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eduarda gestao autarquica II

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Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distância 
Análise sobre autarquias locais de Moçambique
Eduarda Marques Barroso – 708184973
Curso: Licenciatura em Administração Pública 
Cadeira: Administração e Gestão Autárquica
Ano de frequência: 3º Ano
Chimoio, Junho de 2020
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Estrutura
	
 Aspectos organizacionais
	· Capa
	0.5
	
	
	
	
	· Índice 
	0.5
	
	
	
	
	· Introdução 
	0.5
	
	
	
	
	· Discussão 
	0.5
	
	
	
	
	· Conclusão 
	0.5
	
	
	
	
	· Bibliografia 
	0.5
	
	
	
Conteúdo
	
Introdução 
	· Contextualização (indicação clara do problema)
	
1.0
	
	
	
	
	· Descrição dos objectivos 
	
1.0
	
	
	
	
	· Metodologia adequada ao objecto do trabalho
	2.0
	
	
	
	
Análise e discussão 
	· Articulação e domínio do discurso académico (expressão escrita cuidada, coerência / coesão textual)
	
2.0
	
	
	
	
	· Revisão bibliográfica nacional e internacionais relevantes na área de estudo 
	
2.0
	
	
	
	
	· Exploração de dados 
	2.0
	
	
	
	Conclusão 
	· Contributos teóricos práticos 
	2.0
	
	
	Aspectos gerais
	Formatação 
	Paginação, tipo e tamanho de letra, parágrafo, espaçamento entre linhas
	
1.0
	
	
	Referências Bibliográficas 
	Normas APA 6ª edição em citações e bibliografia 
	· Rigor e coerência das citações/referências bibliográficas 
	
4.0
	
	
 
Recomendações de melhoria 
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Índice 
1. Introdução	1
1.1. Objectivos do trabalho	1
1.1.1. Objectivo geral	1
1.1.2. Objectivos específicos	1
1.2. Metodologia do trabalho	2
1,3. Contextualização 	2
2. Análise e discussão	3
2.1. Síntese sobre a gestão urbanística pelas autarquias locais	3
2.2. Importância dos instrumentos da gestão das autarquias locais	3
2.3. Pertinência da presença do Estado nas autarquias locais	4
2.4. Vantagens e incovenientes do maior número de municípios – caso da França	5
2.5. Os tipos de organização do sistema municipal alemão	8
2.6. A caracterização do papel dos eleitos e funcionários especializados no sistema de administração da Inglaterra	9
2.7. A caracterização dos tipos de regiões da Itália	11
2.8. Autarquias locais dos E.U.A.	14
2.9. A comparação dos sistemas autárquicos de Portugal e de Moçambique	15
3. Conclusão	18
4. Referências Bibliográficas.	19
 
iii
1. Introdução	
Com a crescente democratização das ex-colónias em África, nos anos 1980-1990, em parte resultante do fim da Guerra Fria, a descentralização e desconcentração da Administração Pública ganham grande dinamismo.
Em 1997, Moçambique aprovou o quadro jurídico das autarquias locais, considerando-as como pessoas colectivas de direito público, com personalidade jurídica, dotados de autonomia administrativa, patrimonial e financeira, sem prejuízo dos interesses nacionais e da participação do Estado.
A Administração Pública moçambicana estrutura-se com base no princípio de descentralização e desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços sem prejuízo da unidade de acção e de poderes e direcção do Governo.
É neste sentido que nos propusemos abordar neste trabalho as autarquias locais de Moçambique, comparando-as com os sistemas de municipalização de alguns países do ocidente, e também a pertinência do poder local nas circunscrições municipais.
Assim o presente trabalho tem como tema A análise sobre as autarquias locais em Moçambique, que se enquadra na cadeira de Administração e Gestão Autárquica do Instituto de Ensino à Distancia, da Universidade Católica de Moçambique, 3° ano do Curso de Administração Pública e constitui o segundo com propósito avaliativo.
O trabalho está estruturado em introdução; análise e discussão cujo conteúdo principal reflexão sobre autarquias locais, precisamente: a gestão urbanística em síntese, importância dos instrumentos de gestão das autarquias locais, a pertinência do poder local nas autarquias locais, a descrição dos sistemas municipais da França, Alemanha, Itália, Inglaterra, E.U.A, e a comparação dos sistemas municipais de Portugal e de Moçambique; conclusão e bibliografia.
1.1. Objectivos do trabalho
1.1.1. Objectivo geral
· Analisar as autarquias locais de Moçambique.
1.1.2. Objectivos específicos
· Sintetizar a gestão urbanística pelas autarquias locais;
· Elucidar sobre a importância dos instrumentos de gestão das autarquias locais;
· Mostrar o papel do Estado nas autarquias locais;
· Descrever os sistemas municipais dos países ocidentais; e
· Comparar os sistemas municipais de Portugal e de Moçambique.
1.2. Metodologia
A fim de assegurar a concretização dos objectivos acima aludidos, a metodologia baseia-se na consulta de referências bibliográficas pertinentes, de documentos e disposições legais relativa a municipalização e presença do Estado nas autarquias locais, além de busca na internet, sobretudo para descrever os sistemas municipais ocidentais.
1.3. Contextualização
A descentralização e desconcentração do poder constituem uma das formas fundamentais que garante a participação efectiva dos cidadãos nos assuntos do seu interesse, consolidando desta forma a democracia.
 A constituição moçambicana de 1990 abriu um panorama político que assegura a participação da população na governação de modo a assegurar a satisfação dos interesses colectivos eficaz e eficientemente, ademais de menor custo e rápido.
A forma mais eficaz da descentralização é a implementação das autarquias locais, facto que criado e garantido em Moçambique pela aprovação da lei n°2/1997 de 18 de Fevereiro, e por consequente foramimplantadas em 1998 as primeiras autarquias.
Portanto, apesar de passarem anos, pertinente é o assunto relativo às autarquias locais, contudo questionamentos e inquietações emergem no quadro da gestão urbanística e a presença do Estado nessas autarquias, além do desejo natural nosso de comparar com modelos ocidentais, que muitas vezes servem de inspiração.
 
