extensa gama de sentimentos com os quais é preciso lidar: angústia, tristeza, perplexidade (ante a doença ou acidente), revolta, medo. Ainda que o sujeito, por exemplo, esteja recebendo um bom acompanhamento pedagógico, para que ele continue as atividades letivas dentro do hospital, todos esses aspectos pesam em seu processo de aprendizagem. Isso porque, até 37 agora, não foi abordado o ponto principal do estresse que faz parte do ambiente hospitalar: a dor, o incômodo e as limitações ocasionadas pela doença/acidente e/ou processos cirúrgicos ou não. É possível considerar e somar a tudo isso, o afastamento de seu ambiente familiar, ao qual está acostumado, muitas vezes, recebendo apenas a visita da família algumas horas por dia, a adaptação ao quarto e aos colegas de quarto, a readaptação quando é transferido de quarto, a realidade de lidar diariamente com pessoas e situações que desconhece, numa rotina completamente diferente (por exemplo, o horário, conteúdo e formato das refeições). São tantas as situações, que exigem do sujeito e de toda a família uma nova aprendizagem. O que era dito há pouco, sobre a compreensão do contexto ecológico, se aplica (e com urgência) nessa situação. Os pais e o sistema familiar, também precisam aprender a lidar com a situação; pois ao vivenciar essa prática é possível encontrar famílias que na verdade não conseguem nem dizer o que o filho tem, porque embora tenham recebido as informações da equipe médica, não compreendem a situação – e isso não apenas pela falta de instrução formal, maspelo fato do choque, do abalo emocional provocado pela situação de internamento. Cabe ao psicopedagogo, então, se abrir para escutar e auxiliar a família nessa nova aprendizagem. Assim, seja com o próprio paciente ou com sua família é função do psicopedagogo promover a construção de uma aprendizagem significativa e reestabelecer os laços de interação entre ela e o conhecimento, pois “a aprendizagem é um processo tão amplo e grandioso que ocorre através de interações, em qualquer lugar” (BEYER, 2003). Na instituição organizacional (seja ela uma fábrica, uma empresa, um escritório, uma ONG, etc.), segue-se o fluxo com o mesmo olhar, porém o foco direciona-se à otimização do conhecimento de cada membro do sistema (cada colaborador), de forma que se somem e que possam criar um ambiente de cooperação e sucesso. Assim, as organizações se constituem em espaços de processos de aprendizagem efetivos, onde é importante compreender a maneira pela qual as pessoas constroem o saber individualmente e em grupo, e como utilizam esses conhecimentos para solucionar problemas do cotidiano da organização (BEYER, 2003). 38 As empresas buscam formas de aumentar sua eficiência, otimizando os recursos e potenciais de cada colaborador. Assim, conhecer a cultura e o clima organizacional da empresa só é possível se forem consideradas as potencialidades e limitações de cada um de seus integrantes, entendendo que naquela organização, todos possuem um objetivo comum – a meta da empresa (por exemplo, vender um produto, prestar um serviço ou fabricar peças necessárias a outro setor). Muito embora a inserção nas empresas ainda seja bastante restrita no cotidiano do psicopedagogo, sua atuação tende a expandir-se cada vez mais, visto que a Psicopedagogia volta a sua atenção à aprendizagem, e cada vez mais as organizações buscam por formas de aproveitar, ampliar e otimizar o conhecimento humano como diferenciais na criação, produção e manutenção de seus sistemas, uma vez que em qualquer instituição em que pessoas atuem, ocorre a aprendizagem Dentro desse universo, o psicopedagogo pode atuar sobre um sintoma específico (a baixa produtividade de um setor, a falta de engajamento dos colaboradores às metas propostas pela empresa, a alta rotatividade de profissionais, a comunicação disfuncional entre gerentes e colaboradores, por exemplo), como também trabalhar preventivamente, facilitando novas formas de relacionar e interagir entre os colaboradores, propiciando a construção e o compartilhamento dos conhecimentos. Pode auxiliar no processo de diagnóstico institucional, identificando forças e pontos a desenvolver dentro da organização. Pode colaborar