2. Análise e discussão
2.1. Síntese sobre a gestão urbanística pelas autarquias locais
Como referimos anteriormente, as autarquias moçambicanas surgem no quadro jurídico através da lei n°2/1997 de 18 de Fevereiro e ela são entes de direito público, de descentralização administrativa, portanto, pessoas colectivas com personalidade jurídica, dotado de território, população e capacidade financeira de modo a garantir a satisfação das necessidades dos munícipes.
Relativamente à gestão urbanística, segundo UCM (s.d., p. 146), autarquias atribuem grande importância assuntos respeitantes ao planeamento e ordenamento dos respectivos territórios porque houve avanços na compreensão de que o desenvolvimento da cidade, da vila e do espaço urbano, bem como de um território e do seu ordenamento físico, que constituem a parte central do desenvolvimento das sociedades.
As disposições legais sobre a gestão autárquica em vigor asseguram maior simplicidade e flexibilidade, determinação de prazos preclusivos para apresentação de pareceres, atribuindo-se ao silêncio, assim, o valor tácito de deferimento dos planos municipais.
Em Moçambique, de sublinhar que o sistema de gestão de terra organiza-se em três âmbitos distinto: nacional (central), local (órgãos locais do Estado) e municipal pelas autarquias locais, respectivamente.
2.2. Importância dos instrumentos de gestão das autarquias locais 
Os instrumentos de gestão territorial têm importância por vincularem as entidades públicas envolvidas nesta matéria e de referir que, os planos municipais de ordenamento do território são ainda mais vinculativos para os particulares ou singulares. Há, também, um conjunto de meios de protecção dos particulares face às decisões urbanísticas, o que bem se compreende em face da sua importância e relevância. 
No país, quanto essa matéria, são reconhecidos aos titulares de direitos e interesses lesados por instrumentos de gestão territorial o direito de promover a respectiva impugnação, o direito de acção popular e o direito de apresentar queixa às entidades competentes, designadamente, o Ministério Público e o Provedor de Justiça. 
De salientar que os planos municipais de ordenamento, os planos de urbanização e os planos de pormenor dos Conselhos Municipais estão sujeitos a prévia apreciação pública e necessitam da ratificação pelo Governo a fim de verificar a sua conformidade com as disposições legais. 
Adianta o nosso autor anteriormente citado, os instrumentos de gestão territorial que vinculam os particulares devem respeitar um período de vigência mínima legalmente definido, durante o qual eventuais alterações terão carácter excepcional.
Em suma, destacar que, os planos municipais de ordenamento elaborados pelos Conselhos Municipais e aprovados pelas Assembleias Municipais respectivas, planos de urbanização e planos de pormenor previamente apreciados e ratificados pelo Governo são os únicos instrumentos válidos para uma gestão urbanística dignamente científica e isenta, como preconiza a legislação.
2.3. A pertinência da presença do Estado nas autarquias locais
O Estado moçambicano encontra-se presente nas autarquias locais através dos órgãos locais do Estado.
De acordo com a legislação em vigor, os órgãos locais do Estado têm a função de representação do Estado ao nível local para a administração do desenvolvimento do respectivo território e contribuem para a unidade e integração nacionais.[footnoteRef:1] [1: Lei n.º 8/2003, de 19 de Maio que estabelece princípios e normas de organização, competência e funcionamento dos órgãos locais do estado, no seu ponto primeiro do artigo segundo.] 
Os órgãos locais do Estado asseguram, no respectivo território, sem prejuízo da autonomia das autarquias locais, a realização de tarefas e programas económicos, sociais e culturais de interesse local e nacional, observando sempre a Constituição, as deliberações da Assembleia da República e as decisões do Conselho de Ministros e dos órgãos do Estado de escalão superior.
A presença dos órgãos locais do Estado nas autarquias locais é tão importante por garantir a articulação dessas autarquias com o Governo central, assegurar a legalidade dos seus actos e promoção da participação activa dos cidadãos e incentivam a iniciativa local na solução dos problemas das comunidades. 
Frisar que na sua actuação, os órgãos locais do Estado respeitam a autonomia, as atribuições e competências das autarquias locais. Os órgãos locais do Estado coordenam os seus planos, programas, projectos e acções com os órgãos das autarquias locais compreendidas no respectivo território, visando a realização harmoniosa das suas atribuições e competências
2.4. As vantagens e inconvenientes de maior número de municípios – caso da França
É nos municípios, nos departamentos e nas regiões que assenta a democracia local francesa, numa estrutura organizativa que teve a sua origem no período subsequente à Revolução Francesa de 1789, nomeadamente no que diz respeito aos municípios e aos departamentos[footnoteRef:2] e na reforma operada em 1982, no que concerne às regiões. Portanto, realçar que as autarquias locais da França são de três níveis territoriais, designadamente, município, região e departamento, como acima referimos. [2: Ainda que estes só adquirissem o estatuto de verdadeiras autarquias locais em 1872.] 
Existem em França 36 778 municípios, um número extraordinariamente superior aos demais países europeus e que resulta de uma lei aprovada pela Assembleia Nacional francesa a 12 de Novembro de 1789. 
Todavia, embora exista grande número de municípios em França, a perspectiva dominante sempre foi a da centralização, sendo exemplo disso a abolição da tutela, em 1982, a tardia constitucionalização do poder local, apenas em 2003, assim como a permanente oscilação entre fases de maior e menor centralização, onde se destaca, no plano da tímida descentralização, a criação da região enquanto autarquia local, com a Lei N.º 82213, de 2 de Março e a intensificação da transferência legal de atribuições a partir de 1983.
Oliveira apud Oliveira (2015, p. 76), o território teve um papel determinante na configuração dos departamentos franceses, no total 96, criados também em 1789, tendo a divisão do território em departamentos.
Em relação às vinte e duas regiões francesas, constituem um fenómeno recente da administração local francesa, tendo sido criadas apenas em 1982, no âmbito da reforma de descentralização institucionalizada pela Lei n.°82-213 de 2 Março de 1982, diploma relativo aos direitos e liberdades das comunidades locais, dos departamentos e das regiões de descentralização, e onde existiu por parte do legislador especial preocupação com a dimensão territorial, tendo em conta, entre outros elementos, os problemas de ordenamento do territorial.
O sistema de democracia local francês tem a sua base essencialmente numa assembleia directamente eleita pelos habitantes e num órgão executivo individual, eleita pela assembleia de entre os seus membros, sendo que o órgão executivo, uma vez eleito, não pode ser destituído, minando desta forma por completo a sua já enfraquecida responsabilidade política perante a assembleia, remata Oliveira (2015, p. 77).
No que diz respeito aos municípios, os eleitores locais elegem em França, por sufrágio universal, directo e secreto, uma assembleia deliberativa, denominado por “conseil municipal”[footnoteRef:3], composto por um número de membros variável em função do número de habitantes que, por sua vez, elege o órgão executivo individual, o “maire”[footnoteRef:4], que para além de fazer parte, tem a responsabilidade de presidir à “assembleia municipal”, introduzindo-se aqui um elemento que perturbauma correcta distinção entre o órgão deliberativo e o órgão executivo. O facto de a assembleia não poder destituir o “Presidente do Conselho Autárquico”, nomeadamente através de moção de censura, tem sido objecto de críticas, existindo teses que defendem não só uma separação clara entre o órgão deliberativo e o executivo assim como a responsabilidade deste perante aquele, através da instituição da moção de censura construtiva. [3: A expressão portuguesa “assembleia municipal” é a que mais de aproxima da francesa “conseil municipal”, mesmo tendo em conta as particularidades da nossa assembleia. A tradução literal “conselho municipal” remeter-nos-ia para um órgão consultivo do município.] [4: Em português, a expressão que melhor traduz “maire” é Presidente da Câmara para realidade portuguesa, no caso moçambicano corresponderia a Presidente do Conselho Autárquico, embora com diferenças, desde logo porque aquele preside à assembleia municipal.] 
Na grande maioria dos municípios franceses, o número de habitantes é inferior a 3.500 habitantes, pelo que os membros da “assembleia municipal” são eleitos por escrutínio maioritário plurinominal, com recurso a uma segunda volta, se necessário.
Por outro lado, os municípios têm um órgão executivo individual que é eleito pela “assembleia municipal”, pelo período de seis anos, com a possibilidade de ser reeleito.[footnoteRef:5] No entanto, uma vez eleito o “ Presidente do Conselho Autárquico”, este não pode ser depois por ela destituído, cabendo-lhe, enquanto representante do município, executar as deliberações da “assembleia municipal”, assim como ser o responsável pelo pessoal e pela organização dos serviços municipais. [5: Uma vez que em França não existe qualquer limite legal quanto à reeleição do mesmo titular do cargo político para vários mandatos, como sucede em Portugal com a Lei nº 46/2005, de 29 de Agosto e também em Moçambique, com Lei n°2/1997 de 18 de Fevereiro.] 
O “presidente da câmara” é assistido no exercício das suas funções por “vereadores”[footnoteRef:6], Também eleitos pela assembleia nas mesmas condições que o “presidente da câmara” e que com este formam a “municipalité”. No que toca ao número de vereadores, este é determinado pela assembleia, não podendo ultrapassar 30% do total dos membros desta. Atendendo a que a “municipalité” não tem poderes deliberativos, limitando-se a auxiliar o Presidente do Conselho Autárquico nas suas tarefas, este com poder de decisão, que pode aliás delegar, em parte, nos vereadores, por isso, entende Amaral, que ela não constitui um verdadeiro órgão do município.[footnoteRef:7] [6: Palavra portuguesa que mais se aproxima da original “adjoints”.] [7: Amaral, 2011, p. 75.] 