com os processos de treinamento e atualização, através da identificação dos estilos de aprendizagem dos colaboradores e dos conhecimentos que se fazem necessários em cada setor ou função, por exemplo. Como estudado até o momento, tudo o que envolve a aquisição do conhecimento e a aprendizagem humana é objeto de interesse da Psicopedagogia; seja na clínica ou dentro de qualquer instituição, ela permanece desenvolvendo o mesmo olhar - crítico e ecológico - para o ambiente e procura entender como ocorre o aprender naquele contexto. Embora cada tipo de instituição possua suas particularidades, é possível visualizar que a Psicopedagogia é a mesma, com o mesmo foco, linha de pensamento e ação, em qualquer contexto que se encontre. 39 Como cita Barbosa (2006, p. 137): “ora, a Psicopedagogia que fundamenta a ação que acontece no âmbito individual não é diferente daquela que fundamenta o trabalho do psicopedagogo numa instituição, por exemplo”. O que se frisa é que a divisão entre Psicopedagogia Clínica e Psicopedagogia Institucional é meramente didática; na prática, dividi-la seria negar a relação tão íntima entre elas, uma vez que que cada parte se relaciona com um todo maior e que esse todo está presente e atuante em qualquer de suas partes. É perceptível como todos os tópicos trazidos nesta disciplina vêm se encaixando, permitindo construir um entendimento da Psicopedagogia como uma área que se articula com as demais áreas do conhecimento, que dialoga com todas as facetas onde se encontra a aprendizagem. E é isso mesmo o que se pretende; por exemplo, quando se aprende a desenvolver uma leitura sistêmica, percebe-se que não se trata de um assunto tão teórico ou distante de sua prática, mas pelo contrário, uma compreensão ecológica mostra que ideias simples, criativas e às vezes inesperadas podem fornecer respostas inusitadas e eficientes para muitas situações problemáticas (CURONICI; MCCULLOCH, 1999). Apesar da urgência, da pressão, da própria gravidade da situação que você pode visualizar e que parece dispensar qualquer outra interpretação, que se possa sempre utilizar essa visão na vida cotidiana. Portanto, espera-se que o seu olhar seja sempre vivo e atento, que de forma simples revele a complexidade do ser humano, em sua imensa e infindável teia de relacionamentos. Atividade de Aprendizagem Verifique no seu cotidiano possíveis espaços em que um psicopedagogo atuaria significativamente. Resumo da Aula Nessa aula foi apresentada a conexão que une todos os elementos que foram apresentados nas aulas anteriores, e como o psicopedagogo precisa atuar 40 numa abordagem institucional e clínica com ênfase na relação que ambas as atuações têm. Resumo da Disciplina Nesta disciplina foi visto a composição da família, e as diferentes configurações que o sistema familiar assumiu na atualidade e os impactos disso em seus integrantes. Na sequência das aulas, foi dito a respeito da participação na sociedade de cada pessoa que a integra, e como esse sistema é complexo, sendo que, conforme as relações que cada indivíduo possui ele adquire suas características que torna práticas pedagógicas mais eficientes ou não para aquele indivíduo. Foi visto que o discurso sistêmico deve embasar a visão de mundo do psicopedagogo, uma vez que perceber essas nuances individuais e propor abordagens mais adequadas para cada perfil faz parte da incumbência do psicopedagogo, a partir de uma análise mais ampla, com a família do cliente, amigos, professores. Por fim, foram apresentadas as duas formas de atuação psicopedagógica, a clínica e a institucional, que apresentam algumas diferenças para a aplicação de cada uma apesar de serem fruto de um mesmo conhecimento: a Psicopedagogia. 41 REFERÊNCIAS ANDOLFI, M. A terapia Familiar: um enfoque interacional. Lisboa (Portugal): Veja-Universidade, 1997. ANDOLFI, M.; ANGELO, C.; MENGHI, P. e NICOLO-CORIGLIANO, A. M. Por trás da máscara familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. BARBOSA, L.M.S. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. BARBOSA, L.M.S. Psicopedagogia e aprendizagem: coletânea de reflexões. Curitiba: s/ed, 2002. BARBOSA, L.M.S. 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