No departamento, a assembleia deliberativa é o “conseil général”[footnoteRef:8], cujos membros são eleitos na base de uma circunscrição eleitoral que é o cantão, sendo que todos os departamentos franceses estão divididos em circunscrições administrativas denominadas cantões, e cada um destes elege um membro. [8: A tradução que mais se aproxima é a de “assembleia departamental.] 
O presidente da “assembleia departamental”, por sua vez, é eleito, de entre os seus membros, nas mesmas condições em que são eleitos os “maires” pelas assembleias municipais”, sendo o seu mandato é de três anos e renovável.[footnoteRef:9] [9: Esta renovação tem em conta a renovação pela metade da assembleia departamental de 3 em 3 anos.] 
Repare-se que o presidente acumula as funções de órgão executivo com as de presidente da assembleia que o elegeu, tal como sucede com o “maire, ou seja, Presidente do Conselho Autárquico”.
As regiões administrativas receberam mais tarde a sua consagração constitucional, apenas na revisão empreendida em 2003, tendo hoje uma composição que as aproxima do departamento e do município, mas com algumas especificidades, sendo a mais relevante a existência de um órgão consultivo denominado “comité económico e social”. 
Como órgão de natureza deliberativa, as regiões possuem uma assembleia eleita por sufrágio universal directo dos cidadãos pelo sistema de representação proporcional, no quadro dos departamentos que integram a região. Cada região tem por sua vez, vários departamentos e cada departamento elege, de acordo com a sua população, vários membros da assembleia, segundo o sistema proporcional da mais forte média, sendo que as assembleias são eleitas por seis anos, reunindo em regra trimestralmente e deliberam sobre os assuntos da região.
Ademais, tal como sucede nos municípios e nos departamentos, o presidente do órgão executivo da região é eleito pela assembleia de entre os seus membros, sob o nome de “président du conseil regional”.
Portanto, podemos aclarar aqui que com tantas formas de descentralização, nomeadamente, municipal, departamental e municipal, há suas vantagens e inconvenientes. Como vantagens, a maior proximidade ao cidadão, mais participação da população nos assuntos de seu interesse, enorme riqueza de debates e maior comprometimento dos cidadãos para com a coisa pública e por consequente, maior eficácia e eficiência das soluções de preocupações dos cidadãos.
Como inconvenientes, sublinhamos maiores gastos para sustentar uma máquina de descentralização grande, dificuldade de distinção entre o órgão deliberativo e o órgão executivo nos municípios, não há uma separação clara entre o órgão deliberativo e o executivo nos municípios, bem como a falta de responsabilidade do "Presidente do Conselho Autárquico" perante a Assembleia municipal.
2.5. Os tipos de organização do sistema municipal alemão
Antes de mais, enaltecer que a moderna administração municipal surge na Alemanha, dentro do Estado absoluto prussiano de Frederico Guilherme III, assente no Código Municipal Prussiano de 19 de Novembro de 1808, onde se dotavam os municípios urbanos do direito de eleger os seus representantes e de administrar os assuntos locais.
Na sua organização, a Alemanha é hoje um Estado Federal que consagra, na sua Constituição Federal – Lei Fundamental de Bonn de 1949, a autonomia das autarquias locais. O regime das autarquias locais da Alemanha assenta em dois níveis territoriais, a saber, município e distrito, este último um nível mais amplo. 
De acordo com Oliveira (2015, p. 86), a eleição a nível de município do Presidente da Câmara ou de Conselho, querendo equiparar com a nossa realidade, foi uniformizada a partir da reunificação alemã em 1990, em que é universal e directa. Salientar que esta figura pode ser destituída num formato de democracia directa, com votos dos cidadãos.
O distrito é composto por vários municípios, constituindo-se numa autarquia local situada a nível territorial superior aos municípios, dotada de órgãos eleitos próprios, nomeadamente a assembleia.
2.6. A caracterização do papel dos eleitos e funcionários especializados no sistema de administração da Inglaterra
O Reino Unido não tem uma Constituição escrita, portanto, as autarquias locais não o são por direito, contudo foram criadas por estatuto e as suas fronteiras, funções e poderes foram determinadas pelo poder central.
Há dois sistemas paralelos, um binário no qual as funções são divididas entre condados e distritos, cobrindo 47% da população e um sistema unitário em que a autarquia tem a responsabilidade de todas as funções do poder local. Por sua vez há três tipos do sistema unitário: distritos metropolitanos, boroughs de Londres e autoridades unitárias.
Sublinhar que há eleição directa dos presidentes dos municípios, dando a estes a possibilidade de terem um órgão deliberativo mais forte baseado num líder. O objectivo é ter pessoas claramente identificáveis em posições de liderança, quer como parte de um gabinete, quer como presidente ou como cabeça de um conselho executivo.
De referir que o grau de responsabilização é mais claro por não restar qualquer dúvida quanto a quem toma as decisões. No caso dos presidentes eleitos por sufrágio directo, este sistema fortalece o processo representativo ao permitirem directamente na escolha do líderpolítico e ao criar uma forte representatividade legitimada pela eleição directa. Frisar ainda, que este sistema reduz o controlo por parte dos partidos políticos porque os presidentes não precisam do apoio dos seus partidos para permanecerem no período entre eleições.
O modelo de governo com um presidente pode favorecer a democracia local (Kaplan, 1999, p.190 a 201) e a separação de poderes entre um executivo e Conselho Geral fortalece a liderança política (Hambleton, 1998, p.123).
Além das eleições, os municípios desenvolvem técnicas de participação para envolverem os cidadãos que incluem inquéritos e sondagens de opinião, descentralização até ao nível de bairro através da constituição de comissões de área envolvendo comunidades de interesse na tomada de decisões usando métodos como painéis e júris constituídos por cidadãos (Lowndes et al, 2001, p. 215).
Há igualmente parcerias locais estratégicas que constituem um bom exemplo de tentativa de criar uma forma de governação local mais integrada e estratégica no sentido em que elas tentam juntar um amplo leque de parceiros locais para resolverem questões específicas de uma forma estratégica e para propiciar uma única estrutura abrangente no seio da qual outras parcerias locais mais específicas possam operar (DETR, 2000, p. 6).
As parcerias locais estratégicas têm dois importantes papéis, saber, simplificar o sistema cada vez mais complexo e complexo de governação local e desenhar um mapa estratégico das necessidades da cidade assim como o modo de lhes dar respostas.
Ressalvar que os vereadores que não pertencem ao executivo controlam o trabalho, desenvolvem e avaliam políticas e concentram-se no seu papel de representantes de círculo.
2.7. A caracterização dos dois tipos de regiões da Itália
A democracia local em Itália assenta, fundamentalmente, nos municípios e nas províncias. As autarquias locais têm a sua origem em meados do século XIX e são o resultado da expansão das ideias da Revolução Francesa e do centralismo napoleónico, um modelo construído mesmo antes da unificação do país, onde a administração era centralizada na figura do Presidente municipal.
A autonomia local italiana apenas teve garantia constitucional no período após a II Guerra Mundial com a Constituição Italiana de 1947, onde a par de um grande impulso na autonomia local, as regiões enquanto entes diferenciados dos municípios e das províncias. Desde o início, foram dotadas de poder legislativo, o que as colocou noutro plano, que não o das autarquias locais propriamente dito, distinguindo-se no texto constitucional as regiões de estatuto especial e as de estatuto ordinário, sendo que as últimas só entraram em funcionamento na década de 1970.
Tal como em França, depois de 1789, o município estendeu-se por todo o território italiano, com um regime uniforme e com base no princípio da existência de um município em cada comunidade local.
A delimitação das províncias teve em conta, tal como em França, preocupações de dimensão territorial. Nesse sentido, quer os municípios, quer as províncias, assumiram em Itália, tal como em França, uma dupla função, segundo Oliveira (2005, p.164), a de representação dos interesses da comunidade local e de administração periférica do Estado.
Desde 1990, foram operadas mudanças profundas nos municípios e nas províncias, com a consagração do princípio da autonomia estatutária e a introdução, em 1993, da eleição directa do presidente do órgão executivo. Estas mudanças plasmadas nas Leis de 8 de Junho de 1990 (n.º 142) e de 25 de Março de 1993 (n.º 81) foram possíveis, não só pela lamentável situação existente, como por uma profunda crise que atingiu, na ocasião, os partidos a nível nacional. 
A democracia local passou a ser constituída por dois órgãos eleitos directamente: a assembleia deliberativa, “consíglio comunale”, e o órgão executivo individual, “sindaco”. No entanto, não se consagrou um verdadeiro modelo presidencial, porque a assembleia tem o poder de votar moções de censura, que uma vez aprovadas derrubam o “sindaco”. Nesta situação, a queda do “sindaco” determina sempre a queda da respectiva assembleia e assim, a necessidade de recurso a novas eleições para os dois órgãos. 
A assembleia deliberativa do município tem, nos termos desta lei, um mandato de cinco anos e um número de membros que varia entre doze, nos municípios de menos de 3.000 habitantes, e 60 membros, nos municípios com mais de 1.000.000 de habitantes. A estes membros junta-se o “sindaco” que é, por lei, membro de pleno direito da assembleia. 
No caso dos municípios cujos habitantes atingem os 15.000, a eleição dos membros da assembleia é feita pelo sistema maioritário e cada candidatura ao cargo de “sindaco” está ligada a uma lista de candidatos à assembleia. Deste modo, é eleito “sindaco” o candidato que obtiver o maior número de votos que são também contados a favor da lista a ele afecta. Nesse sentido, a lista que obtiver o maior número de votos tem dois terços dos lugares da assembleia e os restantes são repartidos proporcionalmente entre as outras listas concorrentes. 
Por sua vez, nos pequenos municípios, o “sindaco” dirige também os trabalhos da assembleia, o que não sucede nos municípios maiores. 
De referir que nos municípios com mais de 15.000 habitantes, a eleição dos membros da assembleia é feita pelo sistema proporcional, ou seja, a eleição para o “sindaco” e para o “consíglio comunale” é também simultânea e cada candidato ao cargo de “sindaco” deve declarar, no ato de apresentação da candidatura, a lista ou listas com as quais se pretende ligar, sendo proclamado eleito o candidato que obtiver a maioria absoluta de votos. 
Se nenhum candidato conquiste tal votação, procede-se a uma segunda volta, no segundo Domingo posterior, entre os dois candidatos mais votados, onde cada lista de candidatos à assembleia obtém o número de lugares que resulta do método d’Hondt, mas a lista ou listas afectas ao “sindaco” têm garantidos 60% dos lugares.
Para Oliveira (2015, p. 99) a atribuição da função de dirigir os trabalhos da assembleia cabe, nos municípios com mais de 15.000 habitantes, a um presidente próprio e esse facto representa um elemento fundamental da distinção de papéis entre o órgão deliberativo e o órgão executivo. Nesta sede, a Itália aproxima-se do modelo adoptado em Portugal e afasta-se dos modelos de organização empreendidos em Espanha e em França.
Ao instituir a eleição directa do “sindaco”, o sistema local italiano ultrapassou uma tradição partidocrática, caracterizada na opinião de por uma fraca transparência, uma diluição de responsabilidade, e introduziu uma ligação directa entre o governo da cidade e a escolha directa dos cidadãos (Oliveira, 2005, p.165).
Quanto às províncias, sublinhar que estas não gozam do mesmo prestígio que os municípios e, há quem entenda mesmo suprimi-las como autarquias inúteis. Todavia, a legislação italiana mais recente tem vindo a valorizar esta autarquia local que, ao contrário do que sucede em Espanha, tem, tal como os municípios, uma assembleia deliberativa, o “consiglio provinciale” e um órgão executivo individual, “presidente”, que são eleitos directamente (Oliveira, 2015, p. 102). 
O “consiglio provinciale” é o órgão deliberativo da província, onde são tomadas todas as deliberações mais importantes e controlando a acção dos órgãos executivos, o “presidente” e a “giunta provinciale”. O seu modelo de organização é praticamente igual ao dos municípios maiores de 15.000 habitantes em que os membros da assembleia da província são eleitos directamente pelos cidadãos, por um período de 5 anos, e cada assembleia de província tem um número de membros que varia em função da população.
O Presidente da província é eleito directamente na mesma data em que é eleita a assembleia da província, fazendo parte deste órgão, mas não preside. Nesse sentido, deve distinguir-se o “presidente da província” do “presidente da assembleia provincial”, eleito de entre os membros desta. 
São funções do presidente da província a responsabilidadepela administração provincial, representando a autarquia e superintendendo no funcionamento dos serviços.
Por fim anotar que a "junta provincial cabe colaborar com o presidente da província e praticar todos os actos de administração que não estejam reservados a este, à assembleia ou aos dirigentes máximos da província, tem assim uma competência geral/residual" (Oliveira, 2015, p. 104).
2.8. Autarquias locais dos E.U.A.
A administração das autarquias locais assenta em dois órgãos, a saber, Conselho municipal representada pela figura do mayor e que constitui um órgão executivo e um órgão de carácter deliberativo e representativo, a assembleia municipal.
A assembleia municipal é o órgão representativo da autarquia local dotado de poderes deliberativos. Portanto, é a expressão concreta do multipartidarismo e do pluralismo ideológico ao nível da autarquia local. Por outras palavras, é o fórum das correntes políticas e ideológicas existentes na autarquia local. A assembleia municipal ou de povoação é eleita por sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoal e periódico por todos os cidadãos eleitores residentes na circunscrição territorial da autarquia local, segundo o sistema de representação proporcional.
O conselho municipal constitui o órgão executivo colegial constituído pelo presidente do conselho municipal ou de povoação e pelos vereadores por ele escolhidos e nomeados.
O presidente do conselho municipal ou o mayor dirige o conselho municipal. O Presidente do Conselho Municipal é o órgão executivo singular da respectiva autarquia local. Ele é eleito por sufrágio universal, directo, igual, secreto e pessoal, por cidadãos eleitores recenseados e residentes na respectiva circunscrição territorial. A lei vigente atribui numerosas competências ao presidente do conselho municipal.
Podemos descrever como o presidencialismo municipal, visto que o mayor não pode dissolver a assembleia municipal, e por outro lado, a assembleia municipal não pode aprovar uma moção de censura contra o presidente do executivo local. Esta ausência de responsabilidade encontra a sua justificação na necessidade de evitar que mudanças políticas ou alianças pessoais fragilizem o executivo local. Do mesmo modo, pode-se observar semelhanças a nível das responsabilidades dos dois presidentes nos diferentes sistemas; nos dois casos, os presidentes são investidos como responsável do executivo e da direcção do conjunto dos serviços administrativos da autarquia local. 
2.9. A comparação dos sistemas autárquicos de Portugal e de Moçambique
As autarquias locais são pessoas colectivas territoriais dotadas de órgãos representativos que visam a prossecução dos interesses próprios, comuns e específicos das respectivas populações. As Freguesias e os Municípios são as autarquias locais em Portugal, sendo a Junta da Freguesia e Câmara Municipal os respectivos órgãos executivos, enquanto Assembleia da Freguesia e Assembleia Municipal, são os órgãos deliberativos.
A autonomia das autarquias locais é complementada pelo princípio da descentralização. Para além da autonomia administrativa, a Constituição portuguesa admite, também, uma descentralização administrativa, quer de carácter funcional em que o Estado confia a prossecução de determinados fins públicos a outros sujeitos de direito com personalidade jurídica própria e que não dependem directamente do Governo (institutos públicos, associações públicas, empresas, fundações, etc.), quer de carácter territorial ou local em que o Estado reconhece autonomia administrativa a entidades de base territorial e social – as autarquias locais.
A Constituição da República Portuguesa consagra também o Princípio da Subsidiariedade relativamente às competências das Autarquias Locais naquele que deverá ser o critério delimitador da actuação das Autarquias Locais no domínio local e no domínio regional exigindo-se que as competências das Autarquias Locais sejam respeitadas.
O Princípio da Subsidiariedade é regulador e não atributivo de competências, pelo que, atua no âmbito de atribuições e competências concorrentes. Assim, o Princípio da Descentralização está directamente relacionado com o Princípio da Subsidiariedade. Segundo o Princípio da Subsidiariedade as funções que podem ser desempenhadas em certa instância não deverão ser desempenhadas por instância superior. Deste modo, decorre deste Princípio em conjugação com o Princípio da Descentralização que as actividades que podem ser desempenhadas de forma correta pelas Autarquias Locais não devem ser assumidas pelo Estado, explanam Miranda e Medeiros (2007, p. 454).
O município português é uma comunidade política anterior à formação do Estado. A sua origem não está completamente alicerçada à presença romana na Península, mas sobretudo às circunstâncias da Reconquista cristã: os senhores feudais estavam ocupados com assuntos de natureza bélica em detrimento da administração das povoações, facto que tornou as comunidades autogestacionárias, sublinha Catarino et al (2007, p. 10).
Com a instauração do regime democrático após 25 de Abril de 1974, o papel e a posição das autarquias alterou-se radicalmente, com incidência especial na autonomia municipal e na descentralização.
Depois dos municípios, as freguesias em Portugal constituem a entidade política e administrativa mais relevante da organização territorial, pela proximidade às populações e pela capacidade de organização e de administração dos interesses públicos e particulares das mesmas.
Amaral propõe a seguinte definição: “as “freguesias” são as autarquias locais que, dentro do território municipal, visam a prossecução de interesses próprios da população residente em cada circunscrição paroquial (Amaral, 2011, p. 507).
Em Portugal, O sistema de governo das autarquias saído da Assembleia Constituinte consagrou o dualismo orgânico, tendo enunciado como princípio geral que a organização das autarquias locais compreende uma assembleia eleita dotada de poderes deliberativos e um órgão colegial executivo perante ela responsável, movendo-se o modelo de governo autárquico em torno do relacionamento destes dois órgãos. Assim, a organização do poder político local assenta numa estrutura diárquica.
A eleição dos órgãos representativos é feita por “sufrágio universal, directo e secreto dos cidadãos residentes, segundo o sistema de representação proporcional.
Hoje em dia, o presidente da câmara em Portugal é visto como o verdadeiro centro do poder, estando a assembleia municipal relegada para segundo plano, tendo-se tornado num órgão secundário, sem força política e visibilidade. A grande maioria da população vê os presidentes das autarquias locais como os órgãos representativos e principais do governo local, valorizando-se a sua candidatura e respectivo programa político como decisórios para o destino do município.
Relativamente às autarquias moçambicanas, recordar que foram implantadas com aprovação da Lei n°2/1997 de 18 de Fevereiro. 
A Constituição da República de Moçambique (revista em 2004) consagra a existência do “Poder local”. De acordo com o Artigo 271 da Lei fundamental:
· O Poder Local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. 
· O Poder Local apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em estreita colaboração com as organizações de participação dos cidadãos”.
No entanto, a criação das autarquias locais não liberta o Estado da sua responsabilidade global sobre o país e o funcionamento das diversas instituições constitucionalmente existentes; deve, por conseguinte, exercer algum controlo sobre as autarquias locais.
A administração das autarquias locais em Moçambique é confiada a dois tipos de órgãos: um órgão deliberante e representativo: a assembleia municipal ou de povoação; e órgãos executivos: o conselho municipal ou de povoação e o presidente do conselho municipal ou de povoação. 
Em termoscomparativos com Portugal, primeiro referir que a nível territorial, Moçambique por lei estabeleceu municípios e povoações, na prática, são apenas os municípios com designações de conselhos autárquicos, enquanto Portugal apresenta municípios e freguesias, sendo que as freguesias são mais próximas dos cidadãos.
Em termos de eleição, destacar que a partir de 2018, o Presidente do Município em Moçambique não é eleito de forma directa e universalmente pelos cidadãos, pois esta figura provem da lista de candidatura do partido, portanto é o número um da respectiva lista, o tal cabeça de lista. Assim a eleição do Presidente do Conselho Autárquico depende totalmente da eleição partidária. Diferentemente de Portugal, a eleição dos órgãos das autarquias locais é de forma directa, universal, pessoal, igual e secreta pelos cidadãos.
Outro aspecto importante, é predomínio do principio de descentralização e de subsidiariedade nas autarquias locais de Portugal, em Moçambique além da descentralização, frisar a desconcentração, com uma presença forte do Governo central nos municípios através dos órgãos locais do Estado, ora a interferirem nos assuntos descentralizados, ora meros figurantes. A tutela administrativa no solo pátrio verifica-se não só na legalidade dos actos e contratos administrativos como na denominada tutela integrativa, ou seja, a que consiste no poder de autorizar ou aprovar actos da entidade tutelada.
3. Conclusão
Pelo exposto no presente trabalho entendemos que as autarquias locais não constituem apenas um poder administrativo burocrático, devem considerar-se como um poder democrático-constitucional. O Estado de direito democrático decorre de vários princípios como a soberania popular, o pluralismo de expressão e organização, a separação de poderes, a garantia dos direitos fundamentais, e a descentralização administrativa. As autarquias locais são um dos instrumentos de realização da democracia económica, social e cultural e do aprofundamento da democracia participativa. A definição constitucional de autarquias locais como pessoas colectivas territoriais assenta em dois pontos: a existência de órgãos representativos das populações respectivas e a defesa dos interesses próprios dessas populações.
Concluímos que o poder local hoje é reconhecido maioritariamente como um dos principais eixos de promoção do desenvolvimento. Para chegar a este reconhecimento, que é bem vincado por ser o único modelo de gestão política que resistiu a todas as mudanças de regimes no mundo, passou por várias formas de ligação com o poder central.
A presença do Estado nas autarquias locais é de grande importância não só para garantir a tutela administrativa, sobretudo porque o Estado moçambicano é essencialmente unitário. Nesse sentido, o legislador constituinte optou por um regime híbrido no que diz respeito à tutela sobre os actos administrativos e contratos celebrados pelos órgãos e serviços das autarquias locais. Por um lado, a Constituição afirma que “a tutela administrativa sobre as autarquias locais consiste na verificação da legalidade dos actos administrativos dos órgãos autárquicos, nos termos da lei”, por outro lado, que “o exercício do poder tutelar, pode ser ainda aplicado sobre o mérito dos actos administrativos, apenas nos casos e nos termos expressamente previstos na lei”.
Dos estudos sobre autarquias locais dos países ocidentais, podemos concluir que Moçambique está seguindo paulatinamente para que a descentralização seja realmente geradora da proximidade e eficácia na solução dos problemas locais, contudo temos que frisar o modelo actual de eleição dos órgãos municipais é mais depende de partidos políticos, com pouca margem de expressão política do cidadão no exercício da democracia, pois vota-se as listas.
4. Referências bibliográficas
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· Catarino J. et al (2007). Economia de conhecimento: Administração Local. Porto: SPI – Principia Editora.
· Constituição da República de Moçambique (2004). Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo.
· Department of the Environment Transport and the Regions (2000). Local strategic patnership. London: DETR.
· Hambleton, R. (1998). Strenghthening political leadership, public money and management. London: Jan- March.
· Kaplan, D. (1999). Lions and tigres mayors: should the UK fear American style mayors? Local governance. London.
· Lei n°2/1997 de 18 de Fevereiro (1997). Imprensa Nacional de Moçambique. Maputo.
· Lowndes et al (2001). Trends in Public Participation: part 1 – local government perspectives, public administration.
· Miranda, J. e Medeiros R. (2007). Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III. Coimbra: Coimbra Editora.
· Oliveira, A. C. de (2005). A Democracia Local (Aspectos Jurídicos)». Coimbra: Coimbra Editora.
· Oliveira, J. A. P. de (2015). O reforço da democracia local no âmbito da reforma de administração autárquica. Braga: Universidade do Minho – Escola de Direito.
· Universidade Católica de Moçambique. Manual de Administração e Gestão Autárquica. Beira.
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